Acaso é uma eventualidade, algo que acontece sem que qualquer um de nós tenha a mínima expectativa de que realmente venha a se tornar real.
A minha vida e a de Luna se chocou casualmente, movidas pelo intenso e imensurável desejo de seguir em frente, mesmo que as esperanças já quase se esgotassem em meio ao caos. Jamais quis que ela fosse minha amante, outra palavra de cunho muito duvidoso. Desde o princípio fui o amante dela, aquele que a apreciava e mantinha intenso afeto, mas nunca pensei nela como um objeto. A vida de Luna foi resumida a dor e a relações ilícitas. Desde o primeiro momento meu objetivo foi mudar essa visão e transformá-la em uma mulher que poderia amar...
E ser amada.
O papel em minha mão parecia reluzir aos meus olhos enquanto eu dirigia pelas estradas escuras na noite estrelada e quente. O carro corria no asfalto, evidenciando minha pressa para chegar ao destino desejado, pois perder tempo era um luxo e um dos poucos que eu não tinha! O vento ricocheteava em meu cabelo claro e meus olhos, por trás dos óculos escuros, se mantinham fixos na estrada. Apenas o vazio tomava conta da paisagem, até que finalmente uma luz vermelha piscou distante e bem ao fundo da visão.
— Enrico, é sua única saída! — Tristan disse firmemente, me estendendo um pequeno cartão de visitas decorado com fotos de garotas seminuas — Sei que parece antiético, mas precisa comprar uma esposa! Quero dizer, alugar uma garota até que consiga
resolver tudo isso! Se não fizer, perderá sua filha para sempre e isso sim é inadmissível!
Minha mente buscava ignorar a voz de meu irmão
insistentemente presente, mas meu coração sabia que Tristan era sempre claro e sincero. Eu estava no fundo do poço e, se demorasse um pouco a tomar qualquer decisão, a guarda de minha pequena seria tirada de mim.
Esse risco, definitivamente, não estava em questão.
A luz vermelha foi se aproximando mais e mais a cada quilômetro rodado e minhas mãos tremeram mais forte contra o volante. Um aglomerado de carros se fez presente no
estacionamento do lugar e notei que por fora era como qualquer boate, principalmente pela indiscreta luz vermelha que piscava para chamar a atenção dos homens. Por dentro, eu sabia muito bem, tratava-se de uma casa de prostituição.
Desci do carro decidido e com o talão de cheques no bolso. Era meu dever como pai sair dali com uma compra adquirida e um negócio fechado! Não havia maneira de fugir da realidade dolorosa, mas eu não estava disposto a correr qualquer risco em relação a Laila.
Empurrei a porta escura e mergulhei diretamente em uma atmosfera sexual, com música erótica, cheiro perturbador de álcool e cigarros. A massa quente e inconfundível indicava o quão sujo e pesado era o ambiente e segui rapidamente até o balcão longo com uma passarela de postes de pole dance.
Meu coração disparou ao pensar sobre as pessoas que ali estavam, principalmente as mulheres seminuas sobre o palco. Algumas estavam explicitamente nuas e se moviam próximas aos homens, algo que me perturbou instantaneamente.
Jamais fui santo, mas nunca me envolvi com tráfico de mulheres e prostituição. Pagar para ter sexo me parecia imoral e antiético, totalmente contra meus princípios como homem. Nada do que fiz em toda a vida, mesmo na época de garoto na faculdade, me levou a descer tão baixo quanto agora.
Não prestei a menor atenção nas mulheres nuas, pois toda minha concentração se dirigia a moça de cabelos vermelhos que mascava um chiclete e ao mesmo tempo bebia uísque conversando com um homem mais velho. O nome Danna era exibido em um cartão pequeno pendurado em seu busto, coberto por um sutiã vermelho e brilhante. Era exatamente isso... Danna era o nome da mulher que Tristan me mandou procurar na tal boate.
Segui até Danna e ela, no momento em que me viu, deixou de conversar com o homem para encarar-me enquanto enrolava um de seus cachos ruivos nos dedos de maneira sedutora. Desconfortável, estendi a mão em direção a ela, que aceitou rapidamente o cumprimento formal.
— Boa noite, querido — Sua voz era maliciosa e tentei relaxar, ainda tenso — Procurando companhia para uma noite tão agradável? Posso ajudá-lo, certamente... — Mordeu os lábios e o homem junto dela pareceu incomodado.
— Você é a Danna, não é? — Assentiu de imediato, interessadíssima no que eu tinha para dizer — Sou Enrico Casablanca, irmão de Tristan. Ele me recomendou o lugar porque preciso fazer uma compra. Tenho um negócio urgente.
— Enrico Casablanca? — O interesse redobrou ao ouvir meu nome e ela se animou, dispensando o homem ao lado com apenas um olhar — Tristan me avisou que você viria e sua compra já está negociada! — Confirmou, chegando ainda mais perto de mim. Me mantive parado, limitando-me a observá-la — Obviamente você precisa escolher o produto e acertar o valor com o chefe. Ele está a sua espera, querido, e garantiu ser generoso contigo. Tristan foi nosso cliente de muitos anos! Nunca efetuou uma compra, mas passou momentos inesquecíveis com nossas meninas por aqui — Sorriu e passou uma das mãos em meu peitoral — Pretende passar momentos conosco também? — Desviei dela o mais educadamente possível.
— Desculpe, mas realmente o único que me interessa é a compra. — A garota não se deu por vencida, mas manteve uma distância segura — Como devo proceder? Basta escolher o produto com o seu chefe?
