Alexander Howard
- "Mãe, a senhora não pode permitir isso. Não quero me casar, não quero me amarrar a alguém pelo resto da minha vida, só para poder governar. Isso é muito injusto." - digo enquanto me sento em uma das cadeiras que há no quarto de minha mãe.
- "Alexander querido, você sabia disso desde que era pequeno. Essa é uma lei que tem estado nessa família há mais de 500 anos. É uma norma muito importante para o povo e para nós também." - ela diz suspirando.
- "O casamento não deveria ser algo obrigatório, principalmente quando alguém quer governar com o coração." - eu digo e minha mãe sorri.
- "Não é isso que se quer com essa lei. O povo sempre foi governado por um Rei e uma Rainha, e o motivo para isso é que o povo se sentem seguros tendo as duas caras da moeda no governo. Acreditam que um homem que governa junto de uma mulher, significa o que um confia no outro mas acima de tudo é porque eles formam uma família. E o que é melhor que uma Família para dirigir centenas delas?" - minha mãe diz enquanto deixa seu bordado de lado. Ela se levanta de onde está sentada e se põe do meu lado.
- "Não sei o que dizer em relação a isso. Além disso, por que tem que ser eu a tomar o trono? Por lei deveria ser você. Você é a filha do rei Edward. Você é a próxima na linha de sucessão." - eu digo e minha mãe sorri.
- "Falei sobre isso há muitos anos com meu pai. Ele sabe que não almejo ser rainha. É verdade que por nascer na Família Real tenho esse direito, mas sempre temos a oportunidade de aceitar ou rejeitar. Tenho vivido muito bem com seu pai e nenhum de nós dois se vê sendo os soberanos de uma nação. E se eu aceitasse, eu não teria tanto tempo disponível e não poderia continuar fazendo o que eu gosto, que é ajudar as crianças e suas famílias com poucos recursos. O tempo que tenho já é limitado, e com um título com mais responsabilidade meu tempo seria ainda mais curto." - diz e eu faço uma careta.
Pego sua mão entre a minha e começo a acariciar os seus dedos com meu polegar.
- "Não sei se serei um bom rei." - confesso e minha mãe sorri pra mim.
- "Ninguém nasce sabendo. A palavra rei é uma palavra simples mas que quando as pessoas falarem do Rei Alexander Howard, isso mudará. Talvez uma boa companheira possa ajudar que este medo não seja tão grande. Eu sempre te disse que duas cabeças pensam melhor do que uma." - diz me fazendo rir.
- "Não continue, já sei para onde você vai com esse papo."
- "Querido, as mulheres com quem você costuma a se relacionar, sempre é para curtir o momento já que até agora você não me apresentou nenhuma delas. Mas eu, encontrei a mulher perfeita para você. E olha que sem querer, ela literalmente caiu aos meus pés." - minha mãe ri um pouco e eu franzo o cenho.
- "O que você quer dizer com isso?" - eu pergunto confuso e ela acaricia a minha bochecha enquanto pisca um olho para mim.
- "Você saberá no tempo certo." - minha mãe diz me deixando ainda mais confuso.
Quem será essa jovem?
(...)
Louise Griffin
- "Ainda não posso acreditar, na grande besteira que eu fiz há uns dias." - digo enquanto termino de colocar uma das bandejas com bombons na prateleira.
- "Poderia ter acontecido com qualquer um." - diz minha mãe.
Minha mãe havia acabado de atender um cliente e depois sorriu para mim.
- "Mamãe, eu literalmente caí aos pés da filha do rei. Graças a Deus que eu não estava carregando nada, já que poderia ter sujado a princesa. Me senti tão desastrada." - digo com vergonha.
Jamais havia acontecido algo assim comigo e justo quando acontece, tinha que acontecer com alguém tão importante para nós. Alguém da realeza.
- "Mas querida, a princesa Amelie não disse nada sobre o acontecido. Ela só te ajudou a levantar do chão e seguiu seu caminho como se nada tivesse acontecido. Se ela tivesse achado ruim, com certeza ela teria feito você saber. Então não pense mais nessas coisas, seu pai está trabalhando na parte de trás da loja, porque você não leva um pouco de chocolate quente pra ele?" - minha mãe propõe e eu assenti com a cabeça.
