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Cartas Para Lílian

Prólogo

...Um dia minha irmã me perguntou se Cartas Para Lílian era escrito em sua homenagem já que o nome dela é Liliane e ela sempre amou o nome Lílian, disse que não, a verdade é que não estava sendo totalmente honesta. Sim mana esse livro é dedicado a você......

...Obs: Os personagens, lugares, e histórias são fictícios e qualquer semelhança com a realidade é apenas coincidência....

...Sejam bem-vindos ao PRÓLOGO e nos vemos no EPÍLOGO!...

 

...******************...

Olá, o meu nome é Lilian Clarke, acabo de completar 17 anos, de sofrer um terrível acidente, de perder os meus pais, agora tenho que ir morar com uma tia que nunca vi. Estou completamente perdida, sem rumo, sem vida, somente um milagre para salvar-me desse abismo que se formou dentro de mim.

Mas será que milagres existem? 

Mas espera, você acabou de chegar, não é? 

Acho melhor começar pelo começo     

...      ******************* ...

^^^ 3 meses antes ^^^

 Enquanto acordo, manchas alaranjadas passam através das cortinas me obrigando a deixar os olhos entreabertos. Me obrigo a levantar ainda morrendo de sono. Abro as cortinas e sinto uma brisa passando através delas, encontrando minha pele ainda quente. De onde estou encostada na janela olho para o relógio que está na minha cabeceira, ele marca 6:00 horas da manhã, abro um sorriso não conseguindo conter a alegria que sinto ao lembrar que faltam exatamente 3 dias 3 horas 15 minutos e 34 segundos para o meu aniversário                                            

Resolvi comemorar meu aniversário de 17 anos em Orlando com os meus pais 

Tomo um banho e visto uma roupa leve, afinal tem suas vantagens comemorar o aniversário no verão, estamos sempre de férias do colégio 

Termino de arrumar minha mala e pego o livro que estou lendo agora “Sr. Daniels”, não era incomum meus pais e amigos me verem com algum livro na mão, pra falar a verdade o incomum era estar sem nenhum livro, vou para a cozinha com o livro embaixo do braço, encontro meus pais prontos e tomando café 

_Bom dia querida, já está pronta?

Afirmo com a cabeça enquanto mordia uma maçã 

_Pai falta apenas descer com a mala 

_OK vou buscar e por no carro 

Depois de meia hora estamos a caminho do aeroporto, meu pai sempre foi um ótimo motorista, estamos rindo e conversando, enquanto meu pai conta uma piada sobre loiras, ele sempre enchia o meu saco com essas piadas sem graças, minha mãe me disse uma vez que ele era muito pior durante a faculdade, deve ser porque ela era o alvo de suas piadas. Mas eu não ouvi o final daquela piada, e também jamais ouviria. A última coisa que lembro é de ver minha mãe sorrindo olhando para mim, e a voz do meu pai começando a contar a piada e tão rápido quanto um piscar de olhos uma escuridão nos cercou. Me perdi dentro de uma escuridão que gritava meu nome 

_Lílian 

Ela me puxava com tanta força. Que não tive forças pra resistir e me entreguei completamente a ela...

CAPÍTULO 1

Abri os olhos e senti uma terrível dor de cabeça, como se tivesse colocado a minha cabeça num balde de gelo. Abri os olhos mas não aguentei a dor. Tentei abrir os olhos dessa vez bem devagar, vi o quarto branco e os fios nos meus braços, olho para frente e vejo uma mulher sentada na poltrona, ela parecia muito com a minha mãe, só que essa mulher era ainda mais loira, o tom do cabelo dela era o mesmo que o meu.

Tudo parecia fora de ordem, tudo parecia sem sentido, uma névoa cobria meus pensamentos, me sentia estranha.

 Ela percebeu que eu tinha acabado de acordar e levantou, chegando mais perto da cama.

_Querida, graças a Deus  finalmente acordou. Como se sente?

