A cada passo que dava o meu coração acelerava. Não conseguia entender essa sensação agoniante e totalmente inexplicável. Parecia com aqueles pressentimentoss tentando avisar que algo de mau estava prestes a acontecer.
Apressei os meus passos quando os pingos de chuva começaram a descer, já estava atrasada para chegar em casa e com certeza Henrique já se encontrava preocupado. Henrique... O meu grande amor, hoje era nosso aniversário de namoro e decidimos comemorar com um jantar no restaurante da senhora Érica, uma cozinheira fantástica e fazia todos os tipos de pratos deliciosos. Amava comer no seu restaurante, era confortante.
Peguei o meu celular para ver o horário e já se passava das sete e trinta e cinco. Hoje a minha chefe pediu para limpar o galpão onde encontrava os livros empoeirados, e esqueci de avisar Henrique pela demora, então estava atrasada por culpa do trabalho. Trabalhar numa biblioteca municipal não era fácil, diariamente organizar prateleiras, fazer cobranças dos livros emprestados ou até mesmo comprados, realmente não era fácil. Era estranho não ter nenhuma ligação de Henrique ou até mesmo de Belinha, minha melhor amiga. Sempre que demorava a chegar em casa eles ligavam-me preocupados se algo poderia ter acontecido.
Respirei fundo quando avistei o condomínio, entrei pelo portão dando um boa noite para o seu Luiz, o segurança. Ele sorriu a retribuir, corri para pegar o elevador, ao fechar a porta do mesmo vi Belinha chegando a pedir para segurar a porta, droga, tarde demais. Entrei em casa, vendo apenas a luz do quarto acesa, estranhei, nunca ficava escuro quando chegava em casa. Abrir a porta me espantando com duas malas prontas em cima da cama, o que era isso? Henrique iria viajar?
— Henrique? — chamei o procurando, vi as nossas fotos viradas em cima da cómoda. Céus, o que estava acontecendo? — Henrique? — o chamei novamente. Ouvi a porta do banheiro sendo destravada quando o mesmo saiu enrolado com a sua tolha em volta da sua cintura — O que significa isso, Henrique? — perguntei séria, ele apenas me olhava como se quisesse me matar. Não estava a entender nada.
— São as suas coisas — espantei-me, isso só poderia ser uma brincadeira de mau gosto.
— Para de brincadeira amor! — falei com a voz embargada por conta do choro já evidente.
— Quero que você saía da minha casa agora, e nunca mais apareça na minha frente, sua vagabunda! — o meu mundo caiu ao ouvi-lo chamando-me dessa maneira.
— Por que está fazendo isso? Não ouse chamar-me assim, não ouse! — gritei com a intenção de defender-me.
— Interessante, se não é uma vagabunda então deve ser uma vadia, não é? — gargalhou maldosamente, não aguentei e as minhas lágrimas já desciam desesperadamente. Nunca o vi falar-me comigo assim, nunca, então porque ele estava-me tratando dessa forma?
— Não sou nenhuma vadia, por que está a fazer isso? — fui até ele e o mesmo afastou-se.
— Então me explica o que é isso, Ellie, que porra é essa? — ele apontou para um envelope em cima da cama, o peguei assustado-me com o que tinha ali. Céus, o que era isso? — Explica agora sua vadia! Isso é você não é? FALA!!! - ele segurou os meus braços apertando com força.
— Está me machucando, Henrique! — choramiguei a sentir a dor latejando.
— Me explica, que porra é essa? Anda, Ellie, você me traiu?
Balancei a cabeça que não, não consiga falar pelas emoções vindo, queria chorar, não estava entendendo exatamente nada.
— Eu não lhe traí, jamais faria isso, e essa não sou eu! — tentei falar firmemente o que não deu certo.
Havia duas fotos "minha" dormindo com um cara, não lembrara disto, não bebi ou até mesmo nunca traí Henrique. Isso parecia coisa de gente maldosa, principalmente enviar por envelope essas fotos falsas.
— Não quero mais nada com você, saia da minha casa agora antes que eu te bata aqui! SAIA — gritou me soltando, fiquei parada como uma estátua sem saber o que fazer — Não acredito que você me traiu em uma festa de aniversário, Ellie. Não acredito — falou transtornado. Eu apenas fui em uma festa de aniversário de Belinha, mais não fiz nada demais, dormi lá mesmo em sua cama, mais jamais fiquei com alguém, nesse dia Henrique estava viajando para ver a família, e como fiquei só e Bela convencendo para ir, acabei indo — Não quero te ver nunca mais, some da minha vida!
— Por que está fazendo isso comigo? Eu não fiz nada, acredita em mim — o abracei, sentindo seus músculos quentes e trincados, ele me arrancou dele jogando-me encima da cama.
