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Entre A Luz E A Sombra - Volume Dois

Novo inferno particular

Oi gente... essa é a parte dois da história de Martín. Antes de começar eu quero agradecer por todo mundo que tem me acompanhado aqui. Vocês se identificam com minhas histórias e se envolvem com meus personagens e eu amo isso.

Nesse livro eu vou aparar todas as arestas da vida do senhor Manson. Devo dizer que ele vai ser um pouco mais pesado do que o primeiro. Mesmo tendo abordado assuntos delicados com Lorenzo, e a psicopatia dele, no primeiro livro, eu não me aprofundei na vilania de Will. Dei a vocês uma idéia do homem mau que ele era pela história de Alex, e pelo que ele fez com Martín, mas não expus tudo porque já tinha coisa demais lá. Inclusive a violência doméstica sofrida por Adele.

Enfim... eu estou aqui pra alertar sobre a sensibilidade dos temas que serão abordados nesse livro. Wolf é o próprio mau em pessoa. Muito mais do que o irmão ou Lorenzo.

Também vou dizer que Adele aparecerá em alguns momentos narrando a história do ponto de vista dela. Como ela vinha lidando com as consequências do que Dave fez com ela, como o interesse dela surgiu por Martín e como ela vai lidar com o desenrolar dessa história.

Por fim, vou deixar brechas aqui nessas páginas para atender aos pedidos à mim feitos por uma história feliz para Alex. Vocês me fizeram ver que ela precisa e merece isso. Estou pensando em algo diferente de tudo o que já escrevi, para ela, e tenho certeza que vocês vão gostar.

No mais, sem delongas. Vamos ao que interessa!

____________________________________________

Estou estático. Não posso acreditar no que eu acabei de ouvir nesse telefonema.

É o início do meu novo inferno particular.

Trudy e Paco me encaram, mas eu não consigo nem piscar.

De repente ouço uma outra voz feminina assumir a ligação. Não se parece nada com a voz de Alex, tem uma autoridade policial no fundo do seu tom de voz.

📲🔊- Bom dia detetive Manson. Eu sou a detetive Grayves. Estou acompanhando o caso da senhorita Jhonson, e gostaria de conversar com o senhor.

Me obrigo a falar algo. Não é hora de travar.

📲🔊 - Bom dia detetive Grayves. Eu também quero conversar com você, mas prefiro fazer isso pessoalmente. No máximo em dois dias estarei aí. Se puder me aguardar, eu agradeço.

Ela concorda comigo e eu anoto o número de telefone dela e o nome do hospital onde Alex está internada.

Desligo o telefone atonito e olho pro nada. A gracinha me dá um sacode. Ela pega meus ombros e me balança com força pra fazer com que eu saia do transe.

- Anda Manson, responde! Você está me deixando louca! O que Alex falou com você no telefone que te deixou assim?

Olho pra ela.

- Alex acabou de acordar do coma, ela me disse que o irmão de Will tentou mata-la. Ele se chama Wolf...

Viro pra Paco.

-... você sabe o que isso significa?

Ele respira fundo.

- Sei sim. Foi ele o responsável por hoje e certamente está querendo me fazer gastar dinheiro denovo com o dentista.

Reviro meus olhos pra Paco.

- Isso não é hora de graça. Além do mais, não é com dentista que ele quer fazer a gente gastar dinheiro. É com a funerária mesmo!

Trudy entra na minha frente denovo quando percebe que mais uma vez eu perdi o foco.

- O que você vai fazer agora? Pelo que entendi, quer ir até lá. Não é?

- Quero sim, preciso entender o que aconteceu. Também preciso saber se ele fez o que fez com Alex foi por causa do envolvimento dela comigo, ou porque ela pegou tudo de valor e sumiu, sem se importar com o "namorado" dela.

Eu espero de verdade que não tenha nada a ver comigo essa história, porque dessa vez eu acho mesmo que vou enfiar uma bala na minha cabeça. Só assim eu vou garantir que não vou mais colocar ninguém em risco. Porque é isso que eu faço com as pessoas que estão ao meu redor, sempre por minha culpa elas estão em alguma situação horrorosa.

Preciso conversar com James.

Peço licença pra gracinha e chamo Paco pra ir junto comigo até a sala dele.

- James, eu preciso de um licença. Pode ser não remunerada, você sabe que isso não é problema pra mim. Pra Paco também.

