Olá leitores, essa é minha primeira obra e espero que vocês gostem.
Essa história pode conter linguagem imprópria, agressão e entre outros gatilhos. Se você for sensível, por favor não leia.
Acordo com o barulho da chuva na janela, logo pego meu celular e já são 07:30 da manhã, estou atrasada.
Hoje é o meu último dia de aula no último ano do ensino médio, nem acredito que vou completar essa fase da minha vida que de longe, não foi a melhor.
Meu aniversário de 18 anos está próximo e não vejo a hora de ficar de maior e poder sair de casa.
Me arrumo, visto meu uniforme e desço até a cozinha para tomar café, torço nos meus pensamentos pra que eu não encontre com meu detestável pai. Ele não é uma boa pessoa pra mim, infelizmente não tive sorte em quesito família.
Minha mãe faleceu quando estava dando a luz, e meu pai me culpa pela morte dela, apesar dele ser um homem com condições, ele não é uma boa pessoa, além de ser viciado. Um dia, isso vai ser sua ruína com certeza. Ele se viciou em jogos depois que minha mãe morreu, eu fui criada por babás, muitas, ele não fazia questão de ter contato comigo.
E então eu cresci, com a ausência de família, eu não sei o que é ter uma família. Na verdade a única pessoa na minha vida em que eu pude ter um traço de sentimento foi com uma babá que tive dos meus 6 aos 13 anos, a dona Carla, ela é o mais próximo de uma mãe que eu conheço, apesar de eu não conhecer muito esse sentimento. Mas depois que completei essa idade ele a demitiu, não sei o certo o porquê mas também não procurei saber, isso era normal vindo dele.
Com essa mesma idade ele me disse que eu já estava grande o suficiente para poder me virar sozinha, foi aí que eu tive que me cuidar, em todos os quesitos, cozinhar, lavar, tarefas do colégio, tive que lidar com as mudanças do meu corpo sozinha e aprender tudo em relação a isso. Enfim, eu acabei amadurecendo rápido.
Sempre estudei em uma escola boa, particular e que de preferência fosse integral, pois ele fazia questão de não querer me ver. Com isso tive um ensino muito bom em uma escola super renomada. Usei isso pra poder resolver o meu futuro, sempre me esforcei pra ser excelente em tudo, pois foi uma das formas que eu encontrei de me tornar independente logo.
Apesar de eu ser uma ótima aluna, isso me fez sofrer nas mãos de outros alunos, sofro muito bullying por conta disso, e tenho dificuldade de criar amizade com outras pessoas. A única amiga que tenho se chama Sarah, ela quem insistiu em mim e sério, eu não sei muito bem o que ela viu em mim. Ela sabe de toda a minha situação, e sempre diz que se eu quiser ela pode me acolher, mas eu não quero virar uma responsabilidade pra ela, ela já é boa demais pra mim.
Tomo meu café de sempre, com leite e bem doce. Agradeço por meu pai não estar em casa, pois hoje não quero ter que vê-lo me observar com indiferença e desprezo.
Me apresso e depois de alguns minutos já estou na entrada do meu prédio, tenho costume de ir andando para o colégio, mas como acordei atrasada, pedi para Sarah me dar uma carona, sim, ela tem um carro. Espero mais alguns minutos e logo ela para na minha frente e grita:
- Eai gata quer uma carona?
Sorrio do seu bom humor pela manhã. Como ela consegue?
- Eai amiga, acordou de bom humor em.
Abro a porta e me sento no carona com minha mochila no colo.
- Claro, finalmente vamos ficar livres daquele lugar que chamam de escola.
Nós duas rimos da forma como ela fala. A Sarah consegue ser espontânea em qualquer situação.
Chegando no colégio, ela estaciona e entramos pelos portões onde já havia alguns grupos de alunos conversando, inclusive alguns que fazem parte da minha turma. Não fazem questão de esconder os olhares pra mim, "logo pela manhã", penso comigo mesma. Mas logo eles são cortados pela Sarah:
- Perderam alguma coisa aqui?
Olho pra ela assustada e a cara que eles fazem é impagável.
- Amiga não precisava disso.
- Que não precisava o que Helena, já de manhã esses filhote de cruz credo querendo fazer graça contigo eu em.
