Ano: 2009 Universidade Howard – Washington
Se formar e começar uma nova vida, acho que todos se sentem como se estivessem
pisando em ovos nesse momento. Eu olhava para aquele aveludado convite, único e
solitário que enviaria ao meu pai, Eu sabia que ele não estaria presente,
porém, a minha obrigação de filha era de enviá-lo mesmo assim.
Estava no último ano de literatura, e meus objetivos não iam muito longe, nada
além de conseguir um trabalho em uma boa editora, poderia até ser de pequeno porte, o
que eu queria mesmo, era trabalhar no que eu gostava. No campus, eu dividi por cinco
anos, um apartamento com minhas amigas. Emma, uma loura alta de corpo esguio e
esbelto e doces olhos azuis, ela cursava jornalismo; e Erika, outra loura
igualmente alta, com curvas delineadas, coxas grossas e seios fartos, esta por sua vez,
cursava engenharia mecânica. Éramos consideradas o trio das loiras, eu era a mais baixa
delas, , seios definidos e alguma curva eu tinha ali, não comparava
com a beleza de minhas companheiras e amigas, mas elas sempre contestavam isso. Do
quarto das “Barbies’’, como chamamos nosso cantinho, eu ia sentir falta da nossa cortina
cor-de-rosa, das nossas almofadas de corações, dos pôsteres e de tudo que fazia nosso
pequeno canto aconchegante, ficar a nossa cara.
Até pensamos em dividir um apartamento, mas Erika já tinha um estágio em uma
montadora de carros e estava prestes a viajar para a Europa com seu irmão, apesar de não
aparentar, minha amiga amava tudo sobre carros e gostava de pôr a mão na massa, ou
como Jonas, seu irmão dizia, a mão na graxa. Emma estava almejando um estágio em uma
emissora, no entanto, o mais provável era sair o estágio no jornal local. Emm, como a
chamávamos, era persuasiva, e se, conseguisse este fato, dizia que meus planos de dividir
um apartamento, seriam reduzidos.
Minha sorte era que meu amigo Jackson Jr, estava se formando em fotografia,
e como eu, estava à procura de um apartamento, então, ficou decidido, Jack, eu e, “se”,
Emma trabalhasse na cidade também, dividiríamos um apartamento. Claro que dividir uma
moradia com um homem seria diferente de nossas noites na faculdade, noites que se
revezavam entre os lamentos e choro por algum romance que estava iniciando ou
acabando, bebedeiras, entre várias lembranças que carregaríamos o resto de nossas vidas
adultas.
Pode-se dizer que aproveitamos nossos anos juntas, agora, estávamos a um passo
da nossa verdadeira vida.
Para pagarmos a faculdade, além da ajuda de nossos pais e do nosso trabalho, Emma
e eu participávamos de eventos como acompanhantes e promoters. Nada muito
complicado. Alguns empresários, executivos ou até mesmo magnatas da sociedade,
tinham problemas em ter um relacionamento que não envolvesse interesse da parte
feminina, o que os deixavam sem uma boa companhia em certos eventos. Nosso trabalho,
envolvia acompanhá-los, ser discreta durante as reuniões, que poderiam ser; jogos de
pôquer, jantares e reuniões sociais, nada além de servir de uma agradável companhia. Isso
não envolvia nenhum contato íntimo, e ser profissional era o essencial.
Naquele final de semana que se aproximava, já estava marcado um desses jantares,
por sorte, trabalharíamos juntas no mesmo evento, que desejava, ser o último. Saí pela
manhã para distribuir meus currículos, estava extremamente cansada, cheguei ao nosso
apartamento do alojamento e teria que terminar de encaixotar minhas coisas. Em uma
semana, entregaríamos as chaves, para que novas estudantes passassem seus anos de
estudo aqui. Emma chegou desesperadamente animada.
— Clara, meu amor, chegaram nossos convites com os nomes de nossos
acompanhantes desta noite — ela era de longe a mais animada para esse trabalho, quando
começamos, Emma almejava encontrar um desses empresários não muito velhos que se
apaixonasse por ela, e como em um conto de fadas moderno.
