— Eu vou querer um exame de DNA.
— É claro — disse ela. — O exame de sangue dos meninos já foi feito num laboratório local. Você pode enviar sua amostra para eles e requisitar o exame de comparação.
— Eu cuidarei disso amanhã.
— O quê? — Ela meneou a cabeça, olhou-o e perguntou: — Você não pode esperar até que estejamos de volta a San Pedro?
— Não, eu não vou esperar. Quero resolver esta questão o mais rapidamente possível. — Ele continuou a comer, como se o que eles estivessem discutindo não o afetasse nem um pouco. — Atracamos em Cabo pela manhã. Você e eu descemos em terra firme, encontramos um laboratório e pedimos que eles enviem os resultados dos exames para o laboratório em San Pedro.
— Nós vamos fazer isso? — Ela não havia planejado passar muito tempo com Nick, afinal de contas. Apenas subira a bordo para lhe contar sobre os gêmeos, e, francamente, pensara que ele não ia querer mais nada com ela depois disso. Contudo, ele a mudara para a sua suíte, e agora estava propondo que eles passassem ainda mais tempo juntos.
— Até que este assunto seja resolvido à minha satisfação — murmurou Nick suavemente —, eu não permitirei que você saia da minha vista. Não iremos nos separar nem por um minuto. Portanto, é melhor você começar a se acostumar com isso.
Querida leitora,
Há algo mais doce do que ver um homem forte completamente estupefato com um bebê? Assim como há algo de fantástico em um pai que encontra o filho pela primeira vez. É algo poderoso e tocante.
Em Laços de amor, Nick Falco faz exatamente isso: descobre que é pai e encontra seus filhos gêmeos pela primeira vez. Tudo muda para ele, e, por isso, tudo muda também para a mãe de seus bebês, Jenna Baker.
Espero que você goste de ler a história dos dois tanto quanto eu gostei de escrevê-la!
Boa leitura!
— Ai! — Jenna Baker saltou sobre seu pé direito e segurou nos dedos machucados do esquerdo. Dando um olhar furioso para a mesa baixa de sua cabine minúscula e claustrofóbica, amaldiçoou o homem que era o motivo daquele cruzeiro terrível.
Nick Falco.
A imagem dele surgiu em sua mente, e apenas por um segundo, Jenna apreciou o calor quase instantâneo que a percorreu. Mas o calor desapareceu um momento depois, sendo substituído por fúria.
Era melhor que se concentrasse nesta emoção em particular. Afinal de contas, diferentemente de todos os outros passageiros do navio Falcon’s Pride, Jenna não tinha subido a bordo para se divertir. Estava ali por uma razão. Uma razão muito boa.
Enquanto seus dedos latejavam em compasso com as batidas de seu coração, Jenna cuidadosamente se apoiou sobre os dois pés, e deu os dois passos necessários para
chegar ao armário. Já tinha pendurado suas roupas, e os poucos trajes que levara pareciam lotar o pequeno guarda-roupa. Pegando uma blusa amarela clarinha do cabide, ela carregou-a para o banheiro a um passo de distância.
Era do tamanho de um banheiro de avião, apenas continha um Box designado para pigmeus. Na verdade, a abertura da porta de correr era tão estreita que Jenna havia passado um braço ao redor dos seios ao sair do banho, com medo de arranhar seus mamilos.
— Muito bom, Nick — murmurou ela. — Quando você reformou seu velho barco e o transformou num navio, deveria ter pensado um pouco mais naquelas pessoas que não moram na cobertura do dono, que fica no deque superior.
Mas disse a si mesma que aquilo era típico. Soubera como Nick era, mesmo antes de conhecê-lo naquela noite abafada de verão, mais de um ano atrás. Ele era um homem devotado a ver sua companhia marítima tornar-se a melhor do mundo. Fazia o que tinha de ser feito quando necessário. E não se desculpava por isso.
Jenna estivera trabalhando para ele quando o conhecera... como diretora dos cruzeiros em um dos outros navios da frota Falcon. Adorara o emprego, adorara a ideia de viajar, e, tolamente, tinha se apaixonado pelo chefe. Tudo por causa de um encontro romântico à luz do luar e do charme inegável de Nick.
Jenna soubera muito bem que seu chefe nunca se envolveria com uma funcionária. Então, quando o sexy e maravilhoso Nick Falco a abordara no Pavilion Deck, presumindo que ela fosse uma passageira, Jenna não o corrigira. Tinha consciência de que deveria ter feito isso, mas que mulher não teria se deixado levar por um maxilar esculpido, olhos azuis e grossos cabelos pretos que atiçavam os dedos de uma mulher?
