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O Amor Que Você Desprezou

Capítulo 1

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@andrea.junkerjamaro

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⚠️Minhas histórias são sobre mocinhas frágeis e sonhadoras que esperam seu príncipe encantado. Se você gosta de histórias assim, fique à vontade!

Boa leitura!

Sinopse

Nina sempre foi desprezada pelo pai por ser filha da empregada. Um fazendeiro rico de família tradicional que não suportava a ideia de ter uma filha bastarda. Agora ele a obriga se casar com um estranho como pagamento de uma dívida. Só que esse estranho é apaixonado por sua irmã Catarina que é a filha legítima.

OTONIEL MONTENEGRO

LAURA MONTENEGRO

ROSA

TOBIAS

Capítulo 1

A OUTRA MÃE

O ano é 1993. Era noite. Por volta das 21 horas. Laura sacudia sua filha que chorava copiosamente. Ela já tinha tentado de tudo para fazê-la parar. Trocara a fralda, amamentara, até um remedinho para cólica a menina tinha tomado.

— O que você tem, meu amor?

A criança parecia estar sendo influenciada pelo estado emocional da mãe que esperava aflita a chegada do marido. Este tinha ido até a capital em companhia de Rosa, Tobias, o capataz e a filhinha recém-nascida de Rosa. Foram fazer um exame de DNA.

Rosa era a empregada da casa. Tinha passado toda a gravidez escondendo a identidade do pai da criança, mas pouco tempo depois do seu nascimento, revelou que o pai de sua filha era o patrão, o senhor Otoniel Montenegro. Este ficou furioso, quase matou a pobre mulher. Ela, porém, jurou à sua patroa, depois de muitas lágrimas e pedidos de perdão, que estava falando a verdade. Laura optou por esperar a confirmação do exame antes de tomar qualquer decisão sobre a criada. Rosa era filha da babá de Laura, Francisca - Tia Chica, como Laura a chamava, por quem ela tinha muito apreço. As duas, Laura e Rosa, cresceram praticamente juntas. Rosa era um pouco mais velha, mas as duas sempre se deram bem.

Sempre fora tomado o cuidado de manter certa distância, afinal, Rosa era filha da empregada, mas isso nunca foi impedimento para que as duas meninas se considerassem amigas. Quando Rosa estava mocinha, Dona Francisca, pouco antes de morrer, pedira que não deixassem a filha desamparada.

— Por favor, cuidem da minha menina por mim! Rosália não tem mais ninguém nesse mundo! — pediu ela com voz fraca já em seu leito de morte.

Dona Antonina, mãe de Laura, atendeu ao seu pedido com muita satisfação. Rosa passou a ver em Dona Antonina não somente uma tutora, mas uma verdadeira mãe. Laura incomodou-se com a aproximação das duas e, aos poucos, afastou-se de Rosa. Percebeu uma mudança muito grande nela, mas nunca sequer chegou a comentar sobre isso, guardando apenas para si, pois tinha receio de aborrecer sua mãe e também porque achava que se tratava apenas de um ciúme bobo.

Mas a admiração de Rosa pela mãe de Laura sempre fora muito evidente e recentemente ela surpreendera a todos anunciando que sua filha iria se chamar Antonina, em homenagem à sua protetora.

Laura, que também estava prestes a dar à luz, não gostou nada da escolha do nome, pois esse seria o nome de sua filha. Rosa sabia disso e Laura encarou o ocorrido como uma afronta, mas não quis se desgastar com isso. Acabou batizando sua filha de Catarina, o nome de sua outra avó, mãe de Otoniel.

Rosa era morena clara de cabelos ondulados meio ruivos, olhos grandes e curvas arredondadas. Até que era bonita, mas muito xucra. A ligação que havia entre elas desde sempre fazia toda a situação ficar pior. Era uma traição dupla. Seu marido envolvido com a empregada que ela julgava ser sua amiga!

“— Não pode ser verdade! Não pode ser verdade! ” — pensava Laura.

Ela tentava não transparecer, mas estava arrasada. Aquela revelação acabou por abalar ainda mais o seu casamento que já não estava muito bem. A única coisa que a mantinha com os pés no chão era a dedicação à sua filhinha Catarina. A alegria da casa. Ela tinha apenas três meses e era poucos dias mais nova que a filha de Rosa.

