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Otoko To Ōkami

Capítulo 1

“Então esta é a última, certo?”

“Hm, parece que sim... setenta peles, exato. Foi um prazer.”

“O prazer foi meu. Você é o único a vir tão longe entre as montanhas, Lawrence. Eu que deveria te agradecer.”

“Ah, mas da minha parte consegui peles realmente boas. Eu voltarei novamente.”

Formalidades concluídas, Lawrence conseguiu de deixar a vila por volta das cinco horas. O sol estava apenas começando a surgir quando ele se foi, e já era meio dia quando saiu desceu as montanhas e entrou nas planícies.

O clima estava bom; não ventava. Era um dia perfeito para cochilar na carroça enquanto ele cruzava a planície.  Parecia absurdo que a pouco tempo tenha sentido o arrepio do inverno que se aproxima.

Este era o sétimo ano de Lawrence como mercador viajante, e o vigésimo quinto ano desde o seu nascimento. Ele deu um largo bocejo do assento do carroceiro.

Havia pouca grama ou árvores de grande porte, logo ele tinha uma visão abrangente. No exato limite do seu campo de visão, era possível avistar um monastério que foi construído alguns anos atrás.

Ele não sabia quem seria o jovem nobre que estaria recluso nesta região remota. A alvenaria da construção era magnífica e inacreditavelmente até possuía um portão de ferro. Lawrence pareceu se lembrar que cerca de vinte monges viviam ali, auxiliados por um número similar de serviçais.

Quando o monastério havia acabado de ser construído, Lawrence antecipou que teria nova clientela; mas os monges de alguma forma eram capazes de garantir suprimentos sem negociar com mercadores independentes e seus sonhos foram desfeitos.

Era conhecido que os monges viviam de forma simples, cultivando seus campos, então negociar com eles não seria especialmente rentável. Ainda havia outro problema, provavelmente pediriam doações e não pagariam suas dívidas.

Se tratando de simples comércio, eles eram parceiros piores do que completos ladrões. Mesmo assim, haviam ocasiões em que negociar com eles era conveniente.

Portanto Lawrence olhou na direção do monastério com certo arrependimento, mas então seus olhos se estreitaram. Da direção do monastério, alguém estava acenando para ele.

“Que é isso?”

A figura não se parecia com um serviçal. Eles vestem roupas de trabalho marrom escuras, mas a pessoa em questão estava coberta por roupas acinzentadas. Sua deliberada aproximação provavelmente significava algum problema, mas ignorá-lo poderia resultar em algo pior.Lawrence relutantemente girou seu cavalo na direção da figura.

Talvez tendo notado que Lawrence agora estava indo ao seu encontro, a figura parou de acenar, mas não se moveu para se aproximar. Ele parecia esperar pela chegada da carroça. Dificilmente esta seria a primeira vez que alguém associado a Igreja demonstrou arrogância.

Lawrence não estava no humor para tomar tal insulto como algo pessoal.

Enquanto se aproximava, o monastério e a figura se tornaram mais nítidos, Lawrence murmurou para si mesmo:

“... um cavaleiro?”

De início ele descartou a ridícula ideia, mas à medida que se aproximava viu que era sem dúvidas um cavaleiro. A roupa cinzenta era na verdade uma armadura prateada.

“Você aí! O que veio fazer aqui?”

A distância entre eles ainda era grande demais para uma conversa, e foi por isso que o cavaleiro gritou. Ele aparentemente não via necessidade de se apresentar, como se sua posição fosse óbvia.

“Eu sou Lawrence, um mercador viajante. Você demanda meus serviços?”

O monastério agora estava diante dele. Estava perto o suficiente para contar o número de servos trabalhando nos campos ao sul. Ele também notou que o cavaleiro diante dele não estava sozinho. Havia mais um mais atrás, no monastério, talvez montando guarda.

“Um mercador? Não há nenhuma cidade da direção que veio, mercador,” disse o cavaleiro altivo, estufando o peito como que para mostrar a cruz dourada que estava gravada ali.

Mas o manto preso em seus ombros era cinza, indicando um cavaleiro de posição baixa. Seu cabelo loiro aparentava um corte recente, e seu corpo não parecia ter enfrentado muitas batalhas; logo seu orgulho provavelmente vinha do fato de ser um cavaleiro novato.

Era importante lidar cuidadosamente com homens assim. Eles tendem a se exaltar.

Então, em vez de responder, Lawrence pegou uma bolsa de couro do seu peito e lentamente desatou o nó que a mantinha fechada. Dentro havia doces de mel cristalizado. Ele tirou um de lá e o jogou na boca, em seguida ofereceu a bolsa aberta ao cavaleiro.

“Gostaria de um?”

“Mmm,” disse o cavaleiro, hesitando momentaneamente antes do desejo pelo doce o vencer.