Os dois me olham sem entender.

- E qual o motivo de você estar me pedindo essa licença?

Respiro fundo e conto a ele o que eu acabei de fica sabendo.

- *Mas que merda! Será que eles não vão desistir nunca? Quantos mais dessa família a gente vai ter que m*tar*?!

Paco interrompe nosso raciocínio.

- Por que eu tenho que ir?

- Ai Paco, você é tão esperto para algumas coisas, mas pra outras. Não dá jeito... ninguém merece! Você vai comigo pra gente caçar esse infeliz, por isso e por outras coisas. Quero garantir a segurança de Alex também.

James me diz que vai falar com a psicóloga do distrito e jogar uma história de que estamos abalados pelo que aconteceu.

- Escuta Martín, sei que não é o mais indicado mas vamos almoçar em algum lugar? Eu estou precisando comer.

Dou uma risada. Paco é inacreditável...

- Vamos lá. Além do mais, ele não deve tentar nada hoje denovo.

Saimos no carro dele, porque o meu foi com Deus.

Já estamos sentados quando ele fala comigo.

- Estou pensando no que vou dizer a Aileen. Não vai ser fácil.

Era sobre isso que eu não queria falar.

- Acho que não é bom contar nada sobre isso. Sabe Paco, as meninas vão querer ir atrás. Isso não e bom pra elas, não é seguro.

Ele passa as mãos pelo cabelo e depois olha pra cima.

- É, você tem razão.

*********

Estamos saindo do restaurante e indo em direção ao carro dele no estacionamento. É quando nós vemos uma pessoa conhecida, uma não, duas.

Estreito meus olhos.

- Paco, aquela alí não é a Serenity junto com aquela garçonete loira que andava seminua pelo Danger?

Olho pra ele e meu parceiro está fazendo a mesma cara que eu. Ela está saindo de dentro de um carro que acabou de estacionar.

- É Dove, e sim, é ela mesmo. Só que...

Paco está reparando o mesmo que eu. A barriga de grávida que Dove está ostentando. Ela deve estar por volta dos quatro meses. Usa um vestido longo e estampado em um modelo confortável para o corpo dela.

- Paco, pelo amor de Deus... me diz que ela se prevenia, ou que vocês usavam camisinha.

- Ela não pode tomar anticoncepcional, nós sempre usávamos camisinha. Teve uma vez que estourou e ela não dirigia, aí me pediu pra levar ela em uma farmácia. Eu comprei uma pílula do seguinte pra ela e uma garrafa de água mineral. Ela estava tão desesperada pra acabar com a chance de engravidar sem querer, que tomou o remédio dentro do carro mesmo, não se importando no quanto ia passar mal pelo hormônio. Você não sabe a cara de alívio que ela fez. No outro dia quando eu liguei pra ela, Dove estava péssima, eu fui até a casa dela e ela estava mal por causa do remédio.

Meu Deus do céu.

- Pois parece que a pílula falhou. É isso ou ela estava trnsando com você sem preocupando e com outro cara sem se preocupar**. Está dirigindo agora por causa do bebê, com certeza, não dá pra ficar dependendo de carro de aplicativo e táxi***.

Como Paco mesmo me disse uma vez.

Desgraça pouca é bobagem.

Ele vai andando até ela e eu vou também.

Dove e a amiga se assustam quando vêem nós dois

- Dove, preciso falar com você.

Ela desvia enquanto responde.

- Eu não tenho nada pra falar com você, Paco.

Meu parceiro corre e entra na frente dela.

- Essa criança é minha?

Dove levanta o rosto e encara Paco com raiva.

- Não, essa criança é MINHA!

Desgraceira!

A resposta dela foi mais do que suficiente.

Ele fecha os olhos por um instante. Depois pega a carteira e tira um cartão com o número o telefone dele.

- Escuta, eu vou ter que sair da cidade e não sei quando volto. Agora mais do que nunca eu tenho que resolver um problema, não posso colocar esse bebê e você em risco. Mas apesar disso eu quero que você me ligue, que me mantenha informado enquanto eu não voltar, quero arcar com as coisas também, mesmo que nesse primeiro momento eu esteja longe.

Dove tenta sair de perto dele, mas Paco não deixa.

- Você vai pegar esse cartão sim, Dove. E nem pense em sair daqui, você vai ter que fazer pré natal. Eu vou te achar, você sabe que eu tenho meios pra isso. Uma passada de rádio e eu te acho em qualquer lugar que esteja. Me manda uma mensagem pra eu salvar seu número.