— NÃO TOCA EM MIM SUA PUTA! TENHO NOJO DE VOCÊ, NOJO.
Chorei, chorei pela humilhação que estava passando.
— O que está acontecendo aqui? — Belinha entrou no quarto, como sempre triunfante.
— LEVA SUA AMIGA EMBORA DAQUI ANTES QUE EU FAÇA UMA BESTEIRA!
Corri pra abraçar Belinha, ela retribuiu o abraço, estava doendo muito. Meu coração estava sendo esmagado como nunca.
— Vem, vamos embora. Chega disso — ela sussurrou. Olhei ao redor e Henrique já não estava mais, assenti para Bela, peguei minhas malas arrumadas, antes virei o quadro de foto que estava encima da cômoda — O que aconteceu, amiga? Por que estavam brigando assim?
— E...le acha que o tra...i — tentei falar, mais nada saiu por causa do choro chocante.
— O QUÊ? — ela se assustou e parou de andar — VOCÊ TRAIU O HENRIQUE? — chorei sem responder nada a ela, eu conhecia Belinha e sabia que ela não ficaria ao meu lado.
— Não traí ele, ele recebeu umas fotos minhas com um cara que nunca tive.
— Meu Deus... — ela andou para um lado e outro, suspirou dezenas de vezes para falar — Você sabe o que isso significa não é?
Assenti, nossa amizade não iria ser a mesma, Belinha era sua prima, e ficaria ao lado de Henrique, os dois sempre foram unidos e foi daí minha amizade com ela nasceu.
— Preciso ver ele. Pega um táxi e vá embora. Nossa amizade acabou aqui, Ellie, não o machuque mais, como você acabou de fazer.
Assenti, eu parecia mais um robô, minha cabeça rodava e não sabia o que fazer. Peguei minhas malas jurando que amanhã eu viria o ver, precisava provar minha inocência e ter meu homem de volta. Seu Luiz me ajudou a chamar táxi, não tinha ideia para onde eu poderia ir, não tenho família aqui, e principalmente dinheiro.
— Senhorita, aqui é o ponto que acaba o preço — olhei para o taxista vendo o cronômetro da corrida, já que não tinha dinheiro, desci na rua deserta mesmo. Conhecia o bairro, havia algumas casas chique, e lembrei do parque principal, continuei andando até encontrar um banco e poder chorar sem ninguém ver.
O que foi tudo isso? O que aconteceu com o meu amor? Ele não acreditou em mim? Aquela realmente era eu?
Não!
Não!
Não!
Tira essa dor de mim, Deus!
Chorei, chorei e chorei.
Estava sufocada e perdida.
Não tinha ninguém para receber uma abraço.
Todos iriam ficar contra mim.
Amigos, parentes.
Eu não fiz nada.
— Ellie? — levantei a cabeça ao ver Douglas em minha frente. Ele era amigo de Henrique, trabalhavam juntos na empresa, o tinha visto algumas vezes, de vez em quando trocava algumas palavras com o mesmo — Você está bem? — ele se abaixou colocando suas mãos em minha costa - Quer que eu ligue para Henrique?
— Não, por favor... — sussurrei.
— Tudo bem, o que está fazendo aqui nessa rua perigosa? Venha, vamos. Você tem algum lugar para ir? — neguei, ele olhou para o nada, pensando em algo para ajudar a garota "sofrida" — Irei te levar para minha casa, mais quero que me conte o que aconteceu.
Depois de dez minutos chegamos em uma casa azul, parecia mais com uma mansão, o jardim a frente era lindo, e o balanço que havia visto chamou minha atenção. Douglas ajudou-me a descer do carro, pegando minhas malas, era estanho o ver dessa maneira, ajudando uma garota que mal conhecia.
— Você irá ficar no quarto da minha filha, não estranhe, ela está com a mãe.
— Não quero incomodar.
— Não irá, gosto de ajudar as pessoas, então por favor aceite minha eterna ajuda.
— Obrigada, Douglas — ele sorriu quando pronunciei seu nome.
— Vamos comer algo, você gosta de lasanha? — ele entrou em uma porta que eu deduzi ser a cozinha, o segui vendo os detalhes da mesma — Ou quer comer essa deliciosa macarronada? — mostrou uma tigela de macarrão, tentei sorri, o que não deu muito certo.
— Prefiro não comer nada...
— Entendo, bom, quer tomar um banho?
— Sim, posso?
— Mais é claro! Ao lado do quarto há uma banheiro, bom aproveito.
