O ódio algema
Tudo se passou em 1875, assim começa a nossa história, algemamos nossas almas através do ódio e pra nos libertarmos desses grilhões serão necessárias muitas reencarnações para nos reconciliar!
João Barroso _ Já falei, não quero essa menina misturada a esses negrinhos, a próxima vez que encontra-lá mando para um colégio de freiras, e eles vão receber um castigo, onde já se viu a minha filha no meio deles!
Tereza _ Mas ela é só uma criança, não tem outras crianças pra brincar!
João Barroso _ Que criança? Já tem 13 Anos, a senhora minha esposa precisa começar a prepara-lá pra ser uma boa dona de casa, porque já estou acertando o casamento dela, com 15 anos apresento pra sociedade e pro noivo que estou arranjando .
Tereza_ Mas ela será muito nova pra casar, espere que complete ao 18 anos!
João Barroso _ De jeito nenhum, quero um neto, já que a senhora não teve capacidade de me dar um filho, quero um neto pra ensinar tudo e ser o meu herdeiro.
João Barroso encerra a discussão e sai da sala batendo um chicotinho nas suas botas, tinha esse hábito quando estava nervoso, sempre era ele que encerrava as conversas porque tudo tinha que ser do jeito dele, não se importava com a opinião de ninguém!
Tereza, sua esposa silencia como sempre abaixando a cabeça , mas sentia se magoada quando ele se referia ao fato dela não ter gerado um filho homem, sempre corria pro quarto para chorar, sentia que seu marido não conseguia aceitar a sua pequena Marina, era muito duro com a menina.Ela dizia baixinho entre lagrimas:
Minha menina é tão delicada, doce, não faz diferença entre os escravos.
Marina entra no quarto e vê sua mãe chorando
- Mamãe o que foi? Esta chorando de novo?
Tereza_ Oi filha!! Não liga pra isso não, é coisa minha.
Marina senta ao lado de Tereza pega em suas mãos e faz um carinho
Tereza da um sorriso , a abraça e depois fala:
-Filha quero te pedir um favor.
Marina- pode pedir, sempre farei tudo que a senhora me pedir.
Tereza- você sabe como o seu pai trata os escravos, então pra não piorar a vida deles nesta fazenda gostaria de te pedir pra não ir mais na senzala pra brincar com eles, sei que pra nós não tem diferença, mas infelizmente não é assim que ele vê!
Marina - Mas mãe, não tenho ninguém pra brincar comigo, é muito triste ser sozinha!
Tereza - Eu sei, mas você já está virando uma mocinha e precisamos começar a te preparar pra quando você se casar a ser uma boa dona de casa, precisa aprender a bordar, organizar uma casa.
Marina começa a chorar - Isso é coisa do meu pai, ele que não quer me deixar brincar com os meus amigos, porque a senhora aceita tudo que o meu pai quer, nunca fica contra ele!
Tereza - Porque minha querida uma boa esposa não discute com seu esposo, temos que ser obedientes! Assim fui educada.
Marina - Mas as coisas não podem mudar?
Tereza- Não minha filha, desde que o mundo é mundo é assim, as mulheres primeiro obedecem os pais, e depois de casarem passam a ser obediente ao seus maridos!
Marina - Quero uma vida diferente, não vou me casar com quem meu pai escolher...
Tereza - você é muito jovem pra entender.
Marina - Não consigo entender isso! Aceitar tudo que o meu marido mandar, isso não!
Tereza-Espero que quando se casar que seja com um bom homem, que consiga ver o seu valor, peço a Deus todos os dias mas não se iluda querida é muito nova pra entender o que estamos conversando, voltaremos a falar sobre esse assunto quando estiver um pouquinho mais velha, por hora
vamos organizar o nosso tempo pra vc aprender a bordar, cuidar do nosso jardim.
Marina da um suspiro, beija as mãos de sua mãe E sai do quarto.
Sobre Tereza
ela se casou muito jovem , seu matrimônio seguia os costumes da época, seu pai arrumou o casamento com a família de João Barroso, aos 16 anos ela o conheceu e se casou , após o casamento se despediu de sua família e foi embora morar em outro estado, sua vida não era nada fácil, enquanto seu sogro estava vivo, ele implicava por tudo que ela fazia, várias vezes seu marido a repreendeu por causa do seu pai, e logo ela percebeu quem mandava, eles dormiam em quartos separados, quando ele a procurava como mulher era pra que engravidasse depois voltava pro seu quarto, ela sabia das escravas que ele mandava buscar na senzala pra usá-las,
Ela não se importava , ficava até muito feliz por não ter que suportar o contato físico com o seu marido, quando ela engravidou ele passou a evitá-la, dizia que tinha que ser um menino, porque não queria ter mais filhos, quando Marina nasceu, joao barroso ficou irado por ser uma menina, ficou sem conversar com Tereza por mais de dois meses, não procurava ver a menina, isso a machucou muito, com o tempo ele voltou a procurá-lá, até chegou a engravidar mas passou a ter abortos espontâneos, então ele se afastou e decidiu que teria que ter um neto, casaria Marina assim que fizesse 15 anos.
