ELISA FRANCO
Depois de um ano trabalhando na França é maravilhoso estar no Brasil novamente. Cheguei a poucos dias no Rio de Janeiro, minha mãe, Cláudia Franco, mora aqui e trabalha como professora na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) a dois anos. Não nos vemos desde o ano passado, quando mamãe foi me visitar em Paris e é a primeira vez que venho para o Rio. Estou feliz em passar um tempo com ela, adoro ouvir seus conselhos e me aconchegar em seus braços enquanto conto sobre as minhas viagens.
Meu pai, Eduardo Franco, morreu de câncer no pulmão quando eu tinha 15 anos. Eu e minha mãe cuidamos uma da outra, foi um período bem difícil. Com 19 anos, tornei-me modelo e, por ter o biotipo perfeito e o carisma necessário, me destaquei nas passarelas. Desde então, viajo sem parar, participando de desfiles e eventos. Também sou chamada frequentemente para representar diversas marcas na indústria da beleza.
Hoje, com 29 anos, estou prestes a lançar minha primeira marca de batons através da Revista BELLA COSMÉTICOS, o que tem me deixado muito ansiosa. Meu sonho é ser estilista e ter minha própria loja de roupas. Quero me aposentar das passarelas e ficar apenas nos bastidores. Meu plano é focar no lançamento de vários produtos e criar minha própria marca, "ELISA FRANCO". Sinto que esse trabalho será o início de uma nova fase da minha vida.
Estou quase chegando no estúdio de fotografia LOPES. A revista Bella Cosméticos me indicou e disse que é um dos melhores da cidade. O problema é que estou perdida e atrasada. Nunca dirigi por essas ruas, e o GPS não está me ajudando. Entro em uma rua e logo avisto a Praia de Ipanema, meu ponto de referência. Agora é só achar o prédio certo.
Sophie Lopes: Vinte minutos atrasada. Tudo estava pronto no estúdio, e nem sinal da modelo. Odiava o quão esnobes essas pessoas eram. Agiam como se fossem o centro do universo, julgando ter todos aos seus pés. Talvez vocês estejam pensando que sou uma controladora de *$@%#, o que em parte pode até ser verdade. Dei duro para chegar onde estou, construí minha carreira como fotógrafa com muita dedicação e disciplina. Não gosto de atrasos.
— Sophie, fica calma. Tenho certeza de que a Senhorita Franco chegará em breve. Fica de boa. —Flávia, minha assistente e amiga, que me conhece muito bem, percebeu meu mau humor.
— Se a "Dona do mundo" não chegar em 10 minutos, adiaremos — Falo irritada.
Flávia se afastou, sabendo que eu não estava em um bom momento, pegou seu celular e começou a fazer ligações.
A quem eu estava querendo enganar? Não estava rabugenta devido ao atraso da modelo. A verdade é que ontem peguei meu namorado, ou melhor, meu ex-namorado me traindo. Ainda sinto nojo quando me lembro da cena que presenciei.
Ontem o dia foi longo e cansativo. Marcos não estava na cidade, e eu lhe surpreenderia com um café da manhã especial, afinal, já estávamos namorando há dois anos. Resolvi que iria até o seu apartamento e dormiria lá para não ter que acordar tão cedo.
Abri a porta do apartamento de Marcos, porque eu tinha uma cópia da chave. Deixei as compras na mesa da cozinha e fui em direção ao banheiro para tomar um banho. O apartamento era enorme, subi as escadas e caminhei pelo corredor. Fiquei surpresa ao observar as malas de Marcos na porta do seu quarto. Ele já voltou? Ao me aproximar, escuto gemidos que só ficam mais altos. Empurro a porta devagar e fico sem reação ao ver Marcos transando com uma mulher. Ela grita, e ele bate na sua bunda.
— Não para, Marcos, mete mais forte. — Ela era escandalosa.
Minhas mãos fecharam em punho, e cerrei meus dentes. Aquela cena me deu nojo e raiva. A garota olhou para mim e se assustou, empurrando Marcos e cobrindo seu corpo. Ele olhou para a porta, e seu rosto ficou pálido. Eu queria socá-lo, o que não seria muito difícil, já que praticava Boxe, mas só consegui sair correndo. Antes de chegar à porta, senti a mão de Marcos segurar meu braço.
— Sophie, não é o que você está pensando. — Sua cara de cínico me irritou ainda mais.
— Não me toca, seu idiota. - Nunca fui boa com xingamentos. Como queria ter algo pior para dizer!
— Me deixa explicar... Ela não é ninguém para mim. — Olho em seus olhos e sinto nojo. Pela primeira vez, não o vi como o homem perfeito que acreditei que ele fosse.
— Eu não quero ouvir suas explicações. Como pôde fazer isso comigo? Pensei que me amava. — Estava ferida e magoada. Sentia o ódio tomar conta de mim.
— Bebê, você não pensou mesmo que um homem poderia viver sem algumas aventuras? São apenas casos de uma noite. Com você, as coisas são diferentes. Eu te escolhi para ser minha mulher. — Não acreditei no que acabara de ouvir. Quer dizer que ele sempre me traiu e estava se justificando com esse discurso machista de merda?
— Marcos, escuta bem o que vou te dizer, porque não repetirei. Nunca mais quero te ver. Está tudo terminado. Não ouse me procurar. Tudo o que tínhamos, ao que vejo, já não existe há muito tempo. Eu não quero olhar para essa sua cara de idiota, fica longe de mim. — Me viro e saio. Não olho para trás. Eu o odiava com todas as minhas forças
Saio dos meus pensamentos quando a porta do estúdio se abre. Uma mulher alta, magra e loira entra por ela. Com certeza, era a modelo. Aproximei-me para cumprimentá-la e mostrar seu camarim. Eu ainda estava chateada com o Marcos, mas era muito profissional para deixar que minha vida pessoal interferisse no meu trabalho. Boto um sorriso na cara e vou até ela.
ELISA FRANCO
Finalmente consigo chegar. Assim que entro no estúdio, uma mulher muito bonita vem me recepcionar.
— Olá! Meu nome é Sophie. Sou a fotógrafa que tirará suas fotos.
Sophie é uns 15 centímetros mais baixa do que eu, o que na média brasileira ainda é considerada alta. Acredito que ela tenha uns 1,70 de altura. Seu corpo é delicado e cheio de curvas, seus olhos, cor de mel e seus cabelos negros, mas não consigo observar o comprimento, pois estão presos em um coque. Sua boca é cheia e rosada, não consigo desviar o olhar.