- "Acho que o negócio da família é ótimo. Se complementam muito bem." - digo e minha mãe ri.
- "Pensamos bem juntos. Vá lá deixar isto para o seu pai." - diz enquanto me entrega uma xícara com um fumegante chocolate quente. Só de olhar me dá água na boca.
Saio com cuidado pela porta para ir até a salinha que fica no fundo da loja, onde fica a oficina do meu pai.
- "Pai, trouxe uma pouco de chocolate quente para o senhor." - digo quando entro na oficina.
Adoro entrar na oficina do meu pai. Sempre fico fascinada com as coisas que ele cria.
Meu pai trabalha criando algumas peças feitas de cristais, normalmente vendemos alguns potes recheados de bombons feito que minha mãe faz. As taças de cristal cheias de bombons são a sensação da loja.
- "Obrigada querida. Já tinha começado a sentir falta." - meu pai diz e ele toma um gole do chocolate depois de tirar o copo da minha mão.
Ele acaba se queimando um pouco por causa da sua afobação, isso me faz rir um pouco, logo ele começa a assoprar o conteúdo do copo para começar a tomar aos poucos, mas agora com mais cuidado.
- "Beba devagar papai, para não se queimar novamente."
- "Querida, tenho uma encomenda para entregar no castelo. São 2 jogos de copos de cristal. Você poderia levá-los pra mim? Tenho vários pedidos para a manhã mas se eu sair neste momento, não conseguirei terminar a tempo." - ele diz e eu faço uma careta.
Aproximar-me do castelo, é aproximar-me da princesa Amelie e ainda sinto pena pelo que aconteceu. Mas, não posso negar isso a meu pai.
- "Está bem. Irei entregá-las para o senhor." - digo soltando um suspiro pesado.
Por que será que a vida ou o destino sempre me levam ao castelo? O que é que tanto me chama desse lugar?
Louise Griffin
- "Boa tarde senhorita. O que a traz por esses lados?" - pergunta um dos guardas que estão na entrada do castelo.
Esses homens me deixam nervosa. Eles sempre são tão sérios e não sei se no final do dia alguém lhes cai bem.
- "Venho entregar as encomendas que a princesa Amelie pediu para essa noite." - respondi com segurança.
O guarda faz um sinal para o outro que está atrás dele e esse último, desaparece rapidamente. O guarda que ficou não diz nada ou faz nada, apenas fica parado como se fosse uma estátua.
Franzo o cenho.
Eu não conseguiria aguentar ficar tanto tempo parada sem fazer nada. Eu acabaria com dor nos pés.
Não sei quanto tempo se passa mas meus braços começam a doer por causa do peso. A maioria dos bolos e tortas estão dentro do carro, mas há duas bandejas em meus braços.
O guarda que havia saído retorna e assente com a cabeça para o guarda que havia ficado na entrada do castelo.
- "Você pode entrar." - o guarda diz parando na minha frente. - "Precisa de ajuda para levar algo?" - ele pergunta e eu assenti.
- "Na parte de trás da caminhonete tem umas bandejas, os bolos e tortas também estão lá." - digo e ele suspira.
O guarda chama três criados; que não faço ideia onde eles estavam para ajudar a carregar as coisas.
Quando entramos no castelo, me sinto imediatamente intimidada com toda a riqueza que nos cerca. Nas poucas vezes que estive aqui, tive a a sensação de que qualquer passo que dou estou desgastando as coisas e embora soe um tanto estranho, sinto que não deveria estar aqui.
O corredor principal é amplo e em cada esquina, em cada porta ou janela há algo que custa milhares de dólares. São belos, são chamativos e são impressionantes, mas não posso tocá-los. Não sei porque a riqueza me dá tanto medo.
Talvez seja porque já vi o que o dinheiro faz quando as pessoas tem de sobra ou quando não tem. Essas coisas me dão medo. Prefiro viver com o justo e lutar para conseguir o que quero. Posso dizer que tudo o que ganhei nessa vida, ganhei com o suor do meu trabalho.