A menina finalmente parou de chorar e adormeceu. Laura ouviu o barulho do carro chegando. Seu coração disparou. Colocou a criança no berço e desceu as escadas do casarão muito ansiosa. Ela sempre andava bem vestida, mesmo dentro de casa. Os cabelos castanhos, quase loiros, sempre bem alinhados em um corte Chanel. Tinha o rosto delicado, a pele branca bem tratada e olhos castanhos vívidos. Era sempre muito ativa. Apenas a sua presença era capaz de alegrar a casa. Pouco mais de trinta anos. Sua postura elegante demonstrava que ela tinha sido educada com regras de etiqueta. Também se dedicou às lições de francês, inglês e piano, entre outros privilégios de famílias ricas. Qualquer que fosse o resultado do exame, ela reagiria com discrição.

Otoniel adentrou a casa com um envelope na mão. Pela sua expressão, não era necessário analisar o seu conteúdo. Laura o olhou com tristeza ainda do meio da escada.

Ele fechou os olhos lentamente em confirmação. A menina era mesmo sua filha. Rosa entrou com a criança no colo e de cabeça baixa. Não se atreveu a olhar para a patroa. Laura meneou a cabeça negativamente, lutou contra um choro que insistia em lhe dominar, deu meia volta e subiu as escadas apressadamente, enquanto Otoniel a chamava sem sucesso.

— Laura! Espera! Laura!

Ele virou-se para Rosa e ordenou: — Vá para o seu quarto!

Ela obedeceu prontamente.

— Sim, senhor!

Otoniel era o típico fazendeiro rico de quase quarenta anos. Novo ainda, mas já era cafeicultor, pecuarista, influente político, muito famoso naquela região. Trazia resquícios do coronelismo no trato com os empregados e na maior parte do tempo estava de mal humor. Trajava sempre roupas típicas de fazendeiro. Botas, chapéu, calça jeans, relógio de ouro e mantinha sempre um bigode imponente. Seus olhos negros lhe acentuavam seu ar autoritário. Era um homem bonito. Se apresentava como homem de conduta ilibada e exemplo de moral diante da sociedade. Um filho fora do casamento poderia acabar com sua reputação. Mas ele estava mais preocupado com Laura do que com sua reputação no momento. Apesar do problema recente Era algo que não se podia negar, ele amava sua esposa.

Laura jogou-se em sua cama e chorou tanto que quasese afogou em suas lágrimas.

“— Malditos! Como se atreveram? Debaixo do meu nariz! Na minha própria casa! ”

Otoniel abriu a porta devagar e ficou de coração partido de vê-la tão triste.

— Meu amor! — Chamou ele hesitante.

Ela sentou-se enxugando as lágrimas, mas não disse nada. Ele meio hesitante, propôs:

— Precisamos conversar...

— Agora não! Não consigo raciocinar direito! — falou ela entre soluços.

Ele tentou abraça-la, mas ela o rejeitou. Levantou-se e se recompôs.

— Laurinha, mas nós precisamos conversar! Não gosto de te ver assim!

— Otto, não quero ouvir suas desculpas! Nada do que você disser vai mudar o que aconteceu e... Eu não quero falar sobre isso agora!

— Mas...

— Otto, por favor!

Catarina acordou e começou a chorar.

— Eu tenho que cuidar da menina. Amanhã conversamos. Vou dormir no quarto dela. — avisou.

Otoniel não se opôs. Assistiu Laura deixar o quarto e jogou-se na cama exausto.

No outro dia a rotina da casa começou normalmente. Otoniel acordava muito cedo e fazia muitas coisas antes de tomar um café reforçado. A Fazenda Montenegro era bem movimentada. Muitos funcionários trabalhavam na produtividade da mesma. Desde o trato com os animais até ao plantio de café e milho, era tudo cuidado com muito esmero. Localizada no município de Jaguariúna. Era uma fazenda muito famosa naquela região.

O capataz, já estava a postos para mais um dia cheio de tarefas. Tobias era o braço direito do Sr. Otoniel. Ele era um homem novo ainda, mas muito simples. Tinha um sotaque carregado do interior e estava sempre sorrindo. Também era muito eficiente e prestativo. Era evidente que ele amava o seu trabalho. Mais do que isso. Ele amava a vida no campo.

Tobias passou as informações do dia para o patrão, que lhe deu algumas ordens, as quais ele se prontificou em cumprir o mais rápido possível. Depois de anotar algumas coisas no seu caderninho, Tobias franziu a testa e perguntou cautelosamente:

— Está tudo bem, Patrão?

