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Os Cristais Do Mundo: A Jornada

A Ascenção do Herói Negro

Zack:

Eu não sei bem como começar um livro.

Mas não posso deixar de tentar criar um. Então, vou começar me apresentando.

Meu nome é Zack, tenho 16 anos e bem... Você alguma vez, já teve a sensação de que tudo na sua vida parece ser um grande mistério? Em algum momento, você já parou pra pensar que, tem tantas coisas que não sabemos e que se fossem reveladas, as mais variadas coisas poderiam vir acontecer em suas decisões de vida? Talvez você só seja mais uma pessoa normal que está lendo esse livro, e talvez... Você não esteja entendendo o porquê de eu estar te perguntando essas coisas, ou até mesmo, de te fazendo questionar sobre tudo isso ao mesmo tempo em um único momento. Mas quero que você pare, pense e reflita, será que realmente sabemos tudo de nossa própria vida ou existência? Ou será que simplesmente você aceitou as coisas que lhe disseram, e acreditou naquelas palavras porquê eram ditas por pessoas que você julgava serem confiáveis?

Se mesmo assim você não foi capaz de entender esse sentimento, e se mesmo assim, você não conseguiu entender os pensamentos e conclusões por trás dessas palavras sinceras, ao qual decidi escrever nessa primeira página do livro. Eu tenho apenas um único pedido a fazer a você nesse momento. Leia este livro com atenção, com consideração e a mente pronta para ser desafiada. E não estou falando só por desafios, verdades ou até mesmo realidade. Estou falando sobre pessoas, estou falando de entender que nem sempre seremos iguais a todo o momento, pois a igualdade... É uma grande mentira por trás de palavras doces e meigas que você costuma ouvir. E assim, tendo total conhecimento disso, um dia você poderá mostrar ao mundo, qual sempre foi o seu diferencial, a sua especialidade, o porquê de você mesmo com tantos problemas, ainda sim ser importante para o mundo em que vive.

Por isso eu digo, repito e te aviso, afinal, é minha vida inteira que será contada nesse livro, e ela nunca foi sobre mentiras, mas sim sobre verdades a serem descobertas. Verdades que se eu tivesse tido consciência desde o início, talvez, não tivesse me tornado a pessoa que sou hoje. E está tudo bem não saber de tudo, está tudo bem, você não ter plena consciência das coisas, mas, para que as coisas funcionem, basta você ter a vontade necessária, para querer mudar tudo. E não se engane, você não precisa mudar o universo, o mundo, ou as pessoas. Você só precisa mudar o seu próprio destino, pois quem sempre escreverá ele... Será você mesmo.

[...]

– ZACK, VAMOS RÁPIDO!! VAI SE ATRASAR PRA ACADEMIA!! – Ouço meu pai gritar do andar de baixo – E A PROPÓSITO, FELIZ ANIVERSÁRIO!!

– CERTO PAI, JÁ VOU DESCER! – Grito em resposta.

Que ótimo, é meu aniversário e mesmo assim tenho que ir pra Academia Estudantil de Lafilía, bela ironia. Sinceramente eu não gosto muito de ir para Academia, principalmente porque todos me julgam pela minha aparência. Eu sou meio anjo, meio demônio... É... pois é... Uma longa história.

Ao menos é o que meu pai me contou quando mais novo, ele disse que esse é o motivo também de eu ter marcas demoníacas nos olhos, busto, braços, e enormes asas negras. Sim, tenho enormes asas negras. Grandes e penosas como as de uma águia, mas negras e reluzentes como as de um corvo. Sem falar que são fortes e resistentes, como as de um Dragão. Não sei muito sobre minha origem, a única coisa que sei é que meu pai biológico foi um Anjo de classificação Pura, e minha mãe biológica por outro lado... Uma Demônia de classificação Sombria, mas o que isso significava? Boa pergunta. Minha aparência não difere tanto da dos humanos, tirando meus olhos de anjo que são extremamente dourados, com pupilas rasgadas que imitam as de um predador, e é claro que não podemos esquecer das minhas características demoníacas. Tenho cabelos negros lisos e bagunçados, pele clara, e 1,73 de altura. 

As pessoas geralmente não gostam de ficar perto de mim, elas me olham torto, tem medo de chegar perto. Como se estivessem me julgando ou abominando minha aparência, e sinceramente, querendo ou não, eu entendo elas...

Mesmo com tudo isso, eu ainda tenho uma amiga na academia, seu nome é Rafaella, e a propósito, ela é uma demi-humana. Os Demi- Humanos são criaturas bestias humanóides, geralmente carregam com sigo características animalescas em seu físico, desde a caudas, garras, dentes afiados e pelos pelo corpo. E no caso de Rafa, estamos falando de uma Demi-Humana Raposa das Neves. Rafa faz parte do clã das Raposas da Montanha... Ou pelo menos fazia, até o seu clã Inteiro ser aniquilado por causas das quais ela não quis me revelar, ou simplesmente diz não saber. Porém, ela é motivo suficiente para eu querer ir a Academia Estudantil de Lafilía, e só por esse motivo, eu teria um porquê de querer sair de casa e colocar o pé na estrada. Não gostaria de deixa-la sozinha, já que temos algumas coisas em comum. Então rapidamente me arrumei, coloquei minha blusa branca com um trançado dourado no peito, a sobrepondo em baixo do meu casaco de couro preto, em seguida vesti minha calça e coloquei o cinto que meu pai havia me dado de presente no meu primeiro aniversário naquela casa. A fivela era de prata, ornamentada em um formato de asas abertas, calcei meu par de botas de couro, pegando minha mochila e correndo em direção a escadaria para baixo. Rapidamente corri para encontrar meu pai que estava tomando seu café. Aliás, conheçam meu pai adotivo! Um homem responsável e fiel ao reino como fazendeiro, seu nome é Olisses. Uma aparência amigável mas um tanto cansada devido a idade, barba cheia e branca, assim como seus cabelos encaracolados, cheio de mechas brancas onde já foram cabelos negros um dia, olhos castanhos e um grande sorriso no rosto. E agora que estão devidamente apresentados, sem pensar muito, acabo passando por ele, indo direto a porta que me levaria ao lado de fora da casa.

– Até mais pai! Logo estou de volta! – Sem qualquer intenção de parar, já estava puxando a porta, pronto para deixar aquela casa.

