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Noiva Do Demônio

Prólogo

**Título: Depois da Queda. **

***Capítulo 1 ***

***Percepção. ***

O mundo que meu Pai criou, tornou-se a perdição da humanidade! Pai, hein! Não sei se essa seria a palavra certa, apesar de não haver outra que se encaixe bem quando você foi feito de um pedaço desse progenitor que se diverte em ser um tirano. Talvez só criador. Sim, criador. Não temos afeto algum um pelo outro e esse termo soa bem melhor.

Ele só me criou, como mais um, para aumentar o ego Dele. Que Ele alega não ter. Se humanos são a imagem e semelhança desse Deus... Bem, criatura segue criador. É inevitável o ego. O rancor que um humano sente pelo menos não destrói o mundo em água só porque tal humano ficou horrorizado com a própria criação. Sei lá. Coisas da vida. O dilúvio já passou mesmo, tocar em pontos do passado para quê? Dizem que Deus é um sádico. Bem, deixe-me dizer só que quando ele fica entediado da sua criação, ele a destrói. Não sei se é certo dizer que ele é um sádico. Podemos dizer que ele é um escritor. E que os mundos que cria, são destruídos quando resolve apagá-los por não serem mais interessantes. Deixo a critério do leitor, Deus ser um sádico ou não.

Voltando aos humanos, o ponto que quero trazer agora a quem ler esse parágrafo, se alguém ler é o: consumismo exacerbado, os assassinatos hediondos e os prazeres fugazes que enganam as pessoas sobre o seu destino final que é a morte. E depois deste quem sabe céu ou inferno. Como se fosse tão simples. Enquanto uns têm muito, outros padecem de nada. E esses que possuem muito dizem que o mundo é um lugar de oportunidades. Estranho, não é? Como o discurso muda dependendo de quem é a caça e quem é o caçador. Os tolos.

É divertido ver como macacos pelados que começaram no Jardim do Éden se tornaram agora justamente a pior versão de si mesmos e não a mais evoluída como tão audaciosamente e arrogantemente pressupõem!

O egoísmo predomina enquanto pessoas morrem de fome na rua, outras no topo de seus arranha-céus se empanturrando de comidas desnecessárias, ignorando a que implora por uma esmola para ter o que comer.

E se você se pergunta, caro leitor, quem eu sou para falar assim? Prazer. Eu sou aquele que caminha entre Terra e Inferno. Eu sou a lama vinda do lado de fogo. Escória. Um demônio. E por agora, eu uso a voz da escritora que me escreve.

Mas eu também vago por esse mundo e observo o desespero. A escritora anônima e fantasma está por agora apenas me ajudando a colocar certas observações em ordem para vocês meus lindos monstrinhos.

Como eu caí? Bem, era tedioso servir a tirânicas ordens e o tempo inteiro louvar o mesmo Deus. Entediante. Mas a verdade mesmo é que eu só segui Lúcifer no alvoroço porque queria algum rompante de emoção. Me julguem!

Só que tédio e apatia podem descrever minha situação lá no céu. Lugar, aliás, superestimado, que as pessoas fazem parecer algo maravilhoso e a recompensa dos justos. Se a recompensa dos justos é viver entediados, bem, devem ser mesmo caretas e os que estão no Inferno devem estar aproveitando a estadia e vivendo intensamente, quer dizer, suas almas estão. Como dizia Milton: É melhor reinar no inferno do que servir no céu.

Dizem que o Inferno é só um lago de enxofre e fogo. Não é bem assim. Lá é só o lar dos perdidos e rejeitados, os exilados pelo criador que os considerou lixos como fez conosco. E se estar perdido é algo ruim, acho que nunca quero ser encontrado.

Lúcifer tem poderes de criação. Todos nós temos, mas ele é o mais forte nesse quesito. Ele tornou o inferno um lugar bem animado até. Mas em alguns momentos dou escapulidas ao mundo mortal. Eu gosto do cheiro de podridão dos humanos. O rastro de destruição deles me excita. Humanos afrontam o criador toda hora com ações mínimas, até jogando lixo na rua. É um desrespeito a toda a criação. E então se dizem cristãos. Ah, sempre ações que não condizem com palavras. Admito que me diverto muito com isso.