Eu precisava relaxar, precisava chorar para tirar tudo que estava sentindo. Entrei no banheiro, sentindo a água fria focar em meu rosto, a imagem de tudo que aconteceu hoje veio em minha cabeça fazendo novamente lágrimas caírem, eu precisava conversar com Henrique, queria poder o ver, o abraçar... Precisava ter o homem que eu amo perto de mim, não aguentaria viver longe dele. Hoje fazíamos 1 e 7 meses de namoro, passamos por muitas coisas juntos, sofremos juntos. E tudo termina dessa maneira? Eu não aceito, eu não quero deixar ele ir, principalmente deixar ele pensar que o traí. Céus, vai ser tão difícil encontrar a pessoa que fez isso comigo. Agora confiar em meus amigos será tão difícil, e até mesmo nas pessoas desconhecidas. Sentei no chão sentindo as lágrimas descendo, Deus, nunca vão acabar?
Isso dói tanto.
Amar dói.
Ser amado dói também?
Desliguei o chuveiro, coloquei uma roupa folgada, e deitei sem mesmo dar um boa noite para Douglas. Apenas queria dormir, e acordar desse maldito sonho.
— Então, vai me dizer o que aconteceu? — Douglas perguntou após tomamos nosso café da manhã.
— Eu traí Henrique... — o vi arregalar os olhos, mais antes de o mesmo falar adiantei — Na verdade não o traí, alguém fez algo para me prejudicar enviando fotos nua com outro homem para ele, sendo que jamais fiz isso.
— Ó, e ele te expulsou de casa?
— Sim, eu preferi saí, não queria me sentir culpada, já estou me sentindo culpada por algo que não fiz. Imagine ele que acha que fiz isso.
— Acredito que ele esteja muito mal, o cara sempre pareceu te amar, sempre dizia sobre você e como você era especial — ele me olhou de uma forma estranha, mais logo desviou. Estranhei, sempre fui uma garota de tentar decifrar as pessoas com o olhar, mas o dele era diferente.
— Eu irei o ver, preciso conversar com ele — falei tristemente.
— Não acha melhor deixar a poeira abaixar?
— Não tenho muito tempo, estou precisando conversar com ele, se não, tenho certeza que morrerei de tanta angústia.
— Certo, se quiser a levo até ele.
— Se não for incomodar — abaixei o olhar imaginando no que eu poderia falar para Henrique.
— Sem problemas, precisarei buscar minha filha, aproveito e te levo.
— Obrigada por isso tudo, Douglas, espero que tenha uma forma de te retribuir.
— Não precisa, como eu disse gosto de ajudar as pessoas — sorriu me confortando.
Após, deixar-me na frente do condomínio, dei bom dia para seu Luiz, o mesmo fechou a cara, já imaginei que todos sabiam sobre o que aconteceu, e também por Henrique ser amigos de todos com sua gentileza. Bati na porta, passou alguns minutos e ela se abriu, Henrique estava lindo, como sempre.
— Precisamos conversar, por favor! — implorei.
— Não quero conversar com vagabunda logo de manhã na minha porta.
— Não me chame assim, você não sabe de nada — ele respirou fundo, talvez estava tentando se controlar.
— Vá embora Ellie, me esqueça.
— Mais eu amo você, como quer que eu te esqueça?
— Você não pensou nisso quando me traiu.
— Eu não te traí, para com isso! — tentei engoli o soluço que estava querendo saí.
— Para você, logo de manhã enchendo o saco, porra, vai embora — o abracei de novo, o mesmo segurou os meus braços me empurrando, fazendo-me caí de bunda no chão — Some da minha vida sua vadia.
Então ele fechou a porta com força, levantei e segui para fora do prédio. Isso doía demais, como alguém faz isso comigo? Nem se quer me deixou explicar. Ele nunca fora assim.
Olhei para fora e o carro de Douglas ainda se encontrava, ele não ia buscar sua filha?
— Achei que já tinha ido embora — falei enxugando minhas lágrimas.
— Estava esperando se seu corpo ia ser jogando do sexto andar — brincou, mais logo seu sorriso murchou.
— O que foi? — perguntei.
—: Você está sangrando — ele apontou para baixo, e olhei, saia sangue das minhas pernas, o que me assustou — Vem, entra no carro, você deve está tendo uma hemorragia.
Eu entrei, e seguimos para o hospital mais próximo, chegando lá, alguns enfermeiros trouxe uma cadeira de rodas, meu corpo estava fraco, minha cabeça começou a rodar. Douglas em nenhum momento deixou de segurar minha mão. Entrei para ala hospitalar, colocaram agulhas em minhas veias que acabei vendo a escuridão.
