Oi, tenho que me desculpar aqui. Me esqueci de deixar avisado que aqui é um derivada de Além da Paixão e do Desejo. Sugiro que você leia primeiro ela e depois volte aqui pra entender melhor como Mitchell deixou de ser o pequeno para ser o malvadão 😉
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Ouço o barulho do despertador às sete em ponto da manhã, é sexta feira. Abro os olhos e encaro o teto do meu quarto.
💭 Bora lá pra mais um dia senhor Rivers-Stanton 💭
Depois da corrida e do banho, eu me apronto pro trabalho. É uma loucura a minha vida. Fundi as duas empresas da família e agora eu sou um dos vinte homens mais ricos do mundo, a diferença entre mim e os outros da lista, é que eu não cheguei nem nos vinte e nove ainda.
Dou uma olhada no meu celular quando o lembrete apita. Cloe chega hoje de viagem, no horário do almoço, ela e a trupe dos primos estão sempre batendo perna por aí. Eles dizem que estão estudando nas viagens. Pois eu acho é que eles estão gandaiando por aí... não faz mal, desde que continuem estudando.
Por falar em gandaia, preciso saber o que Túlio pretende fazer hoje. Semana passada ele me enfiou numa fria, com um bando de mulher desesperada. Tá... eu gostei, mas não tenho pique pra outro fim de semana assim.
Deus me livre!
********
Chego no escritório às nove e Carla, minha secretária, me cumprimenta.
- Bom dia senhor Stanton.
- Bom dia Carla. Vamos começar?
Ela pula da cadeira com o tablet de trabalho nas mãos e me segue até a minha sala. Ocupei o lugar do meu pai Apollo depois que ele decidiu parar de trabalhar, há dois anos atrás. Como a empresa do meu outro pai, Paul, ficava em Calabasas e eu amo minha cidade, eu dei um jeito de botar tudo no mesmo prédio, e a Rivers Incorporations e a Stanton Imports agora são a RS Incorporations.
No final a loucura toda daqueles dois foi um ótimo negócio. Não tenho custo algum com importação de materiais pra nada, só o preço que tenho que pagar por eles, e o sobrenome que eu carrego me abre portas nos quatro cantos do mundo. Não que eu não fosse conseguir carregando um ou outro, mas o dois juntos me evitam até ter que falar as vezes. As pessoas descobrem quem eu sou e automaticamente facilitam as coisas para mim.
Em suma, eu sou o novo todo poderoso, como minha mãe gosta de falar.
💭 Por falar nisso, preciso pensar em algo pra dar a ela de presente de aniversário 💭
Carla começa a repassar a minha agenda depois de me servir um café.
- Hoje o senhor tem que se sentar com Túlio e conversar sobre a implantação da fábrica nova. Ele vai trazer as opções de localização às nove e quarenta. Às onze o senhor Silver vem pra uma reunião a respeito daquele assunto.
O assunto é o rombo milionário que o filho da p*ta do Rock, o cara que era responsável pelo financeiro da minha gestão, deu na Sangue Limpo, a fundação beneficente que meus dois pais abriram quando eu estava passando por... por... por aquilo. Não gosto de falar dessa fase da minha vida.
Enfim, o infeliz mexeu nas contas da instituição e eu descobri depois de seis meses. Eu mesmo teria matado ele, mas o rato de esgoto fugiu. Agora eu e meu tio Don estamos tentando localiza-lo.
Carla continua falando.
- O restante do seu dia foi fechado para receber a senhorita Rivers.
Abro um sorriso lembrando de Cloe. Aquele furacão que eu chamo de irmã e que me tem na palma da mão. Saudade dela, da manha que ela faz, e do jeito alegre que ela tem e que me tira do tédio sempre.
Vai fazer vinte anos, e eu estou sempre de olho nela e naqueles outros quatro, que não dão sossego.
- Tudo bem Carla. Pode ir agora, se eu precisar, te chamo.
********
Túlio chega na minha sala na hora marcada.
- E aí, vamos resolver esse negócio de uma vez por todas?
Aliso meu cabelo.
- Vamos. Não posso mais adiar, a fábrica está pequena pro número de peças que estamos produzindo.
Ele se senta na cadeira de frente pra minha mesa e abre as plantas com os projetos para novas instalações. São todos galpões prontos para aquisição, e que no geral, precisam só de pequenas reformas.
- Olha, eu trouxe esses quatro, mas tenho que admitir que esse aqui é o que mais me agrada...
Túlio aponta pro penúltimo a esquerda.
-... é o melhor custo benefício. Uma boa localização e não acho que o tempo de reforma ultrapasse os seis meses.
Dou uma olhada no que ele prefere e enquanto leio as dimensões do imóvel e comparo com os outros, vejo que realmente ele é o melhor.
- É, também acho. E 1,2 bilhão está num preço razoável mesmo. Vou aproveitar que meu tio vem daqui a pouco pra uma reunião, e vou pedir pra ele arrumar o contrato de compra e venda.
Ele é o meu gerente de projetos e se tornou meu melhor amigo. Chegou do Brasil há três anos, quando eu ainda nem tinha assumido a presidência, e tem a minha idade.
- Ah é... nem sinal do larápio ainda?
Resmungo antes de responder.