Mesmo assim, talvez por causa da sua posição como cavaleiro, uma quantidade considerável de tempo passou entre seu consentimento inicial e ele de fato alcançar o mel.

“A meio dia de viagem ao leste existe uma pequena vila nas montanhas. Eu estava trocando sal com eles.”

“Ah. Vejo que tem uma carga na sua carroça. Também é sal?”

“Não, são peles. Veja,” falou Lawrence, se virando e removendo a lona que cobria sua carga, revelando um fardo de magníficas peles de martas. O salário anual do cavaleiro em sua frente era insignificante comparado ao valor das peles.

“Mm. E isto?”

“Ah, este é o trigo que recebi da vila.”

O feixe de trigo encostado da montanha de peles foi colhido na vila onde Lawrence negociou o sal. É resistente ao tempo frio e aos insetos. Ele planeja vende-lo a noroeste, onde o cultivo tem que suportar a geada.

“Hm. Muito bem, você pode ir.”

Era uma forma estranha de falar para alguém que o convocou tão de forma tão arrogante mais cedo, mas se Lawrence dissesse calmamente “Sim senhor” agora, ele não seria um bom mercador.

“Então, que ocorrência o fez parar aqui, senhor cavaleiro?”

A testa do cavaleiro enrugou em consternação a pergunta e se enrugou ainda mais quando observou a bolsa dos doces de mel. Agora ele estava completamente sob controle. Lawrence desamarrou novamente o laço da bolsa e tirou outro doce, o entregando ao cavaleiro.

“Mmm. Delicioso. Eu deveria te agradecer.”

O cavaleiro estava sendo razoável. Lawrence inclinou sua cabeça em gratidão, usando seu melhor sorriso de negociante.

“Os monges souberam que um grande festival pagão está se aproximando. Portanto aumentaram a guarda. Você sabe alguma coisa sobre este festival?”

Se seu rosto deixou escapar qualquer sinal da sua decepção com a explicação, chamar isso de uma atuação de terceira categoria seria generoso. Então Lawrence apenas fingiu uma expressão preocupada e jurou, “Infelizmente não sei nada.” Isto era obviamente uma grande mentira, mas o cavaleiro também estava bastante errado, então não havia problema.

“Talvez de fato esteja ocorrendo em segredo. Pagãos são um bando de covardes mesmo.” O cavaleiro estava tão errado que era até engraçado, mas Lawrence simplesmente concordou e tomou seu rumo.

O cavaleiro acenou e o agradeceu novamente pelo doce de mel. Sem dúvida estava delicioso. A maior parte do dinheiro de um cavaleiro vai para equipamento e hospedagem; até mesmo um aprendiz de sapateiro tem uma vida melhor. Faz certamente muito tempo desde que o cavaleiro comeu qualquer coisa doce. Não que Lawrence tivesse a intenção de entregar outra porção.

“Ainda assim, um festival pagão, eles dizem?”

Lawrence repetiu as palavras do cavaleiro quando o monastério foi deixado para trás. Lawrence tinha uma vaga ideia do que o cavaleiro estava falando. Na verdade, qualquer um da região saberia sobre isso. Mas não era nenhum “festival pagão.” Das duas uma, verdadeiros pagãos estavam mais ao norte ou mais ao leste.

O festival que acontecia aqui dificilmente seria um contra o qual o cavaleiro precisaria se defender. Era um simples festival da colheita, do tipo que se encontra em qualquer lugar.

Verdade seja dita, o festival da região era de certa forma bem maior do que uma típica celebração, possivelmente seja esta a razão do monastério abrir o olho e reportar o fato à cidade. Faz tempo que a Igreja não é capaz de controlar a região, sem dúvida é por isso um nervosismo maior sobre o que quer que aconteça por aqui.

Aliás, a Igreja andava impaciente para realizar inquisições e converter pagãos, além disso, confrontos entre filósofos naturais e teólogos na cidade eram qualquer coisa menos raros. O tempo em que a Igreja poderia comandar a população submissa incondicionalmente estava acabando.

A dignidade da organização estava começando a ruir

— mesmo que os habitantes nas cidades não falassem nada, todos estavam gradualmente começando a perceber isso. De fato, o papa recentemente fez um apelo aos monarcas de várias nações solicitando fundos quando o dízimo arrecadado foi menor do que o esperado. Tal história seria absurda meros dez anos atrás.

A Igreja estava desesperada para recuperar sua autoridade.

“O comércio vai sofrer por toda a parte,” disse Lawrence com um sorriso pesaroso, pondo outro doce em sua boca.

Os céus do oeste eram de um tom de dourado mais belo que o trigo nos campos pela hora que Lawrence chegou nas planícies. Pássaros ao longe se tornaram minúsculas sombras enquanto voavam para casa, aqui e ali os sapos cantavam até dormir.