- Sai da minha frente Paco!

Ela vai batendo o pé, mas a amiga pega o cartão com ele.

- Como você se chama?

- Eu sou a Brookye. Pode deixar que eu vou convencer ela a te ligar, eu acho um absurdo Dove não querer você participando.

Estamos em um raro momento em que Paco não tem nada pra dizer. Ele me pediu pra dirigir de volta pra delegacia.

Nossa, isso vai complicar muito as coisas. É uma pressão a mais na vida dele.

*********

- O que você tem meu bem?

Adele está chamando a minha atenção. Ela me trouxe pra casa e está fazendo alguma coisa pra gente comer.

Estou absorvido em tudo que aconteceu hoje. Muita coisa pra digerir. Começamos o dia com um homicídio nas mãos, depois tentaram nos m*tar, aí deu descubro que quem tentou me matar foi o irmão de Will e que ele tentou m*tar Alex também. E pra fechar com chave de ouro: Paco vai ser pai!

Ele ficou aéreo pelo resto do dia.

E eu estou agora.

- Nada meu bem, só estou pensando em tudo que aconteceu hoje.

Ela desliga o fogo e vem pra me abraçar enquanto estou sentado em um dos bancos da cozinha.

- Não pensa mais nisso. Estou feliz demais e muito grata por você estar aqui comigo, ficar sem você seria um inferno pra mim.

Adele me beija e eu só consigo pensar no tanto que as coisas vão piorar daqui em diante.

Mas agora eu quero deixar ela feliz comigo. Nós esclarecemos o assunto sobre Dave e ela me perdoou por não ter contado nada do que queria fazer.

- Eu te amo Adele, não esqueça disso nunca.

Ela abre um sorriso pra mim enquanto faz carinho no meu rosto.

- Não vou esquecer meu bem. Pode deixar.

Eu espero que ela não esqueça mesmo.

Abrindo mão dela

🔞 ATENÇÃO ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS QUE NÃO SÃO APROPRIADAS A TODOS OS PÚBLICOS 🔞

- Calma meu bem, eu não vou fugir.

Adele fala comigo enquanto eu estou beijando cada parte do corpo dela. Estou desesperado por esse contato, afinal...

- Eu sei que não, mas a perspectiva de ficar sem você me fez ter necessidade de algo mais intenso hoje.

Ela enrosca as pernas em mim enquanto eu entro fundo nela. Mantenho o ritmo acelerado e Adele puxa meu cabelo enquanto geme do jeito que eu gosto de ouvir ela gemer.

- Ah Martín, eu não vou aguentar muito tempo.

Saio do corpo dela e volto em um tranco. Começo denovo, mas devagar dessa vez.

- Não se segura meu bem, você sabe que eu sou capaz de te dar isso a noite toda.

É o que eu quero fazer hoje.

Quero não, PRECISO!

Ela g*za pra mim e eu a viro rápido de bruços na cama. P*n*tro devagar, vou sem pressa. O objetivo agora é prolongar a sensação de prazer nela. Mordo o lóbulo direito de Adele com delicadeza e depois falo de um jeito sussurrado:

- Eu te amo.

Ela se contorce em baixo de mim.

- Eu te amo mais.

Passo o tempo todo fazendo carinho em Adele. Aproveito bem cada minuto ao lado dela, como se ela fosse o último paraquedas de um avião caindo em meio ao monte de pedras, e eu, o último tripulante à se salvar.

*********

Estou olhando pro teto enquanto Adele dorme no meu peito. Eu tento segurar, mas não consigo, é inevitável. Acabo chorando.

Mas é o melhor pra ela. Não posso ser egoísta e pensar só em mim.

********

- À que devo a honra da sua visita Martín?

Aperto a mão de Waltter quando ele se levanta pra me cumprimentar.

- Infelizmente eu não tenho um assunto tão bom pra tratar com você. Decidi te procurar porque vou precisar da sua ajuda. Eu estou saindo da cidade Waltter, e é para o bem de Adele.

Ele levanta as sobrancelhas em um primeiro momento, depois franze a testa pra mim.

- Por que você vai deixar ela?

Respiro fundo.