Ao chegar em seu quarto, Marina falava baixinho - No vou deixar de ver meus amigos, quando meu pai for ao povoado, corro lá pra ver eles, e também não vou aceitar um casamento arranjado, já sei com quem vou me casar, com Eugênio, se ele não deixar fujo com ele pro quilombo e nunca mais vai me ver, não sou igual a mamãe, tenho que pensar em como farei pra ver Eugênio, porque ele já está na lida do café.
Marina fica observando o jardim que sua mãe amava tanto, e pensa :
- Coitada da minha mãe, tenho tanta pena dela, nos duas somos tão escravas quanto os negros, por qualquer coisa somos castigados, mas ele não vai me vencer!
Marina ficou o resto do dia no seu quarto, tentando encontrar uma forma de estar um pouquinho com Eugênio, as 18:00 horas Lenir uma escrava que trabalhava na cozinha junto de uma escrava mais velha, todos a chamavam de Mãe Maria, por ser a parteira dos escravos, a mocinha bate na porta pra avisar que já estava no horário de jantar, seu país estavam aguardando-a, Marina a contra gosto vai pra sala de jantar, todo dia era igual, eles faziam
suas refeições em silêncio, mas somente quando o João Barroso terminasse e que elas podiam se levantar da mesa, Após o jantar, Tereza e Marina se dirigiam para seus quartos e só saiam no outro dia de manhã para o café da manhã.
Estava no verão e fazia muito calor, Marina abre a janela e senta- no parapeito e fica olhando o céu estrelado e sentindo a brisa fresca em seu rosto, aí vem a ideia, ela pediria pra Lenir guardar segredo e avisar ao Eugênio pra procurar uma forma de escapar da senzala a noite, depois que o Feitor trancasse os portões, ela fugiria pela janela a noite, momento em que todos já haviam se recolhido, e eles poderiam se encontrar perto do riacho, ela levaria um lampião pra achar o caminho, depois desta ideia Marina se encheu de felicidade e esperança, decidiu conversar com Leni pedindo sua ajuda, desejando que a noite passasse rápido pra colocar o seu plano em ação preparou - se para dormir.
O dia amanheceu, Marina se prepara pra o café da manhã, seu pai exigia que tomassem o café da manhã juntos, no mesmo horário, se acontecesse de atrasar ele as repreendia, mas ela estava ansiosa pra falar com Leni uma escrava que ajudava mãe Maria na cozinha e arrumação da casa grande.
Marina - Preciso falar com você, vou te esperar no meu quarto.
Leni- tá bão sinhazinha, hoje vo dá uma ajeitada no seu quarto
Mãe Maria percebe as duas com segredos e logo pergunta: - a sinhazinha tá pricizano de arguma coisa?
Marina - Não, só pedi a Leni pra arrumar o meu quarto hoje
Mãe Maria- Intão si é só isso, vai tomar seu café, coroné e a sinhá já tão na mesa e a sinhazinha sabe que ele num aceita atraso.
Marina - já estou indo.
Ao chegar Marina pede a bênção de seu pai é de sua mãe e senta em seu lugar, estava ansiosa pra conversar com Leni, não sentia fome, come uma fatia de bolo e fica aguardando seu pai permitir que se retirasse da mesa, pois somente quando ele termina é que mãe e filha podem se levantar, então Marina passa a observar sua mãe, sempre de cabeça baixa, fica com pena por ela ser tratada dessa forma, olha para o seu pai e não consegue entender porque ele era assim, tinha uma bela esposa, dedicada a família, mas não recebia nada em troca. perdida em seus pensamentos, Marina não percebe que seu pai já havia terminado e se levantava da mesa
João Barroso- Espero que hoje a senhora minha esposa começa a preparar a sua filha como ordenei ontem, e não quero vê-la solta por aí com os negrinhos
Tereza - Sim senhor, vamos começar hoje mesmo.
João Barroso - espero não ter mais problemas com esse assunto. - sai da sala deixando as duas , Marina começa a chorar pela indiferença que era tratada por ele
Marina - mamãe ele me odeia, só porque não sou um menino, me castiga por isso!!
Tereza- sabe filha, ele foi educado assim, mas é seu pai, gostaria que você não fique com rancor pela forma como age, nós não vamos mudá-lo, porém podemos evitar confrontos que vai nos trazer dor.
Tereza vai até sua filha e a abraça, secando suas lágrimas.
Marina - Mas também não podemos permitir que nos trate dessa forma.
