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A Menina Rica E O Domador De Cavalos

A origem de Helena

Helena Mendes de Sá: Linda, humilde, boa de coração. Sua maior fraqueza: O pai, sempre o amou demais e nunca conseguiu dizer não para suas ordens.

A

Antônio Mendes de Sá, um dos homens mais ricos, poderosos e influentes do Brasil. Acostumado a todos obedecerem suas ordens. Rígido, frio e controlador. Sua maior fraqueza: a filha Helena, pensa que sabe o que é melhor pra ela,, toma as decisões da.vida dela sem consultá-la. Acha a filha inconsequente e irresponsáve

Clara a melhor amiga de Helena, alegre, divertida, espontânea. Será capaz de tudo pela felicidade da amiga.

Antônio estava preocupado com sua filha, ela já não era mais uma menina, aliás, já estava em idade de encontrar alguém para formar uma família, porém Helena parecia não estar preocupada com isso, acabara de terminar a especialização em clinica pediatria e acabara de voltar do exterior, chegava tarde em casa todas as noites, isso quanto ela chegava, o que estava causando muitos atritos com seu pai.

Mas também ela queria aproveitar todo o tempo perdido quando vivera fora do país, rever os amigos, dançar, beber, se divertir, pois antes não pudera por ter que se dedicar aos seus estudos, profissão esta que ela nunca fez questão de ter, o fez por exigência de seu pai.

A família de Helena era rica e poderosa, os Mendes de Sá. O pai de Helena, apesar de ser dono de uma grande fazenda de café em Minas Gerais, morava com a família na capital de São Paulo e tinha várias propriedades e negócio tanto em SP quanto em MG.

Antônio, por ser poderoso queria um futuro maravilhoso para sua filha, um futuro de luxo, ao lado de um homem bem sucedido, que de alguma forma pudesse formar aliança financeira com a família e lhe trazer benefício, e também pudesse dar a Helena uma vida luxuosa.

E ele já tinha escolhido quem seria essa pessoa, Gabriel Alcântara da Silva, filho do deputado Alcântara. Aliás, já havia feito todos os acertos para que ambos se casassem. Negociara a filha como se ela fosse um bem precioso, mas é claro, interessado nas vantagens financeiras voltadas para ele e para o aumento de seu império.

Esperou Helena chegar em casa depois da Clinica, porém mais uma vez ela não chegou....

Era fim de expediente e Clara, amiga de Helena liga para ela:

- Heli... Vamos sair para beber e conversar hoje? Estou precisando me distrair tive um dia estressante no trabalho!

Helena estava cansada, mas como negar algo para sua melhor amiga?

- Vamos sim Clarinha, e aonde iremos?

- Tem um barzinho novo que acabou de inaugurar, com ótimos drinks e dizem que muitos gatos! Disse Clara.

- Você não tem jeito mesmo né? Não dá ponto sem nó!

- Claro Heli, você conhece forma melhor de descontrair do que com os gatinhos!

- Tudo bem então, mas preciso passar em casa para um bom banho e trocar de roupa! Disse Helena.

- Não! Vamos direto para a minha casa, toma banho lá e iniciamos os trabalhos com um espumante que tenho gelado esperando por nós! Falou dando risada. Vamos? Vai ser divertido! Se você for pra casa, capaz do teu pai ficar te empatando e você nem sair, como sempre ele faz! Alias, você precisa mudar amiga. Não pode deixar seu pai decidir sua vida.

- É amiga, você tem razão, vou fazer isso...

E assim Helena foi direto para a casa de Clara, tomou banho, colocou uma de suas roupas, escolheu a menos provocante, o que era difícil de encontrar em meio às roupas de Clara.

As duas eram muito diferente, Helena era mais discreta, tinha uma beleza única. Tinha os cabelos castanhos, longos e levemente encaracolados, muito sedosos, e seu corpo era muito bonito, com seios grandes, mais que conviviam harmoniosamente com o resto do seu corpo, magra, com uma cintura fina e um belo bumbum e os olhos grandes cor de mel. Vestia-se sempre comportadamente, porém, não dispensava um decote a fim de mostrar o que Deus havia lhe dado.

Já Clarinha não era menos bonita, era loira, com belos olhos azuis, magra, com um corpo invejado por muitas, pele bronzeada, cabelos longos e lisos. Vestia-se sempre sexy e tinha uma autoconfiança como poucas pessoas, sabia que era bonita e usava isso na arte da sedução. Sempre que saia flertava com alguém.

No barzinho falavam sobre a vida de Helena fora do país e o quanto ela não aproveitou os tempos de juventude. Não que ela fosse velha, mas por ser uma mulher rica, sempre estudou nos melhores colégios e teve uma das melhores educações. Porém seu pai escolheu internatos com regras rígidas.