– Filho! – Ele me chama atenção sem precisar mover qualquer músculo, e então sou obrigado a parar de imediato, me virando a ele – Não vai comer nada?

– Eu como no caminho! – Volto até a mesa e pego o pão que ele preparou para mim com um sorriso levemente sem graça – Até mais pai!

– Até mais! Se cuide! Sabe do que eu já havia conversado, e te avisado sobre...– Ele se despede ele com um sorriso no rosto tentando me alertar de algo, mas decidiu desistir no momento em que percebeu que já estava longe – Esse garoto...

Podem me dizer o que for, mas eu nunca vou me cansar dessa vista incrível. Constituída por grandes áreas e terrenos gramados, algumas grandes plantações e um céu lindo, esse lugar pode realmente te encantar. A minha direita se encontra o bosque, e a esquerda o celeiro da fazenda, você pode avistar alguns animais, e até vários cercados. A minha frente, uma estrada de chão me guiava, levando-me diretamente ao Reino de Lafilía, onde se encontra a Academia Estudantil do Reino, uma instituição feita com o propósito de educar as crianças e jovens, de modo geral, os filhos daqueles que não pertencem a classe nobre da região. Existem várias academias como essa espalhadas por todo o Mundo Mítico, afinal, veio a se tornar uma lei marcial entre todos os reinos após o período de paz que se instaurou junto aos reis. O objetivo deles é fazer com que pessoas das mais variadas classes, possam ascender carreiras, ou até mesmo, descobrir talentos naturais, com base em um sistema meritocrático e de esforço próprio. Obviamente meu pai é um fazendeiro que não muito rico, e sobrevivemos da nossa própria colheita, venda de ferramentas, agricultura e pecuária. Estava correndo na estrada que me conduzia ao reino, a brisa suave batia em minhas penas, me despertava a vontade que tinha de voar, mas infelizmente, nem tudo são flores. E aqui vai o meu primeiro segredo para vocês, eu ainda não sei voar, quem sabe um dia? Né? Como fui criado por humanos não aprendi a usá-las da maneira correta, pra falar a verdade eu não sei nem quem eu sou direito, então, não é de se esperar que tenha habilidades com vôo, entende? Normalmente eu já teria chegado ao meu destino rapidamente se pudesse usufruir desse meu poder natural, mas acho que vou perguntar para algum senhor pássaro se ele pode me ensinar a voar quando ele estiver ensinando seus filhotes. E... Obviamente isso foi uma brincadeira, não leve a sério.

O dia estava lindo, o céu azul tinha poucas nuvens e curiosamente dois dragões voavam acima de minha cabeça. Pois bem! senhoras e senhores, sejam muito bem vindos ao Mundo Mítico, no caso... O meu mundo! Onde você encontra dragões, seres mitológicos, demi-humanos, ou até mesmo... Um anjo metade demônio. Aqui, o místico é real, a magia se torna fundamental, e o limite é até onde o céu alcançar. Continuando a correr pela estrada que interligava a área rural com a capital, me faz lembrar das mais diversas vezes que pude presenciar criaturas fantásticas, sejam elas grandes ou pequenas. Mas também, me faz lembrar que certo dia, enquanto eu e meu pai trazíamos mercadorias para vender na feira mensal que acontece no centro da cidade, um guarda nos parou e nos alertou sobre um constante ataque de dragões nesta área. E isso de certa forma... Me fez parar de correr um pouco, e pensar que talvez... Só talvez, eu já estivesse caído na armadilha de quem eu havia visto voando há alguns minutos atrás. Uma sensação de perigo tomou conta do meu corpo, senti meus sentidos ficarem alertas. Quando finalmente estava quase saindo do bosque, uma enorme cabeça vermelha saiu de dentro das árvores, e com olhos dourados incandescentes, vi seu focinho bufar. Era uma beleza mortal diante aos meus olhos, aquele era um Dragão Infernal. Ele abriu sua boca, e ali foi dado seu rugido, me atacando sem qualquer hesitação. Estimo que deveria ter no mínimo 5 metros de altura por mais uns 8 de largura, era jovem e ainda estava crescendo. Em seguida, ele me atacou usando sua pata, que me fez voar até uma árvore, e a mesma acabou por partir-se ao meio com o impacto. Sentindo-me zonzo, mas já imaginando que seu próximo ataque seria o bafo de fogo, forcei minha percepção voltar ao normal, pois, qualquer erro naquele momento, e vc poderia me chamar de corvo gigante flambado. Sim, eu estava com medo, mas por puro instinto, coloquei minhas asas na frente do meu corpo. Meu escamoso assassino soltou suas chamas, deixando o clima daquele local extremamente quente, tudo ao meu redor se queimou mas... Comigo nada havia acontecido.

Quero dizer... Aconteceu, mas não o que eu estava esperando. Minhas asas se tornaram rígidas como metal e as penas ficaram afiadas como facas, quase me cortei ao tentar toca-las. Quando ele parou de cuspir fogo minhas asas voltaram a ser macias e leves novamente. O dragão parecia confuso, e eu não o julgava, também estava confuso, nunca me havia acontecido algo assim alguma vez, e se aconteceu eu não consigo me lembrar. Ele decide me atacar novamente, dessa vez com as garras, coloco minhas asas a minha frente mais uma vez, e elas faíscaram quando as garras se chocaram com a metálica superfície que minhas penas haviam criado. Na tentativa de me proteger, arranquei uma das penas, e corri até a sua pata direita que estava mais próxima a mim, cravando a lâmina penosa entre suas falha na armadura de escamas, acertando-o sob a sua couraça. O vi sangrar um pouco, ele rugiu de dor, parecia totalmente assustado, provavelmente não estava esperando essa reação, e novamente ele tomou uma atitude, me atacando mais uma vez, com outra patada, e mais uma vez me jogando contra outra árvore do bosque.

Senti minha visão escurecer, e a última coisa que consegui ver, foi um ser que parecia viver na floresta, aparentava ser metade lobo e metade homem, pulando sob o dragão e o levando para longe.

[...]