- Nem me lembre disso. Esse maldito mexeu numa coisa importante e pessoal demais pra mim. Não teve medo do que eu sou capaz. Pra piorar a situação, ainda me deixou na mão, sem ninguém pra liderar a organização das contas da empresa e da fundação.
Ele concorda com a cabeça enquanto enrola os projetos.
- Não se preocupa, a minha parente está chegando aí. Ela é mais do que boa com essas coisas, e já já vai colocar tudo em ordem.
Tiro meu paletó e vou em direção ao frigobar pegar duas garrafas de água mineral.
- Olha lá em senhor Mendes... estou contando com a eficiência dessa sua tal parente.
Túlio ri de mim.
- Pode deixar, você vai gostar do trabalho dela. Mas mudando de assunto, vamos fazer o que hoje?
*********
- E então Mitchell, não tenho boas notícias.
Meu tio Don entra na minha sala com a mão direita no bolso da calça.
- Ai, não me fala que até agora nem sinal...
- Não. Ruxell me disse que o dinheiro dele sumiu sem deixar rastros, mas o último firewall que ele conseguiu rastrear indicava as Ilhas Cayman.
Pilantra...
- O covarde enfiou o dinheiro em um paraíso fiscal e meteu o pé. Don, eu preciso achar esse filho da mãe e enfiar ele na cadeia.
Ele se senta no sofá da sala.
- Nós vamos forçar ele a aparecer. Eu consegui que bloqueassem as contas até da mãe dele. Não é possível que Rock não vai pular do esgoto em que está se escondendo.
Reviro meus olhos.
- Ele teve coragem de roubar de crianças carentes com câncer, não vai me admirar se ele deixar a própria mãe à míngua.
Don meneia a cabeça enquanto me responde.
- É, você tem razão. Mas de qualquer maneira nós já estamos correndo atrás dele.
Decido mudar de assunto pra me distrair dessa merda toda.
- Preciso que o senhor apronte um contrato de compra e venda pra mim, tio. É pra um galpão da zona norte, já pedi pra Carla te mandar o endereço e as informações por email.
- Tudo bem. Tem um prazo estipulado?
Balanço a cabeça.
- Não, e também não vou te apressar. Sei que vocês estão curtindo a aposentadoria, mas se puder dar uma atenção especial, vou agradecer. O gargalo está apertando na fábrica, não estão dando conta.
Ele abre um sorriso pra mim.
- Vai abrir mais quantas vagas?
- Mais trezentas. Quero que pelo menos cem sejam destinadas a PCD's, é importante pro meu pai e eu gosto de manter a inclusão também.
Nossa conversa se estende mais do que eu pretendia e quando me dou conta, já estou em cima da hora pra buscar minha irmã na área particular do aeroporto.
Entro em um dos elevadores e enquanto estou descendo a senhorita Adams me liga. Saio de dentro do prédio conversando com ela.
📲🔊 - Tá Cloe, eu vou te buscar. Já estou saindo do Tower Rivers.
📲🔊 - Agora? Você tá atrasado. Deixa que eu vou com algum dos nossos primos.
📲🔊 - Sossega o facho e me espera aí mocinha. Eu prometi a mamãe e ao papai que te buscava. Além do mais, você e essa gangue desenfreada só dão dor de cabeça.
O telefone está no viva voz e eu posso ouvir os trigêmeos e Otto reclamando de mim.
📲🔊 - Podem espernear a vontade, é a mais pura verdade. Agora tchau!
Raul abre a porta do Rolls Royce pra mim.
- Boa tarde senhor Stanton.
- Boa tarde Raul.
Me sento abrindo os dois botões no meu terno, e enquanto Raul dá a volta no carro pra se acomodar no banco do motorista, eu olho pela janela. É aí que tenho uma visão e tanto.
*💭P*rra, que mulher é essa?! 💭*
Percebo ele ligando o carro.
- Espera só um pouco aí Raul. Quero ver uma coisa...
Ele desliga o carro e eu continuo com os olhos vidrados no que estou vendo.
Um corpo perfeitamente desenhado em uma calça de ginástica cinza, com duas listras verde florescente de cada lado, e uma blusa regata de tecido respirável também em cinza. O cabelo longo castanho, está preso em um rabo de cavalo alto, e ela colocou as mãos nas costas enquanto admira a imponência do prédio da minha família levantando a cabeça.
Começa a subir as escadarias e chama a atenção de algumas pessoas em volta, embora eu ache que por motivos diferentes. Sou capaz de apostar que as mulheres estão achando ela muito diferente, afinal, está com roupas de academia no meio de todas elas com salto agulha e roupa social. Já os homens devem estar prestando atenção no mesmo que eu: o corpo zero defeitos que ela tem.
Preciso saber quem é. Quer dizer, está entrando no meu prédio, algo deve estar indo fazer que me diga respeito.
- Raul, espere um instante aqui. Eu já volto.
Meu guarda costas confirma com um aceno de cabeça e eu saio do carro abotoando meu terno novamente.
Quando entro no hall do prédio, vejo ela falando com uma das moças da recepção.