Almas evoluídas são as mais atormentadas e não pertencem mesmo a esse mundo! Elas estão em outro patamar de consciência. Esses humanos raros me surpreendem às vezes. E aquela que me escreve e me deu voz, é uma desses. Gostaria de dizer se evolução para você quer dizer inteligência, você está tendo alguns preceitos errados do que é evolução atendo-se a consciência adâmica que concebeu o pecado da arrogância de querer ser como Deus. Lamento dizer mas inteligência é só inteligência se não usada para um bem maior. A razão pela qual isso acontece é que a inteligência vem com o ego de se saber sobre determinado assunto e nunca humildade. A verdadeira evolução vem com a conclusão de que há coisas muito maiores que você e aqui há humildade porque sabe que são tantas que não se pode compreendê-las e resignação de que você nunca terá todas as respostas, por isso está em constante busca. Percebem, caros leitores, por que humanos assim são tão raros?

Agora, vamos a ela… a moça desconhecida pelo mundo, sentada em frente a um computador, que fez um pacto comigo para ser famosa.Eu gritei tanto na cabeça dela, para ela me escrever e me dar voz. Ela se recusou e me recusou inúmeras vezes com medo de ir contra o nazareno que ela amava. Mas houve algum momento em que ela quis ser imparcial e minha proposta do Mundo, em troca da alma dela, foi deveras tentadora. Todo bom escritor é atormentado por demônios. Nós reconhecemos talento. Não vim só porque ela me invocou, desesperada para ser grande e se provar útil a uma familia que a menospreza e pisa nos seus sonhos. Eu, Duque Dantalion, um dos seres infernais mais poderosos da goetia, vim a ela porque mesmo que ela cheirasse a desespero e mediocridade, ainda era revestida do brilho do talento. Sinceramente, não sei por qual porta consegui entrar na cabeça daquela que me deu vez, mas eu sei que estou feliz que ela me deu essa voz. E agora, eu estou aqui. E essa é minha história com aquela que o mundo conhecerá. Minha mãe infernal porque me concebeu através de suas palavras e mesmo nós temos respeito por uma mãe.

Mãe infernal

A moça parou de escrever seus delírios e riu sem acreditar no que saiu da sua evidente loucura e rebeldia. Encarou as paredes cor de rosa do seu quarto. A mesinha do computador de frente a janela.

Um demônio conversando com sua audiência em? Era até criativa a ideia. Pesada, mas criativa. Devia estar mesmo louca! Madeline apenas analisou a tela do seu notebook dando um longo suspiro. Era tanta raiva e rancor que a moviam. Uma família cristã hipócrita. Uma prima que cursava medicina para melhorar tudo. Todos sendo alguém na vida e ela só a sonhadora fracassada. Odiava todo mundo! Queria morrer e sumir. Mas nem para se matar era competente.

— É. Acho que chega de caídos papeando por hoje. — Conversou consigo mesma suspirando. — É assustador escrever isso. E olha que eu sou a blasfemia ambulante.

A menina gordinha tirou os óculos e massageou as têmporas. Deu uma boa golada em seu chocolate quente numa caneca ao lado do notebook. Quando ia desligar o notebook preto, sentiu a presença fantasmagórica ao seu lado. A menina arqueou a sobrancelha e estancou na cadeira giratória. Mas a solidão de antes se desfez, mesmo que estivesse adornada de trevas era mais confortável que o vazio.

Foi um mero calafrio no ínicio. Então a mão firme em seu ombro, olhou para a janela e viu uma sombra ao seu lado no reflexo do vidro. Suprimiu um grito tapando a boca. Era a hora de se acostumar. Foi ela que atraiu aquilo para si em primeiro lugar.

***Oi, querida. Você foi bem. Captou a essência da minha revolta com suas palavras. ***

Calafrios ficavam mais frequentes depois que entrou no site de goetia na internet e procurou por aquele símbolo e demônio em específico. O demônio que chamou sua atenção e para o qual fez um ritual de invocação com seu sangue virgem e com o símbolo. Desde então sua mente passou a assombrá-la. Sim, era só isso. Sua mente com a consciência pesada por ter meio que traído sua religião. Era só isso e nada mais.

— Se existe mesmo, eu já te dei voz em um capítulo inteiro. Fiz minha parte. Vou até postar online. Então me dê o que eu quero, meu duque. — Foi respeitosa e mimada, mesmo sentindo que era louca. A racionalidade se perdendo, dando lugar a esperança de se acreditar em algo sobrenatural mesmo que revestido sombrio chamado do inferno. — Joguei segundo as regras do Criador, tentei ser boa e seguir Jesus. Só fui massacrada e pisada por todos. — Se justificou Madeline quase chorando. — Agora, eu quero…quero que tudo se exploda. Pegue minha alma, mas antes me torne grande e poderosa. Assim ninguém vai me olhar como se eu fosse um lixo.

***Sim, vou fazer isso já que fez sua parte, escritora. Não achei que teria a coragem de escrever mesmo o que te dei a inspiração, Madeline. Mas você fez! ***

A voz ecoou na mente de Madeline. A garota pensou amargurada que estava perdendo o juizo de vez e até se enganando com a voz da sua própria mente.

