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Confusão De Sentimentos

Despedida

Tudo começou com uma decisão repentina dos meus pais de fazer uma viagem a Portugal por trabalho. Mal posso imaginar minha vida em outro país, sentirei saudade do Brasil, dos meus amigos, da minha família...

Meus pensamentos são interrompidos pelo som da porta do meu quarto sendo aberta bruscamente.

"Nathalia! Nathalia!" -minha irmã me chama, com um tom de desespero em sua voz.

"Do que você precisa, Rebeca?"-respondo com um pouco de grosseria por conta da maneira que ela invadiu meu quarto.

"Não gosto quando me chama assim…" -eu a interrompo:

"Pensei que fosse seu nome." -digo numa tentativa de provocá-la.

Observo sua expressão, um pouco estressada. Seus olhos cor de mel se estreitam para mim.

"Enfim... eu queria te perguntar se você viu o meu estojo de maquiagem."

Examino seu rosto enquanto tentava me lembrar da última vez em que vi o estojo.

"Eu não usei. Deve estar nas suas coisas, procure direito." -olho para a porta, gesticulando gentilmente para que ela saia do quarto.

"Obrigada pela ajuda viu, Nath?" -ela vira de costas caminhando para a porta.

Apenas dou de ombros, mesmo que ela não pudesse ver. Recebo uma ligação da minha melhor amiga, Amanda. Seguro meu celular por alguns segundos, sem atender.

"Oi, cabeçuda" -zombo dela -"Tudo bem? Por quê me ligou?"

"Ai, palito..." -ouço um suspiro -"Vou sentir saudade da sua chatice. Te amo, magrela..."

"Também te amo, cabeçuda..." -eu rio tentando disfarçar a tristeza -"Agora preciso terminar de arrumar minhas malas. Antes que dê o horário da viagem eu passo na sua casa pra nos despedirmos, ok?"

"Promete?"

"Uhum. Preciso ir, até mais tarde..."

"Até, amiga."

Encerro a ligação.

Levanto da cama e ando até a janela, desviando das bagunças causadas pela viagem. Encosto meu corpo na parede da janela e fecho meus olhos para aproveitar a brisa gelada que tocava tão delicadamente cada canto do meu rosto, e ondulava meu cabelo comprido sutilmente.

"Como será? Vou me acostumar?" -pensava.

Quando já estava tudo pronto, tudo em ordem, meus pais me permitiram sair para falar uma última vez com Amanda.

Corri alguns quarteirões do bairro que, com certeza, sentiria muita falta, percorri aquela calçada meio esburacada para chegar o mais rápido possível na casa da Amanda. Podia ouvir os cachorros latindo conforme passava correndo em frente aos portões das casas.

Do outro lado da rua, perto da casa da minha amiga, podia vê-la, provavelmente me esperando para nos despedirmos. Corro mais depressa, ansiosa para ouvir a voz dela. Eu a abraço firmemente, podia ouvir um soluço de choro vindo dela.

"Poxa, amiga... Vou sentir tanta saudade!" -Amanda diz com uma voz rouca.

Nos afastamos e olhamos uma para a outra. Uma lágrima escorre no rosto dela e, vendo isso, eu desabo em choro já sentindo o peso da saudade.

"Também vou sentir saudade..." -enxugo meu rosto e tento me recompor -"Fique tranquila, você não se livrou de mim para sempre. Eu vou voltar!"

Ela me olha com um sorriso meio forçado, com um semblante triste e me abraça mais uma vez.

"Melhor você ir, não quero te atrasar" -ela me solta do abraço e apoia suas mãos nos meus ombros -"Vê se volta, hein!"

"Está bem." -sorrio.

Viro de costas e inicio o caminho de volta para casa. Olho para trás por um momento e vejo a Amanda cobrindo seu rosto com as mãos para que eu não a possa ver chorar.

"Eu sinto muito, Amanda..." -falo num tom que ela certamente não ouviria.

Assim, logo cheguei em casa. Meus pais e minha irmã estavam no portão me esperando.

"Pronto, podemos ir agora..." -minha voz soa baixa.

Minha mãe acaricia meu rosto delicadamente com as pontas dos dedos e coloca minha franja atrás da orelha, dando um olhar carinhoso e tranquilo.

"Sua família está aqui por você, querida."-ela sorri para mim.

Apenas aceno com a cabeça concordando enquanto minha irmã entrava no banco de trás do táxi que nos levaria ao aeroporto. Meu pai me dá um beijo na testa e alisa meu cabelo com a mão antes de entrar no táxi.

As malas já estavam todas guardadas no porta-malas do carro. Já eram quase 15:40 e nosso voo era às 17:35. Nós morávamos muito longe do aeroporto, por isso a viagem seria longa.

