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Um Belo E Inestimável Destino

Cap. 01- Detenção

Delegado- Então, senhor Davis, está dizendo que não é o culpado?

Zayan- Meu nome é Zayan Williams, e você é o quê? Delegado? Eu seria culpado de quê, afinal? Como vim parar aqui?

Delegado- Digamos que atendo as linhas do destino, e...

Zayan- Que lugar estranho é esse? Onde é a saída? Que papo furado de linhas do destino é esse? É algum tipo de pegadinha? Por acaso está tentando se promover as minhas custas? Fala! O que estou fazendo aqui? Por que estou acorrentado? - Pergunta batendo suas mãos na mesa.

Delegado- Nossa!! Você é irritante! Quantas perguntas! Quem faz as perguntas aqui sou eu! Baixe essa sua bola! - Declara aborrecido.

Zayan- Por que não me dá as respostas para as perguntas que acabei de fazer, hein?

Delegado- Agora, fique calado! - Ordena.

Zayan sente a sua boca se fechar. Ele até força palavras, mas nenhum som de voz sai da sua boca. O homem casca grossa na sua frente fica em silêncio, Zayan começa a se debater fazendo barulho de repente seu corpo fica paralisado, apenas sua cabeça ele consegue mover. Em seus pensamentos está furioso, mas não consegue aliviar sua tensão com as palavras. De vez em quando Zayan percebe o olhar perspicaz de relance em sua direção, o homem respira pausadamente e volta a sua atenção para a leitura do arquivo na sua prancheta e começa fazer umas anotações. Parecem ser muitas folhas, era como se estivesse lendo um script de algum livro ainda não publicado.

Zayan fica observando ao derredor e percebe que a sala em que está é totalmente branca, aparentemente sem portas. A sala está clara, mas não tem sinal de lâmpadas ou mesmo interruptores. Está apenas ele e esse homem gordo e barbudo sentado e analisando o conteúdo dos arquivos na sua prancheta tão concentrado que Zayan até ficou curioso em saber do que se trata o assunto contido naqueles papéis.

Zayan está bastante incomodado, a cadeira em que está sentado é dura e desconfortável e está fria. Para piorar a situação as mãos dele estão acorrentadas na mesa mais gelada ainda. Sua sorte é que ele não odeia o clima frio e o seu corpo também se adapta fácil, senão ele já estaria batendo os queixos ou congelando. Seu pensamentos confusos não o ajuda muito, afinal, nem sabe como veio parar nesse lugar e o cara barbudo não quis lhe responder.

Esses últimos dias têm sido muito estranhos para Zayan. Tem tido muitos pesadelos e com certeza esse era mais um, assim pensava, mesmo que observando tudo, dessa vez parecia estar mais realista. Esse lugar se diferenciava de todos os outros onde parecia ter ido e para piorar estava na companhia de um cara super estranho que escancarava seu mau humor, o olhando com desdém e sorrindo de lado deixando Zayan ainda mais irritado.

Delegado- Apreciando a vista, querido? — Pergunta arqueando as sobrancelhas grossas e sorri com ironia.

Zayan- O quê? Vocês está louco? - Grita em pensamento.

Papai!? Papai!?

Delegado- De novo!? — Suspira impaciente, puxando a sua barba grossa encaracolada para baixo.

De repente os sons de aparelhos hospitalares ficam cada vez mais intensos e Zayan é sacudido. Ele desperta com as palavras de uma garotinha aparentemente de uns quatro a cinco anos de idade, com cabelos longos, pretos e ondulados, e olhos azuis-claros. Ela estava o encarando de pé em cima de uma poltrona encostada na cama e olhava tristemente para ele.

Ayla- Papai!? O senhor abriu os olhos! — Gritou surpresa descendo da poltrona.

Zayan- Quem é essa garota? — Se questiona.

Ayla- Mamãe! Mamãe! O papai acordou! — Grita descendo rapidamente da poltrona e sai correndo para fora do quarto.

Zayan- Papai? Quem é seu pai, garota? Não sou pai de ninguém não!Droga de aparelhos, não consigo me mexer e nem sai nada de minha boca! Mil vezes droga! O que aconteceu comigo? — Resmunga consigo mesmo.

