Faltando pouco menos de um mês para eu completar 20 anos de idade decidi que deveria trocar meu emprego. Eu estava trabalhando em um restaurante de comida japonesa há quase um ano e não estava mais aguentando aquela pressão sob panelas. Apesar de ser apenas uma auxiliar eu também assumia em certos momentos a função de cozinheira. Decidi pedir oportunidade em algumas empresas do ramo empresarial, prédios executivos e até em supermercados na esperança de conseguir uma vaga de secretaria ou balconista, mesmo sabendo que não tinha experiência em nenhuma dessas áreas. Mandei vários currículos por e-mail e ressaltei em cada um deles a minha dedicação no curso de enfermagem. Terminei minha busca por trabalho e decidi dormir. Apesar de morar sozinha e gostar muito, há momentos em que paro e penso: "Se eu não achar trabalho aqui na Itália vou ter que voltar ao México? Isso não pode acontecer". Aos 19 anos consegui vir morar na Itália através de um programa que ajudava moças a conseguir trabalho fora do México, já que o índice de criminalidade por lá havia aumentado , por causa das alianças feitas pelos cartéis com máfias de outros continentes. A opção de trabalho que as garotas tinham era se prostituir ou se casar com algum membro de cartel que logo seria morto fazendo com que novamente a saída fosse a prostituição e isso não é uma opção pra mim. Estão sempre querendo expandir os negócios e assim acabam corrompendo o governo mexicano colocando no meio deles mafiosos no poder e/ou alguns governantes do alto escalão que foram apenas corrompidos pelo luxo, dinheiro e poder. Deixei para trás a minha mãe e o meu pai e consegui vir devido a um empréstimo feito por ele para minhas despesas num banco russo instalado no México há 9 anos. Dizem que esse banco sela a amizade entre o cartel de Sinaloa e uma máfia russa chamada de Tambovskaia. Já ouvi rumores sobre o sumiço de pessoas que não puderam pagar pelos empréstimos feitos neste banco, então temo pela vida de meus pais e faço o que posso para conseguir dinheiro para pagar a dívida de meu pai e o curso de enfermagem que terminarei daqui uns dois anos. Um dia serei capaz de trazer os dois para morar comigo nem que pra isso tenhamos que viver como sardinhas nesse meu apartamento minúsculo.

Acordo muito cedo e já ouço o celular tocando e quando atendo a pessoa do outro lado diz: -Alô? Sou a secretária da empresa Lograto. Estou falando com a senhorita Maya? -Sim. -Estou ligando, pois recebemos o seu currículo por e-mail e gostamos do seu perfil. Poderia nos fazer uma visita nesta tarde? -Cla-claro. -Ok.Aguardamos o seu comparecimento. Passarei as informações do local pelo seu e-mail. Tchau, tchau. -Tchau. Eu estava muito nervosa. Tinha que me preparar psicologicamente para conseguir ir até a empresa. Será que vou passar nessa entrevista? Vão me aceitar? Bom... gostaram do meu perfil, já é um começo.

Após fazer umas pesquisas descobri que a Lograto era uma empresa de marketing e que funcionava também como uma agência de modelos até internacionais. Lá havia lindas mulheres e tinha homens maravilhosos até onde eu puder ver pelas imagens disponíveis no Google. Vi que a empresa tem multinacionais em várias partes do mundo fiquei abismada com a quantidade de dinheiro que o dono de lá devia possuir. O dono se chamava Sr. Francesco Cesarini Shalkelle, um bilionário dono das indústrias de petróleo Shalkelle's e com vários outros empreendimentos pelo mundo.

Abri minhas mensagens e vi que havia um endereço no centro e lá dizia que eu deveria comparecer às 14:00 então ainda tinha duas horas pra me arrumar. Vesti um vestido preto colado, mas elegante com um tênis plataforma, além de deixar meus cabelos presos em um choque no alto da cabeça. Decidi não pôr maquiagem somente passei um brilho labial. Eu estava bem simples, porém bonita e discreta, não gosto de chamar muita atenção das pessoas. Chegando lá me deparei com uma empresa enorme e caramba, no Google parecia bem menor, fiquei sem jeito de chegar ao ver tantas pessoas elegantes entrando e saindo daquela empresa que mais parecia um palácio.

