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Reconquistando Minha Esposa

A desconfiança machuca.

“O indivíduo infiel é tão perigoso quanto o mentiroso. Ambos são fracos, ingratos e constroem castelos sem fundações

Ela encarou o espelho de sua penteadeira naquela manhã, enquanto tinha uma caixa de veludo, das que se guardava joias, a sua frente. Hanna Scrudell, não era uma mulher do tipo extremante vaidosa cuja vida e sentido giravam entorno apenas das ‘nuances’ da beleza, do caro e do possuir, muito embora ela tivesse e pudesse ostentar um closet de roupas caras, sapatos, bolsas e acessórios. No entanto, era inegável seu bom gosto e sua delicadeza, bem como uma feminilidade e presença marcante onde quer que estivesse, e ela sempre estava em vários lugares porque sua vida exigia isso. Sua imagem era sempre bem cuidada e zelada porque do lado de fora, ela não representava apenas a si mesma. 

Por um instante apenas, encarando-se, ela suspirou pesadamente parando assim o gesto de colocar os brincos. Muita coisa atormentava naquele momento os seus pensamentos, a mente inquieta apenas pensava, e pensava, e justamente por isso ela  levantou a mão esquerda que carregava a sua aliança de casamento, e juntinho dela o anel de noivado que ela sempre carregava com todo orgulho, porque estes representavam algo importante e especial para si. Levou a mão ao peito apertando a camisa àquela altura do coração da qual acabou por amassar sem intensão. Talvez sua angústia era bastante notória. Antes de poder levantar dali e trocar a camisa agora amassada e desleixada, seus olhos violetas encontraram-se com o par de olhos azuis do marido através do reflexo do seu espelho. Ele havia banhado e se vestido, e ela mal percebera o barulho. Travada em seu assento, o observou sorrir vindo em sua direção. Carinhosamente o homem curvou-se beijando o topo da sua cabeça, tal ato a forçou a sorrir. 

Sim, forçou... 

— Me ajuda? Sabe como sou péssimo com essas coisas! – pediu ele, ficando completamente ereto e mostrando a sua esposa às duas opções de gravatas que escolhera. Obviamente, ele confiava no bom gosto de Hanna, bem como o bom trato que ela sempre tinha de deixar a gravata tão perfeita. Pondo em pontos mais óbvios, ele era tão mal-acostumado com todo cuidado dela sobre tudo, principalmente sobre ele. 

Ela levantou-se. Não era nem próxima à altura do marido, um loiro de um metro e oitenta. No auge dos seus um metro e sessenta, Hanna contava com o salto quinze para equilibrar as coisas. Os olhos violeta encararam às duas gravatas por alguns instantes e não demorou por decidir por uma de seda azul com listras e texturas em um degrade interessante. Tomando-a da mão do marido, levantou o colarinho e segurou a peça a envolvendo no pescoço masculino. Com seu jeitinho ela começou a fazer o nó percebendo que os olhos dele não saiam de si um instante sequer, sentiu um pouco o rosto corar e era impressionante como mesmo depois de quase dez anos juntos ele ainda tinha aquele efeito nela, e mais impressionante ainda, era como, enquanto a intensidade do olhar dele a fazia se sentir tão amada e desejada,  em simultâneo, as ações dele os empurrava em direção a um penhasco. Ela estava tão confusa. 

—'Tá pensando no que, Hanna? – perguntou quebrando o silêncio enquanto se deliciava alguns instantes com o aroma do perfume dela. 

— Em nada! – ela virou o nó e o encarou sorrindo sutilmente – bom, nada importante. – As mãos delicadas deslizaram sobre o largo ombro quando ela ajeitou tudo. 

Ele colocou a ponta do indicador na testa de Hanna e falou:

— Se ficar fazendo isso tão tensa, vai surgir uma ruga bem aqui – sorriu genuinamente, e ela assumia, ele tinha um sorriso muito bonito em suas expressões, do tipo que deslumbrava qualquer garota, principalmente ela que talvez tenha se apaixonado pelo sorriso dele antes mesmo dele em si. Seu marido era um homem bastante bonito e charmoso, sempre fora desde do dia que ela colocou os olhos pela primeira vez nele. 

— Me amaria ainda com elas? — perguntou de repente, com intensidade, ela segurou seu blazer do terno de ambos os lados e levantou a cabeça o encarando.

— Que pergunta boba! Eu amo você de qualquer maneira! Pode estar toda... Descabelada, de touquinha... Não importa... 

O coração dela sentiu uma pontada mais forte, mas não era tão bom quanto ela desejava que fosse, ainda assim inclinou-se e o beijou nos lábios. Separou e ajeitou o colarinho no lugar já com a gravata. 

Impecável... 

— Parece mesmo um homem importante. – Ela disse e ele sorriu virando-se no espelho. Perguntou-se um tanto quando ele se tornou tão vaidoso ou egocêntrico. 

— Sou um homem importante! – disse sem dá muita importância, como se fosse apenas mais uma das conversas triviais que tinham. – Sou o diretor-executivo do Grupo Botanic, que... olha só, foi fundado por mim. – Sorriu. 

Como ela poderia esquecer de tal? 