Ela suspirou, apoiou as mãos nas laterais da pia minúscula e lembrou-se como tinha sido o primeiro momento que ele a tocara. Mágico. Pura e simplesmente. Sua pele havia esquentado, e seu coração batido tão freneticamente que fora difícil respirar. Ele a girara numa dança, ali, sob a luz das estrelas, com uma brisa havaiana os acariciando, e a música do deck abaixo flutuando no ar como um suspiro.
Uma dança virou duas, e a sensação daqueles braços fortes ao seu redor havia seduzido Jenna para uma mentira que voltara para assombrá-la menos de uma semana depois. Ela entrara de cabeça num caso. Um caso sexual tão intenso que abalara sua alma, enquanto despedaçava seu coração.
E quando, depois de uma semana vivenciando aquele caso, Nick descobrira por outra pessoa que ela trabalhava para ele, tinha terminado tudo, recusando-se a ouvi-la, e assim que eles haviam chegado de volta ao porto, ele a demitira.
A dor daquela... dispensa era tão fresca quanto no dia em que acontecera.
— Oh, Deus. O que estou fazendo aqui? — Jenna respirou fundo quando seu estômago começou a se revolver com o nervosismo que vinha se construindo em seu interior há meses. Se houvesse outra maneira de fazer aquilo, ela teria feito. Afinal de contas, não era como se estivesse ansiosa para reencontrar Nick.
Cerrando os dentes, ela ergueu o queixo, virou-se de modo brusco e bateu o cotovelo na maçaneta. Irritada, olhou para seu reflexo no pequeno espelho retangular e murmurou:
— Você está aqui porque esta é a coisa certa. A única opção. Ele não lhe deixou escolha.
Jenna precisava falar com Nick, e não era nada fácil conseguir acesso a ele. Uma vez que ele morava a bordo de seu navio de cruzeiros, ela não podia confrontá-lo em terra firme. E nas poucas vezes que Nick estava no porto em San Pedro, Califórnia, trancava-se num apartamento de cobertura com mais seguranças do que havia na Casa Branca. Como ela não conseguira lhe falar pessoalmente, tinha tentado telefonemas. E quando estes fracassaram, começara a lhe enviar e-mails. Pelo menos duas vezes por semana nos últimos seis meses, Jenna vinha lhe mandando e-mails que ele aparentemente deletava sem abrir. O homem estava sendo impossível, então Jenna finalmente fora forçada a pagar uma reserva no Falcon’s Pride, e fazer um cruzeiro que não queria e que não tinha condições.
Ela não entrava num navio há mais de um ano, então, mesmo o menor balanço do navio fazia seus joelhos tremerem. Houve uma época na qual adorava estar num navio. Quando apreciava a aventura de um emprego que nunca era igual por dois dias consecutivos. Quando acordava todas as manhãs tendo uma nova vista pela janela de sua cabine.
— É claro — admitiu secamente —, isso quando eu tinha uma cabine com janela. — Agora estava na cabine mais barata que pudera encontrar, sem janela e com a sensação de estar trancada na barriga de uma fera. Era forçada a deixar a luz acesa o tempo todo, caso contrário, a escuridão era tão completa que era como estar dentro de um vácuo.
A sensação era estranha e perturbadora.
Talvez se conseguisse dormir um pouco, ela se sentisse diferente. Mas fora despertada tarde da noite anterior pelo horrível ruído da corrente da âncora sendo erguida. Tinha soado como se o próprio navio estivesse sendo cortado ao meio por mãos gigantes, e uma vez que aquela imagem se plantara no seu cérebro, Jenna não tinha conseguido mais dormir.
— Tudo por causa de Nick — disse ela para a mulher no espelho, e ficou gratificada em vê-la assentir em concordância. — Sr. Bilionário, muito ocupado, muito importante para responder aos seus e-mails. — Ele até mesmo se lembraria dela? Olharia o nome do endereço de e-mail e se perguntaria quem era aquela? Jenna franziu o cenho, então meneou a cabeça. — Não. Ele não esqueceu. Sabe quem eu sou. Não está lendo os e-mails de propósito, somente para me enlouquecer. Ele não poderia ter se esquecido daquela semana.
Apesar da maneira que terminara, aquela semana com Nick Falco tinha virado a vida de Jenna de ponta-cabeça.
Era simplesmente impossível que ela fosse a única a ser afetada tão fortemente.
— Então, em vez disso, ele está sendo o sr. Charmoso — murmurou ela. — Provavelmente seduzindo outra mulher tola, que, como eu, não vai notar, até que seja tarde demais, que Nick não é fantasia de ninguém.
Oh, Deus.
Aquilo era uma mentira.
