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A Minha Secretária

Capítulo 1 - Onde tudo começou!

PRÓLOGO

MARIA LUISA MULLER

Já passei por inúmeros perrengues na minha vida, o meu nome é desastre e o nome do meio é estabanada. Sou brasileira, baiana para ser mais exata, nordestina raiz, arretada e bem maluca, o resultado disso? Simplesmente deixei tudo o que mais amava para tentar uma vida melhor para mim e consequentemente para a minha família. Não sou de família pobre, mas também não sou de família rica, meus pais trabalharam muito para me proporcionar tudo o  que eu tinha direito, uma boa educação, alimentação adequada e algumas regalias, nada muito exagerado. Mas sempre tive o sonho de ser grande, alcançar grandes objetivos e ser independente, bilíngue e trabalhar em uma grande empresa como administradora, sempre foi o meu grande sonho.

Mas, como nem tudo são flores e eu sou a rainha dos piores perrengues na minha vida, como sair correndo atrás de ônibus para não perder o horário, sair com a blusa vestida pelo avesso e só perceber depois que já estava no trabalho, ao lado do colega bonitinho que era meu vizinho de mesa, cair da escada da academia, tropeçar em plena orla de Salvador, durante a maior festa que é o carnaval e por aí vai a minha lista imensa de desastres. Mas, nada havia me preparado para trabalhar para o chefe mais arrogante, insuportável, gostoso, lindo de morrer, derrubador de calcinhas, como Ethan Johnson.

Minha vida poderia facilmente virar um livro, jamais imaginaria que ela poderia ser virada de cabeça para baixo, a partir do momento que eu tomei a decisão mais clichê da vida! Mudar de pais para que eu pudesse mudar de vida. E realmente mudou!

Já dizia meu sábio pai, rapadura é doce, mas não é mole! Esse é um dos ditados mais citados no meu querido nordeste e o mais verdadeiro. Quando ainda estava na faculdade, nos meus últimos semestres, na minha linda ilusão de universitária, imaginei que me formaria com honras, seria a melhor da classe, facilmente ganharia uma bolsa para o intercâmbio, conseguiria um emprego fácil, por conta do meu currículo acadêmico, trabalharia na melhor empresa de Nova York e tudo seria lindamente encaixado na minha imaginação. Ganharia bem, moraria nos melhores prédios da cidade e de quebra, viveria um romance com um gringo bem príncipe encantado.

Acontece que a vida não é fácil, me derrubou do cavalo antes mesmo de eu encontrar meu príncipe encantado montado nele.

Já se passaram 12 meses após a minha formatura e apesar de pelo menos ter conseguido me formar com honras, a bolsa do intercâmbio não veio e eu tive que lutar por isso com unhas e dentes e nesses 12 meses, o que eu mais fiz foi morder emprego. Fiz de tudo um pouco, não gastei com absolutamente nada, não comia nada além do que era oferecido dentro de casa e agradecia aos céus por não ter uma conta para pagar, além de juntar o dinheiro que eu precisava para ir para Nova York. Meus pais sempre me apoiaram em tudo, inclusive nessa minha decisão de ir morar em outro país, sempre me ajudaram também e nessa jornada eu nunca estive sozinha.

Finalmente o meu grande dia chegara, estava eu aqui rodeada de malas, com a minha família completa, repleta de emoção e lágrimas.

— Maninha, vê se quando chegar lá, não esquece da gente tá? — sua voz era embargada de emoção

— Claro que não, né seu pirralho, como é que esquece dos meus pirralhos preferidos? — sorri, tentando disfarçar a dor que me assolava

— Minha filha, muito juízo e por favor, tente se manter inteira, precisamos de você de volta — minha mãe tentou descontrair o clima melancólico

— Pois é, do jeito que é estabanada, é capaz de voltar faltando pedacinhos — Gustavo sempre foi o número 1 em zoar da minha cara

— Me respeite seu pirralho, eu sou a sua irmã mais velha — tentei soar brava

— E a mais desastrada também — André completou

— Vou desertar vocês como irmãos - rimos

— Vou sentir saudade, minha menina — meu pai como sempre, todo carinhoso

— Oh paizinho, eu também vou — limpei o cantinho do olho — mas manteremos contato sempre, tentarei ligar para vocês todos os dias e mantê-los informados de tudo — funguei de leve — em breve estaremos todos juntos novamente e quem sabe vocês não vão morar comigo