Otoniel fez um cara meio desanimada.

— Por enquanto, sim! — respondeu aparentemente tranquilo, mas sem muita expectativa.

Tobias sabia de todo imbróglio em que seu patrão tinha se metido. Ele tinha o acompanhado até a capital juntamente

com Rosa. Fora seu motorista durante os dias em que ficaram por lá. O exame que ficaria pronto em dez dias acabou saindo em três.

— Se precisar de alguma coisa é só falar, patrão! Agora eu vou indo. O Camilo segurou as pontas nesses dias, mas tem muita coisa pra fazer!

— Sim, daqui a pouco eu desço lá!

Rosa acabara de colocar a mesa do café da manhã. Catarina já estava sob os cuidados da babá. Laura, depois de lhe passar as instruções do dia da menina, preparou-se para enfrentar os problemas. Desceu calada, mas agindo normalmente. Sentou-se à mesa em seu lugar de sempre e pediu à Rosa que a servisse.

— Sim, senhora! — disse ela indo até a cozinha lhe trazendo um bule de café quentinho.

A mesa estava farta como sempre. O cheiro dos quitutes próprios de fazenda invadiam toda casa. Rosa era uma boa cozinheira. Todos elogiavam sua comida. Estava sempre disposta e sorrindo, mas nesta manhã agia de forma diferente. Estava tensa e distraída. Deixara as broas passarem do ponto, queimou meia dúzia de ovos e esquecera de colocar fermento no bolo que não cresceu. Estava com muito medo de ser mandada embora. Seu semblante denunciava que passara a noite chorando.

— Onde está a sua filha, Rosa? — perguntou Laura. Rosa a olhou como se ela fosse a juíza de um tribunal.

— A... Ainda está dormindo, Se...senhora!— gaguejou ela muito tensa.

Laura a encarou curiosa e perguntou:

— Ela é saudável?

— Quem? A Nina? — Perguntou Rosa desconcertada.

Laura sorriu.

— Nina! Você a chama assim? – Observou ela.

— Si...sim! Eu gosto de chamar ela assim...

Rosa apertava um pano de prato entre suas mãos, muito nervosa. Laura percebendo o estado da moça a acalmou:

— Pode ficar tranquila, Rosa! Eu não vou fazer nada contra você. Vou manter a palavra da minha mãe e também te devo muito por ter me ajudado no parto da Catarina, não é mesmo?

Rosa respirou aliviada, mas não estava muito segura das intenções da patroa. Continuou a organizar a mesa desnecessariamente. Laura retomou a pergunta de antes:

– Então, a Nina é saudável?

— Bom, eu acho que sim! – Respondeu ela com receio de falar alguma bobagem.

Os conhecidos passos do Otoniel foram ouvidos. Ele chegou pigarreando, interrompendo a conversa. Ocupou a cabeceira da mesa, cumprimentou com um frio bom dia edesemborcou sua xícara. Rosa apressou-se em servi-lo também. Os três trocaram olhares desconcertados.

— Sente-se, Rosa! — ordenou Laura, apontando a cadeira lateral esquerda.

— O que? — perguntou ela surpresa.

— Disse para se sentar! — falou Laura calmamente.

— Mas senhora...

— Ainda não entendeu? — perguntou Laura aumentando o tom de voz.

— Laura... — protestou Otoniel.

Laura se apossou de um sorriso irônico.

— Quero falar com os dois! — disse ela intercalando o olhar entre um e outro.

Rosa se sentou devagar, mas permaneceu calada.

— O que vocês estão pensando em fazer para resolver essa situação? — perguntou Laura sem rodeios.

Rosa olhou para Otoniel com olhar enviesado, mas permaneceu calada. Ele encheu os pulmões e falou meio inseguro:

— Estou pensando em mandar a Rosa pra Minas Gerais. Eu tenho um amigo que tem uma fazenda de café bem produtiva. Ela vai ser bem útil por lá.

Rosa levantou o olhar assustado como se quisesse protestar, mas não disse nada. Laura franziu a testa.

— Ela poderia criar a menina lá e eu não deixaria faltar nada a elas! — completou ele.

— Fazenda de um amigo? — perguntou Laura com indignação.

— Isso! Bem longe da língua maldosa dessa gente! — acrescentou com voz pastosa por ter acabado de abocanhar um pedaço de bolo solado — Esse bolo está horrível!