Infelizmente, eles não passavam de homens, geralmente mal amados, ao ponto de
não terem uma simples acompanhante sem precisar recorrer às que são pagas por seu
dinheiro, ou, alguns viúvos, geralmente muito velhos e carrancudos, o que deixou Emma
frustrada, se contentando com os vestidos que geralmente ganhávamos os mimos de uma
noite, as festas com comida e bebida grã-finas e, claro, o dinheiro.
— Pegue, esse é seu envelope — ela sentou-se na bancada que dividia a nossa
pequena sala da cozinha, enquanto eu abria a geladeira, em busca de água.
Segurando o copo com água, sentei ao seu lado e peguei o tradicional envelope,
observei os detalhes, e esse era bem diferente de todos, geralmente, era simples branco e
com nosso nome datilografado ou impresso ao lado de fora. Desta vez, era em um
envelope timbrado com selo de uma companhia, o meu nome estava escrito em uma fonte
de fino porte, escrita a mão.
— O seu é de longe mais importante que o meu — Emma fez um biquinho ao abrir o
dela.
— Como você sabe? Eu nem abri o meu ainda — falei, deixando o copo na
bancada, e abrindo o envelope.
— Está na cara! Eu vou acompanhar o senhor Henrique Delvaz, pelo nome, não é
alguém muito importante, nunca ouvi falar nele, mas o seu envelope é timbrado da Walters
Company, deve ser algum executivo muito importante, pois lá, só trabalham “Os Fodões”.
Uma parte de mim reconhecia a pontada de ciúmes de minha amiga, geralmente,
ela levava isso como uma pequena competição a qual ela sempre ganhava. E desta vez,
pelo seu comentário desanimado, vi que queria aquele envelope. Eu poderia até trocar, se
não fosse o fato principal de que antes de nos escolher, eram mostradas nossas fotos a eles.
— Essa é a mesma companhia que tem participação da madeireira que meu pai
trabalha — comentei dando de ombros.
Reconheci o nome Walter por lembranças das festas que tinham na casa de campo
da família, que praticamente salvou a madeireira em minha cidade, preservando assim o
emprego de muitos moradores, inclusive do meu pai.
Diferente das tradicionais observações de sempre, e uma indicação da hora que o
motorista viria, o conteúdo do envelope era minuciosamente detalhado.
— Esse cara tem problemas, deve ter TOC — falei ao analisar as instruções
organizadas.
— Deixe-me ver o nome — Emma falou praticamente arrancando o envelope de
minhas mãos, seguida de um grito histérico.
— O que foi? — perguntei, observando-a colocar sua mão no coração e arregalar
seus olhos.
— Você é uma sortuda do caralho! Ou não. Vai acompanhar ninguém mais,
ninguém menos que Daniel Walter! — minha reação foi completamente diferente de Emma,
não foi tão espantosa quanto ao nome.
Daniel, eu conheci esse cara, esse moleque, ele não deveria ter mais de dois ou três
anos a mais que eu, sendo assim, teria entre vinte e seis ou vinte e sete anos. Novo, em
comparação aos homens que geralmente acompanhávamos a esses eventos.
Observei o olhar de frustração de minha amiga e, claro que eu fiquei feliz de não
ter que acompanhar um velho babão nesta noite, entretanto, nem mencionei o fato de
conhecer Daniel da infância.
— Nem ao menos sei de quem se trata — menti, porém nem tanto, era alheia a
qualquer fato da vida desse homem.
— Ele é simplesmente o executivo mais novo do ramo empresarial, ele assumiu a
frente dos negócios da família Walter aos vinte e quatro anos, e conseguiu em dois anos
dobrar os lucros.
— Desculpe se não estou familiarizada com as notícias no ramo dos negócios, isso
iria ajudar muito em meu futuro. — debochei.
— No seu não, mas eu tenho que estar bem informada da atualidade.
— Vou tomar um banho e analisar cada exigência desse homem.