*** Mas agora que me provou até onde estar disposta a ir por sua ambição, também te darei o que deseja, Madeline. Eu gosto mesmo de você. O gosto da sua alma me excita. ***

Madeline sentiu essa fala ligar os sentidos do seu corpo. Sentiu um beijo em seus lábios. Sentiu a mão em seu ombro deslizar para seu pescoço em um afago de amante. E então os beijos em seu pescoço.

Seu corpo e alma são meus, garotinha. Mexeu com poderes que não tem ideia do que são. Mas vou perdoar seu engano se me ceder seu corpo também. Não vou infernizar você como deveria por ser tão descuidada em abrir um portal mágico sem conhecimento prévio. Eu vou fazer o pacto como faria com um mago de alto escalão, que me prenderia e exigiria meus conhecimentos e em troca me libertaria. E por você ter me conjurado com respeito e sem as armadilhas de Salomão, mesmo se arriscando muito assim, você tem minha simpatia, minha inexperiente bruxa. Eu estou obcecado por você! Mas isso não me faz benevolente. Sabe o que invocou. Me ofertou seu sangue, seu rancor e sua dor contra nosso Criador insensível. E nós pisaremos em todos aqueles que subestimaram você. Mas em troca, mostre ao mundo a outra visão da Queda. Mostre minha visão! E me ceda seu corpo.

— Sim. Mesmo que isso seja só minha mente criando peças, a resposta é sim. — Madeline comentou sem medo. A raiva sendo um alimento maior que a sanidade. Todos os gritos de sua família que nunca seria nada.

**Hoje sua sensibilidade está bem mais forte. Estou orgulhoso. No fim não era só talento a ser lapidado. Poucos me escutam como você. Acho que temos um vínculo. **

— Vínculo?

***É. Uma simbiose perfeita, você se abriu a mim. Como Venom e Eddie Brock, do filme que você gosta. Ao que parece nós temos a mesma vibração. Você é mais forte e poderosa do que pensa. Seu chamado é nas trevas e a luz te enfraquece e tenta te moldar e enfraquecer. Eu vou te tornar grande, Madeline. E assim minha voz alcançará milhões e eles verão as maravilhas de reinar no inferno no lugar de servir no céu. Você é o meu portal para esse mundo. Me conceberá na Terra através das suas palavras. Eu vou renascer através de você minha mãe infernal. E serei como o Verbo que se fez Carne em toda a profanidade que isso exigir. Você é minha profeta infernal. Meu triunfo! Minha achada que estava perdida e ignorada por um criador perverso como eu fui. Mas eu te encontrei e eu serei tudo aquilo que meu Pai não foi para você. ***

Madeline sentiu a mão invisível deslizar de seu pescoço para seu seio. Madeline fechou os olhos vendo o bonito homem de horrendo chifres na cabeça. O horror deu lugar ao prazer quando sua blusa foi rasgada. E ele consumiu seu corpo e seu lamento angustiado e molhado entre suas pernas. Era uma visão somente, mas a sensação era tão nítida que ela chegou mesmo a um orgasmo.

A peça chave

Os corredores da escola de Nova Orleans eram de um piso marrom horrendo, compostos nas laterais com armários verdes e sem graças pregados contras as paredes amarelas se descascando. O mascote da escola era um gato preto e nos jogos um pobre nerd se vestia com a roupa fedorenta. Madeline estava no seu último ano. A moça baixa caminhava até a sala dezessete, depois de ter pego seus livros no armário.

As meninas belas bajuladas e líderes de torcida com seus uniformes e mini-saias pretas com detalhes amarelos, estavam como sempre atravancando o corredor. A moça rangeu os dentes.

Nunca quis ser bela como Katherine e Samanta, que precisavam expor os corpos para ter atenção. Talvez só magra e sarada como elas, porque esse era o padrão que o mundo aceitava. Sim, querer ser magra não era inveja. Era só um desejo seu. Mas comer era bom! Isso era algum crime?

Apenas suspirou. Só existia quando escrevia, essa era sua sina. Mas era uma boa sina até. Ser uma mulher e ser reconhecida pela sua inteligência e não aparência. Mesmo que as pessoas não valorizassem escritores desconhecidos, seus poucos leitores a faziam feliz porque a compreendiam.

Era mais uma invisível, passando por ali, tentando não tombar em ninguém.

Foi quando Viu o hall de medalhas, o analisou com fria amargura vendo as com o nome gravado de sua prima na olimpíada de matemática com amargor: Rebecca Delacour. A ferida interna da inferioridade apenas aumentou, sangrava por dentro e ardia como se tivessem jogado sal. Não queria ser invejosa ou má. Desviou o olhar com lágrimas nos olhos.