 

Abro meus olhos lentamente, com minha cabeça doendo um pouco ainda após tomar tantas bordoadas. Olhei ao redor, mas aparentemente estava sozinho, e percebendo o quão atrasado estou ao ver a posição do sol, me levanto desesperadamente, e começo a correr em direção a academia mais uma vez, mesmo que ainda estivesse um pouco machucado com o que havia a acontecido..

O Anjo que Caiu do Céu

Chrys:

– Você está proibido de fazer isso!! – Meu pai gritava de seu trono, e esse, era o atual rei do Reino Celestial. Um senhor de longa barba branca, porém bem feita e aparada, contendo duas tranças em sua parte inferior, que seguia juntamente a direção de seu pescoço. Seus cabelos eram loiros, e seus olhos verdes como esmeralda. Essas características entravam em contraste com suas imensas asas reluzentes e douradas em suas costas, lhe dando um ar de soberania e poder – Você está totalmente fora de si filho! Não deveria agir de tal maneira! Está ficando maluco?!

– Não!!! Eu não estou!!! E digo mais! Eu sou muito mais rei que você! – Insistia em discutir meu repetente e indigno irmão mais novo. Nossas características físicas não eram tão diferentes, visto que somos em três irmãos gêmeos – Serei muito mais respeitado e digno, do que o senhor já mais foi!!

– Já chega!!! Você está passando de todos os limites Oriel!! – E como pode perceber, estamos no meio de uma briga um tanto quanto complexa e familiar.

– Cale a boca, velho inútil!! – Oriel, mais uma vez, estava enfrentando nosso pai. De novo, de novo... E de novo. Sua personalidade egocêntrica e narcisista, fez com que suas atitudes chegassem a esse ponto. Nas verdade... Ele vem se tornando esse tipo de pessoa, desde que mamãe veio a falecer.

Odeio quando minha família briga, mas dessa vez, sou obrigado a admitir que Oriel, o nosso irmão mais novo, ultrapassou todos os limites. Como eu havia dito, somos em três irmãos gêmeos, mas ainda sim, nossa linha de hierárquica foi definida de acordo com quem veio ao mundo primeiro. Ou seja, por questões de alguns minutos, eu sou o irmão do meio, Ector é o mais velho e Oriel é o mais novo. Meu irmão está brigando com meu pai por diferenças de crença e ideologia, continuando sua afirmação de que ele deveria reinar e não nosso pai. Ele acredita que os crimes que acontecem no Reino Celestial, são culpa da falta de atitude de nosso pai, e de leis fracas impostas por um estado ainda mais fraco em que nosso pai reina. Não é tão surpreendente, tendo em vista que, Oriel sempre foi egoísta e irresponsável, ouso até dizer que nunca vai ter maturidade o suficiente. Ele recentemente completou seus 16 anos, mas aparentemente, nada mudou desde então. Meu pai acredita em um lugar pacífico, onde a justiça não pode ser feita pelas mãos do estado, ou pelas suas próprias mãos. E é por isso que toda organização judiciária e monetária do reino, não estão atrelados ao trabalho de meu pai. A única coisa que é de fato trabalho do Rei, é manter a segurança do reino, e legislar leis pelas quais, irão ditar quais são as regras fundamentais para que as organizações, tenham um rumo a se seguir, sem extrapolar ou criar redes criminosas. Ou seja, segurança, ordem e infraestrutura é o dever do rei. Já os demais, existem instituições afiliadas ao Reino, mas que trabalham de forma independente, como os juízes, os guardas aristocráticos, e é claro, burgueses e mercadores.

A cúpula real do reino, é composta pelo Rei, pelo Juíz Aristocrático e a casa do maior Clã Burguês do Reino Celestial, os Artróxius. E entre as investigações de nosso pai, acabamos por descobrir que o maior problema de todos no nosso reino, vem crescendo e acontecendo de lá pra cá com muita intensidade, bem de baixo de nossos narizes. A cúpula real está manchada com a corrupção das demais instituições, e obviamente que agora, estão usando meu irmão mais novo para causar uma guerra civil, e ascende-lo ao trono, pois sabem do tamanho poder que vão ter em mãos, tendo o total controle do estado do Reino. Obviamente que Oriel cresceu os olhos nas promessas que lhe foram feitas, mas pior do que isso, é saber que ele está disposto a trair sua própria família, e seus dogmas reais, apenas para conseguir colocar as mãos em seus desejos mais íntimos de ganância e poder.

– Já basta Oriel!! Vá já para seu quarto!!! AGORA!! – Oriel deu de ombros, olhando com deboche e desgosto ao nosso pai, passando por mim ao bater seu ombro de propósito em minha pessoa, batendo os pés em direção a porta para fora do salão imperial.

O Rei bufou relaxando em seu trono, colocando as mãos sobre seu cenho. Certamente ele estava muito cansado e estressado com tudo o que vem descobrindo e enfrentando, e temo pela vida de meu pai caso tudo isso continue, pois sua saúde já não é a das melhores a algum tempo. Me aproximei dele um tanto relutante, seu manto real branco e dourado, ornamentava com detalhes por seus ombros peito e pescoço, era como um casaco que se abria na parte da cintura. Já suas calças negras, estavam sobrepostas a uma bota de mesma cor feita em couro. Seus longos cabelos espalhados por seu ombro, estavam um tanto mal cuidados, pela falta de atenção e tristeza profunda que meu pai vem sentindo desde a morte de sua esposa. E a coroa dourada com esmeraldas encrustadas, já não parecia mais tão brilhante como quando era uma criança.

– Eu já não sei mais o que devo fazer meu filho... Você e Ector... São a única família que me restaram... – Peguei as mãos de meu pai enquanto seu olhar triste se encontrava com o meu – Não sei mais por quanto tempo vou viver para proteger este reino, mas quero acreditar que você, poderá dar um jeito nisso tudo... Sabes que é um orgulho para mim meu filho...

– Não pense dessa forma meu pai... A gente vai dar um jeito nisso, cresci como um príncipe real, e todos os seus esforços e lições que me foram dados, não serão em vão... – Abri um sorriso fraco a ele, que ainda parecia estar abatido em seu trono.

– As vezes... Sinto falta daqueles que são os verdadeiros dignos desse trono, eles saberiam o que fazer numa hora dessas... É uma pena que meu velho amigo de penas brancas e brilhantes... Tenha partido deste plano de forma tão cruel e prematura... – Eu entendo a dor que meu pai passa, por mais que não possa compreende-la completamente – Este reino perecerá nas mãos dos indignos meu filho... E se você fugir e não tomar aquilo que é seu por direito, muitas pessoas podem acabar sofrendo.