Na verdade, pensou com um gemido interno, achava que ele era a fantasia de qualquer mulher. Alto, lindo, com grossos cabelos pretos, olhos azul-claros, e um sorriso que era tanto charmoso quanto malicioso, Nick Falco era o bastante para enlouquecer uma mulher de paixão antes mesmo que ela soubesse que tipo de amante ele era. Jenna encostou a testa contra o espelho.
— Talvez esta não tenha sido uma boa ideia — sussurrou ao sentir certas partes de seu corpo vibrarem apenas com a força daquelas memórias.
Então fechou os olhos quando imagens mentais vívidas vieram à sua mente... noites com Nick, dançando no Pavilion Deck sob um céu estrelado. Um piquenique de madrugada, sozinhos na proa do navio, quando todos os outros dormiam. Jantando no terraço dele, bebendo champanhe, derramando algumas gotas, e Nick lambendo-as no vale entre seus seios. Deitada na cama dele, aconchegada em seus braços fortes, ouvindo sussurros que prometiam deleites tentadores.
O que significava o fato de que somente as lembranças de Nick ainda pudessem lhe despertar um tremor de desejo, mais de um ano depois? Jenna não achava que realmente quisesse uma resposta para esta pergunta. Não tinha ido para aquele navio por causa de luxúria ou por causa do que vivenciara com Nick um dia. Sexo não era parte da equação desta vez, e ela teria de encontrar uma maneira de lidar com seu passado enquanto lutava por seu futuro. Deliberadamente, reprimiu as imagens provocativas da cabeça em favor da realidade. Abrindo os olhos, olhou para o espelho e firmou-se para enfrentar a situação iminente.
O passado a levara ali, mas ela não tinha intenção de despertar antigas paixões.
Sua vida estava diferente agora. Não se encontrava à deriva, procurando aventuras. Era uma mulher com um propósito, e Nick iria ouvi-la, quisesse ou não.
— Ocupado demais para responder e-mails, não é? — murmurou Jenna. — Ele acha que se me ignorar o bastante, eu vou simplesmente desaparecer? Bem, então terá uma boa surpresa.
Ela escovou os dentes, aplicou uma maquiagem leve, e penteou seus longos cabelos lisos castanho-claros, antes de produzir uma única trança grossa e deixá-la cair no meio das costas. Saindo de lado pela porta do banheiro, andou até a cômoda abaixo de uma televisão presa no topo da parede. Pegou um shorts branco, vestiu-o, então enfiou as pontas da blusa amarela dentro do cós. Calçando um par de sandálias, apanhou sua bolsa e checou os conteú dos, a fim de se certificar que o pequeno envelope selado ainda estava lá. Então dirigiu-se para a porta de sua cabine.
Jenna abriu a porta, saiu num corredor estreito e colidiu com um garçom de serviço de quarto.
— Desculpe.
— Culpa minha — insistiu o rapaz, levantando a bandeja que carregava o bastante para que Jenna pudesse abaixar-se para passar por ele. — Estes corredores velhos simplesmente não foram feitos para a circulação de muitas pessoas. — Olhou de um lado para o outro do curto corredor, então de volta para Jenna. — Mesmo com a reforma do navio, há seções que... — Ele parou, como se lembrando que era empregado da Linha Falcon, e não deveria estar depreciando o navio.
— Suponho que sim. — Jenna sorriu-lhe. Ele parecia ter cerca de 20 anos, e possuía um brilho de excitação nos olhos. Ela podia apostar que aquele era o primeiro cruzeiro do rapaz. — Então, você gosta de trabalhar nos Cruzeiros Falcon?
Ele abaixou a bandeja até o nível do peito, deu de ombros e disse:
— É meu primeiro dia, mas até agora, sim. Gosto muito. Mas... — Ele parou, olhou para trás no corredor parcamente iluminado, como se querendo se certificar de que ninguém pudesse ouvi-lo.
Jenna poderia tê-lo tranquilizado. Havia somente cinco cabines naquela parte baixa do navio, e apenas a sua e mais uma no fim do corredor estavam ocupadas.
— Mas? — incentivou ela.
— É um pouco sinistro aqui embaixo, não acha? Quero dizer, você pode ouvir a água batendo contra o casco do navio, e é tão... escuro.
Ela estivera pensando a mesma coisa apenas momentos atrás, entretanto disse:
— Bem, deve ser melhor do que as cabines da tripulação, certo? Quero dizer, eu costumava trabalhar em navios e ficávamos sempre no deck mais baixo.
— Não nós — replicou ele. — As cabines da tripulação ficam no deck acima deste.