Vou me aproximando, e é aí que uma caneta que estava no balcão cai. Ela se abaixa rápido pra pegar e eu quase tenho um ataque com aquela b*nd*. Estou tão focado nela que nem percebo que estou perto demais, ela dá dois passos pra trás quando se levanta , meio que se desequilibrando, e bate a parte de trás do corpo no meu. O perfume cítrico que ela usa está fraco e misturado a algo mais, que eu acredito ser o cheiro dela mesmo depois da atividade física. Instantâneamente eu fico envolvido.
Sinto ela estremecer sentindo o impacto, e estou prestes a abrir a boca pra aproveitar a deixa desse momento, quando ela se vira pra mim.
P*rra...
Sou constrangido por um par de olhos castanhos, com um fundo terra cota, e que parecem ser capazes de enxergar até a minha alma.
Me sinto vulnerável e não é algo que eu esteja acostumado. Eu nunca me sinto assim. Ela me prende no olhar dela por alguns instantes e eu presto bastante atenção no rosto que ela tem. É o pacote completo, rosto e corpo perfeitos. Tem as sobrancelhas ligeiramente levantadas, em uma expressão doce e impressionada ao mesmo tempo. Ela pisca rápido, umas duas vezes, acho.
Por alguma razão eu não consigo dizer nada.
Ouço a voz dela.
- Me desculpe.
Eu a encaro ainda sem dizer nada, ela pisca denovo e de repente franze a testa pra mim.
- Eva, porque você se adiantou duas semanas?
É Túlio. Ela se vira e abre um sorriso enorme pra ele, e eu fico mais hipnotizado ainda.
- Eu queria aproveitar pra curtir a cidade e conhecer tudo primeiro. Que saudade de você primo!
Os dois se abraçam e ele olha pra mim.
- Já se conheceram?
Pisco algumas vezes processando o que está acontecendo. Finalmente consigo falar alguma coisa.
- Não. Ela esbarrou em mim, mas ainda não sei o nome dela.
Túlio nos apresenta.
- Eva, esse é Mitchell Rivers-Stanton, o manda chuva aqui. Mitchell, essa é Eva Mendes, minha prima. A parente que eu te falei que vinha.
Nossa, ela é muito jovem. Túlio havia me falado que ela tem nove anos de experiência com finanças, mas não deve ter mais do que vinte e cinco anos. Ou é muito bem conservada ou começou cedo, quando era menor de idade ainda.
Eva estende a mão direita pra mim, eu repito o gesto, e quando nossas mãos se tocam, eu percebo que o mesmo estalo que eu sinto é o que ela sente também.
Meu telefone toca e quando eu pego o aparelho, vejo o nome de Cloe na tela.
- Vocês me dão licença? Eu preciso ir Túlio, minha irmã está me esperando.
Estou meio frustrado por não poder ficar mais, mas ao mesmo tempo estou aliviado. Essa mulher é intensa demais e eu até agora estou tentando processar o que senti olhando nos olhos dela.
...••••••••••••••••...
- Tchau tia, tchau tio. Vou sentir muito a falta de vocês.
- Ainda não me conformo que você sair de perto da gente por causa daquele traste!
Estou no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, mais conhecido como Confins. Meus tios que me criaram depois que meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha doze anos, vieram me trazer.
Estou levando uma infinidade de coisas que lembra minha terra, principalmente o café da nossa família e o queijo Canastra. Túlio, meu primo, me atormentou horrores dizendo que se eu ousasse chegar em San Diego sem nada de gostoso, eu ia voltar no mesmo dia.
- Eu preciso de sossego de tia Márcia, coisa que faz dois anos que não tenho.
Meu tio Rogério me abraça.
- Juízo vocês três lá hein?! Quando se juntam colocam fogo no barraco, nunca vi!
- Pode deixar, eu prometo que juro que vamos nos comportar nas terras do Tio San.
Minha amiga Ludmilla volta com um pacote de salgadinhos nas mãos.
Ela é uma maquiadora e tanto, e resolveu ir comigo pra Califórnia depois que a avó faleceu.
Ouvimos o nosso vôo sendo chamado e seguimos em direção ao portão de embarque.
*********
Quinze horas e quarenta e um minutos depois, nós desembarcamos em terras Californianas.
Lud está com a cara de broa, tomou um Dramin e apagou.
- Nossa amiga, e agora? Nós temos que ir na imobiliária, não é?!
Abro o bloco de notas do meu celular e vejo o endereço que meu tio mandou eu anotar.
- Isso, vamos pegar um táxi aqui e ir lá. Meu tio já deixou tudo arrumado, só preciso assinar os papéis do aluguel e já pegamos a chave do apê e a localização.
Meu tio escolheu um apê ótimo em Point Loma. É um bairro super central em que se dá pra resolver quase tudo a pé ou de bicicleta. Sem contar que de longe eu consigo ver o mar.
💭 Aaaah, eu tenho as melhores pessoas na minha vida!💭
O apartamento já está todo decorado. Tem uma vibe cosmopolita em tons de cinza e amarelo. Com uma parede de cimento queimado na sala e um sofá de pés fininhos em estilo retrô, em um tom de amarelo vivo.
São três suítes e uma sala de jantar enorme, com uma cozinha bem moderna seguindo o conceito da casa e um chão de madeira nobre e clara por todo o apartamento.
Lud tem um canal de maquiagem no YouTube e está fazendo um vlog.
Sigo em direção ao meu quarto e deixo minha bolsa em cima da king size forrada com perfeição.
