Essa acima é Clarice, e aqui vamos conhecer a história dela. Com dezessete anos e morando em Brusque - Santa Catarina, Clarice vê sua vida mudar bruscamente quando precisa ir embora às pressas do Brasil. Passa por momentos em que acreditaria não ter forças se fosse alguém que tivesse contado a ela.
Início de tudo...
Eu não estava entendendo nada, ordens? Armazém? Passagens? Para onde nós vamos?*
Clarice: pai acho que tem um carro parado na frente da casa do vizinho, e parece que tem um homem dentro do carro. Esse carro está esperando a gente?
Meu pai: - Não podemos mais ficar parados aqui, até o ponto de encontro. Vamos Clarice, mexa-se!
*Meu pai me pega pela mão e me puxa, sem reação, e sem entender nada eu só caminho, quando olho para trás minha mãe e a mãe da Vic estão se abraçando*
Eu entro no carro e meu pai entra na frente para dirigir, minha mãe entra em seguida no banco do passageiro e o carro começa a se mover.
- Mãe? Pai? Para onde vamos? Para que aquelas passagens?
*Os dois se olham e não me respondem*
Pego meu celular e mando mensagem para a Vic, mas estranho porque sua foto sumiu e não está mais chegando as mensagens, tento ligar mas ela não atende.
Nesse momento percebo minha mãe virando para trás e pegando meu celular da minha mão, ela simplesmente abre a janela e joga o celular.
- Mãe! Ficou louca?
Minha mãe: - Olha o respeito mocinha, depois compramos outro.
Meu pai para o carro em frente a uma portaria e os portões se abrem, ele entra em um galpão com o carro e lá dentro quando descemos do carro um homem vem nos recepcionar.
*Homem desconhecido* - já está tudo providenciado, o embarque é às 05h, são vôos diferentes, e quando chegarem lá um dos nossos vão abordar vocês dentro do avião. O endereço da nova residência estará com um deles e será entregue no desembarque.
* Eu só conseguia pensar: Mais que caralh*s está acontecendo aqui? *
Entramos em um outro carro, diferente do que estávamos e vamos para o aeroporto.
Ao chegar lá recebo uma passagem e vou direto para o embarque, sem questionar nada, já que não estavam me respondendo antes, quem dirá agora.
Minha mãe me abraça forte e meu pai me dá um beijo na testa.
Cada um segue para seu embarque.
Entro no avião e sento na poltrona marcada na passagem, ouço quando é anunciado que o destino é Itália e a duração de vôo é de quase dezoito horas.
*Itália? que? o que está acontecendo?*
Decido dormir, o que eu faria nesse avião sem celular, sem um livro, sem nada para me distrair?
Adormeço, e quando acordo percebo que já está claro. Olho no painel disposto na minha frente e vejo que já são 11:35. A aeromoça começa a oferecer o almoço, escolho entre as opções o que vou comer, termino de comer e me levanto para ir ao banheiro. Quando saio do banheiro esbarro em alguém e imediatamente peço desculpas. Era um menino lindo, muito sério ele olha para mim e não fala nada, apenas segue indo para o seu assento.
Percebo que ele sentou no meu lugar, fico olhando para ele, para ver se ele se toca e levanta, mas nada acontece.
- É, oi... Acho que você sentou no lugar errado, essa é minha poltrona.
*Menino* - E você não pode sentar em outra?
*Como é que é? Ele está brincando né?*
- Olha meu querido, as poltronas já são marcadas para cada um ter a sua, então...
Sou interrompida pela aeromoça
Aeromoça: - Posso ajudar em algo?
*Vendo que ele se fez que estava dormindo eu respiro fundo e me sento ao lado dele*
- não moça, está tudo bem. Pode me trazer um fone para assistir alguma coisa na tela?
Aeromoça: - claro, aqui está.
Coloco meu fone e conecto na tela, coloco um filme aleatório, olho no relógio e vejo que faltam ainda sete horas de viagem, no meio do filme eu adormeço. Acordo com um homem me chamando e pedindo para acompanhá-lo, olho pelo avião e todos já saíram. Lembro do que o homem que conversou com meu pai disse, que alguém iria nos abordar e sigo ele.