Com toda certeza ela conseguia ver a minha cara de confusão. Quem era aquela mulher e por que ela falava daquele jeito comigo? 

_Quem é você?

_Querida, sinto muito que nunca tenhamos nos conhecido..

_Cadê os meus pais? 

_Lílian, não se lembra de nada? O acidente..?

 

Lentamente as imagens estavam vindo. Meu coração parando, lembro do sorriso da minha mãe, a voz do meu pai e a escuridão, então a realidade me alcançou, como um prédio de 200 andares a cair em mim.

Os meus pais estavam lá?

Quanto tempo fazia?

_Onde eles estão?

_Querida, eu sinto muito, o acidente foi terrível você sobreviveu por um milagre.

_Meus pais morreram?

Ela afirma com um aceno de cabeça. Começo a entrar em desespero quero sair dali e gritar pelo meu pai e a minha mãe. A tal mulher senta do meu lado e tenta me acalmar, mas não consegue. Perdi a única família que tinha, o meu pai não tinha irmãos e os meus avós já morreram, nunca soube se a minha mãe tinha algum parente.

Começo a chorar e sentir uma dor em meu peito, algo que me faz tremer e gritar até que senti uma picada em meu braço, tudo ficou escuro novamente.                              

...************************    ...

^^^       ^^^

^^^  2 horas depois ^^^

Antes mesmo de abrir os olhos lembro de tudo que aconteceu, meus pais não estavam mais ali.

O que seria de mim?

Meu pai era filho único, meus avós já tinham morrido, e minha mãe nunca havia falado se tinha parentes, abro os olhos devagar com medo daquela dor voltar, olho em volta, o quarto totalmente branco, vejo a mesma mulher que parecia muito com minha mãe.

_Quem é você?

A mulher se assusta com minha voz, ela parece cansada, chegou mais perto da cama

_Me chamo Sophie querida, sou a irmã mais velha da sua mãe.

Quê?! Não é possível..

_Minha mãe nunca disse que tinha uma irmã, pra falar a verdade ela nunca disse que tinha uma família.

_Sua mãe fez uma escolha difícil, e essa escolha nos afastou. Mas você não está com condições de ouvir uma longa história agora, prometo que conto tudo outra hora.

_Quanto tempo fiquei aqui?

_Um mês, você passou por uma cirurgia e logo depois entrou em coma, pensamos que íamos te perder também.

_E os meus pais?

_Seu pai morreu na hora, mas sua mãe morreu uma semana depois, ela me ligou e vim correndo para cá, pensamos que ela ia se recuperar, mas ela sofreu uma parada cardíaca, sinto muito querida.

Percebi que estava chorando novamente

_E agora, não tenho pra onde ir..

_Querida sua mãe me fez prometer que cuidaria de você, já perdi uma irmã e um cunhado, não vou perder uma sobrinha também.

_Onde você mora?

_Em uma cidade chamada Domingos Martins, Espírito Santo.

_Cidade pequena?

Ela abre um sorriso sem graça.

_Não é tão grande como São Paulo, mas existem cidades menores. É um bom lugar!

Olho através da janela sem conseguir entender como tudo mudou de repente 

_Olha Lílian, sei que vai levar um tempo para nos sentirmos à vontade com essa situação, mas você não está sozinha.

A realidade me atingiu. Arrancando o chão sob os meu pés, finalmente tomei a consciência de que MEUS PAIS MORRERAM!.

Seguiria sem eles a partir daquele momento..

Tudo se foi de repente, sem direito a me despedir, sem dizer adeus, agora ficaria aqui sem eles pra sempre.

                         ******************

Como é possível você morrer por dentro e mesmo assim continuar a viver?

Uma pergunta que não tinha resposta, uma pergunta que não parava de rondar minha mente, de uma forma sorrateira e invisível, estava sempre lá, mas nunca verbalizada, estava lá, mas não tive forças para buscar a resposta.

E mesmo depois de alguns dias não estava pronta para aquela resposta, para descobrir a verdade, eu só não era tão forte para isso no momento.