Olá Sophie. - Demoro tempo demais saboreando seu nome na minha boca. - É um prazer conhecê-la. Chamo-me Elisa Franco. - Me aproximo e beijo seu rosto. Sei que demoro muito tempo para um simples cumprimento, mas Sophie é muito atraente e seus cabelos têm um cheiro tão bom. O que me faz imaginar ela tomando banho e a água escorrendo por seu corpo enquanto...
— Olá Sophie. — Demoro tempo demais saboreando seu nome na minha boca. — É um prazer conhecê-la. Chamo-me Elisa Franco. — Me aproximo e beijo seu rosto. Sei que demoro muito tempo para um simples cumprimento, mas Sophie é muito atraente e seus cabelos têm um cheiro tão bom. O que me faz imaginar ela tomando banho e a água escorrendo por seu corpo enquanto...
— Você está atrasada, Srta. Elisa. — Sua voz rouca de repreensão só me faz ficar mais interessada. Apesar de ela estar visivelmente desconfortável com os meus olhares, adorei o meu nome na sua boca. Com certeza eu teria que ter aquela mulher na minha cama e fazê-la gozar até que seus olhos estivessem embaçados de tanto prazer. Diferente de agora, que apesar do sorriso, dava para perceber tristeza no seu olhar, o que estranhamente me fez querer confortá-la.
— Da próxima vez não se distraia. — Ela simplesmente deu fim ao meu flerte. Que maldosa! Agora que eu estava me divertindo. — A Flávia vai lhe levar até o maquiador.
A morena volta a sua pose de durona. Depois, vai para o outro lado da sala orientar seus assistentes. Eu poderia ir embora devido à sua arrogância. Ninguém nunca me tratou assim, mas sentia que por baixo daquela casca-grossa existia uma mulher incrível.
— Fica de boa. Nem sempre ela é essa chata. — A moça ao meu lado fala. — Eu me chamo Flávia e adorei sua roupa. — Ela sorri. Seu comentário faz com que eu goste dela imediatamente.
— Não penso que a Sophie seja chata. — Falo sorrindo. — Ela só precisa de uma boa noite de sexo. - Flávia engasga ao meu lado e eu dou risadas.
— Vivo falando isso, mas não conta para a Sophie o que te disse, porque negarei até a morte. — Sento em frente ao espelho rindo do desespero de Flávia.
— Pode deixar, esse segredo é nosso. — Flávia sorri cúmplice.
O maquiador logo vem fazer minha maquiagem. Depois troco de roupa e Flávia me ajuda. Aproveito para arrancar mais algumas informações sobre Sophie. Descubro que ela é a dona do estúdio, o que eu já esperava, uma funcionária não seria tão fria comigo. Flávia me conta que Sophie odeia atrasos. Isso eu senti na própria pele. A morena também pratica diversos esportes, o que, com certeza, contribuía para o seu corpo perfeitamente tonificado. Após alguns minutos, já estou pronta. Vou para o meu lugar na frente da tela branca e Sophie vem em minha direção com sua câmera na mão.
— Muito bem! Vamos começar. Elisa, quero ver seu sorriso natural. — Ela fala. Meu sorriso sai facilmente. Talvez a morena à minha frente tenha algo a ver com isso. — Coloque seu cabelo para o lado e fique séria. — Sophie é tão mandona. Faço o que ela manda e imagino se na cama ela também é autoritária. Esse pensamento faz com que eu morda meu lábio inferior. — Isso mesmo, continue com essa expressão. — Aquilo foi fácil, olho para a boca carnuda de Sophie e minha cara sensual sai naturalmente. — Ok, ficou ótima. Assim mesmo. Agora faça carão. — A morena se aproxima e ficamos a menos de meio metro uma da outra.
Ela levanta a mão e ajeita meu cabelo, o que me faz esquentar de imediato. Sinto uma conexão incrível com aquela mulher. Isso me assusta de início, mas depois se torna a melhor coisa que já senti. Aqueles olhos, cor de mel, ficam me encarando. É naquele momento que percebo que ela também sente aquela tensão entre nós.
— Daremos uma pausa! — Sophie fala me assustando. Como se eu estivesse saído de um transe sinto minhas mãos suadas e meu coração acelerado. Com toda certeza estou excitada.
SOPHIE LOPES
Caminho até a minha mesa e começo a mexer na câmera sem realmente focar no que estou fazendo. Minhas mãos estão tremendo. Quando Elisa Franco entrou no meu estúdio eu estava chateada demais para perceber qualquer coisa ao meu redor. Bastou olhar para os seus olhos verdes, através da lente, para eu perceber que ela não era apenas muito bonita, mas também incrivelmente sedutora. Não sei o que estava acontecendo comigo, sua proximidade me deixava nervosa.
— Você está bem? — Flávia fala me fazendo voltar para a realidade.
— Estou bem, Flá, me desculpa se fui grossa mais cedo. Hoje não está sendo um bom dia! — Minha amiga me olha preocupada, e eu já sabia que teria que contar sobre Marcos.
— Isso tem algo a ver com o Marcos? Porque sei que ele chegou de viagem e você, simplesmente, está aqui e não com ele como sempre faz. — Eu era tão transparente assim?
— Nem sempre estou com ele, Flá. — Só tentava ser uma boa namorada. Lembro o que ele fez comigo e o quanto estou me sentindo uma imbecil agora.
— Sim, você sempre está com ele, mas não foi isso que eu perguntei. — Nesse momento, Elisa volta para a sala com outra roupa e outra maquiagem. Tento não encará-la, mas meus olhos não me obedecem. — Depois conversamos, tá? Vamos trabalhar. - Vou em direção à loira e agradeço mentalmente por ter uma desculpa para não falar sobre o que acontecera com Marcos.
Foi super fácil conseguir fotos incríveis de Elisa. Ela tem um relacionamento com a câmera. Seu sorriso é fácil, e mesmo quando não estamos tirando fotos, observei seu comportamento com as pessoas do estúdio. Todos estavam caídos por ela, com certeza realizariam qualquer coisa que a modelo pedisse. Menos eu, é claro. Apesar de ser irresistível obedecer aos comandos dela e pensar nela sussurrando em meu ouvido enquanto sua mão desce... Sophie se controla. Que pensamentos são esses?
— O ensaio foi perfeito, Sophie. Você é sem dúvida a melhor fotógrafa com quem já trabalhei. — Elisa fala empolgada.