— Desculpa, senhor! E que faltou fermento! — Justificou-se Rosa.

Laura colocou os cotovelos sobre a mesa e cruzou as mãos apoiando sua testa como se fizesse uma oração. E levantando o olhar em direção à Rosa, perguntou:

— E você, não diz nada?

Rosa não se atreveu a encarar a patroa, mas respondeu:

— Eu... Eu aceito o que vocês decidirem!

— Então está decidido! — decretou Otoniel.

— De jeito nenhum! Eu não vou permitir isso! — gritou Laura.

— Mas meu bem! Eu...

— Não me chame de meu bem! — ralhou ela com voz esganiçada.

Ela se recompôs e abaixou o tom da voz.

— Você vai assumir a filha da Rosa! A sua filha!

— De jeito nenhum! Eu não vou sair por aí mostrandoa todos que tenho uma filha bastarda! — irritou-se Otoniel.

Os dois começaram a discutir, enquanto Rosa permanecia calada apenas reagindo à discussão com expressões faciais. A filha de Rosa começou a chorar. Eles param de falar ao ouvir o choro da criança.

— Traga a menina aqui! — ordenou Laura.

— Sim, senhora! — respondeu Rosa levantando-se.

Ela voltou com a filha nos braços. A menina já tinha se acalmado e sugava uma chupeta. Laura estendeu os braços e pediu para segurar a criança. Ela olhou para a bebezinha e se compadeceu. Então disse com voz calma:

— De hoje em diante essa menina será minha! — declarou ela olhando para menina com encantamento.

— O quê? — perguntou Rosa.

— Que história é essa, Laura? — indignou-se Otoniel.

— Disse que de hoje em diante a Antonina também é minha filha! Nossa filha, pra ser mais exata! Vamos registra-la em nosso nome! E você vai assumi-la publicamente!

— Mas, senhora! — exclamou Rosa.

— Não se preocupe! Ela saberá que você é a verdadeira mãe e poderá até mesmo te chamar de mãe, Rosa! Mas só quando não estiver na minha presença, é claro. E na presença de estranhos também não. Pois, oficialmente, a mãe dela serei eu.... Eu sei que você ainda não a registrou por falta do nome do pai, então.... Vamos manter o nome: Antonina. Pra que fique claro que é pela memória dela, minha mãe, que eu estou fazendo isso!

— Eu não aceito essa decisão! — protestou o marido.

Ela o ignorou e continuou a falar:

— Ela vai crescer ao lado da irmã e nós vamos criar um ambiente saudável pras duas! Vão frequentar a mesma escola e serão ensinadas com princípios cristãos!

— Você deve estar louca! — gritou o Otoniel batendo o punho na mesa.

A menina se assustou. Laura balançou-a para que não chorasse dizendo palavrinhas de consolo. Em seguida falou:

— Essa é a minha condição pra perdoar o que vocês fizeram e passar uma borracha em tudo isso! Caso contrário, eu quero o divórcio!

— Laura, não seja dramática!

— Eu estou falando sério, Otto!

— Você sempre foi contra o divórcio. Nunca faria isso! — Quer pagar pra ver?

— Laura... Por favor!

— Essas são as minhas condições! Vocês entenderam? E vou repetir: Se não for assim, eu quero o divórcio! Um divórcio mancharia mais a sua reputação, não acha?

Otoniel mordeu a língua para não explodir de raiva. Em situações normais ele não deixaria ela falar com ele daquela forma, mas estava lhe dando um desconto devido às circunstâncias. Laura continuou:

— Você vai assumir essa criança, porque é isso que um homem honesto faz: Assume seus erros! E eu vou cria-la como minha filha, porque ficaria estranho ela te chamando pai e não me chamando de mãe na frente de estranhos. Imagine só! Começariam logo a fazer perguntas indesejadas e seria um constrangimento, principalmente para ela!

— Laura, você está se precipitando nessa decisão! Você vai se arrepender disso e acabar odiando essa menina! — aconselhou ele.

— De jeito nenhum! Eu vou cria-la com todo amor, como se fosse realmente minha! — declarou Laura e sorrindo para a menina, completou. — Afinal de contas, ela não tem culpa de nada. É tão vítima quanto eu nessa história! Nós vamos ser muito amigas! Eu tenho certeza! — e como se o bebê pudesse entender, perguntou: — Não é mesmo, Nina? Não é?

