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Amor E Superação

Capítulo 1

..."Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente." (William Shakespeare)...

  Henrique Foster, vinte e oito anos. Esse era eu, antes do meu trágico acidente acontecer e eu vir parar em uma maldita cadeira de rodas.

  Eu sempre levava a vida com leveza, vivia como se não houvesse o amanhã. Não tinha medo de se arriscar, adorava coisas radicais. Tenho uma coleção de carros esportivos e motos, eram minha paixão, a velocidade era tudo pra mim, sentir o vento, a brisa batendo em nosso rosto, droga!

Sou CEO da revista Foster de New York, meu pai passou a empresa pra mim faz uns cinco anos. Sim, sou um bilionário e tinha tudo na vida, uma noiva perfeita aos meus olhos, luxos e sem medo de ser feliz, mas infelizmente a felicidade dura pouco.

Sofri um grave acidente de moto, perdendo os movimentos das minhas pernas e junto, minha noiva. Carrego esse fardo já há quatro meses, eu me tranquei pro mundo, quando ela descobriu que eu iria ficar em uma cadeira de rodas, me abandonou e até hoje, nunca tive uma notícia dela. Sempre me acompanhava nas minhas loucuras, pra mim era a mulher da minha vida.

Nós estávamos juntos a sete anos, eu enrolei, enrolei muito pra pedi-la em casamento, sou um espírito bem livre e queria aproveitar a vida, até o dia que ela me colocou contra a parede e por medo de perda-la, fiz oque tanto desejava, a pedi em casamento.

Minha família nunca me apoiaram com Nathalia. Me diziam que ela apenas estava comigo por conta do nosso dinheiro, porque eu era assim, ela queria, eu comprava e a dava. Eu a mimava mesmo, amava e ainda amo aquela mulher, mas infelizmente, minha família tinha razão. Eu posso contar nos dedos, as pessoas que continuaram do meu lado após esse acidente.

Meu pai contratou vários fisioterapeutas, tanto homens quanto mulheres, mas todos correram de mim facilmente, me tornei uma pessoa terrível, onde não há mais esperanças, vontade de viver. Apenas quero ficar aqui, no meu canto, morrendo aos poucos.

Andrew: Henrique, já chega meu filho, a empresa precisa de você e você precisa se reerguer nessa vida. - meu pai adentra porta a dentro do meu quarto, eu estava pela janela, observando aquele jardim enorme, o sol estava forte e o céu limpo, eu não havia mais colocado os pés naquele jardim, claro que ironia.

Henrique: Eu já disse que daqui eu só sairei quando for pra um caixão.

Andrew: Não diga isso, sua mãe está sofrendo por sua culpa. Você está nos matando aos poucos Henrique. Sua irmã precisa de você, ela não está dando conta daquele lugar sozinha e eu estou velho, aposentado, não queira que eu vá fazer o seu trabalho não é?

Suspiro impaciente e apoio minhas mãos na roda da cadeira, me afastando e me virando pra poder encara-lo. Meu pai arqueia a sobrancelha, ele era um homem saudável, bem apresentado e muito, muito melhor que eu.

Henrique: O senhor, senhor Andrew está em ótima condições, nenhuma pessoa irá te olhar com pena, ou julgará você.

Andrew: Meu filho, ninguém está com pena ou julgando você, só não aguentamos mais ver você dessa maneira. Já basta ter perdido a esperança de voltar a andar.

Henrique: Impossível!

Andrew: É possível, você que dificulta as coisas.

  Respiro fundo e desvio meu olhar.

Henrique: Oque o senhor quer?

Andrew: Temos um evento importante, preciso que vá acompanhar sua irmã.

Henrique: Você só pode estar brincando comigo? - o encaro e sinto meus músculos se enrijecerem.

Andrew: Não estou! A empresa é sua, é o seu nome que está lá Henrique, já chega! Amanhã às oito e meia, uma moça vira até aqui e será sua nova fisioterapeuta.

Henrique; Que?? Nem pensar, eu já não tenho mais concerto.

Andrew: A esperança minha e da sua mãe, é a última que morre. Esteja pronto e se prepare pra daqui algumas semanas pra ir até esse evento. Se esse seu sofrimento é por conta daquela garota, ela não vale o seu esforço.

  Ele se vira e bate a porta, sem deixar eu argumentar alguma coisa. Passo a mão pelo meu cabelo, irritado, meu pai sempre tão autoritário, eles acham que eu devia continuar com a minha vida, mas como vou continuar ela sabendo que perdi o amor da minha vida? Que eu não posso mais me aventurar? Andar de moto e com a coleção de carros que tenho? Minha vida acabou, só sou um peso nessa terra, um a mais pra contar como habitante.

... \~\~...

...ALICIA...

Alicia Miller, vinte e quatro anos. Me formei como fisioterapeuta ainda esse ano, decidi me tornar uma profissional nessa área, por conta do trabalho dos meus pais. Os dois eram ótimos profissionais, os mais procurados pelo hospital de New York. Eu simplesmente me apaixonei, me sinto leve e feliz por ter realizado e hoje sou uma das melhores naquele lugar, mesmo em tão pouco tempo. Meu pai subiu de cargo, sendo assim apenas o chefe dos fisioterapeutas.

Hoje, somos somente nós dois, infelizmente o maldito câncer surgiu em nossa vida, tirando a mulher mais incrível que eu tive a sorte de ter como mãe. Meu pai sofreu muito calado, eu tinha dezoito anos quando isso aconteceu, ele se fazia de forte na minha frente mas eu sabia que todos os dias a noite, ele se ajoelhava em frente a cama e chorava, orando por ela e isso não mudou até hoje.

Recebemos a ficha de um homem de vinte e oito anos, que perdeu os movimentos das pernas devido um acidente de moto de alta velocidade. A família exigiu fisioterapeutas com experiências mas vi muitos irem a um dia e correrem, dizendo que aquele homem era um demônio em pessoa.

  Eu não acreditava que ele podia ser tão difícil assim, mas ouvi boatos que o próprio tinha uma noiva e ao saber sobre seu estado, fugiu, o abandonando. É nessas horas que percebemos quem está com nós por interesse ou por amor mesmo.