Mal sabia ele, que seu tão orgulhoso patrimônio tinha o dedo de seu pai, Hector Sanches, da qual ele tanto detestava, mas um homem muito influente que tinha importantes contatos e fez os investimentos necessários acontecerem. Para Hanna, foi um pouco de quebra do seu orgulho pedir algo para o pai, não que tivessem uma relação ruim, mas o problema era o seu pai em si, que era o tipo de homem que não fazia favores e sim negócios, e o negócio era que ele detestava o genro, sim... O “carinho” entre ambos era mutuo. Hector nunca o achou bom o bastante para sua filha. Para sorte de Hanna, Nicolas, seu marido, nunca soube da influência do seu pai em seus negócios e para ela, aquele segredo iria para tumulo.

— Um respeitável diretor, eu presumo... – ela sussurrou, havia uma pitada um tanto ácida no seu tom, mas ele estava concentrado demais fechando os botões do paletó para se dar conta. 

Ele virou-se pegando sua bolsa e segurou a cabeça dela em seguida depositando um beijo ali, no topo. 

— Quer carona?

Ela piscou algumas vezes rapidamente, como quem acorda de um longo devaneio e disse:

—Oh não! Eu ainda preciso terminar de me arrumar. Vou com meu carro, não se preocupe comigo.

— Sempre me preocupo, Hanna Scrudell! 

“Não tanto quanto deveria” ela pensou, mas não o falou, em vez disso sorriu num tom de suavidade, ele enlaçou a cintura dela e colou os corpos beijando um pouco mais demoradamente a boca feminina enquanto sentia a suavidade e maciez que somente os lábios dela tinham. Sim! Ninguém mais tinha aquele toque aveludado que pareciam tão perfeitos não importasse a ocasião. Ele estremeceu diante do comparativo, era estupido, afinal Hanna era sua mulher. Sua linda, bem-educada, bem nascida, bela e incrivelmente perfeita esposa. Sua… Para todo sempre. 

Ele soltou-a do enlaço e virou-se de modo a ir, enquanto ela mordeu sutilmente o lábio e chamou a atenção do marido novamente:

— Eu pedi ontem para a Alana preparar um assado especial, seu favorito. 

Ele esboçou um sorriso. 

— Humm, parece bom! 

— Sim… Os Uckermann mandaram um vinho, um Château Pichon Baron. Susan trouxe da última viagem que realizaram para França. 

— Ótimo! — ele ainda a olhava com aquele mesmo brilho no fundo dos olhos azuis, por um instante pareceu-lhe até perverso, talvez fosse apenas a culpa ou qualquer coisa do tipo. — Não irei me atrasar! 

— Agradeço! — disse ela o vendo sair da suíte do casal.

Hanna caminhou de volta para o seu closet tirando seu blazer e desabotoando a camisa social rosa ‘vintage’ que usava, passando os cabides a sua frente escolheu outra na cor pêssego e a vestiu, lisa e impecável. Ela tornou a colocar seu blazer e voltou à frente da penteadeira, colocou os brincos e uma pulseira. Ainda se encarando, ela abriu a gaveta do móvel e tirou dessa um ‘ticket’ de pagamento. Algo bobo e sem valor, um papel velho amarelado e amassado que por mero acaso ela achou, isso porque não era ela que lidava com roupas sujas, não tinha tanto tempo para ser a boa e dedicada dona de casa, e talvez por isso, pela falta de tempo, eles haviam entrado num acordo de que não teriam filhos ainda, bom, isso foi nos cinco primeiros anos de casamento e depois vieram as desculpas, oras dela, oras dele, e ali arrastaram-se mais cinco anos e agora ela já não tinha mais tanta certeza assim que fora uma má ideia a decisão embora nos quase dois últimos anos eles vinham discutindo bastante a possibilidade de finalmente terem a tão sonhada criança deles uma vez a senhora Scrudell visitava sua médica com frequência iniciando suas vitaminas e o necessário para se preparar para uma possível gravidez.  

As mãos ainda trêmulas da mulher de cabelos negros, seguraram mais próximo dos olhos o papel lendo-o novamente: um recibo de pagamento de um motel. Talvez fosse o destino a mostrando algo. Quando ela achou aquele papelzinho pequeno caído no chão do closet dele ao recolher as roupas ali quase embaixo do móvel, de que não estava tão louca quanto achava estar, que os atrasos que vinham acontecendo cada vez mais frequente estavam interligados a isso, que o comportamento às vezes evasivo ou até mesmo frio do marido tinha ligação… 

A destra passou pelos cabelos em um ato de frustração. Se perguntava se aquilo era possível? Talvez, só talvez fosse apenas uma infeliz combinação de coisas. Recusava-se a acreditar que o homem da qual ela colocou não apenas seu amor, mais sua dedicação, compreensão, apoio e a sua vida, não passava de um traidorzinho barato. 

Ela precisava realmente de ar. Pegando sua bolsa e as suas chaves, assim que saiu da suíte deu de cara com Nataly, a sua empregada e responsável pela limpeza e roupas. 

— Bom dia! Senhora Scrudell.