Não é que queira dizer que os que estão na realeza não o ganharam de maneira honesta, é só que eles nasceram em berço de ouro e sempre tiveram de tudo. Podem ter problemas como qualquer outra pessoa mas sempre têm a possibilidade de ter suas necessidades mais básicas supridas. Não posso dizer que estou intacta.
Os guardas me levaram a uma sala grande que nunca estive antes, embora eu não tenha vindo muitas vezes ao castelo. Das quatro paredes, duas delas têm grandes mesas, de um lado há uma pilha gigante de louça branca e há muitas taças, de todas as formas possíveis. Qualquer um você precisar ou gostar, estaria a seu dispor.
.Os homens deixam as bandejas na mesa que está desocupada e mais dois homens, deixam as caixas onde vêm as coisas para decorar a mesa. Sei que os homens ainda têm mais uma volta para descarregar as sobremesas mas começo a fazer o meu trabalho.
Tiro todas as coisas das caixas e as deixo na mesa. Minha mãe sempre teve bom gosto e tudo o que mandou combina com a louça que será usada.
- "Esse cheiro não pode ser outro senão dos bolos mais conhecidos da cidade. Não posso acreditar que ainda não saiu para o mundo. Se isso acontecesse não sei o que aconteceria com minhas reuniões. Os demais bolos não fazem honra à confeitaria."
Dou meia volta e encontro a princesa Amelie. Ela é um amor de mulher e tem um coração puro, corre o boato pela cidade que ela não irá assumir o trono por decisão própria.
- "Boa tarde princesa Amelie. Trouxe o que a senhora encomendou com minha mãe. Ela mandou alguns suportes onde pode colocar os doces e assim poder ressaltá-los melhor." - digo enquanto começo a lhe mostrar todas as coisas que a minha mãe mandou.
- "Não precisa me chamar de princesa quando estivermos sozinhas, sei que é o protocolo me chamar assim mas só quando há outras pessoas ao redor. Te conheço desde que tinha 5 anos e te vejo mais como uma sobrinha do que a filha dos meus confeiteiros favoritos. Eu considero sua mãe uma boa amiga minha." - ela diz enquanto aperta as minha bochecha.
- "Bom, como quer que decore a mesa?" - pergunto. A princesa Amelie me olha e depois olha para as mesas.
- "Os bolos e as tortas precisam ficar em um lugar de destaque. Também quero que os bombons recheados também se sobressaiam mas não tanto quanto os bolos e tortas. Vamos fazer com que o negócio dos seus pais fique conhecido pelos convidados que vierem. Eles são pessoas muito importantes para o país e suas recomendações podem fazer com que a clientela cresça." - ela diz e eu assinto com a cabeça.
Olho pelo salão e começo a planejar mentalmente onde vou arrumar o que, mas é claro sem deixar de seguir as suas recomendações.
- "Acho que tenho uma ideia do que fazer baseado no que você quer." - digo e a princesa Amelie assente com a cabeça.
Me viro para pegar algumas coisas, quando de repente me choco com algo duro que me faz cair no chão. E pancada é tão forte que até os ossinhos do meu quadril e da minha perna doerem.
- "Por Deus, Alexander! Que mania você tem de aparecer sem fazer barulho. Parece um fantasma, devo dizer que você é pior do que seu pai." - Amelie diz.
É a primeira vez que escuto um membro da realeza falar com tanta familiaridade. Eles sempre se mostram tão distantes diante as câmeras, com tantos protocolos a seguir, que quase não os vemos como a família que são. Isso é estranho.
- "Não sabia que teríamos visitas. Além disso não estou muito à vontade com essa ideia de que façam uma nova festa. Não estamos para esses tipos de coisas e a senhora sabe muito bem porque eu estou dizendo isso. Precisamos falar com o meu avô e ver se podemos fazer ele mudar de ideia. Isso não é justo para mim e para ninguém." - o príncipe Alexander diz e eu franzo o cenho.
Me sinto um pouco incomodada por está presenciando essa conversa.
- "Filho, você não deve pensar dessa maneira. Seu avô está pensando no melhor para você e para todos que têm a ver conosco. Você não pode continuar pensando apenas no que você quer." - a princesa diz enquanto se aproxima de seu filho.