— Fabuloso — murmurou Jenna, pensando que até mesmo as pessoas que trabalhavam para Nick conseguiam dormir melhor naquele cruzeiro do que ela.
A porta se abriu, e uma mulher de aproximadamente 40 anos, vestida num roupão, pôs a cabeça para fora e sorriu.
— Oh, graças a Deus — disse a loira mais velha. — Ouvi vozes aqui fora e tive medo que o navio fosse assombrado.
— Não, senhora. — O garçom assumiu uma postura de atenção, como se acabasse de se lembrar o que tinha ido fazer lá. Deu a Jenna um olhar esperançoso, claramente lhe pedindo que não o entregasse por estar ali conversando. — Eu trouxe café da manhã para dois, como requisitado.
— Ótimo — disse a loira, abrindo mais a porta. — É só que... — Ela parou. — Não tenho ideia aonde você vai colocar a bandeja. Ache um lugar, certo?
Enquanto o garçom desaparecia dentro da cabine, a loira estendeu uma mão para Jenna.
— Oi, eu sou Mary Curran. Meu marido, Joe, e eu estamos de férias.
— Jenna Baker — apresentou-se ela, apertando a mão da outra mulher. — Talvez nos encontremos nos decks superiores?
— Você não vai me ver muito aqui embaixo, isso eu garanto — admitiu Mary com um tremor, enquanto apertava mais a faixa de seu roupão azul atoalhado. — Muito assustador, mas o importante é que estamos num cruzeiro. Só temos de dormir aqui, afinal de contas, e pretendo fazer com que o dinheiro gasto nesta viajem valha a pena.
— Engraçado — disse Jenna com um sorriso. — Eu estava dizendo a mesma coisa para mim mesma.
Ela deixou Mary com seu café da manhã e se dirigiu para os elevadores que a levariam para fora da escuridão. Agarrou o envelope que mandaria entregar para Nick e se preparou para o dia que enfrentaria. O elevador entrou em movimento, e Jenna bateu um dos pés no chão enquanto subia para os níveis mais altos do navio. O que precisava agora era de um pouco de ar, muito café e algo para comer. Então, mais tarde, depois que Nick tivesse lido sua carta, ela estaria pronta. Pronta para encarar a fera. Para enfrentar o leão em sua toca. Para fitar os olhos azuis de Nick e exigir que ele fizesse a coisa certa.
— Ou — Jenna jurou quando as portas se abriram e ela saiu na luz do sol, inclinando o rosto para o céu —, eu o farei pagar.
— o sistema de som para o palco no Calypso Deck está produzindo alguns ruídos, mas os técnicos garantiram consertar antes da hora do show.
— Ótimo. — Nick Falco recostou-se em sua cadeira de couro marrom, e cruzou as mãos sobre a barriga, enquanto sua assistente, Teresa Hogan, fazia seu relatório do dia. Era somente fim da manhã e, juntos, eles já tinham lidado com meia dúzia de problemas. — Eu não quero grandes problemas — disse ele. — Sei que este é um cruzeiro de estreia para testar os sistemas mecânicos do navio, portanto promocional, mas não quero que nossos passageiros se sintam como cobaias.
— Eles não se sentirão. O navio está bonito, e você sabe disso — murmurou Teresa com um sorriso confiante. Temos algumas pequenas falhas, mas nada que não possamos resolver. Se houvesse um problema real, nós nunca teríamos saído do porto ontem à noite.
— Eu sei — disse ele, olhando para as ondas brancas dançando sobre a superfície do oceano. — Apenas se certifique de que estejamos um passo à frente de qualquer uma destas pequenas falhas.
— Eu não faço isso sempre?
— Sim — respondeu Nick, assentindo em aprovação.
— Você faz.
Teresa estava beirando os 60 anos, tinha cabelos escuros e curtos, olhos verdes inteligentes e as habilidades organizacionais de um general. Ela não aceitava erros de ninguém, incluindo Nick, e possuía lealdade e tenacidade. Estava com Nick há oito anos... desde que o marido tinha morrido e ela fora procurar um emprego que lhe proporcionasse aventura.
Ela conseguira isso. E também se tornara o braço direito confiável de Nick.
— O chef principal no Paradise Deck está reclamando sobre os novos vikings — Teresa estava dizendo, manuseando os papéis atados à sua prancheta inseparável.
Nick bufou.
— Os fogões mais caros do planeta, e há algo errado com eles?
Ela deu um pequeno sorriso.
— Segundo chef Michele, o forno não é quente o bastante.
Nem um dia inteiro no mar, e ele já estava recebendo críticas de artistas temperamentais.
— Diga-lhe que, contanto que o forno esquente, ele deve fazer o que estou lhe pagando para fazer.
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