Phillip está casado com Molly há um ano. Ele é além de obcecado pela esposa, a ponto de esconder seus verdadeiros sentimentos. Se ela soubesse quão louco ele é, poderia se afastar.
Molly está sentindo a crescente distância entre eles, e está preocupada de não ser o suficiente. Uma noite, enfrenta Phillip e muda tudo.
Quando Phillip descobre que Molly se envolveu num acidente e está com amnésia, vai fazer o possível para que ela se apaixone por ele novamente. Desta vez sem nada esconder.
Atenção: É tão louco quanto parece e sim, um total clichê. Se quer um tempo bobo e alegre longe da realidade, aceite este presente! Para todos vocês que sorrateiramente leram a coleção secreta da mamãe e adoraram. Essas histórias são suas!
Molly
— Molly, apenas dê um tempo. Tenho certeza que vai engravidar.
Olho para cima da salada insípida que estou empurrando no prato, não sentindo nem um pouco de fome. Mas um jantar fora parecia mais divertido que comer sozinha pela quarta vez esta semana. Phillip vai trabalhar até tarde. Mais uma vez. Algo que estava se tornando normal demais para o meu gosto.
É a “sua” casa, mesmo que diga que é “nossa”. Ainda acho estranho chamá-la de casa, sendo um apartamento. Embora esteja casada e morando nele há um ano. Não acho que já tenha me sentido em casa alguma vez. Não é como as que sonhei, de qualquer maneira. Ainda parece mais dele do que minha. Ainda não encontramos a casa ideal. A que sonhei a vida toda. Phillip parece animado, mas continua a deixar a busca em segundo plano, e começo a pensar que eu também.
Cindy coloca a mão no meu braço, dando um aperto reconfortante. Todo mundo sabe que temos tentado ter um bebê. Era difícil esconder como estou animada sobre iniciar uma família, e Phillip me incentivou a falar sobre o assunto, a vê-lo como uma realidade. Ele começou a dar vida aos pequenos sonhos que tinha na cabeça. Era tudo parte do conto de fadas que caí no momento que conheci Phillip.
A menina se apaixona perdidamente pelo novo parceiro de negócios do seu pai, e ele a pede em casamento rapidamente. A imprensa devorou a história.
Milionário Phillip Tanner finalmente sobe ao altar. Não só isso, mas com a filha de seu novo parceiro Charles Moore. A parceria reuniu duas das maiores empresas de fundos do país, e acredita-se que serão incríveis juntos.
E tem sido.
Sorrio para Cindy, dando-lhe um olhar tranquilizador.
— Eu sei. Quando tiver que ficar grávida, vai acontecer. — Nem tenho mais certeza se quero um bebê, parece estranho, afinal ter uma família é tudo que sempre quis.
Eu queria tudo. A cerca branca, crianças, e um marido que me adorava. Tinha o marido apaixonado quando ele estava perto, de qualquer maneira. Poderia não ser o centro de sua atenção, mas não queria isso para nossos filhos. Fui uma criança com um pai assim, e não faria isso com meus filhos.
Nunca vou cria-los numa casa que não pareça um lar.
Posso lidar com isso. Amo meu marido, e sei que ele me ama, mas tem sido estranho ultimamente, e me preocupo que talvez não seja apenas trabalho o mantendo longe. Talvez seja eu. E se eu não tiver o mesmo apelo para ele? E se a novidade passou da mesma maneira que aconteceu com meus pais? Cerro os dentes, tentando afastar a insegurança.
Mas isso só não significa nada, não com a maneira que Phillip me toca. Ele faz amor comigo todas as noites quando rasteja na cama, mesmo depois de um longo dia de trabalho. Não pode dormir sem antes me ter.
Exceto noite passada. Não sei quando ele chegou em casa, e foi a primeira vez. Adormeci antes que chegasse e acordei com ele se despedindo esta manhã. Disse que tinha uma grande reunião para preparar e que me diria tudo no fim de semana.
— Há mais alguma coisa? Você não parece normal. — Cindy soltou a mão que tinha em meu braço para me estudar. Ela é muito boa em ler pessoas. Na verdade, me disse na primeira vez que nos vemos que seríamos amigas, e assim tem sido.
Ela está certa. Há outra coisa. A mesma coisa que está começando a plantar pequenas sementes da dúvida na minha mente. A única coisa que tem me feito pensar mais sobre as longas horas de trabalho durante esse mês.