A bebê sorriu como se confirmasse.

— Mas senhora, isso seria estranho! — opinou Rosa finalmente. — não acho certo ela ser criada com os mesmos privilégios de sua filha! Se vocês nos derem um teto pra morar já tá bom. Ninguém precisa saber que ela é filha do... Do Sr. Otoniel. Eu posso falar a todos que ela é filha de meu ex noivo!

— Isso parece mais sensato! — concordou Otoniel.

— De jeito nenhum! — protestou Laura. — Ela tem direito de usufruir de tudo isso aqui tanto quanto a Catarina! Ela tem um pai e ninguém vai dizer que o pai dela é outro!

Rosa estava emocionada e agradeceu.

— A senhora é muito bondosa, dona Laura, mas eu tenho medo de perder minha filha! Tenho medo que se envergonhe de mim!

— Isso não vai acontecer. Vamos ensiná-la a ser uma boa cristã!

— Então eu poderei cuidar dela normalmente? — perguntou a moça com brilho nos olhos.

— Sim, Rosa! Ela é sua filha! Por Deus! Eu nunca a tiraria ela de você!

Rosa abriu um sorriso. Laura sorriu também e completou:

— Mas é como eu te disse: Ela saberá que você é sua mãe biológica e te respeitará por isso, mas a mãe oficial sou eu. Eu vou decidir tudo sobre a vida dela até ela ser maior de idade. Entendeu?

— Sim, senhora!

— Você não acha que está exagerando? — perguntou Otoniel impaciente.

— Você será o melhor pai que puder ser para ela! E ai de você se a tratar mal!

— Não conte comigo para paparicar essa bastardinha como você quer! Lhe darei comida e teto, mas nunca afeto!

— Que bom que você concordou! E não a chame de bastardinha! — Concluiu Laura.

E virando-se para Rosa disse:

— Então será assim: Ela terá um quarto só para ela que precisamos providenciar o mais rápido possível e também vamos comprar tudo que ela precisar. Roupinhas, fraldas, brinquedos... Ai, meu Deus! — Laura estava com lágrimas de felicidade— E pra começar, eu acho que ela fez xixi! Precisa tomar um banho, né, meu amor? — E entregando a menina para Rosa, disse: — Vai, meu bem, com sua outra mãe!

— Obrigada, Dona Laura! Muito obrigada! — Agradeceu Rosa meio constrangida estendendo os braços pra receber a menina.

Otoniel assistia tudo calado e meneando a cabeça negativamente, mas ao observar Laura tão empolgada e aparentemente feliz, concordou que talvez aquela seria a melhor solução, se resignou e desistiu de refutá-la. Ela que estava sorrindo, desfez o sorriso ao encará-lo.

— Você tem certeza que é isso que quer? — Perguntou ele.

— Sim! — respondeu ela secamente sentando-se para continuar o seu café, pois até então não tinha comido nada.

Otoniel respirou fundo e vendo que não iria ter sucesso em tentar uma conversa, informou quais seriam as atividades do seu dia, despediu-se e retirou-se.

Rosa foi para o seu quarto com Nina e depois de fechar a porta atrás de si, abriu um sorriso vitorioso.

— Ah, minha Nossa Senhora! — exclamou emocionada. — Minha filha vai ser criada como a princesa dessa casa! — e olhando para a menina — Parece até que é mentira, não é mesmo Nina? Eu nem acredito que eu consegui!

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Capítulo 2

As meninas foram criadas exatamente como Laura exigiu. Cresceram juntas, frequentaram a mesma escola e faziam as mesmas atividades extracurriculares. Catarina era uma criança muito bela. Loira, olhos claros e algumas sardas. Nina também era muito linda. Branca, mais branca que a Catarina, mas tinha cabelos castanhos escuros que iam até os ombros, com uma franja bem penteada cobrindo a testa e tinha lindas covinhas no rosto quando sorria. Seus olhos eram grandes e negros como os do pai.

Nina

Catarina

Catarina era chorona e na maior parte do tempo estava de mal humor e fazendo birra. Sempre estava querendo algo e se fosse contrariada, dava ataques de raiva.

Nina era uma criança tranquila. Estava sempre sorrindo, correndo atrás de algum bichinho, cantarolando e explorando a fazenda, perdida no seu mundinho encantado. Ela não gostava muito de brincar com sua irmã. As duas, de vez em quando, brincavam juntas. Mas a brincadeira só ia bem até que Catarina começasse a dar chiliques e culpar Nina de alguma coisa. Aí, ela tinha que ouvir as broncas de sua mãe Rosa.