Meu pai, como chefe, convenceu a família dele em que eu poderia ajudá-lo, que experiência não quer dizer nada, a pessoa precisa ter paixão pelo o que faz, dedicação e com muito esforço eles concordaram, receosos, mas um grande passo.

Confesso que estou nervosa, muito nervosa, principalmente por saber da forma que ele tratou todos aqui, como se tivessem culpa da sua imaturidade de correr feito um louco com uma moto, ele tem a sorte de ter saído dessa vivo e não morto.

Olívia: Senhorita Miller eu suponho?

  Uma senhora elegante me recebe, eu abro um sorriso sem graça, estendendo minha mão;

Alicia: A própria, mas pode só me chamar de Alicia por favor.

  Ela sorri, pegando minha mão e apertado firme, eu retribuo o sorriso e a mesma me convida para entrar. Aquilo era uma mansão, não uma casa, luxuosa demais, os móveis em branco e bege, esses lustres chiquerrimos demais, eu só posso estar no lugar errado.

Alicia: É desculpa senhora.....?

Olivia: Olívia! - ela se vira e sorri.

Alicia: Senhora Olívia, é eu não sei se estou no lugar certo, sou fisioterapeuta e vim conhecer meu paciente.

Olívia: Você está no lugar certo querida. Sou a mãe do seu paciente.- Eu sorrio sem graça. –Vem! Ele está no quarto dele, não sei de lá de dentro por nada.

Alicia: Mas se ele não sai de lá, como vou fazer as aulas?

  Ela segue pra umas escadas, vou logo atrás, tentando acompanhá-la.

Olívia: Talvez você tenha a sorte de tirá-lo de lá querida. - Ela para em frente a uma porta, se virando pra me olhar. – Não deixe que a frieza do meu filho te afeta, mas o conhecendo melhor, vai ver que ele tem um grande coração.

  Sorrio torto, sentindo meu coração acelerar. Estou com medo, muito medo de conhecer esse homem, as coisas horríveis, a forma como ele fala e trata as pessoas, eu nem sei porque topei essa loucura.

Olívia: Pronta? - ela me questiona, abrindo a porta.

Alicia: Acho que sim. - suspiro e sorrio.

  A porta se abre, ela fica parada me olhando e tento manter o foco pra não demonstrar o quanto estava nervosa.

Henrique: QUEM ESTÁ AÍ?

Uma voz masculina, grossa e rude surge, vindo de dentro do quarto. Sinto um calafrio atravessar meu corpo, "respira Alicia, respira, é um cara qualquer, você já lhe deu com coisas piores."

Ando lentamente, entrando no quarto e o vejo, na cadeira de rodas em frente a uma janela enorme de vidros, olhando para rua.

Alicia: É .... oii!

  Levo um susto quando a porta se fecha atrás de mim, ele se vira e me olha, sinto meu coração querendo pular pela boca. Seu olhar de repreensão, percorre de cima a baixo em meu corpo, sinto minhas bochechas queimando, estou corando, eu tenho certeza, droga! Seu cabelo estava bagunçado e grande, sua barba por fazer, se eu o visse na rua dessa forma, jamais diria que ele era um homem bilionário como dizem ser.

Henrique: Quem é você? - Sua voz era rígida, suspiro fundo para não deixar me intimidar.

Alicia: Sou Alicia Miller, sua fisioterapeuta. É um prazer em te conhecer. - Forço um sorriso, caminhando em sua direção e estendendo minha mão. O homem apenas olha e da um sorriso sarcástico de lado.

Henrique: Você minha nova fisioterapeuta? - O seu olhar novamente percorre pelo meu corpo, me analisando. – Agora estão contratando de menores? Eu pensei que meus pais mandariam alguém profissional.

Engulo em seco e recolho minha mão, sinto um soco na boca do estômago ouvindo aquilo, quem ele pensa que é? Seus olhos escuros se encontram com o meu, sua expressão era sério e arrogante, entendo porque todos fugiram na primeira tentativa mas se ele acha que vai conseguir me tirar daqui dessa maneira, não vai.

Alicia: Não importa o que o senhor acha, só passei pra conhecê-lo, é nosso dever. Se acha que vai me assustar como fez com os outros com essa grosseria, está muito enganado!

Ele ri e sinto um arrepio atravessar meu corpo.

Henrique: Tenho certeza que você não sabe nem o meu nome garota.

Merda!!! O nome, eu não lembro; pera aí. Fecho meus olhos, me esforçando um pouco, eu preciso lembrar, vi seu nome na minha agenda...

Henrique; Eu sabia! Como você pretende conhecer seu paciente senhorita Miller, se ao menos não sabe o nome dele?

Lentamente abro os olhos o encarando.

Alicia: Eu só não lembro do seu nome agora, mas tenho em minha ficha de pacientes.

Henrique: Pacientes? Que merda é essa? Você tem quantos anos? Dezesseis?? - ele se vira irritado para a janela. – Se acha que vai conseguir alguma coisa aqui, está enganada. Nem outros profissionais conseguiram, assim como você falou, todos correram e você não será diferente.

Reviro meus olhos, estou ficando impaciente, como uma pessoa pode ser dessa forma? Amarga? Sua mãe parecia uma mulher gentil e olha pra ele?

Alicia: Amanhã às oito, estarei aqui para começamos senhor. Se você acha que eu sou como os outros está muito enganado.

Me viro e saio daquele quarto de passos firmes, já estava me sufocando, sem conseguir respirar o mesmo ar que aquele idiota. Droga! Minha aparência não ajuda também, todos acham que sou menor de idade no começo mas ficam impressionados com o meu talento. Não estou me achando não, mas é que eu me dediquei realmente a isso, quero ser uma grande profissional como foram meus pais. Quero dar orgulho a eles, sei que minha mãe não está mais aqui mas está me acompanhando, aonde quer que ela esteja.