- Porque eu estou sendo caçado como um cervo, e não posso permitir que Adele tenha nas costas o mesmo alvo que eu tenho agora. Muito menos posso permitir que aconteça com ela o que aconteceu com Wanessa. Ela vai sofrer, eu sei. Mas é melhor sofrer viva, e uma hora se curar, do que tudo se acabar pra ela. Adele é jovem e tem a vida toda pela frente. Pode ser que amanhã eu não esteja mais aqui, e ela não merece nada disso.

Waltter esfrega o rosto com a mão direita.

- Tudo bem, eu vou cuidar dela. Você vai pra onde agora?

- Prefiro não te falar nada, é pra sua segurança também. Se você não se importar, quero te pedir mais um favor...

**********

Quando chego na delegacia James está me esperando na minha mesa.

- Martín, chegaram duas caixas de isopor endereçadas à você. Vem comigo, Paco já está lá dentro.

Eu o sigo até a sala dele e quando entro avisto as tais caixas em cima da mesa dele. Também vejo um detector de metais, daquele tipo que é usado em revistas de aeroportos, ao lado delas.

- Mark passou nas duas. Você sabe, pra garantir que não tenha nada aí que possa detonar.

Coloco um par de luvas de látex brancas e uma máscara. Meu coração acelera enquanto ponho as mãos na primeira.

Quando abro eu sinto minha alma sair do corpo. Vejo a cabeça de Garcia apoiada em vários cubos de gelo. A língua dele foi cortada e posicionada do lado.

- *Mas que p*rra*!

Paco está apoiando as mãos nos joelhos enquanto flexiona o tronco pra não continuar olhando. Não consigo abrir a outra e Mark faz isso.

Dessa vez é a cabeça de Vincent que aparece. Os olhos azuis dele foram arrancados e colocados ao lado também.

Ouço James dizer:

- Fecha essa merda Mark, ou eu vou vomitar.

O clima está pesado e um frio tomou conta do ambiente.

É a morte passeando no meio de nós na sala.

Vejo um envelope de papel pardo com meu nome, e mesmo não querendo, eu abro.

📝 Olá Martín.

Você ainda não me conhece, então eu resolvi me apresentar. Eu sou a alma perdida que me importava com Will, e que você disse que ia ter que velar o corpo dele de caixão fechado. Eu estava presente no momento em que você disse isso por telefone. Como você permitiu que eu visse o rosto do meu irmão uma última vez em um caixão, eu vou permitir que seu pai e sua madrasta vejam o seu também. Sou um homem justo. Espero que tenha gostado do meu cartão de visitas. Garcia teve o que todo X9 merece: a língua arrancada! Já Vincent pagou caro pela falta de atenção que teve.

Estou ansioso pra te ver pessoalmente.

O jogo começou senhor Manson. Que vença o melhor...

^^^Wolf Montenegro.^^^

Desabo na cadeira. Preciso ir embora dessa cidade agora.

- James, você conhece algum serviço de táxi aéreo?

Ele olha pra mim e responde que sim. Pega o telefone e liga pra alguém.

Olho pra Paco e ele está sem conseguir piscar.

- Nós vamos hoje a noite. Preciso resolver uma última coisa antes da gente cair fora daqui.

********

O dia está chegando ao fim.

Passei a quinta feira toda zanzando pela cidade e organizando as coisas. Suspendi os serviços de internet e tv à cabo. Deixei a água e a luz no débito automático, e providenciei dois quartos de hotel em Manhattan. É onde Alex está.

Agora estou organizando duas malas grandes com documentos, roupas e uma quantia em dinheiro que saquei no banco quando fui conversar com Waltter. Paro olhando para as coisas de Adele e pego o vidro de perfume. Quero sentir algo que me lembre dela. Talvez quando eu volte ela não me queira mais.

💭 Se você conseguir voltar, Martín💭

*********

- Você vai viajar Martín?

Frank me pergunta assim que me vê entrando no consultório com as duas malas.

- Viajar não é a palavra certa Frank. Eu estou indo embora.

Meu psiquiatra se assusta ao ouvir essas palavras.

- Por que?

Me sento no divã de frente pra ele e abro as comportas. Conto tudo. Inclusive o que estou indo fazer.

- Martín, você precisa falar com Adele. Sabe o que vai fazer com ela tomando essa atitude?

Fecho os olhos tentando conter a dor no meu peito só por pensar nisso.

