...Ana Luísa Machado...
- Analu, você já ta pronta? Temos que ir. - meu irmão pergunta ao bater na porta do meu quarto.
- Já vou. - digo em um tom alto para que ele ouvisse.
Passei meu rímel com cuidado para não borrar e estragar todo trabalho que eu havia tido decorando minhas pálpebras. Me olhei no espelho mais uma vez e sai do quarto.
Eu estava um pouco nervosa, iria para uma festa de um amigo do meu irmão, não tinha muito costume de ir a festas ou lugares que não fosse o meu serviço e a casa dos meus pais e avós, por isso do nervosismo. Não sabia como agir em lugares assim e também não conhecia muitas pessoas que estariam lá, mas mesmo assim quis aceitar o convite do amigo do meu irmão, eu já tinha 19 anos estava na hora de começar a viver de verdade.
Ao chegarmos no portão da casa do amigo do meu irmão já era possível ouvir a música em um tom alto, Diego tocou a campainha e alguém que eu não conhecia nos comprimentou e nos convidou para entrar.
A casa tinha pessoas espalhadas por todo canto, conversando, bebendo e dançando.
- Vem, vamos lá pra fora. - meu irmão começou a andar em direção aos fundos da casa e eu o segui.
Se dentro a casa estava cheia, fora estava muito mais e o som estava muito mais alto ou talvez eu só não fosse acostumada com isso.
- Diegão! Pensei que não viria. - Thiago, o anfitrião da festa disse ao meu irmão e veio em sua direção fazendo um toque com a mão.
- E eu lá ia perder boca livre? - eles riram e Thiago notou minha presença.
- Aê, Analu, que bom que você veio. - me abraçou eu retribuiu sem jeito. - Fica a vontade, a casa é sua.
- Obrigado, Thiago. - sorri pra ele.
- Vou te apresentar um pessoal pra você se enturmar com a galera, vem cá.
Thiago me guiou pra perto de um pessoal que estava em volta da churrasqueira e me apresentou para seus amigos, comprimentei todos um pouco timida e me sentei do lado de uma garota. Thiago era o melhor amigo do meu irmão, sempre foi muito legal comigo e sabia que eu não tinha amigos, então constantemente me chamava para sair com ele e meu irmão, mas eu nunca aceitava.
Fiquei por ali tentando me enturmar e comendo algumas coisas até um garoto chegar roubar toda minha atenção. Ele era simplesmente lindo, era alto, olhos azuis, cabelos claros e corpo magro. Fiquei nervosa ao vê-lo vindo na direção em que eu estava e disfarcei dando um gole no meu refrigerante. Ouvi ele comprimentar o pessoal ao meu lado e mantive distraída em minha bebida.
- Você eu não conheço. - sua voz soava dúvida. Por estar perto, sabia que ele falava comigo, levantei meu olhar e o vi sorrir pra mim. - Me chamo Filippo.
- Ana Luísa. - ele estendeu a mão pra mim eu a peguei em um aperto breve.
- Muito prazer, Analu. Ta bebendo o que ai?
- An, é só refrigerante.
- Ah, eu até gosto, mas prefiro algo mais forte.
Sorri sem graça e Filippo foi até as bebidas, se servindo de algo azul. Desviei meu olhar para não ser pega o fitando e para minha surpresa senti alguém se sentar ao meu lado e percebi ser Filippo.
- Tem problema se eu ficar aqui do seu lado?
- Não, problema nenhum. - ele abriu um sorriso lindo pra mim.
- Então, Analu, o que você gosta de fazer? Além de beber refrigerante. - brincou e eu sorri.
- Ahn... - pensei um pouco. Por que esse cara bonito estava conversando comigo e não com os amigos dele? - Gosto de ficar em casa, de ler, ver filmes. - falei, pensando que ele me acharia uma chata por fazer coisas desinteressantes ao olhos das maioria das pessoas.
- Não gosta de sair pra uma festa ou algo mais agitado?
- Não, esses lugares não fazem muito meu tipo.