— Minha raiz é aqui, já sou velho para essa mudança toda — meu pai disse com toda sua calma — mas visitá-la, iremos sempre que pudermos — sorri querendo acreditar nisso, mas sabia que não seria tão fácil assim

— Faremos de tudo para visitá-la — minha mãe com seu sorriso acolhedor, complementou

E então, meu voo foi chamado. Abracei cada um deles, chorei como se não houvesse amanhã e na última chamada do meu embarque, fui. Ao entrar no avião, respirei fundo, com a certeza de que novas oportunidades e grandes conquistas estariam reservadas para mim!

Então acordei cedo, me arrumei, escolhi o meu melhor look, recolhi o meu currículo e segui em direção à empresa que logo mais iniciaria com as entrevistas. Sai um pouco mais cedo do previsto para que não houvesse nenhuma intercorrência no meu percurso. Eu morava pertinho da Master, o que estava me custando um rim, mais um motivo para ser aceita nesse emprego a qualquer custo, mas, morando sozinha onde eu não conhecia absolutamente, optei por segurança e morar em um prédio bem localizado e perto de onde seria meu futuro emprego (ouvi um amém?), estava sendo a melhor opção.

Questão de minutos eu cheguei, nem precisava de um transporte para me locomover para trabalhar. O lugar era simplesmente maravilhoso, uma estrutura de torcer o pescoço de quem tenta olhar para o último andar, todo em vidro, um luxo só.  Assim que cheguei me deparei com uma moça muito linda na recepção, seus olhos eram doces e pelo lugar em que ela estava, presumo eu que seja recepcionista, educadamente eu encostei para saber mais informações, perguntar sobre a entrevista.

 — Bom dia —  sorri —  eu sou Maria Luisa e vim para uma seleção de emprego

— Oi senhora Maria Luísa —  ela sorriu —  vou encaminhá-la para a sala

—  Obrigada, Emma — sorri simpática, havia visto o nome dela no crachá

Com sua gentileza, ela levantou e foi imediatamente me conduzindo até a sala onde estavam sendo realizadas as entrevistas. Com um doce sorriso, indicou para as cadeiras pedindo que eu sentasse e aguardasse a minha vez, pegando da minha mão o envelope com meu currículo e entregando a outra mulher que era a responsável pelas entrevistas.

Meu coração não parava quieto em nenhum momento e eu tinha medo dele parar a qualquer hora, antes que eu tivesse pelo menos a oportunidade de fazer a entrevista, estava nervosa, suando frio e quase tendo um colapso. Enquanto eu estava sentada aguardando, vaguei meu olhar por todos os lados me atentando a cada detalhe do local onde eu estava. Comecei a olhar pelas grandes portas de vidro e simplesmente eu não estava preparada psicologicamente para a imagem que perpassou os meus olhos que prontamente me deixou embasbacada e presa, sem conseguir ao menos piscar.

Um homem alto, magnificamente lindo, de ombros largos, postura imponente, exalando uma sensualidade atrelada a seriedade, um maxilar quadrado, barba por fazer, vestido em um terno completamente alinhado, feito sob medida, o cabelo milimetricamente penteado para trás, o qual me chamou muito a atenção, passando pelo corredor. Em algum momento da sua passagem os nossos olhos se cruzaram, e o seu olhar era profundo e marcante, me fazendo sentir um imenso calafrio, uma onda eletrizante e um comichão em meu baixo ventre, me deixando completamente perdida, atônita e sem fôlego. Ainda buscando meu fôlego de volta, fui chamada pela responsável pelas entrevistas, era a minha vez. Tomara que dê certo, foi a única coisa que eu consegui pensar depois daquele pedaço de mal caminho.

— Senhora Maria Luísa? —  ela tocou em meu ombro

—  Ah oi —  sorri —  eu mesma —  levantei

—  Vamos? - ela sorriu - eu sou a Luana, secretária do escritório do senhor Ethan Johnson, que farei a sua entrevista

—  Olá, senhorita Luana —  sorri e a acompanhei — Ethan Johnson é o CEO?