E bom, e eu continuo caída no chão, como se fosse uma jaca podre.
- "Não mamãe, isso está passando dos limites. A única coisa que falta é que seja meu avô quem vai decidir com quem tenho que me casar. Não posso fazer isso mãe mas, tampouco posso deixar que outra pessoa que se encarregue do reino, já que ninguém ama esse país como nós amamos." - o príncipe diz bastante zangado.
Como ninguém me vai ajudar a levantar, faço por mim mesma. A dor que sinto no meu quadril e na minha perna direita, é irritante.
- "Querido, não continue pensando dessa maneira. Nada de bom vai acontecer com essa rebeldia que está indo contra as regras que reino tem. Nem eu pude escapar delas, embora pra mim não saiu tão mal. Seu pai é um bom homem, que apesar de não ter sido bem visto que me casasse com alguém sem títulos, era o que eu devia fazer. Meu pai não falou comigo por meses mas, com o tempo e quando conheceu melhor o Samuel, ele percebeu que não foi uma má escolha. Um dia, quando ele estava um pouco bêbado, disse que não tinha certeza de minha escolha para o marido mas, ao conviver com ele e conversar, ele percebeu que era diferente. Você sabe que mostramos para as pessoas, não é o que acontece durante as 24h do dia." - Amelie diz.
Embora o que estou ouvindo seja uma fofoca da boa, não posso continuar parada ouvindo uma conversa tão íntima entre mãe e filho, eu preciso começar a trabalhar.
Devido me afastar um pouco dos dois, para começar a trabalhar sem distrações, caminho com um pouco de dificuldade até onde estão as coisas e começo arrumar as mesas em silêncio.
- "Mas você teve a possibilidade de escolher, embora o meu avô tenha se oposto a ideia do seu casamento, você se impôs e escolheu meu pai. Você teve a possibilidade de escolher, mas eu não o tenho. Você sabe perfeitamente que eu não quero me casar, mas eu tenho uma data limite e meu avô não aceita Lysandra. O que eu posso fazer?" - o príncipe Alexander começa a andar de um lado para o outro como um leão enjaulado.
Se for a mesma Lysandra que conheço, o Rei Edward faz bem não aprova-la para seu neto, essa mulher não presta.
- "Alexander ninguém suporta essa jovem. Ela pode ter muitos títulos e muito dinheiro, que temos que reconhecer que é do pai, não dela. O pior que ela tem algo que não me agrada e não só a nós. Você ouviu a mesma coisa em todos os lugares e mesmo assim, é a única coisa que você pode mostrar ao seu avô. Acredite em mim, seu avô pode ser o próprio diabo quando se irrita mas, tem um sexto sentido excepcional para as pessoas." - a princesa Amelie tenta acalmar os ânimos, mas duvido que consiga.
- "Não sei o que fazer. Não quero a minha vida unida com alguém que não conheço. Quero o que você e meu pai tem, mas não agora!" - ele diz e eu franzo o cenho.
- "Mas não há opção. Você tem que se casar."
Acredito que essa é a parte ruim de fazer parte da realeza, eles têm tantas regras a se seguir, que no final em vez de desfrutar dos benefícios, acabam desfrutando das desgraças.
- "Vou arrumar o que fazer. Não posso com isto mamãe. Se eu ficar aqui ou ver meu avô, não vou ser responsável por meus atos." - ele disse e beija a testa de sua mãe antes de sair do salão.
- "Meu pobre garoto. Não está lidando nada bem com que o meu pai está impondo... Oh, preciso de algo doce. Esse problema está fazendo com que minha taxa de açúcar baixe." - a princesa disse me fazendo sorri. Ela se vira e olha pra mim. - "Minha menina, sinto muito. Você está bem? Precisa de algo?" - ela diz se aproximando de mim.
- "Estou bem. Sinto um pouco de dor por causa da queda mas nada sério." - digo olhando para ela. - "Preciso terminar de arrumar tudo isso para que tudo esteja pronto para hoje à noite." - digo e a escuto suspirar.