   Eu nunca namorei, mas não sou santa, só também não saia dando por aí, estava esperando pela pessoa certa. Eu saia quando podia, mas a universidade tomava muito meu tempo e a minha força de vontade também, então sempre foquei nos meus estudos. Meus amigos dizem que sou a "CDF" do grupo, a nerd, HAHAHA, talvez eu seja mesmo.

  Respiro fundo e desço as escadas, encontrando com a senhora Olívia. Ela rapidamente se levanta, abrindo um sorriso gentil pra mim.

Olívia: Foi rápido!

Alicia: Eu não consegui fazer as perguntas ao seu filho.

Olívia: Me desculpa querida, não foi essa educação que dei a ele. Henrique depois que sofreu o acidente, mora somente naquele quarto.

Henrique, esse é o seu nome.*

Alicia: Tudo bem. - suspiro. – Eu volto amanhã pra começarmos.

Olívia: Você....? - Ela me olha surpresa e a ofereço um sorriso de canto.

Alicia: Não irei fugir.

Olívia: Ahh! Eu fico tão aliviada em ouvir isso.

Olívia se aproxima de mim e me abraça, me despeço dela e sigo pro hospital. Todos rapidamente me rodearam pra saber como foi, contei tudo e eles me chamaram de maluca por continuar nessa, mas sou teimosa, adoro um desafio e se ele quer me desafiar, então pronto, pegou a pessoa errada para isso.

Capítulo 2

...HENRIQUE...

Eu estou sem acreditar da incompetência dos meus pais. Como eles ousaram me mandar uma garota, que nem idade tem pra ser fisioterapeuta, pra me ajudar a voltar a andar? Eu já disse, minha vida acabou! Eu vou morrer pra sempre trancado nessa droga.

Acabei discutindo com meus pais sobre isso, tivemos uma briga feia, que mania deles quererem mandar na minha vida, caralho, eu tenho quase trinta anos e preso a uma maldita cadeira, impossibilitado de fazer qualquer coisa porra!

Mais tarde, cansado e entediado, pego meu celular, discando o número do meu único amigo, o único que ficou ao meu lado depois do acidente, tirando minha família.

...*Ligação;*...

Ethan: Senhor Sanders.

Henrique: Ethan tá ocupado agora?

Ethan: Ahh é você! Oque houve? Pela sua voz, aconteceu alguma coisa.

Reviro meus olhos e suspiro;

Henrique: Aconteceu, tô precisando do meu parceiro de copo.

Um silêncio toma conta da ligação, mas eu conseguia ouvir sua respiração. Fico no aguardo, até finalmente ouvir sua voz;

Ethan: Em uns vinte minutos estou aí.

...*Ligação off*...

  Eu precisava do meu único amigo que restou, a única pessoa que não tem pena de mim. Ethan e eu, fomos criados juntos, nossa família são amigos há anos, então o considero como um irmão, o irmão que nunca tive, já que somos somente eu e minha irmã.

Ethan: Espero que não esteja pelado.

Diz Ethan, adentrando no quarto. Reviro meus olhos, levando minhas mãos pra roda da cadeira, me virando.

Henrique: Espero que tenha trazido uma bebida das boas.

Ethan: Seu whisky favorito meu irmão!

Ele me mostra a garrafa, abrindo um sorriso e se aproximando de mim. Nos cumprimentamos com nosso toque e permanecemos ali, por longas horas, bebendo e jogando conversa fora.

Ethan: Qual é Henrique? Eu tô contigo mas talvez você poderia dar uma chance e fazer essas sessões.

O encaro e dou mais um gole na minha bebida, sentindo descer queimando pela garganta.

Henrique:Agora até você?

Erhan: Cara eu só quero o seu melhor, te apoiarei no que escolher, mas porra a vida não é assim. Isso aconteceu por um descuido seu, a culpa foi sua.

Henrique: Porra, valeu Ethan!

Me sirvo novamente com a bebida, Ethan me dando um sermão? Caramba!

Ethan: Você fica aí se fazendo de vítima, dizendo que sua vida acabou. Acabou porque você quer, porque você ganhou outra chance, isso é por causa da Nathalia? Ela não merece seu sofrimento. No momento que recebemos a notícia de sua paralisia, ela não pensou duas vezes em ir embora. Sabe muito bem que ela estava com você, por bancar os luxos dela. Toda atitude sua Henrique, tem consequências, esse acidente aconteceu sabe muito bem porque.

Eu o encaro, mas não digo nada. Cada palavra dita por ele, era um soco de realidade no meu estômago. Ethan tinha razão, claro que tinha, eu que fui um idiota, achando que tinha a garota perfeita do meu lado e com a adrenalina no sangue, o gosto por velocidade, acabei bebendo demais da conta e me perdendo em uma curva.

Ethan: Vamo cara, a vida ainda não acabou, você precisa se reerguer, dar a volta por cima. Eu aguentei até aqui, já se foram quatro meses, agora já deu, você tem chances ainda de andar mas se demorar por mais....

  Enquanto ele me dava a bronca, eu bebia. Uma coisa que fez permanecer minha amizade com Ethan nesses longos anos, foi a sua sinceridade. Não importa se isso vai te machucar ou não, oque ele tem pra dizer, ele diz e sempre, está certo.

...(...)...

Na manhã seguinte, desperto com a droga do meu despertador, eu nem lembro que horas eu fui dormir e como parei na cama. Me estico pra desligar esse barulho irritante, minha cabeça parecia explodir, droga, eu odeio essas ressacas.

Surge uma batida na porta, " Quem pode ser a essa hora?", mas antes que pudesse reagir, ouço o barulho da mesma se abrindo e uma voz, que não me recordo muito bem.

Alicia: Bom dia senhor.....

A mesma faz uma pausa, ouço barulho de passos e uma sombra em minha frente. Forço meus olhos a se abrir, podendo avistar quem era.

Henrique: Tinha que ser você. - Levo minha mão até minha cabeça, franzindo minhas sobrancelhas. – Droga!

Alicia: Você está bem?

Seus olhos azuis me encaravam, indiferentes.

Henrique: Isso importa para você? Nem me conhece.