– Não sou a melhor pessoa para governar meu pai... Talvez Ector tenha mais punhos de ferro que eu para tal feito, eu sou apenas um estudioso arqueiro – Ainda segurando a mão de meu pai, me surpreendo ao vê-lo colocar a sua outra mão sobre minha – Não estou pronto para tamanha responsabilidade... E acredito não ter nascido para isso.

– Escute Chrystopher... Não é com força que se torna um rei... – Seu olhos esmeralda, estavam tão profundos, que se fixaram aos meus, de um forma que não pude deixar de prestar atenção calado – É com inteligência e perseverança.

Ele então sorriu para mim dando tapinhas na minha mão, e então beijo minha testa.

– Você me lembra completamente sua mãe, se eu sou o Rei que me tornei hoje, foi por conta do total apoio dela – Piscando para mim, suas mãos soltaram-se das minhas.

– Eu... Eu vou tenta falar com o Oriel – Sem ter o que dizer apenas assenti com a cabeça, me reverenciando em respeito a ele. E assim me retirei do salão do trono.

[...]

– Oriel, espera! Você ainda vai ser rei, deve... – Me encarando furiosamente, ele parou de imediato.

– Quero que cale a porra da boca você também! É melhor que esteja preparado, pois estamos em guerra a partir de agora... – Oriel tomou rumo para dentro de seu próprio quarto, onde se trancou e não quis mais falar ou conversar comigo, exclamando do lado de dentro – E que isso fique claro! Acabarei com qualquer um que decidir interferir em meu caminho!

"Ah meu irmão, se ao menos entendesse que ser rei é muito mais do que apenas poder"

Voando até o telhado de uma das casas do reino, acabo por pousar por ali, aproveitando para contemplar o horizonte com seu por do sol, que se fazia entre o vale ao fundo, era uma cena memorável eu diria. Certo, creio que agora conseguirei me apresentar melhor, meu nome é Chrystopher. Sou um Anjo Dourado, a família de Anjos mais próxima dos Anjos Puros, a principal porém extinta família real, estando apenas uma posição abaixo dos mesmos. Também sou parte da família Real Angelical, e atualmente, moro no Reino Celestial, mais conhecido como o Reino dos céus, já que é o reino que fica mais alto em relação ao nível do mar. O reino foi todo construído na maior cadeia de montanhas de todo o Mundo Mítico, e daí vem o apelido, "reino dos céus", pois é quase como se pudéssemos tocar o azul infinito cobre o nosso mundo. Tenho 1,73 de altura, 16 anos, cabelos loiros e lisos, olhos verdes como esmeralda e grandes asas Douradas. Sou um extremo sonhador, e tenho grandes planos pro futuro, além de vários amigos com quem posso contar. E como você pode ver, Oriel já é o meu total oposto. Ector por sua vez, é general do exército de nosso pai, um excelente espadachim, e exímio líder em combate. Eu treino tiro com arco e pratico artes com o machado de combate, além de todas as aulas sobre a realeza, etiqueta e afins. As vezes se torna realmente cansativo, e em meus pensamentos, sonho que uma aventura poderia ser legal as vezes... Porém, neste belo fim de tarde, tenho um compromisso marcado na biblioteca, ou seja, tenho que voar até lá pra não me atrasar.. Entendeu o trocadilho? De voar? Certo, certo, piada ruim, só vamos logo com isso. Ao chegar, sou recebido por Natazia, uma anja comum que trabalha há um tempo na biblioteca.

Sua aparência estava a de costume, cabelos castanhos escuros, presos a um coque de lápis. Sua pela clara entrava em contraste com seu vestido negro, que havia detalhes sutis em dourado pelos ornamentos do decote, e de suas curvas. Suas asas eram menores e brancas, lhe dando um ar delicadeza como nunca antes visto. Para finalizar seu toque acadêmico, um óculos em formato circular, estava fixo em seu rosto, deixando para trás das lentes, seus grandes e lindos olhos castanhos.

– Seja bem vindo vossa Alteza – Gentilmente ela me recebeu ao abrir as portas. Rapidamente olhou discretamente para os lados, e então para mim novamente de maneira fixa com um sorriso suspeito no rosto — Agora entre! —Exclamou ela ao me puxar para dentro, trancando a porta logo em seguida.

– N-natazia... O que você está fazendo? – Pergunto confuso e um tanto quanto receoso.

– Preciso te mostrar algo que encontrei hoje – Seu tom de fala, se tornou séria de uma hora pra outra.

– Certo, e o que é? – Pergunto olhando ao redor.

– Um livro – Essa com toda a certeza foi a resposta mais óbvia, visto que estávamos em uma biblioteca, porém, sua expressão ainda era de que realmente, ela havia encontrado algo muito diferente do comum.

– Ah jura? Estamos em uma biblioteca! já imaginava que seria um livro... Dãh! – Tirei sarro a obviedade da situação - Vai... Desembucha, que tipo de livro? – Cruzei os braços de maneira tediosa.

– Siga-me, por favor... – Sua expressão ficou tediosa por alguns segundos antes de começar a andar. E por algum motivo, algo me diz que estarei encrencado depois.

Comecei a acompanha-la, e de uns tempos para cá, ela havia mudado muito. Sempre estávamos juntos, até que eu tive que começar a me dedicar aos afazeres reais, e então paramos de brincar, como sempre fazíamos quando menores. Sete anos mais tarde, voltei a vê-la com mais frequência por conta dos livros relacionados a linhagem Real. Ela estava linda, devo admitir... Mas não é nada disso que você está pensando! eu nunca tive nenhum interesse... Ah deixa pra lá.

Fomos até seu quarto, ali na biblioteca mesmo. Me sento junto a ela na pequena mesa de leitura que havia no canto próximo a sua janela. Sobre a mesa, encontrava-se um livro negro com um desenho de duas asas negras rodeadas por hieróglifos demoníacos. Estava cadeado, e bem, eu não vi nenhuma chave por perto até então, decidi passar meus dedos delicadamente sobre a capa, analisando cada mínimo detalhe.

