Ryder Fuller olhou para sua garrafa de cerveja pela metade e começou a beber seu conteúdo. Seu sexto ou sétimo hoje à noite? Ryder esperava que o álcool aliviasse as dores em seu corpo ou mente. Os shifters não ficavam bêbados facilmente. Monstros como ele precisavam especialmente de uma quantidade excessiva de álcool para fazer efeito.

— Outro, barman — disse ele ao barman sobre a alta música country.

O homem de cabelos escuros sentado ao lado dele no bar, um nativo de seus cinquenta e poucos anos e um humano, olhou para ele com hostilidade aberta. Ele não era o único, mas Ryder não deu a mínima. Tom, o barman corpulento de quase quarenta anos, abriu outra cerveja e colocou-a na sua frente.

— Você não deve encorajá-lo, Tom, —  chamou o bastardo ao lado dele.  — Monstros como ele deveriam ficar na montanha, onde o resto dos bastardos assassinos pertencem.

Ryder não soube quando saltou do banquinho. Ele de repente estava na frente do humano, agarrando sua camisa e olhando furiosamente para ele. Ele apostou que seus olhos não eram mais normais, não o marrom usual, mas dourado. Ele podia sentir seus dentes se alongando em presas. O humano parecia pronto para se molhar, mas então, um sorriso torto se formou em seus lábios. O bastardo queria que Ryder o socasse, fizesse dele um exemplo.

Os moradores da cidade nunca esconderam o fato de que desconfiavam dos grupos que viviam na Montanha Ashfall, Montanha do Assassinato, como alguns moradores a chamavam. Por que não? Ryder e o resto dos shifters quebrados que viviam na montanha foram considerados perigosos, a ponto de se tornarem Feral. A única razão pela qual o Governo Paranormal os deixou em paz foi porque eles esperavam que os três grupos acabassem se matando.

Ryder respirou fundo e soltou o humano.

— Aw. A besta perdeu a coragem?  —  o humano perguntou.

Ryder rugiu em seu rosto, fazendo o humano congelar. Merda. Ryder podia sentir seu animal pairando na superfície de sua pele, pronto para se soltar. Causar dano. Seus outros membros da matilha não sabiam sobre suas pequenas viagens à cidade. Ryder não conseguia se lembrar quando começou a fazer isso. Bebendo suas mágoas. Ele simplesmente se cansou de olhar para os casais em sua matilha.

Primeiro, foi Dom e Teddy. Kris e Sam, e agora Alec e Chip. Alec, pelo amor de Deus. Esse bastardo era um canhão solto. Como diabos Alec poderia conseguir um companheiro mais rápido do que Ryder?

Ele invejava todos eles. Odiava eles.

Talvez ódio fosse uma palavra muito forte.

Ryder ainda precisava desabafar. O bar ficou em silêncio. Alguns humanos estavam olhando para ele e o idiota que queria começar uma briga com ele. Meia dúzia de humanos contra ele? Ryder iria dizimá-los. Os humanos eram tão frágeis. Facilmente quebrável.

Ele não queria isso. Tudo que Ryder queria era ser deixado sozinho. Ficar bêbado antes de dirigir de volta para casa e desmaiar. Então seria um novo dia para irritar todos em sua matilha novamente.

— Ei, não há necessidade dessa besteira — disse uma nova voz.

O que falava era um humano magro com cabelo dourado

escuro e o tom mais claro de olhos azuis que Ryder já tinha visto. Em um humano, pelo menos. O cara tinha vinte e poucos anos e vestia a camiseta do bar. Seu crachá dizia 'Aiden' e o perfume mais delicioso e intrigante vinha dele. Estava ali, sob o cheiro de cerveja e batatas fritas. Algo doce.

Ryder lançou o humano bobo que queria começar uma briga com ele. O humano furioso o empurrou e saiu do bar.

Ryder só tinha olhos para Aiden, que lançou o sorriso mais bonito para ele. A maioria dos humanos e shifters submissos estavam completamente com medo dele, mas não este. Talvez Aiden também tivesse alguns parafusos soltos na cabeça?

 — Obrigado por deixá-lo ir — disse Aiden. — Hank é um idiota cabeça quente, mas ele só fica assim depois de sua terceira cerveja. Tom? Dê a ele outra cerveja. É por minha conta.

Ryder recostou-se em sua cadeira, observando Aiden terminar de distribuir os pedidos em outra mesa.

 — Aiden é um bom garoto — disse Tom a ele em voz baixa.  — Fique longe dele.