Parecia que os campos de trigo já haviam sido em grande parte colhidos, sem dúvidas o festival começaria em breve

— talvez tão próximo quanto o dia depois de amanhã.

Diante de Lawrence estava a vastidão dos campos de trigo da vila de Pasloe. Quanto mais abundante a colheita, mais prósperos os habitantes da vila. Consequentemente, o nobre que maneja a terra, o Conde Ehrendott, era um excêntrico famoso na região por gostar de trabalhar na terra ele mesmo. Naturalmente o festival também apreciava seu suporte, e todo ano era uma confusão de vinho e música.

Entretanto, Lawrence não havia participado uma vez sequer. Infelizmente forasteiros não eram permitidos.

“Hey, bom trabalho!” Lawrence exclamou para um camponês montado em uma carroça amontoada com trigo em um dos cantos do campo. Era um trigo bem amadurecido. Aqueles que investiram em trigo poderiam respirar aliviados.

“O que foi?”

“Poderia me dizer onde posso encontrar Yarei?”

Lawrence perguntou.

“Oh, Yarei deve estar para lá — vê onde o povo está se juntando? Naquele campo. Todos são jovens nesta época do ano. Qualquer um que for mais lento vai acabar sendo Holo!” disse o camponês de bom humor, sua face bronzeada sorrindo. Era o tipo de sorriso inocente que um mercador jamais conseguiria fazer.

Lawrence agradeceu ao camponês com o seu melhor sorriso comercial e virou seu cavalo em direção ao local onde Yarei estava.

Como o camponês havia dito, havia um grupo de pessoas se reunindo e eles estavam gritando algo. Pareciam zombar de quem ainda trabalhava no campo, mas não estavam ridicularizando a sua demora. A zombaria fazia parte do festival.

Enquanto Lawrence preguiçosamente se aproximava do grupo, ele conseguiu distinguir seus gritos.

“Tem um lobo ali! Um lobo!”

“Um lobo dormindo lá!”

“Quem vai ser o último e pegar o lobo? Quem, quem, quem?” os aldeões gritavam, seus rostos tão alegres quem poderiam perguntar se não estariam bêbados. Nenhum deles notou Lawrence puxando sua carroça por trás da multidão.

O que eles tão entusiasmados chamavam de lobo não era um lobo de fato. Se fosse real, ninguém estaria rindo. O lobo era o deus da colheita e, de acordo com a lenda da vila, ele residia no último feixe de trigo colhido. Quem quer que colhesse esse trigo seria possuído pelo lobo, era o que diziam.

“É o último feixe!”

“Preste atenção, não corte demais!”

“Holo escapa da terra ávida!”

“Quem, quem, quem vai pegar o lobo?”

“É Yarei! Yarei! Yarei! Yarei!”

Lawrence saiu da sua carroça e espreitou por entre a multidão no exato momento em que Yarei colheu o último feixe de trigo. Seu rosto estava negro de terra e suor enquanto sorria e levantava o trigo, ele jogou sua cabeça para trás e uivou.

“Awooooooo!”

“É Holo! Holo, Holo, Holo!”

“Awooooooo!”

“Holo, o lobo está aqui! Holo, o lobo está aqui!”

“Peguem ele, agora! Peguem rápido!”

“Não o deixem escapar!”

Os homens barulhentos começaram a perseguir Yarei.

O deus da generosa colheita, uma vez encurralado, possuiria um humano e tentaria escapar. Capture-o e ele ficaria mais um ano. Ninguém sabia se esse deus realmente existia. Mas esta era uma velha tradição da região.

Lawrence viajou por toda a parte, por isso não dava atenção aos ensinamentos da Igreja, mas sua crença em superstições era maior que até mesmo a dos camponeses aqui. Várias vezes ele cruzou as montanhas apenas para chegar em cidades e ver o preço dos seus produtos caírem precipitadamente. Isso era o suficiente para tornar qualquer um supersticioso.

Capítulo 2

Por isso ele não se importa nem um pouco com tradições que os crentes ou oficiais da Igreja achariam ultrajantes.

Mas era inconveniente que Yarei fosse Holo este ano.Agora Yarei seria trancado em um celeiro abarrotado de trigo até que o festival acabasse — cerca de uma semana — e seria impossível dizer com ele.

“Sem alternativas, suponho...” disse Lawrence, suspirando enquanto virava sua carroça e ia para a residência do chefe da vila.

Ele queria aproveitar para beber um pouco com Yarei e relatar os eventos no monastério, mas se ele não vendesse as peles que estavam empilhadas na sua carroça-cama, ele não poderia pagar pelas mercadorias compradas em qualquer outro lugar quando as contas vencessem. Ele também gostaria de vender o trigo que trouxe da outra vila e não poderia esperar o festival terminar.

