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Um Filho Para O Pediatra (Revisão)

Capítulo 1

Termino mais um plantão com a sensação de dever cumprido, no caminho para o estacionamento me despeço de alguns colegas de trabalho. Tento não parar pra conversar com ninguém, estou cansado e só quero um banho e minha cama.

Entro em meu carro, e sigo para minha casa, o hospital fica perto da minha residência, então não demora muito pra eu estar em casa e subir para o meu quarto para um delicioso banho. Depois de tomar banho e comer algo, despenco em minha cama.

Acordo com o maldito celular tocando, merda odeio plantões de manhã. Desligo o aparelho e tomo um banho gelado para despertar e estar disposto para mais um dia. Gosto de ir para o hospital com roupas confortáveis, nada engomadinho, tenho pavor de coisa que me aperta ainda mais que hoje ficarei na emergência. Então opto por uma calça moletom e uma blusa branca de algodão, os meus adoráveis Crocs de bichinhos, bagunço os meus fios loiros com os dedos, que já estão grandes e minha barba já está crescendo novamente. Agora a melhor parte pra mim, escolher qual jaleco usar, tenho tantos, com várias estampas, mas escolho com o símbolo do Batman.

Não costumo tomar café da manhã, então só pego as chaves no aparador e minha maleta que também deixo na entrada de casa.

                        💉💊

Estou no caminho do hospital quando algo me chama a atenção, um garoto com uma mulher que acredito que seja sua mãe estão escorados no poste e o menino parece passar mal. Quando dou por mim já estou parando o carro no acostamento.

- Oi, está tudo bem? – óbvio que não está, mas eu não podia simplesmente sair encostando no menino, afinal sou um estranho.

- Meu filho ele não está se sentindo bem, estou já a cinquenta minutos esperando um ônibus mais nada chega, quero levar ele ao hospital – a mulher desaba a chorar nesse momento.

- Calma senhora, eu me chamo Pedro  sou pediatra. Posso dar uma olhada em seu filho? – ela me olha desconfiada e depois olha para o garoto que está com a cabeça abaixada, por fim parece que ela cede pois concorda com a cabeça. Me aproximo do menino da pele negra, magro, aparentemente de 6 anos.

- Oi campeão, o tio só vai ver você rapidinho tá bom? Sua mãe está aqui do lado – ele concorda, levanta seus olhinhos pra mim e caramba, olhos lindos  verde me encaram. Olhando assim por alto ele não tem nenhuma escoriação, ou mancha. Me abaixo ficando da sua altura, e coloco a mão sobre sua testa, merda! essa criança está ardendo em febre e não preciso nem do termômetro para confirmar.

- Tem quantos dias que ele está com febre? – pergunto pra mãe

- Hoje faz três dias, dou remédio ele melhora, mas desde ontem não abaixa – ela chega perto do filho e passa a mão na cabecinha dele. Os lábios do garoto estão rachados e esbranquiçado, um sinal claro de desidratação.

- Vem, vou levar vocês até o hospital, estou indo para lá também – falo me levantando do chão.

- Tio minha barriguinha tá doendo – o menino diz segurando meu braço, olho pra ele e dou um sorriso reconfortante

- O tio vai levar você pro hospital, daí a gente vê o que tem na barriguinha tá bom? – ele sacode a cabeça e vejo ele fechando os olhinhos, parecendo bem cansado, não sei o que dá em mim que pego ele nos braços e trago ele para o meu colo.

- Vamos lá mãe? – ela olha pra mim admirada e me segue, porém no meio do caminho o garoto vomita na minha camisa.

- Desculpa tio, foi sem querer – o menino parece bastante preocupado e envergonhado.

- Não tem problema, não é a primeira vez que isso me acontece – abro a porta para a mãe, ela senta e coloco o garoto em seu colo. Ela segura como se fosse o bem mais precioso do mundo.