— Sim, eu sou a secretária do escritório dele — ela abriu uma porta para que eu entrasse — e a vaga é para ser a secretária particular, eu atendo ao escritório e se você for selecionada, atenderá ao senhor Ethan, serviços como organizar agendas, participar de reuniões, organizar os almoços empresariais, essas coisas

— hum, entendi — me sentei onde ela indicou

Durante a entrevista, tudo normal, ela me fez perguntas simples e comentou sobre o meu currículo, deixei bem claro que apesar de recém formada eu não tinha medo de desafios e estava ali inteiramente para aprender! Não tinha uma vasta experiência, mas força de vontade em querer aprender eu tinha de sobra. Afinal, havia me formado com honras. Assim que encerrou a entrevista, nos despedimos e sai em direção à porta de saída.

- Tchau Maria Luísa - a recepcionista sorriu - boa sorte!

- Obrigada\, Emma - sorri e acenei

Sai da entrevista com um pontada de esperança de ser contratada, a conversa foi muito boa e Luana mostrou um interesse vasto em meu currículo. Voltei para o meu apartamento, com as expectativas em alta. Assim que cheguei arrumei tudo para almoçar, tomei um bom banho, vesti a minha roupa mais confortável e decidi ligar para minha mãe, um pouquinho, contar a ela o que acontecera hoje.

— Malu — seu sorriso imenso apareceu na tela do meu celular — que saudade de você minha filha

— Oi mãe — retribui o seu sorriso — eu também. Hoje fiz uma entrevista de emprego, na Master comunicações, uma empresa gigante e fica aqui pertinho

— Que maravilha, minha filha — ela sentou — foi boa a entrevista?

— Sim, a responsável pela entrevista se mostrou bastante interessada nele, espero que o CEO também se interesse

— Ele vai se interessar — toda a sua doçura me acalmava

Ficamos conversando longos minutos, amenidades, sobre o dia a dia, ela me contara sobre os meus irmãos e meu pai apareceu no meio da ligação por vídeo, contando sobre como estava com saudades e como estava em seu trabalho. Por fim, desligamos e eu voltei a me concentrar na expectativa de receber um retorno da entrevista de emprego que eu havia feito hoje e por volta das 15:00 horas eu recebi uma ligação, número desconhecido e o coração saltou na esperança de ser da empresa.

—  Maria Luísa, aqui é a Luana, tudo bem?

— Oi Luana, tudo ótimo!

— Hoje você fez uma entrevista aqui na empresa e você foi selecionada! Amanhã iniciamos seu treinamento, esteja aqui a partir das 08:00 da manhã

-— Pode deixar, aí estarei aí pontualmente às 08:00, obrigada!

— o senhor Ethan não suporta atrasos! Até amanhã

—  até amanhã

FELICIDADE! Uma onda de felicidade tomou conta de mim e eu sai pulando feito uma maluca pelo meu minúsculo apartamento, comemorando a minha conquista, que nesse momento, era enorme, para mim.

Ethan Johnson é o tão temido dono e presidente da Master Comunicação, assim que comecei a procurar sobre a Master vi algumas coisas, pouquíssimas a respeito do senhor Ethan Johnson, pelo que pude perceber, ele era extremamente reservado e bem discreto, pouco se ouvia falar nele a não ser coisas estritamente relacionadas ao profissional. Vi algumas fotos, mas sempre todas distantes e relacionadas a premiações que a empresa sempre recebia, nada além disso.

Arrumei rapidamente algumas coisas do apartamento e sai para distrair a mente um pouco. Precisava de um pouco de distração, estava com a energia acumulada diante da noticia de ser contratada, a euforia tomou conta. Mas, nem tudo são flores… lembra que eu disse que o meu sobrenome era desastre e o nome do meio estabanada?  Pois é, quando vou sair na porta do prédio, o que era bem a minha cara, distraída como eu sou, levei um belo tombo na escada de saída, me esbarrando no extintor, sem olhar para os lados, levantei rapidamente e me recompus em questão de segundos. Mas, infelizmente eu tinha uma pequena platéia, composta pelo porteiro, que estava super ocupado ao telefone, recebendo provavelmente alguma queixa, diante de suas caretas e uma senhorinha, muito fofa,  que aparentava ter bem idade, e que veio no impulso da minha queda me ajudar.