Abro as portas de correr que dão pra uma pequena varanda no cômodo e me apoio no parapeito de vidro pra admirar a vista das palmeiras e da praia ao longe.
- É Eva, vida nova!
- Com toda a certeza meu amor!
Minha amiga aparece com duas latinhas de Brahma trincando de geladas.
- De onde você tirou essa cerveja?
Ela abre um sorriso.
- Uai minha filha, abri a geladeira e tem uma caixa inteira lá. Acho que seus tios mandaram o cara da imobiliária trazer pra cá.
Damos um brinde pra comemorar e arrumamos o telefone de um delivery de pizza na internet.
Enquanto nós comemos eu falo:
- Amanhã nós temos que arrumar pelo menos um carro, gata. Precisamos ir ao supermercado.
A quarta feira termina com nós duas levemente alteradas e escutando pagode dos anos noventa na tv da sala.
**********
- Meu Deus Eva, não me admira esse pessoal comer tanta porcaria. Tudo aqui é enorme e muito barato.
Lud segura um pacote imenso de Doritos enquanto nós procuramos pela latinha de queijo cheddar picante pra acompanhar.
- Nem me fale. E esses produtos de limpeza? Tudo tão diferente, não sei se vou me adaptar a não tacar água no banheiro todo e no chão da cozinha.
Depois de pagar pelas compras nós seguimos pro estacionamento em direção ao Toyota grafite que comprei hoje de manhã.
Foi um inferno total o vendedor olhando pra nós duas e tentando nos empurrar um Peugeot conversível. Deus é mais!
Assim que chegamos em casa e organizamos tudo eu começo a fazer o jantar enquanto minha amiga vai trabalhar um pouco. As redes dela explodiram e todos os dias ela precisa colocar um conteúdo novo em alguma plataforma pra manter o engajamento.
💭 Nossa, vou sentir falta da comida mineira, com toda certeza 💭
Dou uma olhada nos produtos que não estou acostumada e decido fazer um macarrão mesmo.
*********
Estou deitada na minha cama depois do banho dando uma olhada no meu Instagram, e percebo uma notificação de solicitação de mensagem no direct.
Um perfil totalmente aleatório com uma mensagem que diz:
📲 - Por que você preferiu ir embora a dar uma nova chance pra gente ?
📲 - Porque se eu fizesse isso eu não iria mudar de cidade, ia direto pra um hospício porque fiquei louca! Vai viver Marcelo, me deixa em paz!
Marcelo é meu ex noivo. Fiquei com ele por seis anos, dos dezesseis aos vinte e dois. E desde que terminei, há dois anos atrás, ele não me dá sossego.
Sempre está arrumando números diferentes pra me ligar e fazendo perfis fakes pra entrar contato comigo.
Me fez de palhaça por anos e mesmo assim ainda acha que pode me manipular, só porque foi meu primeiro namorado. Tem é dó! Demorei muito, mas caí na real.
*********
Chego na porta do quarto de Ludmilla às nove e quarenta da manhã.
- Amiga, vou pra academia. Tem certeza que não quer vir?
- Absoluta!
Dou uma risada. Ela odeia esse lance de ser fitness.
- Tudo bem então. Vou aproveitar pra passar no tal do Tower Rivers e surpreender Túlio.
Ela responde lá de dentro.
- Mal posso esperar pra ver aquela delícia cremosa.
Abro a porta e faço uma cara de vômito pra ela.
- Não sei qual graça você vê nele. Credo!
Ela me olha deitada da cama.
- Toda do mundo, com aquele par de olhos verdes e cabelo preto maravilhoso. Sem contar a barriga de tanquinho que ele tem e a "torneira" pra lavar roupa, que é acoplada à uma mangueira.
- Aaaaaaah Lud, me poupa dos detalhes.
Ela dá uma gargalhada.
- Você não vê graça nele porque são como irmãos. Mas seu primo é tudo de bom.
Reviro os olhos pra ela.
- Deixa eu ir se não perco o horário do almoço dele. Tchau!
********
A RS Worckout é uma academia enorme e fica próxima ao prédio que vou trabalhar.
Vim pra Califórnia porque Túlio me disse que precisavam de uma pessoa nova pro financeiro, depois que o responsável pelas contas da empresa, e de uma fundação beneficente ligada a ela, foi descoberto desviando dinheiro. Um rombo de 22 milhões de dólares.
Eu precisava mudar de ares, e minha experiência com a empresa da família desde nova, me possibilitou ter um currículo interessante pra ocupar a posição. Então eu larguei tudo pra trás e vim pra cá.
Depois de fazer a minha matrícula e arrumar um instrutor, eu passo uma hora e quarenta minutos cuidando de mim.
Abro o Google Maps e digito o endereço do prédio.
💭 Dá pra ir andando💭
Sigo as coordenadas e quando viro a esquina avisto o prédio.
Fico impressionada com um Rolls Royce moderno e preto parado junto ao meio fio, mas é o prédio que me chama atenção. Todo espelhado e enorme! Vi na internet que tem vinte e dois andares.
Levanto minha cabeça pra olhar pra cima e admirar o arranha céu.
Subo a escadaria e entro no hall de entrada gigantesco e com chão de granito escuro brilhando. Avisto seis elevadores e uma movimentação frenética de pessoas saindo pro almoço.