O homem deitado começa a se agitar demasiado os aparelhos detectam o seu estresse. Os médicos que entram no quarto percebendo o estado dele aplicam um sedativo e ele apaga novamente.

Delegado- Olá senhor Davis! Bem-vindo de volta! Precisamos terminar isso aqui! Já é a terceira vez que sou interrompido! Eu tenho outras coisas pra fazer! — Declara revoltado.

Zayan- Como assim terceira vez? Minha voz voltou!?

Delegado- Primeiro quando você deu um ataque de fúria e tive que te acorrentar...

Zayan- Então por isso que os meus pulsos estão presos em sua mesa? Quando foi isso? Por que fui preso?

Delegado- Senhor Davis...

Zayan- Por que insiste em me chamar de Daaavis...? — Bate a mão na mesa fazendo um barulho ecoar pela sala.

Delegado- Mas esse é o seu nome! Anthony Davis! — Esbraveja e a sua voz estrondosa ecoa pela sala.

O delegado lança a prancheta para perto de Zayan.

Zayan- Meus ouvidos! Seu mal-humorado!

Zayan pega a prancheta pesada, nela está as informações de um certo Anthony Davis e começa a lê-la.

Zayan- Anthony Davis, idade 24 anos, altura 1,90 metros, cabelos negros e olhos azuis-claros. Que ridículo! Os meus olhos são negros como a escuridão, e os meus cabelos são castanhos claros como os da minha mãe!

Delegado- Tem certeza? Deveria se olhar no espelho.

Zayan- E cadê o espelho? — Indaga com desdém.

Delegado- Não temos aqui. — Suspira impaciente.

Zayan- Já estou estressado com você gorducho! Não me disse a razão de estar preso aqui. Me lembro de que agora a pouco vi uma menina, eu estava em uma cama de hospital. Eu estou preso em minha mente, por acaso?

Delegado- Bom... Que tal recomeçarmos, Senhor Anthony Davis?

Zayan- Isso já está ficando chato!

Delegado- Mais chato é você me interrompendo o tempo todo! Se não calar essa sua boca, ficará para sempre aqui sozinho e calado! — Puxa a prancheta de supetão.

Zayan- E onde é realmente aqui? — Questiona desdenhoso, apontando o seu dedo indicador na mesa.

Delegado- Você está no percurso do destino. Eu sou o delegado e vou ver se você merece retornar ou não para sua vida.

Zayan- Está brincando, não é? Percurso do destino? Há há há... - Sorri debochando.

Delegado- Então essa é a razão para ainda continuar aqui. Seu babaca!

Pai! Pai! Acorda! Você me prometeu que iríamos jogar futebol! Por favor!

Zayan- De onde está vindo essa voz?

Delegado- Do outro lado da porta.

Zayan- Que porta? Onde ela está?

Delegado- A porta da vida. Você...

Zayan- Está falando sério? Isso não é um pesadelo?

Delegado- Você já é o próprio pesadelo, por que a ansiedade agora?

Zayan- Espere... — Então começa a digerir as informações.

Zayan- Eu estava em meu carro esportivo e um babaca entrou de vez com um caminhão de quinta e minha nossa... Então... isso quer dizer que...

Delegado- O seu corpo está sedado do lado de lá e isso é ótimo, assim você não vai mais voltar pra lá e me interromper antes que eu termine.

Filho... ele não pode te ouvir!

Zayan- Uma voz de mulher? Quem é ela? Olha eu preciso voltar...

Delegado- Parece que podemos conversar agora. — Volta a examinar os arquivo e diz confuso por causa os dos detalhes do corpo hospitalizado:

Delegado- Bom, só tem um problema...

Zayan- Que problema? - Indaga curioso.

Delegado- Seu corpo. O seu verdadeiro corpo... Por que você está aqui? Isso não devia ter acontecido! - Começa a se preocupar.

Zayan- O que tem ele?

Delegado- O seu corpo foi destroçado. Foi um acidente terrível, 5 mortes no total incluindo a sua. A questão é por que você foi o único que foi mandado para cá? Nem é o seu corpo que está no hospital!

Zayan- O que quer dizer com isso?

Delegado- Eu sou responsável por cuidar das almas que tem a possibilidade de retornar ao seu corpo. Só não entendo como você veio parar aqui se não é seu corpo o que está lá e você já foi por duas vezes...