- Eu sei Frank, mas sei também o que vai acontecer se eu continuar aqui. Adele vai correr risco real de vida estando do meu lado. Eu simplesmente não posso fazer isso com ela. Ela tem pais amorosos e uma avó já em idade avançada. Adele tem tudo que precisa ao redor dela pra se esquecer de mim se eu não conseguir voltar... se aquele maldito conseguir me matar. Olha Frank, eu preciso que você cuide de Adele também. Eu já pedi isso ao pai dela. estou contando com sua ética profissional pra não dizer nada a ela, como também não me disse aquela vez sobre Dave. Faça isso por mim. Se não quiser fazer por mim que sou um idiota, faça por ela.

Ele cruza as pernas e retira os óculos de grau. Faz um um instante de silêncio enquanto aperta a ponte do nariz, e depois me olha ao responder.

- Tudo bem Martín. Vou fazer isso por vocês dois, apesar de não concordar com a sua decisão de ir sem falar nada.

********

Antes das turbinas do jatinho que aluguei ligarem, eu recebo uma ligação de Adele. Com muito custo consigo não atender.

Ela me manda uma mensagem.

📲 - Está tudo bem com você? Sumiu o dia inteiro. Eu te amo senhor Manson ❤️

Não vou responder também.

A partir de hoje vou me matar no coração de Adele aos poucos. Vai me causar um sofrimento danado, e à ela também.

As vezes é preciso abrir mão daquilo que você tanto quer, daquilo que você tanto ama, justamente por amor.

Adele parte 1

Estou ansiosa para o meu primeiro dia de trabalho no instituto de perícia. Finalmente consegui avançar nesse meu sonho e dar início à minha realização pessoal.

Chego no prédio de tijolos vermelhos e toldo verde. É segunda bem cedo e hoje eu tenho consulta com meu psiquiatra.

A recepcionista de cabelo roxo me dá bom dia e diz que eu posso entrar.

- Bom dia Frank!

Ele abre um sorriso pra mim.

- Bom dia Adele. Vejo que está animada para o primeiro dia de trabalho.

Me acomodo no divã antes de responder.

- Estou sim. Significa muito pra mim, consegui isso por mérito próprio. Sem influência alguma do meu pai.

- Não duvidei em momento algum que pudesse fazer isso.

Olho pra cima tentando conter o pensamento ruim. Meu terapeuta me conhece bem.

- Não pense em Dave, Adele. Ele já ficou pra trás, junto com aquela versão sua que acreditava em todas as barbaridades que ele te falava.

É, Frank tem razão. Não posso deixar as tentativas daquele maldito, de me me fazer acreditar que eu nunca seria mais do que uma filhinha de papai, tomarem conta da minha mente. Hoje é um dia feliz.

- É, está certo.

- Me fale sobre suas expectativas com o novo trabalho.

*********

Chego ao prédio perícia sentindo a adrenalina a mil.

Ando pelos corredores depois de me apresentar na recepção, e logo uma mulher de cabelo preto e curto, vem falar comigo.

- Oi, você deve ser a Adele. Eu sou Lucile Amstrong, a perita chefe do setor de tecnologia. Seja muito bem vinda.

Aperto a mão dela e respondo:

- Sou eu mesma! Prazer em conhecê-la Lucile.

Ela me acompanha até a sala de trabalho e logo estou envolvida em um HD de um cara que era um golpista de mão cheia e foi ass*ssinado. Aposto que foi alguém que ele enganou que fez isso.

- Bom dia, preciso saber com quem o HD do estelionatário está.

Ouço uma voz forte e quando levanto minha cabeça, vejo um cara alto e sério em pé na sala. Está vestindo uma polo azul e calça jeans, tem um coldre na cintura com um distintivo do lado esquerdo, e do direito uma arma semi automática.

💭Meu Pai do céu, que cara gato...💭

Ele não deve ter mais do que trinta e cinco, mas tem um cabelo que é grisalho no encontro do cavanhaque, e a barba também tem alguns fios brancos. Isso faz ele ter um ar de mistério, e o deixa mais gato ainda. Tem uma pele bronzeada, bem como muitas pessoas daqui que tem origem latina.

- Está comigo.

Ele faz um gesto contido de cabeça e me agradece quando pega o pen drive com o que eu consegui reunir até agora.

Quando ele vai embora eu vejo algumas colegas de trabalho cochichando sobre ele.

- Ele é lindo, não é? Você precisa ver esse homem de terno, faz as pernas bambearem.

Me viro pra Lucile.