Recebi alta do hospital sem nenhuma sequela a não ser a emocional.

Os médicos pediram para minha tia, ainda é tão estranho ter uma, que procurasse um psicólogo, mas eu disse que ainda não seria capaz de falar sobre isso.

Perdi tudo aquilo que tinha, meus pais, amigos, casa e para ajudar descobri que a minha mãe havia mentido sobre a sua família. A última coisa que eu queria fazer era sentar em alguma poltrona e falar essas coisas para alguém que nem conhecia. Isso não seria negociável.

Estamos a caminho da minha casa, iria fazer as malas. Antes de ir para Domingos Martins vamos passar no cemitério, preciso ver aonde os meus pais estão enterrados. Olhar as lápides, saber que é real, eles não estariam mais aqui comigo, que não ouviria mais as risadas da minha mãe enquanto o meu pai contava aquelas piadas horrorosas.

Entro em casa e na mesma hora as lágrimas começaram a inundar os meus olhos, em cada parte da minha casa posso ver eles sorrindo, fazendo coisas que às vezes me irritavam, mas que hoje me trazem saudades. Como a minha mãe gritando da cozinha que a comida estava pronta, me obrigando a largar o que estava fazendo; meu pai em suas pantufas de coelho; eles dançando no meio da cozinha “como nos velhos tempos", como eles diziam.

Enxugo as lágrimas que embaçam minha visão.

Faço as malas no piloto automático, enquanto minha tia fala que só poderei tomar conta dos bens dos meus pais depois que completasse 21 anos, até lá, pessoas de confiança dos meus pais estariam na frente dos negócios, mandando uma mesada todo mês para suprir todas as minhas necessidades. Não escuto nada.

Tudo passa por mim sem ficar na minha cabeça, não consigo esquecer de tudo que vivi aqui com eles e novamente começo a chorar. Quando tudo está pronto, vamos direto para o cemitério

_Querida, acho melhor você ir sozinha.

Afirmo com cabeça e antes de dar um passo na direção das lápides a mão de Sophie me detêm.

_Antes de morrer a sua mãe me pediu para te entregar o seu presente.

Ela tira da bolsa uma caixa, não muito pequena, de veludo azul com um envelope da mesma cor em cima. A minha mãe simplesmente amava azul, consequentemente eu amo azul, talvez tenha sido o meu quarto desde que nasci ser azul, os inúmeros vestidos que a minha mãe comprava, a influência dela ou talvez fosse apenas eu, balanço a cabeça sabendo que aquele pensamento nunca surgiu antes

_Obrigada Sophie..

_Não precisa agradecer querida.

Vou para dentro do cemitério e fico procurando as lápides até encontrar. Sento-me em frente as duas lápides com fotos deles e seus nomes, coloco a caixa no chão ao meu lado.

Choro por estar ali, eu perdi as contas de quantas vezes chorei hoje, mas aquilo era justificado. Ninguém iria me culpar por desabar, por estar sentada no meio do cemitério conversando com as lápides das duas únicas pessoas que compunham a minha pequena família.

E agora ela foi reduzida a ninguém mais além de mim, isso não era justo!

_Mãe, eu estou com medo e não sei o que fazer, preciso que voltem. Justo vocês ficaram juntos e me deixaram aqui sozinha, por que vocês não me levaram também?

Não houve resposta, nem haveria, porque eles não estavam mais ali. Meu corpo todo tremia com os soluços, tenho certeza que não era uma cena bonita de ver, uma garota sentada no meio do cemitério chorando e conversando com os túmulos, mas como disse antes tudo isso era justificável. Pego a caixa que estava ao meu lado e abro, uma linda pulseira com a frase "Família Clarke" com um coração de cada lado com duas datas a do meu nascimento e o dia que meus pais se conheceram. Choro mais alto passando a mão na pulseira. Pego o envelope azul tirando de lá uma folha branca porque provavelmente não tinha azul. Olho para a caligrafia da minha mãe e respiro fundo antes de começar a ler..