Dou a volta e vou para o banco do motorista, limpo minha camisa como dá com uma toalha que tenho no carro, dando partida logo após colocar o cinto. Pelo retrovisor posso olhar melhor para a mãe que também é negra e muito linda por sinal, tem lábios carnudos, tranças no cabelo e curvas bem generosas uns iam falar que é fora dos padrões, pra mim é uma tentação em forma de gente.

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...Camila Rogers...

...Lucas Rogers...

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As fotos usadas nesse livro são de fonte Freepik, Pinterest e Pixabay

Não possuo nenhum direito sobre elas.

capítulo 2

Paro na porta do hospital, e peço para a mãe – que descobri que se chama Camila – fosse fazer a ficha dele enquanto eu estacionasse o carro em minha garagem. Não sei se a preocupação ou nervosismo estava guiando ela, pois ela foi sem me questionar, deu um beijo na testa do filho antes de sair do carro.

Vou fazendo o trajeto conversando com o garoto sobre sua escola, amigos, até não obter nenhuma resposta, olho pelo retrovisor e encontro ele dormindo todo encolhido no banco traseiro. Desligo o carro quando já estacionei, aproveito e troco a camisa, sempre trago uma reserva para o caso de algum acidente acontecer, também já coloco meu jaleco.

Com uma mão pego minha maleta e com a outra, pego o menino no colo, ajeito ele de um  jeito que ele fique deitado, então ele se aconchega no meu peito, e sinto uma paz em meu coração, como a muito tempo não sentia, não depois de ter perdido meus pais.

Cumprimento alguns colegas pelo caminho, não falam muito comigo, pois sou bem reservado e respondo só o básico, as duas pessoas que conversam comigo de boa é Carlos da ginecologia e André o cardiologista, isso porque já eram meus amigos antes do acidente. Depois da morte dos meus pais eu me fechei por completo. Não tenho relacionamentos sérios, não crio laços com ninguém. Minha única alegria é as crianças, neles eu vejo esperança de um mundo melhor. Não acredito em crianças ruins, acredito em situações que deixam as crianças revoltadas por não saberem lidar com a situação.

Saio dos meus pensamentos, quando estou na frente da porta do consultório, deixo minhas coisas em cima da mesa e coloco o garoto na maca com cuidado. Abro a ficha dele no computador.

- Tio – ele abre os olhinhos pra mim

- Ei campeão o tio vai chamar sua mamãe e já volta tudo bem? – ele concorda e se senta com os pés pra fora balançando as pernas.

No caminho peço pra uma enfermeira ficar com ele pra mim, vou até a sala de espera que graças a Deus não é longe, pois imagino como sua mãe deve estar aflita.

- Camila Rogers! – chamo, ela levanta e vem até a mim – Me acompanhe por favor – ela anda sempre de cabeça baixa, quase não sorri, mas quem sou eu pra intrometer na sua vida, sou apenas um desconhecido.

- Obrigado Belle, pode ir – agradeço a enfermeira, que sai não sem antes de me comer com os olhos me deixando sem graça.

- Vamos ver o que está acontecendo com você? – meço sua temperatura e caralho! 40° de febre, olho sua garganta, ouvido, mas quando vou levantar sua camisa pra examinar melhor, ele endurece seu corpo e olha pra mãe que a mesma segura em meu braço.

- Dr. é mesmo necessário tirar a camisa?

- Sim, eu não gosto de deixar escapar nada dos meus olhos – ela ainda não soltou meu braço e parece estar em uma discussão interna – Olha, eu não encontrei nada na garganta e no ouvido dele, eu não costumo pedir exames laboratoriais sem antes avaliar o paciente por inteiro, tem vez que os exames nem são necessários. – ela não se dá por convencida, está relutante. Tento outra tática.

- Lucas, vou falar com você ok? Tem algo acontecendo dentro do seu organismo, por isso tá com febre. O tio quando olhou a sua garganta e seu ouvido não achou nada para dar essa febre, porém o tio não examinou seu corpo, você deixa o tio ver se tem alguma coisa? Prometo que vai ser rapidinho e não vai doer. Você deixa? – Ele sacode a cabeça concordando comigo, e sua mãe  por fim deixa eu levantar a camisa do garoto, e o que vejo me traz uma raiva tão grande, tem hematomas roxos em seu peito, algumas bolinhas que tenho certeza ser de cigarro.