- É, ele gato mesmo. Mas parece ser muito sério.

Ela faz uma careta de pesar.

- Martín não era assim, era muito sociável e vivia sorrindo. Era casado com uma mulher lindíssima, os dois faziam um casal e tanto. Ele era fascinado com ela, era perceptível nas festas de polícia e nos churrascos na casa do Mark, um outro policial, os dois sempre estavam alegres juntos. Mas ela morreu há pouco menos de um ano em um acidente de carro, e ele ficou assim.

Nossa, esse tipo de coisa é horrível. Imagina encontrar sua alma gêmea e ela ser arrancada assim, de uma vez?

Volto a minha atenção para o trabalho e sigo até o final do dia.

*********

- Oi minha princesa. Como foi o primeiro dia?

Dou uma abraço no meu pai assim que o avisto pilotando o fogão junto com a minha avó Júlia.

- Foi ótimo pai! E o seu dia?

Ele enxuga as mãos com um pano de prato.

- Ah, foi bom. Só teve uma hora meio chata. Tem um policial que trabalha no mesmo distrito que o seu, ficou viúvo há pouco tempo e herdou uma fortuna da esposa. Vi nos olhos dele que trocava cada centavo pra ter ela de volta.

Será que é quem estou pensando?

- Ele se chama Martín?

Ele me pergunta se eu conheço e digo que ele esteve no prédio hoje e me contaram por alto a história dele.

- Isso mesmo, o sobrenome dele é Manson. Eu era amigo dos pais de Wanessa, a mulher dele. Enquanto eu conversava com ele, me lembrei de sua mãe e em como ficaria arrasado sem ela.

Minha vó entra na conversa.

- Não pensa nisso Waltter, atrai coisa ruim Agora para de enrolar e pica esses tomates pra mim.

Dou um abraço nela e subo pra tomar um banho antes do jantar. Estou moída da aula de Krav maga de hoje.

Comecei a fazer quando estava com Dave ainda, mas nunca fui capaz de usar pra me defender. Agora é uma parte complementar da minha terapia.

**********

- Oi Adele, bom dia. Você pode me ajudar com esse celular?

Tem quase sete meses que eu estou nesse instituto e já me acostumei com tudo aqui. Menos com Martín quando vem pedir algo aqui no setor de T.I. Especialmente quando ele está de terno, como hoje.

- Oi Martín, bom dia. Posso sim, do que você precisa.

Ele age como sempre. Contido e poucas palavras.

**********

Estou sentada na copa aproveitando minha pausa pro café. É quando uma moça simpática de olhos azuis vem falar comigo.

- Oi, você é a Adele?

Digo que sou sim e ela se apresenta.

- Desculpa te incomodar na hora do café, eu sou Aileen. Sou nova aqui e me disseram que você é a melhor pra decodificar aparelhos celulares. Você me ajuda com esse?

Ela me mostra o saco ziploc padrão de coleta de evidências.

- Claro!

Aileen veio de transferência do Alabama.

- O que te fez mudar pra cá?

- Eu estava cansada daquele lugar. Queria uma mudança na minha vida.

Ela é bem legal e nós conversamos bastante. Acabamos desenvolvendo uma amizade.

Parece que ela encontrou um antigo colega de academia e que trabalhava em outro distrito lá onde eles moravam.

- Quer ir almoçar comigo e com Paco?

Aileen me chama chegando da porta da sala.

- Não vou poder. Estou abarrotada de trabalho, em outro dia eu vou.

*********

- Escuta, Adele.

Olho pra Aileen.

- Hum?

- Vamos sair esse sábado? Paco vai ir com um amigo e eu não quero ficar deslocada no meio deles.

Me lembro que marquei com um carinha amigo de faculdade.

- Já marquei com um peguete meu.

- Ah Adele, você vai me deixar sozinha? Vê esse seu peguete depois.

Reviro meus olhos pra ela.

- Tá, eu vou. Mas vou por você!

**********

- Mulher, como você está linda!

Aileen me olha quando eu fico pronta.

- É a minha personalidade dois.

- Esse tom de vestido fica lindo com a sua pele.

Estalo a língua pra ela.

- Olha só quem fala, você está maravilhosa.

Nós pegamos um Uber e vamos em direção à Gore, não contei pra Aileen ainda sobre ser da minha família. Vou fazer uma surpresa pra ela.