— Obrigada, Elisa, você foi ótima. — A loira me encara surpresa. Eu não a culpo. Não fui um exemplo de simpatia nas últimas horas.
— Obrigada, seu estúdio é lindo. Você mora no Rio há muito tempo? — pergunta.
— Moro aqui desde sempre. — Respondo secamente.
— Minha mãe mora aqui há dois anos. Essa é a primeira vez que venho para cá. Não tive muito tempo de conhecer os pontos turísticos, nem locais onde eu possa me divertir. — Sei que agora eu devia me oferecer para mostrar alguns lugares para ela, mas ela me deixa nervosa, e tudo o que quero é que ela vá embora logo. Assim posso voltar a ter controle sobre meus pensamentos.
— Você devia pedir para alguém aqui do estúdio te acompanhar. Sei que eles iriam adorar ser seu guia turístico. — Sugiro.
— E você? — Será que ela está flertando comigo? Fico um pouco desconfortável, mas devo admitir que gosto.
— Eu, eu o quê? — Pergunto toda errada.
— Você não quer ser minha guia turística? — A loira era direta.
— Me desculpa, mas estou cheia de trabalho.
— Não precisa ser hoje. Ficarei aqui por um bom tempo. — Fala sugestiva.
— Sabe o que é eu... — Flávia chama Elisa. Graças a Deus! Estou salva! A loira me deixa sozinha, e eu posso respirar tranquilamente. Começo a mexer em uns papéis que estão em cima da mesa e tento me focar em outra coisa que não seja a presença da modelo na sala.
ELISA FRANCO
Sophie é uma mulher difícil de acessar. Usei meus dotes de paquera, mas ela nem pareceu se importar, o que me deixou ainda mais curiosa.
No final do ensaio, todos queriam o meu contato, me chamaram para sair e se ofereceram para me mostrar a cidade. A única pessoa de quem eu queria toda aquela atenção estava agora em sua mesa mexendo no computador. Sua resistência me deixou mais interessada. Eu não desistiria assim tão fácil. Aproximei-me de Sophie antes de ir embora. Não me abalaria por sua postura fria.
— Sophie? — Ela me olha. — O pessoal me convidou para ir à praia essa tarde. Você vai? — Sua seriedade me assustava, mas eu não desistiria. Algo me dizia que aquela mulher valia a pena.
— Eu não vou, tenho muito que fazer. Espero que você aproveite o passeio. Quando as fotos estiverem prontas, mando para a Revista.
— Tudo bem. Eu já estou indo. Foi um prazer te conhecer. — Dei um beijo na sua bochecha. Ela pareceu um pouco surpresa. Pensei ter escutado ela falar algo, mas não consegui entender. Acredito que a deixei nervosa. Vou até à porta e percebo seu olhar sobre meu corpo. Sorrio vitoriosa. Mesmo Sophie não admitindo, seu olhar lhe entregou.
Sophie Lopes
— Agora que todo mundo já foi embora, me fala: que bicho te mordeu, Sophie? — Flávia não fazia nem um pouco de cerimônia quando queria saber algo.
— Peguei o Marcos na cama com outra mulher ontem à noite. — Falo friamente. Como eu o odiava.
— Amiga, não acredito que aquele canalha fez isso! Ele não te merece. Você sempre foi a namorada perfeita. — Eu sei que Flávia só quer me ajudar, mas eu não quero falar sobre o que tinha acontecido. Meu humor já estava terrível o suficiente.
— Podemos não falar sobre isso agora? Eu não quero nem lembrar o que aconteceu. — Volto minha atenção para os papéis em minha mesa.
— Tudo bem, amiga. Quando estiver pronta, eu vou estar aqui pra te ouvir. — Flá sempre foi assim, compreensiva e cuidadosa.
— E aí, vadias. O que estão aprontando? — Conheça meu melhor amigo, Henrique. Além de tudo, ele é meu vizinho e também é um ótimo designer de interiores. Todos os móveis da minha casa foram projetados por ele. Como vocês já perceberam, Rick é espalhafatoso, o que me irrita às vezes.
— Oi, Rick! — Flá e eu falamos ao mesmo tempo.
— O que vamos fazer hoje, gatas? Estou louco pra sair. O trabalho tá me matando. Tenho que pegar uma cor nessa minha pele branquela.
— O pessoal aqui do estúdio vai pra praia hoje. E se a gente for também? — Flá sugere.
— Podem esquecer. Não estou com cabeça para sair hoje. — Falo e Rick me olha curioso. Se aproxima e se apoia na mesa.
— E desde quando você recusa uma tarde na praia, Soph? — Era impossível esconder algo desses dois. Tinha que dar alguma coisa para que eles me deixassem em paz.
— Eu e Marcos terminamos. Estão satisfeitos? Agora, será que posso continuar trabalhando? — O olhar de contentamento de Rick não me surpreendeu, ele não gostava de Marcos desde sempre.
— Ei gata, você vai ficar bem. Tem um monte de caras legais por aí, eu sei por experiência própria. Você vai à praia com a gente, nem que eu tenha que te levar a força, e a Flá concorda comigo. — Os dois fizeram menção de que iriam me pegar no colo.
— Tá, tudo bem, eu vou. — Falei fugindo deles. — Mas, nada de ficar me jogando pra cima de macho. Eu estou bem sozinha e é assim que quero ficar.
Vou para o meu quarto trocar de roupa, antes que Henrique comece a me interrogar sobre eu querer ficar solteira.
POV FLÁVIA E HENRIQUE
— Pode me contar o que o embuste do Marcos fez dessa vez, Flávia?
— Sophie o pegou traindo ela, mas é só isso que sei.
— O que? Eu vou matar aquele desgraçado. Quem faz isso com a Soph? Ela é a namorada mais devotada que eu conheço.
— Eu também estou querendo matar o Marcos. Então, entra na fila meu bem. A Soph precisa do nosso apoio agora. Vamos agir como bons amigos que somos e vamos fazer ela se divertir.
— Claro, amiga, esse passeio vai ser bom pra ela.
— E certa pessoa que vai estar lá também.
— O que, como assim? Eu perdi alguma coisa?
— Calma, veado! Não é nada certo, mas até um cego sentiria as faíscas voando das duas.
— Quer dizer que é uma mulher? Ai meu pai.
— Não é apenas uma mulher... É a ELIZA FRANCO, modelo internacionalmente conhecida.
— Você não precisa me lembrar quem é a ELIZA FRANCO. Ela é tipo minha deusa da moda. Nossa agora a Soph acertou em cheio!
— Em quê eu aceitei em cheio? — Sophie volta para a sala assustando os dois.
