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Tramas Do Destino

Destino Fatal Livro 1 Capítulo 1

Nunca imaginei que minha vida pudesse mudar de uma hora para outra, mas aconteceu.

Eu tinha uma vida feliz com minha mãe na cidade de Barcelona, muitos amigos, uma escola legal e um futuro planejado. E acontece essa reviravolta.

Minha mãe se chama Beatriz Rodriguez, ela é uma advogada de sucesso na nossa cidade e agora ela recebeu uma proposta para gerenciar o escritório central nos Estados Unidos. E adivinhe qual a resposta?

Na noite que ela me deu a notícia eu fiquei de boca aberta, sem acreditar.

 - Fale alguma coisa Angélica!

 - Eu não acredito que você aceitou!

Será que ela não consegue ver como é difícil para mim?

Estamos sentadas na sala da nossa casa e olho para todos os lados pensando o que espera por mim nesta outra cidade.

 - Mãe eu não quero ir! Já tenho 19 anos e posso me virar sozinha. Me deixa aqui? Por favor?

Ela me olha e balança a cabeça num sinal de negação. Nem espero ela falar mais nada e corro para o meu quarto.

Chorar é pouco, eu me descabelo em desespero. Acabo mandando mensagem para minhas amigas contando o que aconteceu, elas ficam tristes e choramos juntas.

Será difícil me adaptar depois de tanto tempo morando aqui. Tentamos achar uma forma de resolver esta situação para que eu fique aqui e no final concordando que não existe nada para se fazer.

Desligo e fico olhando o teto do meu quarto imaginando o que farei da minha vida nesse novo lugar.

 

Na manhã seguinte levanto cedo, tomo banho e vou tomar café da manhã. Minha mãe está esperando por mim na cozinha.

- Filha, precisamos conversar. Já acertei tudo para viajarmos no próximo final de semana. Precisamos separar o que vamos levar, pois na sexta-feira a empresa de transportes vem buscar as caixas.

- O que tenho que levar?

- Tudo que você quiser. A casa será alugada depois que formos. Os móveis e o que sobrar serão levados para um depósito. Meu contrato na sede em Nova York será de 24 meses, depois disso, eles vão me falar se continuo lá ou se volto.

- Tudo bem.

- Olhe, Angélica, sei que é difícil para você também estou sentida por ter que ir embora daqui, mas preciso.  Este trabalho paga muito bem e tenho condições de cuidar de nós duas sem você precisar se sacrificar tendo que trabalhar. E lá será da mesma forma que aqui, você vai continuar seus estudos. O que acha?

- Tudo bem.

- Filha, por favor, tente ficar mais feliz.

Neste momento eu realmente olho para ela.

- Feliz? Com o que? Com o fato de que vou ter que fazer novos amigos? Estudar num local que não conheço? Com pessoas que não conheço? Começar do zero tudo de novo? Gostaria de poder dizer que estou feliz, mas não estou. Vou com você, mãe, mas isso não significa que estou feliz com isso. Não pense que será um paraíso, pois não será.

Ela me olha com tristeza e concorda.

- Tudo bem. Eu te entendo. Agora vamos ver o que levaremos conosco?

Levanto da mesa e vou para meu quarto. Começo a separar as roupas que levarei.

No final tenho várias caixas fechadas e devidamente etiquetadas e duas malas que vou levar no dia da minha viagem.

Passo a semana com meus amigos passeando no shopping e indo a festas, sinto que eles estão diferentes comigo como se eu não fizesse mais parte do grupo.

Lá no fundo percebo que não mais e que a viagem apenas antecipou a quebra desses laços, fico um pouco resignada por estar indo embora.

No meu último dia em Barcelona faço um passeio pela cidade de bicicleta e revejo todos os lugares que amo nesta cidade. Suas praças, edifícios históricos e monumentos. Sempre me encontrei aqui e espero ter um lugar assim na nova cidade. Chego à minha casa e minha mãe está terminando de empacotar as últimas coisas. Vamos deixar tudo para a retira de uma empresa especializada, tudo isso na manhã do próximo dia.

Esta é minha última noite no meu quarto, na minha cama e fico pensando o que será da minha vida. Estou deixando para trás um grande nada e indo para um maior ainda.

Sem esperanças é assim que me sinto. Pego meu celular e olho a tela. Vazia. Nenhuma mensagem ou ligação. Ninguém. Fico imaginando ficar assim nesta nova cidade. Esses 24 meses vão demorar a passar.

Minha última noite está cheia de lamentações, tristezas, desilusões e auto piedade. Levanto e vou até a cozinha e faço pipoca e como não consigo dormir, fico na sala assistindo um filme. Comédia para alegrar um pouco.

Acabo adormecendo com a televisão ligada.

Acordo com minha mãe me tocando do sofá, pois os carregadores já estão aguardando para começar a retirar os móveis.

Vou para meu quarto. Tomo banho, escovo os dentes e faço um coque bem apertado. Coloco uma calça jeans, tênis e camiseta branca. Vou viajar assim mesmo. Só vou levar o casaco e a mala de mão comigo.

Vou para a sala e ajudo minha mãe a entregar as caixas que irão para a transportadora e o que será  guardado no depósito. Está uma confusão de homens desmontando móveis e arrumando as coisas por aqui.

Minha mãe encosta no balcão da cozinha e vejo que ela está triste com tudo que está acontecendo.

- Mãe você está bem?

- Sabe estou triste também. Estava acostumada com tudo por aqui e sei que nossa vida vai mudar radicalmente. Vou pegar um escritório num verdadeiro caos e ter que arrumar tudo para poder voltar.

Ela está com uma expressão desolada e percebo o quanto está sendo difícil para ela esta situação. Ela sempre teve esperanças de que meu pai voltasse, agora ele não saberá onde nos encontrar.

Não sinto a falta dele. Nem lembro como é seu rosto. Ele nos abandonou quando eu era pequena e nunca voltou nem para uma visita.

- Ficaremos bem mãe. Vamos ver no que vai dar essa passagem por Nova York.

- Suas amigas não vão vir se despedir de você?

- Vamos dizer que elas não sentirão tanto assim a minha falta.

- Ah filha lamento por isso. Algum dia você terá amigos de verdade e eles vão sentir sua falta.

- Tomara mãe, tomara.

Ficamos observando os homens carregando nossas coisas até que algo cai e faz um barulho enorme fazendo minha mãe sair correndo para ver o que aconteceu.

Aos poucos nossa casa fica completamente vazia e só restam nossas malas, bolsas e casacos.

Minha mãe caminha pela casa vazia e quando me vê parada na porta me direciona um sorriso.

- Vamos almoçar? Depois voltamos e pegamos nossas malas, passo rapidamente na imobiliária para deixar as chaves e vamos para o aeroporto.

 

Chega a hora de partir. Não haverá despedidas no aeroporto. Não quero chorar o caminho todo.

Como minha mãe vendeu seu carro na semana que se passou vamos de táxi.

O processo é rápido e quando percebo já estou vendo a minha cidade do alto ficando cada vez menor.

Não lembro quanto tempo dormi, mas acordo com minha mãe falando que já estamos aterrissando. Observo a cidade do alto e ela parece um tanto cinza aos meus olhos. Cinza e sombria. Dou um suspiro, penso que de agora em diante aqui será nosso novo lar.

Sair do aeroporto não é fácil. Quanta gente!

Conseguimos um táxi depois de uma hora de espera e enquanto estamos colocando as malas no porta-malas do táxi o condutor nos diz que até que foi rápido.

Minha mãe vai apontando alguns lugares que reconhece. Ela nasceu e cresceu aqui e só foi para Barcelona quando casou com meu pai. Como ela estudou e cresceu profissionalmente lá nunca precisou voltar.

E é por ter crescido aqui que ela sempre me fez aprender inglês e ser fluente nesta língua.

- Mãe onde vamos morar?

- Espere e verá. Você vai adorar o local, filha.

Fico olhando pela janela do carro quando entramos em ruas com vários tipos de construções. E me encontro numa avenida que tem um dos lados tomado por árvores. Estamos no famoso Central Park.

Paramos na frente de um prédio que fica exatamente do outro lado do parque.

- Eu exigi que fosse aqui. Sei o quanto gosta de locais verdes para se distrair e como não vou poder ficar muito com você nessas primeiras semanas será ótimo ter um local como esse para passear.

Desço do táxi e respiro fundo. O lugar é lindo tenho que admitir, só é necessário andar duas quadras e já se tem uma entrada de acesso ao Central Park.

- E ai filha o que achou? Só terá um problema, você precisa tomar cuidado, pois aqui o transito é infernal e sua escola fica a algumas quadras daqui, tem como ir a pé só que é uma caminhada razoável.

- Sem problemas mãe.

- Amanhã vamos dar uma volta e te levo até lá pelo caminho mais fácil, ok? Agora vamos entrar e ver como é o nosso novo apartamento?