—  está bem, moça bonita? —  ela sorriu gentilmente, eu disse, ela é muito fofa

—  estou sim - sorri —  é que eu sou atrapalhada assim mesmo, me distrai com a vista daqui e não enxerguei a escada e nem o extintor —  respondi ajeitando a minha roupa

—  acontece, a vista aqui é de tirar o fôlego, uma grande selva de pedra, rouba todo o seu ar —  ela fez uma piadinha, que fofa —  a propósito, me chamo Nancy

—  Oi dona Nancy, me chamo Maria Luísa, mas pode me chamar de Malu —  ela sorriu

—  Mora aqui, Malu? —  ela perguntou com sua voz calma

—  Sim, cheguei tem pouco tempo, sou nova por aqui. Vim do Brasil, mudar os ares faz bem! —  olhei ao redor —  vou começar a trabalhar na Master Comunicações, vim para tentar uma vida nova

—  Master Comunicações? —  seus olhos arregalaram em surpresa, senti que ela iria fazer algum comentário, mas desistiu —   Entendi, seja, muito bem-vinda, viu? —  ela tocou o meu ombro —  eu já vou, vou fazer a minha boa e velha caminhada diária, tchau, moça linda —  ela se despediu e saiu

Depois da minha vergonha passada no débito e no crédito do meu tombo, eu dei continuidade ao meu passeio, pensando no tom de surpresa que a gentil senhora se referiu, quando disse que iria trabalhar na Master Comunicações. De tanto pensar, fritei todo restinho de juízo e decidi deixar para lá, talvez fosse apenas impressão minha. Mal conhecia a senhora e já fui tagarelando sobre a minha vida.

Fui em direção ao parque que eu saí para correr mais cedo e pude notar que ele estava bem cheio durante o dia, muitas famílias iam para lá fazer caminhadas, piqueniques e passeios. Parei em uma barraquinha de sorvete, pedi um e quando eu fui saindo da barraca, tomei um belo banho de sorvete misturado com café. O café veio de quem quase me carregou na frente, uma muralha. Eu sabia que eu era desastrada, mas dois desastres em menos de 10 minutos, essa era impossível, apesar de que, dessa vez, nem foi a minha culpa.

—  aiiiii —  fui limpando toda a melequeira que estava em mim - tá quente - resmunguei ainda de cabeça abaixada

—  Custa olhar para onde anda? —  uma voz irritada e grave ecoou próximo a mim

—  EU? —  Olhei furiosa —  você vem sei lá de onde, igual a um furacão e eu tenho que olhar para onde anda? —  respirei fundo —  aaaaah faça mil favor viu? —  levantei o meu olhar e gelei

Era o homem que vi mais cedo na empresa, alto, forte, lindo e um semblante obscuro, fechado, parecia muito irritado.

—  Eu não tenho tempo para conversa fiada —  ele pegou o copo de café que havia caído no chão —  Ver se em uma próxima vez, presta mais atenção —  e ele foi saindo

—  Espero não haver uma próxima vez, seu grosso —  gritei

Bati o pé em revolta, desfiz o meu caminho do parque e voltei fuzilando de ódio, toda melada, por conta de um brutamontes grosso, meu belo passeio estragado. Cheguei em casa e fui direto me limpar, tomei um bom banho e decidi vestir uma roupa bem confortável, afinal eu não iria sair mais, dois desastres em tão poucos minutos que provavelmente se sair mais uma vez, era capaz de ser atropelada.

Fui para a cozinha, fiz um sanduíche rápido, um café coado, típico, bem brasileiro e sentei no sofá para assistir. O apartamento que eu alugara, graças aos céus era mobiliado.

Terminei de comer, deixei tudo limpo e voltei para o sofá, para assistir mais um pouco. Por volta, me peguei pensando no homem no qual me esbarrei mais cedo, como pode tanta beleza ser estragada com tamanha grosseria, fiquei viajando e quando dei por mim, já era noite, então desliguei a televisão e fui para o meu quarto, dormir. Amanhã seria o meu primeiro dia de trabalho e eu não poderia deixar nada dar errado.

Capítulo 2 - Caminhada

ETHAN JOHNSON

Definitivamente hoje não era o meu dia, comecei acordando em cima do horário, saindo sem comer, uma coisa que eu odeio. Peguei um trânsito infernal, logo hoje que eu queria chegar mais cedo, pois era o dia das entrevistas para o cargo de minha secretária particular e eu esperava que tivesse boas candidatas, paciência não é muito o meu forte, precisava de alguém que tenha punho suficiente para trabalhar comigo.