Zayan- Recapitulando... eu estou numa espécie de lugar que dá para a eternidade? - Pergunta ainda descrente da sua atual situação.

Delegado- E você pode escolher permanecer aqui até que alguém de lá decida que o corpo tem que descansar, para que a sua alma atravesse o portal ou você poderá seguir a sua vida com essa oportunidade.

Zayan- Isso é piada, não é? Gente... como pode? — Sorri nervoso.

Delegado- É sua escolha. O verdadeiro dono daquele corpo não quis mais voltar para ele pelo visto. E você acabou seguindo-o e a sua alma tem afinidade com o corpo de Anthony Davis, senhor... Zayan.

Zayan- Agora fala o meu nome? Bonito, não? - Interroga com sarcasmo.

Delegado- Você é muito convencido!

Zayan- Essa é minha essência. Eu sou eu! - Suspira... - Então, a minha única chance de voltar pra lá é estar dentro do corpo de outra pessoa? É isso?

Delegado- Pegar ou largar...

Zayan- Não tenho escolha, não é?

Delegado- Ter, até que tem... a minha companhia. — Comenta fazendo um charme.

Zayan- Dispenso! - Declara rapidamente.

Delegado- Menos um pra me atormentar. - Manifesta-se aliviado.

O delegado começa a ler as informações:

Delegado- Anthony Davis tem muitas... há há há... — Coloca a mão na boca e completa: — Acho melhor descobrir por si mesmo.

Zayan- Por que todo esse ar de mistério, e esse sorrisinho ridículo?

Delegado- Você já me encheu demais! Agora saia daqui e viva uma vida feliz! Faça desejos, sonhe, cresça, se bem que você já é enooorme. Mas enfim, ame e deixe ser amado. Não quero ver essa sua cara irritante por aqui tão cedo!

Zayan- Quanta empolgação! Sei bem que essas palavras de incentivo tem um certo sarcasmo por trás delas.

Delegado- Só estou sendo sincero.

Zayan- Bom... mas eu tenho pendências para resolver e só vou conseguir fazer isso se voltar para lá.

Delegado- Aproveite bem essa sua segunda chance, querido. — Diz zombando de Zayan e abrindo as algemas.

Zayan- Cara, você é estranho! Louco!

Zayan então é levado até uma parede onde passa por um espécime de portal e entra no corpo de Anthony Davis. A partir de agora terá que viver a vida de um estranho, e nem sabe como de fato é a vida dele, já que o gorducho não quis colaborar e lhe dar algumas informações. Entretanto pelo pouco que percebeu, parece que o tal Anthony é casado e tem filhos, resta agora ele se adaptar a essa nova realidade.

Durante a noite a paz de Zayan é interrompida. Os efeitos dos sedativos passam e ele acorda atordoado com o barulho azucrinante de uma discussão entre duas mulheres.

Zayan- Quem são essas malucas? Tenho receio de saber... Por que elas estão aqui? Onde será que a garotinha foi? Parece que está de noite... E essas loucas, como podem fazer tanto barulho em um quarto de hospital? Viver a vida desse cara não vai ser fácil. — Declara em seu pensamento.

...Continua…...

Cap. 02- Descobertas

Zayan vai abrindo os seus olhos devagarinho e vê as duas mulheres quase se pegando no tapa, fecha os olhos novamente, pois não quer entrar no meio da disputa, mas como precisa saber sobre a vida do seu novo corpo, mantém a sua atenção nas duas.

Com os seus olhos minimamente abertos ele observa a fisionomia das duas e os seus gestos ao discutirem. Uma é loira com seios grandes e está vestindo um vestido vermelho curtíssimo tem uma voz muito fina e a outra uma ruiva, pelo menos o cabelo é vermelho, corpo bem definido, está vestindo um vestido amarelo cheio de tiras e decote, a sua voz é menos irritante que a da outra.

Zayan- Suponho que elas gostam de se combinarem... — Diz sorrindo em seu pensamento.

Loira- O que está fazendo aqui?

Ruiva- Pergunto o mesmo a você! Dê a meia volta e retorne para o buraco de onde veio!