— Eu já te falei mil vezes pra não incomodar a Catarina. Você não é filha da Dona Laura, entendeu? Ela só será boa até certo ponto! Se você não se comportar, ela vai te castigar! E qualquer dia desses eles vão mandar a gente embora por sua culpa!

Por isso, Nina preferia brincar sozinha com seus brinquedos ou com Bia, uma coleguinha da escola e filha do caseiro da fazenda vizinha. Lipe, o filho do vaqueiro, às vezes se juntava a elas para brincarem. Essa amizade não ficou só na infância. Tornaram-se inseparáveis.

Nina se parecia muito com o pai e isso incomodava muito Otoniel. Quando alguém lhe dizia:

— A Nina se parece muito com você!

Ele sempre imaginava que a pessoa estava dizendo: — Nossa, você traiu mesmo a sua mulher!

A presença dela o incomodava. Toda vez que via a menina pelos cômodos da casa, sempre a repelia gritando palavras de ordem e não escondia de ninguém seu desprezo por ela. Mas ele tinha que cumprir o que havia combinado com Laura. Então, regularmente fazia seu papel de pai. Comprava para ela presentes de aniversário, dia das crianças, páscoa, Natal etc. Essas demonstrações de afeto do pai eram suficientes para ela. Mas, na verdade, os presentes que ele costumava dar a Nina eram sempre bem mais inferiores aos que ele comprava para Catarina. E ele ficava muito irritado quando Nina, mesmo recebendo brinquedos ruins, se mostrava muito agradecida e feliz. Enquanto que Catarina, nada parecia satisfazê-la. Ela sempre reclamava: “Não era esse que eu queria! ”; “Não gostei!”; “ Credo, que horrível!”

Mas Otoniel alimentava todos seus caprichos e fazia questão de deixar bem claro que Catarina era sua favorita. Ele suportava a presença de Nina em sua casa por respeito à sua esposa. Nina, inocentemente, não se cansava de tentar agradar o pai. Ela era estudiosa, inteligente, muito dedicada em suas tarefas. Era a primeira aluna da sua classe e suas notas eram sempre altas. Porém, Otoniel ignorava tudo o que vinha da menina. O fato de Nina ser bem mais inteligente que Catarina também o aborrecia. Ele fazia questão de elogiar a filha favorita na frente da outra, mas isso não surtia muito efeito. Nina sempre ficava feliz pela irmã. A menina, mesmo sendo rejeitada, gostava muito de ter um pai. Contudo, quando ela lhe trazia aqueles cartõezinhos de declaração de amor ao papai com coraçãozinho e outras fofurinhas, ele resmungava, amassava e jogava no lixo. Mas, no fundo, ele sabia que ela era só uma criança e estava sendo sincera. Às vezes ele parecia amolecer diante da doçura de Nina, como no dia em que lhe deu uma linda boneca de pano que a deixou muito feliz. Ela a chamava de Lara e passou a ser sua boneca favorita.

Já o relacionamento com Laura compensava toda essa indisposição com o pai. Ela realmente gostava muito de Nina. Quando ainda eram bebês, Laura chegou a trocar com Rosa os horários de mamadas das meninas, amamentando Nina por muitas vezes. Conforme dizia ela, isso era necessário para que fosse criado um vínculo entre as duas. Enquanto Rosa, por vezes, amamentava a Catarina. Ela não questionou a patroa, pois imaginou que essa troca seria muito bom pra diminuir a animosidade que fora criada entre elas.

Nina se afeiçoou muito à Laura, quem ela chamava de mãe sem nenhuma dificuldade. Laura se dedicava muito em ensinar Nina muitas coisas. Não era nada forçado o relacionamento das duas, pois Nina gostava de tudo que vinha da mãe adotiva. Enquanto Catarina se mostrava mais apegada com o pai, tomando gosto por montaria e o trato com os cavalos, Nina preferia as lições de piano, francês, aula de bordado, histórias da bíblia e outras histórias também. Laura era muito religiosa e fazia questão de passar os seus princípios para as filhas, mas Nina era a que mais se empolgava com tudo isso. Quando era bem pequena, se apaixonou pela história de Moisés. Era sua favorita. Se identificava com ela, pois era amada por uma mulher que não era sua verdadeira mãe. A história foi uma resposta a esta pergunta:

— Mamãe, porque eu tenho duas mães?