Quando cheguei na empresa logo cedo, a Emma havia me avisado que a Luana tinha iniciado as entrevistas, eu estava precisando com urgência de uma secretária. A minha vida estava ficando uma bagunça, precisava de alguém para organizar tudo, minhas reuniões, viagens, clientes… Assim que passei pela Emma, cumprimentei-a e logo mais a frente, instantaneamente dei de cara com um olhar fixo, que rapidamente se prendeu ao meu, não pude deixar de notar aqueles olhos verdes marcantes, acompanhados de longos cabelos cacheados ruivos e uma pele cintilante, uma mulher que devia estar entre as candidatas para a entrevista, pelo menos era o que eu achava, deduzi pelo local onde ela aguardava. Uma ruiva muito linda, por sinal e uma presença forte.

 Logo deixei aquele olhar secante e fui para a minha sala, como Luana já havia começado as entrevistas, deixei que terminasse, o horário passou voando e quando dei por mim já estava no final da tarde. Sai correndo da empresa, iria ao encontro da minha avó e eu já estava super atrasado mais uma vez, hoje, não poderia deixá-la esperando. Esse era o meu compromisso diário, fazer a sua caminhada da tarde. A minha avó tinha 74 anos, para a idade dela era bem forte, mas tinha sido diagnosticada a pouco tempo com  princípio de alzheimer, foi um baque para todos nós e como os meus pais não moram mais aqui em Nova York, a responsabilidade é minha. Minha avó é meu tesouro, a única pessoa nesse mundo que me conhece tão bem, é ela, conhece todas as minhas manias, defeitos e eu nunca consigo esconder absolutamente nada dela.

Depois que ela foi diagnosticada com princípio de Alzheimer, as suas caminhadas nunca mais foram as mesmas, porque eu deixei acordado com ela que sempre a acompanharia, para mim a sua companhia sempre foi maravilhosa e isso não seria esforço nenhum. E hoje, por incrível que pareça, acabei perdendo o meu horário e quando dei por mim, já estava em cima da hora e se bem eu conheço a minha avó, ela não espera ninguém. Troquei de roupa na empresa mesmo, sai pelo elevador de serviço correndo com o meu café de sempre, quando fui passando pelo parque, sem querer me esbarrei em uma moça, uma meleira só. Confesso que eu não prestei atenção no caminho e sai correndo igual a um furacão, quando me esbarrei fui ate grosso com a moça, sei que ela não havia sido culpada mas se tem uma coisa que eu não tenho é paciência e não sou o tipo de pessoas que gosta de pedir desculpas. Deixei ela lá gritando de raiva e fui ao encontro de minha avó.

 —  Conheci uma bela moça hoje - ela sorriu

—   Onde? —   perguntei, abraçando-a de lado

—   No prédio —   ela me olhou —   é nova, ela me disse que não morava aqui e chegou tem pouco tempo, brasileira

—   Já sabe disso tudo é? —   eu sorri

—  sim, conversamos rápido e ela é um pouco desastrada —   a minha avó sorriu enquanto lembrava —   ela estava distraída quando acabou escorregando na escada e caindo, fui ajudá-la

—   Entendi —  não queria dar corda a dona Nancy, sabia onde ela queria chegar

—   Uma moça muito bonita, Ethan —   ela me olhou de lado

—   Vóóó, não começa —   revirei os meus olhos

—  Meu filho, não anule a sua vida por uma decepção amorosa, você precisa conhecer pessoas, se interessar por elas —   ela parou e me olhou sério —   eu quero ver você vivendo a sua vida, vivendo um amor. Nada melhor nessa vida do que viver um grande amor —   ela respirou fundo

—   Vó, eu estou vivendo a minha vida, só não tenho espaço para relacionamentos agora - eu a olhei —  e a senhora encontrou um grande amor, mas nem todo mundo tem essa sorte