Entramos e minha mãe vai até a recepção se identificar, o porteiro lhe entrega um envelope pardo que ela abre e dentro estão dois conjuntos de chaves. Ela me entrega um e depois de agradecer nos dirigimos ao elevador.

- Nosso apartamento é no oitavo andar, número 806. Eu pedi com dois quartos.

Vamos em direção ao elevador, ao chegarmos ao nosso andar minha mãe caminha até a porta e consigo reparar que ela está nervosa. Tem medo de não ser como ela espera. Fico rindo dela. Parece uma criança recebendo um presente de Natal.

- Vamos mãe! Abre logo!

Entramos e a sala tem carpete chumbo, sofá escuro em L, uma televisão estrategicamente colocada. Sinto que o lugar tem um aconchego. Ela vai até o corredor e coloca suas malas no primeiro quarto.

- Angel, você fica com o quarto dos fundos. Coloque as malas lá, ok?

Pego minhas coisas e vou até lá. Quando abro a porta dou de cara com uma cama de casal, dou risada e vejo que tem um armário embutido e uma janela que dá vista para o Central Park.

Desfaço minhas malas e deito na cama observando o teto e nem sinto como estou cansada.

 

Ainda estou dormindo quando minha mãe me chama para sairmos. Visto uma saia jeans, camiseta amarela e sapatilha da mesma cor, faço um rabo de cavalo.

Me olho no espelho da parede e avalio minhas roupas e vejo apenas uma garota de pele clara, não muito alta, cabelo bem comprido ruivo e olhos azuis. Como minha mãe diz pareço uma bonequinha.

Saímos do apartamento e seguimos para o saguão do elevador. Estou conversando com minha mãe sobre conhecer a faculdade, ela fala algo sobre ser surpresa quando o elevador abre as portas e damos de cara com um casal que está se beijando. Minha mãe entra e dá uma leve tossida e cumprimenta.

- Boa tarde.

Eles cumprimentam de volta

- Boa tarde.

O rapaz me olha muito e fico sem graça com seu olha insistente. Dou um sorriso sem graça e me viro para perguntar algo para minha mãe. Sinto uma sensação estranha e um arrepio sobe pela minha espinha. Dou uma olhada de rabo de olho e eles estão se beijando de novo, desvio o olhar.

Quando as portas se abrem saímos em direção a rua e minha mãe me abraça. A rua está cheia de pessoas passeando com seus cachorros, crianças correndo e seus pais desesperados atrás.

Sinto que tem alguém me olhando e olho por cima dos ombros, vejo que o casal do elevador está atrás de nós e o rapaz ainda está me olhando, viro para frente e sigo minha mãe que caminha em direção ao Central Park.

Posso afirmar que amo a natureza e aqui é muito bonito. Eu respiro fundo algumas vezes e meu sorriso se alarga. Minha mãe percebe e me olha.

- Sabia que ia gostar daqui. Lindo, não?

- Muito, vou vir aqui todo dia para ler, caminhar ou sentar debaixo de alguma árvore para relaxar.

- Ah, mas tem que vir paquerar também. Pensa que não percebi aquele rapaz te olhando no elevador? Até aqui ele não para de te olhar.

- Você está brincando, não é?

Ela olha para algo atrás de mim e dá um sorriso.

- Se você olhar para trás agora vai ver ele te olhando.

Tento disfarçar mas não consigo, me viro localizando o rapaz a alguns metros olhando na minha direção. Fico indignada. Como a namorada dele não percebe que ele está olhando para outra? Encaro de volta e não desvio os olhos até que ele desiste e deixa de me olhar. Olho para minha mãe e ela levanta as sobrancelhas numa pergunta silenciosa.

- Nossa como pode ser tão cara de pau!

Minha mãe ri muito.

- Mudei de ideia. Vamos ver onde você vai estudar hoje?

- Vamos.

Saímos do parque e pegamos um táxi, vejo que não é tão longe, mas fico de boca aberta e sem acreditar que vou estudar aqui. Dou um grito.

- Julliard? Mãe você conseguiu me colocar aqui? Não acredito!

- Eu não consegui nada foi você quem conquistou a vaga, a única coisa que fiz foi enviar a papelada necessária para você poder estudar aqui. Demorou mas quando eles confirmaram fiquei feliz. Você ficou tão chateada pela mudança que resolvi fazer uma surpresa.

- Mãe, eu te amo!

Abraço minha mãe e fico olhando aquele prédio. Na semana seguinte estarei aqui estudando com os professores mais conceituados no mundo da dança.

Depois do jantar fico assistindo um filme com minha mãe, mas é na hora de dormir que recordo do rapaz do elevador. Percebo que aquele simples olhar me marcou muito e recordo de seus olhos castanhos esverdeados me olhando intensamente. Acabo sonhando com aqueles olhos.

 

Acordar no dia seguinte é muito difícil, ainda tenho que me acostumar com o fuso horário daqui, mas minha mãe me falou que só irei para a escola na segunda-feira então tiro esse dia para descansar.

Fico o dia todo no quarto lendo ou cochilando de vez em quando. Até que minha mãe aparece no quarto e me obriga a levantar e vamos dar uma volta pelo parque.

 

Acordo cedo na segunda-feira e me arrumo para meu primeiro dia de aula. Tomo um banho e coloco uma calça jeans, camiseta preta, sapatilhas pretas, uma blusinha por cima vermelha e cabelo num rabo-de-cavalo.

Minha mãe me avisou que tenho que chegar antes para poder pegar meu horário e as matérias que irei fazer nesse ano. Como estou muito nervosa resolvo ir de ônibus mesmo.

Chegando à secretaria, recebo meu material e fico olhando para o papel do horário das minhas aulas feito besta. Vou fazer dança, a secretária fica me observando e quando vê que me sinto um pouco perdida pede para um aluno me mostrar às dependências.

Ele é bonito. Alto, ombros largos, sua pele levemente bronzeada, cabelos castanhos escuros, olhos castanhos. Ele estende a mão e aperta a minha com muita força. Dou risada. Seu sorriso é contagiante.

- Oi, meu nome é Carl e você?

- Oi sou Angélica. Muito prazer.

- Ei o prazer é meu e posso te chamar de Angel?

- Claro, não tem problema algum.

Ele me mostra tudo. Fico encantada com o que vejo. Ele me leva até minha sala para a primeira aula que é história da dança e se despede.

- Nos vemos no intervalo, ok? Ah faço teatro, nossas salas ficam do outro lado do prédio se precisar de alguma coisa.

- Tudo bem, eu me viro por enquanto. Até lá.

Ele é um rapaz super alto astral. Sem olhar para trás entro na sala e entrego um papel ao professor e ele me indica um lugar perto da janela para sentar. Percebo que várias pessoas estão me olhando e me sinto um alienígena, mas isso só dura até o professor falar quem sou e de onde venho.

Não tenho problemas com as aulas, já cursava isso na minha antiga cidade, mas aqui os professores são muito exigentes principalmente nas aulas de dança. Tenho aulas teóricas, mas as aulas práticas são o forte aqui.

Passo por todas as aulas tranquilamente e quando chego ao final do quarto período vou para a cantina almoçar.

Não sou de comer horrores e acabo me servindo de purê de batata e almôndegas, suco e uma maçã. Estou procurando uma mesa para sentar quando ouço meu nome.

- Angel! Angel!

Localizo o Carl e vou em sua direção. Vejo que ele está sentado com mais três pessoas. Quando estou alcançando a mesa diminuo os passos. Um dos rapazes que está na mesa é justamente o garoto que ficou me olhando no elevador. Ao chegar à mesa ele me encara, desvio o olhar totalmente sem graça.

O Carl me apresenta aos outros ocupantes.

- Angel estes são Elizabeth, Ryan e Luke. Pessoal esta é a Angel, ela veio de Barcelona para estudar aqui.

- Oi, pode me chamar de Beth.

Já os outros dois me cumprimentam com um oi básico.

- Oi, prazer em conhecê-los. – digo

Sinto como se um buraco se abrisse na minha frente. O garoto do meu flat é Ryan Russell? Como não o reconheci antes? Acho que deve ter sido pelo cansaço da viagem ou por estar distraída com tudo que estava ocorrendo. Desperto com o Carl falando comigo.

- E ai como foi?

- Tranquilo. Como se eu estivesse em casa.

- Você pretende ficar muito tempo por aqui?

- Tenho intenção de me formar aqui. Minha mãe está a serviço por uns dois anos então vou ficar um tempo sim.

Quando ouço sua voz sinto um calafrio subir pela espinha.

- Você faz qual curso? - que voz é essa! Sinto como se algo no meu estômago não estive muito bem.

- Dança e vocês?

Estou olhando meu prato há muito tempo. Não consigo encarar seus olhos.

- Teatro e dramatização. 

- Hum legal. E você Luke?

- A mesma coisa que Ryan e o Carl.

- Eu faço música. – diz a Beth logo em seguida.

Como envolvo os outros na conversa acaba conseguindo deixar de olhar meu prato. Só não consigo encarar Ryan, ele fica o tempo todo com um sorriso no rosto que me deixa desconfortável. Me olha fixamente.