Não consigo deixar de rir do que ela disse, só essa garota mesmo... não demorou muito e nem ela aguentou da cara de braba que ela fez.
Helena Torres
(imagem retirada da internet)
Sarah Dominic
(imagem retirada da internet)
Após o último dia de aula acabar finalmente eu estou formada e Sarah também.
- Amiga finalmente pegamos os certificados.
Sorrio para ela.
- Sim, já não estava mais aguentando de ansiedade, e agora o que vamos fazer?
Logo vejo a cara de pensativa da minha amiga, quase deu pra ver as engrenagens da cabeça dela girando, vem coisa por aí.
- Bom, tenho uma ideia mas você não vai aceitar de primeira.
Ela me conhece muito bem mesmo.
- Hum, fala...
- O que você acha de ir lá pra minha casa hoje e nós duas comemoramos juntas o fim e o começo de uma nova fase pra gente?
Olho pra ela que está com esperança nos olhos, geralmente eu não sou de sair de casa.
- Saindo daqui eu tenho que pegar meu turno na loja e saio as 21:00h amiga, não sei se é uma boa ideia.
Vejo a cara de esperança mudando pra de tristeza em menos de um minuto, mas sei como ela é quando quer alguma coisa.
- Aí amiga vai, eu busco você no seu trabalho cara, para de colocar obstáculo em.
Penso por uns minutos e acabo aceitando, eu nunca faço nada pra mim mesma, e meu pai não vai se importar se eu tiver aqui ou na casa da Sarah mesmo.
- Tá bom, tá bom, eu vou, me encontra aqui umas 21:10h ok?
Ela me da um abraço que quase me derruba.
- Claro senhorita.
Diz com sarcasmo.
Depois de me deixar na frente do meu prédio, me despeço da minha amiga e corro pra poder me arrumar pro trabalho, consegui ele com muito custo, corri atrás pois precisava comprar minhas coisas e apesar de eu ter casa e comida, era isso que eu tinha mesmo. Entro com pressa pelo apartamento e vou direto pro meu quarto, tomo banho e visto meu uniforme de vendedora, dou um jeito na maquiagem e prendo o cabelo com um rabo de cavalo. Já saio de casa novamente. Nem deu tempo de eu comer, ainda bem que lanchei no colégio.
Faço meu expediente e quando se aproxima de terminar eu mando mensagem pra Sarah dizendo que já estou saindo. O trabalho hoje foi normal, ainda bem. Arrumo minha mochila com algumas coisas que eu coloquei pra poder ir pra casa da Sarah e saio. Não demora muito e ela já vem com o som alto do carro e para na frente da loja. Entro pro carona e tampo os ouvidos assinalando que a música tá muito alta, essa menina é doida mesmo.
- Amiga que isso?
Falo com as mãos no ouvido e rindo junto com ela.
- Pra animar a noite, vai falar que não ficou com vontade de rebolar a raba com esse funk aí?
Rimos mais ainda enquanto ela abaixa o volume.
- Mulher como você não fica surda?
- Já é costume mesmo.
O resto do caminho nós fomos rindo e conversando sobre o que vamos fazer agora depois do colégio.
Chegando na entrada do morro onde ela mora. Sim ela mora no morro, nunca me preocupei com isso. Nunca vim aqui mas já ouvi muitas histórias de como é a vida aqui.
Logo somos recebidas por alguns homens que ficam armados na entrada do morro e assim que eles avistam o carro se aproximam e eu tremo na base, por dentro tô gritando socorro.
- Relaxa amiga, eles me conhecem.
Me sinto mais aliviada e observo ela abaixar o vidro.
Assim que eles a veem usam um rádio pra avisar que ela chegou.
- Fala patrão, tua irmã chegou aqui com uma mina.
Ouço de longe uma voz grossa respondendo.
- Pode mandar ela subir.
Ele faz sinal pra ela que acena com a cabeça e sobe em direção ao morro. Como assim patrão? Não me atrevo a perguntar.
Seguimos até uma casa grande e bonita e ela estaciona na entrada da garagem.
- Chegamos amiga, seja bem vinda.