— Você acertou em cheio em aceitar ir para a praia com a gente. — Flávia fala disfarçando e depois olha para a amiga. — Amiga, que biquíni é esse? Não deixa nada para a imaginação.
— É só mais um dos meus muitos biquínis. Nada a ver, Flá. E vocês dois parem de fofocar, vamos logo antes que eu mude de ideia. — Sophie vai em direção à porta.
— A VOCÊ SABE QUEM vai ter um infarto quando Sophie aparecer na praia. — Rick fala baixo para que apenas Flávia escute e os dois começaram a rir. Sophie não consegue escutar e fica curiosa para saber o motivo das gargalhadas, mas não fala nada. Ela já está nervosa o suficiente e não sabe o porquê.
ELIZA FRANCO
Depois do ensaio vou pra casa da minha mãe. Dona Cláudia só vai chegar para o jantar, então pego qualquer coisa na geladeira e esquento para almoçar. Vou até o meu quarto tentar achar um biquíni, o que não dá muito certo. Eu quase nunca vou à praia, por isso, meu guarda-roupa era escasso de biquínis. Vou ter que fazer compras antes de ir pra praia. Apressei-me porque estava quase na hora que marquei com Flávia.
Quando cheguei à praia de Ipanema, Flávia veio falar comigo. Ela estava com mais dois caras que eu reconheci de hoje mais cedo.
— Que bom que você veio, Elisa. — Abraço-a e depois cumprimento os rapazes.
— Cadê o resto do pessoal? — Pergunto. Na verdade, eu queria saber se Sophie tinha vindo.
— Eles estão mais pra lá. Vamos, eu te mostro.
Caminhamos por um tempinho até que eu vi uma rede de vôlei e algumas pessoas jogando futevôlei. Dentre elas estava à morena linda que usava um biquíni minúsculo, o que me fez babar por seu corpão. Ela percebeu minha presença e deu um sorriso discreto. Se eu não tivesse prestando atenção não teria visto. Sentei-me junto com outras pessoas e Flávia.
— Elisa, esse é o Henrique. Ele é um grande fã seu. — O homem me cumprimentou com dois beijinhos, o que achei engraçado, ele parecia bem nervoso. Ele era bem alto, talvez uns dez centímetros a mais do que eu. Seus cabelos negros contrastava com sua pele alva e pálida, o que se destacava mais ainda entre tantas peles bronzeadas.
— Oi, Henrique, é um prazer conhecê-lo. Fico muito feliz por apreciar o meu trabalho. — Falo com sinceridade
— Eu adoro seu trabalho, Elisa. Você me inspira a ser criativo no meu. — Fala todo animado.
— É mesmo? E o que você faz? — Pergunto curiosa, mesmo que eu só consiga me concentrar na morena à nossa frente. Aquelas pernas torneadas e aquele abdômen esculpido pelos deuses.
— Eu projeto móveis e também faço decoração de interiores... — Juro que tento prestar atenção no que Henrique fala, mas a cena à minha frente acaba me irritando. A dupla de Sophie, um homem baixo e em forma, que não tira os olhos da bunda dela.
— Eu adoraria ver seu trabalho qualquer dia desses. — Falei, ainda desconcentrada.
— Você tá falando sério? — Ele bate palmas todo alegre o que me faz sorrir. — Vou te mostrar o meu portfólio outra hora.
— Seria perfeito... Mas vamos parar de falar de trabalho e vamos nos divertir. Alguém aqui quer ser minha dupla no jogo? — Falo me levantando e começo a me aquecer.
— Vou ter que me desculpar, Elisa, mas eu sou péssima nesse jogo. — Flávia faz uma cara que me faz rir. Ela deixa bem claro que não gosta de futevôlei.
— Tudo bem. E você, Henrique, sabe jogar?
— Sim, só estava esperando uma dupla, mas parece que já encontrei. — Ele fica ao meu lado e começa a se aquecer também.
— Ótimo, vamos arrasar.
— Só mais uma coisa. — Henrique falou.
— O que?
— Pode me chamar de Rick, todo mundo me chama assim. Quando escuto Henrique só me lembro do meu chefe me dando bronca. — Dessa vez não disfarço a risada. Rick era um palhaço.
— Sério? Tudo bem, Rick.
— Tá certo. Agora vamos acabar com o time da Soph porque ela já ganhou demais e tá se achando muito. — Rick fala alto para que a morena escute.
Sophie o provoca com um olhar de desafio e eu aproveito pra tirar meu vestido e ficar só de biquíni. Minha escolha foi meticulosa. Mesmo não sabendo se Sophie viria, eu escolhi pensando nela. Meu biquíni era fio dental, tomara que caia, na cor azul e a parte de cima formava um X na frente enquanto a de baixo estava fixa por lacinhos na lateral do meu quadril. Minha satisfação aumentou quando percebi a morena olhando pra mim e seu olhar não estava nada discreto.
SOPHIE LOPES
Ainda estava tentando recuperar minha sanidade quando Elisa entra na quadra de areia. Agora, ela prendia seu cabelo loiro em um rabo de cavalo e ria das piadas de Henrique. Eu sabia que ela estaria aqui, mas não sabia que meu corpo ficaria me pregando peças. Tudo estava mais quente agora, inclusive o V entre minhas pernas. Me abanei tentando amenizar o calor, o que estava acontecendo comigo?
Elisa se posicionou de maneira que eu consegui ver a parte de cima dos seus seios. Engoli em seco e ela sorriu sabendo muito bem o quanto me afetava. O que estava acontecendo comigo? Seus olhos de esmeralda estavam desafiadores e aquilo despertou meu lado competitivo.
Me posiciono no canto da quadra, coloco a bola em um montinho de areia e chuto. Rick recebe com dificuldade, mas Elisa domina a bola devolvendo na cabeça dele, que não precisa de muito para marcar um ponto. Os dois ficaram super alegres se abraçando e comemorando. Aquela cena me deixa irritada, quer dizer, eu sabia que Rick era bissexual. Apesar de sua preferência por homens, ele podia muito bem tá afim da Elisa. E o que eu tenho haver com isso? Tenho que me concentrar. "Vamos, Sophie, para de pensar nessas coisas".
Elisa foi a próxima a fazer o serviço. O seu chute foi preciso, o que me surpreendeu. Dominei e passei para Pedro, que era minha dupla. Ele colocou a bola alta e próxima da rede.Cabeceei e Rick não conseguiu dominar. Sorri vitoriosa, provocando Elisa, e ela me olhou como se dissesse "o jogo está só começando".