Droga! Estou ficando com as bochechas rosadas.

Me distraio com o Carl e a Beth e ficamos conversando sobre coisas banais. Percebo que tenho mais afinidade com eles. Luke e Ryan são mais reservados por já serem famosos. Nem ligo muito para isso. Estamos todos batalhando por um lugar ao sol.

Sou uma pessoa observadora e fico olhando para todos enquanto eles conversam e brincam. A Beth tem cabelos lisos pretos e olhos amendoados cor de mel, pele clara, e é linda. Seu instrumento preferido é o violino apesar de saber tocar vários outros. Ela tem os dedos das mãos longos e fala gesticulando muito. Nunca deixa de sorrir. É alegria pura. Sua voz é melodiosa.

O Luke tem um jeito tímido de início, mas se revela depois, ele é um pouco mais baixo que o Carl, olhos azuis claros, um sorriso de arrasar, cabelos castanhos cortados curtos, mas com uma franja que insiste em cair sobre seu rosto.

Já Ryan é diferente, ele é o mais baixo dos três, olhos castanhos esverdeados, cabelos castanhos, de pele clara. Rosto quadrado com queixo bem marcado. Estou observando seus traços enquanto ele conversa com o Luke e Carl. Ele tem o sorriso mais lindo e quando menos penso, ele me olha e desvio o olhar sem graça. Pega no flagra!

Termino de almoçar, me despeço de todos e vou para a próxima aula. Eles também se levantam e saem cada um para um lado. Não consigo parar de pensar no sorriso dele e quando vou entrar na sala dou de cara com ele me olhando de longe.  Desvio o olhar totalmente sem graça e entro.

No final das aulas vou para casa a pé admirando a paisagem e pensando em tudo que aconteceu.

Capítulo 2

Estou caminhando distraída e admirando os prédios por onde  passo quando percebo que tem alguém me chamando de longe, tiro os fones de ouvidos e olho para trás. É o Ryan.

- Angel me espera!

Ele corre na minha direção e fico esperando ele se aproximar.

- Ah desculpa estava distraída ouvindo música, você está com sorte estou ouvindo música com volume baixo, senão nem tinha te ouvido me chamar.

- Eu também sou assim, na maioria das vezes é para espantar os fotógrafos. Só que hoje esqueci os meus fones e como vamos para o mesmo lugar pensei em irmos juntos.

Fico sem graça por perceber que ele me reconheceu. Só não entendo porque não falou nada na frente dos outros?

- Hã hã. Mas como você sabe que vamos para o mesmo lugar?

- Vai me dizer que não me reconheceu de sábado? Eu te vi no prédio onde moro.  Estava você e sua mãe, certo?

Eu dou um sorriso.

- Sim, e você estava com sua namorada, certo?

- Sim aquela é minha namorada, Charlotte. Ela não mora aqui e veio passar alguns dias comigo. Ela volta para Paris amanhã.

- Legal, eu já fui a Paris com minha mãe. É realmente muito lindo e romântico. Passei férias lá uma vez. Adoro conhecer lugares novos e como danço, sempre íamos competir em outros países.

- Bem, quando eu te vi no sábado achei que já te conhecia, mas depois percebi que não teria como. Quem sabe não nos vimos em Paris? Eu já fiquei lá durante algum tempo e conheci vários lugares. Viajei a passeio uma vez.

- Será? Hum tudo bem é normal me confundirem com outras pessoas. Sou um tipo bem comum.

- Você não tem nada de comum para mim.

Eu paro e fico olhando para ele, não acreditando em suas palavras. Ele tem uma namorada bonita porque estaria me paquerando? Ele percebe que não estou ao seu lado e olha para trás.

- Aconteceu alguma coisa?

Olho nos seus olhos e balanço a cabeça em negação. Continuamos a caminhar calados até o flat. Estamos na portaria quando o elevador abre e sua namorada sai.

- Ryan porque você demorou tanto? Estou morrendo de fome!

Ele a olha com ar de irritação.

- Porque você não fez nada para você comer? A geladeira está cheia.

Ela faz um biquinho de charme e se aproxima colando seu corpo no dele, ela abraça seu pescoço e cola seus lábios. Essa é minha deixa e aproveito para sair de mansinho. Caminho rapidamente na direção do elevador. Fico pensando como uma pessoa pode ser tão bonita e antipática ao mesmo tempo. Ela nem se dignou a me cumprimentar.

Quando entro no elevador reparo que mesmo com ela pendurada em cima dele, seu olhar está fixo nos meus e dou um aceno antes das portas se fecharem. Fico sem graça com sua insistência em ignorar sua namorada e ficar me olhando.

Chego ao apartamento e vou para meu quarto, tomo um banho, coloco um short jeans, uma regata vermelha e chinelos. Aproveito para comer uma fruta e estudar um pouco. Como ainda estou tendo aulas teóricas faço todas as anotações necessárias e fico assistindo televisão depois disso.

Na hora do jantar minha mãe chega e está com uma aparência horrível.

- Oi mãe como foi seu dia hoje?

- Nossa filha nem imaginava que teria tanto a fazer. Tudo caminha para um final de semana de muito trabalho.

- Precisa de ajuda? Qualquer coisa traz alguma coisa que te ajudo aqui em casa.

Sempre ajudei minha mãe e sei que ela deve estar precisando de muita ajuda.

- Não ofereça muito, sou capaz de aceitar. Estamos com quadro deficiente de funcionário. Vou ver com o pessoal se tem como você trabalhar de casa, assim não perde suas aulas.

- Certo mãe.

- Vamos fazer algo para comer?

- Eu adiantei o arroz, só falta temperar a salada e fazer algo para acompanhar.

- Ah que bom! Vou tomar um banho rápido e já venho para fazer algo rapidinho.

Conversamos e depois vamos para sala assistir um filme, acabo cochilando no sofá e acordo com batidas na porta. Estranho o fato da minha mãe não estar aqui e olho as horas no celular, já passam das nove horas da noite.

Minha mãe já tinha ido se deitar, então sobrou para mim.

Vou até a porta e abro apenas uma fresta e dou de cara com o Ryan. Ele me presenteia com um meio sorriso.

- Oi, tudo bem?

Percebo que ele está sem graça.

- Espere um pouco que vou abrir a porta. - destranco e lhe dou passagem.

- Oi será que você poderia me ajudar?

- Claro!

- Eu poderia usar seu telefone? É que minha namorada surtou e não quer me deixar entrar no apartamento. Vou ver se consigo falar com a mãe dela para pedir para vir buscá-la. Senão não poderei continuar na faculdade. Ela realmente se excedeu hoje.

- Pode usar. Está ali na sala na mesinha ao lado do sofá.

Ele me olha de cima a baixo.

- Realmente me desculpe por atrapalhar. Você estava indo dormir?

Só então eu percebo que atendi a porta de camiseta e chinelo. Peço licença e corro para o quarto e coloco um short.

Quando volto, ele está ao telefone falando com alguém e para deixá-lo à vontade vou para cozinha. Me sirvo de um suco. Estou distraída pensando no que leva uma mulher a ser tão maluca assim quando escuto uma tosse leve, olho para trás e ele está encostado no batente da porta.

- Pronto! Quando vier a conta te pago a ligação.

- Sem problemas.

Ele fica me olhando e acabo percebendo que algo está incomodando ele.

- Você quer um suco? Água?

- Não, obrigado. Só preciso arrumar um lugar para dormir já que a Charlotte não permite minha entrada. Agora vou indo, não quero mais te atrapalhar.

Ele dá um sorriso de canto de boca que é tão lindo que nem percebo o que falo em seguida:

- Se você quiser pode dormir aqui. Eu arrumo o sofá para você.

Ele me encara e fico sem graça. Foi automático.

- Não iria incomodar?

- Não, vou falar com minha mãe e já volto.

Caminho até o quarto da minha mãe e depois de algum tempo consigo fazê-la me ouvir.

- Mãe? Mãe?

- Oi filha, o que foi?

- Sabe aquele garoto que encontramos no elevador sábado? - espero ela concordar - Então ele estuda comigo, acontece que a namorada dele surtou hoje e o deixou para fora do apartamento. Ele veio me pedir para usar o telefone. E juro, mãe, acabei oferecendo sem querer para ele ficar no sofá hoje até a mãe da namorada vir buscá-la. Tem problema?

- Hummm aquele bonitão do parque? - ela está brincando comigo só pode – Sem problemas querida só tenha juízo certo?

- Credo mãe! Ele é meu colega de faculdade e não sinto nada por ele.

- Ainda. Mas mesmo assim tranque a porta do seu quarto.

- Está bom!

 

Saio do seu quarto sorrindo e volto para sala. Ele está me esperando de pé próximo a porta.

- Você pode dormir aqui hoje. Vou arrumar tudo. Você quer me ajudar?

- Tudo bem!