Andei pelo pequeno apartamento desviando-me das caixas. Entrei em meu quarto,
estava tudo fora do lugar. As paredes antes repletas de pôsteres e luminárias estavam lisas,
apenas a cama estava arrumada, a cômoda branca vazia. Fui até uma das malas e peguei
uma toalha, saí do quarto rumo ao banheiro.
Coloquei a toalha bordada pendurada no gancho ao lado da ducha, sempre que
olhava meu nome bordado, a lembrança de minha mãe invadia minha mente, ela era uma
mulher espontânea, que vivia a vida intensamente, morei com ela desde a separação dos
meus pais. Mas com sua morte, passei a morar com meu pai que era diferente de Rita.
Charlie era um homem autoritário e gostava de tudo preto no branco e nossas brigas eram
constantes.
Quando namorei Mike, um rapaz de Hill city minha cidade natal, foi a
maior confusão, porém, tudo ficou melhor depois que decidi vir para Washington , ficar
longe de meu pai e fazer a faculdade.
Eu o via nas raras vezes que ia visitá-lo. O que eu mais odiava era ser controlada eu gostava de ser livre. Algo que a criação de Charlie não o deixava aceitar um pouco de
liberdade às mulheres, isso sufocou minha mãe e decorrente me sufocou.
A água do chuveiro estava na temperatura ideal, usei o meu shampoo de sempre, ele
tinha um cheiro cítrico, massageei os fios delicadamente, depois passei uma máscara
hidratante iluminadora, eu queria meus louros perfeitos,cabelos bonitos exigem
cuidados.
Desliguei a água, saí em direção ao meu quarto, deixando o
banheiro.busquei em uma das caixas, o meu secador,
sequei minuciosamente os cabelos até que estivessem perfeitos.
Clara Parker
Ainda de toalha, sentei em minha cama, peguei a carta e comecei a lê-la:
“Cara senhorita Parker…
Espero sinceramente que leia e siga a risca, cada uma de minhas orientações e
exigências:
Seria desnecessário mencionar, porém o vou fazer, tome banho e evite usar
produtos de cheiro forte.
Escolha uma lingerie confortável.
Não use nenhum vestido nas seguintes cores: vermelho, rosa, laranja, preto ou
branco.
Dê preferência a cores como azul, dourado,verde ou violeta.
Use salto alto, número oito ou dez.
Use maquiagem leve
Não menos importante, não use perfume muito doce.
Para auxílio com os itens acima, o telefone de minha assistente está ao final desta
carta, ela lhe providenciará o que necessitar, se desejar.
Seu carro chegará às vinte e duas horas em ponto, trazendo-a novamente às três
da manhã.
Atenciosamente,
Daniel Walter. ’’
Prepotência, arrogância, eu não sei qual seria a palavra para definir esse homem,
mas uma só que me vinha à mente: “louco”. Completamente fora de si. Uma gargalhada
brotou em minha garganta lendo o absurdo que eu segurava em minhas mãos. Uma breve
análise fez certo sentido, estar limpa, sim isso é o mínimo que se peça a uma
acompanhante, o caso da roupa íntima confortável me lembrou de que havia calcinhas que não davam mobilidade ou tranquilidade durante a festa, essa foi razoável,
agora as cores da roupa?
Demorei a assimilar que as cores fortes representavam atitudes, ri com a ideia de ele ser sádico maníaco por controle. Perfume maquiagem e pontualidade, coisas que eu
não seguiria à risca, mas tentaria, o máximo que pudesse, afinal, podia ser o último
trabalho na agência, mas não faria nada de errado.
Alcancei meu celular e liguei para a tal de Ivone. A mulher foi simpática, disse que
em meia hora um carro estaria em frente ao meu prédio para que eu fosse comprar o
vestido e os sapatos. Tratei de levantar rapidamente, peguei uma lingerie confortável e ri
pensando na carta, um jeans, um suéter e minha tradicional jaqueta de couro vermelha.
Assim que saí do quarto, Emma saía do banheiro.
— Aonde vai?
— Fazer compras — sorri para ela — O tal de Walter, é um doente obsessivo.
Pontualmente, o carro chegou a frente ao dormitório, quando o vigia ia me avisar,
eu já estava no andar de baixo.