Acordei vendo o teto branco, me mexi sentindo as agulhas em meu braço, tentei segurar mais uma voz disse:
— Não, tia Ellie, isso é para você ficar melhor - era uma garotinha que parecia ter 7 anos de idade — Papai disse que quando tivesse acordada é pra chamar o médico, pera aí — e assim a garotinha se foi, logo um senhor com uma prancheta entrou, sorriu e logo perguntou:
— Você está se sentindo bem, Ellie?
— Sim, apenas com uma dor pélvica.
— Bom, você está bem tanto quanto ao bebê, por pouco você não teve um aborto.
— O quê? Bebê? — fiquei paralisada ao ouvir a palavra bebê, céus, eu estava grávida? Não pode ser, não agora.
— Sim, você estava grávida de quatro semanas, e já deveria ter começado seu pré natal, sua gravidez depois do quase aborto se tornou de risco, você sofreu alguma queda? Ou tomou alguém remédio para evitar?
— Não doutor, apenas caí ao lavar o banheiro — menti descaradamente, lembrando que isso aconteceu depois que Henrique tinha me empurrado.
— Certo, sairá da observação depois das vinte e uma horas, com isso deverá pegar seus exames na recepção e algumas vitaminas para tomar.
— Obrigada doutor — suspirei assim que ele saiu, meu Deus, eu estou grávida! O que será da minha vida agora? O que Henrique achará?
— Olha o que eu trouxeee!!! — saí dos meu pensamentos quando Douglas entrou no quarto com uma bandeja de frutas e gelatina, junto com a garotinha que tinha visto.
— Olá — tentei sorrir.
— Você tem que se alimentar bem agora, coma logo, para melhorar rapidamente se não esse garotão aí vai nascer mariquinha — Douglas gargalhou da sua própria piada, se eu não tivesse tão machucada iria rir também — Quero te apresentar minha filha Agatha, filha dá um oi para Ellie.
— Oi tia Ellie — ela sorriu banguela.
— Oi princesa, quem é esse? — apontei para o urso que a mesma segurava nos braços.
— Esse aqui é o Fred, meu urso preferido.
Ficamos conversando, era bom saber que tinha conhecido duas pessoas que se tornaram muito importante, na verdade três, logo virá o meu bebê
Havia se passado vinte minutos que tinha pegado alta do hospital, estava parada na frente da porta de Henrique, você deve está pensando idiotice, certo? Mais, o amor é cego e eu não consigo ficar longe por mais que ele me humilhe. Douglas achou errado eu ter vindo, por causa do bebê e eu deveria estar em repouso, abrir a porta com a chave reserva que ficava embaixo da plantinha do corredor, ouvi um barulho dentro, não escutei direito mais parecia uma música tocando, suspirei, não queria ver nada que podia me machucar mais uma vez.
Abrir a porta do quarto olhando pra minha cama. Não chorei, tudo que sentia a momentos atrás evaporou sem nenhum protesto. Belinha e Henrique transavam, eles me olhavam, suspirei, fechei a porta sem dizer nada. Agora eu entendia, não poderia confiar em ninguém, não poderia amar ninguém, o amor nunca no mundo poderá ser retribuído para sempre. Se Henrique quis assim, ele que vá sofrer com as consequências, não choraria por ele, nunca mais, não merecia, ele não ouviu, não acreditou em mim. Joguei o exame de gravidez no lixo da recepção, ouvi alguém me chamando mais não liguei, não iria olhar para trás como das outras vezes.
Agora era apenas eu e o meu bebê.
E eu lutarei para ser o melhor para ele.
Sem lembrar do passado.
Muitas das vezes passamos por problemas que nós fazem fazer escolhas independente desta escolha, eu á fiz meu futuro.
Minhas expectativas duraram á um tempo suficiente, e por incrível que pareça eu criei vários obstáculos na direção em que caminhava e de repente vir-me como uma flor amarga, eu sabia que era doce demais e essa doçura fizeram muitas pessoas se aproveitar de mim, e eu simplesmente sabia que se eu chegasse perto daquele amor minhas pétalas cairiam. E hoje eu sei que muitas coisas do passado me fizeram amadurecer, e não me arrependo de nada até mesmo a parte do meu passado que ficou junto a mim. Sinto-me inerente aos sentimentos, incapaz de sofrer pelo que ainda não passou. Paz. Apenas paz. Lembro-me da tristeza e meio-que do nada meus olhos ficam lacrimejantes recordando daquilo que não é apenas fruto de um pesadelo que me fez perder o sono por tantas horas e por tantos dias. Me peguei pensando naquilo que não devia, recordando daquelas velhas fitas cassetes que gravei em minha imaginação em momentos em que a solidão tomava de qualquer lugar onde eu habitava. Apesar de tudo, sorrio. Preciso sorrir. Tenho muita sorte. Suponho que relembrar do passado faz com que eu tome um banho de realidade e acorde para aquilo que até então não havia notado. Tudo está bom. Muito bom.