Foi a vez de Pedro começar. Ele chutou em Elisa, que passou a bola de costas para Henrique, e ele a devolveu para ela alguns centímetros da rede. Ela se impulsionou e literalmente empurrou a bola com a sola do pé, depois caiu no chão se levantando rapidamente. Aquilo foi impressionante! A bola bateu no peito de Pedro e ele não conseguiu dominá-la. Elisa me olhou, levantando a sobrancelha e mordendo os lábios. Que maldita. Ela era muito boa. Coitado do Pedro. Se eles não tivessem se conhecido hoje, eu ia achar que ela estava chateada com ele.
Vencemos o primeiro set, mas Elisa e Rick venceram o segundo. O jogo estava acirrado, e todos os nossos amigos estavam eufóricos do lado da quadra. A pontuação estava 19 a 20 para nós. Se marcássemos, ganharíamos, e eu estava louca para que isso acontecesse.
O serviço era de Henrique. Ele se posicionou e chutou. Matei no peito, passando para Pedro, que me devolveu a bola. Cabeceei perto da rede. Aquele ponto já era nosso. A bola estava próxima do solo quando Elisa se jogou e recuperou com a ponta do seu pé. Foi o suficiente para Henrique colocar a bola no fundo da nossa quadra. Foi uma jogada rápida, e agora tudo estava empatado. O jogo iria a dois.
Elisa faz o serviço, e Pedro domina, levantando para mim. Jogo para o time adversário, que devolve a bola. Pego de costas, e Pedro ajeita perfeitamente para eu fazer uma bicicleta. A bola cai no campo adversário, e a torcida começa a gritar meu nome. Eliza estava suada e visivelmente cansada. Para quem não praticava, ela estava em muito boa forma. Não consigo parar de olhar o suor escorrer pelo seu abdômen sequinho, se perdendo na sua calcinha. O sol estava se pondo, e seus olhos ganharam um tom muito claro. Seu bumbum estava com terra, e minha mão coçou para tocá-lo.
Pedro faz o serviço, e Henrique devolve no susto. Aproveito sua instabilidade e cabeceio em sua direção novamente. Rick cai com o impacto da bola, e Elisa se joga para tentar recuperar a bola, mas já era tarde demais. Ganhamos!
Pedro vem em minha direção e me carrega. Tento me afastar, mas ele está muito eufórico. Quando me livro dos seus braços, olho para Elisa, que me encarava séria. Seus olhos estavam escuros. Isso provocou arrepios em meu corpo.
O sol já tinha desaparecido, dando lugar à lua e às estrelas. Me aproximo de onde ela está e estendo minha mão para cumprimentá-la.
— Parabéns! Onde você aprendeu a jogar? — Ela segura minha mão, e eu sinto sua pele macia contra a minha.
— Jogava Futsal no colégio, e acho que essas coisas não se desaprendem. A propósito, você foi maravilhosa! — Agradeço a Deus por estar queimada do sol, assim ela não perceberia minhas bochechas vermelhas de vergonha por causa do seu elogio.
— Obrigada. Eu não ia vir, mas acabei mudando de ideia. — Não sabia por que, mas estava me justificando pra ela.
— Que bom que veio. — Elisa continua me encarando, e um silêncio constrangedor fica entre nós. Me pego olhando para sua boca e logo viro o rosto envergonhada. Graças a Deus, Flávia me chama naquele momento. Sento com algumas pessoas e tento me concentrar em outras coisas.
ELIZA FRANCO
O clima na praia estava ótimo. Observava alguns de nossos colegas entrando no mar, pegando algumas mulheres que estavam com frio e as carregando até a água. Flávia e Rick me atualizaram sobre o nome de todos, mas ainda assim, eu não consegui decorar todos.
Sophie estava sentada em uma cadeira de praia, seu olhar perdido. Vi aquele semblante triste desde hoje cedo e desejei profundamente vê-la sorrir novamente. Levantei e sentei no chão ao lado dela.
— A noite está linda hoje. — Olhei para o céu, repleto de estrelas. Ela também olhou para o céu e sorriu.
— Como eram as suas noites em Paris? — Ela perguntou sem virar o rosto para mim.
— Bem diferentes daqui. Lá, eu não tinha tempo para contemplar o céu; havia tantas coisas para fazer que momentos simples como este eram raros. — Sophie me olhou, curiosa, mas não disse nada. Continuei: — Estou adorando o Rio de Janeiro. Há muito tempo que não me divertia tanto.
— Sua vida não parecia ser tão boa. — Ela disse, imediatamente parecendo se arrepender. - Me desculpe, não era isso que eu queria dizer. — Sophie ficou séria e voltou a olhar para o céu, evitando me encarar.
— Não, você está certa. Minha vida não era boa. — Lembrei de tudo o que minha mãe e eu passamos após a morte de meu pai, e me senti um pouco triste. Já fazia muito tempo, mas ainda me afetava profundamente.
— Sério, não queria te ofender. Não era essa minha intenção. — Sophie tocou meu braço, e eu coloquei minha mão sobre a dela.
— Estou bem agora, muito melhor. — Como num passe de mágica, o clima entre nós mudou. Ficou tenso, mas era uma tensão boa, daquelas que dão frio na barriga. Acariciei a mão de Sophie e percebi que ela mordia os lábios.
— Você é muito linda. — Soltei, sem pensar. Sophie olhou para mim assustada, e naquele momento eu soube que tinha sido direta demais. Pedro e Henrique correram em nossa direção, e ela puxou rapidamente a mão.
— Ei, garotas, vamos nadar? — Pedro falou.
— Estamos bem. — Respondi, percebendo que Sophie continuava calada.
Eles trocaram olhares como se estivessem prestes a fazer algo. Rick me pegou e me jogou em seu ombro; gritei, e ele riu. Vi Sophie sendo carregada por Pedro, e os dois nos jogaram na água ao mesmo tempo. Olhei para Sophie, que parecia prestes a surtar, mas de repente, ela se jogou em cima de Pedro e começou a afogá-lo. Juntei-me ao seu time e joguei água na cara de Henrique, o que claramente foi um erro. Ele me pegou pela cintura e me derrubou. No final, acabamos rindo muito.
O resto do passeio foi cheio de risadas e brincadeiras, exceto por Sophie, que voltou a ficar calada. Não tivemos mais oportunidades de conversar a sós, mas fiquei bastante próxima de Henrique, que me contou mais sobre seu trabalho. Descobri também que ele era vizinho de Sophie e que se conheciam há cinco anos, desde que ela se mudou para o apartamento ao lado do dele.