Loira- Quem vai me tirar? Eu cheguei primeiro!

Ruiva- Onde? Porque chegou aqui quando eu já tinha entrado no quarto!

Loira- É melhor ir embora daqui sua vaca! Tony nem gosta de você!

Ruiva- Não saio daqui! Se alguém tem que sair esse alguém é você!

Zayan- Não me diga que esse cara tem uma amante? Qual delas será a esposa desse idiota? Gostaria que não fosse nenhuma delas, mas pelo andar da carruagem, ele deve estar casado com uma dessas malucas. — Pensa consigo mesmo.

Ruiva- A gente se conheceu primeiro. Você que chegou e se acha a última coca cola no deserto... Nunca teve e nem terá um lugar para você.

Loira- Acha mesmo? Quem é que fica correndo atrás de quem? Eu não vou atrás dele, queridinha! Já você, sempre vai como um cachorrinho balançando o rabo mendigar o amor dele.

Zayan- Nossa, então a ruiva é a esposa e vive se arrastando atrás dele? Que falta de amor próprio. Pelo menos ela tem um corpo mais bonitinho. Mas essas roupas são vulgares demais! Acham que estão em alguma boate? Se bem que não sei de onde elas estão vindo, nem mesmo sei que horas da noite já são.

Plaft! O som do tapa no rosto que a ruiva deu na loira ecoou pelo quarto.

Ruiva- Nunca mais ouse me chamar de cachorra! Você que chegou estragando tudo, sua vadia! A cachorra aqui é você!

A loira parte para cima e xigamentos e tapas são distribuídos entre as duas até que caem perto da cama do Zayan. A ruiva montou em cima da loira e começou a dar tapas. Uma enfermeira entra no quarto e manda as duas calarem.

Enfermeira- Isso aqui é um hospital! Porque as duas estão aqui? Como entraram? Aqui é lugar de silêncio! E só pode uma acompanhante! Além do mais não estamos em horário de visita e o turno de troca de acompanhantes já passou.

As duas se levantam e a ruiva se manifesta:

Ruiva- Essa aí, que entrou sem ser convidada e começou a me xingar.

Enfermeira- Então, Mandy você que está acompanhando ele? — Pergunta para a ruiva.

Loira- Claro que não.

Enfermeira- E então é você, Lara?

Zayan- Então a loira se chama Lara e a ruiva Mandy. Eu queria ter visto os tapas, droga!

Isabelle- Nenhuma das duas. Mas qualquer uma que quiser ficar, ótimo! Vou deixar que continuem o que estavam fazendo. – Revela a mulher parecendo um homem, adentrando no quarto.

Enfermeira- Oi Isabelle. Você que está sendo a acompanhante dele?

Isabelle- Estava. Mas agora que chegaram mais para ficar com esse desgraçado, não preciso ficar aqui parada olhando para esse safado.

Zayan observa aquela mulher, seu nome é lindo, Isabelle, ela não é muito velha, mas seu desleixo em cuidar de si mesma revela que ela é uma pessoa batalhadora, e volta a fechar seus olhos, temendo ser descoberto e iniciar uma discussão de relacionamento sem saber como poder se defender. Mas em seus pensamentos ela é realmente bela, faz jus ao seu nome. Mesmo que seu semblante demonstre que é uma pessoa bastante amargurada e possivelmente trabalha em um emprego medíocre, mas possui um brilho próprio inestimável. Abre seus olhos novamente e seus olhos vão de encontro com os de Isabelle.

Isabelle- Está acordado?

Enfermeira- Deve ter acordado com a briga!

Isabelle- Está fingindo pra não enfrentar as consequências?

Enfermeira- Calma! Ele ainda está sob efeito de remédios.

Zayan funga um pouco e fecha seus olhos novamente. Os aparelhos detectam a sua agitação porque a sua mente ficou bem emocionada com aqueles olhos de cor de mel, que apesar de estarem vermelhos provavelmente de tanto chorar, tinha um brilho que ele jamais viu em nenhum olhar. Essa mulher mal vestida, com os seus cabelos negros presos em um coque mal-feito no alto da cabeça e vestida em uma camisa masculina e calças totalmente folgadas despertou algo nele que as mulheres que estavam no quarto admiraram-se.