— Ele tem uma nova secretária. — Finalmente desabafei, sabendo que Cindy iria arrancar a verdade, eu querendo ou não.
— Oh, ouvi que Debora se aposentou.
Acenei que sim. Debora saiu a mais de um mês e mudou para a Flórida para aproveitar a aposentadoria com o marido. Eu amava aquela mulher. Ela era tão doce, e sempre que eu ligava fez parecer que a coisa mais importante era meu marido me atender, não importando o que ele fazia. Tudo o resto era colocado em espera e reuniões interrompidas.
A nova secretaria não se importava.
— Nem sequer pense. — Cindy se inclinou para trás na cadeira, o cabelo castanho balançando em volta do rosto.
Não posso sequer dizer. É tão clichê, não posso deixar as palavras saírem dos meus lábios. Ela é clichê, também. Grandes olhos azuis e cabelo loiro, tão alta e magra que parece totalmente perfeita. Cada cabelo sempre no lugar e ela usa saltos de cinco centímetros todos os dias. Eu quebraria meu pescoço. É como se fosse natural para ela.
— Na verdade, nem eu vou dizer. Quer dizer, é Phillip, pelo amor de Deus. — Ela ri como se eu tivesse enlouquecido. — O homem é louco por você. Você não conheceu o Phillip antes da Molly, mas eu sim.
Cindy é uma das minhas únicas amigas em Nova York, e a conheci através de Phillip. Foi assim que conheci todos aqui. Sai do internato, direto para a faculdade e depois para o apartamento de Phillip. Toda a minha família e amigos estavam a milhares de milhas em Seattle.
— Ele era chato... bem, ele ainda é. — Ela sorri como se ele pudesse nos ouvir. — Sempre trabalhando, sem nenhuma diversão. Até você. Por que acha que a imprensa ficou tão alvoroçada? Estavam tentando pegá-lo com uma mulher há anos, então ele surge na cidade com uma. Confie em mim, ele não está te traindo com a secretaria. O conheço desde a faculdade, e nunca o vi num encontro até que te conheci.
Eu sei que é verdade. Busquei seu nome no Google a primeira vez que eu o conheci. Ele surgiu do nada. Nunca em um milhão de anos achei que iria mostrar interesse em mim. Ele é dez anos mais velho. Mal tinha vinte na época que nos conhecemos. Alguns diziam que era só para tornar a parceria com meu pai mais sólida. Nunca concordei com isso. Ele me fez sentir especial, algo que ninguém tinha feito. Ser o centro do mundo de alguém era estranho para mim. Mas estava me acostumando com isso. Até o trabalho passar a frente e as coisas começarem a parecer solitárias novamente. A solidão era um sentimento que ele tirou de mim no momento em que o conheci. Não gosto dela rastejando de volta para minha vida.
Namoramos por dois meses em segredo, até meu vigésimo primeiro aniversário, então oficializamos e casamos um mês depois. Ele fez-nos esperar até a noite de núpcias antes de me tomar completamente. Desde o início, conversamos sobre querer uma família, e ele disse que não queria nada entre nós, por isso, tínhamos que esperar até o casamento.
Bem, esperamos para fazer tudo, pelo menos. Phillip passou muitas noites com a boca em mim. Dizendo-me todas as coisas que faria quando eu finalmente dissesse sim.
Não posso contar quantas noites ele se esgueirou para o meu quarto depois de uma reunião no escritório do meu pai. Eu ia para a cama sozinha e acordava com Phillip entre minhas pernas. Algumas noites ele parecia morrer de fome. Outras noites me fazia prometer mais e mais que ia casar com ele antes de finalmente me dar o que precisava. Ele nunca me permitiu devolver o favor. O mais próximo que cheguei do seu pênis antes de noite de núpcias foi o tocando por cima da roupa.
Mas os homens realmente passam meses sem sexo? Afastei o pensamento.
— Eu sei. Estou sendo boba. Sei que ele me ama. Ela só é tão estranhamente rude quando ligo ou apareço. Juro que cada vez que a vejo ela está empurrando os peitos gigantes no seu rosto ou dando uma risadinha estridente. Toda vez que ligo, diz que Phillip está ocupado. Toda. Vez. — Tudo isso, as horas extras e minha solidão nessa cidade gigante aumentou a insegurança gigante que sinto.
