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Amores Eternos

O Primeiro Sonho

            Almas gêmeas, na definição duas almas que se pertencem, que se completam, mas será que é possível mudar o passado quando ele vem se repetindo? E o que faria alguém que há anos não acredita mais em amor verdadeiro, de repente admitir que está apaixonada? Ou mais do que isso, que pela primeira vez, seu coração disparou de um jeito quase insuportável e ela não faz ideia de como controlar ou se ela vai conseguir controlar esse sentimento.

Patrícia está tentando se adaptar a sua nova realidade depois da morte dos pais, mas ao mesmo tempo em que ela e a irmã precisam descobrir como manter os negócios da família e consertar alguns erros do passado, ela também precisa descobrir como lidar com a maior mudança da sua vida, que pode ser a melhor ou a pior coisa que ela poderia descobrir sobre si mesma.

          - Meninas, eu sinto muito.

          - Obrigada. – Essa foi a frase que ela ouviu praticamente o dia inteiro, mas naquele dia, nada parecia fazer muito sentido.

Assim que ela e a irmã voltaram para casa, depois do enterro, tudo que ela mais queria era se trancar no quarto, ficar sozinha e esquecer o que estava sentindo.

          - Paty, você tem certeza que quer ficar sozinha?

          - Quero, pelo menos um pouco.

          - Tudo bem.

          Assim que deitou, ela não sabia que seu coração podia ficar tão apertado, e mesmo que para a maioria das pessoas, ela tenha se tornado cética, realista e um pouco fria, naquele dia tudo que ela mais queria era voltar para os dias em que podia se aconchegar no colo da mãe, contando seus sonhos ou apenas ouvindo seus conselhos, e mesmo que não quisesse, ela lembrou de uma conversa com a mãe depois do mais real sonho da sua vida.

          "- Eu não sei o que significaria, mas foi... foi real mãe, era como se eu pudesse sentir tudo que...

          - Tudo que ela sentiu?

          - Esse é o problema, eu não sei se era outra pessoa, pra mim, nós duas éramos a mesma pessoa.

          - Filha, vem aqui, isso pode ter diversos significados, mas Paty, o mais importante é você nunca perder esse seu lado romântico e sonhador.

          - Você sabe o que o papai pensa desse meu jeito.

          - Querida, o seu pai é racional demais, mas você não.

          - Será? Todo mundo sempre diz que nós brigamos porque somos muito parecidos.

          - Não nisso, querida.

          - Às vezes eu queria ser igual a ele, pelo menos seria mais fácil controlar as nossas brigas.

          - Patrícia, lembrar o seu pai em alguns aspectos não torna você igual a ele, e acredite filha, você não é assim, você é romântica e sonhadora e merece levar esse seu lado e os seus sonhos pra frente.

          - Você acha que algum dia esse sonho vai fazer algum sentido?

          - Acho que sim, e acredite querida, esse amor que você escreveu existe, pode não ser fácil de encontrar, mas existe.

          - Tem certeza?

          - Tenho filha, e confia em mim, se algum dia você sentir isso por alguém, não abre mão.

          - Eu não vou, prometo.

          - E Paty, não esquece, esse seu jeito é a sua qualidade mais importante.

          - Eu sei.

          Infelizmente na maior parte da sua vida, ela não conseguiu cumprir a promessa que fez a mãe, menos quando pensava nele, nesse momento seu coração ainda disparava e ela tinha a sensação de que seu mundo e sua vida não estariam completos sem ele, principalmente quando relia a história do sonho mais realista que já teve."

     -     Dois meses, era o tempo que eles precisavam esperar para o casamento, não por ela ou por ele, mas pela mãe que insistiu em nome da sua reputação, afinal um casamento muito apressado, principalmente após o término de um noivado, daria margens a fofocas e comentários, e mesmo não querendo, ela sabia que era verdade, afinal as damas que seriam convidadas, adoravam falar da vida alheia.

          - Bom dia.

          - Oi, onde você dormiu?

          - Na casa de hóspedes.

          - Não precisava.

          - Paty, ficar embaixo do mesmo teto que você não é uma boa ideia, ainda não.

          - Você sabe que eu confio em você.

          - Sei, mas nós não somos casados.

          - Eu sei, e eu...

          - Fala.