Percorri quase todo o caminho observando os cenários que passavam pela janela do carro, pegando no sono alguns quilômetros antes de chegar ao aeroporto. Algum tempo depois, fui acordada pela Rebeca, a minha irmã, chamando meu nome:

"Nath, Nath!" -ela me dá leves chacoalhões.

"Sim, Beca?" -respondi esfregando as mãos no rosto para despertar.

"A mãe pediu pra te avisar que já estamos chegando."

"Ok, obrigada..." -eu bocejo.

De longe, podia vislumbrar o aeroporto. Doía pensar que dalí a pouco não estaria mais no Brasil. Em pouco tempo, já me via sentada num banco dentro do aeroporto, aguardando nosso voo ser chamado. Tiro meu celular do bolso da minha calça jeans e fico jogando para não me entediar esperando.

"Droga, o sinal de Internet tá péssimo!" -pensava, irritada.

Com muito custo, o sinal melhora e eu recebo uma mensagem: "Você não quis se despedir de mim, né...? Não precisa continuar me evitando, entendo se você não corresponde aos meus sentimentos, mas podia ter me dado a chance de me despedir..."-dizia o garoto que declarara seus sentimentos para mim alguns dias antes, na escola.

"Não o rejeitei porque quis... Apenas sabia que logo deixaria o país e não podia deixar um namoro mal resolvido para trás. Na verdade, ele foi meu amor de infância... Queria que ele tivesse se declarado antes... Acho que sempre vou te amar, Bruno..." -apenas pensava, ainda mais triste agora.

Desligo meu celular, sem responder mensagem nenhuma. Logo chamam nosso voo:

"Voo 164, para Portugal, podem embarcar no avião!"-disse num tom alto, uma moça loira.

Primeiro, entram no avião a primeira classe, depois nós. Essa era minha primeira vez num avião, o quê me deixava muito nervosa.

Já dentro do avião, agarro-me ao banco com medo. Minha mãe se sentou ao meu lado e meu pai ao lado da minha irmã, atrás de mim. O avião levanta voo.

Olho pela janela, tonta com a pressão do ar.

"Até mais, Brasil..."

Primeiro dia em Portugal

A viagem de avião durava horas, parecia uma eternidade. Em pouco tempo, adormeci.

De repente, o cenário muda totalmente. Lá estava eu, num dia normal, na escola. Todos agiam como se não tivesse acontecido nada.

"Amiga!" -a Amanda vem na minha direção -"Credo que cara pálida. Tá tudo bem?" -ela me olha com preocupação.

"Ahn... sim, eu só tive um sonho estranho." -respondo cada vez mais confusa.

"Sonho? Que sonho?" -a curiosidade estava marcada em seu rosto.

"Sonhei que eu estava indo a..." -ela me interrompe:

"Olha lá! O Bruno!" -ela me olha animada -"Depois você conta o sonho, vai falar com ele!" -sou empurrada na direção do Bruno que me olha um pouco confuso.

"Bom dia, Nath. Tudo bem? Você apareceu aí do nada, o assunto é sério?" -ele para por um instante -"Ah... Já sei, sabe a resposta daquela pergunta?" -ele desvia o olhar.

"Se tudo aquilo foi um sonho, então posso aceitar namorar com ele!" -pensei animada.

"Sim, Bruno!" -eu o abraço cheia de animação -"Sempre te amei, só não tive coragem de te dizer..."

Ele se solta do meu abraço, segura levemente meu queixo e ergue meu rosto para olhar nos meus olhos. Sinto sua respiração quente no meu rosto, estávamos muito próximos, o que me causava arrepios.

"Esperei muito por isso, Nath..." -ele diz quase cochichando.

Na distância em que estávamos agora, qualquer palavra dita era suficiente para nossos lábios se tocarem. Fecho meus olhos, esperando o toque suave dos lábios dele nos meus. Mas ao envés disso, uma voz distante me chamava, ficando cada vez mais alta: "Nath... Nath.. Nath!"

Acordo assustada, procurando em minha volta pelo Bruno, mas sou tomada pela realidade quando vejo a minha mãe.

"Ah, sim, mãe?" -respondo um pouco decepcionada.

"Estamos chegando, meu amor." -ela segura minha mão em um ato de carinho -"Se prepare para conhecer Portugal!"

"Já amanheceu?" -perguntei -"Que horas são?"

"Se a gente ainda estivesse no Brasil, seriam umas 9 horas da manhã, mas aqui em Portugal é..." -ela liga seu celular e verifica o horário -"13 horas."

"Ok, obrigada, mãe." -ela sorri gentilmente, como sempre faz.

"Está com fome?"

"Sim, um pouco."

"Vou chamar a aeromoça pra trazer um café pra gente." -aceno que sim com a cabeça.