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...Oi, minha princesa!...

...Sei que você está se sentindo sozinha, acredite Lílian, eu não queria ter te deixado. Me perdoe por nunca ter lhe falado sobre minha família, mas na hora certa você vai entender. Me perdoe por não ter resistido para cuidar de você, mas sei que Sophie cuidará de você por mim, confie nela Lílian pois ela é digna da sua confiança. Nós te amamos desde do momento que soubemos que você chegaria e jamais mudaria minhas escolhas por que elas me trouxeram você. Então me prometa que você vai tentar ser feliz, por mais difícil que seja você vai tentar, me prometa que na hora certa você vai deixar a pessoa certa entrar e cuidar de você. E arrumar toda essa bagunça que nossa perda causou dentro de você. Me prometa Lílian, que você irá para a faculdade, você terá uma linda família e será quem você nasceu pra ser. Nós te amamos, de sempre para sempre......

...Thomas e Ashley Clarke...

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Chorei, como se ainda fosse possível, meu coração estava quebrado, minha mente não conseguia aceitar o que aconteceu, meu corpo estava pesado e tudo em mim estava em desespero, cada respiração minha era um lembrete constante de tudo que tinha acontecido, um lembrete constante de  tudo o que eu havia perdido. Mas eu preciso continuar, não fazia ideia como faria isso, muito menos se conseguiria, mas se há uma coisa que meus pais fizeram questão de me ensinar é que eu não posso desistir. guardei a carta, peguei a caixa e me levantei batendo na parte de trás do meu jeans. Olhei para o céu e para as lápides e me virei de costas para ir embora, mas voltei novamente.

_Eu amo vocês. Eu não sei como fazer isso, não sei se sou forte o suficiente, apenas prometo nunca desistir, apenas por vocês...

Levanto e vou para o carro seguindo para o aeroporto, pensando no que eu havia acabado de prometer.

Espero cumprir essa promessa. Mas não me julguem se por um acaso eu falhar..

CAPÍTULO 2

O voo não foi tão demorado quanto pensei, talvez o fato de dormir durante todo o voo tenha contribuído para essa percepção. Sophie foi buscar nossa bagagem, ela disse que seu filho viria nos buscar, mas já fazia alguns minutos que ela tinha ido. Meu coração estava acelerado, minhas mãos soavam frio.

Eu apertei as mãos com força até que os nós dos dedos ficassem brancos e minhas unhas deixassem marcas nas palmas das minhas mãos, é nessa hora que percebo que preciso sair daqui, ficar parada aqui durante tanto tempo está me fazendo ficar desesperada, resolvo ir atrás de Sophie, eu não a conhecia, talvez ela só tenha me deixado ali. 

Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos, se minha mãe disse que eu poderia confiar nela é porque certamente eu poderia. Será? 

Se bem que minha mãe mentiu pra mim durante toda a minha vida, eu não sabia mais em quem poderia acreditar.

Caminho em direção ao baggage Carrossel, olho ao longo da esteira onde diversas malas aparecem e desaparecem, de tamanhos e cores diferentes, esperando que seu respectivo dono apareça e lhe tire dali. Balanço a cabeça novamente, como se isso fosse tirar de dentro da minha mente todos esses pensamentos estranhos sobre coisas que jamais tinha pensado antes, depois de sair da minha própria armadilha mental começo a procurar Sophie, mas não a vejo em lugar nenhum. 

Fico olhando as malas até que vejo a de Sophie, pego a mala no exato momento que alguém tenta puxar, há uma troca de força mas a outra pessoa era mas forte me fazendo esbarrar nela ainda segurando a mala. 

Olho para cima e me encontro presa à dois olhos de um tom preto incrivelmente lindo, com cabelos pretos indo para todas as direções e uma barba por fazer que o deixava ainda mas lindo, ele era um pouco mais alto minha cabeça batia no seu peito e ele parecia mas velho uns dois anos talvez. 