- MAS QUE MERDA É ESSA?! – direciono meu olhar pra uma Camila pavorosa que tem as mãos na boca tentando abafar o choro. – Me explica Camila o que é isso?

- Foi o pai dele, ele estava nervoso e acabou batendo nele, mas ele não é agressivo foi no momento de estresse.

- ELE NÃO É MEU PAI! – O menino grita chorando.

- LUCAS não fala assim ele te ama – ela fala chorando tentando passar a mão na cabeça do filho que afasta pra trás.

- Com licença que eu quero examinar meu paciente – falo ríspido, mas eu tô muito puto agora. Fiquei tão possesso quando vi os hematomas que nem olhei seu corpo direito, devo estar com uma expressão muito ruim, pois Lucas olha ressabiado pra mim.

- Tio, você tá bravo comigo? – sua voz detona medo, e meu coração se aperta com isso.

- Claro que não campeão – tento suavizar minha expressão, e coloco sua camisa de volta.

- Eu tenho que contar isso Camila, não posso ficar calado – dou um passo pra sair da sala mas ela me segura pelo ombro.

- Por favor não fala nada, eles vão querer tirar o Lucas de mim, por favor – ela pede chorando e agarrando meu ombro com força.

-  O que você quer que eu faça? Que colabore com essa merda? – viro bruscamente pra ela – É ISSO QUE VOCÊ QUER?! – Grito na sua cara, que dá um passo pra trás

- Tá tudo bem aí Dr Pedro? – o segurança pergunta batendo na porta.

- Sim Diego, obrigado pela preocupação – ele fala um sem problemas e ouço passos dele indo embora.

- Não é isso, é só que... É complicado – quando vou responder, vejo Lucas vomitando sangue no chão, corro pra ampara-lo, sem me importar se ele vai sujar meus Crocs.

- Tio.. Ai! – ele se curva pra frente com os braços em sua barriga – Minha barriguinha tá doendo muito – ele chora e seus lábios vão ficando cianóticos

 - Calma aí campeão, o tio vai te ajudar – pego ele no colo e corro pra sala de emergência. A enfermeira vem me ajudar quando vê eu correndo com o garoto.

- Quero um cateter de oxigênio, um hemograma completo, preciso de um acesso também... - Tento fazer tudo rápido, mas a hora do acesso é sempre o mais demorado. Lucas quando vê a agulha chora pra valer se sacudindo, seguro ele firme pra  não se machucar mas sem colocar força. Ele para de se mexer, mas ainda chora muito. A enfermeira não faz nada, ela sabe como trabalho.

- Não... Tio... Por favor – ele pede soluçando, lágrimas escorrendo, sua voz cansada.

- Lucas presta atenção no tio – falo um pouco mais alto que o normal mas sem gritar, e tenho a atenção dele – Essa parte é ruim, ela dói né? – faço uma careta – O tio quer te ajudar, quero fazer essa dor desaparecer, mas pra isso preciso que colabore com o tio. Ok– Ele se acalma e olha pra mim.

- Você pode segurar a minha mão? – ele pede com os olhinhos brilhantes por conta das lágrimas

- Claro – ele dá um sorriso que acerta em cheio meu coração, segura minha mão bem forte

- Pode ir Belle – ele fecha os olhos nessa hora e aperta muito mais minha mão, quando a agulha  perfura a pele dele.

- Prontinho – a enfermeira diz depois de puncionar, agradeço e ela nos deixa sozinhos.

- Acabou viu só – ele abre os olhos devagarinho – Agora o tio vai ajudar essa dor a ir embora, você é um garoto muito corajoso – elogio ele, mas o sorriso que ele me dá não chega aos seus olhos, começo a administrar as medicações.

- Tio o senhor tem filhos? – ele pergunta observando tudo que estou fazendo.

- Não tenho Lucas, Porque a pergunta? – termino de colocar a bolsa de soro no suporte, mas a resposta dele não veio, quando olho em sua direção ele tinha se sentado.