Ela chama a aeromoça que a responde dizendo que logo traria café e pão. Enquanto isso, observo pela janela do avião a vista de Portugal. Logo estaríamos na capital e não me animava muito, já que veria mais meus amigos e o Bruno.

"Ainda posso conhecer gente nova... pode ser que eu me divirta." -pensei tentando ser positiva.

Minha mãe e eu tomamos o café enquanto conversávamos com meu pai e minha irmã. Ainda assim, sentia-me distante. Queria poder ver o Bruno uma última vez e dizer que não o ignorei porque senti vontade e sim porque achei melhor.

Tomo meu café e me levanto para ir ao banheiro localizado no fundo do avião, assim proveito para lavar meu rosto e pentear o cabelo. Depois, volto ao meu assento e coloco meus fones de ouvido. Um bom tempo depois, o piloto anuncia que logo estaríamos na capital de Portugal, Lisboa. Sinto, novamente, um desconforto por conta da pressão do ar e, finalmente, estávamos no chão. Meu pai chama um táxi com o celular que, sem muita demora, chega e nos leva até o apartamento. Ouço meus pais falarem sobre o apartamento, é pequeno mas é bonito. Minha mãe aponta para fora da janela do carro e pergunta ao meu pai se é aquele o apartamento. Tento ver melhor o edifício para o qual a minha mãe apontava e logo concluí que não decepcionou minhas expectativas.

O motorista estaciona logo em frente ao prédio e meus pais retiram as malas do carro. Meu pai paga o motorista e ele vai embora.

Subimos algumas escadas até chegar no apartamento de número 23. A porta era feita de madeira escura e a maçaneta de metal.

Abrindo a porta, podia ver as paredes tingidas num tom branco, o chão era amadeirado, a cuba das pias da cozinha e do banheiro eram de mármore. No apartamento já havia um armário de inox na parede da cozinha, um sofá almofadado na sala e camas nos quartos dos meus pais e no meu (terei que dividi-lo com a Rebeca). O lugar cheirava à poeira.

Passamos o dia todo organizando nossos pertences no apartamento, apenas parando para almoçar. Quando acabamos já era tarde para sair. Eu me sentia exausta, mal consegui jantar. Só pensava em dormir.

E assim foi meu primeiro dia em Portugal. Empolgante, não é?

Conhecendo um pouco mais de Portugal

Ao amanhecer, levanto da cama. Apesar da ansiedade causada pela mudança e da saudade que sentia de meus amigos, algo ainda me dizia que aquela cidade prometia sentimentos e experiências novas. Eram umas 8 horas, a luz que invadia meu quarto através da janela era suave. Meus pensamentos pairavam sobre recordações de bons tempos, aqueles em que Amanda estava ao meu lado. Suspiro.

Vou até a cozinha para tomar café e meus pais já estavam acordados.

"Bom dia, Nath." -disseram os dois.

"Bom dia, pai. Bom dia, mãe."

"Senta aqui com a gente, meu amor" -disse meu pai dando tapinhas no assento da cadeira que estava ao seu lado -"Pode escolher se quer café, chá ou leite."

"Ok, pai. Obrigada." -vou até o armário da cozinha e pego uma xícara.

Aproximo-me da cadeira ao lado do meu pai e ele a puxa para que eu sentasse.

Sobre a mesa tinha pão, um pote com manteiga, um frasco de vidro com geleia de morango, a chaleira, a garrafa de café, uma caixinha de leite, um pacote de bolacha de água e sal e duas facas, uma já estava meio melada de geleia.

Decido me servir de chá e pão com geleia de morango. Tomo rapidamente o café da manhã.

"Pai, mãe, agora que terminei meu café, posso sair pra dar uma volta?"

"Você ainda não conhece o bairro, vai se perder. Melhor não." -responde meu pai.

Insisto para eles deixarem. Relutantes, acabam aceitando com a condição de que eu levaria meu celular e ligaria caso me perdesse.

Desço as escadas quase que correndo, ansiosa para conhecer um pouco mais sobre meu bairro. Percorro algumas ruas, sem ir longe demais para não correr o risco de me perder. Observei a maneira como as pessoas se vestiam, como gesticulavam ao falar e, ainda mais, no sotaque ao falar.

Quando já voltava para o apartamento, vi um garoto que parecia ter minha idade passeando com um cachorro. Tinha o cabelo loiro, era bem alto e seus olhos eram azuis. De longe não pude ver muito bem, contudo parecia bonito.

"Ei, menina!" -aquele garoto me chama. Paro e o olho.

"Eu?"

"Sim. Tu és a nova moradora desse apartamento, certo?" -ele pergunta com aquele sotaque português.

"Sim, como você sabe?" -olho-o nos olhos.

"Sou teu vizinho." -ele sorri -"Só queria te conhecer."