Chego na recepção e falo com uma moça simpática, que pelo o que o crachá diz, se chama Lissandra.
- Boa tarde. Eu gostaria de falar com o senhor Túlio Mendes.
Ela abre um sorriso pra mim.
- Boa tarde. Da parte de quem?
- Diga a ele que é Eva Mendes, a prima dele.
Ela pega o telefone pra chamar meu primo e eu esbarro na caneta em cima do balcão. Me abaixo em um impulso rápido, e quando me levanto dou dois passos para trás em um desequilíbrio.
É aí que esbarro em um corpo rígido e sinto meus sentidos sendo invadidos por um perfume masculino e amadeirado. Me viro pra pedir desculpas e travo. Dou de cara com um peitoral largo, envolvido por um terno slim preto e caro. Sou obrigada a levantar minha cabeça pra conseguir ver o rosto e olha que eu tenho um e sessenta e nove de altura.
É um homem lindo, com olhos azuis e um cabelo loiro perfeitamente alinhado. A mandíbula quadrada é contornada por uma barba cerrada e bem cuidada, e ele me encara com seriedade.
Tem uma cara de mau e o olhar dele imediatamente se conecta com algo dentro de mim.
Sinto minhas pernas querendo vacilar.
Me esforço pra falar.
- Me desculpe.
Ele continua me encarando com a cara fechada e eu franzo a testa.
💭 Que cara mal educado!💭
Graças a Deus, Túlio chega.
- Eva, porque você se adiantou duas semanas?
Eu o cumprimento e depois dou um abraço.
Quando Túlio me apresenta ao malvadão e eu toco na mão dele, sinto um estalo dentro de mim, e posso até estar delirando, mas juro que ele também sentiu.
O telefone dele toca e ele sai de perto de nós dois dizendo que precisa ir ver a irmã.
- E aí, vamos almoçar juntos?
Meu primo chama a minha atenção.
- Eu vim pra isso meu amor!
Túlio me leva a um restaurante pequeno perto da empresa.
Quando nos sentamos observando o cardápio, eu me deixo vencer pela minha curiosidade.
- Você disse que aquele homem é o manda chuva daqui. Pensei que fosse o senhor Apollo Rivers.
Me lembro da foto que vi de um coroa lindo de morrer, com um belo par de olhos cor de mel, ao lado de uma mulher igualmente linda de cabelos pretos e brilhantes.
- É, ele se aposentou um ano depois que cheguei aqui. É um dos pais de Mitchell. Quando ele assumiu a presidência, uniu a outra empresa, a do pai biológico, e colocou as duas aqui. Agora não nos chamamos mais Rivers Incorporations, e sim, RS Incorporations.
Interessante...
- Ele tem cara de ser muito exigente.
Digo fazendo uma careta e Túlio dá uma risada.
- É sim. Ele carrega o peso do legado de duas empresas enormes nas costas, não pode baixar o padrão de qualidade, então, todo mundo segue a cartilha do senhor Stanton.
Depois que a comida chega ele me questiona denovo sobre o motivo de eu ter chegado antes.
- *Ah, você sabe. Marcelo não dá sossego e eu não queria sujar a ficha dele com uma medida protetiva. Ele já é f*dido demais, por si só*.
Meu primo faz uma careta pra mim.
- Vontade de dar uma coça de cipó caboclo nesse sujeito.
- Não esquenta... ele ficou pra trás.
Decido mudar de assunto.
- Onde você mora?
- Em Point Loma.
Dou uma gargalhada e ele me olha sem entender.
- Seu pai me arrumou um apartamento nesse bairro.
Túlio me pergunta o endereço e nós dois rimos quando descobrimos que é no mesmo prédio, e um apê do lado do outro.
Ele mastiga a comida que colocou na boca antes de me responder.
- Ótimo! Vou jantar na sua casa todos os dias.
Eu pisco pra ele.
- Tenho certeza que sim. Ainda mais depois de saber quem é minha colega de apartamento aqui.
- Não, não vai me dizer que a Lud veio morar aqui também?
Balanço a cabeça confirmando e ele fica mais do que empolgado.
- Olha, Mitchell e eu vamos sair hoje pra curtir a sexta feira, vocês duas bem que podiam vir juntas né?! Eu tenho uns amigos aqui e nós entornamos o caneco.
Fico meio tensa de ouvir que meu chefe vai sair com a gente.
- Acho melhor não. Esse lance de beber com o chefe sempre dá merda.
Túlio faz uma careta.
- Relaxa, depois das dezoito ele não é mais o senhor Rivers-Stanton, é meu amigo e que bebe pra c*r*lho.
Penso um pouco enquanto ele enche meu saco.
- Tá, vou falar com a Ludmilla.
Quando chego no aeroporto decido deixar os pensamentos em Eva de lado. Quero me concentrar em Cloe.
- Finalmente Mitchell!
Encontro os quatro dentro do jatinho largados nas poltronas e com a cara habitual de tédio que eles têm.
- Você reclama demais garota. Vamos lá, todo mundo comigo, já passou da hora de almoçar.
Depois que todo mundo segue em carros separados, nós vamos até Hodad's Dowton, eles gostam de se entupir de besteiras e eu preciso me redimir por fazer a gangue me esperar.
