Gláucia é jovem, uma pessoa bonita não só de aparência, mas também de caráter. Uma moça delicada, que está sempre com um sorriso largo em seu rosto, ela encanta todos a sua volta com tamanha espontaneidade. No entanto, ela esconde dentro de si muita tristeza.
Uma mulher inteligente, estudante de pedagogia. Sua mãe fez questão que ela estudasse para nunca depender de homem algum. Boa decisão, já que ela parece ser um ímã de parceiros da pior espécie. Mesmo com azar no amor, ela ainda sonha em casar-se e ter filhos.
Infelizmente, para algumas pessoas os relacionamentos parecem estar fadados ao desastre, esse é o caso de Gláucia. O seu coração é como um recipiente de porcelana, belo, porém frágil, ele não aguenta mais tantas decepções.
Certamente, isso deve a todas às vezes o seu coraçãozinho foi quebrado e remontado, até que ele se tornou irreconhecível, sem espaços para mais remendos. O que Gláucia precisa agora é alguém que a trate bem!
Sem dúvidas, essa é uma história triste, porém, de muita superação. Isso porque desde sempre sua família enfrenta problemas com relacionamentos tóxicos e alguns deles não terminaram muito bem. Ela não tem boas referências de casamentos e luta todos os dias para encerrar esse ciclo de fracassos que começou com a sua avó Jurema e seu avô Agenor.
Além de saber tudo o que sua avó passou, ela também presenciou a relação de seus pais, Lavínia e Carlos. Sua mãe não consegue se desvencilhar de um relacionamento que só veio adiante para garantir um futuro aos seus três filhos, Luan, Wagner e Gláucia.
Gláucia costuma dizer que as histórias das mulheres de sua família se enquadram muito bem na fatídica frase:
— Tudo se repete, de novo e de novo!
No entanto, mesmo com todos os revezes que se apresentam, ela não perdeu a vontade de continuar tentando encontrar um parceiro que a compreenda. O seu mantra é:
— Terei sucesso no amor, eu sou digna de ser amada, eu serei feliz.
Por vezes a frase se estende:
— Terei uma família, filhos, alguns animais de estimação, uma casa amarela e um quintal com cerquinha branca.
Ela repete isso dia após dia, fala isso com tanta força que ela realmente se convence disso. Será que ela conseguirá construir uma história diferente? Sua mãe e sua avó não estão muito certas que isso vá acontecer, inclusive Jurema não cansa de dizer:
— O fruto não cai longe do pé, então, não se iluda Gláucia, corra atrás do que vai te fazer crescer, te fazer feliz, estude, minha filha, trabalhe.
Nessas horas ela revira os olhos, suspira, mas não responde sua avó, até porque, ela fala com propriedade. Afinal de contas, a vida de sua filha foi um reflexo da sua, bem como, essa é a atual condição de Gláucia, sempre envolvida em relacionamentos sem futuro. Será um carma?
Gláucia não acredita nisso, por esse motivo, ainda luta para um dia ter uma família feliz. No entanto, Lavínia com tamanha vivência sempre tenta instruir sua filha, mas o alerta sempre acaba em confusão.
Lavínia — Só vendo para crer, o amor como contam por aí não existe.
Gláucia — Ah mãe, parece que não quer me ver bem, feliz!
Lavínia — É justamente por querer te ver bem que falo essas coisas, estou mostrando a realidade.
Gláucia — Pessimismo, sempre palavras de desânimo, né mãe? Se não deu certo para você ou para vovó, não significa que não dará certo para mim… nessas horas você esquece do seu próprio conselho, EU NÃO SOU TODO MUNDO!
Lavínia — Pois bem, não falo mais…
Gláucia — Isso, se conselho fosse bom, estaria à venda.
Lavínia — Baixa a bola e não esquece com quem você está falando.
Gláucia — Aff!
Para entender melhor o contexto de vida de Jurema, Lavínia e Gláucia, é preciso voltar para a história de seus antepassados. O casamento dos avós de Gláucia não foi nenhum exemplo de amor, companheirismo e felicidade. Seu Agenor bebia muito e batia em Jurema. Lavínia que ainda era criança presenciava tudo isso.
