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Um Destino... O Amor! "Amor Assassino"

01

Prólogo

Eu nunca imaginei que provaria de alguém tão cruel e ao mesmo tempo tão... doce.

Nunca imaginei que viveria uma paixão tão intensa e ao mesmo tempo tão... errada.

Mas aqui estou eu, provando mais uma vez dos lábios mais lindos e deliciosos do planeta, que pertencem à pessoa mais incrível do universo.

Aqui estou eu, provando de um assassino bem pago e totalmente maravilhoso, pelo qual eu sou completamente apaixonada e que tem que me matar.

Aqui estou eu, ciente disso e não me importando tanto quanto deveria, considerando o fato de que ele matou a minha família.

Olhei para o crepúsculo roxo que brilhava ofuscante no céu. O vento brincava com meu cabelo trazendo-me um arrepio confortável. Uma lágrima quente e úmida desceu involuntariamente pelo meu rosto e eu a enxuguei antes que alguém visse. Respirei fundo, uma, duas, três vezes. Olhei para a foto firme em minhas mãos. Eu, meus pais e meu irmão e então me lembrei. Me lembrei de quando era pequena, quando chovia forte e minha mãe me embalava em seus braços; Ou quando meu irmão me abraçava e me reconfortava; Quando meu pai me levava para soltar pipa; Os almoços em família todo domingo que eu tanto odiava. Me lembrei de tudo como um “flash” dos momentos felizes, e não aguentei. Eu me encolhi na espreguiçadeira e chorei.

Chorei porque nunca mais sentiria o toque doce e quente de minha mãe, nunca mais ouviria os sermões do meu pai e as gírias do meu irmão. Nunca mais teria que me preocupar com a reação dos meus pais com o meu desempenho na escola, ou com o que meu irmão faria quando eu começasse a namorar. Nunca mais veria a cara de preocupado do meu pai quando adoecia. Nunca mais compartilharia grande parte dos meus segredos com meu irmão e não ouviria mais os seus segredos... E sabe por quê? Porque eles estão mortos. Todos eles foram brutalmente assassinados por, como os policiais dizem, drogas. A versão da polícia era que meu irmão devia dinheiro para um traficante. Então ele invadiu minha casa, mas se deparou com toda a família. Ele foi visto e matou a todos. Eu só sobrevivi porque fui à festa de quinze anos da minha melhor amiga, Tatiana.

Era por volta das três da manhã, eu me divertia loucamente na festa, mal sabia que enquanto me descabelava toda, minha família era brutalmente assassinada em minha casa. Eu me divertia como nunca, quando me bateu um pressentimento de que algo horrível estava acontecendo e que tinha que ir embora. Desesperada, puxei o celular da minha bolsa e liguei para casa. Primeira chamada: caixa-postal, segunda chamada: caixa-postal, terceira chamada: caixa-postal. Aconteceu isso todas as cinco vezes que liguei, então fui pedir carona. Consegui com a minha amiga Carla, mas ela não queria ir ainda, então tive que esperar por mais meia hora.

Finalmente Carla resolveu ir, o pai dela veio nos buscar com cara de cansado, mas aceitou me levar em casa, com um sorriso simpático no rosto. Ele parou o carro em frente à garagem, eu desci e toquei a campainha, mas ninguém atendeu. Toquei de novo duas vezes e ninguém atendeu. O pai de Carla esperava pacientemente, mas eu não queria fazê-los esperar muito, então procurei a chave reserva que ficava escondida em cima da porta. Não tive que me esticar tanto para pegá-la, já que estava de salto. Entrei em casa hesitante, pois o

pressentimento havia voltado, mas bem pior.

Com a porta ainda aberta, não foi preciso mais de

três passos, para ver a pior cena da minha vida. Minha mãe, minha doce e amada mãe, jogada no chão da sala toda ensanguentada, me fitando com os olhos abertos, sem piscar uma vez sequer, o rosto sem expressão. Não foi difícil imaginar que o último momento que passara ali fora de muita dor. Gritei. Gritei alto, muito alto. O grito mais carregado de desespero, dor e ódio que eu já dei e ouvi em toda a minha vida. Não demorou para que Carla e seu pai entrassem e vissem o que acontecera ali. Carla me abraçou enquanto seu pai pegava o celular. Mas eu os ignorei.

Minha visão estava turva e eu sentia algo quente e úmido descer pelo meu rosto, mas ainda podia ver os olhos. Os olhos dela, azuis, perfeitos, frios e sem emoções. Estremeci com a lembrança e me encolhi ainda mais na espreguiçadeira. Era como se eu pudesse vê-los agora. Encarando-me, implorando por socorro. A polícia achou o corpo do meu pai ao pé da escada e o do meu irmão em seu quarto, onde também encontraram escondidos em uma gaveta, papelotes vazios de maconha. Eu sabia que era mentira, meu irmão não usava drogas, eu tinha certeza! Ele me contaria se usasse! Sem contar que eu ia a quase todas as festas com ele que nem sequer bebia! E ele já tinha dezoito anos! Eu pude afirmar que sumiram objetos de valor da casa.