– Eu não consigo abri-lo já que está trancado – Olhando de relance o livro, sua curiosidade estava bem amostra em seus olhos – Eu já tentei de tudo, mas a magia que está o protegendo, é uma coisa totalmente fora dos padrões atuais.

– Isto pode indicar que... – Olho para a mesma que parecia um pouco aflita com o que poderia perguntar – Natazia, isso é o que estou pensando ser?

– A Grande Profecia, a história dos seis heróis... – Ela hesita um pouco, vejo que está tremendo – A lenda entre anjos e demônios... O anjo...

– O Anjo Negro – Termino sua frase – Será que é real? Onde você o encontrou? Até onde eu sei, essa é uma história contada para crianças antes de dormir em diversas partes do Mundo Mítico.

– Eu sinceramente não sei Chrys... Achei ele em um dos grandes baús no sótão da biblioteca, estava brilhando muito dentro do baú... Decidi pegá-lo – Natazia estava realmente preocupada com aquilo, as suas incertezas sobre o que estava diante de nós, a estava deixando incomodada e aflita – Era uma luz roxa muito intensa que saia deste cristal...

Ela apontou para o cristal que parecia ser uma ametista cravada na capa do livro.

– Entendo... – Soltando um longo suspiro – Posso ficar com ele? Quero ver se consigo algumas outras pistas sozinho, talvez se eu pesquisar algumas informações, posso descobrir como abrir ele sem precisar da chave.

– Claro que sim! Mas proteja ele, pois se for realmente a Grande Profecia... Muitas pessoas podem querer... – Não deixo que termine a frase.

– Eu entendi... Muito obrigado... E não se preocupe, vai ficar tudo bem – Sorrio uma última vez para ela em despedida.

Ela assentiu com a cabeça olhando para mim, concordando com o que havia dito. Assim abro a janela de seu quarto,pulando por ela e alçando vôo em direção ao palácio.

Mas o que será que isso quer dizer? O que representa? Eu estudei por anos sobre as lendas e divindades de meu reino, cresci sabendo das crenças e profecias, isso incluindo o temido anjo de Asas Negras, algo me fala que a aparição desse livro não pode ser mera coincidência... Não... talvez só esteja sendo muito supersticioso. Não demorei muito para chegar ao palácio, e então fui direto ao meu quarto, onde me joguei na cama junto com o livro. Fiquei analisando a fechadura, e se tratava de uma chave que se assemelhava a um par de asas seguido de uma pequena haste, com o formato oval ao topo, seguido de duas pequenas pontas. Acredito ter visto esse símbolo em algum escrito dos seres divinos de nosso mundo. Eu já havia visto esse símbolo no pescoço de um demônio antes, ele era chamado também de Elo de Babel. Após passar por algumas horas lendo outros livros, e fazendo pesquisas afim de respostas, acabei por adormecer, com aquele livro negro em mãos.

Ouvindo vozes em minha cabeça durante o sono, comecei a ficar perturbado com todo o sentimento desconfortável, todas diziam algo como "Você é um escolhido". E então, rapidamente me levantei gritando assustado, meu corpo estava suado e não podia acreditar que o brilho do sol já estava tão forte la fora. Estava bem cansado pois meus dias estavam sendo um tanto quanto corriqueiros, sem falar em toda a bagunça e estresse que Oriel acabava causando. Após recobrar toda minha consciência e atenção, acabo por ouvir uma gritaria infernal, e sons de espada se chocando do lado de fora, me levantei da cama relutante, porém, sabia que algo de errado estava acontecendo, e quando olhei para fora, demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo, até lembrar das palavras de meu irmão no fim de tarde anterior.

"É melhor que esteja preparado, pois estamos em guerra a partir de agora..."

Oriel reuniu um exército de rebeldes que se diziam ser seus apoiadores, e estava travando uma verdadeira guerra contra o exército real. As coisas estavam se complicando, os rebeldes estavam em maior número, e recebendo apoio da polícia aristocrática, dos burgueses e do judiciário. Tudo parecia muito sofrido por lá, sangue, gritos, penas, e lâminas se chocando constantemente. Saí do meu quarto e sobrevoei a área afim de obter maior informação de terreno, Ector estava liderando o exército de nosso pai, que estava debilitado de mais por suas várias experiências em campos de batalha, ele só poderia observar, pois sua carruagem já estava cercada, enquanto por outro lado, Oriel estava a frente dos rebeldes. Um duelo estava para acontecer. Ector e Oriel, e era de se imaginar que Oriel jogaria sujo, Não duvidaria disso. Antes da batalha começar, Ector tentou conversar com Oriel, mas foi em vão, dava para ver a maldade nos olhos do mais novo, ele estava focado em tomar tudo nesse reino, queria poder, fama, reconhecimento, ele queria o temor de todos ao seu redor. Eu percebi Oriel tirar uma faca pequena de suas costas, e assim eu já havia visto suas más intenções, tentei voar o mais rápido possível para impedir, ambos estavam em uma discussão sem limites, Ector tentava a todo custo convencer Oriel a parar, mas o mais novo parecia irredutível. Não conseguia ouvir eles falando por conta da distância, e ainda sim infelizmente não fui capaz de chegar a tempo. Oriel se aproximou de Ector, parecendo ir de bom grado abraçar o irmão em forma de desculpas pelo que fez, mas assim que o abraço terminou, vi Oriel sussurrar algo no ouvido de meu irmão mais velho, e com um sorriso no rosto, cravou a faca no pescoço de Ector, que se afastou rapidamente com a mão tentando conter o sangue.

– Não!!! parem!! – Gritei da minha posição, chamando a atenção de Oriel que olhou para cima, repleto de ódio. Pousei em sua frente, decidindo tentar dialogar – O que você pensa que está fazendo?!?

– Tomando o que é meu!!! – Ele me empurra e então eu o afronto.

– NÃO!!!! – Me oponho com toda minha raiva, o socando no rosto. Mas rapidamente sou contido por seus milicianos, que me seguraram pelos braços e pescoço.

– Desgraçado... – Ector pragueja com dificuldade entre seus dentes, em seus momentos finais – Você sempre teve tudo o que queria.. Tudo o que qualquer um sempre iria querer... Mamãe estaria com vergonha do que você se tornou...