          - Eu preparei o café da manhã, pode não estar muito bom, mas...

          - Está perfeito, amor.

          - A minha mãe sempre disse que mesmo não gostando da cozinha, eu sabia preparar um ótimo café.

          - Paty, confia em mim, está maravilhoso e não se preocupa, nós vamos contratar alguém para te ajudar.

          - Tudo bem, mas eu não me importo.

          Uma semana depois que eles foram embora de Londres, ela ainda não tinha tido nenhum retorno das mensagens que mandou para os pais.

          - Você sabe que uma hora vai precisar enfrentar os seus pais, não sabe?

          - Sei, eu mandei mais uma mensagem para a minha mãe, ela vem até aqui hoje, pelo menos eu espero que ela venha.

          - Eu não devia...

          - Damon...

          - É verdade, mas só de pensar em não ter você...

          - Olha pra mim, eu amo você, e nunca suportaria ficar longe de você.

          - Nem eu de você, eu te amo.

          - Deve ser ela.

          - Quer que eu fique?

          - Só até eu ter certeza de que é ela.

          - Deve ser, eu te disse Paty, ninguém sabe desse lugar.

          - Os meus pais já sabem, e eu posso estar errada, mas não...

          - Tudo bem, você prefere que eu abra a porta?

          - Sim.

          - Boa tarde.

          - Oi filha.

          - Oi.

          - Nós podemos conversar a sós?

          - Claro, eu vou esperar lá fora.

          - Mãe, eu posso tentar explicar, mas...

          - Patrícia, você tem ideia do que fez?

          - Sim, e eu sei que o papai não vai me perdoar e não posso te pedir que...

          - Querida, eu não vou abandonar a minha filha por seguir seu coração.

          - Não?

          - Claro que não, mas isso não torna o que você fez menos grave.

          - Eu sei, mas não podia me casar com ele, só de pensar que ele chegaria perto de mim...

          - Eu sei filha, e agora já está feito, mas nós precisamos conversar sobre algumas coisas.

          - Claro.

          - Primeiro precisamos decidir onde você vai morar

          - Aqui?

          - Filha, você sabe que não pode morar com ele.

          - Mãe...

          - Patrícia, por favor, pensa na sua reputação.

          - Mãe, eu estou aqui há uma semana.

          - E ainda bem que ninguém comentou, mas não podemos correr o risco de que descubram que vocês estão morando juntos.

          - Oficialmente não estamos, ele está na casa de hóspedes.

          - Ótimo, mas está na hora de vocês se comportarem como um casal de noivos... vocês estão noivos, não estão?

          - Sim, ele me pediu em casamento antes de nós dois...

          - Fugirem?

          - Sim.

          - Ótimo, então precisamos organizar a sua mudança e seu casamento.

          - Eu não estava planejando um casamento muito grande.

          - Filha, o seu casamento vai ser do jeito que deveria, e sobre o local que você vai morar até o dia do casamento...

          - Mãezinha...

          - Patrícia Walker, sobre isso eu não vou discutir.

          - Mamãe, pensa bem, o papai já deixou bem claro que não me quer em casa, já que ele nem respondeu as últimas mensagens que eu mandei, e acho que vai ser muito pior para a minha reputação morar sozinha.

          - E quem disse que você vai morar sozinha, Patrícia?

          - Então eu não entendi.

          - Infelizmente mesmo que eu quisesse, realmente você não vai poder ir para casa, mas eu falei com a sua tia e ela concordou que você vai ficar na casa dela até o casamento.

          - Sério?

          - Paty, eu posso não me afastar de você, mas por favor filha, pensa na repercussão se vocês morarem juntos agora.

          - Tudo bem, eu sei que a senhora tem razão.

          - Ótimo.

          - Mas ele pode me levar para a casa da titia mais tarde, por favor?

          - Claro que pode, e eu vou pedir a Isabel para vir te ajudar a arrumar as suas coisas.

          - Obrigada mãe.

          Passar o dia com ele, mesmo antes do casamento, era a melhor sensação da sua vida.

          - Você sabe que todos estão comentando de nós estarmos passeando juntos, não sabe?

          - Eu sei, mas estou adorando poder andar do seu lado.

          - Eu também.

          - E a minha mãe já anunciou o nosso noivado.