Ryder estreitou os olhos para Tom.

 — O que te faz pensar que estou interessado nele? Ele é humano, e para sua informação, ele é um adulto burro. O quê, você é o namorado dele ou algo assim?

— Não, só o chefe dele — resmungou Tom. — Mas eu não gosto do jeito que você está olhando para ele. Como se ele fosse uma presa.

 — Presa é uma boa palavra, meu amigo.

 — Eu não sou seu amigo. Só tolero sua presença porque o considero inofensivo. Entendi. Todo mundo tem dias ruins e parece que você só quer uma bebida tranquila, mas Aiden ...

 — Fora dos limites, eu entendo. —  Ryder ergueu as duas mãos em falsa derrota.

Ele mal conhecia Tom, mas o bar de Tom foi o único na cidade que não o expulsou. Ryder deveria ficar longe daquele humano saboroso que teve a coragem de olhar nos olhos dele, mas o problema com Ryder? Ryder era um homem de opostos. Ele tinha problemas com autoridade. Se alguém lhe dissesse para não fazer isso ou aquilo, sua natureza era irritar a outra pessoa.

Foi por isso que ele foi cortado em primeiro lugar. Antes de vir aqui, Ryder teve um encontro com seu Alfa insano. Talon era um idiota sanguinário e adorava lutar. Ryder não deveria tê-lo provocado.

Irritando o Tom? Não é bom. Além disso, não importa o quão tentador Aiden fosse, Tom tinha razão. Aiden estava fora de sua liga. Muito bom para ele. Ele poderia dizer isso apenas observando Aiden interagir com seus clientes. Aiden tinha aquele sorriso megawatt para todos, mas Ryder gostava de pensar que Aiden reservava um sorriso especial apenas para ele.

Deus. Ryder era patético. Talvez ele tenha bebido muito.

Ryder bebeu sua cerveja grátis. Aiden tentou chamar sua atenção algumas vezes, mas Ryder evitou olhar para ele e se concentrou em sua cerveja. Ryder e este pequeno humano fofo eram de dois mundos diferentes. No final, Ryder acabaria machucando Aiden. Foi o que aconteceu com todos que tentaram se aproximar dele.

Aiden voltou ao bar para transmitir novos pedidos para Tom. O cheiro do humano o envolveu, provocando-o. Aiden simplesmente parado lá trouxe o lobo de Ryder. A temperatura ao redor dele disparou de repente. A pele de Ryder estava quente como uma febre. Ele precisava sair de lá. Pegar um pouco de ar fresco.

Se ele não fugisse, Ryder acabaria fazendo algo de que se arrependeria. Como agarrar Aiden pela camisa e tomar aqueles lábios tentadores apenas para descobrir se ele realmente tinha um gosto tão doce quanto Ryder imaginava. Ele esmagaria o corpo esguio de Aiden contra o seu duro. Tiraria as calças de Aiden com seus dedos rápidos. Ryder cortou essa linha de pensamento.

Algo estava errado com ele esta noite. Ele geralmente nunca fica sem piadas. As conquistas caíram voluntariamente em seu colo, sem que Ryder precisasse fazer nada. Flertar era tão natural quanto respirar. Sempre houve humanos dispostos que queriam descobrir como era ter um caso de uma noite com um dos animais perigosos que viviam na Montanha Ashfall. Para eles, Ryder e os outros eram experimentos curiosos, algo para rir e fofocar com seus amigos.

Ryder mal podia tolerar fanáticos peludos esta noite, mas

Aiden era diferente. Ele não parecia se importar com quem ou o que Ryder era. Um pensamento refrescante.

 — Eu percebi que sua cerveja está vazia — comentou Aiden. O humano deu aquele sorriso megawatt para ele. Humano destemido. Ryder poderia comê-lo todo e cuspi-lo.  — Você quer outro?

 — Você está flertando comigo? —  Ryder falou lentamente. O calor subiu pelo pescoço e bochechas de Aiden. Aiden o lembrava de um tomate humano. — Porque é muito fofo.

 — Fofo? Você é o cara mais interessante deste bar. Isso é tudo. É um crime entregar-se a uma conversa amigável?  —  Aiden exigiu.

O humano estava perdendo sua bravata, Ryder poderia dizer. Os batimentos cardíacos de Aiden dispararam e sua respiração acelerou.

— Sem mencionar a bunda mais sexy, —  Ryder acrescentou.

Aiden riu, colocando a mão sobre a boca.

Ryder estreitou os olhos.

 — O que é tão engraçado?