A diversão ficava somente quando vinha de férias, e somente depois que conheceu Clara. Ambas eram amigas de longa data, e Clarinha sempre trouxe vida para a vida rígida que Helena levava.

Nos tempos de faculdade tinha que estudar muito pois medicina exige muito da pessoa, e uma das qualidades de Helena que ela sempre gostou de fazer tudo bem feito quando se propunha a fazer alguma coisa, portanto não sobrava tempo para festas e baladas, e então a especialização fora do país. Quem determinou que Helena fosse médica foi seu pai, ela queria na verdade estudar veterinária, se especializar em cavalos. Amava os animais, e amava cavalos, a remetia a uma época de criança que vivera na fazenda em Minas Gerais, época mais feliz que ela podia se lembrar até então.

Enquanto conversavam, Clarinha não perdia tempo e flertava com dois rapazes na mesa ao lado. Não demorou muito para que eles viessem até elas.

- Ola, podemos fazer companhia para vocês? Respondeu o mais simpático.

- Claro, disse Clarinha toda animada, - Me chamo Clara e essa é minha amiga Helena!

- Eu sou o Gustavo e esse é o Gabriel.

Trocaram cumprimentos e sentaram-se todos na mesma mesa.

Gustavo era um homem bonito, moreno, forte olhos negros e penetrantes e cabelos castanhos. Era simpático, educado, alegre, divertido. Clarinha ficou encantada com ele.

Já Gabriel também era bonito, louro, olhos verdes, também forte, dava pra ver que era elegante e fino. Porém aos contrário de Gustavo, já no inicio da conversa percebia-se que era um homem soberbo, que se achava superior a todos, fazia comentários machistas. Tratava mal os garçons e ria e debochava das pessoas mais humildes.

Gustavo ficou incomodado com a atitude do amigo e pediu desculpa para as meninas, disse que era culpa do álcool.

- Não é culpa do álcool não. Aproveitem meninas, aproveitem porque logo, logo, o melhor partido de São Paulo vai estar comprometido. E essa felizarda vai ter vida de rainha, mas terá que andar na linha, será meu troféu e terá que condizer comigo. Deverá ser obediente a mim e como toda mulher descente fazer o que seu marido mandar. Dizia Gabriel.

As amigas começaram a criar ranço de tamanha arrogância e soberba, e principalmente da forma como ele via as mulheres. Como pessoas sem personalidade, que nasceram para viver em função dos maridos. Tinha pena dele, alguém que pensa assim com certeza não teve uma boa mãe, e fora criado à sombra de um pai com os mesmos pensamentos.

Helena sabia melhor do que ninguém o que é ser criada por um pai autoritário, que se sente o dono do mundo. Porém o caráter da pessoa tende a se destacar, apesar do pai que tinha sempre foi humilde e tratou bem todos, indiferente da classe social. Talvez por ter vivido o inicio da infância na fazenda e ser criada com liberdade por D. Rosa, sua Bá de coração.

Incomodado com a atitude de Gabriel, Gustavo decide que está na hora de ir embora. Despede-se de Clarinha, depois de trocaram contato e então vão embora.

As amigas decidem que é hora de ir também, vão para a casa de Clara, e Helena resolve ficar por lá. Ficam conversando até tarde, sobre os acontecimentos do dia, sobre a vida, o amor e a amizade. O comportamento de Gabriel fez Helena refletir.

Ela sabia que fora criada com mimos, vestia as melhores roupas, tinha os melhores perfumes e frequentou as melhores escolas. Sempre foi linda, sempre gostou de ser admirada pela sua grande beleza. Mas apesar de todos os mimos que tinha, sempre se sentiu aprisionada, como se vivesse em um mundo de falsidade, de pessoas que ficavam perto dela apenas pelo que ela tinha, e não por serem suas amigas verdadeiras e não por admirá-la pelo que era.

Neste ponto Clarinha fez uma objeção: - Espera aí, me tira fora dessa lista! Eu te amo amiga. Te amo pela pessoa maravilhosa que você é!

- Clarinha você é um ser iluminado, você só traz luz pra minha vida, e queria que todas as pessoas desse mundo pudessem ter uma amiga como você. É claro que você está de fora desta lista. Disse como os olhos cheios de lágrimas, sem saber se era efeito do álcool ou da amizade sincera que sentia pela amiga.

Então Helena continuou refletindo com Clara, tenho os melhores pretendentes que alguém poderia ter, homens belos e bem sucedidos, porém todos fúteis, todos andam ao meu lado como se estivessem exibindo um troféu para a sociedade.