- "Está bem. Só gostaria de pedir que não comentasse com ninguém nada do que acabou de ouvir aqui. Meu filho está muito confuso com o que está acontecendo e não seria nada bom se essa informação vazasse agora. Ainda preciso ajudar o meu filho, só que não sei como." - ela diz.
Pego uma das sobremesas de chocolate belga que eu trouxe de dentro de uma das caixas.
- "A senhora só precisa dar tempo ao tempo. Bom...pelo menos é isso que meu pai sempre diz." - digo e lhe entrego a sobremesa a ela, que apenas sorri pra mim.
Volto a repetir, a vida das pessoas com dinheiro é complicada. A vingança, a inveja e os problemas, normalmente são o pão de cada dia.
Louise Griffin
- "A festa foi linda. Nunca pensei que veria vestidos tão bonitos e ao mesmo tempo tão simples. Mas também havia aqueles extravagantes demais para o meu gosto." - digo enquanto seco o meu cabelo.
Ainda bem que depois daquela queda que sofri ontem no castelo graças ao príncipe Alexander, apenas fiquei com um hematoma do tamanho de uma maçã, mas no momento não estou sentindo dor. Acho que ter descansado bem me ajudou bastante.
- "Eu posso imaginar. Sempre quando tem essas festas no castelo, o luxo sempre se sobressai. O bom é que graças a essas festas, as nossas vendas subiram muito. Temos uma enorme encomenda para amanhã e hoje preciso que trabalhe conosco até tarde, sabe que só podemos contar com você, mas o ruim é que estaremos divididos entre a loja e a cozinha. Você não tem ideia do quão feliz o seu pai está com essa encomenda, já que graças a ela vamos poder comprar um novo maquinário que nos ajudará a aumentar a demanda em menos tempo."
Minha mãe pega uma escova e começa a desembaraçar o meu cabelo. Meus cabelos castanhos escuros são muito compridos e eles costumam a embaraçar com muita facilidade.
- "Essa é uma notícia maravilhosa." - digo realmente feliz por meus pais. - "Vocês sabem que podem contar comigo, sabem que gosto de ajudá-lo, ainda mais quando é para ajudar nossos negócios alavancarem. Foi tão difícil conseguir ter o que temos hoje, que um pouco mais de esforço não é nada." - termino de dizer me sentindo relaxar enquanto minha mãe penteia meus cabelos. Ainda não entendo como algo tão simples consegue me deixar relaxar tão facilmente.
- "Eu sei disso. Vamos, eu te ajudo a prender esse cabelo e logo desceremos para o café da manhã para depois pôr as mãos na massa. Um dos maiores pedidos que recebemos foi os bombons recheados com creme de amêndoas. É um doce tão bom, que até mesmo nós ficamos surpresos quando chegou com essa criação e nós deixou de boca aberta." - ela diz e eu sorrio.
Quando meu cabelo já está totalmente desembaraçado,, minha mãe me ajuda a trançar todo meu cabelo. Se eu fizesse isso sozinha, iria demorar muito tempo.
Descemos juntas a escadas enquanto conversávamos, meu pai sempre diz que quando minha mãe e eu estamos juntas não paramos de falar, somos ruidosas demais e não paramos de falar.
Somos como duas papagaias tagarelas.
Entramos na cozinha e o maravilhoso cheiro de doce nos recebe. Pego meu avental e coloco a touca em minha cabeça para que não caia nenhum fio de cabelo na massa.
Pela janela da cozinha, vejo meu pai brigando com pedaços de madeira, há uma pilha de lenha que para quem vê parece ser interminável mas normalmente ela desaparece em mais ou menos dois dias. Acho que qualquer coisa feita no fogão ou forno à lenha faz diferença na qualidade do produto, é tudo preparado com carinho e ao mesmo tempo mantendo as características dos doces artesanais.
- "Minha menina, aqui essa a massa para fazer as tranças recheadas." - meu pai entra na cozinha e me indica a tigela branca. - "E a que está na tigela azul é a massa para os biscoitos. Você pode usar qualquer essência que tiver na estante, precisamos entregar mil e quinhentos biscoitos com formatos e sabores diferentes. A decoração fica a seu critério, você é a única que tem a delicadeza para decorar esses biscoitos, o resto sua mãe e eu podemos fazer." - meu pai diz e eu suspiro.