— Bom dia! Nataly. — Cumprimentou com sua habitual educação e humor, não descontava em momento algum, suas frustrações sobre qualquer uma das suas funcionárias. No entanto, tinha de admitir ser no mínimo humilhante a situação que se encontrava agora, visto que achou o tal ‘ticket’ ela praticamente pediu que a mulher separasse qualquer achado nas roupas do marido e a entregasse longe da presença dele. 

Hanna saiu de sua casa naquela manhã com o coração um pouquinho mais apertado e angustiado sentindo que aquilo estava acabando com ela, havia perdido mais um quilo e isso era péssimo! Onde estava toda sua autoconfiança agora?  Ela sinceramente buscava, porque nada doía mais que a incerteza e a insegurança. A dúvida machucava de forma tão cruel… 

Ela só colocou alguma música em seu carro e dirigiu mantendo — ou tentando — a atenção no trânsito até a Universidade federal de Estermond, onde lecionava história da arte e era uma das mais influentes e requisitada especialista em restauração de obras dentro daquele instituto.

(...)

Ela havia tirado aquele pequeno tempo como costumeiramente fazia com a melhor amiga, era quase um hábito diário ambas almoçarem juntas. Estavam no restaurante favorito delas e à medida que os pratos eram colocados frente as mulheres, comiam e conversavam. Hanna, naquele momento expunha a amiga todo o seu desconforto e insegurança que a assolava. Ela até poderia ser uma mulher madura e firme, uma incrivelmente linda e bem sucedida, mas ainda assim uma mulher, e como qualquer outra naquela situação enxia-se de inseguranças e incertezas. 

Os olhos verdes esmeraldinos de Susan, sua melhor amiga, encontraram os seus azuis-violeta e ela falou:

— Bobagens suas, Hanna! Quer dizer... Aquele idiota é louco por você ele a ama e é completamente apaixonado, bom, pelo menos é o que ele sempre demonstra, e sinceramente não vejo duvidas pela forma que ele te olha. 

— Parece, não é? — esboçou um sorriso triste — às vezes eu olho nos olhos dele, e os azuis que me apaixonei parecem tão... Perversos... ‘Tô louca?

Susan deu um longo suspiro.

— Amiga, você é uma mulher inteligente, elegante e ‘sexy’ mesmo sem ser nem um pouco vulgar, é exótica, filha de um dos empresários mais respeitados de Estermond, aliás, do país. É uma perita exímia e bem sucedida na profissão que escolheu seguir, é incrivelmente linda, doce e... 

Hanna então abriu a sua bolsa que estava na cadeira ao lado e tirou de lá um pequeno papel já amassado o colocando sobre a mesa diante do olhar da Uckermann que imediatamente franziu o cenho calando-se e pegou o papel para lê-lo.

— O que é isso? 

— Exatamente o que parecer ser — Hanna bebeu da água de sua taça — estava no chão do closet dele. 

— Pode não ser dele. 

A senhora Scrudell esboçou um sorriso sarcástico do tipo: somos racionais, não estupidas.

— 'Tá! Entendi o recado — disse a mulher de cabelos curtos e loiros — bom... Pode ser algo, mas pode não ser. Não podemos descartar que você ocasionalmente tenha razão e seu marido está tendo um caso extraconjugal. — Hanna abria a boca para falar, mas Susan prosseguiu — mas também pode ser um amontoado de infeliz coincidência. Ele pode ser... Inocente. 

— Com um recibo de motel?

— Já pensou que pode ser de uma das suas empregadas, de repente caiu sem querer, sei lá... Coisas acontecem e antes que fale, eu não estou o defendendo. Eu conheço você desde que tínhamos quatorze anos, e bem ou mal meu marido é um dos melhores amigos do Nicolas, eles se conhecem a quase tanto tempo que nós. Não podemos cruzar linhas sem certezas, entende? 

Hanna remexeu-se desconfortável na cadeira. 

— Um voto de confiança... — murmurou a morena. Susan gentilmente depositou sua mão sobre a dela e a fitou uns instantes. 

— Ele seria um completo babaca se fizesse algo assim. Sinceramente? Melhor que você só se for alguma princesa bem rica e miss, e mesmo assim as chances de você ainda ganhar são imensas.

Hanna sorriu cúmplice á amiga. Sentia-se tão aliviada por ter alguém como ela ao seu lado sempre. 

— Me sinto bem melhor com você inflando meu ego dessa maneira.

— Somos melhores amigas, é isso que fazemos. Nos damos força mutuamente — piscou

— Você é uma ótima amiga, e eu aqui... Te empurrando meus problemas, sendo rude — aquietou-se sorrindo francamente — como foi em Paris? Foi onde eu indiquei?

A Uckermann sorriu amplamente, tinha tantas coisas para contar, o que incluía um ato surpreendentemente selvagem do marido que a surpreendeu. E mesmo enquanto Hanna sorria, consentia, ouvia e esforçava-se para doar-se completamente aquela conversa, Susan não pode deixar de notas que a Scrudell estava mais abatida e aparentemente cansada, provavelmente de cabeça cheia. 

Só metade não basta

“Depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco.”

Alice Ruiz

Ela deslizou as mãos da barriga lisa até as coxas alisando o tecido do vestido vinho que usava. Um tecido macio e leve que ia até o meio de suas coxas, A peça tinha mangas curtas e um decote redondo o que deixava praticamente sem mostra dos seios. Tinha um corte simétrico e elegante. Uma peça bonita mais simples da qual ela usava em casa quando queria vestir-se um pouco melhor, ou talvez ir a um shopping, ou fazer compras… nada especial. 