Lavínia era muito introspectiva, amedrontada, uma menininha que vivenciou muitos desentendimentos. Uma das brigas entre seus pais não sai de sua cabeça, embora ela não se lembre bem do motivo. Foi tão assustador que essas memórias atrapalham até hoje o seu sono.
Ela lembra de estar escondida no armário da cozinha e seu pai gritava com sua mãe, puxava os cabelos dela e de repente ele empunhou uma faca e aos gritos dizia:
Agenor — Mulher, você não presta para nada não?
Jurema — Se acalme, o que está acontecendo com você? Ai, você está me machucando, me solte, me solte!
Agenor — Você some a tarde toda e volta como se nada tivesse acontecido?
Jurema — Eu estava trabalhando, hoje foi dia de faxina na casa da Rute… Me solta Agenor.
Lavínia — Para pai, para papai…
Ao ouvir o gemido apavorado da filha, Agenor se afasta de Jurema e sai em direção ao carro. Foi nesse dia que Jurema viu que a situação na sua casa estava insustentável e resolveu seguir sua vida sem o seu marido.
Assim como Lavínia, Gláucia cresceu em um lar desestruturado. Seu pai era um homem que tinha um gênio muito forte, falava de maneira ríspida e muitas vezes proferia ameaças, tais como:
Carlos — Quando casei você se arrumava, tinha um jeitinho faceiro e agora tá esse estrupício. Depois reclama que demoro na rua, voltar para casa e ter essa visão?
Lavínia — Sossega homem…
Carlos — Sossegar nada, eu vou é para o bar do Tom, tomar umas geladas, papear e dançar forró com mulher bonita. Nesse meio tempo, vê se dá um jeito na cara porque se não, a qualquer dia vou e não volto. Você ficará sozinha para sustentar a casa e as suas crias.
Lavínia — Mas é sonso, os filhos são só meus? Falou o exemplo de beleza!
Carlos — Ninguém vai te querer não!
Lavínia — Quer testar para saber?
Carlos realmente falava coisas horríveis para sua esposa, contudo, não partia para violência física. Mas o fato é que às vezes as palavras doem mais do que um tapa. O tapa machuca a carne, mas as palavras machucam a alma.
Mesmo com esse relacionamento conturbado, em nenhum momento Lavínia se imaginou longe de Carlos, afinal de contas, ele faz parte de sua vida desde a adolescência. Então, para manter o casamento, ela justifica as brigas para os filhos dizendo:
— Entendam seu pai, é só uma fase, ele está passando por momentos difíceis.
Mas, ela sabe que o comportamento de Carlos é bem mais do que uma fase ruim, seu caráter é questionável. No entanto, ela se apegou à rotina e aos seus medos de seguir sozinha. Isso porque a dedicação da sua vida foi a família e a casa. Ela não construiu sua independência, não tem um emprego, mal concluiu os estudos, por esse motivo, ela se sente presa ao casamento.
Esse é exatamente o futuro que Gláucia deseja evitar. Segundo ela, é hora de romper o ciclo hereditário de fracassos amorosos. E o conselho de sua mãe reverbera em seus pensamentos.
— “Quem sai aos seus não degenera”.
Conselho verdadeiro e sábio, afinal de contas, ele serve de alerta de que seguir as orientações dos pais e de pessoas próximas que nos amam, ajuda a evitar sofrimentos.
Gláucia na maior parte das vezes ouve sua mãe e sua avó, por isso, ela tem se mantido comprometida aos estudos e trabalho. Contudo, ela tem um ponto fraco, não abre mão de achar o seu par.
É justamente nisso que ela tem errado, e para tudo desmoronar bastou se apaixonar pela primeira vez. Lucas foi seu primeiro namorado, ele parece ser um bom garoto, sem dúvidas é de boa família, mas, nem tudo que reluz é ouro, não é mesmo? E foi assim que a sua vida começou a ficar de cabeça para baixo.
Gláucia mora no Rio de Janeiro, em um local bastante badalado, em Santa Tereza, pertinho da Lapa, no centro da cidade.
Foi durante a comemoração de aniversário de Fabiana, em um barzinho com música ao vivo, que Gláucia tropeçou em uma mesa e acabou esbarrando em Lucas.
Gláucia — Ah, me desculpe, te machuquei!?
Lucas — Não, tá tudo bem! E o seu pé?
Gláucia — Estou bem, na verdade, estou ótima!