Assim que a garçonete anota nosso pedido eu tiro meu paletó.
- E então, como foi a viagem?
Sakura me responde.
- Incrível! Roma é definitivamente o meu lugar favorito do mundo. Tanta coisa linda pra se ver ao mesmo tempo.
Não resisto a encher o saco dela e de Cloe.
- Aposto que vocês duas ficaram jogando moedinhas na Fontana di Trevi e pedindo um namoradinho.
Os meninos não seguram a risada e vejo Cloe revirando os olhos.
- Nós não somos mais crianças maninho. Agora a gente quer é um namoradão mesmo.
As duas se olham trocando um sorriso cúmplice.
- Só por cima do meu cadáver que você vai arrumar um namorado agora, senhorita Rivers.
Ele joga uma mecha do cabelo marrom pra trás e me responde, usando o deboche característico dela, e que herdou da nossa mãe.
- Você consegue ser pior do que o papai as vezes. Um turrão ciumento, e o pior, ciumento por coisas bobas. Não estamos mais no período medieval, mulheres também atacam, sabia?
Bufo.
- Disse bem. Mulheres. Vocês nem saíram das fraldas ainda.
Mudo o rumo da conversa.
- E aí ferrugem, vai se sentar comigo quando pra gente conversar sobre os tais investimentos?
Otto me olha pensativo por um momento. Ele tem o mesmo interesse que o pai pela bolsa de valores e o mesmo tino comercial.
- Não sei. Deixa eu falar com meu pai primeiro, notei umas oscilações de mercado e estou em dúvida ainda quanto à prospecção dos valores.
É um cara sério mesmo não tendo chegado nos dezenove ainda. Ele e os trigêmeos tem a mesma idade, são poucos meses de diferença.
- Tudo bem, quando você e o tio tiverem uma resposta pra mim é só falar. Já vocês dois...
Aponto para Ren e Sho.
-... dei uma olhada no projeto do estaleiro em Bangkok e aquilo está muito bom. Espero vocês na segunda lá na empresa, quero os detalhes de metragem e material, para que eu possa mandar buscar o que é preciso. Também quero um projeto pra reforma de um galpão que eu vou comprar, o pai de vocês já está arrumando o contrato pra mim.
A comida chega, e Sho, que está cursando engenharia, me encara enquanto fala.
- Qual o prazo?
Eu tenho um mestre do obras e um engenheiro em que confio, mas os dois estão pra se aposentar, são da gestão do meu pai Apollo. Espero que quando Ren e Sho se formarem em engenharia e arquitetura, eles continuem me prestando serviços. São bons no que fazem, apesar de estarem só no começo do curso.
Botam as idéias no papel e sempre são muito boas.
- Não posso demorar. Túlio e eu achamos que seis meses bastam. Já pedi minha secretária mandar as plantas pra vocês por email.
Depois de um tempo Ren resolve testar minha paciência.
- O que vocês vão fazer hoje?
Olho pra ele estreitando os olhos.
- Vamos sair pra beber, mas nem adianta vocês quererem ir junto.
- Você sabe né?!
- Sei o quê?
Ele abre um sorriso que faz os olhos puxados se fecharem ainda mais.
- Que a gente enche a cara por aí nos países que nos são permitidos.
Mas é claro... até eu fazia isso na idade deles.
- Não duvido disso, mas acontece que aqui na Califórnia vocês são legalmente proibidos ainda. Nenhum de vocês fez vinte e um, e eu não estou afim de ter seis coroas no meu pé por causa de vocês. Já não basta Cloe ter enchido a minha paciência pra deixar vocês irem na festa de aniversário de Túlio daqui duas semanas, lá em casa.
*********
Estou levando Cloe pra casa dos meus pais.
- Pensei que você ia jantar com a gente.
Ela faz um beicinho infantil, o mesmo que faz desde criança. Ainda se acha uma mulher adulta.
- Amanhã eu venho pro almoço.
- Tá bom. Vai entrar pelo menos um pouco, não é?
Raul para o carro na entrada da mansão Rivers.
- Vou sim, dona Destiny fica louca se eu não falo com ela.
Nós descemos e Cloe abre a porta enquanto sai saltitante pela casa.
- Oi meu pequeno.
Me viro pra ver minha mãe que vem chegando da direção do escritório.
- Mãe, eu não sou mais uma criança pra você ficar me chamando assim.
Ela se aproxima e bate no meu peito. Depois me envolve em um abraço pela minha cintura.
- Pra mim você vai ser sempre meu pequeno.
Abraço minha mãe com toda a força e a suspendo um pouco. Ela solta um gritinho agudo e eu dou uma risada.
- Onde está o senhor Rivers?
- Na cozinha.
Vou andando pela casa até chegar no cômodo desejado.
Cloe está agarrada no nosso pai.
- Ai que saudade!
Ela vê nossa mãe e corre feito uma doida pra abraçar a ela também.
- Oi mamãe. A senhora e papai precisam ir pra Roma juntos. É romântica demais aquela cidade.
Meu pai dá uma risada.
- Eu e sua mãe já fomos lá meu amor. Por falar em viagem, estou pensando seriamente em voltar em Halaveli pra comemorar nossas bodas de porcelana. O que acha morena?