Hanna encarou-se frente ao espelho, os cabelos negros azulados longos dessa vez estavam presos em um coque desconstruído enquanto sua franja grossa estava bem bagunçada dando um ar despojado a mulher, um par de brincos de pérolas e um cordão com pingente. Ergueu o pulso checando em seu relógio vendo estar quase na hora. Desceu então do quarto de modo a esperar pelo marido. Ela estava linda, perfumada, arrumada… E extremamente ansiosa por alguma razão, e sentia-se tão boba por isso. Talvez porque a presença dele havia se tornado ansiada por ela, afinal, cada vez mais as desculpas e atrasos começavam a tomar conta da rotina deles. 

A mesa posta estava perfeita. Alana fizera um trabalho magnifico e embora a mesa fosse grande, porque eles costumavam dar jantares maiores para familiares e amigos, a forma montada pela mulher deixava o toque acolhedor e intimista aos dois apenas.

Intimidade… eles careciam daquilo de volta. A coisa toda parecia tão mecânica e fria… quase como uma obrigação matrimonial. 

Hanna andou até o aparador, mexeu no arranjo de lírios-brancos novinhos que estavam ali e perfumavam incrivelmente o ambiente, ela os adorava em momentos especiais, tal como amava girassóis, cada qual com seu significado especial. Andou pelo espaço, serviu-se de água, bebeu um pouco, sentou-se no sofá… O pulso erguera novamente: quase oito da noite. Então seu celular vibrou na mesa ao lado e ela o puxou vendo se tratar de uma mensagem do marido. Abriu-a:

“Sinto muito, amor. Tive um imprevisto de última hora e acabarei me atrasando, farei o possível para chegar cedo”

Ela novamente sentiu aquele embrulho horrendo no estômago, como se tivesse um buraco ali. Respirou fundo. Pegou uma das suas novas revistas e começou a lê-la tentando inutilmente quebrar aquela sensação de descaso e abandono que aumentava subitamente. Lia tudo, mas não absorvia nada, e olha que aquela edição a havia deixado ansiosa já que teria uma matéria sobre Simon, marido de sua amiga Ivy, como um conceituado artista contemporâneo que vinha ganhando notório destaque. No entanto, mesmo esse fator não a prendeu, somente a distraiu superficialmente. Olhou o relógio novamente, vendo que esse aproximava-se das nove. Ela tinha uma crescente frustração em si, questionou-se momentaneamente se o casamento havia amornado? Esfriado de repente e ela não se dera conta? Porque não conseguia simplesmente ver em que momento as coisas haviam mudado, quando as coisas a dois deixaram de ser prazerosas, desde quando o trabalho cansava tanto, desde quando eles pareciam dois estranhos ou aquelas rachaduras entre os dois tornava-se um abismo. quando uma simples conversa tornava-se arma na mão do outro e virava uma guerra?

Largou a revista sobre a mesinha de centro e levantou-se caminhando em direção ao bar, do lugar buscou apenas o saca-rolhas, voltou-se então a mesa de jantar e embora não fosse uma perita em vinhos, abriu aquela garrava de tinto muito habilmente a levando ao nariz em seguida apreciando o cheiro da uva por um instante, virou então o conteúdo no que seria sua taça de vinho e a encheu quase que completamente. Virou o primeiro gole fechando os olhos sentindo toda a acidez e nenhuma doçura da bebida que era perfeita para aquela carne, mas perfeita ainda para o seu estado de espírito naquele instante. Pegou a garrafa com a outra mão e saiu dali encaminhando-se pelas escadas em direção ao terraço da casa, esse ficava no terceiro andar e era elaborado exclusivamente para ser seu ateliê. Sobre uma mesa de apoio ela repousou taça e garrafa, e então alcançou um dos seus aventais o colocando, pegando um pequeno controle, ela ligou o som colocando ao fundo músicas Blue-eyed soul. Conhecendo cada canto daquele seu lugar especial, ela pegou uma tela mediana em branco e a colocou sobre o cavalete. 

Um novo gole de vinho…

Ela preparou sua paleta de tintas e os pinceis e os olhos fitaram a parede de vidraça do lugar que dava uma vista incrível do sol poente — embora fosse agora noite — e naquele instante ela olhava as silhuetas escuras dos campos que haviam ali por trás, já que a casa muito bem localizada ficava próximo ao parque ecológico de Estermond. Inspirando profundamente ela encostou o pincel de cerdas medias e ponta fina na tinta vermelha e a pressionou contra o quadro finalmente começando a pintar, permitindo-se inundar-se com a música, com o sentimento, e esses ela transpassava para a tela em forma de linhas, de formas…

Mais vinho… A hora já não importava mais. 