Mandy- O garotão despertou! Está aceso, e isso só em olhar pra ela?

Lara- Nem dá pra acreditar... Podíamos dar uma ajudinha pra ele.

Enfermeira- Estão loucas? Ele precisa de descanso.

Lara- Não me diga que você também não está com vontade?

Isabelle- Você não tem um pingo de vergonha nessa cara, não? Estavam agora a pouco dando em cima do Jeremy, para que ele cedesse e deixasse vocês entrarem. Entro no quarto e vejo as duas que nem hienas brigando e agora se juntam... isso é cômico.

Enfermeira- Entraram sem permissão?

Isabelle- A permissão de Jeremy.

Mandy- Pedimos gentilmente a ele...

Enfermeira- Sabe que não podem fazer isso.

Isabelle- Por que não pergunta pra ele? Quando vi as duas, sabia que iria acontecer isso, e como eu não queria escutar baixaria sair para tomar um ar. Apesar de esse imprestável não merecer sequer um minuto do meu tempo.

Lara- E por que está aqui ainda?

Mandy- Voltou por quê?

Isabelle- Por que a irmã dele me pediu pra ficar, por mais que não mereça a minha consideração, ele ainda continua sendo o pai dos meus filhos.

Mandy- Vai continuar usando os seus filhos pra estar perto dele?

Isabelle- Você não sabe de nada.

Lara- Ah é... - É interrompida pela enfermeira.

Enfermeira- Saiam por favor!

Isabelle- Deixa elas ficarem assim eu posso ir para casa... que casa? Esse infeliz entregou de mão beijada para aquela sem vergonha... — Expressa com a sua voz amargurada, e se percebe que está segurando o choro. — Eu preciso voltar para os meus filhos.

E sai deixando as três lá. Zayan fica triste de ouvir as últimas palavras de Isabelle, sua boca ficou com um gosto amargo em pensar em que tipo de situação esse tal Anthony fez ela passar. Uma mulher simples, sem vaidade nenhuma, não dava para acreditar que fora trocada por duas barraqueiras sem escrúpulos.

Enfermeira- As duas pra fora!

Lara- Não vai me dizer que vai ficar como a acompanhante dele?

Enfermeira- Vocês não sabem se comportar, e eu estou aqui para cuidar.

Mandy- Sei... Está é querendo tirar uma casquinha dele já que ele nunca te deu bola.

Enfermeira- Não sou tão desesperada como você.

Um médico entra no quarto e percebe a tensão no ar.

Enfermeira- Senhor essas duas estão incomodando o paciente e se recusam a sair.

Médico- Vá chamar os seguranças! - Ordena.

Lara- Não precisa bonitão! Já estou saindo.

Mandy- Eu vou indo também.

E as duas saem do quarto ainda soltando farpas uma para a outra.

Médico- Ele acordou?

Enfermeira- Ele abriu os olhos e voltou a fechar novamente.

Médico- É normal. Só precisamos esperar ele acordar para ver se houve alguma sequela em sua memória.

Enfermeira- Ele pode ter perdido a memória?

Médico- É uma possibilidade, já que sua cabeça levou uma pancada com o impacto dos carros. Ele precisa de um novo soro.

Enfermeira- Vou buscar. - E sai do quarto.

Médico- Tony, cara como pôde fazer aquilo com os seus próprios filhos!?

Zayan- Tony? Quem é você afinal?

Médico- Estava acordado?

Zayan- Desde quando as duas loucas estavam brigando. Mas eu te conheço?

Médico- Não se lembra de mim?

Zayan- Não.

Médico- Então perdeu mesmo a memória?

Zayan- Preciso usar essa oportunidade pra descobrir tudo o que preciso saber sobre o meu novo eu.. Que patético! Esse cara deve ter dado muita dor de cabeça. — Pensou consigo mesmo e respondeu: — Não me lembro de nada.

Médico- Eu sou Noah Harris. Nós somos amigos desde crianças. E pode se preparar, porque aquelas duas ali não são nada, comparada à sua mãe e avó. Elas vão te tirar o coro!

Zayan- Mas eu não sei nem quem são elas! E além disso eu preciso ir no banheiro.

Noah- Consegue se levantar?

Zayan- Vou tentar.