          - Você sabe que deveria ter sido mais divulgado.

          - Eu não me importo, Damon, nada disso importa pra mim.

          - Nem pra mim.

          - E eu adorei a sua ideia de passear no parque.

          - Lembra o nosso cantinho no jardim.

          - Eu sei.

          - Mas preciso te levar para a casa da sua tia.

          - Agora? Eu pensei que nós fôssemos ficar um pouco na sua casa.

          - Paty, eu nunca faria nada que você não quisesse, já te disse isso, mas nós dois precisamos nos controlar, pelo menos por enquanto.

          - Eu sei, mas não suporto me afastar de você.

          - Amor, olha pra mim, nós dois vamos nos ver todos os dias.

          - Promete?

          - Prometo, e Paty só faltam dois meses para o nosso casamento.

          - Eu ainda acho muito tempo.

          - Eu também amor, e logo nós vamos estar juntos na nossa casa, todos os dias.

          - É tudo que eu quero.

          - Não vai demorar.

          - Você tem razão.

          - Eu amo você, Paty.

          - Eu amo você. – Podia não ser o que ela desejava, mas pelo menos agora, eles podiam andar sem medo.

          - Querida, está na hora.

          - Amanhã eu venho te visitar.

          - Certo.

          No momento que ele ia tocar no seu rosto, ela acordou com o coração disparado e uma sensação de vazio no peito, e mais uma vez ela desejava ter visto mais daquele sonho, mas depois daquela noite, no dia do seu aniversário de dezesseis anos, ela nunca mais sonhou com ele.     -

O Segundo Sonho

          Alguns dias depois, ela e a irmã tiveram que ir para a reunião dos acionistas na empresa do pai.

          - Lu, está pronta?

          - Sim.

          Sair de casa pela primeira vez depois do enterro estava sendo a coisa mais difícil para ela, mas sendo a irmã mais velha, mesmo com uma diferença de apenas dois anos, ela sabia que precisava se manter firme.

          - Oi Maurício.

          - Oi meninas, como vocês estão?

          - Vivendo um dia de cada vez.

          - Patrícia, eu sei que você sempre disse que não ia seguir os passos do seu pai, mas o conselho precisa de uma decisão.

          - Eu vou assumir a empresa.

          - Paty, mas o seu sonho...

          - No momento é só isso Lu, um sonho.

          - Você tem certeza?

          - Tenho, afinal como o meu pai sempre disse, eu me preparei desde pequena para assumir os negócios dele.

          - Bom, vocês duas têm a maior parte das ações e com você controlando, não vai ser difícil te colocar na cadeira de presidente.

          - Ótimo. – Por que ela tinha que ter sido a mais velha? Automaticamente o pai, a colocou como o filho homem que nunca teve.

          Isso pelo menos serviu para muitas coisas, principalmente para convencê-la a fazer a mesma faculdade que ele, não que importasse o que ela queria.

Sua maior paixão desde os cinco anos era desenhar e conforme ela crescia além do amor pelo desenho, ela começou a descobrir a escrita e percebeu que era boa em ambas as coisas, mas infelizmente suas paixões não importavam para o seu pai.

Ela iria se formar em administração, se especializando em comércio exterior, e como boa filha, foi o que ela fez.

Então com vinte e quatro anos, ela já estava formada e sua pós estava completa, e apenas seis meses depois de se formar, ela estava realizando o sonho do pai, claro que alguns anos antes do que ambos imaginaram.

          - Maurício, você quer mesmo colocar uma empresa desse porte na mão de uma menina?

          - Andrew, ela já se formou, é inteligente e dona da maior parte das ações da empresa.

          - Mas não muda o fato de que ela é praticamente uma criança. – Certo, ela sabia que naquela reunião precisava ouvir e levar em consideração a decisão do conselho, mas o jeito do outro a estava deixando com muita raiva.

          - Desculpa, Andrew, certo?

          - Isso mesmo.

          - Olha, eu vou dizer apenas uma vez, eu sei do que sou capaz e imagino que muitos dos senhores também, já que me conhecem, mas para quem não acredita, eu vou fazer uma proposta.

          - Patrícia...

          - Confia em mim, Maurício, eu sei o que estou fazendo.

          - Tem certeza?