Dona Destiny dá a volta na cozinha e para de frente pra ele.
- Acho uma idéia ótima!
O olhar que os dois trocam me diz que o tal casamento surpresa foi mais do que satisfatório.
Francamente, ninguém merece.
- Rhan rhan...
Chamo a atenção dos dois.
- ... só vim deixar a furacão em casa. Vocês que lutem.
Mamãe protesta comigo.
- Não vai ficar e jantar?
- Não mãe, eu tenho um compromisso hoje, mas amanhã eu venho pro almoço. Já falei com Cloe.
Meu pai me acompanha até a entrada.
- Conseguiu saber alguma coisa sobre Rock?
- Ainda não pai. Essa história está me consumindo de raiva.
Quando chegamos na porta ele enfia as mãos nos bolsos da bermuda cáqui.
- Don me disse ontem que Ruxell estava procurando por rastros digitais dele.
Suspiro desanimado.
- É, mas ele sumiu sem deixar rastros. O último rastreio sobre o dinheiro foi nas Ilhas Cayman, não achamos nem qual banco.
Ele estala a língua antes de me responder.
- Tenho certeza que uma hora ele vai dar um vacilo e nós o pegamos.
Me despeço dele e entro no carro pra ir pra casa. Preciso de um banho e deitar na minha cama um pouco.
**********
Saio do chuveiro e visto uma cueca box preta antes de ir pra cama.
Pego meu telefone, vejo que são quatro e quinze da tarde, e abro uma mensagem de Túlio.
📲 - Às nove e meia no Metall.
📲 - Ok.
📲 - Chamei Eva e a amiga dela que veio junto pra cá, para irem com a gente.
📲 - Tudo bem.
Deixo o telefone na mesinha de cabeceira e encaro o teto.
Ela vai estar lá.
O engraçado e louco ao mesmo tempo, é que eu quero vê-la denovo, mas na mesma hora fico nervoso por isso. O que é uma burrice sem tamanho, porque daqui alguns dias nós vamos trabalhar juntos, o que significa que eu preciso me acostumar com aquela mulher e os olhos enervantes dela.
💭 Nossa Stanton, você só esbarrou com ela. É só uma mulher linda e gostosa💭
Tá... muito linda e muito gostosa.
E com um sotaque fofo, com uma voz suave e um sorriso de outdoor...
Aaaaaaah, inferno!
Preciso domar esses pensamentos em relação à ela. Vai trabalhar pra mim e isso é motivo mais do que suficiente pra ficar distante.
💭 Mas e se eu quebrasse minhas regras com ela?💭
Talvez depois de uns beijos e de uma f*da bem dada eu pare com essa palhaçada..
Não, melhor nem mexer com isso.
********
Chego no Metall no horário combinado e quando entro avisto Túlio com alguns conhecidos. Ele já chegou aqui na Califórnia tendo uma rede de amigos brasileiros e há seis meses mais dois chegaram. Não avisto a prima dele, e espero que ela tenha decidido não vir.
Me aproximo da mesa.
- E aí!?
Ele se vira pra mim.
- Senta aí cara, nós chegamos tem pouco tempo.
Me acomodo em um sofá lateral de couro que é o assento da mesa que eles escolheram. Cumprimento os quatro amigos dele que eu nunca lembro o nome, com um aperto de mão.
De repente eu fico vidrado denovo.
Eva aparece vindo dos banheiros. Ela está usando uma calça cargo em um tom bege, com duas correntes penduradas nos bolsos, uma blusa de mangas compridas, que molda o corpo e destaca o busto farto dela, e que deixa uma pequena faixa de pele da barriga exposta. Mas bem pequena mesmo, não chega nem a aparecer o umbigo, mas é o suficiente pra chamar minha atenção feito um idiota. Está calçada com um coturno preto de cano baixo e tem uma trança boxeadora nos cabelos.
Ela vem acompanhada de uma mulher que parece ter a mesma idade dela, com um cabelo preto que bate um pouco abaixo dos ombros, e que usa uma jaqueta jeans desbotada com um vestido preto justo e um all star cano curto.
As duas se aproximam e eu vejo Túlio especialmente interessado na amiga dela. Ele me apresenta.
- Lud, esse aqui é o Mitchell. Mitchell essa é a Ludmilla.
Ela estende a mão pra mim e eu a cumprimento. Logo desvio meu olhar pra Eva e vejo ela me olhando.
- Boa noite.
Ela não me diz nada, só faz um aceno de cabeça. Está usando um batom vermelho fechado, quase vinho, e que dá destaque à boca bonita que ela tem. A atenção dela em mim dura apenas o momento em que Túlio me apresenta a amiga dela, depois Eva se entretém em uma conversa com Ludmilla e as duas ficam em pé bebendo um drink azul.
Controlo meus olhos pra não ficarem grudados nela o tempo inteiro e interajo com o pessoal. Umas três cervejas depois, Túlio e eu estamos jogando sinuca na mesa perto de onde estamos sentados. É quando olho pra porta do pub e faço uma careta.
- Porque você chamou as duas?
Ele me olha franzindo a testa enquanto pergunta:
- Que duas? Está falando de Eva e Ludmilla?
- Não imbecil, de Melissa e Kimberly.
Faço um gesto com a cabeça em direção a porta e meu amigo se vira pra olhar.