Dou um sorriso pra ela. Nossa que casa linda, branca com detalhes em prata, portão prata também combinando com o muro e a caixa de correio. Ela caminha até o portão social e toca a campanhia.
- Fala patroa, tudo nos conformes?
Responde um garoto, não muito velho, deve ser um pouco mais velho que nós duas. Ele olha pra ela e depois pra mim, que abaixo a cabeça. Ele também está armado, meu Deus que lugar é esse.
- Fala PJ, trouxe minha amiga pra me fazer companhia hoje.
Ele acena com a cabeça.
- Guarda o carro na garagem pra mim?
Ela entrega a chave na mão dele que dá passagem pra gente entrar e sai logo em seguida indo fazer o que foi dito.
- Vem amiga vou te mostrar a casa.
Me puxa depois de abrir a porta e entramos em uma sala bem grande e com móveis em preto e branco, com detalhes em prata, bem chic.
- Nossa sua casa é linda demais.
Ela sorri.
- Na verdade é do meu irmão, a minha casa ainda está sendo construída, diz ele que vou ganhar de presente de formatura. Nossa quase me esqueci... amiga nós temos que ir na formatura no colégio.
Diz ela com a mão na boca.
- Aí é daqui a alguns dias, acho que não vou não amiga.
Ela me olha com um olhar brabo que me deu até medo.
- Como é? A não não não você vai sim, nem que seja obrigada.
Ela fala com a mão na cintura me direcionando até o sofá.
- Que isso uma ameaça? Calma mulher, assim você me deixa até com medo.
Nós duas caímos na risada e logo ela completa.
- Mas você não tem escolha mesmo, você vai comigo e a gente vai ser as mais gatas no lugar, não aceito menos do que isso.
Por fim acabo cedendo, ela sempre ganha mesmo e eu não quero apanhar não.
Ela me leva até as escadas que dão em direção aos quartos e abre a segunda porta da direita pra esquerda das quatro que vejo aqui. O corredor assim como o resto da casa também igualmente bonitos e arrumados. Ela abre e vejo um quarto que só falta ter estampado Sarah pra ficar nítido que é dela. As decorações tudo em tons de rosa, do pink ao claro, com detalhes em cinza e branco, cama digna de princesa e acompanha um closet super organizado e com peças belíssimas de um lado e próximo a ele um banheiro que segue o mesmo padrão, com toques de Sarah em cada parte.
- Seu quarto não poderia ser mais a sua cara.
Digo colocando minha mochila no chão próximo a mesa de cabeceira.
- Para, nem é tão rosa assim.
Nós rimos da ironia.
- E aí ta com fome? Que tal pedimos pizza?
Ela me pergunta pegando o celular e balançando o mesmo.
Faço que sim com a cabeça. E pergunto se enquanto isso eu posso tomar um banho depois de ter ficado horas no trabalho. Ela confirma, diz pra mim ficar a vontade e sai. Logo pego minha mochila pra arrumar uma roupa confortável pra colocar porque não vejo a hora de tirar esse jeans. Tiro meus tênis e os coloco próximo à mesma mesinha junto com minhas meias. Abro a mochila e logo em seguida escolho um conjunto de moletom cinza com preto, um short e um cropped de manga, aqui está com ar e acaba ficando um pouco frio, pego qualquer lingerie das poucas que tenho e vou até o banheiro.
Prendo meu cabelo e em seguida tiro minhas roupas e entro no box de vidro, me aqueço na água quente do chuveiro, precisava disso depois de um dia desses. Não me demoro muito e logo me arrumo, passo meu hidratante, penteio o cabelo e uso meu perfume e desodorante que trouxe junto pro banheiro. Em seguida ouço vozes no corredor e enquanto estou saindo ao encontro da Sarah vejo nada mais nada menos que meu pai e um cara mais novo do que ele e com várias tatuagens, várias não, muitas.
Na mesma hora eu paraliso e vejo a cara de surpresa dele quando me vê, aposto que ele não esperava isso, pelo menos eu não esperava. Fica um silêncio um pouco constrangedor com os dois me encarando até que ele diz:
- Helena...
Continuo calada olhando pra ele e quando olho para o tatuado ele está me analisando dos pés a cabeça. Até que tomo coragem pra dizer:
- O que você está fazendo aqui?