—   meu filho, o amor é para todo mundo —   ela acariciava meu braço —  você está anulando a sua vida por conta de uma decepção, não pode fazer isso e quando menos esperar, a vida vai te surpreender com um grande amor —   ela sorriu e voltou a caminhar —  você é um homem tão bom, merece muito ser feliz e  inclusive, a moça era muito bonita viu? —   ela sorriu —   o seu nome é Maria Luísa, mas pediu que eu a chamasse de Malu

—   tá bom Vó, vamos esquecer esse assunto, estou muito ocupado com as coisas da empresa —   respirei fundo —   vamos terminar a nossa caminhada

Terminamos a nossa caminhada, sob as queixas de dona Nancy, sobre eu me fechar para relacionamentos, deixei a minha avó em casa e fui para a minha. Assim que cheguei em casa lembrei daqueles olhos marcantes que fitaram o meu olhar logo cedo quando eu havia chegado na empresa, não faço ideia porque me lembrei deles, mas aquela mulher era de uma beleza surreal, que era impossível não pensar, será que aquele olhar havia sido selecionado para ser a minha secretária? Só iria saber quando eu chegasse na empresa.

A mulher desastrada do parque, não a vi muito, mal pude notar como era a sua feição, pude sentir apenas o cheiro inebriante dos seus cabelos misturado a um perfume encantador, ela parecia bem baixinha quando se encontrava ao meu lado. Em meio aos meus pensamentos, tomei o meu banho e caí na cama. No meu apartamento, morava eu e tinha a Elena que cuidava da organização do meu apartamento, era ela a responsável pela diarista e responsável pela minha comida, mesmo eu dizendo que já estava na hora dela não se desgastar mais, cozinhando. Ela ficava comigo de segunda a quinta, na sexta ela voltava para a sua família no interior e retornava na segunda pela manhã cedo.

Acordei cedo, a Elena já havia deixado tudo pronto, sentei à mesa e a chamei para tomar café comigo.

—   Vamos Eleninha, precisamos começar o nosso dia —   beijei o topo de sua cabeça

—   Bom dia meu filho —   ela sorriu —   vamos sim

A Elena estava comigo desde sempre, ela saiu da casa dos meus pais quando eles decidiram se mudar para o interior e ficou comigo, aqui em Nova York. Me tratava como seu filho e sempre me tratava muito bem, ela me conhecia tão bem quanto a minha avó. Elena era uma das poucas pessoas que me viam sorrir com frequência.

Assim que cheguei na empresa, cumprimentei a todos e fui para a minha sala. Pouco tempo depois a Luana havia anunciado que a nova secretária havia chegado e que ela a levaria até a minha sala, primeiro ponto positivo, muito pontual, ainda faltavam 10 minutos para início da jornada de trabalho e ela já estava lá. Espero que ela tenha muitos outros pontos positivos, porque eu não tenho mais tempo e nem paciência para esperar uma nova seleção de secretárias.  A Luana bateu na porta.

—   Entre —   falei um pouco mais alto para que pudessem ouvir

—   Senhor Ethan, essa é a Maria Luísa, a sua nova secretária —   ela puxou a mulher —   Maria Luísa, o senhor Ethan, o presidente e dono da empresa

Eu nem pude acreditar no que eu estava vendo.

Capítulo 3 - Primeiro dia

MALU MILLER

Acordei cedo, recheada de disposição, fui para a academia, afinal, minha genética era favorecida, mas eu tinha que fazer a minha parte. Gastei toda a energia que eu poderia na academia, tentando me acalmar, aplacar a ansiedade do primeiro dia. Depois, voltei para casa, fiz as minhas higienes e caprichei no meu visual, era o primeiro dia e eu tinha que causar uma boa impressão. Deixei para tomar meu café na padaria que tinha no meio do caminho e como eu sai cedo, acabei chegando cedo na empresa também. Fui até a Emma avisar que eu havia chegado e logo ela avisou a Luana.