Como posso estar pensando nesse tipo de coisa quando acabei de perder meus pais? Algo dentro de mim me faz pensar que continuo com todos os hormônios femininos dentro de mim, mas eu não queria pensar assim, eu não queria pensar em nada desse tipo, eu não queria ser pega nesse tipo de rede, mas com toda certeza meus hormônios não pensavam daquele jeito, balanço a cabeça novamente, percebendo que aquele cara olhava pra mim, esperando que eu falasse alguma coisa. 

_Me desculpe acho que você se enganou, essa mala é minha!

 Bom não era minha , mas era de Sophie e ela não estava ali, e esse cara não precisava de todos os detalhes. 

_Me desculpe não vi que você também estava pegando a mala.

Ele falou em uma voz tão profunda e grossa que era quase impossível ele falar sempre assim. 

_Não, sem problemas.

Ele abriu o sorriso mais lindo que já vi na minha vida e foi impossível não retribuir. Pela primeira vez desde que os meus pais morreram eu estava sorrindo para um completo estranho e eu não sabia como me sentia a respeito. 

_Está a passeio? 

_Como?

Sua voz me tirou dos meus pensamentos, com toda certeza aquele cara deveria estar me achando uma completa estranha, eu estava me achando uma completa estranha.

Lilian Clarck o que está havendo com você? 

Sua voz me arrancou novamente dos meus pensamentos, mas dessa vez consegui entender a sua perguntar. 

_Você está de férias aqui em Domingos?

_Não, para falar a verdade estou aqui porque os meus pais morreram e...

Quê?! Eu não sei o que me levou a ser tão franca e direta com esse cara.

Apertei novamente as minhas mãos, sentindo uma dor fina com o contato das minhas unhas. Por que eu disse isso para um estranho? 

_Sinto muito, sei o quanto é doloroso perder alguém que amamos.

Ele sorriu e com a ponta do seu dedão acariciou a palma da minha mão que estava em baixo da dele, ainda segurando a mala. Olho para nossas mãos juntas e uma sensação se estabeleceu no meu estômago, e por mais estranho que pudesse ser, aquilo parecia tão certo.

_Obrigada. Eu preciso ir... 

Ele ainda me olhava e não largou a mala por um tempo que parecia interminável. Quando eu pensei que ele não me deixaria ir, ele abriu aquele  sorriso que fez aquela sensação no estômago ficar mais forte, seus olhos me examinavam como se eu fosse um objeto raro, um quebra-cabeça que ele precisava montar. Abri um pequeno sorriso, pensando que talvez esse quebra-cabeça não esteja mais completo, impossibilitando sua remontagem.

Então ele soltou a mala, me deixando livre pra ir embora. Eu não sei o que foi, mas algo nos  manteve no mesmo lugar por alguns segundos, alguns longos segundos. 

Foi quando passou pela minha mente o pensamento de que eu não poderia ficar ali para sempre, então me virei para ir embora, mas antes que me afastasse ele segurou o meu braço, falando novamente:

_Me desculpe, esqueci de me apresentar. Me chamo Dylan, nos vemos por aí?

Ele sorriu e soltou meu braço, esperando minha resposta. Começo a me afastar sem responder, afinal ele era só um estranho,  mas não consegui, e não poderia explicar o porquê. 

Quando estava à alguns passos de distância olhei para ele novamente percebendo que ele ainda estava lá, sorrindo para mim. Então no meio do aeroporto gritei para que ele pudesse me ouvir. 

_Me chamo Lílian. Nos vemos por aí Dylan.

Volto a andar e abro um sorriso, tomando a consciência de que algumas pessoas me olhavam como se eu fosse uma retardada e que aquele cara me fez sorrir, mesmo sem permissão da minha parte, ele me fez sorrir. 

Encontro uma Sophie maluca de preocupação 

_Querida, graças a Deus. Aonde você estava, Lílian? 

_Fui procurá-la, mas não a encontrei, então vi sua mala e peguei..