 — Bem, eu não consigo superar o quão arrogante você é.

Tom finalmente colocou algumas bebidas na bandeja de Aiden, mas o humano não se mexeu. Interessante.

 — Este sou eu. —  Ryder tirou seu chapéu de cowboy para

Aiden. — Xô, humano fofo. Você está melhor sem um monstro como eu.

 — Eu não acho que você é um monstro — disse Aiden em voz baixa.  — Eu sei o que você é, mas não estou com medo de você.

Isso foi o suficiente. Ryder agarrou a camisa de Aiden e puxou-o para perto. O humano engasgou. Ryder se levantou, praticamente elevando-se sobre o minúsculo humano. Aiden não entendia que Ryder poderia facilmente quebrá-lo ao meio se ele quisesse? Esmagar aqueles ossos frágeis como se não fosse nada? Ryder não faria nenhuma dessas coisas, é claro. Aiden não queria fazer mal a ele, mas queria que o humano entendesse no que ele poderia estar se metendo. Que Aiden não poderia lidar com um shifter danificado como ele.

— Deixe-o ir, Ryder. O garoto só está brincando  — disse Tom atrás do bar.

Ryder não prestou atenção a Tom. Ele lambeu o lado do pescoço de Aiden, sentindo o gosto salgado de seu suor. Aiden estremeceu em vez de empurrá-lo para longe. Reação curiosa. Ele pegou aquela boca doce. O gosto de Aiden inundou sua garganta. Doce inocência. Aiden agarrou as lapelas de sua jaqueta de couro desbotada, sem soltar.

Ryder chupou a parte superior de Aiden, então seu lábio inferior. Dentes e línguas se chocaram, mas Aiden cedeu e abriu a boca. Ryder enfiou a língua na garganta de Aiden. Tão bom. Este humano parecia perfeito contra ele. A besta se mexeu dentro dele, abriu os olhos e sussurrou uma palavra letal em sua cabeça.

Companheiro.

Ryder se afastou de Aiden e sentou-se no banquinho, se perguntando o que diabos ele estava fazendo. Seu companheiro de matilha e melhor amigo, Alec, sempre disse que ele era um ímã para problemas. Ele estava fazendo isso de novo. Aqui em território hostil.

 — Fique longe de mim — disse ele a Aiden, a voz dura, desumana. Ele abaixou o chapéu para esconder os olhos âmbar brilhantes.

— Você me avisa, então você me beija. Agora você está me dizendo para deixá-lo sozinho? Quem diabos você pensa que é? — Aiden chutou seu banquinho, fumegando. O humano roubou sua bandeja de cervejas do bar, quase caindo no chão. Ryder pegou a bandeja facilmente. Nenhuma das garrafas e copos tombou ou quebrou. Um bom ato de equilíbrio, ele mesmo disse isso.

Aiden fez uma careta para ele, pegou a bandeja e começou a servir seus clientes. Ryder se sentou e olhou para sua bebida.

Tom colocou outra cerveja na frente dele.

 — Sábia decisão deixá-lo ir — disse Tom em voz baixa.

— Ele não é meu para mantê-lo, —  Ryder sussurrou, mais para si mesmo do que para ninguém. Ele deu outro gole, sentiu seu telefone vibrar no bolso de trás da calça jeans. Ryder o tirou, viu que era uma mensagem de Dom, o Beta.

Dom: Os gatos estão na cidade. Se você ainda está aí,

dê uma olhada.

Ryder zombou e enviou a Dom um emoticon de um lobo sorridente. Por gatos, Dom queria dizer as panteras malucas do bando Garras Negras. Eles eram um dos grupos que viviam na montanha Ashfall. Muito dizimado. Os grandes felinos cometeram o erro monumental de irritar sua matilha. No final, o velho Alfa das panteras, Cyrus, morreu na última guerra.

Ryder pensou que os garras negras se dispersariam ou seus membros restantes se dispersariam. Ele adivinhou que eles ainda estavam por aí. Não como se ele tivesse algo melhor para fazer. Ryder bebeu sua cerveja. Ele foi ao banheiro masculino para mijar e pagou a conta.

Ele deu uma olhada no bar barulhento. Hã. Aiden havia partido.

 — O Aiden está de folga? —  ele perguntou a Tom, que franziu a testa para ele.

Finalmente, o barman humano disse:

 — Sim, ele voltou a fumar.

Ryder não imaginava que Aiden fosse fumante. Ele decidiu dar uma última olhada no cara que ele nunca poderia ter, antes de verificar o que as Garras Negras estavam tramando.