O ponteiro do relógio marcava onze em ponto. Tudo estava escuro e silencioso. Ele fechou a porta atrás de si, deixando as chaves no porta-objetos que tinha no aparador de entrada. A casa em geral estava escura, mas alguns pontos ainda tinham a iluminação fraca, do semelhante à meia luz. Em silêncio ele caminhou até onde essas luzes ainda estavam acesas o que o levou até a sala de jantar, os olhos azuis contemplaram a mesa posta tão perfeita, mas completamente intocada. Foi inevitável não esboçar uma face frustrada, bufou sabendo que havia sim, feito algo estupido mais uma vez, e não poderia iludir-se acreditando que não era intencional afinal, escolheu atrasar-se. 

Ele subiu as escadas ouvindo ao longe, baixinho a música que tocava. Entrou no quarto do casal largando a bolsa; tirou o paletó e afrouxou a gravata desfazendo o nó pôr fim a tirando. Que ela estava em casa era um fato, mesa posta, música ligada e carro na garagem…

Cama feita, e o perfume dela pelo lugar. E como ele amava aquele cheiro. 

Os primeiros botões de sua camisa branca foram abertos, tal como os punhos dela e ele repuxou as mangas até o braço enquanto subia as escadas em direção ao terraço. A conhecia bem o bastante para imaginar o que ela estava fazendo naquele instante. Encostando-se no vão de divisa e entrada, ele observou a garrafa de vinho sobre a mesa e essa praticamente pela metade, viu também a taça que tinha um último gole bem ao fundo, essa estava bem na ponta da mesa ao alcance das pequenas e delicadas mãos que estavam agora meio sujas de tinta. Ele desenhou um pequeno sorriso ao ver o sutil balançar dos quadris dela, enquanto pintava tão focada e desatenta. 

Suspirou em um misto de cansaço e paixão…

Ele era completamente louco por ela e disso não tinha dúvidas alguma, ninguém fazia seu coração bater daquela forma, ninguém o tirava o folego como ela. 

No entanto…

Deu alguns passos tão silenciosos que era surpreendente. Viu Hanna ainda de costas buscando pela taça sobre a mesa, apenas a mão tateava sem ela olhar de fato o que fazia, e antes que ela a firmasse a pegada na base da taça, ele pegou a mesma praticamente tirando da mão dela. Pega de surpresa, mas não assustada, ela virou-se encarando as gemas Azuis do marido. 

cínico com aquele olhar. 

— Muito atrasado? — questionou ele como se não fosse nada de mais, ela, no entanto, pegou a taça da não dele e ainda o olhando nos olhos virou o último gole repousando a mesma já vazia na mesa para em seguida ao dar as costas voltando a pintar. 

Ignorado e sentindo-se desprezível, ele continuou a falar:

— Hanna… tive trabalho e não é fácil con…

— Eu sei! Me avisou! — ela o cortou, ainda de costas o dedo apontou para a bancada pequena ao lado onde repousava o celular dela. E embora sua voz tivesse o mesmo tom baixo, educado e melodioso, havia um tom de aborrecimento e decepção que ele notara imediatamente. 

Sim, novamente ele havia estragado tudo, mas às vezes as coisas simplesmente fugiam do controle.

Ele deu mais um passo até ela e segurou suavemente a cintura miúda e curvilínea a apertando um pouco enquanto aproximava seu corpo ao dela. O nariz buscou logo deslizar pela pele de Hanna absorvendo do aroma delicioso que ela tinha, os lábios sorriram contra o pescoço dela, enquanto sentia o corpo gostoso da esposa estremecer em seus braços sabendo como ela reagia tão deliciosamente ao seu toque. 

— Está zangada… — não foi uma pergunta a que ele fez no ouvido dela, e embora ela ainda se focasse no quadro, sentiu as pernas amolecerem sutilmente e amaldiçoou o fato dele conhecer tão intimamente seus pontos de sensibilidade no corpo. 

— Não estou! — afirmou um pouco tremula na voz, mantendo uma convicção que perdia a cada segundo. 

— Não jantou. — disse ele deixando as mãos deslizarem com suavidade pela barriga lisa em direção aos fartos seios por baixo do avental que ela usava. 

— Não tenho fome!

— Podemos… Comer algo juntos agora — ele ronronou ainda a provocando — embora você tenha acabado com um vinho caríssimo, sozinha. 

Ela suspirou, estava aborrecida, mas ele parecia não entender ou não se importar. 

— Vamos… Não seja má, princesa.

Ela, no entanto, deixava a cada instante mais aquela insegurança a tomar, o medo, a rejeição… Tudo parecia vir tão rápido, tão intenso…

— O jantar já acabou, Nicolas! — dito isso ela afastou-se dele, do contato, e pegou um pano limpando as mãos sujas de tinta e fora somente aí que ele viu os olhos marejados que lutavam para não deixar lagrima alguma escoar. 

A virando para si ele segurou o rosto dela entre as mãos focando os violetas com os azuis. 

— Ouuu, que isso? — preocupou-se

— Não é nada!

— Nada não te faria… Chorar… Hanna… — percebera que dessa vez o vacilo fora muito maior, que de alguma forma aquilo mexeu mais do que deveria com ela. Hanna encarando os olhos dele sentiu-se tão pequena, tão… Patética e as lagrimas que lutou tanto para manter presa finalmente escorreram pela face, sem dar nenhuma chance de se mostrar mais tola, ela levou os punhos ao rosto as limpando, descobrira ter uma força interna absurda porque simplesmente forçou-se a sorri mesmo sentindo dor. 