Eu senti alguém me abraçando e olhei para cima. Minha tia me envolvia ternamente, com os olhos cheios de lágrimas. Enquanto eu estava ali, ela e minha avó discutiam se eu ficaria aqui na cidade ou se eu me mudaria com a minha tia. Elas não me perguntaram o que eu pensava, mas não me importei, eu não tinha mais certeza se que queria ficar aqui onde tudo me levava a lembranças dolorosas.

-     Querida – ela sussurrou limpando a umidade dosolhos – eu e sua avó estávamos conversando sobre onde você vai morar e decidimos que seria melhor que você se mudasse comigo. Tudo bem?

Eu dei de ombros e ela me abraçou firme. A minha tia Jéssica era incrivelmente linda, com seus cabelos loiros caindo até a cintura e seus olhos castanhos cor de mel. Não era só a sua aparência que pertencia a uma adolescente, como também sua mente.

02

Algumas vezes eu poderia ser mais responsável que ela, mesmo sendo meio rebelde.

-     Levarei você para casa para juntar suas coisas. –olhei-a desesperada.

Eu não punha o pé naquele lugar desde que tudo acontecera, há quatro dias. A casa da minha avó tinha sido o meu refúgio seguro, com apenas algumas mudas de roupas, pois a polícia pediu que eu não pegasse tudo, poderiam ser pistas.

Todos os objetos do meu quarto agora estavam liberados e eu poderia pegar tudo e “começar de novo”, como disse o policial, se eu quisesse. Lembro do interrogatório que fizeram, me perguntando desde coisas mais estúpidas a coisas que eu jamais saberia. O meu pai era dono de uma grande empresa de cosméticos, muito famosa fora do Brasil, e tudo sobre a empresa dele (quase tudo, já que eu sabia que as maquiagens eram muito boas) eu desconhecia. Ele não era de revelar coisas do trabalho em casa, pelo menos não na nossa frente!

– Você tem que ir pegar a suas coisas! Eu sei que será difícil, mas eu estarei com você! – Ela me apertou mais forte – E você não espera ir para Luária com essas suas poucas coisas aqui, não é mesmo?

Ah sim, como eu pude me esquecer de Luária? Uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, onde a minha tia tinha se enfiado depois de terminar a faculdade de odontologia. Aquele lugar não tinha muito que revelar. Era uma típica cidadezinha do interior, onde é comum se ver cavalos passeando na rua! Eu tinha ido passar três dias lá no último verão e devo admitir que planejara nunca mais voltar. Estremeci com o pensamento de sair de casa e encontrar vacas pastando no terreno ao lado e comecei a considerar a idéia de pedir para ficar com a minha avó, o que certamente magoaria a tia Jé. Respirei fundo e assenti. Minha tia deu um fraco sorriso.

- Partimos amanhã de manhã\, pode se despedir de seus amigos hoje à noite. – Ao dizer isso ela me deu um beijo na testa e se levantou. Enquanto ela saia\, eu fitava o reflexo da lua na água da piscina\, vagando em pensamentos de como seria a minha vida na nova cidade.

O despertador tocou e eu tateei a mesa-decabeceira até encontrá-lo e desligá-lo. Ergui-me e me troquei sem tirar de minha cabeça que hoje eu voltaria a casa. A casa que fora cenário dos meus terríveis pesadelos e estremeci. Com um longo e pesado suspiro fui até a cozinha e me sentei para tomar café, mesmo não estando com fome. Minha tia e minha avó perceberam a minha tensão, mas nada disseram, provavelmente porque elas sabiam que eu estava assim por causa da casa. Todo o trajeto até ela foi silencioso. Eu pensava em como sentiria saudade daquela paisagem que passava pela minha janela. A “festa” de despedida ontem tinha sido triste e dolorosa. Despedir-me de meus amigos fora horrível, principalmente de Carla, que tinha visto a cena, assim como eu.

Minha tia parou o carro em frente à “mansão” Martinz e meu coração congelou tanto quanto a minha expressão. Respirei fundo antes de descer do carro e parar em frente à porta. Peguei a chave que eu guardara comigo todo esse tempo e a girei na fechadura. Senti minha tia ficar tensa enquanto eu abria a porta e entrava. A casa estava exatamente como da última vez que eu a vira, vazia. Os móveis ainda estavam ali, mas a casa parecia extremamente vazia. Suspirei pesadamente e entrei, e mais uma vez as lembranças vieram à tona. Lembrei-me de tudo. Eu parei na sala e olhei para a enorme mancha de sangue no chão. Perdi o ar por alguns segundos, então me agachei ao lado da mancha e chorei. Apertei a mão firme em minha barriga para me impedir de vomitar e quase encostei a minha testa no chão, as lágrimas caindo sobre a mancha. Só então notei uma mão sobre ela, e ergui o rosto. A minha tia também chorava, as mãos no lugar onde estivera o corpo de sua irmã. Só então notei como os rostos das duas eram parecidos. O mesmo formato dos lábios cheios, o mesmo nariz... Agora retorcidos, com a mesma careta de dor.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas minha tia pediu para que eu arrumasse as minhas coisas logo. Eu obedeci tocando a mancha enquanto me levantava. Juntei minhas coisas rápido, colocando todos meus pertences em sete malas (eu iria morar lá!). Antes de ir embora, peguei algumas coisas no quarto do meu irmão e mais algumas no quarto dos meus pais. Peguei todas as bijuterias e jóias da minha mãe e também algumas roupas. Pedi para minha tia ligar para a polícia e informar o que eu havia levado.