- Se eu tivesse um pai queria que ele fosse como você, obrigado tio Pedro por cuidar de mim – ele me agradeceu e abraçou minha cintura, levei uns segundos pra abraça-lo de volta, e ter meu coração batendo mais rápido que o normal, acho que foram os segundos mais felizes da minha vida nesse abraço, ele me solta e deita novamente, o cubro com um lençol, não demora muito pra ele dormir.

Saio da sala deixando ele dormindo, e vou atrás de sua mãe, a encontro sentada no banco da sala de espera com a cabeça baixa e as mãos sobre o rosto.

- Camila – ela levanta sua cabeça rapidamente quando escuta minha voz.

- Então Dr? – pergunta com evidente preocupação.

- Lucas já foi medicado, está estável apenas dorme por conta de todo o cansaço, já solicitei alguns exames de sangue e mandei para o laboratório. Ainda não posso dar um diagnóstico, mas tenho minha suspeita. Se quiser ficar com ele, ele está na sala de observação, daqui a pouco peço para transferi-lo para um quarto. Agora com licença, tenho que atender outros pacientes – falo como profissional que sou, mas confesso que estou morrendo de vontade de ficar naquela sala e não deixar ninguém chegar perto do Lucas.

- Obrigada Dr Pedro – ela agradece me estendendo a mão, quando aperto sua mão que eu noto um roxo em seu olho esquerdo, mas como estava preocupado com o garoto não notei esse hematoma em seu rosto.

- O que é isso? – pergunto segurando em seu queixo e virando sua cabeça pra ter uma boa olhada.

- É nada, Eu bati na porta – ela responde e da um passo para trás.

- Camila não mente – Digo bravo – Eu tenho 29 anos, não sou uma criança tá na cara que alguém deu um soco aí – falo incrédulo

- Obrigada mais uma vez Doutor mas agora eu vou ficar ao lado do meu filho – e simplesmente assim ela me vira as costas, penso em ir atrás mas tenho outros pacientes para atender, então por ora deixo quieto. Passo na turma da limpeza e peço para limparem meu consultório, vou ter que atender em outra sala por enquanto.

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

**Apresentação do personagem

...Dr.Pedro Lopes**...

capítulo 3

Tá acabando tio? – a voz ansiosa da menina de apenas 4 anos chega aos meus ouvidos, precisou levar cinco pontos porque caiu da bicicleta sem rodinhas.

 - É isso ai gatinha, agora sem mais estrepolias pra não precisar levar outros pontos. Não há nada de errado em aprender a andar de bicicleta com rodinhas. – termino de dar o último ponto no seu queixo, fazendo um curativo logo após.

- Mamãe ela vai ficar boa, não quebrou nada, só foi um susto mesmo, mas caso você vê que ela tá muito caidinha, sem comer, ou algo assim, você trás ela de novo – estendo as receitas para a mãe, que me agradece e pega sua filha da maca, ela sai o recepcionista chega.

- Dr. Pedro os exames de Lucas Rogers chegaram – o recepcionista entrega pra mim os exames. Pedi na recepção que quando chegassem fossem entregues diretamente pra mim.

- Obrigado Denis – começo a folhear os exames, e a minha suspeita se confirma. Anexo as folhas em seu prontuário e antes de dar o diagnóstico decido  atender mais um paciente. Por mais que eu queira comer algo e dormir, meus pensamentos não sai de um garotinho de olhos verdes.

- Geovane Albuquerque – Chamo o último paciente antes do horário de descanso e uma mulher loira, esguia levanta segurando a mão de um garotinho loiro com cabelos espetados, vestido de Homem Aranha, sorrio amo criança com a imaginação solta.

- Temos um Homem Aranha entre nós? Nossa que honra – embarco na fantasia do menino, que tem um sorriso gigante no rosto como se fosse realmente o personagem.

-  E o que o homem aranha está sentindo hoje? – pergunto depois de fechar a porta

- aqui tá dodói – o garotinho põe a mão em cima da cabeça.