Vou ter que trabalhar arduamente para conseguir terminar essa quantidade gigantesca de biscoitos.
(...)
Fico mais de três horas preparando os biscoitos, até que minha mãe me pediu para fazer uma pausa para ficar um pouco na loja enquanto ela tenta fazer com que o meu pai almoce.
Normalmente quando estamos com muito trabalho a fazer, meu pai se esquece de se alimentar e não queremos que ele acabe passando mal. Meu pai foi diagnosticado com diabetes há três anos e sempre que ele fica tanto tempo sem se alimentar, ele acaba tendo uma crise de hipoglicemia, caracterizada pelos baixos níveis de açúcar no sangue e isso não é bom.
A porta da loja se abre, fazendo o sininho tocar e isso me indica que algum cliente entrou na loja. Quando olho na direção da porta, sinto todo o ar escapar dos meus pulmões, essa é a primeira vez que vejo o príncipe Alexander vestido de uma forma tão casual. Não dá para negar o quão bonito esse homem é, mas meu estado de ânimo decai consideravelmente quando vejo que ele tem o cenho franzido e está me fulminando com o olhar.
- "Em que posso ajudar?" - pergunto de maneira educada e ele praticamente grunhe pra mim.
- "Minha mãe me mandou buscar alguns bolos. Ela precisa de 30 massas recheadas com creme de confeiteiro. São aqueles que sempre compra." - ele diz e me dá vontade de rir.
- "Todos os bolos tem nomes, alteza. E muitos deles vão creme de confeiteiro. Além do mais, a princesa Amelie constantemente está mudando os sabores e todas as semanas ela leva algo novo. Então eu preciso de algo mais do que essa descrição tão banal." - digo.
Sinto muito mas estou tentando. Foi ele quem me derrubou no chão e nem mesmo me pediu desculpas.
- "Suponho que tenha razão, então levarei algo que mais se pareça com o que descrevi. Pode me dá logo? Eu estou com pressa." - ele diz e eu volto a suspirar.
Mesmo sendo uma pessoa nascida em berço de ouro e que supostamente deveria ser muito bem educado, a educação e o respeito não é o forte dele. O que esse homem tem de bonito, ele tem odioso e desprezível.
- "Claro." - digo.
Com cuidado, começo a pegar as sobremesas que a princesa Amelie mais gosta mas de repente sinto uma uma pontada exatamente onde tenho um hematoma, me assusto com a dor e isso me faz resmungar baixinho. Durante a manhã, eu não havia sentido nenhuma dor e justamente agora tinha que começar a doer.
- "O que é que você tem? Por acaso não pode fazer as coisas direito? Nesse caso, você não deveria trabalhar em um lugar onde tenha que fazer esforço. Existem algumas pessoas que não servem para nada e acho que esse é o seu caso."
- "O problema é que um idiota acabou cruzando o meu caminho e o pateta é tão cego que me derrubou no chão me machucando no processo e nem mesmo se desculpou por isso. Mas tudo bem, existem pessoas tem educação mas não costumam usá-la. O mesmo acontecem com o dom de enxergar, alguns idiotas não olham por onde anda." - respondo irritada.
Acaricio o local dolorido. Faço uma careta e suspiro. Terei que tomar algo para isso, ainda falta muito para terminar os biscoitos e isso não pode me atrapalhar.
- "As pessoas só enxergam o que são agradáveis aos olhos, normalmente elas não se interessam por coisas simplórias e sem nenhum atrativo. Não nos importamos com coisas insignificantes, é por isso que terminam no chão, porque não valem nada."
- "Espero que você não esteja falando sobre as pessoas que fazem parte do seu povo, essa declaração pode te trazer sérios problemas. Você disse que as pessoas que te rodeiam são insignificantes para você e realmente é uma pena que você pense assim, existem muitas pessoas que gostam da realeza e gostam muito de sua família. Mas pelo o que vejo, o que penso das pessoas que possuem dinheiro e que fazem parte da realeza, não é tão diferente da realidade. São 45 dólares." - digo enquanto lhe entrego o pacote com o seu pedido.
