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Eu Sou A Fênix

Prólogo

Meu nome é Yasmin Santos Barreto, tenho 24 anos e atualmente moro em São Paulo. Mas nem sempre foi assim. Eu sou nascida e criada na Região Metropolitana de Belo Horizonte -MG. Posso dizer que é zona rural, porque é um lugar pacato, cercado de mato, com muitas fazendas, sítios, bicho solto no meio da rua. Apesar de ser uma cidade sem muitos recursos, sempre foi um lugar tranquilo de se viver. Vim para São Paulo com 19 anos, para tentar ser alguém na vida. O sonho era tirar o diploma do Ensino superior, conseguir uma boa profissão , melhorar a vida das pessoas que amo.

Venho de uma família muito humilde, meus pais não tem estudo e pra falar a verdade, na minha família inteira, ninguém tem.

Fui criada com meus avós senhor Otacílio e dona Joana; pensa num casal que gostava de fazer filho haha! Há quem brinque, dizendo que na época deles não existia televisão! Bom, até existia, mas ter dinheiro para comprar, aí é outra história. Tiveram 11 filhos. Eles me consideram a 12°, pois por uma boa parte da minha vida, eles foram os únicos que me deram amor de pai e mãe.

Minha mãe, Sueli, ficou órfã de mãe muito cedo, aos oito anos de idade e sendo seu pai um alcoólatra, ela foi criada por uma tia, que não era tia de sangue, mas cuidou e amou como se fosse. Ela foi apaixonada por um rapaz que era amigo da família, porém ele a trocou por uma rica, e ela ficou só, por muito tempo, ela teve a esperança de que ele reconsiderasse, mas vendo que isso não aconteceria, desistiu. Conheceu meu pai, Otávio, e em seis meses de namoro, engravidou de mim. Papai não era muito instruído e como nunca havia conversado abertamente sobre proteção, acabei sendo concebida sem planejamento algum. Naquele tempo, gravidez antes do casamento era sinal de desonra. Então tiveram que se casar logo.

Meu pai fez uma casinha, aos fundos da casa dos meus avós. Nesse tempo meu avô materno faleceu e minha mãe usou o dinheiro da venda do terreno dele para pagar o casamento. Imaginem o desgosto né! Ela pensava que, já não bastava casar com homem pobre, estar grávida, ainda teria que usar a única coisa boa que recebeu do seu pai, para se casar.

Enfim, quando nasci, ela não quis me amamentar. Tinha nojo, ela dizia que revirava o estômago imagina que alguém beberia fluidos que saiam do seu corpo, mas na realidade, eu acho que ela se enjoava só de me ver. Então papai comprava fórmula e minhas tias me davam mamadeira. Fui crescendo assim, mais com minha avó e minhas tias.

Sueli trabalhava a noite e dormia o dia todo, a essa altura, eu já tinha uns 4 a 5 anos. Papai trabalhava viajando. Vinha de quinze em quinze dias para casa. Quando ele chegava, sempre trazia algum mimo para mim. Ele era carinhoso, mas sei que sentia falta de algo, pois minha mãe, deixava claro que não o amava e que só havia se casado por causa da gravidez. Ele tentava não transparecer, mas era infeliz. Em contra partida, descontava tudo no álcool e no cigarro. Nunca deixou faltar nada em casa, mesmo não conseguindo nos dar muito conforto ou luxo.

Apesar de trabalhar muito, papai não tinha estudo, então o salário não era grandes coisas. E ela jogava isso na cara dele sempre que podia. Que o emprego dela era melhor, que ela ganhava mais, embora nem ganhasse tão bem assim! Acho q ela só fazia isso, pelo prazer de diminui-lo mesmo.

Fui crescendo assim, e tive que aprender a me virar com o que tinha. Mas uma coisa eu sempre prezei, os meus valores. Meus avós faziam questão de me dizerem sempre: " minha filha, haja o que houver, nunca perca sua essência e sua honestidade."

Passei poucas e boas que irei contar aqui, mas já adianto que tem algumas coisas bem pesadas. Se você tem estômago fraco ou perde o sono muito fácil com histórias de abusos, violência e sofrimento, nem perca seu tempo ouvindo a minha. Mas se você conseguir ler, garanto que vai descobrir que o desígnios de Deus são realmente um mistério, e conhecer uma história linda de superação, perdão, reencontros e muito, muito amor. Além de alguns episódios bem picantes, porque não sou de ferro né?!?

Capítulo 2

Acorda! Acorda! Acorda!

Abro meus olhos ainda sonolenta, tentando me situar. Ah não, o que essa pirralha quer. Penso em como estou cansada, meus olhos não querem abrir, estão pesados demais. Sinto tanto sono, mas respondo assim mesmo.