Zayan começa a se mexer e sente dificuldade em mover o seu corpo bastante pesado, e com muito esforço e a ajuda de Noah eles vão para o banheiro.

Zayan- Não quero que entre comigo!

Noah- Pelo visto ainda tem a mesma insegurança de sempre! Não vou te fazer nada! Eu sou o médico aqui, lembra?

Zayan- Eu consigo fazer isso sozinho.

Noah- Tudo bem, desisto. - E se afasta deixando ele entrar e se chocar com a sua aparência refletida no espelho do banheiro.

Zayan- O que que é isso?

Noah- O que houve? Você está bem?

Zayan- Por acaso esse cara estava treinando para ser lutador de sumô?

Noah- Sério isso? - Solta gargalhadas. - Está se referindo na terceira pessoa? Isso é ilário! Mas está bem aí, mesmo?

Zayan- Além de me chocar com minha própria fisionomia, não tem nada de errado.

Zayan olha pra o seu reflexo e começa a expressar os seus pensamentos em voz baixa para não serem ouvidos pelo médico do lado de fora.

Zayan- Anthony Davis, onde está a sua vaidade? Que corte de cabelo ridículo é esse? E essa barba? Está parecendo o barrigudo lá do além, olha o tamanho dessa barriga! - Expressa passando a mão. - De fato tem olhos azuis-claros, um rosto marcante e nem pensar que eu vou continuar com uma barrigão desses! E esse garotão? — Refere-se ao seu membro agora calminho ao abaixar a calças. - Pelo menos é bem dotado! Deve ser por isso que tem tantas loucas no seu pé.

Volta a se olhar no espelho e diz incomodado:

Zayan- O que adianta ter quase dois metros se está sumindo dentro de toda essa gordura!? Provavelmente nunca faz exercícios e deve comer horrores! - Respira profundamente.

Zayan- Agora, o que importa é eu completar o que eu devia ter feito antes do acidente, dentro do meu corpo ou não, não vou permitir que aqueles sanguessugas usufruam às minhas custas. Não depois de trabalhar duro e eles não se importarem com meu esforço! Zayan Williams não vai deixar de existir só porque estou no corpo de Anthony Davis. Está na hora de tomar as rédeas do meu próprio destino!

...Continua......

Cap. 03- A trajetória de Zayan Williams, o CEO.

Ainda se encarando no espelho, Zayan começa seu discurso:

Zayan- Nome? Anthony Davis! Prazer, eu sou Anthony Davis. Vai ser complicado responder isso! Porque esse corpo não é o meu e eu sou Zayan Williams, CEO das empresas Williams. E Anthony, apesar desse nome ser forte e ter um significado magnífico, esse cara provavelmente não fez por merecer, ou mesmo valer esse nome.

Eu tenho 32 anos, mas esse tal Anthony é mais novo que eu, me lembro que li isso naquele arquivo... Isso é bom, terei mais tempo de vida... Voltei uns 8 anos. Tenho que saber como anda a saúde desse corpo antes de qualquer coisa. Só de lembrar que eu recebi um diagnóstico de doença incurável quando eu cuidava da minha saúde pontualmente e esse cara? Olha só o desleixo! - Pega nas gorduras da sua barriga inconformado. - Só espero que ele não tenha nenhuma doença. Por agora tenho que me conformar em ser esse cara, viver a vida dele, mas jamais vou esquecer das minhas raízes e dos meus planos. Ou será que vou esquecer disso com o tempo? - Fica um pouco preocupado com essa hipótese.

Zayan Williams era filho único de sua mãe e o seu pai não dava a ele o devido valor, já que abandonou sua mãe quando ele ainda era um bebê. Sua mãe era uma cozinheira maravilhosa e trabalhava em um pequeno restaurante no subúrbio de Nova York, já seu pai era um homem mulherengo e cheio de vícios que jamais demonstrou amor pelo filho. Zayan cresceu sob os cuidados de sua avó materna após a sua mãe morrer quando ele tinha dez anos de idade por motivo de doença. Sua avó sempre o apoiou em seus sonhos apesar de não ter uma vida financeira tão boa, sempre lutou para que ele estudasse e se formasse. Ele cresceu com um sonho de ser bem-sucedido e estudou bastante para concretizar esse sonho. Enquanto todos os seus colegas de faculdade iam pra festas ele ficava em seu quarto planejando os seus negócios, projetando o seu futuro.