Quase tenho um ataque cardíaco quando vejo quem está parado na frente da boate.

Martín está gato demais com um uma camisa de botão e mangas curtas em tons de azul.

💭 Eu preciso pegar esse cara💭

Aileen me apresenta a Paco e ele é um cara bem bonito também Mas meu foco todo está no senhor Manson. Nunca pensei que fosse encontrar com ele em uma balada.

Ele não me reconhece. E fica bastante surpreso quando eu digo quem eu sou.

Nós entramos na Gore e eu descolo um vip pra nós quatro.

- Oi Bart, preciso de quatro pulseirinhas. Você deixa um garçom avisado pra me servir na pista?

Ele abre um sorriso pra mim.

- Claro Adele!

Depois de um tempo Aileen e eu fomos pra pista de dança.

- Você já conhecia o Martin?

Ela grita por cima da música.

- Já sim! Ele vai de vez em quando lá no instituto me pedir alguma coisa. Ele é gostoso demais!

Aileen ri pra mim.

- Então aproveita que ele está aqui e faz seu nome gata.

É o que eu tento, mas ele não me dá brecha. Ele é fechado demais.

Mas ele é um cavalheiro também, faz questão de me deixar em casa.

💭 Ai Adele, esse homem é areia demais pro seu caminhãozinho 💭

*********

- E aí? Rolou alguma coisa entre você e Martín?

Olho pra minha amiga. É uma segunda de manhã e nós estamos pegando um café na copa.

- Não. Ele não me deu abertura.

- Chama ele pra sair, vai que cola.

Digo a ela que vou tentar e Aileen me manda o número dele. Ainda enrolo um pouco, mas depois tomo coragem.

Pro meu espanto, ele aceita.

Os dias vão passando e os três resolvem se matricular na mesma academia de luta que eu. É um espetáculo ver Martín de regata.

Fiquei sabendo de um lance chato que rolou com ele e aproveito a brecha pra perguntar se ele quer cancelar o jantar.

Quando ele diz que não eu vou embora ansiosa.

Mas aí acontece uma merda sem tamanho.

Um louco psicopata aparece aterrorizando o nosso distrito e um vizinho. Martín está envolvido com a investigação e eu fico sabendo da história toda.

É um sábado a tarde quando ele me liga, e eu já sei que ele quer cancelar.

A conversa está até tranquila, até que ele decide me dispensar como se eu fosse uma adolescente desesperada.

Imbecil!

Botei ele no lugar dele.

💭 Quer saber? Nem era tão interessante assim💭

Pior que é sim. E pro meu desespero, eu tenho pensado muito nele. É um cara interessante, bem diferente de todos que já conheci. Eu sempre fico com homens da minha idade, e ele me despertou interesse. Só que Martín parece interessado em alguém e obviamente me dispensou por ela. Enfim, vou ficar na minha. Não quero mais correr atrás de ninguém.

**********

É domingo de manhã e Aileen me manda uma mensagem.

📲 - E aí, como foi o jantar?

📲 - Não foi. Ele não estava bem pra sair. Foi tudo uma loucura na sexta.

📲 - Ah, é mesmo. Mas vocês remarcaram?

📲 - Não amiga, ele me tratou como uma emocionada...

Conto pra Aileen toda a nossa conversa.

📲 - Ah, deixa pra lá. Quem perde é ele.

*********

- Vai Adele, soca com vontade! Você está muito mole!

- Dá um tempo, Janks. Meus braços estão moles já.

Mas ele não tem dó de mim. Meu amigo continua me acelerando.

- Olha, o pessoal chegou.

Me viro pra olhar, e quando vejo Martín, eu ganho o gás que precisava pra usar toda minha força no saco de areia. Ainda estou p*ta com ele.

Depois que a aula acaba ele vem falar comigo. Mais uma vez me tratando como se eu fosse uma adolescente.

Me afasto dele depois de fazer um carinho em seu rosto e vou embora.

💭 Você vai ficar longe desse cara Adele. Ele mexe com você de verdade💭

Fixo essa idéia na mente e decido me manter o mais afastada possível dele. Nego todos os convites de Aileen pra ir almoçar. Não quero bancar a louca.

Mantenho o profissionalismo no instituto quando Martín aparece, e mesmo ele estando absurdamente gostoso todas as vezes em que o vejo, eu não chego perto nem fora do horário de trabalho.

É pelo bem da minha saúde mental e emocional.

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