Quando viu seu reflexo no vidro do armário de vidro, onde estavam contidos os prêmios e medalhas da escola novamente, notou, agora, com os olhos escuros arregalados, o homem ao seu lado. Os olhos vermelhos, os chifres e o cabelo prateado da visão. A altura intimidante. De novo, conteve o grito, tapando a boca.

Por que o drama? É cansativo. Acostume-se logo, Madeline. Não surte sempre que me ver, vai ser ruim para você. E seus colegas já não precisam de fortes motivos para te irritar, precisam?

Madeline suprimiu o susto, engolindo em seco e com a mão pequena em seu peito tentando normalizar a respiração. Já havia até se deitado com ele, mesmo que numa visão. Vê-lo não era nada mesmo. Devia parar de surtar por nada.

“Desculpe, mestre.”

Tudo bem. Agora, concentre-se em mim. Na aula de literatura de hoje, haverá um momenro de escrita criativa. Escreva o que eu mandar e assim um passo para a estrada do sucesso será dado. Confia em mim?

“Não. Mas confio que quer que sua voz seja ouvida por milhões.”

Garota esperta. Você me surpreende. É mais sagaz do que eu pensava.

— Madeline. Você está parada na frente desse hall de medalhas faz cinco minutos. Está tudo bem? — A diretora perguntou com a mão no ombro dela. — Algum dia, quem sabe… você não consiga uma medalha dessas para escola como sua prima.

Madeline sentiu a raiva a dominar. Fechou a mão em punho. Uma lâmpada do corredor estourou. Madeline analisou a lâmpada com surpresa. E a diretora com lamento.

— Vou resolver o problema da lâmpada. Mas pense no que falei, querida. — Aconselhou a diretora, dando tapinhas no ombro de Madeline, se retirando murmurando por causa da lâmpada.

A hipocrisia dessa velha me enoja. Ignore-a! Nem sempre talento é aplaudido e reconhecido com medalhas, Mad. Os melhores artistas sempre foram apreciados depois de mortos e considerado párias. Mas esse não vai ser o seu caso. Ainda em vida vou te dar o reconhecimento grandioso que merece!

Madeline só percebeu agora que o sinal já tinha tocado. E que todos já tinham ido para suas respectivas salas. A voz dele estava mais nítida que qualquer outro som na sua cabeça. Era estranho e excitante. Parou de encarar o reflexo dele. Do ser exótico e demoníaco que a atiçava como uma serpente.

Madeline acabou por voltar a caminhar em direção a sala. O que foi mais fácil graças a falta de pessoas. Mas a vontade de morrer por se sentir inútil voltou com uma força surpreendente.

Espero que não pense que medalhas medíocres fazem diferença para você. É a escola que ganha fama e não você. Não importam nada no caminho que quer seguir.

“Está tentando me consolar, Duque?”

Não, sim… talvez.

Se você se matar só por isso, eu perderei o maior talento que já encontrei em centenas de anos. Suas palavras têm poder! Algumas coisas nesse mundo não valem seu tempo. Foque-se em mim somente. Se foque em sua escrita, acredite em si mesma e não espere validação do mundo, pare de se comportar como alguém inútil. Todos temem alguém especial. E você é alguém especial. Eu escolhi você como minha profeta infernal, mesmo no inferno, profetas são respeitados.

“Eu agradeço a honra então, meu duque.”

Madeline disse. Sentiu um beijo em sua testa. Mesmo que não houvesse nada a sua frente, era uma pressão suave em sua testa.

Me torne Carne através do Verbo, minha mãe infernal! E todos os seus sonhos vão se realizar, Madeline. Te mostrarei o caminho que você tanto quer de riqueza e poder em troca. Se conseguir me conceber através das suas palavras e me materializar nesse plano como algo além de uma entidade, você conseguirá meu respeito. E se o conseguir, o mundo estará aos nossos pés.

“Como desejar, meu duque, serei uma serva fiel.”

Você e eu faremos desse mundo nosso palco e todos vão nos aplaudir. Então pare de pensar em se matar e pense num modo criativo de atingir suas metas. Hoje você vai escrever uma peça.

“ Uma peça?”

Sim. Sua peça será escolhida para ser encenada pelo clube de teatro. Por isso o professor de literatura quer dar um momento de escrita criativa. Os aspirantes a atores querem uma nova peça porque cansaram de Shakespeare e precisam de algo original para os olheiros das universidades. Sua chance.

“ Nunca escrevi uma peça, meu duque”

Agora é o momento de experimentar coisas novas. Eu guiarei você nesse campo desconhecido.

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