— TPM? — mentiu 

Ele negou, em um gesto de carinho e afago ele deslizou os polegares pela bochecha dela, enquanto trazia o rostinho bonito e delicado para mais perto de si, fazendo os lábios tocarem-se, moveu-os começando um beijo, à medida que os lábios tocavam-se ele sentiu o sabor salgado ciente que ela estava chorando, mas decidido a não parar aquele contato ele aprofundou o beijo fazendo a língua tocar os lábios dela e como tal sendo correspondido por sua esposa. As mãos dele saíram da cintura dela subindo até o pescoço e desatando o nó do avental e depois da cintura fazendo a peça cair no chão, o beijo tornou-se mais intenso, mais profundo e pouco se afastavam para ter ar, ele sorriu vitorioso ao sentir as mãos dela envolta do seu pescoço e uma apertando seus cabelos. 

Afastou-se ofegante dela, olhos fechados encontrando sua testa a dela, poderia chama-lo de louco, mas aquela conexão que tinha com ela era única e nenhuma mulher o conseguia. As respirações chocavam-se e fora movido por extremo desejo que ele tomou a boca feminina novamente, agora com mais ânsia e afobação. Com facilidade ergueu o corpo dela a sentando sobre a mesa, o ruído da garra e taça estilhaçando-se no chão fora completamente ignorado enquanto ele se encaixava entre as pernas dela fazendo as mãos grandes e fortes subirem pelas coxas torneadas de Hanna arrastando o vestido consigo. Os lábios buscaram desesperados pelo pescoço onde ele beijava e chupava alimentando-se dela. 

Ela havia repousado a cabeça no ombro dele, enquanto o abraçava apertado sentindo o calor do corpo de Nicolas tocar o seu, seu nariz encostou contra a camisa dele e não pode deixar de sentir um pequeno resquício de perfume adocicado que não era dela, conhecia de cor e salteado os seus perfumes. Imediatamente ela afastou-se dele, era obvio que ele estava começando a sentir-se mal com tudo aquilo, mas Nicolas segurou seu rosto com a canhota voltando a beija-la enquanto a outra mão chegou ao meio das pernas adentrando o tecido da calcinha atingindo facilmente o ponto de prazer de Hanna que estremeceu deixando um gemido abafado escapar, soluçou em seguida. 

Talvez ela estivesse mais bêbada do que realmente acreditava estar, ou melancólica… Talvez confusa e abatida…

Em algum momento ela não sabe exatamente qual, ela estava completamente perdida nos braços fortes dele, inclinava-se já sem calcinha e sentada ainda ali, naquela mesma posição, enquanto o sentia arremeter-se contra a si a penetrando fundo alternando entre o lento e rápido, mas sempre forte. Suas pernas envolviam-no completamente o quadril enquanto suas mãos estavam espalmadas sobre a mesa sentindo apenas as mãos dele apertado forte sua bunda a estocando cada vez mais forte enquanto estava afundado nos seus seios. Hanna levou uma das mãos ao ombro dele e sentiu suas unhas arranharem a pele dele, enquanto sentia o fulgor aumentar por todo o seu corpo até finalmente render-se ao ápice do momento, bem como, sentindo o marido finalmente gozar profundamente satisfeito dentro de si. A cabeça dele encostou contra o ombro dela, enquanto ele ofegava ainda se mantendo dentro da Scrudell, um beijo, dois… Esses subiram carinhosamente pelo pescoço dela até ele alcançar o ouvido e falar:

— Amo você. 

Ela apertou um pouco mais seu corpo contra o dele e a mão entre os fios loiros. 

— Também amo você, mas do que imagina. — disse ela.

Ainda com o corpo dela preso ao seu, ele a levantou da mesa e saiu com ela a levando no colo daquele modo até o quarto dos dois a depositando sobre a cama. A olhando ainda ele falou:

— Vou tomar um banho!

Ela consentiu com um breve sorriso e quando ele finalmente saiu do seu campo de visão ela virou-se lado agarrando o travesseiro deixando um choro fraco fluir silencioso percebendo o quanto o amava mesmo o quanto ele era importante para si, mas, ao mesmo tempo, sentindo-se tão fraca, espezinhada e dependente. 

(…)

Mal havia surgido os raios de sol daquela manhã iniciando o novo dia e Hanna encontrava-se prostrada diante do sanitário vomitando intensamente. Céus, ela deveria estar com uma aparência completamente deplorável e medonha! Percebeu quando o marido se encostou na porta, praticamente sentia o olhar dele sobre a analisando e teve imensa vontade de manda-lo a merda. 

— Esse é o resultado de beber meia garrafa de vinho sozinha, Hanna

Oh sim! ela realmente ia mandá-lo a merda depois daquele comentário inútil, mas assim que abriu a boca apenas vomitou mais. 

Sinais de alerta

Nataly não achara nada mais nas roupas do marido, Nicolas estava estranhamente mais quieto, buscando de fato cumprir os horários embora ainda falhasse relativamente. Porém, aquilo não deixava de pairar em sua mente naqueles dias. Talvez ela devesse perder a vergonha e realmente questionar a empregada se o tal recibo de repente era dela, talvez estivesse mesmo louca, sofrendo por antecipação e ansiedade. Talvez Susan tivesse razão e Nicolas fosse ainda o seu Nick, o homem que era apaixonada perdidamente e esse apenas estava dedicando-se mesmo no trabalho, afinal ele sempre fora dedicado e esforçado quando o assunto era seus objetivos pessoais. 