Helena chegou a conclusão de que apesar de ser rica realmente era uma jovem infeliz, sentia como se jamais tivesse nascido para aquela vida, sentia como se seu destino estivesse longe de toda aquela riqueza, de toda aquela vida badalada. Foram diversas vezes que Helena desejara ter nascido pobre, não miserável, mas que pudesse ter uma vida modesta, tivesse um esposo que a amasse e filhos para alegrar a sua casa. Mas nem a profissão ela pode escolher sozinha, sempre teve que fazer as vontades do pai. Neste momento Helena percebe que é exatamente o tipo de mulher que Gabriel disse desejar. Que vive à sombra de um homem: seu pai.

Por algum motivo, nascera rica, seu pai era poderoso, e como todos os pais queria um futuro maravilhoso para sua filha, um futuro de luxo, ao lado de um homem bem sucedido, com um apartamento luxuoso em uma cobertura, na capital do estado.

Mas, Helena, sempre gostou da fazenda, tinha um saudosismo muito grande quando lembrava da sua infância lá, com Dona Rosa, que fazia suas comidas preferidas, e parecia que ainda lembrava do gosto que jamais encontrara algo que se assemelhasse com tamanho sabor. Ah, que saudades Helena tinha, saudades do cheiro do mato, das águas batendo nas pedras, dos banhos de rio, da cachoeira maravilhosa que tinha naquele lugar, dos passeios a cavalo, de comer manga direto do pé. Lembrava de cada detalhe de sua infância, de quando era deixada livre por lá, de quando podia se sujar e ninguém lhe chamava a atenção. Helena sempre ia para a fazenda com seu pai, pois a mãe nunca gostou de lá, então enquanto o pai tratava dos assuntos da fazenda deixava a pequena sob os cuidados de Dona Rosa, que com a ajuda da filha Maria, deixavam a criança viver como tal, viver como toda criança deveria ter a oportunidade de viver, de andar descalço pela grama, de se sujar no barro, de correr, brincar, e viver sem medo da maldade que hoje o mundo as cerca.

Porém quando a menina ganhou idade de ir para a escola, foi mandada para estudar em um colégio interno, e depois foi para a faculdade, onde cursou Medicina, e nunca mais voltou para a fazenda, guardando apenas em sua mente as lembranças de lá, lembranças da única época em que se sentira realmente feliz!

- E porque você não volta pra fazenda Helena? Já está na hora de você tomar as rédeas da sua vida. Seu pai não pode obrigar você a fazer o que ele quer! Não é assim que a vida funciona, estamos em meio ao século XXI!

Helena sabia que a amiga estava certa, mas ela amava o pai, apesar de todos os seus defeitos. Sabia que ele queria o melhor para ela sempre.

- Vamos dormir porque essa conversa ficou muito melancólica! Disse para a amiga.

Então as duas tomaram banho e foram para o quarto

A exigência de Antonio

Helena acorda com seu celular tocando. Na tela vê o contato Pai piscando sem parar.

Ela não estava com a menor vontade de falar com seu pai logo cedo, sabia que teriam uma discussão. Tem sido assim desde que ela retornou do exterior.

Mas afinal, ela sempre fez tudo o que seu pai exigiu, estava exercendo uma profissão que ele escolheu para ela, apesar de Helena adorar crianças! Estava morando na mansão com ele, e fez todas as vontades dele durante toda a sua vida. Estava cansada disso, sentia que nunca soube qual o seu lugar neste mundo. Queria poder ver a sua vida conforme sempre desejou. Sentia-se covarde por não fazer isso... Não tinha coragem de enfrentar seu pai e lutar para encontrar seu lugar, sua felicidade. Neste instante quis que o chão se partisse e a engolisse, seria bem mais fácil desaparecer do que enfrentar tudo isso. Tinha uma sensação de que se não tomasse rédeas da sua vida, as coisas iriam piorar e muito.

Deixou o telefone tocar até que a ligação caísse, levantou, foi para o banho e em seguida desceu para o café da manhã.

Clara já tinha preparado o café e uma mesa cheia de coisas boas para elas, com direito a salada de frutas, iogurte, suco de laranja, pão de queijo e até um bolo de chocolate.

- Nossa! Assim vai me deixar mal acostumada amiga! Ou está querendo me ver gorda?

- A minha amiga merece o melhor sempre, aposto que o café da manhã na sua mansão é dez vezes melhor do que esse!

- Não exagera Clarinha, não é tanto! Por mim poderia ser bem menos, mas você sabe como o coronel é né? Coronel era a maneira de Helena falar do pai, apelido dado devido ao autoritarismo do mesmo.

- Vamos tomar nosso café e nos apressar, estamos atrasadas, te deixo no trabalho no caminho da clinica.

- Não vai passar em casa Heli? Seu pai deve estar louco atrás de você!

- Nem me fale amiga.... Já me ligou umas 5 vezes, mas não atendi, não estou com cabeça de começar o dia com mais uma discussão com ele!

Mais tarde na clinica, enquanto Helena terminava o último atendimento antes do almoço ao abrir a porta do consultório dá de cara com o pai. Sabia que vinha bomba pela cara dele, mas fez de conta que nada havia acontecido.