          - Absoluta. A proposta é a seguinte, eu fico seis meses na presidência e se não conseguir deixo o cargo.

          - Seis meses?

          - Sim, se eu não conseguir ou não der certo, deixo o cargo e apoio o nome que o conselho decidir colocar no meu lugar.

          - Você apoiaria qualquer pessoa?

          - Se eu julgar que ela merece o cargo, sim.

          - Eu acho razoável.

          - Claro.

          Aquele podia não ser o seu sonho, mas os seis meses foram para ela como um desafio, e ela nunca fugia de um desafio.

          - Patrícia, foi uma ideia genial.

          - Obrigada.

          - Pronta para assumir a sua sala?

          - Acho que... sim, eu estou.

          - O que precisar me chama.

          - Obrigada, Maurício.

          - Paty, por que você fez isso?

          - Porque eu precisava.

          - Você nunca gostou de administração, seu sonho sempre foi desenhar ou escrever.

          - Lu, sonhos são ótimos por um tempo, mas eu cresci e está na hora de enfrentar o mundo real.

          - Eu não entendo como você ficou assim.

          - Realista?

          - Cética, e não só sobre os seus sonhos, mas sobre tudo.

          - Você está falando de romance?

          - Eu estou falando da vida, e romance faz parte dela.

          - Você sabe que eu nunca acreditei nisso.

          - Você acreditava.

          - Quando era pequena.

          - E foi por isso que você fez aqueles desenhos?

          - Que desenhos?

          - Do seu príncipe.

          - Meu... ah Lu, isso foi por causa daquele sonho, eu tinha dezesseis anos, faz muito tempo.

          - Paty, além dos desenhos, você detalhou o sonho inteiro, se você continuasse poderia até virar um livro.

          - Claro, que teria um capítulo e um bem pequeno.

          - Você sabe que com a sua imaginação poderia ter aumentado a história.

          - Esquece isso Lu, e como eu disse, sonhos são ótimos, mas chega uma hora que você precisa acordar.

          - Mas você merece alguém que quebre essa casca que você criou.

          - Eu não quero, e você sabe o que eu penso de romances.

          - Claro, você acha que não são pra você.

          - Eu não acredito, é diferente.

          - Paty, você pode dizer que não, mas eu sinto que alguém ainda vai derrubar esse muro que você construiu em torno do seu coração.

          - Não vai não, sabe por quê?

          - Por que você não dá uma chance pra ninguém?

          - Porque eu não acredito e não pretendo deixar alguém se aproximar tanto e acabar me machucando.

          - Mas você precisa, todo mundo precisa.

          - Lu, eu te adoro, mas você vive namorando e onde isso te levou?

          - Eu não gosto de estar sozinha.

          - E essa é uma das nossas principais diferenças, eu não me importo.

          - Sério?

          - Sim, sabe aquele ditado, antes só do que mal acompanhada?

          - E se ele não for tão ruim?

          - No fim, todos são.

          - Nem todos.

          - Sério? Me dá uma exceção.

          - Nossos pais.

          - Essa não é uma exceção.

          - Do que você está falando? – Naquele momento, ela sabia que não devia ter falado nada, mas não conseguiu controlar.

          - Nada, esquece o que eu disse.

          - Você vai fazer a mesma coisa que eles, e me tratar como uma criança?

          - Ok, você quer mesmo saber?

          - Sim.

          - Certo, a verdade é que os nossos pais viviam brigando, e mesmo vendo que a mamãe se esforçava, ela não amava o papai.

          - Eu não acho.

          - Porque como você mesma disse, você era a caçulinha e nunca via os dois brigarem, mas acredite entre eles podia existir carinho, companheirismo e talvez um tipo de amor, mas não aquele amor que a mamãe defendia.

          - Eu ainda acho que você...

          - Lu, isso não vai acontecer, confia em mim. – Certo, a irmã tinha razão em uma coisa, ela tinha se tornado cética, menos quando lembrava dele, porque era impossível não acreditar em uma coisa que ela sentia com todo seu coração.

          Conforme o tempo passava, ela conseguiu provar para si mesma e para o conselho que conseguia cuidar dos negócios.

          - Patrícia, eu preciso falar com você.

          - Vem na minha sala.

          - É sobre o contrato de Londres.