Oriel passa sua mão pelo maxilar, sorrindo de forma assustadora, estava claramente querendo me afrontar, dizer e mostrar o quão fraco eu era. E então... Eu realmente me provei ser fraco. Ector estava de joelhos a minha frente, e eu presenciei aquilo sem poder fazer nada.

– Vamos acabar logo com isso! Afinal... Eu tenho que diminuir a concorrência... NÃO É MESMO?! – Oriel chutou Ector para que fosse ao chão por completo. E assim atravessou sua espada pela armadura de Ector, que ficou agonizando em uma crueldade sem precedentes. Eu não fui rápido o suficiente, mas o que eu poderia fazer?

– Fuja Chrystopher! Proteja o Livro! Eu sei que está com ele! – Meu pai gritou de sua carruagem a mim – Eles também sabem!! Fuja! Agora!

Eu estava totalmente em choque, mas sabia que neste momento não havia uma forma de voltar atrás, eu não tinha tempo para me lamentar. Tudo estava acontecendo em uma velocidade que eu se eu parasse para pensar ou ficar triste, poderia ser meu fim. Em um impulso, abri minhas asas com toda força que poderia fazer empurrando e afastando aqueles que me prendiam. Alcei voo até meu quarto o mais rápido que pude, e olhando para trás, pude ver meu pai de joelhos, aos prantos sendo rendido por Oriel e seus apoiadores. Oriel olhou para mim e então apontou sua espada em minha direção, e da distância em que estava, eu consegui ouvir as ordens de Oriel dizendo aos seus soldados para não me deixarem escapar. O golpe de estado estava feito, o Reino Celestial agora era de Oriel, e isso custou a vida de soldados, pessoas inocentes, e meu irmão mais velho. Quebro a janela de meu quarto em um mergulho aéreo, entro rapidamente, pego meu arco, enfio o livro dentro de uma bolsa de couro onde também jogo todas as minhas moedas e econômias. Saio do quarto e tranco o mesmo pelo lado de fora, para dar tempo de escapar correndo para os fundos do palácio. As minhas costas consigo ouvir os rebeldes que me seguiram batendo na porta tentando abri-la.

Mais a frente, após sair em direção aos fundos do palácio, ainda consigo ver Natazia, estava levando os cidadãos para um abrigo seguro, longe de toda aquela confusão. A cena era extremamente preocupante e horrível de se ver, ninguém merecia estar passando por uma situação dessas.

– Natazia!! – Gritei a ela de longe tentando obter sua atenção.

– Chrys! – Ela me ouviu, gritando meu nome como resposta.

Pousei em sua frente, e me abraçando, ela me entrega um objeto que parecia ser uma bússola dourada.

– Pega! E fuja de uma vez! Enquanto você estiver vivo, o Reino Celestial ainda terá esperança! – Ela então beijou minha bochecha, e logo após me empurrou – Agora vá! Esse lugar não mais seguro para você!

Assentindo com a cabeça, ainda um tanto perplexo com tudo, começo a correr novamente. Para minha infelicidade, acabei por encontrar alguns dos meus perseguidores no meio do caminho, tendo que fazer vários desvios enquanto era perseguido. Para minha sorte e aptidão, eu conhecia todas as vielas e lugares do reino, o que me permitiu ter vantagens sobre eles, e assim que consegui chegar a plataforma final do reino, corri com todas as minhas forças desviando de flechas e lanças que me eram jogadas, afim de me acertar. Até que finalmente, eu apenas me joguei da plataforma montanha abaixo, abrindo minhas asas alguns segundos de queda livre depois, voando para bem longe do Reino Celestial, e de todos os que me caçavam.

[...]

Não sei exatamente por quanto tempo voei, mas senti quando comecei a cair dos céus por conta do cansaço. Minha visão começou a falhar, e então, caí dos céus em queda livre, sendo amortecido por árvores e vegetação local.

O Lobo Solitário

Jonathan:

"Todas as noites, o mesmo sonho se repetia."

"Todas as noites, a mesma memória desconhecida..."

"Todas as noites meu sono era perturbado por algo que eu não entendia"

"Um líder e espiritualista de uma tribo, um menino, e um lobo brilhante."

Nesse sonho, o menino era especial. Ele fazia parte da próxima linhagem dos escolhidos para abrigar o Espírito do Lobo Azul, o grande guardião da tribo. O líder espiritual, reunia todas as pessoas em volta daquele local, onde o ritual se iniciava. Este, era o ritual que abrigaria o espírito ao corpo do seu hospedeiro menino, e era seguido por danças animadas, alegria e muito calor fraternal do seu próprio povo. A alegria, amizade e prosperidade, eram coisas que podiam ser observadas nos olhos daquele simpático e unido povo, trazendo a mim, o eterno aconchego que sentia no peito, só de ver todos aqueles sorrisos, aos quais, sempre me traziam certo sentimento de familiaridade. Era algo interessante e contagiante de se observar, e entre danças e celebrações, mais um ciclo chegava ao seu fim, dando início a uma nova geração, e uma nova esperança de que tudo ficaria bem em seus corações. Não havia nada que parecia preocupa-los ou abala-los, afinal, tudo de que precisavam estava ali, e era possível sentir isso de forma abrupta e sentimental, nos sorrisos e sentimentos que transbordavam em meio aos seus cantos e danças próximos ao altar. O local era rodeado de mata densa e grandes árvores de pinheiro, deixando apenas em seu centro, o evento que ali acontecia. Uma enorme fogueira, seguido de várias tochas em volta do local, faziam a iluminação para que ninguém se perdesse, ou até mesmo deixasse de enxergar o que ali acontecia. E dessa forma, o ritual se deu início, o líder Espiritual pediu para que o menino fosse levado diante a ele para o altar, pois já estava pronto para ser o sucessor, e o grande protetor daquele povo. Um casal pelo qual os rostos sempre estão apagados para mim, levam o jovem que ainda muito novo, não parecia estar entendendo quase nada do que lhe haviam concebido. Estava um pouco assustado com toda a movimentação ao seu redor, mas exalava uma coragem sem fim em seus olhos. Tanta coragem, que lhe dava forças para enfrentar qualquer coisa diante de si, mesmo que ainda fosse muito pequeno. Talvez por esse motivo, o espírito havia escolhido alguém tão pequenino e novo, talvez fosse por esse mesmo motivo, que aquele jovem menino era chamado constantemente de filho do lobo guardião.