Laura, respirou fundo e respondeu:

— Porque você é uma criança especial! E crianças especiais são muito amadas! Então, precisam de muita gente pra amá-las! Você conhece a história de Moisés?

— Não... Quem é?

— Um menininho muito amado! — Ele era uma criança especial? — Sim! Muito especial!

— E ele tinha duas mães?

— Sim! Duas mães que o amavam muito! Eu vou contar pra você. Bem... No livro chamado Êxodo...

Laura contava as histórias de uma forma encantadora. Ela tinha talento para isso. Às vezes inseria músicas nos enredos e tornava tudo mais interessante. Nina ouvia tudo muito atenta e envolvida, reagindo a cada situação e fazendo perguntas em alguns momentos.

Catarina não gostava das histórias da mãe. Quando Laura arriscava envolve-la nessa brincadeira, ela sempre dormia ou interrompia a narração dizendo:

— Que chato! Vamos fazer outra coisa!

— Cala boca, Cata! Eu quero ouvir! — repreendia Nina.

A medida que o tempo foi passando e as meninas foram crescendo, Nina desistiu de conquistar o pai. Entendeu que ele nunca mudaria. Afinal de contas, ele tratava mal a maioria das pessoas. Em compensação ela e Laura foram ficando cada vez mais próximas com o decorrer dos anos.

Capítulo 3

NINA

MURILO

CATARINA

O ano agora é 2015. As meninas estão com um pouco mais de 20 anos. Catarina ajudava o pai com os negócios da fazenda. Ela não gostava muito de lidar com a papelada e outras burocracias e nem tinha inteligência para isso. Esse trabalho era feito por outros funcionários. Catarina gostava mesmo de mexer com os cavalos. Montava muito bem e tinha se tornado campeã da prova dos tambores daquela região. Era considerada uma das moças mais belas da cidade. Alta, magra, loira, rica e muito vaidosa. Motivos que a faziam ser muito cobiçada e disputada pelos rapazes. Ela era realmente muito bonita e muito segura de si. Isso a deixava esnobe e inacessível.

Nina era muito diferente da irmã. Era bonita também, mas tinha uma beleza distinta. Ela era muito simples e se vestia com modéstia. Na verdade, tentava ao máximo não ser comparada à Catarina. Queria evitar aborrecimentos. Sobretudo com seu pai. Nunca se deslumbrou com a fortuna dele. Nem tinha grandes ambições. Tornou-se professora. Tinha talento para lidar com crianças. Seu maior sonho era casar e constituir família. Queria ter três filhos. Já tinha até os nomes. Nina era muito espontânea e sorridente. Sua alegria era contagiante.

Fazia amizade com todos, sem distinção. Principalmente com as pessoas simples da cidade e da fazenda também. Gostava de dar atenção às elas e se envolver em suas pequenas questões. De vez em quando pegava carona na carroça de Seu Osvaldo, o senhorzinho que entregava o leite na cidade. Adorava ouvir as histórias dele. Ele tinha quase setenta anos, mas ainda era muito saudável e forte.

— Oi Nina!

— Oi Seu Osvaldo!

— Indo a pé de novo pra escola?

— É, resolvi fazer uma caminhada!

Seu Osvaldo deu uma gargalhada.

— Sobe aí! Você tem que trocar aquele carro, menina! Ele vive te deixando na mão!

— Ah, não! E qual desculpa eu vou arrumar pra pegar uma carona com o senhor?

— Ra-ra-ra! Sobe aí, então!

Agora temos um Otoniel um pouco mais velho e também mais carrancudo que antes. Laura ainda mantinha uma beleza jovial, mas também tinha sofrido a passagem do tempo. Rosa permanecia trabalhando no casarão, porém agora, por estar mais velha, sua patroa colocara uma moça chamada Tereza para ajudá-la na cozinha e nos serviços. Rosa também passou a ter um quarto melhor e se sentava para fazer as refeições junto com a família.

Otoniel criava várias raças de touro em sua fazenda. Dentre eles estavam os famosos touros de rodeio. Existia em sua fazenda um touro muito valente da raça australiana Charbray. Ele era muito bravo e nenhum peão tinha conseguido montar nele ainda. O Fazendeiro resolveu lançar um desafio oferecendo quinhentos mil reais para o corajoso que conseguisse ficar três segundos montado no bicho. A apresentação seria uma das atrações da próxima festa. A notícia se espalhou causando o maior alvoroço na cidade.