Alicia: Olha aqui senhor Foster, você pode não gostar da minha presença, mas estou nem ai, porque eu também não gosto da sua, mas estou aqui como profissional, então trate de ser um também.

Henrique: Ao menos poderia parar de gritar?

Ouço sua risada e a olho sério.

Alicia: Já entendi, ressaca. Pra isso você tem vontade? É isso que você quer? Virar um alcoólatra e viver pro resto da vida, mofando nesse quarto?

Bufo impaciente, quem essa garota pensa que é?

Alicia: Eu já volto, fique aí.

Henrique: Como se eu pudesse fugir.

Reviro meus olhos e a mesma sai. Era só oque me faltava, não sou mais criança, sei oque estou fazendo e se quero mofar dentro desse quarto o problema é meu.

Apoio minhas mãos na cama, colocando todo meu peso e me ajeitando sobre a mesma, ficando sentado, com as costas escorada na cabeceira, piorando ainda mais minha cabeça.

Alicia: Você vai tomar esse café e beber esse remédio. Preciso começar com nossas sessões, tenho horários a cumprir.

A garota volta com uma bandeja em mãos, se aproximando e colocando ao meu lado na cama.

Henrique: Então é assim? Você entra na minha casa e ainda quer mandar em mim?

Ela cruza os braços;

Alicia: Eu não sou iguais aos outros que você fez correr.

Henrique: É, eu percebi. Vem cá, você é formada?

Alicia: Sou!

Henrique; Quantos anos você tem?

Alicia: Vinte e qua... Para de me enrolar e coma isso logo.

Vinte e quatro anos? Era isso que ela ia dizer? Não! Ela tem muito cara de ter uns dezessete ou dezoitos anos.

  A garota fica ali, com os braços cruzado e me olhando de cara feia, fazendo sinal com a cabeça pra eu comer, tá, agora estou me sentindo como um bebê e ela sendo a minha babá, isso está ficando constrangedor pra mim.

Assim eu faço, como algumas coisas que estava na bandeja, bebo o meu café que está bem forte por sinal e em seguida tomo o remédio.

Henrique: Satisfeita? - a encaro e ela nega com a cabeça.

Alicia: Não! Agora se levanta daí e vamos logo começar.

Olho ao redor e minha cadeira estava um pouco longe, impossível de eu alcançar. Volto meu olhar a ela;

Henrique: A senhorita poderia por gentileza me ajudar?

Faço sinal com a cabeça em direção a cadeira, ela olha e revira os olhos, indo até a mesma e trazendo até a mim.

Henrique: Obrigada.

Abro um sorriso e ela força um, sem mostrar os dentes, garota maluca. Me inclino, me equilibrando na cadeira e forçando meu corpo pra passar pro mesmo. Sinto suas mãos por trás de mim, me segurando e me ajudando.

Henrique; Obrigada mais uma vez.

Ela fica me olhando sem dizer nada e eu acabo abrindo um sorriso, me divertindo;

Henrique: Oque foi? Gosta do que vê?

Alicia: Idiota! - ela se afasta e vai até a janela. – Veste uma camisa logo, perdemos já tempo demais.

Acabo rindo da situação, conduzo a cadeira até meu closet, procurando ali por uma camiseta e vestindo. Seguida sigo pro banheiro pra fazer minha higienização e voltando pro quarto novamente.

Henrique: Estou aqui.

Alicia: Ótimo, vamos começar.

Ela se aproxima de mim, me fazendo várias perguntas e em seguida, examinando minhas pernas, enquanto dava uma olhada nos meus exames. Eu fico quieto, apenas observando e deixando, a garota fazer seu trabalho. Na verdade nem sei porque eu aceitei isso, eu não sinto minhas pernas e mesmo os médicos dizendo, que eu posso ter a chance de voltar a andar, não consigo acreditar. Doque adianta também? A mulher que eu amava me largou, meus amigos me abandonaram, meus pais me odeiam, literalmente, não tenho mais sentido pra viver.

Henrique: Você não é muito nova pra ser uma fisioterapeuta?

  Ela estava exercitando minha perna, quando para e me encara.

Alicia: As vezes senhor Foster, aparência engana muito.

Eu abro um pequeno sorriso com a resposta dela e a mesma bufa, se levantando e pegando suas coisas.

Alicia: Meu horário acabou, vejo o senhor amanhã.

Henrique: Será assim todos os dias?

Ela coloca a alça de sua bolça em seus ombros, fechando os olhos e respirando fundo, logo volta a me encarar;

Alicia: Não, não será assim. Não ache que você não saíra desse quarto, porque eu preciso de você num espaço adequado pra podermos começar a praticar.

Henrique: A praticar? Eu não quero, isso é uma idiotice senhorita Miller, eu não vou voltar a andar.

Alicia: Com seu diagnóstico médico senhor, é possível, mas você precisa se ajudar, eu sozinha não vou conseguir. - ela ri ironicamente e cruza os braços. – Você é um idiota sabia? Tem tantos que queriam poder ter essa chance que você tem e tá aí, se fazendo de vítima e desperdiçando essa chance.

Henrique: Não tenho motivos pra voltar a viver minha vidinha...

Alicia: Cuidado com oque você vai falar Henrique. – Meus olhos cruzam o dela, acabei de ouvir mesmo? Ela me chamou pelo meu nome? – Você tem tudo, então cuidado. Tem aquele ditado né? "quem muito quer, nada tem e quem muito tem, não dá valor a quase nada."

Ela se vira, de passos firmes andando até a porta e antes de sair, me olha;

Alicia: Espero não precisar ter que ser sua babá amanhã cedo de novo.

  A própria sai sem esperar por uma resposta minha, minha babá? Ahaha, eu sou obrigado a rir, e que porra eu estou fazendo? Não acredito ainda que topei essa loucura, fazer fisioterapia pra ver se volto a andar? Hã, quem garante que isso vai mesmo funcionar? Merda! Dou um soco na perna e em seguida jogo minha cabeça pra trás, minhas atitudes sempre tem alguma consequência, Ethan tem razão.

...\~\~...

...ALICIA...