Diante ao líder ritualístico, o garoto deu seu primeiro passo a frente, impulsionado pelo homem que uma vez, o havia levado até ali junto a mulher que o acompanhava. Imediatamente todas as grandes tochas que iluminavam o local, passaram a tomar uma tonalidade azulada em suas chamas, fazendo com que todos se ajoelhassem ao chão, em um tremendo sinal de respeito ao que iria acontecer diante a eles. O senhor que segurava um cajado em sua mão, recitou algumas orações, fazendo com que suas tatuagens azuis pelos braços, começassem a brilhar intensamente por de baixo do manto que vestia. Logo seus olhos tornaram a ficar com a mesma cor que preenchia a tonalidade daquele lugar, e logo espíritos da floresta começaram a aparecer por entre a mata densa. Animais e até algumas alcatéias de lobos, estavam agindo como criaturas dóceis e domesticados, prestando atenção profundamente no espetáculo que estava acontecendo. Por fim, uma azul começou a sair do homem atrás do garoto, que começou a observar aquilo um tanto inquieto. E dessa aura, um enorme lobo Espiritual de cor azul se fez atrás do líder Espiritual da Tribo, fazendo com que a chama principal se tornasse tão azul e intensa, que o local todo seria iluminado apenas com aquela única fogueira. Os lobos começaram a uivar, e todos os outros animais que ali circundavam, abaixaram suas cabeças em respeito a entidade divina que estava presente. Então o enorme Lobo olhou diretamente para os olhos do garoto que fez o mesmo, deixando seus esverdeados olhos, em um tom azulado pelo brilho intenso daquele ser. O lobo, então olhou para a fogueira principal, localizada atrás do altar. Caminhou até sua base, até que se sentou embaixo dela, esperando que seu escolhido fosse até ele. O líder espiritual, abriu seus braços, se curvando diante ao garoto, e o dizendo para que fosse encontrar com aquele o guardaria até que a nova geração aparecesse. O garoto ainda muito novo, abraçou calmamente o senhor que se surpreendeu com aquilo, e sem dizer qualquer palavra, ele voltou-se diante ao enorme Lobo Azul, e caminho até o seu encontro. Durante seus passos, todo o local se iluminava com partículas azuis, que logo se tornaram feixes de luz, que logo se tornaram auroras iluminadas por todo o local. Quanto mais próximo da entidade o garoto se aproximava, mais seus passos brilhavam. Maravilhado com tudo aquilo, ele mal havia percebido o quão perto já estava do lobo, até que se assustou com seu enorme focinho a sua frente, cambaleando para trás, e ficando receoso quanto a presença imponente daquele ser. Porém, o lobo gentilmente deitou-se diante a ele, esperando que o mesmo acaricia-se sua cabeça, mas invés disso, o garoto riu, e sentiu animado com o animal brilhante a sua frente. Um sentimento forte de amizade cresceu diante aos dois, pois nem mesmo o lobo esperava por aquela atitude. E para surpresa de todos, o pequenino garoto encostou sua testa sobre a cabeça do lobo, o abraçando pelo pescoço com um enorme sorriso. Fechando seus olhos, o lobo aceitou o carinho do garoto, deixando com que seu espírito adentra-se aquele jovem corpo humano. Todos estavam maravilhados o que havia acontecido, o ritual estava completo, e tudo voltou ao normal. Aos poucos as pessoas ao seu redor se levantaram, gritando de felicidade, alegrando-se pela nova geração de guardião que a sua tribo havia ganhado. Os animais se espalharam e o fogo tornou-se ardentemente vermelho alaranjado novamente. O garoto se perguntava aonde seu grande amigo brilhante havia ido, porém em seus olhos, brilhava um forte e intenso azul, que logo deixou suas esverdeadas íris de volta ao seu lugar. Mas infelizmente... Assim que o ritual havia encerrado e chegado ao fim, a tribo era atacada em meio a gritos de ódio, dor e desespero. Sons de batalhas, com flechas e lanças voando e zunindo ao vento eram perceptíveis. E assim, o garoto lobo era obrigado a fugir para a floresta a mando daquele casal, e do líder espiritual, a fim de proteger o espírito que agora o abrigava, levando em suas costas, todo o legado de sua gente, que infelizmente já não estava mais com ele durante toda a sua caminhado solitária.

Ao longo dos anos o menino foi crescendo aprendendo com a floresta, e com os animais. Gradativamente, mudando pouco a pouco todos os dias por influência do espírito sagrado. Sua aparência se assemelhava mais a de um lobo cinzento, pois suas orelhas deixaram de ser nas laterais de sua cabeça, e agora haviam crescido em sua cabeça mantendo um pelo extremamente cinza e intenso. Em volta de seu pescoço, havia crescido pelos, juntamente a uma cauda grande e peluda abaixo de suas costas. Seus dentes eram pontiagudos dando ênfase aos caninos anormais que tinham as pontas projetadas para fora de sua boca. Seu faro e sua força haviam evoluído, e suas unhas já se assemelhavam mais a garras mortais. Com a necessidade, ele aprendeu a caçar sozinho para sobreviver, mas sempre mantendo os ensinamentos da tribo, onde apenas se matava caso seja necessário. Continuando sempre com o respeito que havia sido lhe ensinado para com a presa. Após o abate, ele sempre orava para que seu espírito fosse levado aos Campos de Farfares, onde a deusa Flora recebia e cuidava daqueles que já se foram, para que assim morressem em paz.

[...]

Acordando em cima da árvore, um tanto quanto calmo e destemido, sempre acostumado a ver e rever todas as noites as mesmas cenas. Coloquei em palavras afirmando que esse sonho retrata o meu passado e a minha origem... E pois bem! Esse sou eu! Meu nome é Jonathan Lupus Azuris. Sou um garoto meio lobo selvagem, e vivo na floresta, afastado das grandes tribos de pedra na qual os uribás (pessoas das cidades) moram. Acredito ter 19 anos, 1,86 de altura, cabelos acinzentados escuros, olhos verdes e características de um lobo por todo o corpo. Costumo ser mais fechado, os Uribás me olham estranho pelas minhas roupas e também por minha natureza um tanto quanto diferente e peculiar, poderia até mesmo se dizer selvagem. Mas da mesma forma que eles acham esquisito a minha vida, não me atraí da mesma forma o estilo de vida que eles seguem, parecem ocupados de mais, desconfiados de mais, e briguentos de mais...