Lawrence falou brevemente dos acontecimentos do meio dia no monastério ao chefe da vila, que estava ocupado com os preparativos para o festival. Ele polidamente recusou a oferta de passar a noite e deixou a vila para trás.

Anos antes do Conde começar a gerir a região, ela sofreu sob pesadas taxas que reduzia o preço da sua exportação. Lawrence havia comprado um pouco do trigo desvalorizado e o vendeu a lucro baixo. Ele não fez isso para ganhar a simpatia da vila, simplesmente não tinha recursos para competir com os outros mercadores com grão mais finos e baratos. Mesmo assim, a vila ainda ficou grata pelo seu negócio e Yarei foi o intermediário do acordo.

Infelizmente não poderia aproveitar uma bebida com Yarei, mas uma vez que Holo aparece, Lawrence seria em breve expulso da vila quando o festival chegasse ao seu clímax. Se passasse a noite, não poderia ficar por muito tempo. Enquanto sentava em sua carroça, Lawrence sentiu uma certa solidão por ser excluído.

Mordiscando alguns vegetais que ganhou de lembrança, ele tomou a estrada para oeste, passando por alegres camponeses retornando do seu dia de trabalho.

Voltando para sua solitária viagem, Lawrence invejou os camponeses e seus amigos.

Lawrence era um mercador viajante nos seus vinte e cinco anos. Aos doze ele foi aprendiz soba tutela de um parente e aos dezoito ele se tornou independente. Ainda havia muitos locais por visitar e sentiu que o verdadeiro teste da sua vida de mercador ainda estava por vir.

Como qualquer mercador viajante, seu sonho era guardar dinheiro suficiente para abrir uma loja em alguma cidade, mas o sonho ainda parecia distante. Se ele pudesse agarrar uma boa oportunidade, talvez o sonho não estivesse tão distante assim, mas infelizmente comerciantes mais poderosos tomavam essas oportunidades com seu dinheiro.

No entanto, ele transportava cargas através das regiões rurais para pagar seus débitos no limite do prazo. Mesmo que encontrasse uma boa oportunidade, não teria os meios de aproveitá-la. Para um mercador viajante, tal coisa era inalcançável como a lua no céu.

Lawrence olhou para a lua e suspirou. Percebeu que os suspiros se tornaram mais frequentes ultimamente, seja como reação aos anos de negociações frenéticas simplesmente para fechar as contas do mês, ou porque recentemente estava se adiantando e pensando mais sobre o futuro.

Além disso, quando ele pensava em outras coisas além de credores, prazos e alcançar a próxima cidade o mais rápido possível, sua mente era dominada por eles.

Especificamente, pensava nas pessoas que encontrava durante suas viagens. Pensava nos mercadores que conheceu visitando uma cidade repetidamente a negócios e nos aldeões conhecidos em seu destino. A empregada pela qual se apaixonou durante uma longa estadia em uma pousada, esperando a nevasca passar. E por aí vai.

Resumindo, ansiava por mais companhia e mais frequentemente. Tal desejo era um risco para a ocupação de mercador que passava a maior parte do ano viajando sozinho em uma carroça, mas Lawrence começou a sentir isso apenas recentemente. Até agora, apenas se vangloriava que isto nunca aconteceria com ele.

Entretanto, tendo passado tantos dias sozinho com um cavalo, ele começou a pensar que seria bom se o cavalo pudesse falar. Histórias sobre cavalos se tornando humanos não eram incomuns entre mercadores viajantes, e Lawrence desde o início riu desses contos ridículos, mas ultimamente se perguntava se não seriam reais.

Quando um jovem mercador comprava um cavalo de um comerciante de cavalos, alguns até mesmo seriamente recomendariam uma égua, “apenas em caso dela se tornar humana”. Isto já aconteceu com Lawrence, que ignorou o conselho e comprou garanhão robusto.

Este mesmo cavalo estava trabalhando continuamente diante dele mesmo agora, mas com o passar do tempo e Lawrence se tornando solitário, se perguntava se não teria sido melhor com a égua afinal de contas.

Por outro lado, este cavalo transportou cargas pesadas dia após dia. Mesmo que se tornasse um humano, parecia impossível que se apaixonaria pelo seu dono ou usaria seus poderes misteriosos para lhe trazer fortuna. Provavelmente gostaria de ser pago e descansar, Lawrence pensou.

Tão logo isto lhe ocorreu, ele pensou que seria melhor se o cavalo continuasse como cavalo, mesmo se isso fizesse dele um egoísta. Lawrence riu amargurado e suspirou como se estivesse cansado consigo mesmo.

Em pouco tempo ele alcançou um rio e decidiu montar acampamento para a noite. A lua cheia brilhava, mas isto não garantia que não cairia no rio — e se isso acontecesse, chamar isso de um “desastre” seria uma atenuação. Ele teria que se enforcar. Deste tipo de problema ele não precisava.