- Papai, entre o Senhor Nunca me visita no trabalho!

- Pelo jeito é só aqui que consigo falar com minha filha! Parece que esqueceu que tem casa e outras responsabilidades com a família.

- Ah papai, me desculpe, sai com a Clarinha, ela não estava bem ontem, o tempo passou e acabei dormindo na casa dela.

- Poderia pelo menos ter decência de avisar seu pai né? Falou ele esbravejando.

Se você fosse menos possessivo, autoritário e enérgico eu não estaria tão ausente pensou ela! Mas não estava com a menor paciência de iniciar uma nova discussão. Conhecia bem o pai que tinha e não estava pronta para afrontá-lo.

- Me desculpe papai, sei que não tenho me comportado bem, mas acabei de voltar do exterior! Não tinha vida social e nem amigos com quem poderia confiar. Agora que retornei preciso disso pra me sentir viva.

- Pare de besteira Helena, você não é mais uma menina para essas coisas. Já está com 26 anos e a maioria das mulheres com a sua idade já estão casadas ou noivas, e você se acha uma adolescente! Está na hora de casar e agir como a mulher de classe que é, para isso que investi tanto na sua formação.

- Melhor parar com esse assunto, o Sr, sabe muito bem que não quero me casar tão cedo!

- Cedo Helena? Como assim cedo, sua mãe com sua idade não só já tinha casado como já tínhamos você!

- Papai, me desculpe preciso ir, tenho uma reunião no hospital, nos falamos mais tarde em casa!

- Tudo bem minha filha, mas exijo que hoje você vá para casa, está mais do que na hora de você saber dos planos que tenho para você e sua vida. A partir de agora seu destino já está traçado.

Helena se sentiu desgostosa, a cabeça lhe doía e ela não queria mais continuar aquela conversa. Queria que o pai fosse embora, e como não podia falar isso para ele, falou da reunião no hospital. Não deixava de ser verdade, mas ela ainda tinha umas duas horas até lá.

Despediu-se do pai, prometendo que esta noite iria para casa e eles conversariam.

Quando o pai saiu do seu consultório Helena se afundou na cadeira, mais uma vez desejou que o chão abrisse e a engolisse. Sabia que o pai já tinha planos para ela e nada poderia fazer. Nunca teve coragem de desafiar o pai e não seria agora que teria. Sentia-se uma mulher fraca e impotente, mal tinha ideia da força que tinha em seu interior, força esta que estava prestes e explodir.

Pediu para Kátia, sua secretária entrar para repassar a agenda da tarde! Devido à reunião no hospital sabia que não teria consultas na clinica, e que deveria retornar ao trabalho somente no dia seguinte.

Então saiu para o almoço.

Coincidentemente, no restaurante que costuma frequentar, encontrou com Gabriel, o rapaz que conhecera na noite anterior. Pensou em disfarçar e sair, procurar outro lugar para comer, mas não teve jeito, o rapaz quando a viu, fez sinal para que sentasse junto a ele.

- Ola gata, que coincidência você por aqui! Senta aqui e vamos almoçar juntos, assim não preciso comer sozinho. Odeio almoçar sozinho, estar em companhia de uma mulher tão deslumbrante como você será um privilégio.

Helena deu um sorriso entre dentes e sentou, tinha dificuldade de dizer não.

- Então ontem não me falou o que faz da vida? Perguntou Gabriel

- Sou médica, tenho uma clinica de pediatria aqui perto e também sou diretora do setor de pediatria do Hospital das Clinicas!

- Nossa pelo jeito além de linda ainda é inteligente!

Neste momento o garçom veio atendê-los:

- Bom dia! Sejam bem vindos em que posso servi-los? Falou todo simpático e sorridente.

Enquanto Gabriel nem olhou na cara do garçom, Helena lhe retribuiu a simpatia desejando-lhe bom dia também.

- Até que enfim vieram nos servir, pelo jeito esse restaurante está perdendo a classe e o padrão de atendimento que sempre teve! Falou rosnando.

O rapaz era de pele escura e via-se por sua maneira que era humilde, mas tinha uma simpatia e alegria em servir as pessoas.

Helena sentiu-se envergonhada pela maneira como Gabriel se portou com o rapaz. Pensou consigo que não deveria ter se sentado com ele, ontem já tivera indícios de como o mesmo era arrogante.

Como o restaurante já estava cheio, resolveu não dar importância à situação, pois não haviam mais mesas vagas, pensou consigo, iria comer e sair rapidamente. Sentia que se ficasse mais um minuto na presença daquele homem iria vomitar.

- Me traga uma salada crocante e um salmão grelhado com aspargos! Pediu Gabriel, e para acompanhar uma garrafa de pinot noir!