Já eu? Eu prefiro mil vezes ficar contemplando o nascer do sol que ao longe se faz, lindo e brilhante a meus olhos. Bem... Como deve-se imaginar, eu estou com muita fome! E após explorar a floresta por um tempo, consigo avistar um grande pássaro de asas vermelhas, e na minha cabeça só podia significar uma coisa.

"Muita Comida..."

Olho novamente com mais atenção, e percebo que ele carrega um arco junto a si. Uma aljava cheia de flechas estava atravessado por suas costas, e havia alguns corpos verdes mortos próximos a ele. Muito provavelmente, os havia abatido, e com certeza essa era uma presa, que se mostrava arriscada de mais para se tentar cravar os dentes. Decidi assim, deixar para lá, e começo a pular de árvore em árvore a fim de encontrar algo para comer. Um pouco mais tarde, logo pude avistar um cervo, e esse por sua vez era grande o suficiente para saciar minha fome. E claro, o mais importante, não era uma presa difícil de se caçar. Me camuflo entre as folhas, olho por mais alguns segundos atentamente esperando a brecha perfeita para atacar, e assim que eu o encontro, pulo rapidamente no mesmo, cravando meus dentes ali em seu pescoço. Ele tenta com todas as suas forças me tirar de cima dele, mas em vão, pois após alguns segundos, o sangue da caça já havia se escorrido em grande quantidade, e já não havia mais nada que se podia ser feito. Sem forças, o servo caiu no chão exausto, e para encerrar a sua vida de uma forma menos dolorosa, uso minha garra, e enfio em seu pescoço rompendo o sua artéria, terminando o serviço de forma menos dolorosa possível. Faço uma oração ao animal morto e o levo a um lugar seguro para come-lo em paz.

É dessa forma que levo minha vida, tudo calmo, tranquilo e vivendo do que a natureza me oferecer. Tudo... da forma mais calma possível. Mas devo admitir que sempre senti um vazio em meu coração, pois lobos são criaturas sociáveis, e vivem em alcatéias. Porém, eu nunca tive se quer um amigo, nunca tive alguém para conversar, para me importar, e nunca puder ser nada para ninguém. Isso me faz ficar um tanto quanto aflito todos os dias. Um dia eu gostaria de saber se vou poder encontrar tantas pessoas que gostam de mim, se vou poder finalmente entender os motivos dos sorrisos, que os Uribás tanto gostam de dar uns aos outros. Minha vida, é essa, a de um lobo solitário...

[...]

Algum tempo caminhando depois, consigo ver um dragão perto dali, parece estar atacando algo. Um dragão adolescente ainda, e acredito ser capaz de enfrenta-lo facilmente. Pode não parecer, mas por ter uma entidade divina dentro de mim, a força que tenho é quase surreal, e o suficiente para derrubar um dragão em estado de crescimento. Pulo para algumas árvores mais próximas dele, e observo minhas melhores opções, mantendo o foco e o observando calmamente. Como estava um pouco desprevenido ou com a atenção presa em algo, ele acaba por não esperar meu ataque, onde pulo em seu pescoço, e com o auxílio de minhas garras, faço cortes entre a sua armadura de couraça de escamas. Mesmo com ferimentos daquele nível, ele insistiu em lutar pela sua vida, conseguindo me jogar para longe dele, escapando de mim em seguida. Ameaço tentar correr atrás do mesmo, mas logo se torna em vão quando ele alçou vôo, abrindo suas asas em direção ao céu aberto. Com um suspiro, lamento minha falha tentativa de derrota-lo, a verdade é que já vi muitos Uribás sendo atacados por esses dragões. Não gosto de pensar em que suas famílias sentiriam ao saber que um deles havia partido de forma em vão por um ser selvagem. Dragões são seres extremamente difíceis de se lidar, sua enorme força, tamanho e resistência, faz com que os Uribás mal consigam enfrentar um desses seres alados sozinhos, ou até mesmo em grupos.

– É... não foi dessa vez...– Digo infeliz observando o dragão voando para longe.

Olho ao meu redor e percebo que havia árvores quebradas e até partidas ao meio, pelo jeito realmente havia acontecido alguma batalha por aqui, alguém lutou até o fim com aquele dragão por sua vida. Um pouco mais a frente de mim, havia um pequeno metal reluzindo com os feixes de luz que passavam pelas árvores. Me aproximei para ver o que era, e para minha surpresa era uma pena de ave, só que feita de um metal negro, eu nunca havia visto algo parecido. Meus sentidos se aguçaram e então ouvi um barulho vindo de dentro da mata, parecia um som tímido, o cheiro que exalava não era ameaçador. Novamente tornei a andar com cautela seguindo o som e o cheiro, até avistar um...

"CORVO GIGANTE????"

Digo... Era um Uribá, só que com asas negras gigantes nas costas, assim como o de asas vermelhas que havia visto a alguns minutos atrás. Olhei para a pena de metal em minhas mãos, e percebi que ela era muito parecida com as penas de sua asa. Ele respirava e parecia vivo e bem, só estava com suas roupas um pouco rasgadas, devido a batalha com o dragão. Me indaguei com o fato dele ter sobrevivido ao ataque do lagartão de asas, mas conclui que era melhor deixar ele se levantar sozinho e não me mostrar. Com isso joguei a pena metálica ao chão, e voltei a seguir meu caminho pela floresta, indo em direção ao local onde havia deixado minha presa. Ao chegar, tornei a fazer uma refeição antes de descansar um pouco, e cair no sono... Sonhando mais uma vez com as lembranças que me acudem, e atormentam ao mesmo tempo.

[...]

Algumas horas andando pelo local, ainda não havia desistido de encontrar o dragão. Porém o que avisto no entanto é um grande pássaro de asas douradas. Novamente, ele se assemelhava aos Uribás, e levava em suas costas um arco e uma bolsa com algo dentro. Pensei em me aproximar mas logo percebi que não estava totalmente sozinho ali. Então procuro um local para me esconder e ficar apenas observando o que iria acontecer daqui em diante.

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