Saio do avião, entro no saguão, e atravessamos o aeroporto, quando saímos tem um carro nos esperando. Entramos no carro e eu fico com vontade de perguntar para onde vamos, mas desisto devido a sensação de que não iria ter nenhuma resposta, como não tive desde que recebi aquela ligação da minha mãe.
Fico observando a paisagem, os prédios, as casas, as lojas.
Vejo que entramos em uma estrada cercada de árvores, em um dez minutos percebo que ele está estacionando em um jardim de uma casa. Ele desce e abre a porta para mim, quando eu desço vejo uma casa linda, muito mais bonita e maior do que a que moramos.
Percebi meus pais saindo da casa e o homem que me trouxe de carro entra novamente no carro e sai.
Meus pais vem me abraçar, minha mãe chorando e meu pai segurando minha mão diz de um jeito que me parece alívio "agora vamos ficar bem".
Minha mãe: - vem, vamos ver a nossa nova casa e seu quarto.
Eu paro no segundo passo e questiono
- nova casa? Nossa casa está em Brusque, meus amigos estão em Brusque, a Vic está lá, nossa vida é lá. Não aqui.
Meu pai: - Não mais.
Ele fala isso e entra. Minha mãe pega na minha mão e vai me guiando pela casa. Não consigo pensar em casa além de tudo o que eu tinha que ficou para trás. Ela sobe para o andar de cima e abre a porta do meu quarto. É lindo, muito maior e mais decorado que o meu antigo.
Mas nada disso me anima só de pensar que estou longe de tudo o que conheço, por toda minha vida morei em Brusque, o que vai acontecer agora?
Clarice: Mãe, pode me deixar sozinha um pouco por favor?
Mãe: Claro filha, mas antes olha aqui seu novo celular que prometi.
Clarice: Não precisaria de outro se não tivesse jogado o meu pela janela. E dá para contar o que está acontecendo?
* Me sento na ponta da cama e espero uma resposta *
Mãe: Ah sim, é coisa do trabalho do seu pai, sabe como é arquiteto né? Do nada uma viagem.
* Percebo um sorriso forçado*
Aceito aquela desculpa esfarrapada e me jogo para trás, assim ficando deitada na cama e com as pernas para fora dela. Assim que ouço a porta fechando me levanto e pego o novo celular para mexer e tentar falar com minha melhor amiga Vic, tentar saber o que houve com ela. Configuro o celular, entro nas redes sociais e percebo que não existe mais o perfil dela ou do Math (namorado da Vic), como seus pais nunca tiveram redes sociais nem me atrevo a procurar, seria perda de tempo.
Clarice: Ah meu Deus, o que que está acontecendo? O que vai acontecer comigo nesse fim de mundo?
*adormeço e nem percebo, quando acordo me arrumo e desço para a cozinha*
Mãe: Ah que ótimo que você acordou meu amor, quer comer alguma coisa? A mesa do café...
*Minha mãe é interrompida pelo meu pai*
Pai: Não, eu e Clarice vamos até a nova escola fazer a matrícula, e comemos alguma coisa na rua. Depois eu trago ela para casa e vou para o trabalho.
*meu pai pega a chave do carro, a carteira e sai*
Solto um suspiro e olho para minha mãe que está com aquele sorriso forçado. saio atrás do meu pai e entro no carro. Ao longo do caminho não trocamos uma palavra.
Ao chegar na escola nova só me vem o pensamento: AONDE ESTOU ME METENDO?
Eu que sempre estudei em escola pública, agora vou conviver com essas patricinhas que só sabem falar sobre maquiagem e roupas de marca, e com os filhinhos de papai herdeiros de empresa que só sabem falar de quantos carros o pai dele tem na garagem? Socorro.
Ao descer do carro vejo a escola por fora
E vejo uma mulher que parece estar nos aguardando.
Recepcionista: Bom dia Sr. Lutinno, vamos começar mostrando o campus e depois te acompanho até a sala do Diretor.