Tereza- você minha querida é muito jovem, tem muita coisa pra entender, mas precisa de paciência. devemos evitar confrontos pra termos o mínimo de paz dentro da nossa casa.
Marina - Mas e os nossos sentimentos não contam?
Tereza- Sim, claro que contam, mas temos uma a outra e isso é o que importa. Agora vamos enxugar essas lágrimas, vamos pro jardim, mexer um pouquinho com as minhas rosas, à tarde te ensinarei a bordar o seu enxoval.
Marina - queria mesmo era ir pra senzala brincar com os pequenos, lá tem um bebê lindo, estou apaixonada por ele.
Tereza- Vamos evitar é melhor
As duas vão para o jardim Vicente, um dos escravos mais antigos da Fazenda, aguardava as duas com as ferramentas .
Tereza - Bom dia Vicente, hoje teremos uma companheira pra nos ajudar com as nossas rosas.
Vicente - Que bão sinhazinha
Tereza- Hoje vamos afofar a terra nos pés das roseiras, ficaremos até as 10 horas por causa do calor, e lá pelas 16 horas você rega elas pra ficarem fresquinhas, viu?
Vicente- Pode deixá que molho ela bem.
Tereza- Então vamos começar
Marina observa Vicente, ele não tinha as duas mãos, quando ele era adolescente foi ao pomar e colheu uma laranja, o pai de João o castigou e mandou cortar tres dedos da mão Esquerda, o menino quase morreu, perdeu muito sangue, deu gangrena, quem cuidou dele foi mãe Maria
com chás e unguento, pra doença não se espalhar foi preciso amputar a mão, por isso não vai pra lavoura, o Feitor o coloca nos serviços da casa, ajudando no que precisa.
Marina- será que o Vicente não ficou com raiva do meu avó? É um absurdo que fizeram com ele!
Tereza - o que ele podia fazer? Se revoltasse seria pior, mas dentro dele imagino que se sente muito triste.
Marina fica em Silêncio e ajuda sua mãe a mexer, remexer na terra, quando dá o horário elas entram , ela pede permissão para mãe pra ficar no quarto até o horário do almoço
Marina - Pedi pra Leni me ajudar a organizar o meu guarda roupa e tem umas peças que não me servem, posso dar pra ela?
Tereza- pode sim, precisamos de comprar outros vestidos pra você, agora que já está ganhando corpo, vou pedir ao seu pai pra comprar uns tecido quando for a cidade e farei uns vestidos novos para vc, a Leni é muito miúda, se precisar faço uns ajustes pra ela.
Marina corre pro seu quarto e aguarda Leni ansiosa, logo a menina bate na porta e entra,
Leni - Fiquei fazendo hora no quarto da sinhá.
Marina- Leni, meu pai me proibiu de ir na senzala pra brincar com as crianças, mas o dia em que ele for no povoado dou um jeito de ir ver meus amiguinhos, mas não vou conseguir encontrar com o Eugênio já que ele vai cedo pra lavoura
Leni- ele sai cedo e só vorta no fim do dia
Marina - Então, quero te pedir pra falar pra ele arrumar uma forma de sair da senzala a noite depois que o Feitor trancar o portão, vou esperar ele perto do riacho.
Lenir - Mas sinhazinha é muito perigoso, se o coroné pegar oceis dois...
Marina - Acho que não vai ter perigo, porque após o jantar meus pais se recolhem cedo, e o Feitor fica na cabana , não tenho outra saída, me recuso a ficar sem ver meu amigo .
Leni - Tá bão Intão, vou falar com ele
Marina - Será um segredo nosso viu, nem a mãe Maria pode saber
Leni -Ta bão
Marina - Escolhe umas roupas pra vc, se ficarem largas mamãe ajusta, já falei com ela
Leni - Seus vistidos é muito bonito, não posso aceitar, e nem tenho onde usar, pricisa não, tenho medo do feitor achar que roubei e me castiga
Marina- Mas estou te dando, mamãe permitiu que te desse
A mocinha olha um bem simples e pega
Leni - Intão pode se esse aqui?
Marina- Se é esse que você quer, é seu.
Leni- agradecida sinhazinha.
Marina - Eu que te agradeço por me ajudar, lembre-se esse Será nosso segredo.
Leni - Pode dexá, não conto pra ninguém Marina- então vamos colocar essas roupas no lugar.
A vida corria normal, Marina passou a acompanhar sua mãe, como o seu pai queria, Tereza se esmerava para torná-la uma moça prendada, mas ela pouco se interessava, estava cansada de ficar dentro de casa, saindo apenas para irem ao jardim de rosas, se sentia presa, estava esperando Eugênio descobrir uma forma de sair da senzala a noite pra se verem.