Naquela manhã de sábado ela estava com Susan em um café e enquanto conversava, ela usava um aplicativo em seu celular meramente por distração, Nicolas havia insistido tanto a uns dois anos atrás para que ela sempre ficasse a par da movimentação bancária deles, mas ela detestava aquilo, afinal confiada cegamente nele com as finanças do casal, ele poderia ter muitos defeitos, mas era um bom administrador não era a toa que ocupava o cargo que tinha. Ela quebrava a cabeça para mexer naquela coisa, extratos bancários, ordens de pagamento… Era tudo tão chato e robótico, talvez por isso ela não quis formar-se nessa área e muito menos ocupar o seu lugar como sucessora do pai na empresa da família, em vez disso cedeu seu lugar ao seu primo Neji que a representava e ela apenas colhia os frutos daquilo, era fato ele era melhor que ela naquilo e Hector aceitou com grandes ressalvas como sempre. 

— Sabe que droga é essa aqui? — perguntou Hanna de repente mostrando o celular para Susan, a garota leu rapidamente mexendo.

— Acredito que esse aqui é extrato de cartões, usos gastos…

— Humm — disse a ex Sanches pegando o aparelho novamente. 

— Porquê?

— Porque o quê? — Hanna arqueou uma sobrancelha.

— 'Tá olhando isso agora?

— Ah! só passando o tempo — disse displicente e sorriu. 

Quase todas as contas que eles tinham eram conjuntas, era algo normal e comum entre casais e facilitava muito o imposto de renda. Enquanto se acostumava com o tal aplicativo ela deparou-se com os débitos de compras, valores comuns, despesas, mercado… Nada fora do normal, suas compras, compras dele e então no cartão de uso dele ela viu finalmente um débito em particular que chamou sua atenção pelo valor alto. Era algo particularmente incomum e aquilo a fez remexer-se incomodamente na cadeira. Era uma compra bem recente pela data, três dias atrás…

A mente tentou lembrar-se exatamente do dia, ela trabalhou o dia todo, recebeu um quadro novo no instituto de Estermond para restaurar, chegou em casa cedo, mas decidiu ir ao cinema, sozinha já que…

“ele trabalhou até tarde” a mente trouxe como um ‘flash’ a constatação. Os olhos violeta arregalaram-se. Afinal aquele valor seria suficiente para comprar um pequeno carro popular. 

Abriu o detalhado da operação de modo a saber do que se tratava surpreendendo-se com o nome da empresa. Um pouco tremula e sem prestar atenção em Susan que falava algo trivial, ela usou o celular realizando uma ligação diretamente para a administradora do cartão sendo logo atendida, ela queria apenas rastrear o endereço da loja que houve a compra, algo que fora relativamente fácil. Ela anotou o endereço e encerrou a chamada com os olhos verdes sobre si.

— Perdi algo?

— Quer dar uma volta comigo? — perguntou Hanna e Susan melhor do que ninguém conhecia aquele olhar. 

Pagaram a conta no café e seguiram no carro da Scrudell para o endereço que ficava em um movimentado centro comercial que elas conheciam bem, faziam compras ali afinal, era lugar muito bem frequentado pelos tipos de loja que tinham ali. Hanna estacionou o carro frente ao endereço contemplado calada o grande e luxuoso letreiro da fachada daquela joalheria. 

Sentiu seu coração apertar no peito. 

— Compraremos joias, é isso? — perguntou a rosada com certa ironia, então viu uma seriedade obscura nos olhos geralmente tão doces e serenos de Hanna, ela desafivelou o cinto e abriu a porta do carro sendo seguida pela Uckermann. 

Foram bem recebidas e sem muitos rodeios Hanna foi direto ao ponto.

— Meu marido fez uma compra nesse estabelecimento a três dias, eu… — hesitou — quero confirmar a compra. 

Sem muitas informações, ela logo estava falando com uma vendedora experiente que a ajudou e localizou assim a bendita compra. Susan apenas via e ouvia calada analisando cuidadosamente. 

Um catálogo fora aberto na frente de Hanna onde fora mostrada a peça a ela. Uma pulseira de aro articulado feita de ouro branco e diamantes. Ela ficou fitando a peça um tempo até levantar-se. 

— M-muito… Muito obrigada! — disse sentindo-se tonta subitamente. 

— O que foi isso Hanna? — pediu Susan ajudando a amiga que parecia que ia cair dura no chão. 

— Bom, eu espero que um presente de casamento antecipado — falou ela com notório sarcasmo, incredulidade e raiva.

(…)

Aquela era uma saída de garotas que, enquanto acontecia a versão feminina acontecia a masculina com os respectivos amigos, mas esses sendo anfitrião por um Uckermann em sua casa, já que as garotas estavam em um badaladíssimo bar da capital. Elas dividiam um espaço de lounge na área vip, cada qual com seu copo de drink colorido, seus sorrisos, fofocas e mais fofocas onde a maioria era comandada pela loiríssima e bela: Ivy Young.