Meu pai concorda com a cabeça e eu apenas sigo os dois
A escola é muito bonita, nada comparado a minha antiga escola pública com gritaria pelos corredores, com pessoas sentadas no chão, era um corredor vazio onde só se via os armários.
Na outra parte que nos foi mostrada foram as salas de aula, o refeitório e a parte esportiva, onde ela mencionou que ocorriam os campeonatos.
Nessa escola tinha até vestiário... e só a quadra era o tamanho da minha antiga escola. Quando volto de meus pensamentos percebo que não estão mais lá.
Clarice: Ótimo, agora estou perdida nessa...
Menino desconhecido: Precisa de ajuda?
Olhei para trás devido ao susto que tomei, e nossa, que menino lindo. Ele estava com um sorriso de lado, esperando a minha resposta e eu só conseguia ficar olhando para ele.
Clarice: Ah, oi. Acho que sim. Sou nova aqui e meu pai me deixou para trás.
Menino desconhecido: Acho que então você deve ir na diretoria, certo? *Sorriso* Aliás, meu nome é Lukas Bonneviera.
Clarice: Meu nome é Clarice Lutinno.
Fomos seguindo até a diretoria e conversando, pelo que entendi ele tem minha idade então provavelmente estudaremos juntos. Pelo menos quando entrar aqui vou já conhecer alguém.
Lukas Bonneviera: Chegamos. Preciso ir para aula, até depois Clarice.
*Ele se vira e sai andando pelo corredor*
Olho para a janela ao lado e vejo que meu pai está sentado conversando com o diretor. Me sento em uma das poltronas por ali e fico mexendo no celular até que vejo eles saindo e dando um aperto de mãos.
Chegando em casa eu almoço e vou para meu quarto mexer no celular, minha mãe não estava em casa então fiquei sozinha até eles voltarem.
Entro no meu Instagram e vejo que tem uma visualização de stories de uma conta fake. Mas não ligo muito para isso. Vou tomar meu banho e dormir, já que as aulas começam amanhã.
Quando estava pegando no sono meu pai bate na porta e entra no meu quarto.
Pai: Você pode descer um pouco? Eu e sua mãe queremos mostrar uma coisa para você.
Coloco minha pantufa e desço para a sala. Minha mãe parece eufórica, meu pai e ela saem para o quintal e eu vejo uma moto, uma moto linda, a que eu sempre falei que queria e nunca pareceu que conseguiria ter uma. Uma Ninja 1000 SX.
Clarice: Mas como? Espera, é minha?
Pai: Claro, sabe que eu não gosto de motos e sua mãe nem bicicleta sabe pilotar.
Clarice: Meu Deus! Não acredito! Obrigada.
*Corro para abraçar os dois e agradecer*
Clarice: Mas ainda não tenho dezoito anos, só faço em seis meses.
Mãe: Aqui pode tirar a carta com dezessete. Você faz as aulas de final de semana.
Pai: Mas prometa sempre tomar cuidado. E amanhã você já pode ir para a escola com ela, consegui uma autorização na auto escola.
Eu fico tão empolgada que esqueci que amanhã começaria na nova escola.
No outro dia acordo cedo para tomar café e já desço arrumada. Tomo meu café e coloco o endereço no GPS, sigo com minha moto para a tortura de uma nova escola, no meio do ano, sem conhecer ninguém. Que maravilha.
Começam as aulas, e as matérias são todas dadas em italiano, somente com a excessão da matéria extra curricular que é de inglês e espanhol. Minha sorte é que desde pequena fui colocada em cursos e sou fluente em quatro línguas fora o português. Minha mãe diz que sou poliglota, mas não gosto de dizer isso porque parece arrogante, não sei porque.
No primeiro dia não falei com ninguém, e se seguiu uma semana assim, até que o professor de espanhol pediu um trabalho em dupla.
Clarice: Socorro, me ferrei.
Lukas: E aí baixinha, quer ser minha dupla?
Eu olho para ele e me lembro, era o menino que me ajudou a encontrar a diretoria o dia em que vim conhecer a escola.