- O que você me sugere? Perguntou Helena ao garçom. Ela conhecia a casa como ninguém, mas vendo que o garçom era novo, quis lhe dar um pouco mais de autoconfiança para desempenhar suas funções.

- Até parece que ele entende alguma coisa de comida requintada Helena, não seja ingênua!

Helena apenas olhou de canto de olhos para Gabriel, querendo fuzilá-lo. Para que ser tão desagradável com alguém? O que ele ganhava com isso?

- Senhorita, a especialidade da casa é talharim ao pesto, garanto que a senhorita não ira se arrepender!

- Credo rapaz, você não deve recomendar massa para as mulheres, não vê que pessoas como essa jovem são lindas e cuidam de seus corpos? Se ela comer isso vai virar uma baleia.

Helena não pode acreditar no que havia ouvido de Gabriel, como assim? Primeiro chamar qualquer pessoa de baleia já era rude e deselegante e gordo fóbico, e querer determinar o que as mulheres que lhe acompanham devem comer é um absurdo.

- Meu querido, pode trazer este prato mesmo, adoro, e faça dose dupla e uma sobremesa que é especialidade da casa.

Gabriel arregalou os olhos - Helena você deve estar de brincadeira não é? Não tenho nada a ver com o que vai comer, mas você deveria ser mais vaidosa, hoje ainda é jovem mas em breve a idade vai chegar e se continuar comendo assim não sei onde vai chegar! Nenhum homem vai lhe querer gorda.

- Não estou de brincadeira, um dos maiores prazeres que temos em nossa vida é comer bem e disso eu não abro mão, passei muito tempo no exterior e senti saudades do tempero brasileiro. E não vai ser você e ninguém que vai me dizer o que devo ou não comer. Aliás nem amigos somos, foi coincidência vir almoçar aqui e nos encontrarmos. E em segundo lugar, pessoas devem estar juntas por sentimentos e não por aparência, então espero ter a sorte de encontrar que veja minha beleza interior e não apenas a física.

- Ande logo rapaz encaminhe nosso pedido não temos o dia inteiro, a moça aqui é bem ocupada pelo jeito! falou Gabriel repreendendo o garçom, que saiu rapidamente após dar um ultimo sorriso simpático.

- Ah não aguento essa gentinha folgada, a gente sempre precisa colocar eles no lugar, senão acham que são como nós.

Vendo que Helena não estava gostando nada de sua companhia, Gabriel tentou mudar de assunto.

- Então, como era sua vida no exterior?

- Chata e cansativa, tinha que me dedicar à especialização e a residência médica. Não tinha tempo e nem disposição para baladas e festas.

- Ah minha querida, a minha vida se resume a isso, adoro baladas e festas. Justamente por isso estudei aqui no Brasil, pois lugar nenhum no mundo sabe fazer festas como os brasileiros.

Depois de conversas aleatórias e sem a menor empolgação o pedido de ambos chegaram.

O garçom serviu, e Gabriel ficou boquiaberto em ver o quanto Helena comia, Parecia a Julia Roberts no filme comer rezar e amar, Apesar da sua elegância, ela comia com gosto, saboreando cada garfada.

Ao final do almoço, Helena falou que precisava ir, pois tinha que se apressar para a sua reunião. Mais uma vez usando o trabalho para sair de uma situação que não estava agradando.

Gabriel fez questão de pagar a conta de ambos, então se despediram a Helena saiu,

Ainda tinha uma hora até o inicio da reunião. Então aproveitou para ir até o schoping, pois desejava comprar um perfume na loja de Clara.

Encontrou a amiga saindo para o almoço.

- Veio almoçar comigo? Disse Clara

- Desculpa amiga acabei de almoçar e voçê não acredita com quem?

- Não faço a menor ideia, nem sabia que estava saindo com alguém, parece que você não me conta tudo como eu pensava!

- Para de drama Clara, não estou saindo com ninguém. Foi pura coincidência.

- Pare de me enrolar e diga logo!

- Com o Gabriel!

- Que Gabriel? O de ontem?

- Esse mesmo, alias meu almoço foi indigesto por causa dele.

- Vamos comigo almoçar e você me conta tudo,

- Sim, mas quero comprar aquele meu perfume predileto. La vie est belle.

- Claro amiga, já deixei aqui separado pra você, nos acertamos depois, quero saber tudo sobre seu almoço.

Então as duas foram até a praça de alimentação e lá Helena contou sobre o triste episódio de seu almoço.

O tempo passou rápido e já estava na hora de ir para a reunião.

- Nos falamos mais tarde amiga!

No hospital, a reunião havia iniciado. O presidente estava explanando a reestruturação que estavam fazendo, havia firmado convênio com outro hospital bem maior que ira fazer a gestão de toda a ala de pediatrica, e assim todo o grupo gestor atual seria exonerado.