A cada nova coisa, novo flerte nada indecente apenas por diversão, os sorrisos pareciam mais acesos principalmente pelo álcool. Susan olhou para Hanna que naquele instante tinha um sorriso tão falso quanto uma nota de trinta nos lábios. Talvez ela percebesse porque conhecia tão intimamente a garota e por mais tempo que as demais. Os olhos não carregavam o mesmo brilho, estavam estranhamente opacos e Susan tinha certeza que mesmo que a pessoa estivesse ali, a mente da Scrudell estava a quilômetros de distância, como gesto solidário e afável, ela colocou a mão sobre a de Hanna que a olhou. Os lábios da rosada moveram-se mesmo sem som, ciente que a amiga os lia:

— Banheiro?! 

Hanna consentiu e elas pediram licença as amigas saíram. Já mais afastadas, próximo ao banheiro feminino, elas desviaram o caminho para uma das varandas onde era aberto e tinha um bom ar, em posse de seu Manhattan (um drink) e Susan do seu New York Sour encostaram-se no parapeito e Hanna mergulho o dedo indicador na sua taça a mexendo e levando o dedo aos lábios dando um pesaroso suspiro. 

— As coisas não andam bem?

— Estão ótimas! Perfeitas até! — disse Hanna em tom de desgaste e melancolia.

Ela só não queria ser o palco das amigas naquela noite, não queria seus problemas conjugais atrapalhando a alegria alheia, aliás, ela não queria aqueles olhares de pena como o que recebia da amiga naquele instante. Era humilhante demais. 

Susan deu um longo suspiro e tomou mais um gole de bebida. 

— Eu só saio daqui quando começar a falar. Não tenho pressa mesmo. 

Hanna esboçou uma careta, mas a postura firme e decidida de Susan era imutável. Ela engoliu em seco e bebeu um gole da bebida por igual a Uckermann e repousou a taça sobre o parapeito. 

— Achei um fio ruivo de cabelo no paletó dele — Susan a olhou e ela sorriu irritada — eu sei… É patético, me sinto estupida e… E… Me pergunto a cada dia porque eu to me sujeitando a isso? Porquê?

Os olhos não conseguiam segurar as lagrimas carregadas de sofrimento, angustia e dor. 

Susan, por sua vez, vinha observando a amiga, definhar na sua frente desde a tal joia, claro que isso foi a apenas alguns dias, mas o bastante para Hanna apagar suas cores. Ela fixou os olhos verdes em algum ponto da cidade e respondeu:

— Porque o ama. — Houve um segundo de silêncio — é normal sentir-se assim. Caramba, Hanna! — ela exasperou um pouco — vocês estão juntos a sei lá… Doze anos se contar o tempo de namoro e noivado? Se conheceram no primeiro semestre da faculdade com tanta coisa envolvida e sinceramente não estou julgando, longe de mim, suponho que se o Samuel fizesse algo assim eu cortaria o pau dele fora!

Hanna arregalou os olhos, assustada com aquele ímpeto. 

— Me julgue! Acredito que na raiva eu o mataria… Em fim. Eu não sou o foco dessa discussão. 

— E-eu só não sei o que fazer! — ela balançou a cabeça — sabe… Eu poderia só o confrontar e ouvir mentiras, ou respostas prontas… Eu não conseguia me manter eu… Sou uma idiota, eu sei! Deus, eu me odeio!

— Se ele estiver mesmo fazendo isso…

— Se?

— Se… Ainda daremos ao adúltero safado o benefício da dúvida até ter um flagrante, não vale a pena um confronto sem armas. Isso é muito importante para um tribunal, vai por mim, mamãe sofreu muito para se divorciar. 

Ela observou os olhos de Hanna ainda mais tristes e melancólicos com aquela palavra: divorcio.

— Hanna, é lamentável, mas vocês têm uma vida juntos e uma vida não apenas romântica. Vocês têm compromissos, finanças, investimentos… Tudo isso é importante. 

— Susan… — murmurou Hanna sentindo-se covarde diante da solução óbvia e o desenrolar certo. 

— Sério! Conheço um bom detetive, ele colhe as provas e você acaba com ele, em casa e no tribunal. 

— Não sei se quero isso, na verdade, sequer estou pronta. 

— ahhh você vai querer! Quando você ter todas as respostas você vai querer! Na verdade, eu te daria uma faca de caça, bem amolada. O Samuel tem uma coleção delas nem vai notar a falta, você corta não só pau, mas as bolas também!

Hanna sorriu achando graça, mas depois o sorriso morreu.

— Sou patética né? Ele me traindo, me humilhando e eu aqui preocupada com a situação dele, com a reputação…

— Não Hanna! Você é só boa… pelo visto boa demais para aquele imbecil. 

Bebendo um pouco mais Hanna olhou os olhos esmeraldinos.

— Prometo que pensarei. — Dito isso ela sentiu a onda de enjoou a acometer novamente.

Viu o olhar intrigado de Susan e falou:

— Não ando bem. 

— Isso acaba com o emocional da gente. — Ela foi totalmente compreensiva — posso ter muita raiva dele, né?

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