— O chefe permitiu a escolha do produto que desejar — Apoiou-se no balcão e me encarou fixamente — Qualquer garota daqui poderá ser sua e vale ressaltar que ele não costuma ser tão generoso, mas como se trata de um Casablanca e irmão de Tristan... Você tem seus privilégios. — Mostrou o salão, deslizando um dedo por minha camisa. Meu estômago afundou por saber que realmente Tristan passou por uma fase onde não conseguia ficar mais de dois dias sem transar — Após escolher seu produto, me comunique quem foi sua escolhida. Subiremos para acertar o valor com o chefe — Novamente acariciou meu braço.
— Qualquer mulher? — Perguntei mais uma vez, olhando ao redor em busca de algo que me interessasse.
— Qualquer uma! — Reafirmou, convicta — Até mesmo eu! — Piscou angelicalmente e sorri sem muito humor.
— Obrigado pelo... Atendimento — Concluí cordialmente, dando as costas a ela para observar atentamente o salão movimentado.
Em silêncio caminhei até uma poltrona para assistir ao show das garotas e sentei-me para prestar devida atenção. Não podia ser simplesmente uma garota de programa qualquer... Precisava ser uma que parecesse uma mãe de família.
Certamente em um lugar como esse não deve existir uma mulher com um letreiro na testa demonstrando tais qualidades, porém tão pouco poderia desmerecê-las.
Admirei mulheres lindas, de corpos perfeitos e semblantes montados. As cenas me proporcionariam prazer, se não fosse tamanha tensão acumulada em meus ombros. A nudez das garotas me era bloqueada pelo subconsciente, uma vez que o mesmo estava pressionado a fazer a escolha certa. Eu visualizava seus rostos encaixados em uma foto de família ao meu lado e ao lado de Laila.
Tudo aquilo seria apenas por um tempo convincente... Apenas uma encenação, mas nenhum dos rostos se encaixava. A face da garota morena que usava apenas uma calcinha mínima e descia até o chão no poste metálico parecia impossível, exatamente como o bonito rosto da garota de fios cor de rosa e tatuagens pelo corpo exposto.
Várias mulheres passaram pela pista de pole dance e muitas delas vinham perto para apresentações particulares com os demais homens. No momento, um casal se esfregava ao meu lado e desviei o rosto, encarando a escada que levava ao andar alto.
Caminhei pelo salão para avaliar melhor e, quando me dei conta, as dançarinas mudaram novamente no palco central. Ao sentar na poltrona novamente, ouvi os homens comentando sobre alguma dançarina em especial muito excitados, deixando até mesmo as próprias garotas que os acompanhavam irritadas. Não demorou para que eu compreendesse o motivo de tamanha
expectativa.
Três garotas estavam no palco e duas eram loiras e gêmeas idênticas. Ambas usavam o mesmo modelo de fantasia erótica, porém não perdi muito tempo com elas. Meus olhos recaíram sobre a garota do meio e se prenderam nela com ação magnética. Não era exatamente a mais linda, porém se notava que era muito jovem e deslocada, fato que repulsivamente excitava os demais.
Usava um sobretudo escuro, o cabelo castanho descia até a cintura e tinha olhos escuros grandes e intensos. Encarando-a, tive a impressão de que pedia socorro com a expressão triste e fechada. Dançava de maneira cadenciada e hesitante, pedindo permissão para se revelar. Vendo-a, jamais poderia dizer que se tratava de uma garota de programa e isso me interessou demasiadamente.
Sequer quando abriu a roupa e ficou somente de lingerie — um modelo preto e brilhante — consegui encaixá-la como uma mulher que se vendia na noite.
Meus olhos se tornaram incapazes de abandoná-la conforme se movia e meu corpo não conhecia aquela sensação de luxuria extravagante há muito tempo. Passou pela minha cabeça ser capaz de subir no palco e fazê-la minha ali mesmo, na frente de todos, mas achei mais sensato saber o valor da noite com ela. Eu estava mesmo considerando um programa em meio ao caos da escolha por minha futura noiva falsa?
Afastei o pensamento e uni as mãos no colo quando a garota se abaixou em um movimento sexy seguindo a música, exibindo o corpo ainda mais. O sangue corria em minhas veias mais rápido que o normal e todo meu ser pulsava de desejo por ela. Havia brilho corporal sobre os seios e na barriga dela, dando a ideia de que brilhava a cada movimento.
A chamavam de “dançarina brilhante”.
Após um movimento de corpo gracioso e perfeitamente executado onde ela jogou o cabelo para frente e se abaixou de pernas fechadas, nossos olhares se cruzaram enquanto a garota voltada a ficar de pé em uma postura elegante e bem coordenada.
Uma conexão direta entre nós dois se estabeleceu quando nos encaramos e rapidamente me senti incendiado por ela.
A bonita mulher mordeu os lábios e voltou a se movimentar graciosamente com um movimento no poste reluzente. Seus olhos verdes eram penetrantes, sexys e extremamente excitantes em direta conexão com os meus. Um joelho de cada lado foi posto no poste e ela desceu por ele ocultando seu corpo tapado pelo lingerie brilhante.
Praguejei baixinho ao me dar conta que a garota de meu interesse não se vestia como as outras. Ela, em especial, dançava com o lingerie intacto no corpo enquanto as gêmeas se encontravam totalmente nuas nos outros postes de dança. O fato me intrigou... Porque dançava sensualmente e não se exibia como as outras?
Quando acabou, eu quis mais. Desejei correr até ela e perguntar seu nome, mas a menina saiu do palco e desapareceu nos camarins. Os homens ao redor se movimentaram falando sobre a “dançarina brilhante” e resolvi correr para conseguir algo em relação a ela, que despertou totalmente o meu interesse. Poderia ser a escolhida!
— Escolhi o produto, por fim! — Debruçado no balcão com um sorriso sutil, encarei Danna fixamente. A mulher brilhante estava ali, naquele momento, para ser minha e isso aconteceria!
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