Helena não esperava por isso, ficou surpresa e triste ao mesmo tempo. Mas não havia nada que pudesse fazer. Se for para melhorar o atendimento para as crianças ela ficava feliz.

Depois da reunião ela foi para casa, tomou banho e ficou em seu quarto assimilando tudo o que aconteceu neste dia.

Pelas dezenove horas a empregada bateu em a sua porta.

- Senhorita Helena, seu pai a espera no escritório!

- Tudo bem, diga que logo descerei.

Era só o que faltava para terminar este fatídico dia, uma nova discussão com seu pai! O que mais poderia esperar? Bem dizem que para o pior não há limites.

Helena desceu as escadas e parou em frente à porta do escritório de seu pai, antes de abrir a porta respirou fundo e pediu para que seus anjos a protegessem do que quer que estivesse por acontecer.

Mal imaginava ela que era bem pior do que estava esperando.

Sente-se minha filha. Helena sentou e se ajeitou na cadeira. Então Antônio começou o seu discurso.

- Helena, já fazem alguns meses que você voltou para o Brasil, tenho sido tolerante com você e suas irresponsabilidades. Não tem hora para chegar em casa, bebe demais, sai todos os dias e às vezes nem para casa volta.

- Papai

-Shsssss Antônio vez sinal para ela não se justificar, apenas me ouça, não vou mais permitir isso. Você teve a melhor criação, todo o luxo e sempre teve tudo o que queria. Não te criei para agora agir como uma adolescente ou uma mulher vulgar.

Ela se sentiu magoada com as palavras do pai, mas permaneceu em silêncio.

- Você está em idade de se casar, e é isso que vai acontecer.

Helena deu uma risada cínica e disse:

- Eu não tenho nem um namorado e o Senhor Já está querendo me casar? O que o Senhor Vai fazer? Escolher um marido por mim? Pois até hoje em minha vida tudo foi o que o Senhor quem escolheu, nunca o que eu quis!

Antônio ficou quieto por um momento. Helena sentiu seu corpo inteiro se arrepiar, sentiu a pior sensação que poderia sentir, pois ela conhecia aquele olhar, tudo o que ela supos era verdade?

- Não papai, eu não acredito! É isso mesmo? O Senhor Me arrumou um casamento com alguém que eu sequer conheço? É alguém que lhe convém? Que lhe trará alianças financeiras? É isso? O Senhor Está me usando para aumentar seu império?

- Minha filha, não é assim também, está na hora de você casar e quem eu encontrei para você é de uma família influente. O rapaz é filho do deputado Alcântara, e esse casamento será bom para você também. Ele te dará luxo e conforto e você poderá ser uma esposa dedicada ao seu marido como a sua mãe foi a mim. Ainda mais agora que não tem mais a direção da pediatria do hospital!

- Espera aí.... como o Senhor Sabe disso? Não contei nada para o Senhor?

- Minha filha, agora que vai se casar vai precisar de mais tempo livre, e conseguir sua exoneração foi tão fácil quanto conseguir sua nomeação tão logo chegou ao Brasil.

Helena se sentiu humilhada, sempre pensou que sua contratação era por seu excelente currículo. Por passar com louvor em seu doutorado e ter feito uma tese científica que fora premiada. Então era tudo apadrinhamento de seu pai, mais uma vez sua vida era uma farsa.

Sentiu o sangue ferver, subir a cabeça e explodiu em fúria!

- Eu não vou me casar e não vou mais fazer as suas vontades, a partir de hoje serei a única dona da minha vida, e não vou deixar mais o Senhor Dirigir minha vida como costuma dirigir seus funcionários. Sou sua filha e o Senhor Deveria se preocupar com minha felicidade.

Saiu do escritório batendo a porta, nem escutou seu pai falando para ela voltar e ouvir o que ele tinha pra dizer. Foi até o carro e dirigiu com as lágrimas escorrendo por seu rosto até a casa de Clara.

A amiga abriu a porta e Helena a abraçou e caiu em prantos.

Ela é Helena Mendes de Sá

Já faziam dois dias que Helena não foi para casa, havia ligado para a clinica e cancelado suas consultas, Kátia deveria entrar em contato apenas em casos de extrema emergência.

Seu celular estava desligado, pois ela não tinha cabeça para nada, precisava tomar uma decisão do que deveria fazer.

Clarinha vinha cuidando dela, tentando aconselhar à amiga e principalmente buscando junto com ela uma solução.

Helena não queria e não podia aceitar a exigência de seu pai, ele desta vez tinha ido longe demais. Arrumar um casamento para ela? Em que século estamos?

Ela e Clara já haviam avaliado todas as possibilidades, mas ela ainda não sabia o que iria fazer.

- Heli como você está? Tá com uma carinha tão abatida!

- Amiga estou tão decepcionada e magoada com meu pai, quem ele pensa que é?