- O que é? Pelo amor de Deus, são 6 horas da manhã, eu dormi tarde e estou cansada, meu corpo está moído, parece que um caminhão passou em mim.

- Tô com fome! Muita fome, muita mesmo.

Minha irmã era simplesmente insuportável, não bastasse eu ter que cuidar de mim, passei a cuidar dela desde que ela nasceu. Eu tinha 7 anos. Não sabia cuidar nem de mim direito.

Em um ponto até que foi bom, cuidando dela eu não ficava sozinha, e aquele homem não conseguia se aproximar de mim com tanta frequência mais.

- Tá bom, vem logo tomar seu café.Mas depois, vamos ficar deitadas aqui, bem quietinhas, pelo menos até minha cabeça parar de doer. O papai que bebe e eu que fico de ressaca. Eu hein!

- Ebaaaa! Você é a melhor, bem que podia ser minha mãe haha. Você cuida de mim, me dá carinho, enche minha barriga.

Vejo seus olhinhos azuis, tão inocente, tão doce. Como consegue me tirar o sossego e me dar paz ao mesmo tempo.

- Tá doida é? Só tenho 12 anos. E eu nunca vou querer filhos. Não tenho psicológico pra cuidar de mais ninguém.

Levanto e levo Mariana para tomar café, ela tem apenas 5 anos e já consegue perceber que nossa mãe não tem muito sucesso nessa função.

Após o café, fazemos nossa higiene, arrumo seus cabelos que são dourados e cacheadinhos, iguais aos meus, porém, como ela ainda é bem novinha, os seus são mais curtos e os meus são enormes. Aliás, temos as mesmas características porém somos bem diferentes. Temos olhos azuis e somos loiras de cabelo cacheado. Pele branquinha como a neve. Porém ela sempre foi magrinha e eu sempre fui gordinha. Ela é muito franzina e eu tenho me desenvolvido rápido demais. Ela é tagarela e eu sou mais calada. Vai entender.

Esse dia foi atípico, pois estudo de manhã e geralmente neste horário, ela está com minha avó. Porém, não tive aula hoje e resolvi passar mais tempo com ela. Sei que ela sente falta de companhia, de carinho, de brincar mais. Criança nenhuma deveria ser obrigada a amadurecer tanto antes do tempo.

Quando estamos juntas, aquele homem não vem. Odeio ele, mas não posso contar. Ele mataria a minha família. Uma lágrima rola em minha face, e sinto sua mãozinha a segurar meu rosto.

- Hey! Não chora, eu que sou a criança aqui. Você já tá ficando velha, não pode chorar.

- Só estava me lembrando de como é bom ter você.

Ela me abraça. A gente briga bastante, eu sou muito mandona e ela é atrevida. Também, o que esperar de uma ariana e uma capricorniana vivendo juntas.

Passamos o dia brincando e ela foi dormir. Deixei ela na cama e fui tomar um banho. Nesse momento, sinto que alguém está me vigiando. Mas estávamos sozinhas em casa, então acho que é coisa da minha cabeça. Já fazem meses que aquele homem asqueroso me deixou em paz, não gosto nem de lembrar as coisas que ele fazia comigo.

Saio do banho e já são 15 horas. Resolvo acordar Mariana, senão ela não dorme a noite e eu que lute.

Quando fiz 10 anos, nos mudamos da casa dos meus avós. Papai havia conseguido emprego de caseiro e agora moramos juntos. Minha mãe até tenta, mas é nítido que não nos ama. Faz comida tocada, mostrando que se sente obrigada, não arruma a casa, não brinca com a gente e nem tem carinho com a Mariana.

Saio dos meus pensamentos , acordo ela e vou adiantar a janta.

Já deu pra notar que sou uma mistura de Cinderela, com Gata Borralheira com sei lá mais o que.

O tempo vai passando e um dia, meu pai entra todo feliz em casa com minha mãe.

- Vou ser pai denovo! Agora vai ser um garotão, não é possível.

- Não acredito! Mais um pirralho pra eu olhar. Vocês não pensam não??? Falo enraivecida.

Sinto meu rosto arder. Sim, minha mãe me desferiu um tapa.

- Olha aqui garota, se eu quiser ter 10 filhos eu vou ter e enquanto você morar debaixo do meu teto, vai olhar eles sim.

Vou deitar chorando. Até quando meu Deus. Até quando vou precisar aguentar isso? Adormeço...

Capítulo 3

Os meses se passaram e meu irmão nasceu. Não é que papai estava certo? Era um menino. Otacílio Neto, em homenagem ao meu avô.