Perco-me em tais lembranças, lembro-me do dia que meu coração se partiu completamente quando o dia eu estava feliz e a noite, tudo escureceu, lembro-me daquele momento que ele destroçou meu coração sem escrúpulo nenhum, aquela dor talvez fosse à pior que poderia sentir. Queria que Deus naquele momento tirasse aquela dor de dentro de mim, ela estava me esmagando como um trator.
Como posso sair dessa tempestade de dentro de mim sem poder olhar para o passado e não pensar nele?
Passei a mão em minha barriga, estava grande e redonda. Antony crescia saudável. Doutora Daiane, minha obstetra explicou que meu parto seria complicado e que deveria tomar muito cuidado para não prejudicar o bebê. Certo. Eu estava me cuidando, e claro, Douglas e Agatha já não saíam do meu pé, estavam sempre acariciando minha barriga.
Bom, o que contar de Douglas? Ele se tornou um ótimo amigo na verdade se tornou meu irmão postiço. Ele certamente é incrível um ótimo companheiro, e desde que minha vida desandou Douglas ajudou-me em cada momento. Sou grata por tudo.
Agatha, é linda, doce, imperativa e incrivelmente inteligente igual o pai, a cada minuto a pequena está perguntando se quero comer algo ou se estou me sentindo bem, e até mesmo se estou confortável no sofá da sala. Sei que Douglas a faz ficar de olho em mim já que o mesmo ao dia está no trabalho.
Henrique... Nunca o vi desde dos sete meses que se passaram, também não me importo. Antony é tudo para mim e não sou eu que irei correr atrás do pai, por mais que eu esteja saindo do fundo do poço. Se um dia meu pequeno perguntar por Henrique não irei mentir, falarei a verdade mas quando isso acontecer vou aproveitar o tempo que me resta. Há dias que me vejo pensando nele, no amor que sinto e na saudades que me corrói por imaginar os nosso momentos. Meus pais sempre ligam perguntando se Antony está bem, aliás, boa parte da minha família acham que o bebê é de Douglas ou perguntam se traí Henrique. Bom, tive que deixar o trabalho por causa da gravidez de risco, fiquei muito triste por Douglas me ajudar sem ser recompensado mais o mesmo sempre diz que recompenso cuidando de Agatha, já que ela não tem uma presença feminina por perto.
É estranho, minha vida passou tão depressa.
Lembrar que a meses atrás eu era uma garota sem graça e hoje nem acredito que irei ser mãe de um garotinho, e quanto mais o tempo passa dou-me conta de que tudo que acontece à minha volta não é ruim como aparenta. Ainda sorrio porque sei que por mais que haja tempestade, ainda existe um lindo dia ensolarado, sorrindo, esperando pra nascer, pois uma das coisas que eu aprendi e nunca mais esquecer é que por mais que a vida seja dura, o tempo vai apagar aquilo que me feria e tocava cada vez mais as cicatrizes que os erros do passado provocaram, também sei que antes dos sonhos, a paz não se faz. A paz não se desfaz. A paz é inexistente pelo simples motivo de que você não têm idéia do que irá acontecer daqui a um minuto, uma hora, um dia, um mês, um ano. Você só vive o agora. Sem ter certeza do que te espera na linha de chegada dos sonhos. Ou até mesmo pensa como eu. Quando você aprende a ser mãe você ver o mundo de outra maneira, você pensa em quantas maneiras no futuro do seu filho, no quanto ele pode se machucar com o mundo tão perverso. Sei que por mais eu tenha aprendido a viver e agradecer pelos meus dias, eu temo que mais uma vez tudo se evapore sem eu ter percebido. Assim como todas as pessoas eu tenho meus sonhos, sonhos grandes e incansável, mais eu sou forte, sou forte por mim e pelo meu bebê. Acredito que por mais que os sonhos pareçam coisas criadas pela minha cabeça pra eu finalmente acreditar na felicidade, eu espero por eles. Espero pra sorrir pra mim mesma na frente do espelho todos os dias. E perceber que o brilho dos meus olhos nunca vai se apagar enquanto eu acreditar naquilo que realmente quero acreditar e quando eu acredito é quando a mágica aparece. Tudo muda, tudo se vive, tudo se ama...
— Tia Ellieeeee! — ouvi o grito de Agatha vindo da sala, sorri, sempre era assim. Estava na cozinha fazendo um delicioso bolo de chocolate, pois, a cada vez que Agatha tinha notas boas na escola fazíamos um bolo para comemorar.