Arggg! Eu não consigo, esse cara me irrita e me tira do sério, quem ele pensa que é falando que não tem motivos pra viver a vidinha dele? Só pode estar de brincadeira comigo, mas é realmente aquele ditado; quem muito quer, nada tem e quem muito tem, não dá valor a quase nada." Ridículo.

Olívia: Alicia??

A voz da senhora gentil soa, antes de que eu pudesse sair de dentro daquela casa. Paraliso, fecho meus olhos, respirando fundo e me viro lentamente, abrindo um sorriso simpático e abrindo os olhos, a encarando.

Alicia: Senhora Foster.

Olivia: Ah por favor querida, apenas Olívia. - ela olha para as escadas e em seguida volta me olhar, abrindo aquele enorme sorriso. – Não acredito que conseguiu ter uma sessão com meu filho hoje.

Alicia: É... foi difícil. Na verdade apenas estudei o caso do seu filho, o diagnóstico médico.

Olívia; Mesmo assim, eu estou impressionada, ele sempre coloca qualquer um pra correr.

Ouço a porta da frente se abrindo, quando me viro encontro uma moça, muito jovem por sinal, linda, um corpo que OMG!

Kauany: Oii? - ela abre um sorriso ao me ver e vai direto a senhora cumprimenta-la.

Olívia: Querida, que surpresa boa. Olha quero te apresentar alguém que fez um milagre acontecer hoje. Essa é Alicia, Alicia, minha filha Kauany.

É uow! Eu estou sem palavras, essa família são tudo assim mesmo? Gente com uma beleza surreal, tá, eu sei que odeio aquele cara lá em cima, mas não deixa de ser um gato, o que ele tem de bonito, não tem de caráter.

Alicia: Ahh, é um prazer em conhecer você. - estico minha mão, onde a mesma acompanha com o olhar.

Por um momento pensei que ela iria ignorar, sei lá, da forma que ficou me analisando, eu diria que ela não foi com a minha cara.

Kauany: O prazer é todo meu Alicia.

Ela pega em minha mão e me puxa, dando um abraço apertado. Achei estranho de começo, mas retribui, dando um sorriso sem graça.

Olívia: Ela é a nova fisioterapeuta do seu irmão.

Kauany: Ahhh sério?

Ela se afasta e me olha de cima abaixo, sinto minhas bochechas queimando.

Olivia: Não só é sério, como conseguiu fazer a primeira sessão hoje.

Kauany: Ai meu Deus! Não acredito, menina oque você tem?? Isso é realmente novidade pra mim.

  Sabe aqueles momentos que você quer se esconder em qualquer lugar que tiver? Então, é eu nesse exato momento.

Alicia: É..

Kauany: Sei que meu irmão pode ser muito difícil, mas se você conseguiu uma vez, tenho certeza que irá conseguir muito mais.

Alicia: Ah, espero que sim.

Kauany; Quando conhecer melhor vai ver que ele não é esse chato rabugento.

Sorrio novamente sem graça.

Andrew: Família reunida hoje? Que coisa agradável.

  Um homem elegante aparece, me olhando e abrindo  um sorriso ao se aproximar delas, dando um beijo na garota e um selinho na senhora Foster, se direcionando em seguida, a mim;

Andrew: Finalmente pude conhecer a doce Alicia Miller.

Ele me cumprimenta com três beijos, intercalado nas bochechas.

Alicia: Ahh, senhor Foster eu suponho?

Ele se afasta, abrindo um sorriso e passando o braço em volta da sua esposa.

Andrew: Apenas me chame de Andrew querida.

Concordo com a cabeça;

Alicia: Bom.. eu preciso ir almoçar agora, tenho mais dois pacientes pra atender à tarde.

Kauany: Almoce conosco.

Olívia: Ah ótima ideia. – Diz com entusiasmos a senhora Foster.

Alicia: Ah não não, que isso, não quero incomodar.

Andrew: Que isso menina, não é incomodo nenhum. Aliás, acho que se está aqui ainda é porque conseguiu que o cabeça dura do meu filho, aceite finalmente esse tratamento.

Alicia: Ah bom, se ele aceitou eu não sei... mas acho que conseguimos alguma coisa.

Sorrio e eles ficam ali parados, sorrindo feitos bobos e eu estou ficando constrangida.

Alicia; Enfim, agradeço de verdade pelo convite mas não vou poder ficar. Fico devendo uma próxima, meu pai espera por mim.

Kauany: Que pena! Mas vamos cobrar.- Diz a garota se aproximando de mim e me abraçando novamente.

Me despeço de todos e sigo meu caminho pra casa, eu estou faminta e meu dia já começou com o meu "melhor" paciente, irônico.

Chego junto com meu pai, ele abre um sorriso enorme e erguendo os braços pra me abraçar.

Ricardo: Oii querida.

Alicia: Oi papai.

Ricardo: E então? Como foi com o senhor arrogante?

Rimos e nos afastamos, entrando em casa;

Alicia: Ahh, pro primeiro dia, eu não sei. Ele seguiu sem dizer um ai, mas quando abre aquela boca...

Reviro os olhos e ouço a risada do meu pai. O cheiro da comida deliciosa de dona Lúcia, fazia meu estômago roncar.

Ricardo: Mas você voltou lá, isso já é um grande passo.

Alicia: Agora até onde eu irei, não sei. Aquele garoto me irrita.

Nos sentamos na mesa, dona Lúcia aparece cumprimentando nós e colocando a comida sobre a mesma. Meu pai abre um sorriso de canto pela minha forma irritada de falar.

Ricardo: Sei..

Eu o encaro e suspiro;

Alicia: Não, não, não senhor Miller, nem pense...

Ele gargalhou e levanta as mãos em redenção;

Ricardo: Eu não disse nada, você que pensou.

Olho pra Lúcia que abre um sorriso, eu conheço meu pai, sei o que ele está pensando e não, não estou afim de conhecê-lo.

Alicia: Já disse ele é um arrogante.

Meu pai encara dona Lucia e os dois concordam com a cabeça. Abro minha boca em um perfeito *O*, meu pai quis me colocar com esse homem, com a intenção de eu conhecê-lo? Não zero chances, eu não quero namorar e ainda muito menos com aquele monstro, com um alguém como ele.