- "Tão má reputação tem a realeza para você? Mesmo quando te dão trabalho para que possa comer?" - o príncipe pergunta e eu franzo o cenho.
- "Não é a realeza, é o dinheiro. Quanto mais dinheiro ou mais coisas têm, as pessoas se esquecem de onde saíram ou como chegaram ao poder. Embora com a realeza é difícil saber, já que passaram centenas de anos que estão ao poder. Eu não tenho nada contra a princesa Amelie, de fato eu gostaria que ela reinasse, já que ela é uma boa mulher e tem um coração enorme. É isso o que todos nós queremos. Ela sim ama seu povo, ao contrário de você que nos acha insignificante. Não quero que você seja o novo rei de Evalun, alguém que tem os pensamentos tão podres como você, não deve reinar nada. Agora se você não se importa, tenho que continuar trabalhando." - digo o dispensando.
O príncipe Alexander suspira com raiva, joga o dinheiro em cima do balcão, pega a sua encomenda e sai da loja soltando fogo pelas orelhas.
Uma vez que ele sai da loja, me deixo cair sentada na cadeira e coloco minhas mãos no rosto. Acho que peguei pesado, mas esse homem conseguiu me tirar do sério. Nunca alguém havia me irritaria tanto apenas com sua presença. Espero que isso não traga problemas para meu pai e para seu negócio.
Quando os meus pais voltam do almoço, não comento nada com eles sobre o que aconteceu com o príncipe, quero ver o que ele vai fazer em relação a isso. Todos nós queremos que a princesa Amelie seja a nova rainha de nosso país, mas pelo que eu ouvi no outro dia, parece que ela não quer isso. Então o que estão dizendo por aí é que o príncipe Alexander subirá no trono, mas nem todos gostaram dessa ideia. Acreditam que ele ainda é muito jovem e precisa amadurecer muito antes de governar.
Eu também penso o mesmo, principalmente depois do que aconteceu hoje.
(...)
Por volta das 21:00hs da noite, finalmente todos os biscoitos estão prontos. Minhas mãos doem por ter ficado durante várias horas trabalhando com saco de confeiteiro decorando cada um dos mil e quinhentos biscoitos. Amo meu trabalho, mas ele é muito cansativo. Aqui nós trabalhamos os sete dias da semana, então não temos muito tempo para descansar.
Minha mãe está arrumando tudo para fechar, quando escuto o sininho da porta da loja tocar e logo depois escutamos passos.
- "Leonora, que bom que ainda não fecharam, preciso falar com Louise. É muito importante. Apareceu um enorme problema de última hora e ela é a única que pode me ajudar."
Se eu não me engano, essa é a voz da princesa Amelie.
- "Ela está lá na cozinha. Está terminando de arrumar as caixas com um pedido que temos que entregar amanhã. Por favor, entre." - minha mãe diz.
Escuto os passos se aproximando da cozinha e a porta se abre. Como pensei, realmente é a princesa Amelie.
- "Minha menina, você é a única pessoa que pode me ajudar nesse momento e acredite em mim, tenho buscado por todo o reino e não há nenhuma pessoa melhor para o que precisamos. Sei que pode parecer um pouco precipitado e muito estranho, é que não há ninguém nesse lugar que será a melhor companheira para ele. Eu não tinha pensado nisso mas, escutando o Rei e a ideia que ele tem para a nova companheira do novo Rei, você é a única que veio a minha cabeça. Não sei como eu não pensei nisso antes. Eu te tinha como uma das candidatas mas agora me dei conta de que você é a indicada para isso. Você é a pessoa certa." - ela diz tudo tão rápido que não consigo compreender nada.
- "Princesa Amelie, se acalme. Não estou entendendo nada. Em que posso te ajudar? O que você quer dizer com que eu sou a mulher certa?" - eu pergunto devagar.
A princesa suspira e endireita seus ombros. Isso significa que não irei gostar do que vou ouvir.
- "Isso, é exatamente isso. Você, minha menina, é a pessoa certa para se casar com meu filho. Você é a mulher que Alexander precisa, você tem que ser sua esposa." - ela disse e minha mãe ofega diante essa declaração.
Como eu havia dito antes, eu sabia que não iria gostar nada desse pedido.
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