— Diga alguma coisa. — Cindy sugere, inclinada para frente, os olhos azuis estreitando como sempre fazem quando ela está se preparando para uma luta. O que faz frequentemente no tribunal.
— Sei que deveria. Vou falar com ele. Só que às vezes me sinto fora de lugar. Sou muito mais jovem que todos, sei que ele controla uma empresa e não quero ser a esposa pegajosa e insegura.
Às vezes me sinto um pouco perdido em seu mundo, e seria uma mentira se dissesse que nunca interrompi reuniões do meu pai, apenas para me sentir importante. Tenho licenciatura em história da arte, e estou orgulhosa disso, mas às vezes fico perdida. Sei que o problema é comigo. Phillip nunca falou nada negativo ou tentou me excluir, mas velhas inseguranças são profundas.
— Foda-se. — Ela xinga, me fazendo sorrir. Uma das coisas que amo em Cindy é que ela não é como a maioria das mulheres que conheci em Nova York. Nem como as esposas de alguns colegas de trabalho de Phillip. Ela sempre diz o que pensa e quero ser assim também.
— Aquele homem vai ficar puto se descobrir que a secretária está te tratando como merda. Na verdade, aposto que ele a despediria se sequer suspeitasse de algo assim.
Sei que ela está dizendo é verdade. Uma vez disse a Phillip, de passagem, que achava que o porteiro não gostava de mim. Sempre que eu perguntava algo, ele era grosso e falava que eu não deveria sair sem meu marido. Perguntava constantemente sobre minha idade, como se eu não pertencesse a este mundo. Foi o limite quando ele apareceu depois de Phillip ter saído para o escritório. Então ele saiu do meu pé. Depois de contar a Phillip o que tinha acontecido, nunca o vi novamente.
— Você está certa. Estou fazendo isso maior do que é. — Pego minha bolsa da cadeira, fazendo Cindy sorrir. — Você se importa? — Pergunto. Ainda nem tínhamos chegado ao prato principal.
— De jeito nenhum.
Inclino-me para beijá-la na bochecha.
— Me liga. Quero saber os detalhes.
Certa do que fazer saio do restaurante para a agitada Nova Iorque. Olhando para baixo no relógio, vejo que são oito horas. Caminho até a empresa, que fica a apenas quatro quarteirões.
Red, o segurança, me olha enquanto caminho para dentro do prédio praticamente vazio. Aperto o botão do elevador para a presidência. Quando saio, o corredor está totalmente claro. Ando até seu escritório, contornando a mesa vazia da secretária, e abro a porta pesada.
A visão quase me deixa de joelhos, e teria caído se não tivesse uma mão ainda na porta.
Ali, no meio do escritório de Phillip, completamente nua, está Cary. A secretária. Phillip está no sofá, o rosto virado, mas posso ver a gravata desfeita e os sapatos longe. Seu terno amassado. Cary apenas me olha em choque.
— Pode ficar com ele. — Nem tenho certeza de como consigo dizer as palavras.
Corro, fugindo do escritório. Aperto o botão do elevador e, felizmente, ele abre imediatamente. Faço a descida em transe, tentando me segurar. Não vou quebrar aqui. Respiro fundo, tentando me acalmar.
— Senhora Tanner. — Red chama, vendo as lágrimas escorrendo por meu rosto. Pego o primeiro táxi que vejo e vou direto para o apartamento. Não paro para pensar no que estou fazendo. Acho que estou em choque.
Faço uma mala em tempo recorde, rabisco uma nota, e mando um texto para Cindy antes de largar o celular e a aliança no balcão da cozinha.
Talvez Cindy não conheça Phillip tão bem quanto pensa. Talvez todo mundo o ache chato, porque ele é bom em esconder a verdadeira natureza. Meu pai era bom em esconder seus segredos sujos, também, mas como a maioria das coisas, só precisa olhar mais perto.
É quando tudo se torna claro.
— Deus, você é tão ingênua. — Sussurro para mim mesma.
Pego o metrô para a estação de trem, onde compro um bilhete com meu cartão de crédito, em seguida, tiro tanto dinheiro quanto os cartões permitem. Pego um táxi para a rodoviária. Quero ficar longe por um tempo e colocar minha cabeça no lugar antes de enfrentá-lo. Sei que ele vai me encontrar se eu não cobrir meu rastro bem o suficiente.
Olho para a lista de destinos e escolho um lugar que espero que ele nunca vá pensar.
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