— Oi querida, estou aqui — gritei vendo a pequena chegar sorridente.
— Papai disse que a senhora está fazendo meu bolo preferido tia — sorri para ela dando um beijo em sua bochecha.
— Sim, hoje você merece um bolo pelas suas notas boas — abracei Ágatha, ela se agarrou em mim e sorri mais ainda — Quer me ajudar a confeitar o bolo?
— Simmm! — gritou soltando os braços pra cima, senti um chute na barriga, Antony sempre fazia isso quando ouvia a voz de Agatha.
Confeitamos o bolo fazendo uma grande sujeira mas ver o sorriso largo de Agatha recompensou toda bagunça.
Depois de dá uma bom banho na mesma e a deixar vendo um filme fui para o quarto a procura na internet um apartamento para alugar, não pretendia ficar a vida toda na casa de Douglas, preciso ter minha própria casa para que Antony tenha sua privacidade. Tinha uma boa cota na minha conta de emergência, não era muito, mais já dava para algo. Assim que meu bebê nascer iria procurar um emprego para nós manter. Já conversei sobre este assunto com Douglas, ele sempre diz que posso ficar o quanto quiser, e jamais irei aceitar o mesmo sustentando o meu bebê. Também não queria pedir nenhuma migalha de Henrique, pensei em suas reações e cheguei a conclusão que o mesmo irá achar que o filho que espero era da "traição". Traição, eu jamais imaginei de o traí e como alguém poderia armar isso contra mim? Certamente naquela noite não tinha colocado nenhuma gota de álcool em minha boca para dormir com outro homem... Triste mesmo é saber que quando pensamos em alguém que amamos verdadeiramente nos decepciona se torna tudo tão surreal, inacreditável depositar tanta confiança e ela sumir como se fosse o vento.
Chega, hoje não irei me lamentar!
Daqui dois dias irei fazer oito meses e o nervosismo não some. Pelo que vi no ultrassom Antony está totalmente formado e como minha gravidez é de risco pode vim bem antes do mês que resta. Céus, tudo vai dá certo, tem que dá...
— Oi — olhei para porta vendo Douglas dando um sorriso, o sorriso que qualquer garota pode se apaixonar.
— Oi, como vai? — sorri tirando minha atenção do Notebook.
— Cansado, está tudo bem? Parece tensa — ele veio e sentou ao meu lado, Douglas desde que o conheci foi um homem carinhoso e não havia segundas intenções, sempre parecia mais com um amor fraternal.
— Não encontro nenhum lugar para mim, tudo é caro e longe — suspirei derrotada.
— Calma, tudo vai dá certo, e eu já disse que você pode ficar o tempo que quiser aqui conosco — revirei os olhos o fazendo rir, muita proteção. Observei que havia chegado uma notificação em meu e-mail, abrir e me arrependi no mesmo estante — O que foi? Estar pálida.
— Olha isso — virei a tela do computador para ele, ele fez um O com a boca olhando-me preocupado.
— Sério, ele é um idiota. Por que ainda não se livrou desses e-mails?
— Não sei — senti Antony revirar, preciso me acalmar.
— Não se exalte Ellie, você não precisa ir, eles apenas estão tentando te ferir — Douglas acariciou meu rosto, tentei não chorar mais as lágrimas fujona já estavam descendo.
— Ele vai se casar com ela... E o meu bebê? Como vai ficar? Sem pai?
— Ele não merece nem saber que é pai por mais que tenha direitos. E sempre irei te proteger Ellie, ele pode ser meu amigo mais se quiser posso dá uma surra nele. Não chore, tudo vai dá certo. Um dia você vai encontrar alguém que te ame de verdade e que seja um pai para Antony.
Assenti deixando as lágrimas caírem. Henrique e Belinha iriam se casar ainda tiveram a cara de pau de comunicar por e-mail. Não sei o que eles estavam fazendo, ou se eles se amavam, ou se Henrique estava feliz. Não quero me importar, mais não consigo, meu coração é um traidor.
— Você já sabia, não é? — perguntei limpando as lágrimas.
— Sim, iria contar quando fosse o momento certo mais não sabia que eles iriam comunicar por aqui. Me desculpe.
— Tudo bem, isso vai passar. Deseje felicidade a eles por mim, eles se merecem.
— Olha... — o encarei — E-e-eu ainda não contei para ele que você está morando comigo.
— Como?
— Ele se afastou de muitas pessoas depois disso, até mesmo de mim. A empresa está jogada nas minhas mãos. Henrique está se tornando um homem frio.
— Achei que ele sabia — respirei aliviada, não queria que o mesmo soubesse que estava na casa do seu melhor amigo grávida, isso seria um escândalo — É por isso que ele nunca veio aqui? Sempre que o entregador chegava temia que fosse ele.