Capítulo 3

...HENRIQUE ...

Alicia continuou com as sessões essa semana, ou tentava fazer, porque pra mim, essas coisas são besteira. Continuo desacreditado que essa garota será capaz de me fazer andar e que tem vinte e quatro anos.

Meus pais estão cantando vitória, porque conseguiram com que eu aceite uma fisioterapeuta, estou fazendo isso porque as palavras de Ethan pesaram na minha cabeça. Ele voltou a me visitar e começou a dizer coisas pesadas pra mim, acabei me explodindo e discutindo com ele. Pronto, perdi meu único amigo que estava ao meu lado.

A garota está bem agora aqui, na minha frente, recolhendo suas coisas pra ir embora. Ela veio hoje no horário da tarde e parando assim, pra observa-lá, confesso que sua beleza é de outro mundo, seu rosto, seus olhos azuis, essa boca, um corpo lindo, ela realmente é uma garota no qual eu cairia na armadilha facinho.

Alicia: Bom, essa semana terminamos, quero você semana que vem fora desse quarto. - Acabo rindo e ela me olha seria. – Não estou brincando. Nesse quarto eu não consigo fazer nada senhor Foster.

Henrique: O que você pretende fazer?

  Ela revira os olhos.

Alicia: Eu preciso de espaço, de equipamentos pra começarmos com exercícios de verdade.

Suspiro fundo.

Henrique: Acha mesmo que vai conseguir me tirar dessa cadeira de rodas?

Alicia; Eu? Isso não depende de mim, depende de você. Estou fazendo meu trabalho, mas não posso obrigar o cabeça dura do senhor, ter força de vontade de tentar.

Nossa! Ela me desafia, não correu de mim nessa semana mesmo eu sendo tão grosseiro com ela.

Alicia: Então, tenha um bom final de semana.

   Ela se vira pra sair, mas ao abrir a porta aparece Ethan. O mesmo franze a testa, olhando pra ela de cima para baixo, abrindo um sorriso de canto, aquele sorriso que ele faz quando está a caça.

Alicia: É desculpa..

   Alicia abaixa a cabeça, dando espaço pra ele, mas o mesmo da um passo para o lado e faz um gesto com as mãos.

Ethan: Por favor senhorita, as damas primeiro.

Ele me olha, com uma cara de que porra que gata. Reviro meus olhos e ela passa por ele, sem olhar, ao contrário de Ethan que a come pelos olhos.

Ethan: Caralho.. que mulher! - Ele entra e eu encaro, sem nenhuma reação. – Não me disse que sua fisioterapeuta era gata desse jeito.

Henrique; Ethan oque você tá fazendo aqui?

Ele suspira e se aproxima, sentando na beirada da cama, apoiando suas mãos sobre as mesmas pra trás.

Ethan: Me desculpar ou talvez não, acho que valeu a pena aceitar esse tratamento, não valeu?

Ele abre um sorriso sínico.

Henrique: Você é um babaca Ethan.

Ethan; Ah para Henrique, você aceitou isso, não foi só por causa das minhas palavras, foi?

  Estreito meu olhar e não consigo responder, porque eu não consigo responder? É claro que foi por causa das palavras dele, meus pais também estão sofrendo por minha culpa, principalmente minha mãe, que largou a casa deles pra se mudar pra cá, pra ficarem de olho em mim.

Ethan: Oque foi? O gato comeu sua língua? Ou melhor, uma gata loira, dos olhos azuis, comeu sua língua?

  Ele solta uma risada, fecho meus olhos pra me controlar, respirando fundo e os abro novamente.

Henrique; Você veio até aqui pra arranjar confusão de novo?

Ethan: Qual é cara? Confusão? Você que não aguentou ouvir a verdade. Eu vim aqui ver como você está.

Henrique; Eu estou ótimo, obrigada.

Ele revira os olhos e se levanta, caminhando pra trás de mim. Sinto sua mão na cadeira e empurrar a mesma, me levando até o espelho.

Ethan: Mano você tá se vendo no espelho?

Eu me olho, sem entender oque ele está querendo com isso. Desvio, olhando pra ele pelo reflexo.

Henrique; Oque você quer Ethan?

Ethan; Vê algo de diferente aí?

Henrique: Tá zoando com a minha cara? - falo irritado.

Ethan; Meu Deus, você sempre foi cabeça dura mas agora está impossível.

Ethan se afasta, se sentando novamente na minha cama. Conduzo a cadeira de rodas pra virar.

Ethan; Você continua a mesma pessoa Henrique, o mesmo cara que as mulheres caem em cima.

Henrique: A diferença que agora sou um deficiente.

Ele revira os olhos.

Ethan; Você consegue viver uma vida normal se quiser. Todo o pessoal está com saudade de te ver nas festas zoando.

Henrique: Como vou zoar numa cadeira de rodas? É fácil falar.

Ethan; Eu desisto de você. - Ele se levanta e segue pra porta. – O pessoal vai sair pra comemorar o aniversário da Natielli, se quiser comparecer me avise, você foi convidado também.

Ele sai e eu resmungo, o pessoal está com saudade? Desde que estou aqui, ninguém veio me visitar, apenas Ethan e um outro amigo, mas uma única vez também.

Surge uma batida na porta, reviro meus olhos.

Henrique: Oque foi Ethan?

Kauany: Sou eu irmão.

Henrique; Entra!

Ouço a porta abrir e ela entrar, com um sorriso que eu bem conheço, de como se tivesse tramando alguma coisa.

Kauany: Como você está?

Henrique: Na mesma coisa. - sorrio ironicamente.

Kauany: É serio Rique. As sessões de terapia? Fiquei sabendo que você fez elas essa semana e a garota?

Henrique: O que tem?

Kauany: Para, ela é linda.

Dou de ombros e ela suspira.

Henrique: Você veio aqui pra falar dela?

Kauany: Não. Quer dizer, também. Lembra que temos um evento pra participar, então, será na próxima semana.