          - Algum problema?

          - Queria saber se quem vai é você ou o Maurício.

          - Ainda não sei, eu estava pensando em ir, por quê?

          - Porque o presidente da empresa perguntou.

          - Eu acho que nós nunca trabalhamos com ele.

          - Não trabalhamos, ele entrou esse ano na empresa.

          - Me passa o contato dele, eu ligo e resolvo.

          - Ok. – Assim que ela leu o nome dele, por mais que não entendesse o motivo, seu coração estava completamente disparado.

          - Boa tarde, eu gostaria de falar com o senhor Watts.

          - Ele está em uma reunião, a senhora gostaria de deixar recado?

          - Pede a ele para retornar para a sede da Capitol, por favor.

          - Claro.

          - Obrigada.

          - Patrícia, posso falar com você?

          - Pode, entra.

          - Você está bem?

          - Sim, mas... acabei de perceber uma coincidência.

          - Qual?

          - O sobrenome do presidente daquela empresa inglesa, é o mesmo que o meu.

          - Eu não tinha reparado.

          - Nem eu, só agora porque liguei, mas ele estava em uma reunião, mas o que você queria?

          - Eu sei que você disse que não sabia se iria, mas não acho uma boa hora para você viajar.

          - O balanço dos acionistas, eu sei, é semana que vem

          - Isso.

          - É loucura querer viajar agora, mas...

          - Eu sei que você sempre quis ir a Inglaterra, é por isso?

          - Também, mas o trabalho vem primeiro, me faz um favor, cuida desse contrato.

          - Tem certeza?

          - Tenho, o dia que eu conseguir umas férias, vou lá a passeio.

          - Pode deixar.

          Naquela noite, mesmo sem entender, ela não parava de pensar naquele sonho, assim que pegou no sono, ela reviveu o mais real e melhor sonho que já teve, mas que não imaginava que teria de novo.

          - Patrícia, faltam apenas duas semanas para o seu casamento, você tem certeza que o seu pai não vai?

          - Isabel, eu adoro os meus pais, mas sabia que seria uma guerra, pelo menos com o meu pai, quando decidi me casar com o Damon.

          - Pelo menos a sua mãe organizou um lindo casamento.

          - Sinceramente, eu não me importo com a festa, os preparativos, tudo que eu mais quero é me casar com ele.

          - E você vai, e o seu noivo vai ficar perplexo quando te ver.

          - Eu sei, e mal posso esperar.

          - Querida, o seu noivo está aqui.

          - Pede a ele para esperar um pouco. Me ajuda a tirar o vestido, Bel. – Assim que ela desceu, como sempre acontecia, vê-lo olhando para ela, a fazia se sentir mais feliz.

          - Boa tarde, senhor Wood.

          - Senhorita Walker.

          - Vocês não precisam ser tão formais um com o outro, e hoje podem sair sozinhos, mas estejam de volta na hora combinada.

          - Não se preocupa tia, nós só vamos passear um pouco no parque.

          - Ótimo. – E mais uma vez, quando eles iam se tocar, ela acordou, novamente com o coração disparado e sem saber como tirar aquela sensação do seu peito.

          Ela podia não ter certeza, mas mesmo sem contar pra ninguém, ela resolveu escrever aquele sonho e percebeu que aquele tinha sido a continuação do primeiro, ela só não entendia por que teve aquele sonho de novo.

A Carta

          Alguns meses depois, ela recebeu uma carta que mexeu com ela, muito mais do que imaginou.

          - Patrícia, chegou pra você.

          - É sobre algum contrato?

          - Acho que não, é de Londres, só que eu não reconheci o endereço.

          - De quem é?

          - Só está assinado como Charles.

          - Coloca na minha mesa, eu vejo depois.

          - Certo.

          Ela teve um dia totalmente conturbado, um pouco depois que conseguiu almoçar, ela se lembrou da carta. Assim que começou a ler, seu coração disparou.

          - Patrícia, eu preciso... você está bem?

          - Eu...

          - Paty?

          - Bem, com certeza, eu não estou.

          - O que aconteceu?

          - Você sabia sobre isso?

          - O quê? – Quando ela deu a carta para ele, sua mão estava tremendo.

          - Patrícia...

          - Maurício, por favor, você sabia ou não?