Naquele momento os olhares não paravam de se cruzar e ela continuava se apoiando no braço de Lucas.
Lucas — Qual o seu nome?
Gláucia — Gláucia, e o seu?
Lucas — Prazer Gláucia, o meu é Lucas!
Inegavelmente, naquele instante, sem saber muito um sobre o outro, eles já estavam apaixonados. Pode parecer clichê, mas, naquele momento, eles passaram a acreditar em amor à primeira vista.
De fato, Lucas era um garoto de tirar o fôlego de qualquer moça, 20 anos, alto, moreno, olhos amendoados e com um sorriso encantador.
Gláucia também era uma moça linda, 18 anos, baixinha, com ombros de nadadora, um sorriso largo. De cara as amigas notaram que eles combinavam bem. Fabiana não perdeu a oportunidade de falar:
— Hei, não quer se juntar a gente?
Gláucia e Lucas se aproximam lentamente e ela o apresenta às suas cinco amigas.
Gláucia — Lucas, essas são minhas amigas, Letícia, Suélen, Thayla, Bia e Fabiana.
Lucas — Olá pessoal! O que estão comemorando?
Fabiana — Meu aniversário.
Lucas — Ah, parabéns!
Fabiana — Venha comemorar conosco, fazemos questão.
Nesse momento, Gláucia estava um tanto envergonhada, mas não queria perder um minuto da presença de Lucas e ele muito menos. Por isso, logo ele pediu o seu telefone.
Lucas — Me passa o seu contato, para falarmos durante a semana, o que acha?
Gláucia — Lógico, meu número é (21) 96000-0000
Lucas — Quer anotar o meu também?
Gláucia — Escreve o número aqui na minha mão, esqueci o meu celular.
Lucas pegou a mão dela e antes de escrever a acariciou, por fim, colocou seu número e ao lado desenhou um coração. Ela ficou olhando para ele e pensando que esse encontro não podia ser coincidência, era o destino.
Ao redor deles as amigas cochichavam:
Letícia — Hummm, Gláucia está toda encantada!
Thayla — Hoje ela desencalha (riu alto).
Suelen — Se eu fosse ela já deixava um encontro marcado, só para garantir, lindo desse jeito, espero que ela não dê bobeira!
Bia — Deixa ela gente, vai que tem outros gatinhos dando sopa por aí, também quero um esbarrão desses.
Thayla — Eu não estou à procura de nada, isso aí é com vocês. O meu gatinho ficou em casa, miauuuu (riu alto zombando de Bia).
Bia — O que você tem não é um gatinho, é um dragão.
Durante essa conversa descontraída entre as amigas, o clima entre Gláucia e Lucas esquentou, ele estava falando bem próximo ao seu rosto, quase beijando-a, mas, o seu telefone tocou e ele se afastou…
Lucas — Só um momentinho, Gláucia. Alô, quem fala? Oi Clóvis, confirmado o trabalho de amanhã, farei ainda hoje uma pré pesquisa.
Clóvis — Ok, valeu Lucas.
Lucas — Até amanhã, tchau.
Após desligar o telefone o clima já não era o mesmo, então Gláucia se despediu para voltar a interagir com suas amigas.
Gláucia — Lucas, eu vou, afinal de contas, é aniversário da Fabi.
Lucas — Entendo, mas amanhã vou te ligar, posso?
Gláucia — Pode, ficarei esperando!
Gláucia chegou perto dele, ficou na ponta do pé e deu um beijo bem no cantinho de sua boca, ele abriu um sorriso maroto e ela lentamente foi se afastando em direção às meninas. Lucas continuou olhando-a de longe até que chegasse ao seu grupo.
Já com suas amigas, Gláucia estava se sentindo extasiada, até então tudo estava simplesmente perfeito. Até porque, se no início dos relacionamentos não houver sintonia, se não for bom, a aproximação não vai adiante, não é?
Portanto, pode-se dizer que o entrosamento dos dois foi perfeito. Agora, a conversa entre as garotas envolvia o que ela achara de Lucas, no entanto, ela ainda não tinha muito o que dizer. Mas, ela já estava ansiosa aguardando aquela ligação.
Gláucia e suas amigas foram para a sua casa após o aniversário de Fabiana. Elas já tinham bebido além da conta, então, todas elas foram dormir no local mais próximo da festa. No entanto, Gláucia resolveu tomar banho antes de deitar.