— Senhorita Parker. — disse um homem sorridente, alto, forte, que mesmo por
trás de seu terno, poderia ser bem destacado. Saindo da gola de sua camisa, podia se ver
traços de tatuagens, seu cabelo era raspado, ele era um gato.
James
— Obrigada… Hum… Seu nome?
— James. Devo levá-la ao salão ou à loja, primeiro?
— Salão? Acho que não, leve-me à loja.
Entrei no Range Rover, observei os bancos de couro. Assim que chegamos à loja,
eu abri minha boca, era uma grife.
Não demorei muito até chegar à escolha de um vestido dourado, não havia muitas
opções, os vermelhos realmente eram lindos, entretanto, as ordens eram claras. Quando
entrei no carro, James insistia em me levar a um salão, porém, eu só confiava em um lugar
para cuidar de meu cabelo, não iria mudar hoje.
Chegamos novamente ao alojamento, James me ajudou até meu apartamento.
— Aceita alguma coisa, um suco? Água?
— Não, obrigado senhorita Parker, eu devo ir — disse ele.
Abri a fechadura, Emma estava de roupão do outro lado da bancada.
— Com licença senhorita — James colocou as sacolas no sofá e logo foi se
retirando.
— Ei! — o chamei fazendo - o se virar em minha direção, até que ele era bonito e
tinha certo charme. Sorri para James e dei aquela tradicional jogada de cabelo segurando
na porta.
— Sim senhorita?
— Seu nome não é James, estou certa?
— Senhorita, digamos que é o meu nome enquanto estou trabalhando. Passar bem,tenha um ótimo fim de tarde. Voltarei para pegar a senhorita pontualmente às dez — ele
fez uma reverência jogando um balde de água fria em minha investida. Fechei a porta
atrás de mim, e Emma soltou uma gargalhada.
— O que foi? — perguntei séria.
— Você só pode estar brincando não é mesmo?! O motorista, Clar? Poupe-me, vai
sair à noite com o patrão e você me dá uma cantada no motorista?
— Ai, vai a merda sua vaca! — dei de ombros, me direcionando até a geladeira
para me servir de água.
— Você foi às compras, tudo sob medida e de grife. Eu recebi minha caixa hoje à
tarde, é bonito, mas bem, não fui eu quem escolheu — ela fez um biquinho e senti a inveja
básica dela.
— Emma, tem algo de errado com esse cara, sabe que nenhum deles tem companhia
por um motivo, acho que sou mais o motorista bonitão, quem sabe depois dessa noite, e
ele não estiver a trabalho, não role uma troca de telefones?
— Você pensa pequeno Clar.
— Não, eu só não sonho fora da realidade, e imagina, um motorista desse tal de
Walter não deve ganhar pouco não, então, não sonho tão pequeno, só sou realista.
— Está certo, antes um motorista bonitão que trabalha para um empresário, do que
um destes ex-alunos que nem emprego tem.
A noite chegou e, eu estava com pernas depiladas e todas as exigências seguidas à
risca, estava impecável. Um vestido de tom dourado que moldava meu corpo por completo,
senti-me tão enaltecida e estonteante. Meus cabelos, eu mesma arrumei,um coque simples,mais que deu um toque a mais.
Pontualmente às dez horas a campainha tocou. Sorri ao olhar para James, mas
imediatamente uma pontada de rejeição pulsou em meu peito, ele não demonstrou reação
alguma de espanto ou admiração.
— Senhorita, o senhor Walter lhe aguarda no carro.
Ele veio, ele estava no carro, meu corpo teve reações de estresse, minhas mãos
suaram imediatamente, meu coração passou a um batimento a mais por minuto, e minha
respiração acelerou. Fechei a porta sorrindo para Emma que ainda esperava sua companhia.
— Boa sorte — ela sussurrou.
descemos
e era outro carro, não o mesmo da tarde, estava parado em frente ao prédio, parecia
mais sofisticado e maior, e James abriu a porta de trás, eu estava nervosa demais para
sorrir novamente para ele. Entrei, sentei-me ao lado de um homem no telefone que nem se
dignou a me olhar, eu tive tanto trabalho seguindo aquelas exigências, e ele estava ao
telefone e nem me encarou.