- Eu gosto, mas não sempre, sabe? Tem dia que prefiro ficar mais quieto em casa mesmo. - assenti em compreensão. - Desculpa perguntar, mas se não gosta de festas o que faz aqui? Não estou querendo ser grosso.
- Não está sendo grosso, relaxa. Eu vim, justamente porque sempre fico em casa e pensei em mudar um pouco essa rotina, Thiago também vive me chamando, então resolvi aceitar o convite uma vez na vida.
- Fez bem. Quem sabe depois de hoje você passe a gostar nem que seja um pouco de ambientes assim.
Não sei como, mas eu e Filippo embalamos um assunto atrás do outro e passamos a tarde toda da festa conversando e rindo. Ele era muito divertido e atencioso, o que me deixava extremamente confortável para conversar com ele.
- Analu. - ouço a voz do meu irmão me chamando e olho pra ele. - Vamos embora?
- Já?
- Sim, já são 20h00.
- Nossa, nem vi o tempo passar. - me levantei e olhei para Filippo para me despedir.
- Gostei de te conhecer. - ele sorri pra mim e eu retribuo.
- Eu também. - admiti. - Bom, tenho que ir, acordo cedo amanhã.
- Me dá seu número pra gente conversar mais. - pediu e eu fiquei em dúvida se deveria passar ou não. Quase ninguém tinha meu número, além do meu patrão, minha família e Thiago. Por outro lado havia gostado de conversar com Filippo e gostaria que pudéssemos conversar mais vezes, então resolvo passar.
- A gente vai se falando. - ele se levanta e me dá um beijo na bochecha. Fico um pouco tímida com sua ação e sinto que minhas bochechas ficaram vermelhas.
Assinto com a cabeça e me afasto em busca de Diego. O encontro no portão com Thiago, me despeço do mesmo e entro no carro com meu irmão.
- Gostou de ter vindo?
- Sim, foi legal. Talvez eu deva sair mais vezes. - olho para meu irmão e o vejo sorrindo.
Ao chegar em casa, sinto meu celular vibrar e vejo ser uma mensagem dele, respondo sua primeira mensagem de muitas que ele me mandaria.
No dia seguinte, Filippo e eu seguimos conversando e nos outros dias também. Toda brecha que tinha durante o serviço trocávamos mensagens. Eu estava feliz por finalmente estar conseguindo conhecer alguém. Meu irmão até havia dito que eu estava diferente e de bom humor e eu concordava com ele. Filippo me fazia bem.
Com algumas semanas de conversa por mensagens, ele me chamou para sair e eu aceitei sem medo ou receio.
Saímos por mais algumas vezes até Filippo dizer estar gostando de mim, confesso ter ficado num misto de surpresa, medo e felicidade. Era a primeira vez que eu vivia isso,mas acho que também estava passando a nutrir sentimentos por ele. Então resolvi me entregar pra esse sentimento, já estava na hora de eu viver como todas as pessoas da minha idade e de ter experiências e histórias pra contar.
Eu e Filippo estavamos juntos a um mês, mas nada de relacionamento sério, mesmo ele me tratando como sua namorada.
Uma noite ele me levou a sua casa, preparou um jantar e criou tudo um clima romântico e eu cheguei a pensar que ele me pediria em namoro, mas mal sabia eu que depois daquela noite minha vida iria mudar tanto.
*SEM REVISÃO*
...Ana Luísa Machado...
Minha cabeça girava e eu sentia que mais uma vez tudo que eu havia comido iria sair pra fora do meu corpo. Eu não estava bem, já vinha me sentindo assim a quase duas semanas o que estava me deixando preocupada.
- Analu, Filippo está subindo. - meu irmão gritou da sala.
Não respondi. Queria que ele pensasse que eu estava dormindo, não gostaria de ver ninguém, muito menos Filippo estando nesse estado.
Ouço uma batida leve na porta e logo a porta se abrir. Filippo me olha deitada na cama e franze a testa. Eu já não o via direito a alguns dias, nossa relação havia esfriado um pouco depois daquela noite, não conversavamos com tanta frequência, ele parecia mais ocupado e culpava o trabalho por isso.