—   O senhor Ethan gosta de pontualidade —  ela sorriu — um ponto bem positivo

 — Vocês falando assim, parece que ele é temido  — fiz uma careta — segunda vez que fala assim dele

 —  Ele é fechado, nunca vi ele sorrir, está o tempo todo corrido e ocupado — ela deu uma pausa — não é mal educado, mas é sempre bem ríspido em suas respostas, mas tenho que confessar que ele é um gato — ela revirou os olhos

 — Muita beleza pra pouca educação — respondi aérea ao ambiente — me deparei com um desses ontem, quase me levou na frente e eu ainda fui a errada

—  Vamos Maria Luísa  —  ela me chamou, interrompendo de nossa conversa

 —  Vamos sim —  acenei para a Emma — tchau Emma, até mais tarde — acenei e a acompanhei

 —  O senhor Ethan gosta dessa pontualidade, ele é bastante sério, você não vai vê-lo sorrir e ele é bastante discreto — ela caminhava enquanto falava, repetindo as mesmas palavras de Emma  —  Ele é bastante ríspido, então acostume-se com isso, no princípio ele chega a ser assustador mas depois você logo acostuma

 —  Já tô assustada de agora  —  rimos

Chegamos a um andar muito bonito, arrumado, tudo muito escuro, móveis pretos e acinzentados, combinando muito bem com o perfil que havia descrito do senhor Ethan. A Luana anunciou a minha chegada e logo entramos em sua sala. Eu nem pude acreditar no que eu vi, era o homem grosso que quase me carregou em sua frente lá no parque e era o mesmo homem que prendeu o meu olhar ontem na entrevista, como não pude ver ontem isso?

 —  Bom dia, então a senhora é a minha nova secretária?  —  ele procurou incrédulo

 —  O senhor a conhece?  —  ela assustou com a reação do Ethan

 —  Não a conheço, mas por um breve e infeliz momento me deparei com ela ontem  —  ele revirou os olhos, me reconheceu, que grosso

 —  Desculpe senhor Ethan, mas ontem o incidente não foi a minha culpa e o que aconteceu ontem não interfere em nada na minha produtividade profissional  — respondi calma

A Luana arregalou os olhos com a minha resposta e o Ethan ficou alguns segundos parado, com a cara de quem não estava acreditando no que estava ouvindo.

 — Primeiro dia de trabalho e já está sendo insolente dessa forma?  —  ele sorriu sarcasticamente

 — Não estou sendo insolente senhor — respirei fundo — eu só lhe disse que o que aconteceu ontem não tem absolutamente nada a ver com o meu trabalho

 — ok — ele foi seco — Então vamos ver! Luana passe tudo para ela, inclusive a minha agenda — ele olhou para o computador — esteja atenta a minha agenda e ao e-mail, tudo o que precisa ser dito, peço que preferencialmente seja por lá, aqui se trata apenas do profissional — ele deu uma pausa — atualize sempre a agenda o quanto antes, aqui utilizamos a agenda eletrônica, a senhorita terá acesso ao meu e-mail e justamente por isso fica na responsabilidade de respondê-los ou me sinalizar quando for algo de muita emergência, caso contrário, não me incomode, vou olhando os e-mails por ordem de chegada

 — certo senhor — o olhei e engoli em seco — mais alguma coisa? — ele com certeza não facilitaria a minha vida, em nada

 — Não, por enquanto só isso, pode ir para a sua mesa e peço que comece colocando em ordem a minha agenda, pois tenho algumas reuniões agendadas essa semana e não sei os horários ainda, então, olhe os meus e-mails para verificar isso — ele continuou ríspido

 — ok — respondi breve e me despedi

Luana me conduziu até onde seria a minha mesa, respirei bem fundo e sei que isso seria um desafio e tanto. A grosseria aliada a uma beleza sem fim.

 — o que ele tem de beleza, ele tem de grosseria viu —  soltei todo o ar dos meus pulmões

 — logo mais você acostuma — ela sorriu — mas ele é um gato mesmo — ela sussurrou

 — Já pensou esse homem com uma mulher? — revirei os olhos — nossa, deve virar ao avesso, bruto do jeito que é — nós duas rimos

 — Maria Luísa, você será a nossa diversão aqui, tenho certeza — ela riu balançando a cabeça em negativa

 — Pode me chamar de Malu — disse ainda com um leve sorriso nos lábios — que bom, é sempre muito bom ser bem recebida nos lugares — fui sentando a minha mesa — mas vamos começar, porque pela cara do chefe ele não é daqueles com muita paciência para nada — revirei os meus olhos

 — e não é — ela foi em direção a mesa dela — mas, mata uma curiosidade minha, de onde vocês se conhecem ?  — ela sussurrou a pergunta

 — Lembra de muita beleza pra pouca educação, que eu comentei ter encontrado ontem no parque?  — ela confirmou com a cabeça  — era ele

 — Chocada  — ela gargalhou e começou o seus trabalhos

A Luana era a secretária do Ethan no escritório e eu seria a secretária particular dele. Agora veja, eu trabalhando lado a lado com esse homem, que desesperador. Ela sentou ao meu lado e foi me ajudando a entender como tudo funciona. Organizei  a agenda do Ethan, revisei alguns e-mails e enviei para ele o cronograma da semana, das reuniões e viagens que ele teria que fazer. O dia passou bem rápido, não precisei ir mais a sala dele, ainda bem, o jeito dele falar me assustava bastante.