- Imagino. Mas como já falamos antes amiga, às vezes precisamos ver o lado da outra pessoa.

- Qual é Clarinha, vai defender ele? Você nunca foi de fazer isso! Fala logo o que está acontecendo.

- Ok amiga, seu pai me procurou hoje! Queria saber como você está, parecia preocupado.

- Eu sabia amiga, você falou que eu estava aqui?

- Falei amiga, mas ele disse que iria dar o tempo que você precisasse. Parecia estar preocupado com você. Disse que sabia que tinha feito às coisas de uma forma errada.

- Isso não é coisa do meu pai amiga, tem segundas intenções aí.

- Pode ser, mas conversando com ele, também consegui ver o lado dele. Todo pai quer o melhor para a sua filha. O erro foi querer te impor o casamento, fez da forma errada né? Mas ele disse que o rapaz é alguém culto, de posses, de família influente. Que você vai ter uma vida estável e confortável, até melhor do que a que seu pai lhe oferece.

- E quem disse que eu me importo com isso Clarinha? Você me conhece, gosto de uma vida mais modesta, invejo tanto a vida que você leva. É bem mais rica do que eu, pois tem liberdade e independência.

- Sim, eu sei disso Heli, mas não custa dar uma chance pro seu velho. Estou vendo melhor do que ninguém o quanto isso está te magoando e te deixando doente. – Vai amiga, conversa com ele e pelo menos conheça esse tal noivo. Vai que o rapaz é uma vitima como você? – Como saber se ele não é um cara legal

- Não sei amiga, preciso de mais um tempo para pensar. Estou pensando em sei lá fazer uma viagem.

- Tudo bem, entendo você, seu pai disse que vai respeitar o seu tempo.

- Vou organizar umas coisas na clinica e depois sair numa viagem para pensar nisso tudo.

Na semana seguinte Helena conversou com uma colega de profissão se ela poderia atender na clinica por uma semana, era o tempo que ela precisava para pensar no que fazer.

Já havia decidido para onde ir, iria para a fazenda em Minas Gerais. Faziam alguns meses que havia voltado do exterior e muitos anos que não via sua querida Bá.

Precisava espairecer respirar o ar do campo, ser mimada por dona Rosa, era isso que ela queria.

Organizou tudo, passou em casa quando sabia que seu pai não estava, pegou algumas roupas, e coisas que sabia que iria precisar e então foi até o aeroporto.

Chegando em Belo Horizonte pediu um carro por aplicativo e foi direto para a fazenda.

Chegou de surpresa, pois não queria que ninguém avisasse o seu pai.

- Nossa dona a Senhora Vai trabalhar aqui nessa fazenda? É a maior da região! Disse o motorista.

Helena disse que iria ficar um tempo ali para decidir o que fazer da vida. Não iria dizer para ele que era filha do dono da fazenda. Mesmo porque ele não iria acreditar que uma Mendes de Sá chegaria de carro de aplicativo.

Chegando no portão principal quem atendeu foi um homem de uns 35 anos, via-se que era homem simples, muito bonito, moreno, forte, bruto, olhar carrancudo, sem muitos sorrisos, tinha uma beleza peculiar, beleza de homem da lida,beleza selvagem, cabelos pretos, pele morena do sol e seus olhos negros traziam um olhar profundo e frio, como se carregasse o peso de uma vida de lutas.

Carlos o peão brutamontes, tem uma história de dor e perda. Sabe que o amor está ligado à dor da perda, por isso foge desse sentimento.

Helena sabia que não era alguém que estivesse encarregado pelo controle de pessoas, seu pai era bem rígido com relação a isso, o porteiro sempre era alguém bem vestido e instruído.

- Boa tarde, o que era pra vocês?

- Boa tarde pode por gentileza nos deixar entrar? Vim de São Paulo para passar uns dias aqui na fazenda.

- A moça marcou hora? Porque não estamos esperando visita de ninguém!

- Meu nome é Helena, pode olhar aí na lista que tenho autorização para entrar!

Carlos olhou na lista de autorizações, mas não conferiu a lista das pessoas que tinham autorizada a entrada irrestrita!

- Não moça!!! Não posso deixar à senhora entrar sem a autorização aqui.

- Ligue para a D. Rosa, fale pra ela que a Helena está aqui.

- Moça, D. Rosa está doente, não vou incomodar ela com isso. A Senhora Deveria saber que pra entrar num lugar desses aqui precisa ligar e marcar antes.

- Deixa de ser grosso! Quem você pensa que é? Você não é o porteiro, vejo pela sua grosseria que está com falta de vontade em resolver o problema.

- Não sou o porteiro mesmo, ele não veio hoje e estou aqui cuidando dessa chatice invés de estar fazendo meu trabalho. Posso não ser instruído como ele, mas sei cumprir ordens, e me falaram que se não tiver o nome na lista é porque não marcou hora, então não entra. Vou ficar aqui só até o rapaz que irá substituir o porteiro chegar. Então pode aguardar que daí ele que resolva!