Meu celular começou a tocar na minha bolsa. Pedindo licença a todos, me afastei do grupo. Era minha mãe, e eu estava ansiosa para falar com ela.
— Oi, mãe.
— Oi, meu bebê. Já estou indo para casa. Quer fazer alguma coisa hoje? — Minha mãe sempre foi muito animada.
— Estou na praia com alguns amigos, mas quero jantar com a senhora. Que tal assistirmos um filme?
— Perfeito, filha. Nos encontramos em casa. Te amo. — Sempre me senti a pessoa mais feliz do mundo quando estava com minha mãe.
— Mãe?
— O que foi, filha?
— É tão bom estar em casa. Te amo muito.
— É tão bom te ter em casa, Lizzy. Até daqui a pouco.
Desliguei o celular e me despedi de todos. Perto do meu carro, ouvi Sophie me chamar, e meu coração acelerou.
— Elisa! Você esqueceu seus óculos. — Ela se aproximou e me entregou meus óculos Ray-Ban.
— Obrigada, Sophie. Sou muito esquecida. — Ela sorriu, e logo aquele silêncio voltou entre nós.
Se eu não perguntasse, nunca saberia a resposta, então resolvi correr o risco da rejeição.
— Você quer sair comigo em um encontro amanhã? — A pergunta saiu em um sussurro.
— Elisa, eu... É complicado. Acabei de sair de um relacionamento e não quero me envolver em outro tão cedo. — Sua confissão me deixou surpresa. Ela estava se justificando?
— Claro. Eu entendo. — Foi tudo o que consegui dizer, embora estivesse triste com sua resposta.
— Você é linda, e qualquer um teria sorte de te conhecer, mas estou em um momento confuso da minha vida. — Sua voz ficou embargada, como se ela fosse chorar. Eu não queria fazê-la chorar, então mudei de assunto.
— Essa linda aqui quase acabou com você no jogo hoje. — Brinquei, e ela sorriu imediatamente. Fiquei encantada! Aquele, com certeza, era o sorriso mais sincero que ela me deu desde que nos conhecemos.
— Da próxima vez, você será minha parceira. — Agora tinha certeza de que estava com um sorriso bobo no rosto.
— Vou adorar. Até a próxima vez. — Beijei seu rosto. — Boa noite, Sophie.
Ela continuou sorrindo, e nesse momento, consegui ver a verdadeira Sophie, uma pessoa leve e descontraída. Entrei no carro, e a morena acenou. Acenei de volta e continuei olhando sua imagem, pelo retrovisor do carro, desaparecendo aos poucos. Pensei no que ela tinha dito sobre ter saído de um relacionamento, e compreendi melhor suas atitudes desde a sessão de fotos. Ela estava claramente magoada e com raiva. Senti vontade de dar umas boas verdades para a pessoa que a tinha machucado. Como alguém podia deixar Sophie tão triste e ainda dormir com a consciência tranquila? Isso tinha cara de homem insensível. Só de imaginar Sophie com alguém assim, minha raiva aumentava. Sacudi a cabeça para tentar afastar esses pensamentos e liguei o carro, seguindo em direção à casa da minha mãe.
SOPHIE LOPES
— Filha, que horas você vai chegar? — Minha mãe falou do outro lado da linha do telefone.
— Não sei, mãe. Estou no aeroporto, e meu voo está atrasado. — Olhei para o balcão de atendimento, onde várias pessoas se aglomeravam em busca de mais informações sobre a partida do avião. — Prometo que aviso assim que estiver dentro do avião, mãe.
Minha mãe morava em São Paulo junto com meu padrasto Luiz e minha irmã Lara. Eles estavam ansiosos pela minha chegada. Fazia um tempo que não os visitava, e aproveitei o evento de moda para o qual fui chamada para trabalhar, para passar uma semana com minha família.
— Tudo bem, filha, estamos com saudade. Beijos, te amamos. — Meu pai falou. Com certeza o celular estava no viva voz.
— Até logo, família. Amo vocês.
Desliguei e continuei lendo o livro que estava em minhas mãos. Depois de 2 horas de espera, finalmente embarquei. "Finalmente!" Mandei uma mensagem para minha mãe e desliguei o aparelho.
Após o passeio na praia no último domingo, a semana passou num piscar de olhos. Trabalhei todos os dias sem folga nenhuma. Enviei as fotos de Elisa na segunda-feira para a revista Bella Cosméticos, e todos adoraram o resultado final. Às vezes, me pegava pensando na bela loira dos olhos de esmeralda. Ficava revivendo nossa última conversa e me sentia mal por ter recusado seu convite. Por que eu não tinha aceitado? Sair com alguém é bem diferente de se apaixonar por alguém, e isso estava fora de questão. Será que ela estaria no desfile de São Paulo? Senti vontade de vê-la novamente.
Olhei pela janela do avião, e a cidade do Rio estava ficando cada vez menor. Peguei meu notebook e comecei a trabalhar. Em algum momento, abri uma pasta com várias fotos minhas e de Marcos. Como deixei que ele me enganasse tanto? E pior, não acredito que realmente acreditei que ele era a pessoa certa.
FLASHBACK ON
Estava no meu apartamento na noite anterior. Flávia e Rick tinham passado aqui mais cedo para me chamarem para sair, mas eu recusei. Queria ficar em casa, e apesar da insistência, os dois aceitaram minha recusa. Não passou nem 5 minutos, e a campainha tocou. Imaginei que fosse Rick tentando me convencer novamente.
— Eu já falei que não quero... — Parei rapidamente quando a pessoa que eu menos queria ver estava na minha frente.
— Oi, baby, resolvi passar aqui para te buscar. — Ele só podia estar brincando.
— Eu não vou a lugar nenhum com você, Marcos. — Falei irritada.
— Você ainda tá brava comigo, amor? Eu já te expliquei que aquilo foi só uma aventura.
Se arruma, vai. Hoje é o jantar na casa dos meus pais. — Sua pose de vítima só me deixou mais furiosa.
— Eu não sei se você entendeu, não temos mais nada para falar um com o outro. — Falei grossa e direta.
— Você tá terminando comigo? É isso? — Sua voz se exaltou e ele se aproximou de mim. Não me intimidei e olhei séria para ele.