Henrique: Eu tinha me esquecido disso.

Kauany; Noah vai comigo, porque não convida ela pra ser sua acompanhante?

Estreito meus olhos a ela, oque? Convidar minha fisioterapeuta pra um evento? Ela só pode estar gozando com a minha cara.

Kauany; Vai irmão, você não se sentirá sozinho, não vai pegar tento no pé de Noah e acho que seria interessante.

Henrique: Interessante?

Kauany: Você está numa cadeira de rodas, não significa que não pode paquerar.

Acabo soltando uma risada de nervoso.

Henrique: Aquela garota só está fazendo seu trabalho, porque pessoal, me odeia.

Kauany: Ela não odeia você, é só porque ela conhece essa versão ranzinza, ogro que está sendo. Mas sabe que não é dessa forma que eis. - Kauany suspira. – Você é muito mais que esse negócio que está transformando você. Se afastou de tudo e todos, principalmente da sua família irmão. Eu estou sobrecarregada e precisando de você naquela empresa, precisa erguer a cabeça e sair desse quarto.

  Ela se levanta e se aproxima de mim, me abraçando.

Kauany: Eu espero que meu irmão volte, só isso.

  E sem dizer mais nada, ela sai, me deixando sozinho com meus pensamentos. Agora, deu pra todo mundo querer me dar uma lição de moral, é fácil falar, é muito fácil quando não é você que perde uma pessoa que ama e para numa cadeira de rodas, onde todos te olham com pena.

...\~\~...

...ALICIA...

  Estou exausta, essa semana foi dura e ainda mais ter que aguentar o senhor ranzinza, eu não sei nem como ele aceitou isso, já que todos correram com sua grosseria e não deixá-los fazer exatamente nada, qual a diferença ser eu?

Ricardo: Querida, Gabriela está aí.

Meu pai gritou atrás da porta do meu quarto, rapidamente me levantei, amarrei meu cabelo em um coque e desci, encontrando com minha amiga, minha irmã que eu nunca tive, entrando pela porta da frente.

Alicia: Oii.

Gabriela: Oii sis, como você está?

Ela se aproxima, me abraçando apertado, solto todo o ar do meu pulmão, deixando sair pra fora a tensão que foi essa semana.

Alicia: Bem e cansada, não via a hora de chegar final de semana.

Gabriela: Nem me fala, essa vida de adulto não é fácil.

Ela se afasta e cumprimenta meu pai, seguimos em seguida pro meu quarto.

Gabriela: Ainda está com o senhor ranzinza?

Alicia; Infelizmente sim.

Ela abre um pequeno sorriso.

Gabriela: Ouvi falar que vai inaugurar um pub, que acha de irmos?

Eu a olho, estreitando meus olhos e a mesma faz uma cara me convencendo de ir.

Alicia: Está bem, estou precisando mesmo relaxar.

Gabriela: Isso ai garota, vamos nos arrumar.

Ela pula da minha cama, mexendo na minha penteadeira. Coloco uma playlist e enquanto rolava, a gente se arrumava dançando e cantando, nas nossas brincadeiras, somente ela pra me fazer relaxar.

Conheci Gabriela na hora em que eu mais precisei na minha vida, na época que havíamos descoberto a maldita doença que levou minha mãe, o câncer. Ela foi a irmã que eu nunca tive, que me entende, que me dá bronca quando é preciso, que basta um telefonema já está batendo na minha porta, minha sis do coração.

– Arrasamos!!!!

Falamos juntas, rindo.

Alicia: Partiu então?

Gabriela: Boraaaa!

Descemos as escadas, meu pai estava no sofá, assistindo seu programa de tv. Ele ergue a cabeça e se levanta na mesma hora, admirado;

Ricardo: Meu Deus! Nossa! Vocês estão lindas.

Gabriela; Estamos, não estamos tio? - a mesma se aproxima dele e o abraça.

Ricardo: Estão. Minhas meninas cresceram.

Alicia: Vamos sempre ser suas meninas papai.

Me ajunto a eles pro abraço.

Ricardo: Se divirtam e lembram-se, não façam nada doque eu não faria.

Nós rimos e se despedimos dele, seguindo pro carro e dando partida pro local novo.

Chegando, estava lotado, pessoas bonitas pra todo o lado, o lugar então? Era super moderno, aconchegante, com o som de um showzinho ao vivo. Gabriela gruda no meu braço, me puxando pra dentro, vejo ela acenar pra alguém, a acompanho e nosso grupinho de amigos, se encontravam por ali.

...Vanessa...

...Ianca...

...Daiane...

...Lucca...

...Augusto...

Cumprimentamos todos e se ajeitamos em uma cadeira. Chamamos o garçom, pedindo um drink e aproveitamos a noite, com muita conversa e risada, estava muito precisando disso.

Havia um aniversário sendo comemorado, acabamos que cantando junto e batemos palma, mas não dava pra ver muita coisa, era uma quantidade de gente nesse lugar, que eu nem sei como era possível caber todo mundo.

Daiane: Vemm Licia, vem dançar.

Daiane me puxa, me ajunto com as meninas, se movendo conforme a batida da música, os meninos ficaram sentado na mesa, apenas observando e afastando quaisquer urubu, que tentasse se aproximar da gente.

Um rapaz loiro, alto passa por a gente e tenho uma pequena impressão, que já o conheço de algum lugar.

Alicia; Meninas, já volto.

Eu aviso que estava indo no banheiro, e na volta, acabo esbarrando nesse mesmo moço.

Alicia: Desculpa.

Ele me olha de cima a baixo, abrindo um sorriso lindo. Fico sem jeito, levando uma mexa de cabelo pra trás da orelha.

Ethan; Alicia não é?

Alicia: An... sim.

Franzo minhas sobrancelhas, tentando forçar a memória, de onde eu conheço esse cara.

Ethan; Me desculpe, sou Ethan, amigo do Henrique.

Ao ouvir o nome Henrique, lembro de onde exatamente o conheci, hoje mesmo quando sai da casa dele, estava na porta do quarto, claro.

Alicia: Ah é claro, hoje mais cedo.