Acabo mostrando para ele onde fica o quarto da minha mãe e o meu. Entro no meu quarto, vou até o armário e pego lençóis limpos, fronhas, travesseiro e toalhas. Coloco tudo nos seus braços. Ele coloca tudo sobre a mesa de centro e ajudo a forrar o sofá.

Volto até meu quarto e pego uma camiseta larga que uso para dormir e empresto para ele. Mostro onde é o banheiro.

- Você pode ficar a vontade, no armário do banheiro tem uma embalagem com uma escova nova pode usá-la se quiser.

Ele está olhando a camiseta e fico sem graça com sua pergunta.

- A camiseta é de algum namorado que ficou em Barcelona?

- Não, era do meu pai, quando ele ainda morava com a gente. - dou risada da expressão que ele tem no rosto.

- O que aconteceu com ele? – ele passa a mão pelos cabelos – Desculpe, não tenho o direito de perguntar.

- Sem problemas. Ele achou que era muito ruim minha mãe ter mais sucesso profissional que ele e nos deixou.

- Nossa como ele foi idiota.

- Também acho.

Ficamos nos olhando e damos risada.

- Você comeu? Se estiver com fome pode fazer um sanduíche na cozinha.

- Não, está tudo bem, não quero incomodar.

- Não incomoda. Vamos lá que faço um para você.

Na cozinha tiro os ingredientes da geladeira e preparo um lanche suculento para ele. Pego um pote de sorvete e sento na bancada.

Ele come em silêncio e percebo que ele está chateado com toda a situação.

- Quer sorvete? - ofereço

Ele balança a cabeça em negação.

- Quer um suco? Ou leite?

- Suco está bom.

Sirvo o suco, pego meu pote de sorvete e vou para sala. Me aconchego na poltrona. Quando não estou bem gosto que me deixem sozinha e costumo respeitar isso nas pessoas.

Ele continua na cozinha comendo seu lanche tranquilamente. Escuto quando ele lava o prato que usou e o copo. Ele aparece na porta e fica me observando. Faço sinal para ele se sentar. Ele ainda fica um pouco parado na porta olhando para o nada.

Eu sei bem como é essa sensação de não saber o que fazer.

Depois de um tempo ele vem para sala e senta no sofá. Ainda está calado.

Não tem problema, algumas feridas demoram a cicatrizar.

Estou assistindo um filme de ação. Amo filmes de ação. Tenho verdadeira paixão pelas sequências com carros e muitos tiros. Só que não estou prestando muita atenção neste momento.

Olho de esguelha e ele está vidrado no filme, tirou seu tênis e está com uma aparência relaxada. Balanço a cabeça levemente. Como uma pessoa poderia viver atuando? Isso não existe. Ele deve ter um momento só seu, um momento em que a máscara cai e ele se torna apenas o Ryan.

Estou distraída com meus pensamentos e não o vejo estender a mão e pegar o pote de sorvete da minha, tomar uma colherada e me devolver o pote.

- Hei não vale!

Ele sorri e pisca para mim.

- Humm sempre é mais gostoso quando é roubado.

Não aguento e começo a rir da brincadeira. Ficamos assistindo o filme e dividindo colheradas de sorvete. Isso é relaxante e me sinto bem ao seu lado.

O filme acaba e quando me viro para falar com ele percebo que ele está me observando. Eu tinha acabado de colocar uma colherada na boca e estava estendendo o pote para ele.

Fico sem graça, meu rosto está quente e sinto um frio na barriga e não é causado pelo sorvete.

Ficamos durante algum tempo nos olhando e seus olhos estão fixos na minha boca. Ele estende a mão e toca meu queixo, só então percebo que ele limpa um pouco de sorvete e leva seu dedo a sua boca e lambe.

Sinto um leve estremecimento, juro que não é de frio. Minha mente viaja em sensações e na mesma hora afasto isso. Ele tem namorada e não é para mim. Me afasto de sua mão o mais delicadamente possível, mas ele nota minha reação.

- Hei não fique chateada.

Olho em seus olhos e vejo que não foi por maldade, mas tem algo acontecendo aqui e não posso permitir que aconteça. Dou um meio sorriso.

- Está tudo bem.

Ele balança rapidamente sua cabeça e passa a mão pelos cabelos.

- Você se incomoda se eu for tomar um banho? – me pergunta.

- Claro que não. Fique a vontade. Eu vou ficar aqui mais um pouco vendo se encontro mais alguma coisa interessante.

Desvio meus olhos e me concentro em ver se acho alguma coisa para assistir. Percebo que ele ainda está sentado e assim que fixo um canal que está passando um seriado de comédia, olho na sua direção.

Ele sorri, levanta e vai em direção ao banheiro com a toalha e a  camiseta. Perco o interesse na televisão e fico olhando o corredor de minuto a minuto. Que droga! Preciso me policiar! Ele tem alguém na vida dele e só está aqui por precisar de um lugar esta noite.

Depois de algum tempo ele volta com a camiseta que emprestei, calça jeans e uma toalha que usa para secar os cabelos. Acabo pegando o controle e sintonizo num programa de entrevistas, e fico assistindo sem entender o que se passa. Não presto a mínima atenção.

Ele se deita no sofá e começa a prestar atenção no programa, eu fico olhando para ele e para os movimentos que suas mãos fazem para secar o cabelo. Ele apoia a toalha na sua perna e penteia os cabelos com os dedos. De repente ele olha na minha direção me pegando no flagra olhando para ele. Fico sem graça e sinto o meu rosto quente, posso ter certeza que estou corando de vergonha.

Levanto do sofá, vou até a cozinha, lavo a colher que usamos e jogo fora a embalagem de sorvete vazia. Faço hora na cozinha, mas tenho que ir me deitar logo.

Vou até próximo ao sofá e ele olha na minha direção.

- Bem, vou me deitar porque amanhã tenho aula.

- Também vou. - ele responde.

Desligo a televisão e caminho até o corredor e me viro para desligar a luz.

- Boa noite, Ryan!

- Boa noite, Angélica! - ele me lança um sorriso que derrete a calota polar, meu coração dispara no peito.

Entro e fecho a porta. Preciso me apoiar nela. Ele tem um jeito de falar meu nome que me tira o fôlego, sinto meu rosto quente e acabo abrindo um sorriso.

Nunca ouvi meu nome de forma mais bela.

Escorrego até o chão e fico ali pensando em como vou conseguir dormir sabendo que ele está a alguns metros apenas.

Vou ao banheiro escovo os dentes, volto para o quarto me deito e fico observando a lua caminhar pelo céu, até o sono me alcançar e eu adormecer, tenho sonhos e sei que eles não são reais.

 

Acordo na manhã seguinte com minha mãe batendo na porta e me chamando.

- Já estou acordada mãe. Estou indo tomar café.

- Você está atrasada! Vamos logo!

Olho o relógio da cabeceira e dou um pulo começo a me trocar freneticamente, acabo optando por calça jeans, camiseta básica branca e tênis. Pego meu horário na mochila e vejo que terei a primeira aula prática e arrumo minha mala com toalha, malha de balé, sapatilha, meia-calça, faixa de cabelo e coloco minha nécessaire na bolsa para poder prender meu cabelo nas aulas de dança.

Saio do meu quarto e vejo que o sofá está sem vestígios de uma noite. Está tudo arrumado como antes.

Vou para a cozinha, minha mãe está tomando café sozinha.

- Bom dia. – digo – O Ryan já foi embora?

- Bom dia! Tem ovos e bacon aqui para você só falta pegar um café. E sim, ele já foi logo cedo, disse algo sobre resolver um problema.

Concordo enquanto me sirvo e sento a mesa. Não como, engulo tudo muito depressa, minha mãe me dá uma bronca.

- Calma assim vai passar mal.

- Estou atrasada. Vou perder o ônibus.

- Mesmo assim coma mais devagar. - ela está com um sorriso estranho no rosto.

- Não vou não. E que sorriso é esse?

- Ele é bonito Angel.

- Ok mãe, pode parar. Ele tem namorada e sem contar que ele é famoso. Não quero ser notícia nas revistas. Obrigada, mas passo.

- Por quê?

- Não quero falar sobre isso.

- Filha, você precisa ver que algo está acontecendo. Não está sentindo?

- Não e pode para com essas ideias. Vou de ônibus hoje. Tchau mãe.

- Tchau filha.

Pego minha mochila e saio correndo para pegar o elevador. Chego à faculdade com alguns minutos de atraso, não espero nada nem ninguém e corro para a sala.

Como o professor ainda está entrando aproveito a deixa e me sento no meu lugar na janela.

As aulas correm normalmente, mas não consigo me concentrar. Ele foi embora e nem se despediu. Fico pensando como ele irá falar comigo na hora do intervalo e meus olhos ficam grudados no relógio no alto da parede.

As horas demoram a passar e depois da segunda aula vamos para a sala de balé que fica próxima ao teatro.

A Srta Smith é exigente e deixa isso muito claro assim que entra na sala, ficamos por mais de uma hora e meia fazendo exercícios de alongamento e aquecimento.