          - Sabia.

          - Então... isso é verdade?

          - Sim.

          - Por que eu e a Luciana nunca soubemos?

          - Não sei, eu mesmo nunca soube da história toda.

          - Mas pelo menos sabia de...

          - Sim, isso o seu pai me contou.

          - Eu preciso que você me faça um favor.

          - Claro.

          - Pesquisa sobre ele, aqui tem o nome todo e o endereço, descobre se ele é quem diz ser.

          - Pode deixar.

          - E eu vou pra casa, preciso conversar com a Luciana.

          - Não se preocupa, eu cuido de tudo.

          - Obrigada.

          Ela estava tão nervosa e sem chão quando saiu da empresa, que pegou um táxi e foi direto para casa.

          - Oi, que bom que você viu a minha mensagem.

          - Vi e fiquei preocupada, o que aconteceu?

          - Eu preciso te mostrar uma coisa.

          - Claro. – Enquanto a irmã lia a carta, ela não conseguia nem sentar. – Isso é verdade?

          - De acordo com o Maurício, sim.

          - O Maurício sabia?

          - Parece que a história não, mas que o papai tinha um irmão, sim.

          - Então... nós ainda temos alguma família?

          - Parece que pelo menos um tio, não sei se ele tem família.

          - E agora?

          - Não sei.

          - Ele convidou...

          - Eu sei...

          - Paty, eu também fiquei em choque, mas no seu caso parece que...

          - Que me tiraram o chão.

          - Sim.

          - Eu sei, e o pior é que eu não faço ideia do motivo.

          - Você quer conversar?

          - Agora não, quero ficar um pouco sozinha.

          - Tem certeza?

          - Tenho, eu... eu preciso descansar um pouco.

          - Certo.

          Assim que ela entrou no quarto e caiu na cama, seu coração estava disparado e mesmo sem entender, apenas a menção da cidade de Canterbury, fazia seu coração não apenas disparar, mas ficar apertado como nunca.

Como não conseguia pegar no sono, ela acabou começando a desenhar e mesmo tentando ignorar, a primeira coisa que ela desenhou foi o castelo, assim que olhou para a folha, fechou o caderno, porque naquele momento, tudo que ela não queria lembrar era daquele sonho e dele.

          Quando ela pegou no sono, uma das piores discussões que teve com o pai, voltou para sua cabeça.

          - Você não vai.

          - Pai, eu não estou pedindo permissão, estou avisando que vou passar um tempo em Londres.

          - Não, você não vai.

          - Pai...

          - Patrícia, se você insistir, eu suspendo o seu passaporte e seu dinheiro.

          - Você não faria isso.

          - Não tenha tanta certeza.

          - Wiliam, você vai acabar perdendo a cabeça.

          - Qualquer lugar, mas você não vai colocar os pés na Inglaterra.

          - Você sabe que eu consigo mudar o voo depois, não sabe?

          - Patrícia, não provoca o seu pai.

          - Mas é verdade.

          - Então está decidido, a viagem está cancelada.

          - Pai...

          - Sem discussão Patrícia, vai pro seu quarto.

          - Isso não é justo.

          - Filha, confia em mim, o seu pai está querendo te proteger.

          - Me proteger de quê?

          - Patrícia, eu já mandei você ir pro seu quarto.

          - Você não pode...

          - Vai, agora.

          - Está vendo mãe, isso não é proteção, é controle.

          - Querida...

          - É verdade, mas você sabe que não vai poder me controlar pra sempre.

          - Pro seu quarto, agora!

          Ela saiu da sala com tanta raiva que entrou no quarto e bateu a porta, mas ela sabia que o pai não poderia controlar a sua vida para sempre, ela só não sabia quanto tempo ainda teria que aguentar aquela situação.

          - Filha, posso entrar?

          - Mãe, se você for tentar melhorar a situação com o papai...

          - Querida, vocês dois precisam parar com essas discussões.

          - Eu não entendo, eu fiz tudo que ele quis, abri mão do que sempre quis fazer pra me formar no que ele quis e não posso realizar o único sonho que ele ainda não tirou de mim?

          - Filha, eu sei que parece injusto...

          - Parece? Mãe, é injusto, principalmente porque ele disse que se eu me formasse poderia escolher a viagem que quisesse.