— No começo ele queria vim, mais impedir de seu coração ser machucado de novo — sorri, Douglas parecia mais um anjo do que um homem mesmo — Agora vamos comer aquele bolo se não Agatha irá acabar comendo tudo. Venha, levante daí — ele segurou minhas mãos fazendo levantar-me com a barriga pesada.
— Não sei como te pagar tudo que você está fazendo por mim, obrigada Douglas — ele sorriu maroto levando-me para cozinha.
Comemos o bolo, Agatha estava feliz, Douglas continuava brincalhão, e eu, estava feliz por vê-los feliz.
Isso sim era a paz que eu precisava.
Olhei para o relógio de pulso, a cinco minutos estava atrasada para consulta, penso que Daiane já pós outra pessoa em minha frente. Apressei os passos indo a recepção;
— Bom dia, eu vim para a consulta com a obstetra Daiane — digo à recepcionista loira atrás do balcão.
— Ela está em seu aguardo, senhorita Lansing — apontou para a sala ao final do corredor.
Agradeço, respirei fundo pensando se Antony estava bem. Há algumas horas atrás estava sentindo pontadas e um pequeno incômodo entre minhas pernas, claro, me desesperei achando que já estava na hora e bom, liguei para Daiane dizendo os sintomas e a mesma explicou que era normal, pois, era o momento em que o bebê se encaixava. Fiquei um pouco tranquila, a mesma opôs que fizesse uma visita no próximo dia para conferir se Antony está realmente bem. Bati na porta ouvindo um fraco "entre", Daiane estava em sua habitual mesa tomando seu café amargo.
— Estava a sua espera, Ellie, e nossa, você está linda! — sorri pelo elogio.
— Linda e gorda — falei sentando na cadeira confortável.
— Ora essas! Não diga isso, você estar incrivelmente divina. E como vai o bebê? Preciso saber os sintomas que anda sentindo — ela deixou a xícara encima de sua mesa buscando algum papel para anotar.
— Na verdade ontem sentir-me mal com tonturas e uma fraqueza, fiquei descansando e logo sentir as pontadas em minha barriga e uma dor horrível entre minhas pernas — abaixei a cabeça olhando para a barriga, estava enorme, era visível as ondas que ela fazia. Olhei novamente para Daiane e ela me encarava pensativa, anotou algumas coisas e disse:
— Não vou mentir, Ellie, seu parto está bem próximo. Essas dores algumas garotas sentem antes do mês certo, o bebê deve ter se encaixado antes do tempo e creio que deva tomar mais cuidado, talvez ele possa nascer prematuro — meu coração doeu, não queria ver meu Tony sofrendo. Eu fiz tudo que ela me pediu, não fiz esforço algum, fiz algumas caminhadas matinal e minha alimentação é satisfatória.
— Mas ele pode ter algum problema? Me diga, Daiane — ela suspirou deixando meu pobre coração apertado.
— Alguns bebês prematuro nascem saudável, outros não, mas no seu caso Antony já está formado, o possível que ele tenha um pequeno problema na respiração, até mesmo conter uma asma.
Eu sabia que Antony estava crescendo saudável e forte, cada vez que o sentia chutar conversava com ele e com isso sentia mais chutes, era como se ele tentasse se comunicar. Eu sei que meu bebê será saudável. Tenho fé.
— Eu quero que você faça seu parto nesta clínica, é apenas uma maternidade, é a melhor do estado. Vou comunicar sobre seu parto ainda hoje para que eles estejam preparados, irei adicionar seu plano de saúde para lá e te desejo boa sorte, e saúde Ellie — ela sorriu, Daiane era uma boa obstetra e uma pessoa que poderia contar para todas as horas, ela me ajudou por muito tempo em minha gravidez, disse que as jovens eram que sofriam mais e por isso era bom oferecer ajuda. Ela sabia sobre minha história do pai do bebê, e garantiu que um dia chutaria os ovos de Henrique. Às vezes acredito que Daiane e Douglas já tiveram algo, pois, quando os dois se encontram sempre saem faíscas, até mesmo tive que fingir que estava passando mal para que eles parassem de brigar. Ele deixou até de vim em minhas consultas por causa dela, e acho até engraçado as brigas sem noção dos mesmos.
Depois que saí da clínica, fui para escola buscar Agatha. Douglas sempre brigava comigo quando dirigia, dizia que o volante era perigoso para nós três. Estacionei em frente vendo Agatha correndo em direção ao carro, ela sorriu e gritou:
— Ellieeee — gargalhei, como era bom vê-la tão feliz.
— Oi princesa — respondi quando Agatha entrou no carro.