Estou com 13 anos e vivo cansada. Dei até uma emagrecida. Não é fácil cuidar de 2 irmãos e fazer serviço de casa.

Sueli parece estar mudando, ajuda mais, da atenção pra gente. Embora para mim, sempre são migalhas. Não sei o que pode ser, mas espero que melhore mesmo. Como pode uma mãe ser tão fria com os filhos, a ponto de bater no rosto e deixar marcado pelo corpo, deixar ajoelhado em grãos de milho.

Sinto uma mãozinha em meu rosto e uma risada gostosa, Otacílio está cada dia mais sapeca.

- Oi bebê, vamos tomar uma mamadeira?

Ele não entende nada, tem 2 meses apenas. Mas eu sinto tanto carinho por ele. Tento ser para meus irmãos o que minha mãe não foi pra mim. Com mais uma criança em casa, a Mariana tem passado muito tempo com o papai. Ele percebeu que não estou dando conta. Mas tenho medo que aquele homem faça algo a ela. Fico sempre em posição de guarda.

Termino a rotina da manhã e preciso sair, tenho trabalho de escola.

- Pai, vou na casa da Júlia fazer um trabalho de português. Não demoro, tem comida pronta. Só esquentar. Vou deixar o Otacílio na vovó. Fique de olho na Mariana hein!

- Yasmin, as vezes até esqueço que você é tão nova. Se não fosse você eu estaria perdido.

Sua expressão é cansada, está todo suado. Ele trabalha muito.

- O pai, um dia o senhor ainda vai ter muito orgulho de mim. Vou poder dar uma vida melhor ao senhor, vai parar de trabalhar tanto.

Nos abraçamos e confesso, choramos um pouquinho.

Depois de 1 hora, estou na casa da Júlia. Ela é minha melhor amiga. Nos conhecemos desde q barriga das nossas mães. Somos inseparáveis. Porém, sempre ela que vai pra minha casa, pois a sortuda é filha única e eu tenho 2 irmãos pra criar. Ir pra casa dela da muito trabalho, então venho bem de vez em quando. Ela mora em frente a casa dos meus avós, por isso deixo o Neto lá. Ah! Neto é como chamamos meu irmão, pra diferenciar do vovô.

- Juliaaaaaa! Você não está prestando atenção no trabalho. Já já tenho que ir embora e estou fazendo tudo sozinha. Meu Deus! Antes tivesse feito em casa.

- Calma Yasmin, credo! Só estou pensando em algo mais legal.

- Sei, no mínimo é homem. Te aquieta menina, você só tem 13 anos também.

- 13 anos e 11 meses, não se esqueça.

Faço língua pra ela. Meu Deus, essa menina ainda vai dar muita dor de cabeça pra tia. Chamo a mãe dela de tia, pois afinal, me atura a tantos anos que já é da família.

Termino o trabalho, fiz quase tudo sozinha. Me despeço de todos, junto os materiais e quando estou saindo na porta, trombo em alguém. Meu Deus, parece uma muralha.

- Hey! Olhe por onde anda menina. Pode se machucar.

- Me... me... me desculpe!

Olho para ele. Como é lindo! Olhos verdes folha seca, cabelo castanho, pele branquinha. Alto, esse homem deve ter no mínimo 1,90 de altura. Jesus me abana.

- Relaxa loirinha! Isso acontece, só preste mais atenção, imagina se fosse um poste.

- É quase né. Começo a gargalhar sem graça.

- Prazer, me Chamo Ricardo Drumond.

- Prazer, Yasmin Barreto!

Vou embora e fico com aquela cena na minha cabeça. Como posso ser tão atrapalhada?

Ligo pra Júlia e pergunto quem era aquele Deus grego em sua casa.

- Meu primo! Na verdade, ele quase não vem aqui. mora em São Paulo. Só veio porque minha avó está doente.

- Ah! Bem que estranhei, conheço sua família toda e nunca vi ele .

- Bem gato né? Acho que ele gostou de você. Ficou perguntando muito a seu respeito.

- Julia! Eu sou uma criança. Não penso nessas coisas. Preciso estudar, pra sair dessa vida aqui.

- Ah! Criança Yasmin? Olha seu corpo, parece ter uns 18 anos. E além do mais, já vamos fazer 14. Você faz tanta coisa, tem tanta responsabilidade. Nem parece que tem só essa idade. Quando lembro que temos só 2 meses de diferença nem acredito!

- Oh! Melhor parar por aqui. Tô cheia de coisa pra fazer.

Na verdade, eu fiquei muito balançada quando vi aquele homem. Mas não posso pensar nisso agora....

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