- Eu não chamei elas. Deve ter sido algum dos caras, mas relaxa, é só ignorar Melissa.
Reviro os olhos pra ele enquanto espero sua tacada.
- O problema é que Melissa bebe e automaticamente acha que eu vou querer algo com ela. Fica uma sarna no meu pé. Outra coisa, Kimberly também não pode te ver, toda vez que ela aparece vocês ficam. Como você vai fazer pra administrar isso?
Ele apoia o taco no chão e enquanto me espera, responde.
- Não tem nada pra administrar, você usou a palavra certa: "ficam", e não é toda vez que ela aparece. Kimberly está ciente que eu sou solteiro e vou continuar assim por um bom tempo. Além do mais, minha atenção está focada em Lud hoje, a vi pela última vez quando fui visitar meus pais ano passado e a gente dá match demais cara. Melhor coisa que Eva fez na vida, foi amizade com ela.
Ele dá uma risada e eu acompanho.
As duas nos cumprimentam e Melissa fala comigo.
- E aí Mitchell? Tudo bem?
- Tudo sim, e com você?
Ela me confirma com um aceno de cabeça enquanto presta atenção demais em mim.
Começou cedo hoje, ainda nem bebeu.
É uma mulher muito bonita, tem o cabelo com reflexos cor de avelã, um sorriso bonito, e um corpo legal. Dei alguns beijos nela uma vez e não sei porque, não quis algo mais. Acho que é porque minha mãe vive sempre falando que a mãe dela é de quinta categoria e que, portanto, ela também devia ser.
Ela é filha de Samantha Clark, uma tal que queria ficar com meu pai Apollo mais de vinte anos atrás. Kimberly é filha de uma amiga de Samantha, a mãe dela se chama Tânia Copperfield e minha tia Kyoko prefere ver o satanás do que essa mulher. Algo relacionado a Don.
Enfim...
Grudo meus olhos em Eva denovo e ignoro Melissa completamente.
Ela continua em pé conversando, agora fala também com os homens da roda. É quando chega um imbecil por trás dela e a abraça. Escuto Ludmilla falando:
- Ah, não acredito!
Quando Eva se vira pra ver quem a abraçou, ela fica mais do que empolgada e isso me incomoda.
- Ah, para! Não vai me dizer que você também está morando aqui.
O cara é um dos dois amigos de Túlio que chegaram há pouco tempo. Faço um esforço pra me lembrar do nome dele.
Ah, é...
Jhonatan. Ele tem um irmão, João eu acho.
Me vejo com um interesse mais do que normal na conversa de Eva e Jhonatan.
- Nossa Eva, você tá demais hein?! Cada vez que eu te vejo se supera.
Cara imbecil. Cantadinha ruim.
Ela abre um sorriso pra ele.
- E você está bonito como sempre. Fiquei sabendo que você tinha se mudado para os Estados Unidos, mas eu não sabia que era pra cá.
Ele pega na mão direita dela e fala em português.
- Pois é, ainda dei sorte de encontrar Túlio por acaso. Mas escuta, você está com alguém aqui hoje?
Ela responde pra ele usando a língua nativa também.
- Estou com a cerveja. Não é a marca que eu gosto mas é bem boa. Já experimentou?
Vejo ela balançando uma lata da marca que meu pai e meus tios trouxeram pra cá, há duas décadas já. Jhonatan ri da fala dela e a responde ainda em português.
- Saiu pela tangente, não é senhorita Mendes?! Não tem problema, eu já sei como funciona, vou ficar na disciplina. Quem sabe no fim da noite você não me dá honra de beijar sua boca denovo?
Inferno!
Os dois já se pegaram.
Escuto Ludmilla falando com Túlio.
- Quando vocês vão desocupar a mesa hein?! A gente também quer jogar.
Acho graça da pergunta dela, não estou acostumado com mulheres jogando sinuca com a gente. Na verdade, não conheço nenhuma que goste de jogar. Mas eu me lembro que eles vêm de uma cidade conhecida como capital dos botecos, e que provavelmente, mesa de sinuca é o que não falta por lá.
Acabamos nosso jogo e pra minha irritação ficar maior ainda, ao invés de Ludmilla jogar com Eva, a senhorita Mendes vai jogar com imbecil do Jhonatan. Vontade de dar uma tacada de sinuca na cabeça dele.
- Não vai conversar comigo?
Melissa chama a minha atenção.
- Não, você confunde demais as coisas. Eu quero curtir a noite, não estou afim de perder a paciência com você aqui.
Me sento pra bater papo com o pessoal e noto Kimberly cochichando com Melissa enquanto as duas olham na direção de Túlio. Ele está ouvindo alguma coisa que a amiga de Eva está falando em seu ouvido, enquanto a mantém grudada no corpo dele pela mão direita parada na base das costas dela. É um claro sinal de intimidade e a loira amiga de Melissa não gostou nada.
Ouço uma risada gostosa e me viro na direção do som. É Eva quem está rindo de alguma gracinha que o imbecil do Jhonatan está fazendo enquanto jogam e é inevitável pra mim, fico prestando atenção nela e torcendo pra não perder o bom senso essa noite. Estou parecendo um animal irracional, irritado por causa de duas pessoas que não tem relevância nenhuma na minha vida.
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