Eugênio quando recebeu o recado de Marina passou a observar por onde ele poderia fugir, a senzala era uma construção de pedras e não tinha como passar pela parede, então ele passou a observar o telhado, tinha um ponto em que a telha estava quebrada, ele só precisava conseguir escalar a parede, os escravos mais velhos ficavam em um outro cômodo, as crianças e os jovens ficavam juntos, e lenir era muito amiga de Eugênio, ela não o entregaria, a noite ele experimentava, cada dia subindo um pouco mais, até que conseguiu alcançar a telha, ele arreda e como era muito magro deu pra passar entre os caibros, no outro dia pediu pra lenir marcar a noite pra Marina encontrá-lo perto do riacho.
Após o café da manhã, mãe e filha não foram para o jardim, pois o dia amanheceu chuvoso, Marina pediu pra retornar ao seu quarto, todos os dias ficava ansiosa esperando por lenir, no mesmo horário a mocinha bate na porta.
Marina - Bom dia, tem novidades pra mim?
Lenir - tem sim, onte de noite ele cunsiguiu í inté o teiado, falô que se a sinhazinha quise, pode i se incuntrá essa noite
Marina - Mas está chovendo, tem muito barro e escorrega muito, vou pensar o que fazer
Leni- aí a sinhazinha me fala pra mode avisa ele, pra ele num i atoa
Marina- se a chuva passar até a tarde da pra ir, antes do jantar vamos ver como vai ficar o tempo aí te falo
Leni - Tá bão sinhazinha
A menina começa a arrumar a cama, Marina se senta em uma poltrona e fica observando
Marina- você gosta de viver aqui?
Leni- Num sei, num conheço outro luga.
Marina - Você nasceu aqui,?
Leni- Não sinhazinha, quando vosso avó comprô a minha mãe eu tinha poco tempo de nascida, o meu pai foi pra otra fazenda, num cunheci.
Marina - A sua mãe foi vendida de novo, porque ela não está mais aqui.
Leni- ela morreu, tem poco tempo.
Marina - Ela morreu de que?
Leni- Ela foi comprada pra ser paridera, tava tendo um fio atrais do otro e no úrtimo ela num cunsiguiu bota ele pra fora, mae Maria teve que ajudá, ela fico muito fraca e num deu conta.
Marina - Meu Deus do céu isso é uma violência muito grande
Leni - Tenho medo do sinhozinho quere me bota pra paridera, igual feiz cum a minha mãe, tem mais duas na senzala, as coitada nem dá leite pros fio, pra mode imbucha de novo.
e quando os mínimo faz sete anos ou vão pra lavora, ou são vendidos, separam eles nuvinho.
Marina - Alguns dos seus irmãos já foram vendidos?
Leni - dos onze só tem treis, já tão mais crecido trabaiam na lavora de café e cana
Marina- você tem vontade de ir embora daqui?
Leni- Pra donde?
Marina- Não sei, fugir, ser livre.
Leni- Pra quarqué lugar que for, vô cuntinuar a ser preta e escrava.
Marina- Ouvi meu pai falando com o Feitor que os negros que fogem estão indo pra um lugar chamado quilombo, onde ninguém está conseguindo encontrar os negros fugitivos, que muitas fazendas estão perdendo muitos escravos.
Leni - mais será que ixiste esse lugar memo?
Marina- tenho vontade de ir pra lá, junto com Eugênio, se nós formos podemos te levar.
Leni- A sinhazinha qué fugi tamém?
Marina- Quero sim,
Leni- mai num tô intendendo aqui é a casa da sinhazinha , vosso pai te dá de tudo!
Marina- Aqui sou tão escrava como você, estou proibida de sair sem minha mãe pela fazenda, não posso ir na senzala mais, e assim que fizer quize anos meu pai vai me casar. Esta vendo a minha situação não é boa!
Leni - intao a sinhazinha que memo é fugir.
Marina - E vou fugir, e quando for se quizer pode vir com agente.
Leni - A sinhá não tem medo de sê pega, pq o Feitor conhece essas Mata tudo, e é muito pirigoso.
Marina- Mas viver desse jeito não dá, prefiro morrer!
Leni faz o sinal da cruz - curuis credo sinhazinha
Marina - Mas é a verdade, não suporto esse cativeiro.
Leni - num sei se tenho corage.
Marina - Mas vai pensando, porque não vai demorar muito pra gente fugir.
Leni- tá bão quarquer coisa te falo, já acabei de arranjar o vosso quarto, vô ajudá mãe Maria cum armoço.
Mariana- obrigada por arrumar meu quarto, mais tarde passo na cozinha pra te falar se vai dar pra encontrar o Eugênio está noite.
Leni balança a cabeça e sai do quarto, Marina vai para janela pra ver a chuva cair, pedindo a Deus pra parar de chover, a possibilidade de ver seu querido Eugênio a deixava com um calorzinho no seu coração.
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