— Quando eu falei para você não me procurar mais, foi exatamente isso que quis dizer. Eu não aceito traição, e se você quer apenas uma namorada de enfeite, então vá procurar em outro lugar. E sim, estou terminando com você, se isso ainda não está claro o suficiente. Adeus, Marcos! — Tentei fechar a porta, mas ele me impediu.
— Sophie, você está sendo muito dramática. Já entendi onde você quer chegar. Eu prometo que não vou mais te trair. Me dá uma chance, vai, gatinha. — Seu tom se tornou sedutor, o que funcionou muitas vezes, mas não agora.
— Você devia ter pensado nisso antes. Agora, por favor, deixa eu fechar a porta. — Marcos sorriu e me olhou maldoso.
— É por isso que procurei outra mulher. Você é muito fria. Nenhum cara aguenta viver com uma mulher que não gosta de sexo. Eu precisava me aliviar, e você não entendia minhas necessidades. — Ele falou como se eu fosse a culpada de tudo que estava acontecendo. Não iria chorar na frente daquele desgraçado. Respirei fundo e falei.
— A culpa não é minha se nesses dois anos você não conseguiu me dar um orgasmo sequer. Então, se eu sou tão fria, por que você ainda está aqui? Faça um favor para nós dois e suma da minha vida. - Bati a porta na cara dele e deixei as lágrimas caírem. Eu o odiava por tudo que ele disse e me odiava por não ter percebido seu mau caráter antes.
FLASHBACK OFF
Acho que tinha pego no sono em algum momento, pois o piloto já estava avisando que o avião pousaria em São Paulo em poucos minutos. Excluí a pasta de fotos e fechei meu notebook. Já estava na hora de esquecer o que tinha acontecido com Marcos e me focar no trabalho.
ELISA FRANCO
São Paulo era uma das cidades que eu mais visitava. Muitos eventos eram realizados aqui, assim como o dessa semana. O desfile só seria amanhã, mas a prova dos looks já estava acontecendo. Os últimos ajustes estavam sendo feitos em minhas roupas. Mal podia esperar a hora de ir para o hotel descansar.
Depois do lançamento da minha marca de batons fiz uma série de comerciais para divulgação do produto e foi surpreendente o sucesso imediato das vendas. Em resposta ao estouro de vendas, a marca Eliza Franco iria lançar o próximo produto que seria um perfume. Me mantive ocupada o resto da semana, depois vim direto para São Paulo. Estava esgotada.
Sempre tive fama de festeira, e era verdade. Adorava ir para festas e dançar, principalmente dançar. Mas nos últimos dois anos eu não me importava de ficar em casa. Queria algo a mais para minha vida. Estava cansada de não ter alguém para compartilhar tudo que eu conquistei. Chegar em casa depois de um dia inteiro de trabalho sem ter alguém me esperando não fazia mais sentido. Só que eu não queria qualquer pessoa, queria alguém que eu amasse e que também me amasse. Alguém por quem eu me importasse mais do que qualquer coisa na minha vida. Não sei por que, mas o rosto de Sophie veio à minha mente. Eu sei que ela queria me manter longe, ela foi bem clara quanto a não querer um relacionamento. Talvez eu pudesse fazê-la mudar de ideia. Nunca fui de desistir do que queria, e essa não seria a primeira vez.
Quando cheguei ao hotel, tomei um banho rápido e me joguei na cama. Amanhã seria um dia cheio, e eu precisava recarregar minhas energias.
*******
Estava atrasada para a reunião que aconteceria antes do desfile. Passei quase correndo pela porta de entrada e fui em direção à sala do nosso estilista.
— Desculpa, Thomas, eu peguei um trânsito horrível. — Ele veio em minha direção e beijou meu rosto.
— Tudo bem, minha modelo favorita. Você sabe que sem você o meu desfile não seria o mesmo. Vamos nos apressar, sua roupa está logo ali.
Fui até o closet e troquei de roupa. Todos estavam aguardando o seu momento de entrar na passarela, e Thomas estava dizendo o quanto se orgulhava de nós. Ele fez um discurso espalhafatoso, e todos rimos. O estilista era leve e descontraído, sabia muito bem como nos animar.
— Venha cá, minha grande estrela. — Ele me puxou pela mão. — Você será a nossa primeira modelo a entrar. Vai lá e arrasa! - Sorri e me posicionei atrás das cortinas.
Uma música agitada começou a tocar. Respirei fundo e entrei segura na passarela. Muitas pessoas aplaudiram, e os flashes das câmeras quase me impediam de enxergar, mas sabia há muito tempo como lidar com todo o assédio da mídia. Os fotógrafos contratados pelo evento estavam mais à frente, e quando me aproximei, fiz pose para eles. Pensei ter visto Sophie por trás de uma das câmeras, mas tudo foi muito rápido. Voltei para o closet e coloquei outro look. Dessa vez, eu descobriria se era ela mesma.
SOPHIE LOPES
Elisa Franco estava definitivamente mais linda do que na semana passada, o que era quase impossível de acontecer. Os modelos passavam um por um pela passarela, mas nenhum causava aquelas sensações no meu corpo a não ser a loira que estava entrando novamente. Dessa vez, ela não só fez uma pose, mas sorriu na minha direção, o que me deixou sem fôlego. Quando ela sumiu novamente, soltei minha respiração que nem notei estar segurando. Olhei a foto em que Elisa sorria e meu coração acelerou. Como ela conseguia fazer aquilo comigo?
O desfile acabou, e a vontade de falar com Elisa não saía da minha cabeça. Mas nesse universo, ela estava tão inacessível, e pensar que era a mesma pessoa que me desafiou no futevôlei e que vi toda ensopada pelo mar.
SOPHIE LOPES
Fiquei tirando fotos das pessoas no painel em frente ao evento. Ela passaria por lá em algum momento. Eu sabia disso porque muitas pessoas estavam falando de Elisa ao meu redor.
— Você viu como ela é linda! — Dois jovens comentaram.
— Minhas amigas vão pirar quando souberem que eu tenho um batom da Elisa Franco. — Um grupo de meninas estava eufórico ao meu lado.
Então esse era o seu mundo? Cheia de fãs e bajuladores. Eu mesma queria muito vê-la. Ainda não sabia por que, mas ela tinha me visto, então não seria nada educado sair sem cumprimentá-la.
Elisa veio até o painel e começou a responder algumas perguntas dos repórteres que estavam ali. Eles pareciam abutres em sua direção.
Repórteres: Elisa, você vai ficar no Brasil quanto tempo?
Elisa: Ainda não tenho certeza, mas vocês serão os primeiros a saber.