No caminho para Luária, eu pensei sobre a nova vida que teria, sobre o “recomeço” de que o policial falara. Pensei em como a minha vida tinha mudado de uma hora para outra. Quando saí de casa para ir a uma festa, tinha uma família. Quando voltei, era órfã. Mas não era só a minha vida que havia mudado. Eu não era mais a mesma. Eu tinha a impressão de que nunca mais sorriria de novo. Quando mataram a minha família, mataram um pedaço de mim também. Levaram parte da felicidade, parte do sorriso, parte do amor. Eu me vingaria, não importava que fosse a última coisa que eu fizesse. Não sei se tenho um instinto assassino o suficiente para matar, jamais me rebaixaria a tal nível, mas tenho instinto para me vingar. E eu me vingaria. Provavelmente prendendo o cafajeste que me matou junto com minha família. Sinceramente, não me importa como, apenas que eu faça.

No dia da morte dos meus pais, a Melissa Martinz morreu, mas se ergueu no seu lugar uma nova Melissa, uma Mel melhor e mais inteligente, mais esperta e definitivamente, mais infeliz. Uma Melissa que não tem mais capacidade de amar. Uma Melissa... Mudada.

03

Acordei com a minha tia me sacudindo. Ela parecia um tanto estressada enquanto falava meu nome repetidas vezes.

-     Só mais cinco minutos mãe! – eu disse enquantome virava. Uma dor aguda tomou conta das minhas costas e levantei arfando. Só então notei que dormira no banco reclinado do carro. Coloquei a mão nas minhas costas e olhei para minha tia\, que me fitava com impaciência.

-     Já acordou Bela Adormecida? – Ela disse com sarcasmo

-     Não! – acompanhei-a com o sarcasmo – Meu

príncipe encantado ainda não me deu um beijo! – Ela riu e afagou o meu cabelo, depois saiu do carro. Abri a porta e me levantei. Gemi quando a dor aumentou. – Nunca mais durmo no carro!

-     Que bom que aprendeu a lição! – ela sorriu – Bemvinda a sua nova casa!

As palavras me atingiram como um tiro e eu cambaleei involuntariamente para trás. Casa? Eu estava em casa, sem meus pais e meu irmão. Meus olhos se encheram de lágrimas e tentei impedi-las antes que Tia Jé visse, mas já era tarde. Ela pareceu se magoar quando percebeu minha expressão, quando percebeu as lágrimas que agora rolavam soltas pelo meu rosto. Ela deu um passo em minha direção.

-     Tudo bem! – Eu tentei sorrir - Eu tenho que meacostumar! Essa agora é minha casa! – Aquelas palavras doeram em minhas entranhas. Respirei pesadamente e fui em direção ao maleiro para pegar as minhas coisas. Minha tia me seguiu sem dizer nada.

Eu entrei na casa e um “flash” da minha primeira vez ali me alcançou. Era a mesma sala com chão de tacos, os sofás que eram marrons agora eram brancos. Uma estante de mogno segurava a TV, DVD e outros aparelhos eletrônicos, enquanto uma mezinha de centro sobre um tapete em tons de mostarda completava o local. Caminhei até a cozinha, que era exatamente igual à última vez que estive ali, os armários brancos e marrons com uma mesa de granito no meio. Havia uma sala de visitas ao lado da cozinha com sofás e poltronas em tons de amarelo e uma pequena mesa no centro, com um banheiro ao lado. Subi as escadas que davam em um corredor com três portas. Uma era outro banheiro, a outra era o quarto de minha tia, e a outra era, enfim, o meu quarto. Eu sabia por que quando estive ali, eu dormira nesse quarto, o único quarto disponível da casa. O único lugar que não me trazia lembranças dolorosas de minha família. Eles nunca estiveram nesse quarto comigo. Havia um armário embutido marrom claro e uma cama encostada na parede ao lado da janela. De um dos lados da cama havia uma mesa-de-cabeceira e do outro, uma escrivaninha com um computador, perto da janela. Em cima da escrivaninha havia algumas prateleiras.

-     Espero que você consiga deixá-lo do seu gosto. –

disse minha tia na porta – Vou preparar algo para comermos. Está com fome? – Balancei a cabeça negativamente – Bom, então vou deixá-la sozinha!

Ela colocou o resto das minhas malas ao lado do armário e saiu fechando a porta atrás de si. Suspirei e me joguei pesadamente na cama e, antes que eu pudesse impedir, estava agarrada ao travesseiro chorando.

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