Respirei fundo e resolvi olhar na sua direção, ele vestia um smoking preto.
Daniel Walter
Clara Parker e seu vestido
Sua fúria ao telefone, e sua testa vincada o deixavam de aparência mais velha do
que ele realmente era, em um dia comum, eu o confundiria com um dos alunos da
universidade…
Que porra! Ele nada tinha a ver com o garoto irritante que conheci há anos, pele
clara e barba impecavelmente feita seus cabelos de uma cor negra estavam alinhados. Ele
levantou os olhos no instante que eu fazia a minha análise, fornecendo a imagem de um
azul intenso e profundo, ele ergueu seu dedo pedindo um tempo, eu assenti com a cabeça
sem falar nada e sorri, ao perceber que ele se demorou um pouco me analisando, mesmo
ao telefone.
Suas mãos eram jovens, unhas limpas e bem feitas, dedos longos, eu tinha um
fraco por mãos, tentei expulsar as imagens se formando em minha mente lembrando-me
de um episódio de Friends. Coloquei a minha mão em frente a minha boca escondendo
meu sorriso.
— Qual foi a graça senhorita Parker? — a voz dele era aveludada, forte e
destemida, no entanto, com um requinte. Ele guardava seu celular no bolso interno do
paletó.
— Nada de mais — sorri.
— Daniel Walter.
— Clara Parker.
Eu sabia que essa apresentação foi pura formalidade e educação, pois não era
necessária.
— Vejo que seguiu minhas exigências — disse ele.
— Segui, mesmo achando-as exageradas — eu não era conhecida por ser discreta e
nem por refrear minha boca, então, naquele momento, foi um dos que não consegui
refrear.
— Exageradas? Digamos que foram necessárias — ele disse erguendo uma das
sobrancelhas. “Merda, ele era sexy”, ele sorria formando pequenas covinhas, mostrando
seus perfeitos dentes brancos.
— Não preciso lhe falar como deve ser feito seu trabalho, não é mesmo senhorita
Parker?
Ele percebeu a minha falta de decoro em salientar que as exigências dele foram
exageradas e uma pontada de dúvida se eu realmente seria uma companhia discreta essa
noite, passou por seus olhos, mas eu já tinha feito isso muitas vezes, eu sabia ser discreta
quando necessário.
— Não precisa, obrigada — eu pude ter soado meio rude, me arrependi da forma
que meu tom de voz saiu.
— Eu não admito falhas senhorita, todos que trabalham para mim sabem disso —
ele mostrou um tom de arrogância e eu novamente, não segurei minha língua.
— Eu não trabalho para o senhor.
— Senhorita Parker, hoje trabalha — a arrogância e a forma de superioridade
foram notadas e eu me corroí internamente, pensado que esse homem tinha um motivo
para estar sozinho, sendo tão jovem e precisando de acompanhantes.
— Senhor Walter, eu presto um serviço, e garanto que sei fazê-lo muito bem.
— É o que eu espero.
Ficamos calados, um tipo de silêncio irritante até que o carro chegou ao seu
destino, à divisão que separava o motorista de nós, foi abaixada.
— Senhor Walter, próximo à entrada ou no estacionamento?
Recebi um sorriso de deboche e sarcasmo de Walter.
— A senhorita Parker deve estar habituada a andar de saltos, quero evitar câmeras,
pode nos deixar no estacionamento, já falei com Hanks entrarei pela porta lateral.
— Sim senhor.
— Andar? — perguntei.
— Não quero que as câmeras me peguem com alguém que é desconhecida à
sociedade, e assim, boatos surgirem.
Tivemos que andar um pedaço, mas eu não me incomodei. Entramos no local.
Ainda haviam poucas pessoas no salão, uma mesa de pôquer estava montada em um dos
cantos e muitas mesas ao redor e no meio, um espaço para quem quisesse dançar.