- Poxa vida, que chato isso né, vem senta aqui pro tio ver - o menino vem de bom grado estendendo os bracinhos pra erguer ele. Coloco ele sentadinho de frente para mim, ele aproveita e cata meu estetoscópio para brincar.

- Mãe e aí o que acontece? – falo me virando pra ela, que está encostada ao lado da maca, quando foi que o decote dela ficou tão grande assim?

- Então doutor ele está sentindo muita dor de cabeça, anda tão caidinho, não brinca direito. – ela fala com uma voz melosa, melosa até demais.

- Não teve febre, vômito, diarreia, nada?  Ele caiu ou bateu a cabeça? – ela nega – Só a dor de cabeça? – ela assente

- Certo – Estou ouvindo os batimentos da criança, enquanto ele brinca com o ursinho que está grudado no estetoscópio, quando percebo que a  mãe tarada tá me cochando por trás, tô sendo assediado no meu trabalho. Jesus!

- Senhora com licença, estou tentando atender seu filho. – Ela dá um passo pra trás, me deixando livre.

Termino o exame físico e não encontro nada de anormal, mas foi um saco a mulher o tempo todo no meu encalço, era passada de mão “sem querer” em meu braço, peito.

- Geovane você quer brincar ali no cantinho onde tem um monte de brinquedos? O tio vai ter uma conversa muito chata de adulto com a mamãe. Pode ser? – ele pula da maca e corre pro lugar destinado para as crianças.

- Então Doutor Pedro o que o meu filhinho tem? – lá está a mão em meu braço novamente.

- Minha senhora, estou trabalhando, apenas fazendo minha função como médico e você está me assediando na cara de pau – tiro sua mão do meu braço, e ela dá um sorriso sem graça – Vamos deixar as coisas formais ok?

- Desculpa Dr, achei que pudesse estar sendo correspondida. Você o tempo todo gentil e bondoso com o Geovane. Que.. sei lá... Desculpa – ela agora parece bem constrangida

- Eu sei, você não é a primeira que infelizmente confunde as coisas. Mas eu sou assim com todos os meus pacientes. Agora vamos mudar de conversa, não tem nada com o seu filho pelo menos no exame físico não apontou nada. Não acho necessário fazer ele passar por agulhadas, ele tá corado, tá ativo, brincando, se alimentando. Acho válido você procurar um oftalmologista, fazer um exame de vista, pode ser a causa da dor de cabeça. Mas caso ele apresente outros sintomas você volta aqui por ora vou passar um medicamento para dor pra ele tomar aqui.– carimbo os papéis antes de entregar a ela.

- Certo, vou ver isso hoje ainda, desculpa mais uma vez. Você é um bom pediatra – ela pega sua bolsa em cima da mesa e coloca em seu ombro – Vamos filho? – agora ela nem olha na minha cara, suspiro, mais um dia normal. Não é a primeira vez que isso acontece mesmo.

- Tchau tio – Ele abraça minhas pernas, coloco minha mão encima da sua cabeça e bagunço seus cabelos.

- Tchau garotão, toma todo o remédio pra ficar livre da dor de cabeça e ir embora pra casa tá bom?

                            💉💊

Tem uma hora que estou tentando entrar em contato com o cirurgião para o Lucas ter uma avaliação com ele. Mas o cara simplesmente me ignora, já liguei para a recepção do andar dele e ele não está em cirurgia. Ou seja está me ignorando e pior nem sei o motivo.

- Toc Toc – ouço batidas na pedra de granito da enfermaria, olho pro André parado ao meu lado com seu gigante sorriso perfeitamente brancos

- Fala André

- Cara, sua cara tá feia agora. O que acontece?

- Acredita que estou tentando há mais de uma hora entrar em contato com o Pietro pra fazer uma avaliação em um dos meus pacientes. Porém ele simplesmente ignora.

- Ó então você não está sabendo?

- Sabendo o que? – franzo minha testa

- No hospital não fala de outra coisa, como você não soube? – ele arqueia suas sobrancelhas grossas pra mim

- André para de enrolar, você sabe que não ouço buchicho do hospital – Já tô irritado, ele com esses questionamentos não está me ajudando.