No início da sua trajetória de sucesso nos negócios, Zayan foi bastante humilhado, seus projetos ridicularizados e descartados, mas ele não desistiu e com sua força de vontade conseguiu dar a volta por cima. Dois anos após sair da faculdade, aos 24 anos criou um negócio pequeno de fabricação de louças e utensílios de cerâmica e conseguiu tornar a sua empresa bem reconhecida por seus designers inovadores. Tentou convencer sua avó de ir morar com ele, mas ela havia se apaixonado por um caipira quando ele estava na faculdade e quis ir morar em uma fazenda. Zayan comprou pra ela a fazenda em que esse caipira trabalhava e viu a sua avó ser feliz e se sentir uma mulher completa ao lado do seu novo amor.

Com o passar dos anos Zayan expandiu os seus negócios para a área de construção civil. Além de fabricar os utensílios, ele também começou projetar e vender imóveis de qualidade. Já tinha 5 anos consecutivos que o seu nome estampava as capas de jornais e revistas sobre negócios lucrativos e matérias sobre homens jovens e bem sucedidos.

No quesito amor, Zayan teve apenas dois relacionamentos duradouros. Sua primeira namorada assumida foi quando estava na faculdade, ela o abandonou depois de ter ido para uma festa com a prima e engravidado do seu primeiro amor de infância. Ele ficou arrasado e depois disso se fechou para o amor e se concentrou em obter o sucesso que sempre almejou. Com sua vida financeira invejável, sempre atraiu muitas mulheres que queriam ficar com ele e tentar engravidar dele para manter uma boa vida. Entretanto, Zayan sempre foi astuto quanto a isso e não tinha planos para ser pai tão cedo, então congelou uma parte do seu esperma e fez vasectomia sem revelar para ninguém. Algumas mulheres até tentaram dar o golpe da barriga, mas foram desmascaradas. Sua vida de baladas estava deixando ele cada dia mais solitário e vazio, até que um dia uma mulher morena cheia de atitude cruzou o seu caminho.

O nome dessa morena é Stela Maldonado, uma arquiteta talentosa e determinada. Uma mulher doce e inteligente, que fez Zayan se apaixonar perdidamente. Seu irmão mais novo, por inveja e ambição gravou um vídeo em que mostrava nitidamente a mulher que Zayan amava se entregando tão apaixonadamente para um homem que era seu concorrente nos negócios e fez com que Zayan entrasse em depressão. Seu relacionamento durou apenas um ano. Ele queria se casar com ela, sentia que com ela seria feliz, e ficaram noivos com a proposta de se casarem depois de 6 meses. Porém, a armadilha bem feita deixou ele amargurado, fazendo-o desistir desses planos e se afundar no álcool. Quando Zayan descobriu que era armação e que a sua amada tinha sido drogada ele tentou ir atrás dela para reparar o seu erro, foi justamente na noite em que aconteceu o acidente. E quem estava por trás do vídeo era seu meio irmão Peter Campbell.

Esse seu meio irmão, é filho apenas do seu pai, Thomas Campbell com Melissa Campbell, e Zayan só o conheceu depois que a sua empresa estava em boa situação financeira porque o seu pai veio atrás dele procurando ter uma vida luxuosa. Peter sempre se mostrou amigável e pegajoso demais, e Zayan deu a ele uma vaga de emprego em sua empresa, deixando-o por perto e vigiando-o. Contudo, Peter sempre se mostrou um bom funcionário na frente de todos, mas escondia as suas jogadas perfeitamente bem e tinha o apoio do pai, da mãe e de sua irmã os quais Zayan deu um emprego, mas eles sempre recusavam a ir trabalhar.

Uma semana antes da armadilha, Zayan passou mal em sua casa e foi fazer uma bateria de exames. O médico ao ler os resultados deu a ele o diagnóstico de uma doença incurável, a mesma que levou sua mãe quando ainda era criança. Ele queria compartilhar com a amada, mas tinha receio da reação dela. Passou uns dias relutantes e quando recebeu o vídeo ficou terrivelmente deprimido. Saber da traição agravou seu quadro de saúde. Ele tinha jogado suas dores para ela, mas não quis ouvir sua versão, desfez seu noivado com ela, mas não teve coragem de revelar para as mídias sociais.