Vou para o vestiário e nem ligo para as dores. Tomo um banho para tirar o suor do corpo e coloco minha roupa novamente. Sou a primeira a sair e ir para o refeitório, quando encontro os outros sinto o gosto amargo da decepção. Ele não está na mesa.

Coloco minha mochila perto de uma cadeira vazia ao lado do Luke e vou buscar algo para comer. Sento com minha bandeja e sou presenteada com a alegria de uma discussão sadia sobre o mundo do cinema que está acontecendo entre Luke e Carl.

- Carl você sabe que teatro é muito mais difícil que cinema. Muitas vezes fazemos cenas que nem imaginamos como vai ficar.

- Tá cara, mas aquele professor falar que não nasci para o cinema é ridículo.

- Você tem talento no teatro amigo deveria investir nele.

- Quero minha estrela na calçada da fama Luke. Quero poder andar ao lado de você e do Ryan como um igual.

- E falando em Ryan alguém sabe dele? - pergunta Luke.

Todos se olham e dão de ombros. Olho para o Luke e ele está com o celular na mão digitando. No mínimo vai ver o que aconteceu.

Ele coloca o aparelho na mesa e logo em seguida ele toca. Pela sua expressão não são notícias muito boas.

- Bem ele não virá essa semana. Está resolvendo um problema.

Percebo que ele apenas contou parte da mensagem, pelo canto dos olhos vi que o texto é enorme. Ele coloca o aparelho na mesa e fica numa troca de olhares estranho com o Carl.

Estou comendo minha maçã quando seu telefone toca de novo e ele atende com rapidez, mas consigo ver que a chamada é do Ryan.

O Luke atende a ligação e ficamos olhando na sua direção ouvindo suas respostas e acabo rindo da cara da Beth que faz sinal para o Carl se calar, ela quer ouvir.

- E ai cara! Tudo bem? Certo. Estamos na hora do intervalo. - ele vira e me olha – Veio sim. Não sei cara, quer que pergunte? - ele dá um sorriso enorme e faz cara de quem não acredita no que está ouvindo – Certo cara vou fazer isso. Até semana que vem.

Ele desliga e fico assombrada com a Beth e suas perguntas.

- Ele já te pediu para cuidar da Angel?

- Beth ele só ficou preocupado. Ela vai embora a pé.

- Caramba, ele está com a Charlotte e já está de olho na novata? Ele é muito cara de pau isso sim.

- Ei ele apenas pediu para nós revezarmos para levá-la para casa. - diz Luke

- Então hoje eu levo. - Fala o Carl

Não acredito que eles estão falando como se eu não estivesse aqui.

- Ei eu estou bem aqui sabiam e não preciso de babá. Pode falar isso para o Sr. Russell.

Levanto, levo minha bandeja até o lixo e juro que meu sangue está fervendo de ódio. Como ele ousa! Não sou uma das suas amiguinhas coloridas que precisam de cuidados. Saio bufando do refeitório e vou para as aulas restantes.

O tempo passa voando e quando estou saindo vejo os três me esperando. Já chego falando um monte.

- Nem vem com história. Vou para casa sozinha.

O Carl põe as mãos na frente do corpo e está sorrindo quando fala.

- Calma! Só íamos te chamar para ir ao cinema conosco.

Olho desconfiada para eles.

- Valeu pessoal só que estou sem dinheiro aqui e tenho que ajudar minha mãe no trabalho dela.

- Quer uma carona então? - pergunta Beth - Vamos passar na frente do seu prédio.

- Tudo bem.

Vou com eles para o estacionamento e em poucos minutos estou descendo na porta do flat. Me despeço deles e subo para o apartamento. Encontro um monte de pastas sobre a mesa da sala de jantar e sei que vou ficar por um bom tempo ocupada.

Coloco um short amarelo e uma camiseta branca, fico descalça e depois de me servir de um copo de suco começo a pegar as pastas e trabalhar no que é necessário.

Quando minha mãe chega à pilha está bem mais baixa e ela fica muito feliz e me dá um abraço.

- Filha isso merece uma comemoração. Vou comprar algo para comermos e já volto ok?

- Só se for pizza mãe.

Ela concorda e sai com a bolsa pendurada no ombro. Quando volta com a pizza percebo que não comi nada sólido, só o suco e devoro um pedaço.

- Filha pode descansar. Amanhã você faz mais um pouco.

Concordo com ela e depois de comer vou para meu quarto e durmo imediatamente. Estou exausta.

 

A semana passa acelerada e nem percebo que já é sexta-feira até na hora do intervalo. Estamos sentados conversando sobre os trabalhos que estão aumentando de volume a cada dia. O Luke pega e solta à bomba.

- Vocês viram o escândalo que saiu envolvendo o nome do Ryan?

- Brincou? Cadê? - diz a Beth.

Ele joga uma revista na sua direção e vejo que na capa tem uma foto do Ryan saindo do flat de boné e óculos escuros junto com uma mulher de mais idade e sua namorada que está com cara de choro.

- Coitado, ele passa cada situação com essa menina que só com muita paciência mesmo – ela diz folheando a revista até achar a reportagem completa. – Ouçam isso!

 

“Ryan Russell, 19, declarou que está solteiro mais uma vez. Ele teve uma briga com sua namorada Charlotte Sariego no começo da semana e declarou que o relacionamento não estava dando certo. Alguns amigos do casal disseram que tudo aconteceu por ciúmes. Russell teria encontrado com uma amiga no último final de semana numa festa badalada em Nova York.”

 

- Viu o que dá ficar com a megera? - diz Beth.

- Sabe eu achava que ele não voltaria mais com ela quando fez aquele escândalo todo com você, Beth. – Luke está rindo da cara que ela está fazendo.

Beth está com cara de poucos amigos, mas consegue sorrir e sua indireta é mais do que direta.

- Ele estava me ajudando com uma busca interna dos meus sentimentos e aquela idiota chegou bem na hora em que ele me abraçou. Pelo menos alguém acordou um pouco, só falta abrir outro olho, não é Carl?

O Carl toma um susto e olha na sua direção.

- Caramba você já me falou isso umas duzentas vezes. Nós já estamos juntos e não vou ficar te idolatrando o tempo todo. Sossega mulher.

Todos estão rindo deles, pois ela abraça seu pescoço e deposita um beijo barulhento na sua face.

- Ei Carl menos, não quero ficar de vela aqui. – diz o Luke.

- Você pode ficar com a Angel. Não é Angel? Seria legal!

Olho para o Carl e não acredito no que ele acabou de falar e quando olho para o Luke ele está vermelho parecendo um tomate.

- Somos amigos e se for para sair como amigos tudo bem. – digo

O Luke solta a respiração e me dá um sorriso.

- Não falei.

- Caramba Angel, deu um fora no meu amigo. – diz o Carl.

- Não é um fora. Já namorei, mas depois da última decepção estou tranquila com relação a isso. Decidi esperar a pessoa certa.

O Luke passa o braço por cima do meu ombro e me dá um meio abraço e um sorriso.

- Vamos para a sala senão vamos nos atrasar. Até a saída gente. – digo

Fico desejando que o final de semana passe logo e me recrimino por isso. Acabei de dispensar um solteiro para desejar ver um enrolado?

Estou com problemas mesmo.

Quando chego em casa o que tenho me esperando é mais algumas pastas, coloco uma roupa confortável e termino tudo rapidamente.

Fico assistindo televisão até tarde e quando olho no relógio já são oito da noite e minha mãe não chegou. Pego o telefone e descubro que vai ficar no escritório terminando alguns relatórios.

- Mãe você não pode ficar trabalhando assim.

- Só este final de semana e depois volto ao normal. Prometo. Tem dinheiro no pote de biscoitos se quiser comprar algo para comer. Até mais filha.

Desligo, pego algum dinheiro e desço para comprar algo para jantar.

Caminho lentamente até chegar a um restaurante chinês. Decido comer isso mesmo e entro.

Peço para uma pessoa e saio de lá carregada de sacolas.

Estou na porta quando encontro com o Ryan no caminho, mas ele está tão desligado discutindo no celular que não me vê.

Na mesma hora que meu coração dá um pulo no peito e dispara sinto um sabor amargo por ele nem ter me visto ou mesmo reconhecido. Sigo meu caminho observando as ruas e quando chego ao flat fico aguardando o elevador. Percebo que tem alguém me olhando, mas não me viro e quando o elevador chega entro e aperto o meu andar. O Ryan entra logo atrás e fica me olhando. Me sinto na obrigação de falar com ele.

- Boa noite, tudo bem?

- Boa noite. O que você estava fazendo na rua uma hora dessas?

- Fui comprar o jantar. Por quê?

- Você devia ter pedido para entregar. É muito perigoso sair este horário por ai.

- Não se preocupe sou invisível. As pessoas que conheço conseguem passar por mim sem me ver, imagine quem não me conhece!

Neste momento o elevador para no meu andar e saio direto para o meu apartamento deixando um Ryan boquiaberto.