Clarice: Ah, Claro.
* Ele senta ao meu lado e vejo algumas meninas olhando para a gente*
Lukas: Mas e aí, você sabe alguma coisa de espanhol ou eu vou ter que fazer o trabalho sozinho e te dar a nota de presente? *Ele sorri e eu percebo que seus olhos são claros, o que me parece um verde*
Clarice: Eu sei um pouquinho de espanhol.
Lukas: Já dá para o gasto. Vamos começar.
Começamos o trabalho e sempre que eu olhava para o lado percebia umas meninas nos olhando.
Clarice: ei, você tem namorada ou essas aí são suas admiradoras?
Lukas olha para elas e começa a dar risada
Lukas: Não, não tenho namorada. Elas são assim porque são líderes de torcida, e eu sou o Quarterback. Não sei porque elas ficam em cima.
Clarice: achei que por aqui ser uma escola na Itália vocês jogavam futebol normal, como no Brasil.
Lukas: Tem também, mas o diretor aqui tem uma cisma com os Estados Unidos e o maior campeonato é o de futebol americano.
Lukas volta a olhar para o nosso trabalho e eu o acompanho.
Ao terminar entregamos o trabalho aí professor nos libera. Quando saímos da sala Lukas se despede e sai andando em direção ao refeitório. Decido ir ao banheiro antes de ir para o refeitório, quando entro percebo que duas meninas entram em seguida, sinto um empurrão e quando me viro vejo que são as "líderes de torcida".
Elas se apresentam: Micaela, uma loira magra, e mais alta que a outra que a acompanha.
Julia, é morena e é mais baixinha, vive mascando chiclete na aula.
Clarice: ah, e posso saber porque eu fui empurrada?
* Dei um passo para frente e as duas deram um passo para trás *
Micaela: Só vim te avisar para você se colocar em seu lugar, você não pertence a este mundo, e fique longe do lukas.
Julia não falou nada, percebi que ela ficou só olhando
Clarice: Oh garota, você está achando que está em uma novela onde você é a rainha da escola e eu sou a nerd que você vai encurralar na parede? Pois vou te avisando que comigo não funciona assim. Agora larga do meu pé antes que eu arranque essa sua cara fora.
As duas me olharam assustadas
Micaela: Mas é muito classe baixa, só vim aqui te dar um aviso. E eu falo uma vez só.
As duas se viraram e saíram do banheiro.
Quando me virei vi uma menina me olhando.
Menina desconhecida: Nossa, mandou ver com a cara da nojenta. Meu nome é Gabriela mas pode me chamar de Gabi.
Clarice: Oi, eu sou a Clarice. Que meninas malucas a dessa escola.
Gabriela: Você é nova aqui né? Veio de qual escola?
Clarice: Eu vim do Brasil. Era de uma escola pública de lá.
Gabriela: Nossa! Que legal, você fala muito bem Italiano. Vamos, você vai almoçar comigo e meu namorado.
Gabi sai me puxando sem esperar que eu responda ou que me deixe ir no banheiro.
Chegando no refeitório sentamos em uma mesa onde está o namorado dela, ele se apresenta e chama Bruno, um menino bem legal pelo que parece.
Clarice: vamos lá pegar a comida? Eu estou morrendo de fome.
Gabriela: pegar? Não. Aqui a gente faz o pedido na mesa e o funcionário traz.
Fiquei olhando eles pedirem por um tablet que ficava na mesa, e pelo que me explicaram cada aluno colocava seu código e esse valor da comida está acrescentado ao pagamento mensal de cada aluno.
Eles me explicaram tudo sobre a escola, os dias de jogos. E fiquei sabendo que o Bruno também jogava no time de futebol.
Foi quando terminamos de almoçar que eu vi o Bruno falando com alguém que estava atrás de mim
Bruno: você perdeu o almoço
Quando ia me virar para ver quem era o menino sentou na cadeira que estava na nossa mesa.
Eu não pude acreditar, enquanto os dois conversavam fiquei tentando entender.
Não, não é possível...
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