O tatuado parece ficar um pouco incomodado com a pergunta e fecha a cara.
- Sou eu que pergunto?
Ele diz com uma voz de raiva ou rancor, não sei ao certo dizer, ele só me olha com indiferença, nada novo pra mim.
- Eu fui convidada pela minha amiga Sarah. Eu posso saber o que tá acontecendo aqui? Quem é você afinal e como vocês se conhecem?
Cruzo os braços em sinal de chateação e o cara tatuado se aproxima um pouco de mim enquanto observa.
- Quem diria, que coincidência não é?
Continuo sem entender até que o mesmo completa:
- Aliás me chamo 2D e dono dessa casa então baixa a bola aí bonequinha.
Fala com a voz grossa que faz eu me encolher um pouco através dos seus olhos vibrantes. Que homem é esse.
- Não sabia que você frequentava esse tipo de lugar, você não presta mesmo, ainda bem que eu finalmente vou me livrar de você.
Meu pai se pronucia finalmente e suas palavras parecem facas no meu peito, não consigo disfarçar a cara de choro e tristeza ao ouvir isso, o tal de 2D percebe minha expressão mas não demonstra nada e logo se vira para meu pai.
- Acho melhor você tomar conta da sua língua antes que você perca ela tá ligado? Você não tá na tua área não meu mano e se eu fosse você não ofendia minha casa, afinal quem tá armado não é você e nem tá em direito de falar porra nenhuma já que você vendeu sua única filha pra um traficante.
Uma lágrima cai em meu rosto e não consigo digerir nada do que ele acabou de dizer, só consigo chorar e olhar assustada com a rigidez de sua voz e com as coisas que acabei de descobrir. Meu Deus, o que tá acontecendo, como eu entrei nessa situação, só pode ser mentira.
- Oq... oque está acontecendo aqui? Is... isso é verdade?
Digo entre soluços, o 2D me olha novamente e ainda não consigo decifrar se ele está demonstrando algo ou não. Meu querido pai finalmente fala:
- Eu tinha dívidas a pagar e você é uma boa oferta, jovem, prestes a ter 18 anos e não tem utilidade pra mim, espero que isso quite a dívida que tenho com o seu novo dono.
Ele se dirige ao 2D. Dono??? Não pode ser...
- Vo... você me vendeu??
Olho pra ele sem conseguir segurar mais nenhuma lágrima, meu rosto já estava inteiro molhado e eu não podia ficar ali, saio correndo, desço as escadas e vou direto a porta de entrada, quando tento abrir ela está trancada. Vejo Sarah saindo da cozinha e ela se apavora.
- Meu Deus Helena o que aconteceu?
Ela se apressa pra chegar até mim que estou com a mão no rosto tentando controlar as lágrimas, vejo os dois descerem as escadas. A abraço.
- Oi irmã, acabamos de ter uma coincidência enorme agora.
2D se pronuncia.
- Como assim? Quem é esse homem?
Ela pergunta tentando me acalmar.
- El... ele é meu pai...
Digo com a voz baixa.
- Alguém me explica melhor que porra tá acontecendo aqui e o que esse homem ridículo está fazendo na nossa casa 2D?
Ela fala com a voz mais alta, quase gritando.
- Hector mete teu pé e não apareça mais no meu morro se não você vai se arrepender.
2D ordena e abre a porta próxima a mim e a Sarah. Logo ele se apressa e sai, 2D fecha a porta novamente e suspira por um segundo.
- Sarah, pro meu escritório agora.
Ele diz com um tom que dá medo de verdade. Continuo com os braços em volta de mim mesma e Sarah tenta responder mas é em vão, ele ja a corta e ela se afasta de mim sussurrando que vai ficar tudo bem e logo sobe junto com o irmão e eu fico ali parada, de cabeça baixa e ainda sem acreditar no que aconteceu, no que está acontecendo, o que vai acontecer comigo agora? Porque ele fez aquilo comigo? O irmão da Sarah é traficante e dono do morro inteiro? Tantas perguntas que ficam batendo na minha cabeça e só consigo me sentir só e abandonada.
2D
(imagem retirada da internet )
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