Capítulo 3

As semanas passam sem que eu perceba e a cada dia aumenta o volume de trabalhos, lições e matérias a serem estudadas. Fora o trabalho que minha mãe está trazendo do escritório que se tornou um extra bem rentável para mim.

Estou cada dia mais esgotada com o volume de coisas para fazer. O pior é que não falo com o Ryan direito desde o episódio do elevador. Todos os dias que tenho tempo sento com o pessoal no intervalo, só que não converso com ele. Sei que parece besteira, mas ele não se desculpou por passar por mim e não ter me visto. Sei que estou sendo idiota por deixar isso atrapalhar. Sou orgulhosa e não vou dar o braço a torcer.

Muitas vezes pego uma fruta e corro para a biblioteca para pesquisar algumas coisas. Evito ao máximo deixar acumular tarefas.

Minha mãe está a cada dia mais atarefada e ausente, isso está me deixando muito solitária, mas já estou acostumada com sua permanência no escritório.

Ela sempre me fala que sou pior do que mula empacada e percebo que ele quer se aproximar, mas agora quem não quer sou eu.

Minhas aulas de dança estão me deixando esgotada e quando chego em casa só tenho tempo para fazer algum trabalho da escola, treinar um pouco e colocar a papelada da minha mãe em dia.

Os professores me elogiam pelo desempenho físico. Estou me saindo muito bem nas provas, mas não vejo a hora das férias chegarem estou precisando de um descanso.

 

Acordo novamente atrasada e tenho prova na primeira aula. Saio correndo sem nem falar com minha mãe. Não tenho tempo nem de comer. Estou desesperada para descer e quando o elevador abre as portas dou de cara com o Ryan.

- Bom dia.

Entro e fico o mais distante que posso, noto que ele fica com um olhar triste pela minha reação ao encontrá-lo só que é automático não proposital.

- Bom dia. - ele responde

Fico olhando para ele através da porta do elevador que é de alumínio e sinto que as borboletas no meu estômago vão me sufocar. Levo um susto quando sua voz me alcança.

- Você quer uma carona?

Me viro para olhar em seus olhos e ele está cabisbaixo e de olhar triste.

- Não quero incomodar. Vou de ônibus mesmo.

- Ele já passou.

Dou um gemido e passo a mão pelo meu cabelo que está amarrado num rabo de cavalo frouxo. Puxo o elástico com raiva e meus cabelos caem pelas costas.

- Droga!

- Ei vamos, eu te dou uma carona vai ser rapidinho.

Fico olhando para ele e acabo aceitando. Quando as portas se abrem no térreo ele aperta o botão para fechar e vamos para a garagem. Ele segura as portas e saio na sua frente, vejo quando ele vai até um armário e pega um capacete extra e me estende.

- Minha mãe vai me matar se descobrir.

- Prometo não contar nada.

Ele está sorrindo e seu sorriso é tão contagiante que acabo retribuindo. Ele se aproxima e toca meu rosto com a ponta dos dedos.

- Desculpe por não ter falado com você aquele dia. Eu realmente estava tão louco de raiva, cansado e com fome que entrei com tudo olhando para o cardápio que não te vi. Eu sinto muito mesmo.

- Tudo bem Ryan. Eu devia ter percebido que você estava olhando para outra coisa. Sem contar que sou baixinha e é normal passar despercebida na multidão.

Ele dá risada e me ajuda a colocar o capacete. Antes pede para que amarre meu cabelo.

- Senão vai ficar todo embaraçado.

Faço isso. Quando ele sobe na moto e me diz onde colocar o pé, percebo que vou ter que me segurar em seu corpo. Meu coração dispara como um louco, engulo saliva e coloco as mãos na sua cintura e subo.

Ele olha para trás e sorri.

- Se você segurar assim vai cair então não tenha medo e me abrace forte.

Ele puxa minhas mãos e as apoia no seu abdômen, sinto minhas borboletas revoltadas e meu coração parece que bate na garganta. Só tenho um pensamento. Que ele não perceba que estou respirando pela boca e que meu coração está disparado.

Vamos pelas ruas e sinto minhas mãos sendo aquecidas por seu corpo, ele vai num ritmo razoável para não me assustar e aprecio a visão da cidade andando nas ruas abraçada ao seu corpo.

Quando chegamos à faculdade, desço e estendendo o capacete para ele guardar. Ele prende tudo na moto e vamos para a entrada encontrar os outros.

Localizo nossos amigos e quando o Luke me vê dá um sorriso amplo e assim que o alcanço ele me abraça com tanta força que sinto meus pés saírem do chão.

Acabo dando risada do cumprimento eufórico dele.

- Oi Luke você viu o passarinho verde foi? – pergunto

- Vi uma menina linda chegando com cabelos ao vento.

- Bobo. Você está me chamando de descabelada é?

- Só um pouquinho.

Ele fica me olhando e em seguida cumprimenta o Ryan.

- E ai cara tudo bem?

- Tudo e você? – Ryan pergunta, mas seu tom de voz está estranho e olho na sua direção.

Ele apenas vai onde a Beth e o Carl estão e fala com eles, depois já se dirigi para a sala de aula.

O que será que aconteceu? Será que falei algo que ele não gostou? Fiz algo errado?

Pego minha mochila e vou atrás dele. Consigo vê-lo no corredor na frente do seu armário pegando algumas coisas. Quando me aproximo percebo que ele está muito nervoso, pois está jogando tudo com muita força no armário e esse comportamento não é normal, várias pessoas ficam olhando para ele assustadas.

Me aproximo e toco seu ombro. Ele vira e me encara com olhos quase verdes.

- Você está bem? - pergunto

- Estou sim por quê?

- Você saiu muito bravo e fiquei preocupada. Fiz alguma coisa que te chateou?

- Não, você não fez nada.

- Então o que aconteceu? Poderia me dizer?

- Angel você percebeu que o Luke parece que está afim de você?

Olho para ele e não entendo o que ele quer dizer com isso.

- Ryan, o Luke é meu amigo e já conversei com ele sobre isso. Ele não gosta de mim assim. Você está vendo coisa onde não tem.

Me viro para sair de lá e ele me segura pelo braço. Sinto meu corpo responder ao seu toque com um calor que se espalha começando por onde sua mão está e corre por todo meu corpo. Olho para o ponto onde ele se conecta comigo e dou um suspiro.

- Desculpe Angel você não tem culpa por eu estar me sentindo assim. – ele passa a mão pelos cabelos e fica me olhando.

- Eu preciso ir Ryan senão vou perder minha prova.

- Ok, nos veremos na hora do intervalo?

- Até lá.

Vou para minha sala e fico distraída. Não consigo prestar atenção e acabo levando tempo demais para responder na prova. Na hora do intervalo fico presa na sala com a Srta. Smith me passando um sermão devido a tanta distração e só consigo ter tempo para tomar um suco de pé mesmo.

Quando estou indo em direção a mesa ele fica me olhando com olhos questionadores e já chego me explicando.

- Desculpe fiquei presa com a minha professora de balé. Ela falou que eu não me empenhei o suficiente. – faço uma careta de desgosto e todos riem.

- Senta um pouco. – Ryan aponta o banco ao seu lado.

- Sem condições tenho que correr para a biblioteca e pegar umas informações para a próxima aula. – digo já caminhando em direção ao corredor.

- Posso ir com você? – pergunta o Luke

Percebo na hora que o Ryan trava a mandíbula e os punhos. Que droga ele está com ciúmes? Dou um sorriso para o Luke e vamos juntos para a biblioteca.

 

Estou terminando minhas anotações quando ergo a cabeça e dou com o olhar do Luke. Fico olhando em seus olhos e percebo que ele quer conversar comigo. Aguardo ele começar a falar.

- Angel,  você não gostou da forma como te abracei hoje de manhã?

- Porque está me perguntando isso?

Ele passa a mão pelos cabelos e fica com um sorriso estranho no rosto.

- O Ryan está com ciúmes de você, Angel.

- Pare de inventar Luke. Ele apenas está chateado com algum assunto dele mesmo.

- Ele está com ciúmes. Ele veio me pedir para não ficar te abraçando do jeito que fiz e quando perguntei o porquê ele respondeu que você não gostava.

- Tem certeza? Ele acha que você está afim de mim.

- Eu sou seu amigo, Angel, e gosto de tratar bem meus amigos. Ele sabe disso muito bem. Não vou mentir que poderia me apaixonar por você, mas você me falou que não estava interessada e respeitei isso. Gosto de você como amiga e gosto muito.

- Eu sei disso, mas ele não acreditou.

- Talvez porque ele esteja gostando de você. Já reparou na forma como ele te olha?

Dou risada do que o Luke fala, mas ele não ri comigo.

- Você não está falando sério não é?

- Estou sim. Ele está gostando de você, é só olhar nos olhos dele.

- Luke você tem cada ideia.

- Não estou tendo ideia nenhuma, é só olhar como ele se aproxima de você, suas reações quando te vê falando com outro rapaz, e até como ele fica quando eu ou o Carl brincamos com você.