Chegara na cidade um jovem veterinário chamado Murilo Freitas. Ele e seu amigo e sócio José Roberto Viana montaram uma loja de produtos veterinários e coisas da roça. Os dois tinham feito faculdade juntos na capital. Roberto era filho da cidade, mas Murilo tinha vindo do interior de Minas Gerais. Era um rapaz bonito, branco bronzeado, corpulento, olhos claros, cabelo ondulado castanho claro, quase loiro e barba por fazer. Tinha 28 anos. Sua forma de se vestir era simples como a de qualquer comerciante, mas arriscava a vestir roupas de cowboy de vez em quando, ao prestar serviços nas fazendas, o que lhe caía muito bem. Murilo era um rapaz muito alegre e extrovertido e estava muito empolgado com sua nova fase de vida e cheio de planos para o novo empreendimento.

A festas de rodeio e vaquejada estavam se aproximando. Eram as mais esperadas do ano. Vinha gente de todos os lugares daquela região. Peões de todo país e até do exterior. Movimentava e aquecia o comércio da pequena cidade e todos já estavam se preparando para o evento, principalmente os fazendeiros. A história do touro estava causando burburinho.

JOSÉ ROBERTO ( BETO)

EVARISTO JÚNIOR

Roberto chegou na loja anunciando a novidade e correu até ao computador para abrir o site da cidade para confirmar realmente se era verdade.

— Esse velho inventa moda! — exclamou ele.

Murilo que estava organizando uma das prateleiras, se mostrou curioso:

— Está falando de quem?

— O Sr. Otoniel!

A resposta lhe soou indiferente. Ele perguntou:

— E quem é Otoniel?

Roberto o olhou admirado por ele não saber de quem se tratava:

— Sr. Otoniel Montenegro! O maior fazendeiro da região! — falou ele com empolgação.

— O pai da moça mais linda da cidade! — Completou Júnior, com um sorriso abobalhado.

Júnior era o único funcionário contratado até o momento e estava meio perdido ainda, por isso trazia consigo uma flanela em mãos para sempre limpar alguma coisa. Murilo sorriu de lado, e disse:

— Moça mais linda da cidade, é? Isso muito me interessou! – Revelou ele.

Júnior, percebendo seu interesse, puxou o celular e acessou uma foto de Catarina em uma rede social e lhe mostrou. Murilo ao se deparar com a imagem, arregalou os olhos admirado.

— Ai, papai! – Exclamou ele fazendo um gesto como se tivesse recebido um golpe no coração.

Júnior sorriu e deslizou o dedo sobre a tela. Apareceu outra foto da moça ainda mais sensual.

— Ui! – Falaram os dois em coro.

— Como é mesmo o nome dela? — Perguntou ele impressionado.

— Catarina. Catarina Montenegro!

— Catarina! – Repetiu ele deslumbrado – Nome de rainha!

— Melhor não se animar! — Advertiu Roberto.

— E por que não? – Perguntou ele tranquilamente ainda sondando as fotos da moça.

— Você não conhece o pai dela! — disse Roberto.

— O velho é muito brabo! — Acrescentou Junior recolhendo o celular.

Murilo fez uma careta que mostrou que ele não se importou muito com a informação.

— E o que você estava dizendo mesmo, Beto? O que o velho aprontou? – Perguntou ele curioso.

Roberto, então revelou:

– Ele está oferecendo 500 mil reais pra quem conseguir montar por três segundos no Tsunami!

— Montar no que?

— Tsunami é o touro! — Informou Junior. — O Zeca tentou montar nele ano passado, não saiu nem do brete!

Murilo fez uma expressão de admiração, enquanto Beto lhe lançava um olhar de desafio.

— Não quer se arriscar, Murilo? – Perguntou ele animado.

— Até que não seria nada mal ganhar 500 mil!

— Deus me livre! Eu não me arriscaria nem por um milhão! — Comentou Junior

— Eu também não tenho tanta coragem! – Revelou Roberto.

Murilo cruzou os braços, analisou a imagem do touro na tela do computador e falou:

— Hum é algo a se pensar bem! É...Vamos ver quem são os homens corajosos dessa cidade, então!

Obs: Postando um capítulo por dia. Se der, coloco mais de um.

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