          - Eu sei...

          - Eu sei que ele é autoritário, sempre soube, mas nunca pensei que o que eu quero importasse tão pouco pra ele.

          - Paty, acredite, ele se importa com você...

          - Claro que sim.

          - É verdade, filha.

          - Então por que ele age como se eu só tivesse nascido pra fazer as vontades dele?

          - Porque tem coisas no passado do seu pai que são difíceis de contar.

          - Então me responde outra coisa, você diz que ele quer me proteger, seja sincera mãe, ele quer me proteger de quê?

          - Filha...

          - Está vendo, isso não é proteção e você sabe.

          - Querida, confia em mim, o seu pai tem os motivos dele.

          - E o que vocês dois não entendem, é que eu não tenho nada a ver com isso.

          - Tem filha, e algum dia o seu pai vai conseguir falar com você e com a sua irmã sobre isso.

          - Sobre o quê?

          - Filha, eu queria te dizer, mas esse assunto é pessoal do seu pai.

          - E por que ele não conta?

          - Porque ele ainda não consegue, mas eu sei que algum dia ele vai.

          Naquele momento seu sonho mudou e ela foi levada para um local que não via a alguns meses e que não imaginava ver, o mesmo castelo do primeiro sonho, as mesmas paredes cinzas de pedra, a mesma escada e ele parado ao seu lado e novamente a mesma sensação de que seu coração não pertencia mais a ela.

E como tinha acontecido das outras vezes, quando eles iam se tocar, ela acordou, com o coração batendo tão forte que parecia que seria arrancado do peito.

          Naquela hora, ela teve certeza de que precisava descobrir por que aquela carta trouxe de volta esse sonho para sua cabeça.

          - Oi Maurício, você conseguiu confirmar a história?

          - Sim, ele é seu tio.

          - Você tem certeza?

          - Absoluta, eu posso continuar investigando se você quiser, mas de acordo com as primeiras informações, a história bate.

          - Não precisa, e obrigada, mas eu cuido de tudo agora.

          - Certo, e você já decidiu o que fazer?

          - Sim, mas ainda preciso falar com a Luciana.

          - Tudo bem, o que você precisar me avisa.

          - Pode deixar, mas eu sei o que preciso fazer.

          - Certo.

          Sim, ela sabia o que fazer, mas ao contrário do que imaginou, não foi tão fácil convencer a irmã. Sua irmã normalmente não levava as coisas muito a sério, mas sobre aquele assunto, infelizmente, ela estava sendo incrivelmente precavida.

          - Luciana, nós estamos dando volta nesse assunto há meses.

          - E pelo visto nenhuma das duas pretende desistir.

          - Não, a diferença é que você sabe que eu vou ganhar essa discussão.

          - Não entendo por quê?

          - Primeiro, porque eu sou sua irmã mais velha.

          - Isso não é motivo pra você ganhar uma discussão.

          - Certo, você tem razão, você só está esquecendo de mais um detalhe.

          - Qual?

          - Você nunca gostou de discutir comigo.

          - Você também não.

          - Mas eu sou muito mais cabeça dura do que você.

          - Certo, nisso você tem razão.

          - Ótimo, então por que nós não pulamos essa discussão e você concorda logo comigo?

          - Porque eu não tenho certeza se essa ideia de ir lá é boa.

          - Então me responde, o que de tão ruim pode acontecer? – E pela primeira vez, seu coração apertou de um jeito quase insuportável, como se alguém estivesse esmagando seu peito.

          - Não sei, mas perto do estado que você fica sempre que lê aquela carta...

          - Do que você está falando?

          - Você fica do mesmo jeito que está agora.

          - Lu, sobre isso não se preocupa, eu só estou...

          - Obcecada.

          - Curiosa.

          - Sempre que você morde o lábio é porque está mentindo.

          - Eu não estou, eu estou curiosa, é normal.

          - Sério?

          - Sim, e quanto mais o tempo passar, mais curiosa e ansiosa eu vou ficar por não resolver essa situação.

          - Tudo bem, eu posso ainda estar em dúvida, mas você tem razão, nós precisamos resolver isso.

          - Ótimo.