Lawrence puxou as rédeas e o cavalo parou com o sinal, dando dois ou três relinchos ao perceber que o tão aguardado descanso havia chegado.

Dando o resto dos vegetais ao cavalo, Lawrence removeu um balde da carroça, pegou um pouco de água do rio e o pôs diante do animal. Enquanto ele bebia feliz, Lawrence tomou um pouco de água que conseguiu na vila.

Vinho teria sido bom, beber sem um companheiro apenas faria a solidão piorar. Também não havia garantias de que não iria ficar bêbado, então Lawrence decidiu ir se deitar.

Ele apenas mastigou desmotivado alguns vegetais ao longo da estrada, portanto comeria apenas um pedaço de carne antes de subir na carroça. Normalmente dormia na lona de cânhamo que cobria a carroça, mas hoje ele tinha uma carga de peles de marta, então seria um desperdício não dormir com elas. Isto poderia fazê-lo cheirar um pouco selvagem pela manhã, mas era melhor do que congelar.

Mas pular diretamente sobre as peles iria esmagar o feixe de trigo, então para tirá-lo do caminho, ele puxou a lona da carroça.

O único motivo pelo qual não gritou foi porque a visão que obteve era terminantemente inacreditável.

“...”

Aparentemente ele tinha uma hóspede.

“Hey.”

Lawrence não tinha certeza se sua voz de fato fez algum som. Estava em choque e se perguntava se a solidão finalmente o dominou e ele estava alucinando.

Mas depois de balançar a cabeça e esfregar os olhos, sua hóspede não havia desaparecido.

A bela garota estava dormindo tão profundamente que parecia uma pena acordá-la.

“Ei, você aí,” disse Lawrence, voltando a si. Ele pretendia averiguar o que exatamente motivou alguém a dormir na carroça. No pior dos casos, poderia ser uma fugitiva da vila. Ele não queria este tipo de problema.

“...hrm?” foi a frágil resposta da garota para Lawrence, seus olhos ainda fechados, sua voz tão doce que faria um pobre mercador viajante — acostumado apenas aos prostíbulos das cidades — delirar.

Ela era terrivelmente fascinante, apesar de ser obviamente jovem, abrigada nas peles e iluminada pelo luar.

Lawrence engoliu em seco uma vez antes de voltar a razão.

Como era tão bela, se fosse uma meretriz, não havia como dizer o quanto seria cobrado se chegasse a tocá-la. Considerando sua situação econômica foi mais efetivo que qualquer reza. Lawrence se recompôs e levantou sua voz mais uma vez.

“Ei, você aí. O que você pretende, dormindo na carroça de outra pessoa?”

A garota não acordou.

Farto com esta garota que dormia tão obstinadamente, agarrou a pele que apoiava sua cabeça e a puxou. A cabeça da garota caiu no espaço deixado pela pele, finalmente ele a ouviu grunhir irritada.

Estava a ponto de levantar sua voz novamente, mas então ele congelou.

A garota tinha orelhas de cachorro em sua cabeça.

“Mm... hah...”

Agora que a garota parecia ter finalmente acordado, Lawrence reuniu sua coragem e falou novamente.

“Você aí, o que está fazendo subindo na minha carroça?”

Lawrence já foi roubado mais de uma vez por ladrões e bandidos enquanto atravessava a zona rural.Se considerava mais ousado e corajoso que uma pessoa comum.Não era ele que iria vacilar apenas porque a garota na sua frente acabou tendo orelhas de animal.

Apesar do fato da garota não ter respondido suas questões, Lawrence não é repetiu.

Isto porque a garota, que acordava lentamente diante dele e estava totalmente nua, era tão linda que o deixou sem palavras.

Seu cabelo, iluminado pelo luar, parecia tão seda e caía sobre seus ombros como o melhor dos mantos.Os fios que caíam do pescoço para a clavícula eram uma curva tão bela que humilhavam as pinturas da Virgem Maria, seus braços esculpidos no gelo.

E agora no meio de seus corpos eram seus dois pequenos seios, tão belos que pareciam de algum material inorgânico.Eles exalavam um aroma estranhamente vital, como se alojado dentro do seu atrativo tivesse uma chama.

Mas tal fascinante espetáculo foi rapidamente desfeito.

A garota vagarosamente abriu sua boca e olhou para o céu.Fechando seus olhos ela uivou.

“Uauuuuuuu!”

Lawrence sentiu um medo abrupto — se pelo seu corpo como o vento.

O u era o som de um lobo para chamar pelos seus companheiros, perseguir e encurralar um humano.

Este não era um uivo como o que Yarei soltou mais cedo.Era um uivo genuíno.Lawrence derrubou o pedaço de carne da sua boca;seu cavalo empinou assustado.

Então ele pago algo.

A silhueta enluarada da garota — com orelhas em sua cabeça.As orelhas de uma fera.