"Ah, ok..." -cruzo meus braços e observo seu cachorro impaciente.

"Qual teu nome?" -ele segura firme a coleira -"Xiu, Tobbi!"-o cachorro era de grande porte, o que explicava sua dificuldade de se manter no lugar com os puxões dados pelo Tobbi.

"É Nathalia, e o seu?"

"Meu nome é Leandro, prazer. Eu moro no apartamento 13. Se quiseres conversar podes ir lá. Tenho que ir agora senão o Tobbi me leva arrastado." -nós rimos.

O cachorro o leva quase correndo pelas ruas.

"Espera..." -paro para pensar -"Não pode ter cachorro no apartamento..."

Dou de ombros e volto ao meu apartamento. Minha irmã estava jogando no celular, minha mãe lavava louça e meu pai estava lendo jornal no sofá.

"Voltei."

"E aí? Gostou de Portugal, filha?" -meu pai me olhava esperando uma resposta.

Aceno que sim com a cabeça.

"Que bom." -ele se levanta e me dá um beijo na testa -"Amanhã você vai ter aulas numa escola aqui perto."

"Ah, tá bom, pai."

Não me animava muito com a escola, sem a minha amiga as coisas seriam muito diferentes.

Minha mãe prepara o jantar enquanto eu e a minha irmã jogamos vídeo game e meu pai lia seu jornal. Provavelmente ele começaria a trabalhar amanhã também.

Depois do almoço, meus pais e minha irmã saíram para conhecer Portugal. Até me chamaram porém dispensei, queria ir ao apartamento daquele garoto de hoje mais cedo. Desço alguns andares, procurando pelo apartamento 13 e, quando finalmente encontro, fico olhando para a porta sem saber o que fazer.

"Será que ele vai pensar que eu tô interessada nele?" -pensava indecisa -"Mas ele é o primeiro que eu conheci aqui nesse país." -preparo minha mão direita para bater na porta.

Bato levemente e em poucos momentos a porta se abre.

"Mariana! Não é que tu viestes mesmo?"

Eu paro por um momento: -" 'Mariana'?"

"Sim, esse não é teu nome?" -balanço minha cabeça -"Não, não!" -ele fixa seus olhos em mim até lembrar -"É Nathalia, caramba!"

Ele quase morre de rir, tornando a situação um pouco menos desagradável para mais engraçada graças a sua risada cômica. Deixo que me escape um sorriso.

"Desculpa, minha memória tá ruim mesmo!"-ele bate de leve na testa -"Vem, podes entrar." -ele me dá espaço para passar pela porta.

Sou levada até o sofá. Aproveito a oportunidade e faço algumas perguntas sobre o bairro, a cidade e o país, e o garoto me respondia com aquele sotaque, sempre com um sorriso no rosto. Seus olhos brilhavam ao falar do lugar.

"Em que escola tu estudarás?" -ele me pergunta.

"Numa escola aqui perto" -tento encontrar na memória o nome da escola -"Não consigo me lembrar do nome..."

"A escola ficou com o nome do fundador" -ele coça a nuca -"Dr. Mário Sánchez de Arruda."

"Ah, eu jamais me lembraria!" -um sorriso se abre no rosto dele.

Nos olhamos por alguns segundos.

"Ok, bom..." -ele para por um instante -"Queres beber algo? Um chá? Ou então um suco? Ou só uma água..."

"Não, obrigada" -sorrio para ele -"Já estou de saída... Melhor eu voltar pro apartamento" -levanto do sofá.

"Tudo bem, então..." -ele se levanta e me acompanha até a porta -"Gostei de te conhecer, Nathalia que não é Mariana!" -nós rimos.

"Ah, antes de sair, eu queria perguntar. Aquele cachorro que você levou pra passear, é seu?"

"O Tobbi?" -aceno que sim com a cabeça -"Ele não é meu, não. É dos meus avós, eles moram aqui perto também, mas não no apartamento."

"Entendi" -aceno com a mão -"Tchau, até mais."

"Tchau, até."

Cruzo a porta e olho pelo ombro uma última vez, assim vejo o Leandro me olhar subindo o primeiro degrau. Aceno uma última vez, recebendo um sorriso dele, e continuo a subir a escadaria. Sentia-me feliz por ser recebida na cidade por alguém tão atencioso, seu sorriso podia tirar de um velho rabugento seus sentimentos mais amargos.

Chego ao apartamento e preparo uma xícara de café solúvel para mim. Não havia ninguém em casa, então sento-me sozinha à mesa e passo geleia de morango num pão de forma. Isso serviria como meu café da tarde. Depois do café vou até meu quarto, deito de barriga para cima na minha cama e ligo para o celular da Amanda para contar a ela tudo o que têm acontecido.

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