- Ah andam dizendo por ai que você saiu escondido com a mulher dele – ele da de ombros

- O QUE? – grito, olho ao redor e ganhei a atenção de duas enfermeiras próximas. Ótimo! – Ele tá doido? Eu jamais peguei uma mulher comprometida – quase cochicho agora.

- Eu não sei cara, é o que dizem – fico mais pistola ainda, puta merda, não tenho tempo nem de respirar. Vou ter tempo de pegar mulher comprometida.

- Onde você vai cara? – Nem percebi que estava andando

- Resolver essa merda – grito pois já andei  uma distância boa.

Subo para o setor de cirurgia, o povo não tem o que fazer não? Odeio mexericos. Aposto que tem, no hospital sempre tem algo pra fazer.

- Oi Carla – cumprimento a enfermeira – Chama pra mim o Dr. Pietro, e parem de dizer que eu peguei a Natália – aponto, pois sei que ela é uma fofoqueira de marca maior.

Ouço o som do alto falante chamando Pietro e tento buscar na memória o porque dessa fofoca sair, conheço Natália tem uns cinco anos, desde que seu pequeno nasceu, sou pediatra dele. Amo demais aquele carinha, semana passada ele esteve aqui para sua consulta anual, Pietro não pôde vir, pois estava em cirurgia. Natália estava apreensiva, pois suspeitava que estava grávida. Ah porra! dei um abraço nela em sinal de conforto e  encoraja-la a contar para o marido. Merda ela não deve ter contado ainda.

- Dr. Pedro queria falar comigo? – ah agora resolveu ser profissional.

- Sim, mano eu soube o que estão dizendo por ai. Mas cara não tem nada acontecendo entre mim e sua esposa. O que viram foi um abraço de amigo. Como você sabe Nicolas teve consulta semana passada, Natália me confidenciou uma coisa e eu dei um abraço nela como apoio. Só isso nada mais

- E o que ela te contou? – Agora sua expressão era de curiosidade.

- Isso ela mesmo terá que te contar, se você não quiser acreditar em mim, tudo bem. Mas confia na sua esposa.

- Tem alguma coisa a ver com o meu menino?

- Não, relaxa. Nicolas está ótimo e se desenvolvendo super bem para a idade dele.– ele parece se tranquilizar, pois sua expressão suaviza.

Consigo convencer ele a avaliar o Lucas, e minutos depois estamos descendo para a ala pediátrica. Pergunto do pequeno Nicolas, ele conta todo orgulhoso do que seu menino é  capaz de fazer, as travessuras deles. Esse cara tem um amor tão grande pelo Filho que é palpável o sentimento deles. Mostro pra ele os exames de Lucas, o que deu e porque chamei ele.

- Você sabe que eu gosto de tampar todos os buracos – me informo na enfermaria onde Lucas está internado. Bato na porta antes de entrar e vejo ele já de banho tomado com a coberta em suas pernas assistindo um desenho que passa na televisão. Camila está na poltrona ao lado do filho, faço sinal pra ela vir até mim.

- Boa tarde Camila, esse daqui é o Dr. Pietro, cirurgião e veio examinar o Lucas tudo bem? – ela arregala seus olhos pretos de jabuticaba para mim. Mas nada fala.

— E ai carinha, vejo que já tomou banho. Já comeu? — Pergunto.

- Sim – ele responde tão rápido que cerro meus olhos pra ele, não me convencendo muito.

- Você mal tocou na comida Lucas. – sua mãe denuncia ele, e vejo ele revirar os olhos.

- Que isso campeão, tem que comer, se não o tio vai ter que passar um caninho pelo seu nariz, pra você receber os  nutrientes e ficar forte, e a gente não quer isso né – faço uma careta pra ele, que ri da minha cara.

- Não, eu vou comer melhor tio. Prometo.

- Então combinado, bate aqui – ele bate na minha mão todo eufórico, ele tá mais alegre, e mais corado também.