“... Hum.Esta é uma boa lua.Você não tem nenhum vinho?”ela falou, devendo o uivo desvanecer, levantando seu queixo e sorrindo levemente.Lawrence voltou a si com o som de sua voz.

O que estava diante dele não era nenhum cachorro ou lobo.Entretanto, era uma bela garota com orelhas desses tipos de animais.

“Não tenho nenhum.E o que é você?Por quê dormiu na minha carroça?Você seria vendido na cidade?Por acaso escapou?”Lawrence não indagar tão autoritariamente quanto fez, mas a garota muito além de se mover.

“O quê, nenhum vinho?E comida, então...?Ah, que desperdício”, disse a garota despreocupada, seu nariz se contraindo.Ela espiou o pedaço de carne que Lawrence quase come, jogando-o para cima e agarrando com a boca.

Elava, Lawrence não resistiu em notar as duas presas da garota afiada por entre os lábios da garota.

“Você é algum tipo de demônio?”ele peça, sua mão se aproximando da adaga em sua cintura.

Como os mercados geralmente carregavam suas riquezas precisavam confiscar grandes quantidades, eles geralmente carregavam suas riquezas em itens.A adaga de prata era um desses itens, e a prata era conhecida como um metal sagrado, forte contra o mal.

Entretanto, Lawrence colocou sua mão na garota adaga e fez sua pergunta, a sem olhar quando, então riu gostosamente.

“Ah-há-há-há!Eu, um demônio agora?”

Sua boca abriu o suficiente para deixar o pedaço de carne, ela era tão bonita que o desarmou

Suas duas presas apenas são a mais encantadoras.Entretanto, ser motivo de piada deixou Lawrence irritado.

Capítulo 3

“P-por que isso é tão engraçado?”

“Oh, é engraçado sim, ah se é! Com certeza esta é a primeira vez que sou chamada de demônio.”

Ainda rindo consigo mesma, a garota pegou novamente o pedaço de carne e o mastigou.

Ela de fato tinha presas. Adicione suas orelhas e seria óbvio que ela não era uma simples humana.

“O que você é?”

“Eu?”

“De quem mais eu estaria falando?”

“Do cavalo, talvez.”

“...”

Quando Lawrence puxou sua adaga, o sorriso da garota desapareceu. Seus olhos cor de âmbar se estreitaram.

“Quem é você que eu quero saber!”

“Apontando uma faca para mim agora? Que falta de educação.”

“Quê?!”

“Mm. Ah, entendo. Minha fuga foi um sucesso. Minhas desculpas! Eu me esqueci,” disse a garota com um sorriso — um sorriso completamente inocente e encantador.

O sorriso não o abalou particularmente, mesmo assim Lawrence sentiu que apontar uma lâmina para uma garota era algo impróprio para um homem, então ele a guardou.

“Me chamo Holo. Faz algum tempo desde que assumi esta forma, mas, bem, é bastante agradável.”

Enquanto a garota se observava em aprovação, Lawrence estava tão concentrado na primeira parte do que ela falou que ele não ouviu o restante.

“Holo?”

“Mm, Holo. Um bom nome, não?”

Lawrence viajou por todos os lados e por várias terras, mas havia apenas um local onde ele ouviu este nome. Ninguém além do deus da colheita da vila de Pasloe.

“Que coincidência. Eu também conheço alguém que se chama Holo.”

Foi audácia da parte dela usar o nome de um deus, mas pelo menos isso confirmou que ela era de fato uma garota da vila. Talvez a tivessem escondido, sua família a criou em segredo por causa das suas orelhas e presas. Isso se encaixaria com sua afirmação de que a “fuga foi um sucesso.”

Lawrence ouviu falar do nascimento de crianças anormais como esta. Elas eram chamadas de crianças-demônio, e se pensava que um demônio ou espírito as possuíram ao nascer. Se a Igreja as descobrisse elas seriam — junto com suas famílias — seriam queimadas na fogueira por adoração ao demônio. Sendo assim, tais crianças eram abandonadas nas montanhas ou criadas em segredo.

Mas esta era a primeira vez que Lawrence se encontrava com uma destas crianças. Ele sempre assumiu que elas seriam repugnantemente bestiais, mas julgando apenas pela aparência, esta era divina.

“Oh, ho, nunca encontrei outro Holo. De onde ele é?” Enquanto a garota mastigava a carne, era difícil a imaginar enganando alguém. Parecia possível que, como foi criada em confinamento por tanto tempo, ela de fato acreditava ser uma deusa.

“É o nome do deus da colheita desta região. Você é uma deusa?”

Com isso, o rosto da garota, banhado pelo luar, se mostrou levemente consternado por um momento antes de rir.

“Há muito tempo fiquei confinada a este lugar e fui chamada de deusa. Mas não sou nada tão grandioso quanto uma deidade. Sou meramente Holo.”