Quando finalmente decidi entrar me deparei com a secretária que me ligou mais cedo que logo disse: -Olá. Boa tarde. Em que posso ajudar? Logo digo: -Me chamo Maya Dubois e vim pra... Ela me interrompe antes que eu consiga terminar a frase: -A moça da entrevista? Ok. Sente-se ali e aguarde um pouquinho. Me senti no sofá apontado por ela e fico esperando para ser chamada. Depois de meia hora de espera sou logo chamada e vou até um escritório onde tem um homem muito bonito me esperando. Ele parece ser alto é forte e muito jovem. Olhei para a placa na sua mesa e pude ler "Diretor Executivo Charles Geoberto". Logo que me vê ele se levanta educadamente e me cumprimenta com um aperto de mão. Posso notar o quanto ele é alto, lindo e charmoso. -Me chamo Charles, diretor executivo aqui. E você deve ser a Maya . Só consigo notar o quanto esse cara é bonito. E logo respondo: -S-sim sou eu mesma. - Ok Maya. Podemos começar. Você está nervosa? _me pergunta. - Me desculpe. Não sei o que estou fazendo aqui. Precisam de alguma secretária ou algo do tipo?_ respondo logo diretamente. Ele me olhou de forma séria e começou a falar novamente. - Olha srt. Dubois, como pode notar somos além de uma empresa de marketing, uma agência que eleva milhares de modelos que trabalham pelo mundo em campanha com nossos clientes. Esta é uma das mais famosas empresas do país. Quando você nos enviou o seu currículo você enviou também uma foto sua e nos interessamos pela tamanha beleza que você apresenta. - Como assim? _ peguei meu celular abri os e-mails que havia enviado e vi que eu fui burra o suficientes para selecionar um arquivo de mídia além do meu currículo que não mandei em PDF e sim um print dos arquivos de midia. Não sei como reagir. Vendo minha reação ele logo disse: -Você parece muito surpresa. Não tinha planejado o envio da foto? Não se preocupe a foto não tem nada de ruim muito pelo contrário, ela mostra uma pessoa que tem uma identidade real, você Maya não é dessas pessoas superficiais, deve ser orgulhar disso e se revelar ao mundo. Depois de ouvir essas palavras me senti tocada, mas ainda sim envergonhada, como pude ser tão idiota assim? Essa foto é muito particular e ninguém além de mim e o Alex teve acesso a ela. -Você está bem? Depois da pergunta de Charles sai rapidamente daquela sala e fiquei um pouco chateada com a minha atitude, pois não foi nem um pouco legal agir dessa forma com uma pessoa como o Charles, dá pra ver que ele é uma ótima pessoa.

Assim que o dia amanheceu fiz todas as minhas atividades diárias e comecei a ler um dos meus livros favoritos. Honestamente eu estava fazendo o que podia para conseguir ou pelo menos tentar esquecer o ocorrido na Lograto, quando de repente ouço o meu celular tocar. Fiquei com medo que fosse alguém da Lograto, mas parecia não ser devido a insistência. -Com quem falo? _ perguntei. -Oi filha, como você está? Era a minha mãe. -Olá mãe, estou bem e vocês? Cadê o papai? Não reconheço esse número. -Olha,o seu pai está bem e eu estou bem também. Conseguiu trabalho? -Mãe, estou te achando abatida demais me conta o que está havendo. Ignorei a pergunta que ela me fez, pois sinto que algo não está certo. -Filha _ ela disse chorando_ o empréstimo que a gente fez está sendo cobrado e vieram uns homens estranhos na nossa casa. -Mãe, porque esconderam isso de mim? Eu comecei a chorar sem entender muito bem o que estava havendo. -Seu pai não sabe que eu liguei pra você. Este número é da Jaba a dona da padaria. -Tá, mas me conta com detalhes o que houve. -A gente tinha sido cobrado pelo empréstimo, mas não conseguimos pagar, então decidimos ignorar por um tempo. Depois de um tempo sem preocupação veio ontem alguns homens que não pareciam do banco e ... - E o quê mãe? - ... e bateram no seu pai. Disseram que querem o dinheiro. Quando ouvi aquelas palavras algo parecia me cortar ao meio. Esse banco parece ser mesmo o banco do cartel. Só eles poderiam ser capazes de tamanha brutalidade. -Maya? Ainda está aí filha? -Sim, estou. -Não está difícil de resolver filha. Não chore. -Eu não consegui emprego ainda mãe. -Vai conseguir filha. Eu tenho que ir, deixei o seu pai sozinho em casa. Fique com Deus. -Amém. Foi tudo o que consegui dizer.

Quero ir aí México, mas não tenho dinheiro. Quero trazê-los , mas não tenho dinheiro. Quero pagar a dívida, mas não tenho dinheiro. Não sei o que fazer, quero ver meus pais. Não consigo parar de chorar e não sei o que fazer, conheço algumas pessoas aqui, mas não poderiam me emprestar o dinheiro, além do mais a quantia é grande demais. Só me vem á cabeça uma palavra. Lograto.

Voltei a Lograto, pedi desculpas pelo meu comportamento e pedi para me explicarem os detalhes de como fazer parte daquilo. Charles me mostrou a empresa e começou a explicar como tudo ia funcionar. -Maya, aqui a gente treina nossas modelos, ajudamos com custos referentes á mudança de visual e começamos a carreira da nossa modelo criando um book chamado Book Inicial. Esse book vai carregar um pouco sobre você e as fotos serão tiradas no lugar onde você nasceu e cresceu até que chegasse aqui. Essa é uma forma que encontramos para mostrar aos nossos patrocinadores que nossas modelos podem ser menos superficiais se fotografadas naturalmente no lugar onde viveu. Já que é difícil não se emocionar voltando às origens.

Eu ainda estava emocionada com o que a minha mãe me contou, mas acho que consegui esconder. Charles me passou o contato e eu simplesmente assinei sem ler nada do que estava escrito. Ele disse então: -Maya, eu acho melhor você ler o contato, mesmo que vá levar com você uma cópia dele. -Eu não quero ler nada. O que eu precisava saber já sei. Vou ganhar muito dinheiro, ajudar minha família e conseguir algo melhor pra nós. -Ok. Você vai viajar mês que vem e dar início a tudo que está escrito no contrato. -Tá. obrigado. -Você se importa de só pegar a cópia do contrato um mês depois de iniciar os trabalhos? Ou quer levar agora? Você decide. -Bom... como já disse, sei o que precisava saber. -Tá ok. Tenha uma boa tarde Maya. Fui pra casa um pouco aliviada, liguei pro meu pai e disse que tinha um trabalho. Ele ficou ainda mais feliz quando soube que eu sairia em viagem para o México no próximo mês.