— Tia, vamos pra casa? — ela perguntou, bom, eu queria mais precisava ir ao mercado fazer algumas compras para nós manter.
— Que tal ir ao mercado fazer compras? Seu pai não quer que eu vá e carregue tudo sozinha - falei colocando o carro em movimento.
— Concordo, podemos pedir pra alguns funcionários ajudar — assenti, ficamos conversando sobre várias coisas como sempre até chegar ao mercado, logo estacionei e segurei sua mão. Todos do estacionamento olhavam-nos, eu e Agatha parecia mãe e filha, e como estava grávida e minha barriga estava tão perfeita redondinha chamava bastante atenção.
— Eu quero comprar morangos - Agatha ama morangos, Douglas diz que sua mãe sempre comia durante a gravidez da mesma e isso fez a pequena gostar.
— Então vamos lá. Não corra Agatha — gritei ao vê-la saltitando até o frizze de frutas.
Coloquei algumas compras no carrinho, seguindo Agatha pelo corredor. Ouvi uma voz que reconhecia muito bem, e que fez meu coração saltitar.
— Tio, já vou mais fique com um — ouvi Agatha dizer para o dono da voz.
— Obrigado. Como vai o seu pai? — perguntou, fiquei parada ao lado do outro corredor, não sabia como agir e no que fazer. Ele iria me ver grávida! Não sabia como seria sua reação, céus, o que eu faço?
— Papai está trabalhando e vim com minha tia comprar morangos — suspirei, eu precisava fugir. Fugir para bem longe.
— Venha, vou te levar para sua tia irresponsável - Eu? Irresponsável?
— Ela tá bem ali tio — devo imaginar que ela apontou para o corredor que estava.
Foi então que vi Henrique segurando Agatha no colo e seu olhar sobre mim. Ele permanecia bonito, muito bonito. Estávamos nos encarando intensamente, sem nenhuma palavra ou reação. Apenas dor, dor no olhar.
Seu olhar desceu para minha barriga de 7 meses, seu olhar permaneceu ali sem expressão nenhuma. Droga, e agora? Senti uma chute, quieto Antony, seu papai está aqui.
— Tia Ellie, tio Rique me deu esses chocolates — tirei minha atenção com Agatha falando, ele a soltou no chão e a mesma veio correndo até mim carregando seu pratinho de morango e uma barra de chocolate.
— Já agradeceu à ele? — ela assentiu dizendo que sim. Voltei meu olhar para Henrique, ainda continuava me encarando, dei um sorriso forçado.
— Vamos Agatha — fomos até o caixa pagar nossas compras, em nenhum momento deixei de pensar nele e no que ele viu. Será no que estava pensando? Será que pensava no bebê? Ou no seu rancor?
Esqueça, Ellie, você não precisa ser fraca.
Meu consciente diz, mais meu coração grita de tanta saudades, de tanto amor que sinto ainda por esse homem.
Carreguei a sacola fazendo um pouco de esforço, meus pensamentos estavam apenas em Henrique e de como ele estava lindo. Céus, preciso me acalmar. Coloquei as compras no banco de trás, observei que Agatha estava muito quieta, algo estava errado.
— O que foi princesa? — perguntei a fazendo olhar-me de maneira triste.
— Tio Rique não vai mais lá em casa, achei que ele me esqueceu — meu coração apertou novamente, tudo era culpa minha, só minha! Já bastava a mãe de Agatha a deixar-la triste agora havia minha situação que a fez se afastar de Henrique.
— Ele não se esqueceu querida, apenas está muito ocupado com o trabalho — inventei uma desculpa para amenizar sua tristeza — Olha, logo logo Antony irá nascer e você poderá brincar o quanto quiser com ele.
— Sério tia? — ela levantou o rosto dando seu melhor sorriso que fazia qualquer um ter seu coração amolecido.
— Sim, e falta pouco tempo princesa, agora vamos, se não seu pai vai acionar a polícia por que não cheguei com sua filha — ela riu da minha brincadeira, sim, Douglas seria capaz disto.
Assim que abri a porta do carro para entrar ouvir meu nome ser chamado:
— Ellie? — virei vendo Henrique em minha frente.
Ele continuava o mesmo cara descolado, as mãos no bolso, os cabelos negros bagunçado e sua postura ereta e totalmente sexy. Henrique era alto, acho que tinha uns 1.90, era forte e seu ar era de quem exalava testosterona.
Calma coração.
Você não pode resistir agora.
Respire fundo.
— Sim? — perguntei. Ele olhava para minha barriga, seu olhar continuava frio e duro.
Ah, Henrique, o que aconteceu com você?
— Precisamos conversar!
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