Dou risada e como ficamos conversando perco minhas aulas e fico com ele do lado de fora esperando o Ryan para irmos para casa.

Quando ele aparece estamos conversando sobre alguns dos trabalhos do Luke para o cinema e ele está me contando como é filmar, as sensações e até como é legal os erros de filmagem que acontecem.

Estamos rindo quando ele me estende o capacete.

- Vamos?

Viro para o Luke, dou uma piscadela e coloco o capacete e vou em direção a moto. Ele sobe, liga a moto e encaixo meu corpo no seu e sinto seu corpo ficar tenso na hora. Abraço sua cintura, minha mão está apoiada no seu abdômen e ele sobe minhas mãos em direção ao seu peito.

A volta é mais rápida e percebo que ele quer chegar logo ao destino e me abandonar. Tenho que concordar com o Luke que tem algo de errado, mas não vou perguntar nada.

Ele guarda os capacetes e vamos para o elevador. Me despeço dele e vou para casa. Tenho tanta coisa para fazer que o assunto acaba sendo esquecido.

 

Os dias passam rapidamente e quando percebemos as provas chegam e isso se torna minha maior preocupação. Estou estudando junto com o Ryan e ele acaba passando bastante tempo no meu apartamento me fazendo companhia.

Minha mãe está cada dia mais ausente, mas numa bela sexta-feira ela chega em casa e estamos terminando de estudar um trecho de Tristão e Isolda. Ela fica observando da porta da cozinha. Acabo dando muita risada da declaração de amor.

Quando sentamos para jantar minha mãe começa a conversar sobre as férias.

- Filha, assim que você estiver de férias precisaremos viajar para Barcelona.

Fico com o garfo parado a caminho da boca olhando em seu rosto.

- Tenho que resolver algumas pendências e gostaria que fosse comigo. O que acha? Serão apenas por alguns dias.

- Tudo bem mãe. Vai ser legal rever todos meus amigos. Tenho saudade de Barcelona também.

Percebo que Ryan não gostou muito da notícia. Não sei por que. Ele já tem planos e eu vou ficar aqui sozinha?

 

Chega o dia! As provas acabaram e estamos mais sossegados nas matérias, estou feliz comigo mesma fiquei com notas ótimas em todas e vou poder viajar e descansar.

Faltando uma semana para as férias estamos todos na nossa mesa de almoço discutindo as melhores coisas para se fazer. O Ryan é o último a chegar, percebo que está calado, mas como sempre deixo-o falar quando estiver com vontade.

Nisso a Beth já está se vangloriando.

- Bem eu vou para as montanhas com meus pais e meu irmão, vamos ficar lá uns quinze dias. Adoro a cabana do meu tataravô. O lugar é maravilhoso. Tem árvores por todos os lados, um lago e podemos andar de barco a remo sem problema algum. Vai ser muito legal!

- Eu vou para a casa da minha avó no Texas, vou andar a cavalo e ajudar na fazenda como sempre faço, sei que é um pouco monótono mais meus tios gostam quando vou para lá. Posso ir à cidade e curtir um pouco da música country. – fala Carl

Luke está triste e nos conta o motivo.

- Vou para casa ficar com meus pais. Faz algum tempo que não os vejo. Depois de uma semana começam as minhas gravações então não vou ficar curtindo muito.

- Bem, como minha mãe tem assuntos para resolver na Europa vou para Barcelona. – falo

- Que legal! Vai matar as saudades? – diz Carl

- Claro. Vou poder visitar todos os meus amigos de lá. Vai ser muito legal!

- Nossa que inveja. Se pudesse iria com você. Tem muitos rapazes bonitos lá? – nessa hora a Beth leva um beliscão do Carl. - Ai!

- E como! Tenho vários amigos lindos. Você ia gostar.

Acabo de falar e o Ryan levanta sem falar nada, saindo da mesa, fico sem entender. Olhamos uns para os outros e o Carl dá de ombros. Acabo perguntando.

- Carl o que aconteceu?

- Não sei, ele está assim desde que chegou de manhã. Vocês não vieram juntos?

- Não, ele me mandou mensagem falando que estava resolvendo uns problemas e que viria direto.

- Então é verdade. A Charlotte voltou.

- Como assim? - Beth fala olhando para o Carl e depois para onde o Ryan saiu.

- Não posso falar nada. - ele passa a mão pelos cabelos - Ah gente é chato ficar falando da vida do Ryan. Deixe-o resolver estes problemas e ele logo volta a ser ele mesmo. Se ele quiser contar ai será por conta dele.

Fico olhando para onde ele foi e balanço a cabeça. Olho na direção do Luke e ele me faz sinal para ir atrás do Ryan.

- Tá certo Carl, é melhor deixá-lo contar o que aconteceu.

Levanto da mesa e vou procurar o Ryan  acabo encontrando-o na parte externa da escola. Sento ao seu lado.

- Oi está tudo bem?

- Oi. Está sim.

- Você quer conversar ou quer ficar sozinho? Estou preocupada com você.

- Pode ficar, mas não quero conversar sobre o que está acontecendo. Senão vou acabar magoando você e não quero isso.

- Porque me magoar? Eu falei algo de errado? - porque ele está falando assim será que ele aceitou a Charlotte de volta?

- Olha Angel você vai viajar e ficar longe, estou tentando me segurar para não pedir para você não ir. Sei que não posso fazer isso, pois vou trabalhar a maior parte dos dias das férias, mas ouvir você falando dos seus amigos realmente me deixou chateado.

- Ryan você está com ciúmes da minha viagem?

- Não, da viagem não, estou com ciúmes dos seus amigos.

- Mas não deveria ficar assim.

- Por que não? Você está toda feliz por estar indo para Barcelona de novo.

- Você tem que entender que amo aquele país. Se algum dia for passear por lá e avistar suas alamedas, ruas, edifícios vai entender o amor que tenho por aquela cidade. E meus amigos são apenas amigos, não deixei nenhum amor lá, nem pretendente. E quando vim para cá eles não se importaram muito com a minha partida. – respiro fundo – Droga eu não vou ficar aqui vendo você se acertar com a Charlotte enquanto tenho que ficar trancada no apartamento.

Ele me olha e fica com a testa franzida.

- Eu falei que não seria bom tocar neste assunto. E quem foi que falou que eu estou voltando com a Charlotte?

- Deixa para lá. A vida é sua e você precisa aprender a confiar nas pessoas.

- Eu confio em você. Só que vou sentir sua falta e não estou conseguindo aceitar isso.

- Somos amigos Ryan. Podemos nos falar todos os dias, o que acha?Posso falar com minha mãe e pedir  para voltarmos antes, mas só se você prometer desmanchar essa cara.

- Ok. Você venceu só dessa vez.

- Ela vai me matar por pedir para voltar antes, mais não custa tentar.

Ele dá um sorriso e passa seu braço sobre meus ombros e voltamos para o salão e nos juntamos aos outros.

Chega o primeiro dia das férias e vou para o aeroporto com minha mãe. Ela convenceu o Ryan a nos levar.

Estou eufórica, foram seis meses de separação e não vejo à hora de encontrar todos meus amigos. Será que ficaram com saudades?

No aeroporto vamos para a sala de embarque, fazemos o check in e ficamos aguardando a chamada para o embarque, sento numa das cadeiras e o Ryan fica do meu lado, minha mãe sai discretamente e vai tomar um café.

Estamos sentados lado a lado sem nos falarmos e sinto que existe algo no ar, uma energia ou força que nos impulsiona a ficarmos próximos. Ele me olha e depois de um meio sorriso pega minha mão e a coloca no seu rosto. Ele fecha seus olhos e respira fundo. Sou pega de surpresa e quando olho em seus olhos vejo a mesma aflição, desejo e saudade que tenho no meu coração. Porque mudou? E quando isso aconteceu? Talvez seja saudade da amiga. Tenho que deixá-lo seguro de que vou voltar. E essa certeza é que me mantém firme com um sorriso no rosto.

- Vai passar rápido, quando você menos esperar já estarei de volta.

- Hum, hum. Eu sei.

Ele não solta minha mão e delicadamente entrelaça nossos dedos. Meu coração está batendo acelerado no meu peito e tenho certeza que ele pode ouvir.

- Você quer ir antes do embarque?

- Não. Vou ficar até você entrar no avião.

- Ok.

Continuamos juntos, nos olhando durante o tempo todo como se isso fosse ajudar a gravar nossas feições. Balanço a cabeça e dou um sorriso. Não tem como esquecê-lo, a distância irá apenas nos trazer mais saudades.

Estou tão envolvida que me assusto quando começa a chamada de embarque, sinto suas mãos tremerem levemente. Porque ele está assim?

Levanto e ele me acompanha, ficamos de frente um para o outro. Ele ainda segura minha mão.