Lawrence supôs que isso significava que ela esteve presa em sua casa desde que nasceu. Ele sentiu uma certa simpatia pela garota.

“Por ‘muito tempo’, você quer dizer desde que nasceu?”

“Oh, não.”

Esta era uma resposta inesperada.

“Eu nasci bem mais ao norte.”

“Ao norte?”

“Certamente. Os verões por lá são curtos e os invernos são longos. Um mundo em prata.”

Os olhos de Holo se estreitaram enquanto ela parecia contemplar algo distante, e foi difícil imaginar que estaria mentindo. Seu comportamento ao relembrar as terras ao norte foi natural demais para ser uma atuação.

“Você já esteve lá?”

Lawrence se perguntou se ela estava contra-atacando, mas se Holo estava mentindo ou simplesmente repetindo coisas que ouviu de outros, ele teria sido capaz de identificar imediatamente.

Suas viagens, enquanto mercador, de fato já o haviam levado ao distante norte anteriormente.

“Já estive tão longe quanto Arohitostok. Neve durante o ano inteiro é aterrorizante.”

“Hm. Nunca ouvi falar sobre isso,” respondeu Holo, inclinando sua cabeça levemente.

Ele esperava que ela fingisse ter conhecimento. Isto estava estranho.

“Que lugares você conhece?”

“Um lugar chamado Yoitsu.”

Lawrence se forçou a dizer, “Não conheço,” para silenciar a incerteza que crescia dentro dele. Ele de fato conhecia de um lugar chamado Yoitsu, conhecia de uma velha história que ouviu em uma pousada no norte.

“Você nasceu por lá?” Ele perguntou.

“Nasci. Como está Yoitsu hoje em dia? Está todo mundo bem?” Holo perguntou, se encolhendo vagarosamente. Foi um gesto tão efêmero que não poderia ser fingimento.

Mesmo assim, Lawrence não poderia acreditar. Até porque, de acordo com a história, a cidade de Yoitsu foi destruída por monstros com aparência de urso seiscentos anos atrás.

“Se lembra de algum outro lugar?”

“Mmm... faz tantos séculos... ah, Nyohhira, havia uma cidade chamada Nyohhira. Era uma cidade estranha, com fontes termais. Eu ia me banhar com frequência por lá.”

Ainda havia fontes termais ao norte, em Nyohhira, onde nobreza e realeza visitavam frequentemente. Mas quantas pessoas desta área sequer sabiam da sua existência?

Ignorando o confuso devaneio de Lawrence, Holo como se ela estivesse relaxando em uma fonte termal neste exato momento, e então ela espirrou.

“Mm. Não me importo de assumir a forma humana, mas é inevitavelmente frio. Sem pelo o suficiente,” disse Holo, rindo e se escondendo novamente na pilha de peles de marta.

Lawrence não conseguiu se segurar e riu da sua aparência. No entanto, ainda havia algo que o incomodava, então falou com Holo enquanto ela se aconchegava na pilha de peles.

“Você disse algo sobre mudar de forma mais cedo — do que se trata exatamente?”

Com a pergunta, Holo pôs sua cabeça para fora da pilha.

“Se trata exatamente disso. Não assumo a forma humana já tem um tempo. Encantadora, não?” ela disse com um sorriso. Lawrence não teve opção se não concordar, mas manteve um rosto sério ao replicar. A garota poderia fazê-lo perder sua compostura, isto era certo.

“Deixando de lado alguns detalhes, você é humana. Ou então é o quê? Um cachorro em forma humana, como aquelas histórias de cavalos que se tornam pessoas?”

Holo se levantou com a provocação. Dando as costas para ele, o encarou por sobre os ombros e respondeu firmemente.

“Pelas minhas orelhas e cauda, sem dúvida você consegue dizer que uma orgulhosa loba! Meus companheiros lobos, os animais da floresta e as pessoas da vila, todos reconhecem isso. E é da ponta branca da minha cauda que eu mais me orgulho. Minhas orelhas antecipam cada adversidade e escutam cada mentira, eu já salvei muitos amigos de muitos perigos. Quando alguém fala da Sábia Loba de Yoitsu, eles se referem a mim e a mais ninguém!”

Holo ofegou orgulhosamente, mas logo se lembrou do frio e mergulhou de volta às peles. A cauda na base de suas costas estava de fato se movendo.

Então, não apenas orelhas — ela também tinha uma cauda.

Lawrence voltou a pensar no uivo. Aquilo foi um verdadeiro uivo de lobo, sem dúvida. Esta era realmente Holo, a deusa-loba da colheita?

“Não, não pode ser,” Lawrence murmurou para si mesmo enquanto reconsiderava. Ela parecia não se preocupa com ele enquanto estreitava seus olhos nas peles quentinhas. Vendo por esse lado, ela era bastante felina, embora este não seja o problema do momento. Holo era humana ou não? Esta era a questão.