No outro dia, após ter recobrado a sobriedade, mas ainda com um pouco de dor de cabeça, ela lembrou que escrevera o número de telefone do Lucas em sua mão. Nesse momento, ela arregalou os olhos e disse:
— Meninas, acordem! Vocês não sabem o que fiz…(sua voz estava embargada e ela aparentava estar triste).
Bia se levantou rápido e perguntou:
Bia — O que aconteceu? Sua mãe tá bem e sua avó?
Gláucia — Calma, calma, todo mundo está bem!
Bia — Então o que houve, porque acordou a gente assim?
Gláucia — Lavei minha mão!
Bia — O quê?
Gláucia — Escrevi o número do garoto na mão, lembra? Agora se foi… que merda!
Nesse instante, Fabiana, Letícia, Suélen e Thayla também entram na conversa:
Letícia — Ah, não se preocupa, ele não disse que vai te ligar?
Gláucia — Sim!
Letícia — Então relaxa!
Thayla — Não adianta surtar, espera! Vamos tomar um café. Vi sua mãe saindo, ela disse estar indo na padaria e sua avó saiu mais cedo disse que ia à igreja.
Suélen — Isso aí, desencana, ele não é o único bonitinho do Rio de Janeiro, se ligar, ligar! Se não, esquece, bola para outro.
A porta da sala bate e Lavínia diz:
— Meninas, cheguei com pão fresquinho!
Fabiana — Hummm, que cheirinho bom, estamos com fome!
Lavínia — Então venham tomar café.
As seis foram lanchar e a e sua mãe, que não é nada boba, achou a sua filha estranha.
Lavínia — Que cara de quem comeu e não gostou é essa Gláucia? O que aconteceu?
Gláucia — Nada, tá tudo bem mãe!
Mas, quem nunca teve aquela amiga que não segura a língua? Bia é um amorzinho, muito espontânea, mas quando se trata de guardar segredos, ela é péssima. Então, saiu explanando tudo o que aconteceu na noite anterior.
Bia — Ela está assim por lavar a mão. Um gatinho mega lindo escreveu o número dele na mão dela e agora o número está apagado.
Gláucia — Shhhh! Fecha o bico, não consegue, né?
Bia — Opa, foi mal!
Lavínia — Tá escondendo o que Gláucia? Eu não sou contra você paquerar, só não quero que você se iluda com esse negócio de amor, de pensar que o príncipe encantado existe.
As meninas todas fizeram um silêncio, isso porque elas viram que o clima entre os dois não era apenas de um flerte qualquer, os olhares insinuavam existir algo mais!
Lavínia com pressentimentos de mãe, sabia que a filha estava dando crédito demais para esse tal Lucas. Por isso, ela estava de olho em toda a situação.
Após o almoço, elas foram embora da casa de Gláucia e até o momento Lucas não tinha ligado e ela olhava o telefone 5 minutos. Sua avó, que não perde a oportunidade de falar, disse:
Jurema — Uai, o que você tanto olha para esse aparelho?
Gláucia — Estou esperando uma ligação.
Jurema — Deve ser realmente importante. De quem?
Gláucia — De um rapaz chamado Lucas, o conheci ontem na Lapa, mas perdi contato dele, agora me resta esperar sua ligação.
Jurema — Que bom, no meu tempo as moças não corriam atrás dos rapazes não, eles tinham que vir até nós. Então, acho ótimo você ter que esperar, só assim se sabe o real interesse dele.
Gláucia — Ai vó, de que estamos falando do século, como as coisas não funcionam mais assim, eu hein!
Jurema — Pode não ser mais assim, mas do que adianta nessa ficar aflição, homem nenhum merece isso não! Fica na paz, melhor sozinha do que mal acompanhada, entenda isso de vez!
Gláucia — Ô meu Deus, quando não é a mamãe, a senhora que resolve me atentar. Chega desse assunto!
O assunto se encerrou ali, mas a ansiedade de Gláucia não. O primeiro dia se passou e nada do telefone tocar, o segundo dia também, no terceiro ela já estava até sonhando com Lucas, ela acordou toda suada, sem fôlego e envergonhada por estar se iludindo por um estranho. Então, pela manhã ela se levantou decidida a não esperar mais!
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