Sorrio e ele se inclina, me cumprimentado com um beijo na bochecha.

Ethan; Acho que você vai adorar ver uma coisa.

Alicia: Eu vou?

Arqueio a sobrancelha sem entender, ele sorri e pega na minha mão, me conduzindo até um grupo. Quando me dou conta, eu paraliso, vendo o próprio na minha frente.

Ethan; Olha quem eu encontrei aqui.

Henrique se vira na cadeira de rodas, seu sorriso some, me analisando de cima a baixo, fico constrangida. Confesso que ele estava um gato, fez a barba, ajeitou o cabelo, nem parece a mesma pessoa de horas atrás.

Alicia; Oi senhor Foster - sorrio sem graça. – É bom saber que você saiu daquele quarto.

Ele encontra meus olhos, sinto um leve friozinho na barriga, um calafrio. Vou ficando totalmente sem graça, por ele apenas ficar me olhando e não dizer nada.

Ethan: Acho que ele tá sem palavras pra tanta beleza. - seu amigo sussurra no meu ouvido, acabo rindo baixinho, de vergonha mesmo.

Henrique; Eu não sabia que você frequentava esses lugares, senhorita Miller.

Olho pra ele confusa.

Alicia: Ann, eu também sei me divertir senhor Foster.

Henrique: Por favor, aqui não precisamos ser profissionais, apenas me chame de Henrique.

Alicia: Claro, como o senhor... quer dizer, desejar, Henrique.

Ele abre um sorriso, um sorriso no qual durante essa semana, eu ainda não tinha visto.

Alicia: É bom, se vocês me derem licença, meus amigos me aguardam. Daqui a pouco eles vem atrás de mim.

Ethan: Poxa, mas você acabou de chegar. - desvio o olhar pra Ethan, que abre um sorriso galanteador. – Porque não chame seus amigos e se ajuntem a nós?

Alicia: Ah não, que isso, não quero atrapalhar.

Ethan olha pra Henrique, e automaticamente, minha cabeça vira, encontrado com ele.

Ethan; Não será incomodo algum. Não é cara?

  Ele não diz nada, apenas fuzila Ethan, continua o mesmo ranzinza. Reviro os olhos e coloco minha mão no braço dele;

Alicia: Sério, eu vou me ajuntar aos meus amigos. Bom divertimento.

Aceno com a cabeça e viro, encarando Henrique, sem mostrar reação alguma, pena que a beleza não supera essa sua grosseria.

Volto pro meu grupo, os meninos me olham, estreitando os olhos.

Augusto: Se perdeu no caminho Lícia?

Eu encaro um e outro, aqueles olhos me julgando, me fazendo cair na risada.

Alicia: Vocês dois são ridículos.

Eles se olham entre si e em seguida voltam a me encarar.

Lucas: Só estamos cuidando das nossas amigas.

Augusto: Somos homens Lícia, sabemos oque se passa na cabeça desses urubus.

Começo a rir e eles me olhando sério, sem dúvidas, eu e as meninas sofremos com esses dois, são os amigos mais protetores que já vi, morrem de ciúmes da gente, só conseguimos ficar com algum cara, quando eles tão se pegando com alguma mulher, ou homem, no caso do Gu, ao contrario, temos que ficar com esses chatos o tempo todo no nosso pé.

Alicia: Vocês querem conversa e eu? Quero me divertir, então tchau bobões.

Aceno e me viro, me ajuntando com as meninas novamente, dançando. Não demora pra eles se ajuntarem a nós, um cara tentou chegar em Vanessa, mas Lucca foi pra cima do cara e o impediu. Ela ficou brava é claro, mas eu tenho certeza que ali, rola alguma coisa entre esses dois viu.

  As horas corriam depressa, já estava sei lá, no meu sétimo, oitavo drink, balançando meu corpo de um lado pro outro, com as mãos pra cima, dançando junto a minha sis.

Ethan: A princesa sabe se divertir.

Levo um susto ao ouvir a voz grossa, me viro e encontro Ethan, com aquele sorriso pronto pro ataque, e Henrique, com a cara de poucos amigos.

Gabriela: Amiga, quem são esses gatos? - Gabriela sussurra no meu ouvido.

Alicia: Ahh, Gab esses são Ethan e Henrique.

Gabriela: O senhor ranzinza?

Acabo tossindo, tentando abafar o que ela diz, mas percebi um pequeno sorriso de canto, surgindo no lábio dele.

Ethan: Prazer em conhecê-la gata.

Ethan se aproxima e a cumprimenta, em seguida, Gabriela se abaixa, dando um beijo na bochecha de Henrique e o mesmo até é gentil com ela.

Augusto: Opa, alguém tá incomodando aqui?

Eles olham rapidamente pra Augusto.

Alicia: Ei, cai fora daqui. - me viro pra ele, estreitando meus olhos.

Augusto: Esses caras tão incomodando vocês?

Gabriela: Não migo, está tudo bem, sai, deixa a gente paquerar um pouquinho, vai...

Gabriela começa a empurrar ele dali, mas antes de sair, fuzila os dois com os olhos e fico morrendo de vergonha.

Alicia: Meu Deus, me desculpem por isso.

Ethan: Que isso princesa, seu namorado deveria mesmo ter ciúmes de você.

Eu olho pra minha sis e acabamos rindo, eles ficam nos olhando, sem entender.

Alicia: Desculpa, Augusto não é meu namorado.

Gabriela: Sério, Augusto e Alicia? Não! Não mesmo.

  Rimos mais ainda, Augusto é meu melhor amigo, meu irmão, sim, ele e Gab, são os irmãos que eu não tive, que sempre sonhei ter, talvez o jeito dele de me proteger, seja maior que com as meninas.

Ethan: Vocês querem tomar alguma coisa com a gente?

Eu olho pra Gabriela, ela abre um enorme sorriso.

Gabriela: Vai, vamos, não deve ser assim tão ruim.

Ethan: Eu garanto que não.

Ethan da uma piscadela em direção a ela, a mesma se enrubesce na mesma hora.

Alicia; Está bem.

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