Pessoas que foram efetivamente possuídas por demônios não temiam a Igreja por sua aparência ser diferente — temiam por saber que o demônio dentro delas poderia causar alguma calamidade para qual a Igreja fez questão de divulgar que puniria com morte na fogueira. Mas se ao invés disso, Holo fosse algo como um animal das histórias antigas, ela poderia trazer boa sorte e realizar milagres.

De fato, se ela era a Holo, deusa da colheita, um comerciante de trigo não poderia desejar melhor acompanhante.

Lawrence voltou sua atenção para Holo mais uma vez.

“Holo, não é mesmo?”

Sim?”

Você disse ser um lobo.”

“Disse.”

“Mas tudo o que você tem são orelhas e cauda de lobo. Se você é de fato um lobo transformado, você deve ser capaz de assumir a forma de lobo.”

Holo se distraiu por um momento com as palavras de Lawrence antes de lhe ocorrer uma ideia.

“Oh, está me dizendo para te mostrar minha forma de loba?”

Lawrence assentiu para confirmar, mas na verdade estava levemente surpreso. Esperava que ela se frustrasse ou mentisse. Mas não fez nenhum dos dois, ela apenas se mostrava irritada. Esta expressão de irritação era bem mais convincente — a garantia de que ela poderia se transformar — do que qualquer mentira apressada que ele havia esperado.

“Eu não quero,” disse francamente.

“Porque não?”

“Por que você quer que eu me transforme?” ela mandou de volta.

Lawrence estremeceu com a represália, mas a questão sobre Holo ser humana ou não era importante para ele. Se recuperando do deslize, Lawrence pôs tanta confiança quanto conseguiu em sua voz, tentando recobrar a iniciativa da conversa.

“De você fosse uma pessoa, eu consideraria te entregar para a Igreja. Afinal, demônios trazem desgraça. Mas se você for de fato Holo, a deusa da colheita, em forma humana, então não precisarei te entregar.”

Se ela for autêntica, claro — contos de animais que se transformam e agem como emissários de boa ventura ainda existiam. Longe de denunciá-la como demônio, ele alegremente a ofereceria pão e vinho. Caso contrário, a situação seria bem diferente.

Enquanto Lawrence falava, Holo enrugou seu nariz, sua expressão ficava cada vez mais sombria.

“Pelo que eu ouvi, esses animais podem mudar sua forma original. Se estiver dizendo a verdade, você deveria ser capaz de se transformar, certo?”

Holo escutou com a mesma expressão irritada. Enquanto isso ela suspirou suavemente e lentamente se levantou da pilha de peles.

“Eu sofri muitas vezes nas mãos da Igreja. Não serei entregue a eles. Mesmo assi—”

Ela suspirou de novo, afagando sua cauda enquanto continuava. “Nenhum animal consegue mudar sua forma sem uma retribuição. Mesmo vocês humanos precisam de cosméticos para mudar sua aparência. Da mesma forma, eu exijo comida.”

“Que tipo de comida?”

“Apenas um pouco de trigo.”

Isso parecia de certa forma razoável para a deusa da colheita, Lawrence teve que admitir, mas a próxima declaração o pegou desprevenido.

“Isso ou sangue fresco.”

“Sangue... fresco?”

“Mas é só um pouco.”

O tom casual fez Lawrence perceber que ela não estava mentindo; com sua respiração presa, ele olhou para sua boca. Um pouco antes, ele viu presas por trás destes lábios morderem a carne que ele deixou cair.

“O quê, está com medo?” falou ao ver a perturbação de Lawrence e riu pesarosamente. Lawrence teria dito “Claro que não,” mas Holo claramente antecipou sua reação.

Mas assim que o sorriso desapareceu da sua face, ela desviou o olhar. “Se estiver, é mais um motivo para eu recusar.”

“Por quê?” Lawrence perguntou, pondo mais força em sua voz, vendo que estava sendo ridicularizado.

“Porque certamente você vai tremer de medo. Todos, seja humano ou animal, olham para a minha forma e se afastam com temor, me tratam diferente. Me cansei desse tratamento.”

“Está me dizendo que eu teria medo da sua verdadeira forma?”

“Se pretende fingir ser forte, primeiro esconda esta mão tremendo!” Holo falou exasperada.

Ele olhou para as mãos, mas quando percebeu o erro já era tarde.

“Heh. Você é do tipo honesto,” disse uma Holo contente, mas antes que Lawrence pudesse oferecer uma desculpa, ela ficou séria novamente e continuou, rápida como uma flecha. “Entretanto, só porque é honesto não quer dizer que mostrarei minha forma. O que você disse antes era verdade?”

“Antes?”

“Aquilo de que, se eu for mesmo uma loba, não vai me entregar para a Igreja.”

“Mm...”

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