Ele soltou meu braço e começou a cumprimentar as pessoas, eu sabia que meu
trabalho era sorrir e cumprimentar somente. Estava sendo fácil com Walter, ele não
deixava que as pessoas conversassem muito ou me dirigissem a palavra, assim, eu não
precisava entrar em detalhes, porém, acho que por sua reputação, as pessoas evitavam
realmente uma conversa mais longa com ele.
Depois de uma infinidade de cumprimentos, Daniel me acompanhou até uma
mesa.
— Senhorita Parker — ele puxou a cadeira como um cavalheiro — Ficaremos
mais um pouco, depois, creio que iremos embora.
— O quê? — ele já iria embora, esse trabalho todo foi somente por alguns minutos
de festa?
— Desculpe se te deixei frustrada — ele disse se sentando à minha frente e
percebendo meu espanto — Não fico muito nas festas, apareço por obrigação somente.
— Então por isso precisa de companhia?
— Necessariamente não, eu geralmente tenho companhia, porém, minha
acompanhante de hoje teve problemas.
— Entendo — ele deveria não ser solteiro e ter algum caso que mantinha às
escondidas. Confesso que essa doeu, mas atiçou meu lado petulante e lembrou-me de
minhas discussões com meu pai, então, me deu mais combustível para rebatê-lo.
— Não costuma interagir muito nas festas, vi que tem uma mesa de jogos logo ali.
— Jogos de Blefe não são meu forte, senhorita Parker.
— Qual seu forte? — coloquei minhas mãos em meu queixo analisando as suas
reações, ele era um homem sem muitas emoções, isso poderia ser útil em uma partida.
— Creio que meus jogos vão além de algumas expectativas.
Mesmo sabendo que estava ultrapassando essa barreira, eu continuei nas
perguntas.
— Que tipo de jogos?
Ele abriu um sorriso largo, e ali, eu vi uma expressão em sua face, deboche.
— Receio que não seria seu tipo de jogo — ele endireitou a postura — Sabe que
esse trabalho não é algo que compete à senhorita, ele exige certo grau de discrição, que é
visível não ter.
— Não almejo mesmo continuar — dei de ombros olhando a pista, muitos casais
dançando, suspirei pensando que era meu último trabalho e que estaria em uma destas
festas reservadas e eu nem iria dançar.
— Bom, creio que é uma escolha sábia a fazer.
— Não quero passar meu tempo servindo de brinquedo de exposição a homens mal
amados, tenho sonhos e planos como qualquer um.
Desta vez ele não me retrucou. Pegou duas taças de champanhe do garçom que
passava e me entregou uma.
— A sua última noite aguentando a enfadonha sociedade cheia de aparências.
Bati minha taça na dele. Olhei ao longe e vi Emma com um senhor, sorri
mentalmente, pelo menos vez eu estava melhor que ela.
Deixei que o tempo rolasse, e eu observava Daniel olhar o salão, depois olhar em
seu celular, muitas vezes seguidas.
— Impaciente?
— No meu ramo, tempo é dinheiro, só o fato de me dar ao luxo de parar em um
evento desses, eu perco de ganhar.
— É sexta à noite Daniel, como pode ser assim? Relaxe!
Ele me encarou espantado, notei que sem querer eu usei seu primeiro nome.
— Senhorita, eu creio que nossa noite esteja se encerrando.
Não dançamos, e Daniel fez como falou, antes mesmo da uma hora, estávamos
indo embora, não tinha o que reclamar, eu realmente achei quase insuportável a
companhia de Daniel Walter.
Assim que o carro parou em frente ao alojamento, ele estendeu a mão em minha
direção.
— Obrigado pela agradável companhia, creio que valeu muito à pena.
Mesmo eu sentindo que não foi uma noite tão produtiva, Walter parecia sincero ao agradecer.
— O prazer foi meu senhor Walter. Aliás, se não se lembra, eu me lembro, natal de
2000, seu pai deu uma festa para os funcionários da madeireira de Hill city você
estava lá.
— Que bom que lembrou, Clara — ele sorriu em minha direção.
James abriu a porta, dei uma última olhada em Daniel, eu talvez não o visse mais,
nem ao menos desejava que isso acontecesse, entretanto, algo me dizia que não seria a
última vez em que eu o veria.
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