          Três meses, foi o tempo que ela demorou para convencer a irmã de que elas precisavam de respostas, a parte positiva é que quando ela conseguiu, já estava tudo organizado na empresa para elas viajarem em duas semanas.

          - Paty, você acha mesmo que é uma boa ideia?

          - Lu, não vamos voltar nisso de novo.

          - Paty...

          - É verdade, nós precisamos descobrir o que aquela carta significa.

          - Mas deixar a empresa?

          - Eu não estou deixando a empresa.

          - Sério?

          - Luciana, a um ano, você nem queria que eu assumisse a empresa, confia em mim, a empresa vai ficar muito bem

          - Você não acha que se o papai quisesse que nós soubéssemos da existência dessa família em Londres, ele não teria contado?

          - Eu já pensei nisso, mas você não quer saber por que durante toda a nossa vida, nós pensamos que o papai não tinha família?

          - Acho que eu sou menos curiosa do que você.

          - Lu, confia em mim, nós devemos ir, eu não sei por que, mas devemos.

          - Você tem falado isso a três meses.

          - E é verdade.

          - Tudo bem, eu já disse que iria, não vou mudar de ideia agora.

          - Ótimo.

          Assim que ela entrou no quarto, pegou a carta que desde que recebeu, já tinha lido e relido diversas vezes.

          "Queridas sobrinhas, imagino que por diversos motivos, vocês não saibam da minha existência. Meu nome é Charles Watts, sou irmão do pai de vocês.

Sei que nunca nos conhecemos, mas desde que soube da morte dos seus pais que gostaria de entrar em contato, e sim, eu sei que faz mais de um ano, mas infelizmente por diversos motivos, não consegui fazer isso antes. Caso vocês tenham interesse, adoraria ter notícias suas ou até mesmo recebe-las para uma visita.

Atualmente moro na cidade de Canterbury, perto de Londres, e gostaria muito de conhece-las, se possível.

OBS. meus contatos seguem anexos à carta.

Atenciosamente, Charles."

          - Posso entrar?

          - Oi, pode.

          - Paty...

          - Que foi?

          - Por que você não consegue largar essa carta?

          - Não sei, acho que é porque eu quero respostas.

          - Eu também, mas...

          - Já sei, você vai dizer que eu estou obcecada.

          - Você está.

          - Lu, eu só preciso descobrir por que isso mexeu tanto comigo.

          - A carta ou o local?

          - O quê?

          - Paty, eu já cansei de te ver pesquisando sobre a cidade e não parece uma busca por informações, você fica horas olhando para fotos da cidade.

          - Eu sei.

          - E você não acha isso uma obsessão?

          - Não é.

          - Tem certeza?

          - Não é obsessão, mas...

          - Paty? – Naquele momento, ela podia não ter certeza, mas se quisesse que a irmã tirasse aquela ideia da cabeça, era melhor contar a verdade.

          - Você lembra do sonho que eu tive no meu aniversário de dezesseis anos?

          - Sonho... você está falando daquele sonho? Do seu príncipe?

          - Por mais que eu já tenha dito que ele não é o meu príncipe, sim, é desse sonho que eu estou falando.

          - Você voltou a sonhar com ele?

          - Mais ou menos.

          - Paty, ou você sonhou ou não.

          - Não é bem o sonho, é a sensação, eu só sei que sempre que penso ou vejo a cidade, tenho o mesmo sentimento.

          - Você acha que isso quer dizer que vai encontrar o amor da sua vida lá?

          - Luciana?

          - Mas pode ser. – E ali estava de novo, sua irmã que sempre imaginava que tudo terminaria em romance.

          - Claro que não é isso, mas não sei explicar o porquê, só que tem algo naquela cidade que me atraí pra ela.

          - Você acha que foi por isso que o papai nunca deixou nós irmos para Londres?

          - Não sei, mas você sabe que algo lá sempre me deixou intrigada.

          - Sempre pensei que fosse para irritar o papai.

          - Não, é o local, a Inglaterra de modo geral, é como se eu precisasse ir lá.

          - E nós vamos, quem sabe assim você descobre por que está sentindo isso.

          - Eu sei que vou, não consigo explicar, mas sei. – E ela tinha razão, ela só não imaginava que ir para Londres iria fazer com que ela descobrisse coisas sobre a família, mas também sobre si mesma.

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