— Como você se sente com sucesso da sua linha de batons? — Pergunta um dos repórteres.
— Eu estou muito feliz e espero que vocês gostem tanto quanto eu. — Responde Elisa animada.
— Você está solteira? — Aquela pergunta chamou minha atenção.
— Sim, mas isso não significa que não tenho minhas investidas. — Todos riram com a piada de Elisa.
Apesar do assédio ela continuava simpática e divertida.
— Elisa, Elisa! — Responde um deles em tom de brincadeira.
— Se vocês me derem licença, tenho que ir. Foi um prazer conversar com todos. Boa noite! - Muito educada, ela se retirou para uma área vip, onde eu, felizmente, podia entrar graças ao meu crachá de funcionária.
Lá dentro, vários nomes da moda estavam presentes. Comecei a registrar muitas fotos. Não consegui encontrar Elisa, ela sumiu muito rápido. Depois de inúmeras fotos, me encostei no balcão do bar e pedi uma água com gás. Olhei ao redor tentando encontrá-la; havia muitas pessoas naquele local. Avistei a modelo com seu estilista, Thomas Fiori. Os dois conversavam animadamente, então me aproximei e perguntei.
— Posso tirar uma foto de vocês? — Elisa me olhou sorrindo, e Thomas assentiu.
Registrei algumas fotos e, sem perceber, olhei para a mão do cara que estava muito próxima do corpo de Elisa. Aquilo fez meu rosto esquentar.
— Claro, Sophie, eu adoraria. — Sua resposta me surpreendeu, e seu olhar para a câmera quase me fez ter arritmias cardíacas.
— Você esteve perfeita hoje. — Falei baixo, apenas para que ela escutasse. Tirei mais algumas fotos e ela se aproximou.
— Obrigada. Espero que esteja se divertindo. — Sua voz era sensual, e meus pelos se eriçaram.
— Você é a estrela do evento, é você que tem que se divertir. — Falei, tirando o foco de mim.
— Na verdade, não está nada divertido. Conheço várias outras coisas que poderiam me divertir muito mais. — A loira estava flertando comigo?
— É mesmo? E o que você tem em mente? — Não acredito que estava flertando de volta, mas eu estava curiosa.
— Me deixa te levar em um encontro e você vai descobrir. — Ela era insistente, eu tinha que admitir, mas apesar de estar afetada com a sua proximidade, esse jogo não funcionaria comigo.
— Boa tentativa, Elisa, mas isso não vai acontecer. — Seu olhar ficou triste, mas logo ela sorriu e falou.
— Não custa tentar. Como estão a Flávia e o Henrique? Nem tive tempo de me despedir deles. — Me surpreendi com a mudança de assunto, mas essa zona de conversa era muito mais segura para mim.
— Eles estão bem. Passaram o resto da semana falando de você. Vimos o seu comercial. Parabéns pelo sucesso.
— Obrigada, suas fotos me ajudaram muito na publicidade. Todo mundo adorou seu trabalho, especialmente eu. — Seu elogio significava muito para mim. Antes de poder agradecê-la, alguém a chamou. Ela se despediu dizendo, — Foi ótimo te ver, Soph. Fala para o pessoal do estúdio que eu mandei um oi. - Ela se aproximou, beijou meu rosto e sussurrou no meu ouvido, — Tenha uma excelente noite. — Depois foi até a pessoa que a chamava, e eu fiquei parada sem ter reação nenhuma.
*****
Quando cheguei na casa dos meus pais já era bem tarde. Eles já deviam estar dormindo. Tinha passado lá mais cedo, por isso estava com uma cópia da chave. Fui até meu quarto em silêncio e fechei a porta.
— Como foi o evento? — Dei um pulo assustada. Minha irmã estava em cima da minha cama.
— Nossa Lara, você quase me matou de susto! O que você tá fazendo aqui a essa hora? — Ela sorriu revirando os olhos e depois se deitou.
— Acho que às vezes você esquece que já tenho 22 anos, Sophie. Eu saí escondida dos nossos pais e usei a sua janela para entrar em casa. — Ela sorriu como se não tivesse feito nada de errado.
— Você devia ter entrado pela porta da frente, já que tem idade suficiente para avisar os nossos pais e não sair escondida. — Provoquei. — E por que você não usou a janela do seu quarto?
— Ai, Soph, para de ser implicante, eu fiquei curiosa para saber como foi lá no desfile.
Lara era minha irmã mais nova. Nós sempre fomos próximas, mesmo depois que nossos pais se mudaram para cá.
— Foi ótimo. — Involuntariamente sorri ao pensar em Elisa, como ela estava linda. Sua voz sedutora no meu ouvido. Como eu poderia resistir àquela loira?
— Nossa, deve ter sido muito mais que ótimo para você tá com essa cara de boba. — Ela me olhou interrogativa.
— O quê? Eu não estou com cara de boba. — Toquei meu rosto e ele estava quente.
— Eu não sou burra. Sei que você já largou o Marcos. Você nem falou nada sobre ele desde que chegou e isso não é normal. Quem é o cara que tá te fazendo ficar com essa cara? — Lara era impossível.
— Você tem razão, eu não estou mais com Marcos, e se não se importa, eu não quero falar sobre isso. Você está muito enganada, não tem homem nenhum. Amanhã te conto como foi o desfile, já tá tarde, vamos dormir. — Deixei bem claro que aquele assunto estava encerrado.
— Você mente muito mal. — Minha irmã era uma curiosa.
— É sério, não tem homem nenhum. Eu nem quero me envolver com ninguém agora. — Falei a verdade.
— Vou fingir que acredito. Posso dormir aqui com você? — Ela falou com aqueles olhinhos de cachorro pidão que sabia muito bem como usar.
— Tudo bem, mas vai tomar banho primeiro. — Lara me beijou e foi em direção ao meu banheiro.
Fiquei olhando para o teto novamente e lembrei das palavras de Elisa: "Me deixa te levar em um encontro e você vai descobrir." Ela estava linda e não foi surpresa encontrá-la ali. Suas fotos estavam em todos os panfletos do evento. Já sabia que ela iria desfilar, mas não me preparei para o furacão que a loira causou em meu corpo.
Naquela noite sonhei que Elisa me levava para um encontro muito indecente. Ela beijava meu pescoço, e eu gemia seu nome. Suas mãos estavam por toda parte do meu corpo, e eu não conseguia parar de desejá-la.
Acordei suada e com a respiração acelerada. O que estava acontecendo comigo? essa mulher estava entrando na minha mente e eu não conseguia pará-la.
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