- Diego me falou que não está bem. - ele se aproximou.
- Estou um pouco enjoada e tonta, mas nada demais.
- A quanto tempo?
- A uns dias já. - ele arregalou os olhos e eu fiquei sem entender. - Você já teve aquilo esse mês?
- Aquilo?
- Aquilo que toda mulher tem.
- Ah, não, não tive.
Os olhos de Filippo foram tomados por uma preocupação e ele passou a mão pelo rosto. Demorei um tempo pra entender o que se passava na cabeça dele, mas quando entendi fiquei assustada só de pensar nessa possibilidade.
- Você acha que eu posso estar grávida? - minha pergunta sai em um sussuro.
- Pelo que você falou, sim.
- Filippo, eu não posso. Não, não, sem chance.
Eu só tinha 19 anos, nem havia iniciado uma faculdade e feito nenhum dos planos que eu tinha como meta antes de formar uma família.
- Não mesmo, Ana Luísa isso atrapalharia minha vida.
Fiquei quieta, um nó havia parado em minha garganta e uma angústia havia tomado meu peito, principalmente após a fala dele.
- Olha, eu espero que não seja isso que a gente tá pensando. - ele me olhou. - Mas se for...eu não quero esse filho. Eu só tenho 22 anos, comecei agora na empresa que eu sempre sonhei, to prosperando ainda, entende?
Meus olhos marejaram de raiva e decepção por sua fala. Como ele podia somente pensar em si e ser tão covarde?
- Vai embora. - peço em um fio de voz, não queria mais vê-lo na minha frente, muito menos ouvir o que ele tinha pra falar.
Filippo me olhou por um tempo e fez o que eu pedi.
Nas semanas seguintes continuei tendo alguns episódios de enjoos, mas não era com tanta frequência, então eu achava que estava tudo bem e seguia com minha vida. Talvez parte de mim quisesse acreditar nisso.
Depois daquele dia, eu e Filippo não nos encontramos mais, ele havia me decepcionado muito com suas palavras, mesmo eu não estando grávida. Eu realmente não o conhecia direito e tudo isso havia me feito questionar sobre nossa relação e ver que não deveríamos mais ter o que tínhamos, se ele não era homem para assumir suas responsabilidades, então não era homem pra mim.
[•••]
Depois de terminar mais um expediente, fui para casa e me deparei com Diego andando pra lá e pra cá na sala.
- Está tudo bem? - questiono e ele me olha.
- Que bom que você chegou, quero conversar com você e sua opinião é muito importante pra mim. Senta aqui. - ele apontou pro sofá e eu me sentei.
Meu deus, será que Filippo havia falado algo com ele? Espero que não.
- Pode falar.
- Eu recebi uma proposta pra trabalhar em uma filial da empresa, mas estou indeciso e um pouco inseguro. - ele coça a cabeça como sempre fazia quando estava agoniado.
- Isso é ótimo, Di. - sorri pra ele. - Mas por que da insegurança?
- Sei lá, é uma cidade nova, não vou conhecer ninguém. Também não quero te deixar sozinha aqui, por isso quero saber o que você acha.
- Se o problema for eu, fica tranquilo, sei que tudo que você quer é crescer nessa empresa e essa proposta é ótima pra isso, eu nunca iria te impedir. Mesmo sabendo que vou sentir sua falta, te dou o maior apoio.
Eu e Diego morávamos em um apartamento na capital do estado desde que nossos pais haviam decidido se mudar para o interior buscando uma vida mais tranquila, depois de tantos anos trabalhando na cidade grande. Claro que eu me sentiria sozinha, ainda mais por não ter nenhum amigo, mas eu não podia prendê-lo aqui por minha causa.
- Jura que vai ficar bem? - me olhou com preocupação.
- Juro! Mas você tem que me ligar sempre, hein. - me levanto e vou até ele.
- Combinado. - nós nos abraçamos. - E sobre as despesas do ap, vou continuar ajudando.
