Coloco a minha mala no bagageiro do avião e me acomodo em minha poltrona, estou a caminho de um congresso, cujo o tema é cirurgia de pescoço.
Não consigo conter a minha felicidade em mais uma vez voltar para a minha cidade. Lugar este que morei até os meus 18 anos, depois eu fui embora para cursar medicina.
Estou super ansiosa para rever os meus pais, as minhas irmãs e alguns amigos.
Me chamo Milene, tenho 30 anos, sou preta, meço 1,70m, cabelo encaracolado na altura das costas.
Fui adotada quando tinha 6 anos, tenho duas irmãs mais velhas, a Juliane e a Jéssica. Não preciso dizer que sou o xodó da família né?
As coisas nem sempre foram fáceis, meus pais o seu Paulo e a dona Valéria são professores e por lecionarem em escola particular, minhas irmãs e eu tivemos a oportunidade de estudar em um ótimo colégio.
Minhas irmãs são incríveis, a Juliane tem um relacionamento homoafetivo, a sua companheira é muito bacana, acho lindo a forma como elas se tratam. A Jéssica é toda doida, vive a vida no seu limite, ela tenta ser durona, mas tem um coração de mel.
Com 8 anos eu dizia que seria médica para ajudar as pessoas carentes. Comecei a focar nos meus estudos desde o ensino médio para conseguir entrar em uma universidade pública. Foi muito difícil deixar a minha família, mas eu precisava ir em busca do meu sonho. Passei de primeira em três universidades, só faltei soltar fogos de artifício tamanha foi a minha felicidade.
Após eu me formar, consegui uma bolsa em uma universidade nos Estados Unidos, lá eu fiz a minha especialização em cirurgia da cabeça e do pescoço.
Foi um período de aprendizado, de descobertas, de crescimento profissional e pessoal, eu estava sozinha, só podia contar comigo mesma. Isso me tornou uma mulher mais forte, mais segura.
Estou em um relacionamento a 2 anos com o Felipe, ele tem 36 anos, eu gosto dele, da companhia, mas sei que não é amor. Ele é diretor de uma empresa, muitas vezes sou cobrada por não lhe dar a devida atenção em virtude da minha rotina maluca. Eu não posso fazer nada, desde quando nos conhecemos ele sabe como são as coisas.
Ultimamente ele tem falado em casamento, mas sinceramente eu não me sinto preparada, não tenho certeza se ele é o homem com quem eu quero passar todos os dias da minha vida, todas as vezes eu dou um jeitinho de mudar de assunto de uma forma discreta.
Saio dos meus pensamentos quando ouço a aeromoça falar no alto falante.
— Atenção senhores passageiros, se tiver algum médico neste vôo pedimos por gentileza que se apresente.
Me levanto rapidamente e vou até a aeromoça e me apresento.
— Olá sou a doutora Milene Nigro, em que posso ajudar?
— Temos uma emergência com uma gestante, me acompanhe por favor.
Ao chegar na moça, vejo que ela já está sendo atendida por um outro médico. Me aproximo e perguntou se ele precisa de ajuda, ao levantar a cabeça nossos olhares se cruzam e permanecem conectados.
— Você!
Dissemos juntos!
— O que temos aqui?
Lhe pergunto.
Ela está em trabalho de parto, mas está apenas de 29 semanas.
Saio correndo do meu plantão, irei encontrar com a minha noiva Tamires, estamos juntos a 4 anos, ela é filha de um empresário, grande amigo do meu pai.
Irei participar de um congresso na minha amada cidade, saí de lá aos 16 anos. Com a empresa do meu pai em expansão, ele simplesmente decidiu que deveríamos ir embora para outro estado, aonde os negócios dele poderiam crescer mais rapidamente.
Me chamo Fernando Piovesan, tenho 31 anos, sou preto, 1,90m, sou bem vaidoso tenho o corpo definido, olhos pretos, cabelo raspado.
Tenho duas irmãs mais novas a Flávia e Aline. Meu pai é o senhor Augusto e a minha mãe a dona Antônia.
Nós éramos uma família feliz até o momento em que meu pai começou a ganhar dinheiro, é triste dizer, mas ele deixou o poder subir para a cabeça.
Minha mãe continua doce como um mel, somente ela mesmo para aturar o meu pai.
Em determinado momento meu pai não queria mais que eu cursasse medicina, se fosse por ele eu teria me formado em Administração. Quando nos mudamos sem opção, ele me tirou pessoas e coisas que são importantes para mim. Só que desta vez eu não abriria mão do meu sonho por causa da vontade dele.
Quando meu pai viu que não teria mais jeito ele teve que aceitar a minha escolha. Me formei em medicina e me especializei em cirurgia da cabeça na Europa, estou indo para um congresso sobre cirurgia de pescoço.
Minha irmã Flávia, tem 27 anos e se formou em Administração, no princípio eu achei que ela estava cursando Administração apenas para agradar o meu pai, mas hoje eu vejo que ela realmente nasceu para isso, para os negócios.