Por volta de 16:00 horas Ethan saiu da sua sala em direção a saída, sinalizou que já estava de saída e que não retornaria mais hoje para empresa e foi. Meu expediente acabou às 17:30, arrumei tudo, deixei algumas coisas já organizadas para amanhã, adiantei algumas pautas da reunião de amanhã do Ethan e fui para a casa. Quando eu estava voltando para casa, passei pelo parque e parei novamente em uma barraquinha, dessa vez na barraquinha de pipoca, e pedi uma. Enquanto eu esperava a minha pipoca vi o Ethan, em trajes nada formais, vestido em uma calça moletom cinza, uma camisa preta fina e um tênis, ele conseguia ser lindo nesses trajes e para a minha surpresa ele estava acompanhado da mesma senhora na qual havia me ajudado ontem, a tarde. Eles pareciam bem íntimos, bem entrosados, parecia ser avó dele, pela forma na qual ela se comunicava com ele. Eles foram se aproximando no mesmo tempo que o rapaz da pipoca veio me entregar a mesma. Fiz minhas preces rapidamente, para que ela não me reconhecesse e falhei.

 — Malu —  ela acenou  — Moça bonita —  ela sorriu e arrastou o Ethan para mais próximo

 — Oi, dona Nancy  —  sorri e a cumprimentei

 — Senhorita Maria Luisa ?  —  ele me olhou de olhos arregalados

 — se conhecem?  — ela nos olhou

 —  É a minha nova secretária  —  ele respondeu revirando os olhos

 —  e é assim que você fala com seus funcionários Ethan?  —  ela lançou um olhar furioso - essa com certeza não foi a educação que dei a você  —  ela deu um leve tapa em seu braço

 — Vovó, eu estava agora a pouco com ela, na empresa — ela lançou um olhar mortal — tudo bem — ele jogou os ombros em derrota  — oi, senhorita Maria Luisa

 — tudo bem, dona Nancy — sorri sem graça —  oi, senhor Ethan

 — minha querida, não gostaria de tomar café conosco ? —  ela sorriu — ia adorar a sua companhia

 — Minha avó — ele a repreendeu — a senhora nem a conhece direito

 — Deixe de coisa Ethan — ela deu de ombros para ele — ela mora no mesmo prédio, é sua funcionária, então deixe de coisa

 — Agradeço dona Nancy, mas estou chegando agora do trabalho e estou bastante cansada, mas podemos marcar qualquer outro dia — sorri — para mim, será um imenso prazer ter a sua companhia

 — que menina doce — ela sorriu

 — Só espero que não esteja a tratando assim agora depois que soube que é a minha avó —  ele falava frio

 — Senhor Ethan, ao contrário do senhor, a companhia da sua avó parece ser bem agradável e para mim, pouco importa se é a sua avó ou não —  sorri cinicamente

 — merecida resposta — ela sussurrou entre sorrisos

 — Vó — ele a repreendeu novamente

 — meu filho, quem fala o que quer, ouve o que não quer — ela deu uma gargalhada —  agora vamos terminar a nossa caminhada — ela saiu puxando o Ethan — vou cobrar o meu café, Malu

 — pode deixar, dona Nancy — sorri e segui o meu caminho

O Ethan era tão obscuro, seu olhar sempre frio, nem parecia ser neto de uma pessoa tão agradável quanto a dona Nancy. Cheguei em casa pensando bastante no que poderia ter acontecido com o Ethan para ele ser tão daquele jeito. Entrei em casa, fui direto para o banho e depois fiz alguma coisa para comer, logo depois, como de costume, liguei para os meus pais, para matar um pouco a saudade que eu sentia de casa.

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