Minha mãe chega afoita e lhe dá um abraço, pega sua bagagem de mão. Eu chego perto e dou um abraço apertado nele. Respiro fundo sentindo seu perfume. Ele retribui o abraço e sinto seus braços me apertando. Quando vamos nos afastar ele sobe suas mãos pelos meus braços até que suas mãos seguram meu rosto, ele se aproxima lentamente e seguro a respiração imaginando o que ele irá aprontar. Seus lábios se apossam dos meus, sua língua lambe meus lábios e meu suspiro é tragado por sua boca. Ele invade minha boca e sinto o sabor de seus beijos que ficam cada vez mais exigentes.

Quando ele se afasta me sinto paralisada e observo sua reação. Ele me dá um sorriso, sua voz está rouca.

- Eu precisava disso. Assim vou poder sonhar todas as noites com a sua volta.

Minha voz sai baixa e insegura.

- Quando eu voltar, juro que vamos conversar sobre isso.

Abaixo e pego minha mala de mão, dou outro abraço nele e sou presenteada com o mais lindo sorriso. Sigo para o embarque.

Enquanto ando pelo corredor sinto um sorriso nascer e ponho os dedos sobre meus lábios. Ainda sinto o calor da sua boca sobre a minha.

 

A cidade continua a mesma, tudo no mesmo lugar, os mesmos aromas, as mesmas paisagens.

Reencontrar meus amigos foi decepcionante. Apesar de termos passeado por todos os nossos lugares favoritos, senti que não tínhamos a mesma ligação e acabei preferindo ficar sozinha nas minhas excursões pela cidade.

Descanso e curto tudo com a sensação de que vou demorar em voltar uma próxima vez. Talvez seja o fato de que aqui não seja mais meu lar.

A única coisa que me faz sorrir enormemente é saber que estarei falando com o Ryan em pouco tempo. Nossos encontros via videoconferência ocorrem todas as noites. Nossas conversas ficaram cada vez mais íntimas e ele me contou até sobre a volta da Charlotte antes das férias.

Ele me falou que ela queria reatar o namoro só que ele não deseja mais estar com ela. Ele me falou que quando eu voltar nós teremos que sentar e conversar. Sinto meu coração dar pulos só de imaginar do que se trata este assunto.

Já se passaram quinze dias das férias. Estou com vontade de ir para casa, sinto falta do apartamento e dos meus amigos.

Só que minha mãe ainda está terminando algumas reuniões e tenho que esperar.

Um dia ela chega em casa e tento conversar com ela sobre voltarmos

- Boa noite filha, como foi o seu dia?

- Fiquei em casa hoje. Estou sem vontade de ir passear e com saudades da faculdade, dos meus amigos e, principalmente do Ryan.

- E ele está onde? Está gravando?

- Sim, está na Califórnia com a equipe e daqui três dias volta para casa dos pais no Kentucky.

- Bem, amanhã será a minha última reunião se você quiser posso reservar as passagens para sexta. Chegaremos no sábado, mas você tem que me falar agora senão não consigo lugares no avião.

Pulo em cima dela e a abraço.

- Verdade? Podemos mesmo? Vou avisar o Ryan!

- Porque você não faz uma surpresa?

- Porque ele me falou que sairia das gravações e já embarcaria direto para a casa dos pais. Se eu não avisá-lo, não vou vê-lo antes do inicio das aulas.

- Ok então vá logo contar a novidade enquanto reservo nossos lugares.

Dou um abraço e um beijo na minha mãe, saio correndo para o quarto. Sinto apenas pelo fato que minha mãe não descansou nada desde que chegamos e sei que ao retornar ela vai ficar muito mais cansada com tantas coisas para resolver.

Vou para o quarto e pego meu celular e mando uma mensagem para o Ryan avisando que voltamos no sábado. Estou pensando quanto tempo deve demorar para que ele me responda quando meu celular começa a tocar. Atendo com um sorriso.

- Oi.

- Você não está brincando, não é?

- Claro que não, conversei com minha mãe e ela acaba as reuniões na empresa amanhã e embarcamos na sexta, chegaremos sábado, mas não sei em qual voo e horário.

- Eu ainda devo estar dormindo. Estou sonhando certo?

Olho para o relógio e rapidamente percebo que é de madrugada na Califórnia.

- Nossa eu esqueci que aí está de noite! Me desculpe Ryan. Nossa esqueci  completamente disso. Pode voltar a dormir depois nos falamos.

- Ah não sua voz é sexy e você já me acordou então pode conversar mais um pouco, apesar de serem três horas da manhã.

- Você tem que descansar, vai filmar amanhã e não posso atrapalhar depois mais tarde nos falamos.

- Nada disso pode falar agora já perdi o sono mesmo, não vou dormir mais.

- Está certo, mas eu queria apenas avisar sobre a volta. Só queria te falar isso.

- Você me manda mensagem do horário do vôo para que eu vá buscá-las no aeroporto?

- Não precisa, vamos de táxi. Você já tinha comentado que ia para a casa dos seus pais. Se quiser pode ir que quando você voltar estarei aí.

- Angel me mande à mensagem com o horário, por favor?

- Mas você tem que visitar seus pais Ryan.

- Eu vou depois que você chegar de viagem, mas quero buscar vocês.

- Ok. Eu mando mensagem.

A linha fica muda por um momento e escuto um suspiro que vem dele.

- Vejo você no sábado então?

- Nos vemos no sábado.

Vou até a sala e encontro minha mãe ao telefone reservando nossos lugares, ela me vê e faz sinal para esperar, sento ao seu lado esperando.

- Tudo certo. Vamos embarcar na sexta as 12:25h e chegaremos as 21:55h, está bem?

- Está ótimo mãe, vou passar uma mensagem para o Ryan do horário, ele faz questão de nos buscar.

- Será melhor mesmo vamos estar cansadas, ainda temos que arrumar as malas e deixar tudo separado.

- Pode deixar, eu arrumo tudo amanhã. Só separe a roupa que você quer usar na viagem que o restante eu arrumo.

- Então está bem, vou deitar estou cansada. Boa noite filha.

- Boa noite mãe.

 

Vou até meu quarto e mando a mensagem para o Ryan com o horário do voo. Vou para sala, fico assistindo um filme e acabo dormindo no sofá, acordo com o celular tocando.

- Alô? - estou meio dormindo ainda.

- Oi, você está acordada?

- Agora estou, mas não tem problema ter me acordado, dormi no sofá de novo.

Ele começa a rir.

- Só você para gostar de dormir no sofá.

- Você me ligou para ficar rindo é?

- Não, liguei porque não conseguia dormir, estou com saudades e não vejo a hora de chegar o sábado.

- Paciência. Eu vou chegar ai logo. Já pensou se fosse só daqui a um mês?

- Ok, vou parar de falar isso senão você muda de idéia e fica mais tempo por ai só de pirraça.

- Hum ideia tentadora... - faço um pequeno suspense – Mas não, eu vou na sexta. Estou com saudades de você também.

Tento disfarçar meu embaraço.

- Ahhh foi algo espontâneo, não estou com tantas saudades assim e sem contar que está chato ficar aqui. Minha mãe está trabalhando direto e estou chateada por ela não estar se divertindo ou saindo em nenhum desses dias.

- Vamos dar um jeito nisso assim que você voltar.

- Hum estou com medo disso.

- Eu preciso desligar. Estão me chamando. Queria poder conversar com você mais um pouco.

- Eu também. Até sexta, Ryan.

- Até sexta, minha pequena.

Desligo o celular e fico com um sorriso idiota no rosto. “Minha pequena”. Ele me chamou assim carinhosamente e isso me marca profundamente. O dia tem que passar voando amanhã.

 

Chegou o grande dia, estou voltando e posso dizer que estou nervosa. Nervosa? Sim, nervosa demais.

Acordo cedo, as malas já estão arrumadas na sala para que nada atrase nossa volta. Eu e minha mãe tomamos o café da manhã em completo silêncio. Estou sem fome e minha mãe acaba reparando.

- Filha, ficar sem comer não vai adiantar.

- Não estou ficando sem comer. Tomei um copo de suco. Meu estômago não está muito meu amigo hoje.

Ela dá risada e fica me olhando.

- O que está te deixando nervosa?

Essa é a pergunta que estou me fazendo a algum tempo. Depois de tantas conversas fico pensando o que mudou. Como as coisas ficaram mais intimas, próximas num ponto que não consigo ficar sem conversar com ele.

- Mãe, eu realmente não sei. Talvez seja pelo que ainda não está certo.

Descemos para pegarmos um táxi.

Ao chegar ao aeroporto realizamos o check in e vamos para nossos lugares, a viagem é calma. O dia está bonito e tento me distrair assistindo um filme.

Minha mãe está entretida lendo um livro que comprou, o que é raro porque normalmente ela estaria revendo seus relatórios e papelada do escritório.

Acabo cochilando e acordo com o aviso de aterrissagem. Coloco o sinto e vejo minha mãe voltando do banheiro. Ela sorri.

O desembarque é tranquilo, pegamos nossas malas e colocamos num carrinho, quando olho ao redor me deparo com um par de olhos me observando. Ele está nos esperando.

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