A minha irmã Aline tem 25 anos é delegada, meu pai surtou quando ela disse que seguiria este caminho, após se formar em Direito. Eu tenho um baita orgulho das minhas irmãs! Cada uma tem sucesso naquilo que decidiu fazer.
Estava tirando um cochilo no avião quando ouço o chamado da aeromoça.
— Atenção senhores passageiros, se tiver algum médico neste vôo pedimos por gentileza que se apresente.
Me levanto às pressas, pego a minha maleta e me apresento para a aeromoça.
— Sou o doutor Fernando Piovesan em que posso ajudar?
— Temos uma passageira gestante que está reclamando de dor, diz a aeromoça.
Seguimos até o final do avião me agacho para falar com a moça.
— O que a senhora está sentindo?
Lhe pergunto.
—Estou com muita dor, a minha barriga está endurecendo, não está na hora de nascer, estou apenas de 29 semanas..
Faço alguns exames simples e percebo que ela realmente está em trabalho de parto e não teremos tempo de pousar.
— Posso lhe ajudar em algo?
Ouço uma voz feminina que fez o meu coração bater mais rápido, não entendo o que está acontecendo.
Levanto a cabeça, o meu olhar cruza com o dela e permanece conectado por uns instantes até que ouço a gestante reclamar de dor.
—Você!
Dissemos juntos! Foi apenas isso que eu fui capaz de lhe dizer quando eu a vi.
— O que temos aqui?
Ela me pergunta.
— Ela, aponto para a gestante, está em trabalho de parto, mas está apenas de 29 semanas. Precisamos fazer o parto dela, não teremos tempo de pousar.
Preciso me recuperar desta grande surpresa, temos um parto para fazer e requer todo cuidado possível, afinal o bebê está nascendo prematuro.
Após a aeromoça nos trazer tudo o que havíamos solicitado, a deitamos e juntos iniciamos o parto da forma mais segura possível, dentro da nossa realidade naquele momento.
Ao retirar a bebê, eu a entrego para o Nando, ouvimos a mãe dar outro grito, quando ela abre as pernas vejo outra cabecinha.
— Nando entrega a bebê para a mãe, tem mais um bebê nascendo.
Precisamos ter todos os cuidados possíveis, pois vimos que a criança está com o cordão umbilical enrolado no pescoço e qualquer descuido podemos perder os dois.
Foi mais complicado que imaginamos, mas no final deu tudo certo.
Gestante: Doutora como isso é possível?
— Nunca apareceu este príncipe nos exames.
— Ele pode ter ficado atrás dela, é possível notar que ele é menor.
Eu a respondo.
— Ela já veio mostrando para o que veio. Brinco a mãe.
Verificamos se a mãe e os bebês estavam bem. O pai das crianças desmaiou quando soube que eram gêmeos, deixamos que a tripulação cuidasse dele.
— Darei o nome de vocês aos nossos filhos em forma de agradecimento, espero que eles sejam boas pessoas, assim como vocês.
O Nando e eu trocamos os olhares e permanecemos em silêncio.
O piloto informou que faltava apenas 20 minutos para pousarmos, me certifiquei com a aeromoça que ambulância deve ter UTI Neonatal, precisamos garantir que os bebês cheguem bem até o hospital.
— Você é sempre previnido assim ao ponto de andar com a sua maleta?
Brinco com ele.
Noto uma seriedade que eu desconhecia vindo dele, procuro em seu olhar o Nando que eu conheci, que era doce, carinhoso e divertido, infelizmente não consigo encontrar.
— Estava de plantão e vim direto.
Se limitou a me responder.
Permanecemos em silêncio até que o avião pousa, ouvimos o barulho das sirenes se aproximar cada vez mais.
Ajudamos no transporte até a ambulância e nos despedimos da mamãe com os seus bebês.
Enquanto aguardo a minha mala chegar, vejo o Nando com uma mulher, acredito ser a sua namorada, procuro em sua mão e vejo uma linda aliança dourada em sua mão direita, ao levantar os olhos percebo que fui pega, o vejo me olhar com a sobrancelha arqueada.
Continuo o encarando e noto quanto o tempo fez bem para ele, os seus traços continuam os mesmos, mas ele está mais másculo, com um corpo que dá para lavar um cobertor, isso não é um tanquinho é uma máquina de lavar... Rio comigo mesma por ter este tipo de pensamento.
Pego a minha mala e vou em direção a saída, chamo um táxi e passo o endereço dos meus pais. Eles não sabem que eu estou chegando, quero lhes fazer uma surpresa.
Chego na casa deles e toco a campainha, ao me ver meu pai vem correndo e me dá um abraço, que saudades minha filha. Este é o melhor lugar do mundo, o abraço do meu pai, como eu senti falta disso.
Minha mãe fica na porta nos olhando e corro para abraçá-la.
Que saudades mãe!
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