Uma das funcionárias de sua empresa veio visitá-lo e mostrar as armações que seu irmão Peter juntamente com o seu pai estavam fazendo. Essa garota era apaixonada por Peter e ele a enganou e usou, e depois de ser maltratada e levado um fora dele decidiu abrir a boca e entregar as provas para Zayan. A primeira coisa que Zayan pensou em fazer foi ir atrás de Stela.

Naquela noite chuvosa, Zayan ao dirigir até a casa da amada fez um pedido fervorosamente. Os últimos dias tinham sido muito estranhos, catastróficos, mas ele não podia se deixar abalar. Pediu que fosse agraciado com um milagre, com uma nova chance de mudar sua história, de construir uma família feliz e próspera. Queria pedir perdão pelas palavras duras que falou e reparar o erro de ter duvidado do caráter da amada e ter a chance de fazê-la feliz como ela realmente merecia.

A tempestade estava forte e pela ruas de Nova York enquanto dirigia em alta velocidade ao encontro de Stela, um caminhão entrou em sua frente o atingindo em cheio. Seu carro acabou batendo em outros dois carros causando um acidente horrível naquela encruzilhada. Um desses carros era um táxi e Anthony estava no banco de trás. A ambulância e o corpo de bombeiros chegaram e levaram os que estavam feridos para o hospital e os mortos para o necrotério.

Zayan faz um apanhado geral de sua vida e fala consigo mesmo:

Zayan- Acho que quando saí do meu corpo, acabei indo atrás desse corpo. E depois acabei sendo levado direto para a sala daquele gorducho. Será a quanto tempo eu estou aqui? Como será que estão a minha avó e Stela? Nossa! Preciso vê-las. Mas antes tenho que acertar as suas pendências e depois ir atrás das minhas, seu gorducho! Você tem filhos, e ao que parece deixou eles em estado lamentável. Tem um caso com duas loucas ao mesmo tempo e a mulher com quem deveria estar, você deve ter estragado tudo. Como vou lidar com isso? Suas atitudes não devem ter sido boas. Mas vamos que vamos! Vou começar com uma nova dieta. A partir de agora sou Anthony Davis. - Declara batendo dos dois lados do seu rosto olhando para seu reflexo no espelho.

Zayan, agora Anthony, sai do banheiro.

Noah- Eu já estava quase entrando nesse banheiro pra ver se realmente estava bem.

Anthony- Preciso saber sobre mim. Quem eu sou de verdade. - Fala já sentando na sua cama.

Noah- Realmente não se lembra de nada? Nem da nossa infância?

Anthony- Infelizmente não. Por isso quero saber como tenho vivido.

Noah- Vamos só esperar a enfermeira trocar o seu soro e eu vou terminar meu plantão e volto pra gente conversar, tudo bem?

Anthony- Para mim está ótimo. Só me diz que horas são e a quanto tempo estou aqui.

Noah- Agora são 21 horas e esse é o quinto dia depois do acidente. Oh! Não deve se lembrar disso, não é?

Anthony- Não, infelizmente.

A enfermeira entra no quarto e se direciona para a cama de Anthony rebolando toda manhosa.

Noah- Deixa que eu cuido disso.

Enfermeira- Certo. Tudo bem. - Responde inconformada e entrega a bolsa de soro a contragosto.

Noah- Vou só terminar meu plantão e virei te fazer companhia.

Anthony- Tudo bem.

Anthony percebe que a enfermeira ficou chateada.

Anthony- Então deve ser verdade o que a louca disse, que essa enfermeira arrasta uma asinha pra cima do Anthony. - Pensa consigo.

A enfermeira sai do quarto cabisbaixa pois queria ficar essa noite em companhia de seu crush, mas seus planos foram por água a baixo com a iniciativa intrometida do amigo dele.

Noah- Já está jogando charme pra cima da Lucy? Cara você não toma jeito!

Anthony- Não fiz nada.

Noah- Olha, já vou logo avisando que tem muitas coisas absurdas nesse seu trajeto até aqui.

...Continua......

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