Helena ficou furiosa com aquele bronco, bruto, se ele soubesse com quem estava falando! Aliás, não restava alternativa a ela teria que falar quem era para poder entrar.

- Meu querido, meu nome é Helena Mendes de Sá, então pode abrir esse portão antes que eu coloque você e essa sua grosseria toda no olho da rua!

- Ah sim D. Helena, me perdoe! Disse com ar de zombação

Helena não entendeu direito, mas pensou que finalmente poderia entrar.

- Eu sou São Pedro, cuido do portão e aqui nem a Senhora Poderá entrar! Falou ele, pensando que essas mulheres fazem qualquer coisa quando querem alguma coisa.

Helena bufava de ódio, andava de um lado para o outro, poderia pular no pescoço daquele bruto! Como assim ele não sabe quem ela era? Ele só poderia estar de brincadeira.

Como ela não queria que o pai soubesse que tinha ido para lá, não poderia ligar para ele ou para seus assessores. Somente D. Rosa, poderia ajudá-la, fora ela não conhecia mais ninguém que trabalhasse na fazenda há tanto tempo.

Enquanto Helena fervia de ódio o rapaz ficava lá na guarita, parecia estar se divertindo com a situação. Achou a moça de uma beleza incrível, mas teve a impressão que ela tinha o rei na barriga, moça granfina, será que estou fazendo errado pensou! Não todos os dias chegam dessas moças aqui querendo falar com seu Henrique. Usando de todos os argumentos, João havia falado para ele outro dia enquanto almoçavam. São mulheres que querem se dar bem em cima de Henrique o administrador da fazenda, que era conhecido por sua fama de conquistador.

Henrique foi quem mandou Carlos cuidar do portão, deixou claro que poderia chegar uma moça de cabelos castanhos e que usaria de todos os argumentos para entrar na fazenda, essa moça estava perseguindo ele, grudou nele que nem chiclete. Portanto proibiu Carlos de deixar entrar na fazenda, nem ela e nem qualquer garota que viesse sem uma justificativa aceitável ou hora marcada.

Helena sabia que tinha o contato de D. Rosa em seu celular, mas faziam tantos anos, seria o mesmo? Ela não tinha alternativa, somente D. Rosa poderia ajudá-la e colocar aquele bronco em seu lugar.

O telefone tocou do lado da cama de D. Rosa. Maria sua filha ficou surpresa quando viu o contato “minha menina” piscando! Era como D. Rosa costumava chamar Helena.

- Alo... Quem fala? Esse celular é da D. Rosa ainda?

- Oi D. Helena. Aqui é a Maria, lembra de mim, filha da D. Rosa.

- Maria, ah que bom Maria, lembro de você sim, como está D. Rosa, soube que ela está doente.

- Sim D. Helena, está dormindo agora, pegou uma gripe bem forte, mas está se recuperando bem.

- Humm.... Maria, estou aqui na fazenda, cheguei faz uma hora e um porteiro bruto não quer me deixar entrar. Você pode ligar para esse bruto e falar quem sou e o mandar sair da minha frente antes que eu o esgane?

- Aqui na fazenda D. Helena, a Senhora Está aqui? Mas porque não avisou? Meu Deus a Senhora Desculpa isso tudo, já estou indo aí resolver tudo.

Maria estava branca quando desligou o telefone, não podia acreditar no que ouviu, Carlos estava mesmo encrencado, como assim ele não sabe que a filha do dono da fazenda é a D. Helena! Não queria nem pensar no problemão que Henrique criou para Carlos. Ela sabia que não era boa ideia colocar o domador de cavalos para cuidar da portaria! Ora esse Henrique tem cada ideia mesmo. Tinha pena do Carlos. Mas agora não podia perder tempo, tinha que resolver todo esse problemão.

Saiu correndo em direção ao portão.

- Abre esse portão logo, a deixe entrar! Você não sabe quem ela é?

Carlos ficou confuso, teve a impressão que agora estava sim encrencado. Será que a moça estava falando a verdade?

Ele abriu o portão e Maria correu até Helena.

- D. Helena nos perdoe pela confusão o Carlos não é o porteiro, Sr. João não veio hoje e ele está aqui para substituir enquanto não chega o outro substituto.

- Maria, quanto tempo! Helena falou e abraçou a moça, enquanto olhava por cima do ombro dela para Carlos, com a sobrancelha levantada, como quem diz, eu te falei não falei?

Carlos era afrontoso, apenas balançou seus ombros como quem diz “Eu não sabia!”.

O portão foi aberto e Helena entrou na fazenda! Tudo havia se resolvido e só o que ela queria era ver D. Rosa e descansar.

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