- Não, Di, não é certo. - digo, mesmo sabendo que as despesas que tínhamos eram altas por conta de morarmos em um bom bairro e talvez eu não conseguisse continuar nesse apartamento.
- Analu, eu não vou deixar você ficar passando aperto, não.
- Eu posso me mudar pra um lugar mais barato.
- E quando eu voltar vou pra onde?
- Pro meu apêzinho menor? - sugeri.
- Tá encerrado o assunto, vou continuar ajudando e ponto. - bufo, mas não falo mais nada.
Diego tinha esse jeito protetor e não iria a hesitar em cuidar de mim.
- Quando você vai?
- Daqui a duas semanas.
...Ana Luísa Machado...
As duas semanas passaram voando e Diego embarcou para o estado onde seria sua nova residência por pelo menos um ano. Eu e meus pais choramos como uma criança perdida, Diego se fez de durão, mas também caiu no choro. Sabiamos que se pegassemos um voo de algumas horas poderíamos estar juntos novamente, mas nunca haviamos ficado tanto tempo longe e eu sabia que seria muito complicado pra mim, principalmente por agora estar sozinha naquele apartamento.
Vejo uma cliente entrar com seu cachorro e sorrio para os dois, entretanto o perfume doce da mulher faz meu estômago revirar, sinto minha boca encher de saliva e sou obrigada a correr para o banheiro mais próximo para vomitar. Minha chefe me olha sem entender, mas não diz nada e vai atender a cliente.
Coloco todo meu almoço pra fora e me sinto fraca. Ouço batidas na porta e vou até a pia para lavar meu rosto.
- Ana Luísa, está tudo bem? - Dona Isabel pergunta assim que abro a porta. Forço um sorriso e confirmo com a cabeça.
- Me desculpe pelo ocorrido, não irá mais se repetir.
- Eu espero que não, mas sei que não é a primeira vez que tem esses mal estar, então pra garantir que está bem de saúde quero que vá ao hospital fazer alguns exames. - ela diz séria e só me resta concordar. - Certo, estou te liberando, pode ir agora mesmo.
Ela virou as costas e saiu dali. Mordi meus lábios em nervosismo e fui pegar minha bolsa.
Resolvo chamar um táxi, pois pegar um transporte público talvez me deixasse mais enjoada e seria humilhante demais vomitar no ônibus, então estava totalmente fora de cogitação.
O hospital não era tão longe do meu trabalho, somente 10 minutos de carro que pareceram uma eternidade.
Eu me sentia aflita e com muito medo. Me lembro da conversa com Filippo sobre eu estar grávida e mais uma vez me nego a acreditar. Começo a fazer as contas e percebo que minha menstruação não havia descido no mês anterior e a desse mês estava atrasada, mas isso não significava que eu estava grávida, podia ser outro problema. Quem sabe uma virose ou talvez só precisasse me alimentar melhor. Eu também não havia notado nada de tão diferente em mim tirando os enjoos e esse detalhe sobre minha menstruação.
Mordo meu lábio inferior e pego meu celular, abro o Google e pesquiso sobre sintomas da gravidez.
Atraso na menstruação, cólica abdominal, cansaço frequente, aumento dos seios, aversão a cheiros fortes, enjoos, vômitos.
Paro para pensar um pouco e percebo que minha mão está suando frio.
Não, não, não podia ser.
- Chegamos. - ouço o motorista dizer.
Pego o dinheiro na bolsa e lhe entrego, logo descendo do carro. Me encaminho para a entrada do hospital e entro torcendo internamente para que eu não estivesse grávida.
Consigo ser encaixada em uma consulta no clínico geral em meia hora e me sento na recepção para aguardar.
- Ana Luísa Machado. - ouço uma voz masculina me chamar. Paro de balançar minha perna e olho para o homem que falou meu nome. Me levanto para que ele perceba que sou eu e caminho em sua direção. - Pode entrar, por favor.
Ele abre a porta para que eu entre e logo entra também, encostando a porta.
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