- Agora deixa eu te apresentar, esse é Pietro amigo do tio. Ele veio ver você tá bom? – ele olha engraçado para Pietro mas por fim concorda – Então deita ai pra ele te examinar melhor – ele faz exatamente o que pedi, eu dou uns passos pra trás deixando Pietro trabalhar. Por sorte Pietro só levanta um pouco a camisa de Lucas, assim não aparece as marcas, ele vai apalpando todo o abdômen do Lucas

- E ai Lucas, fiquei sabendo que você estava com dor na barriguinha já passou? – Lucas olha em minha direção, como se pedisse minha permissão então apenas aceno pra ele.

- Já sim – engraçado comigo ele é tão falante. Deve estar tímido, Pietro faz um barulho com a boca simulando um pum.

- Você ouviu isso Lucas? Acho que Dr. Pedro soltou um pum – Pietro cochicha no ouvido do Lucas mas alto o suficiente pra mim ouvir, Lucas da risada

- Ei eu não fiz nada, acho que foi o Lucas – ele sacode a cabeça em um não cheio de risos – Não acredito deixa eu ver – chego perto dele e faço cócegas mas não muito por conta do acesso em sua mãozinha, e ele gargalha muito e esse som é o meu preferido a partir de hoje.

- Pronto Lucas, vou deixar você em paz agora – Pietro diz abaixando a camisa do garoto e cobrindo suas pernas novamente.

- O tio já volta, tá campeão? – acompanho o Pietro pra fora do quarto.

- Ele não tem nenhuma hemorragia interna ou algo que precise de uma cirurgia seu diagnóstico tá certo, já pode dizer pra mãe – agradeço ele com um aperto de mão, Ele é mais velho que eu em idade e carreira. Não me envergonho em pedir ajuda, ou ouvir uma segunda opinião. Não sou o fodão, sempre que estou em dúvida de algo, busco outras opiniões mesmo. Estou lidando com vidas, Deus me livre alguém morrer na minha mão por negligência da minha parte. Uns chamam de exagero eu chamo de precaução.

- Eu vou embora hoje tio? – Lucas pergunta assim que entro no quarto novamente. Ando até ele e sento na beirada da cama, quando me vê deita sua cabeça em minhas pernas, fico estático por uns segundos. Esse menino tá derretendo o meu coração com seu jeitinho simples.

- Hoje não carinha, mas se você comer direitinho, beber bastante água e seu organismo responder bem aos remédios, semana que vem você estará em casa. Tá bom. – digo passando a mão em seus cabelos, em um cafuné.

- Tá bom tio, você vai vim me ver amanhã? – não me passa despercebido seu tom ansioso.

- Todos os dias até você tá forte o suficiente pra ir embora pra casa – dou o meu melhor sorriso pra ele, um que não dou tem anos, ergo meu pulso pra ver o horário, já passou metade da hora do meu descanso. Acho que fico uns 15 minutos fazendo carinho em seus cabelos, até sentir ele com o corpo mais relaxado, posso até ouvir o ressonar baixinho dele. Ajeito ele na cama, cobrindo ele em seguida.

- Camila, posso conversar com você uns minutinhos lá fora? – ela afasta o cobertor para o lado e se levanta, ela tem belas pernas, não posso negar. Merda Pedro você nunca olhou pra alguma mãe de seu paciente, não vai ser agora que vai olhar. — Penso.

Digo pra ela o diagnóstico, e o tratamento que será necessário fazer. Conto com calma para não desespera-la, ela tira todas as suas dúvidas comigo.

- Preciso ir buscar roupas para gente, posso revezar com alguém? – Pergunta pensativa

- Sim, Lucas tem direito a um acompanhante – respondo

- Obrigada, vou resolver as coisas antes dele acordar.

- Tudo bem, vou voltar para o consultório, dá um beijo no Lucas por mim – ela balança a cabeça em positivo  me abraça e volta para o quarto, foram coisa de 10 segundos mas o suficiente pro seu delicioso perfume floral ficar na minha roupa.

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