_Ah querida, obrigado, eu não consegui encontrar minha mala, mas peguei todas as suas, já estava começando a ficar preocupada pensando que ela poderia ter sido extraviada, agora vamos pra casa OK?

Concordei com a cabeça enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento. E é quando eu percebo que Sophie continua sozinha. 

_Seu filho já chegou? 

_Sim querida, ele trouxe meu carro, ele não vai poder nos levar pra casa, ele tem reunião agora com os meninos do futebol.

_Seu filho joga futebol? 

_Jogava querida, mas como ele saiu do colégio há dois anos, aceitou o cargo de técnico. 

_Vamos? 

_Vamos. 

Chegamos no carro e Sophie colocou toda a bagagem no porta mala e finalmente  seguimos para a casa dela, era uma cidade extremamente calma e com lindas flores nos jardim das casas. Havia uma paz diferente que exalava naquela cidade, algo tão diferente da correria que era São Paulo. Uma brisa suave balançava as flores, o que era estranho contando que estávamos no verão; o céu era azul, um azul bonito sem nuvens. Então lembrei da promessa que havia feito aos meus pais naquele cemitério. 

Eu poderia deixar a pessoa certa entrar e cuidar de mim, mas como saberia quem era a pessoa certa? E eu poderia encontrar esse Deus, a quem eu nunca fui apresentada? Milagres poderiam ser reais?... 

                                           

                  ******************** 

As vezes não ter dado certo no passado não significava que no futuro o resultado seria o mesmo...

Meu pai estava sempre repetindo essa frase, quando algo dava errado, quando eu não conseguia uma boa nota, quando eu não consegui um par para o baile, quando eu havia brigado com minha melhor amiga, quando eu não conseguia o que eu queria vinha ele e me dizia essa frase, com uma voz de eu sei de tudo, como se fosse um professor de auto ajuda, aquilo sempre me irritou, mas eu faria o que pudesse pra ouvir essa frase dele mais uma vez. 

Sophie parou o carro em uma garagem, era uma rua extremamente calma, com casas lindas e jardins incríveis. 

Sua casa era branca com janelas azuis, era grande, tinha um lindo jardim, e era completamente desconhecida. Eu sabia que minha vida iria mudar, mas ali sentada naquele carro, olhando para aquela imensa casa desconhecida, eu tive noção do quanto ela havia mudado 

Eu estava com medo de sair daquele carro, um lugar seguro. Ou não, já que perdi meus pais em um. Mas ainda assim, eu não sabia o que me esperava dentro daquela casa, eu não sabia o que as pessoas achavam de mim, e de como caí de paraquedas nas suas vidas

_Querida, não precisa pegar as malas, depois Jack virá buscá-las 

A voz dela me arrancou dos meus pensamentos, evitando ir mais afundo nessa questão. Sophie já estava fora esperando que eu também saísse. Eu não sei o que me mantinha sentada no carro, mas antes que pudesse sair do carro vejo a porta sendo aberta e uma linda garotinha com cabelos loiros correndo e se jogando nos braços de Sophie. 

_ Holly querida, como você está, sentiu saudades da mamãe?

_Claro mamãe, a Libby é muito chata. Ela não me deixou comer biscoitos de chocolate 

Comecei a rir da linda garotinha, ela me lembrava dos vídeos que o meu pai costumava assistir comigo, os vídeos que ele havia feito durante toda a minha infância. Era assustador a semelhança entre mim e Holly, se falassem que aquela garota era minha irmã as pessoas certamente acreditariam. Eu acreditaria por causa da semelhança entre nós duas 

_Querida, essa é a sua prima Lílian

Ela olhou pra mim acabando de notar que havia mais alguém ali. Ela me examinou por alguns segundos, talvez tomando consciência do quanto éramos parecidas. Ela abriu um lindo sorriso e estendeu a mão para que eu apertasse 

Sophie seguiu para dentro de casa, foi aí que Holly me puxou, é claro que ela não tinha força suficiente para me obrigar a me abaixar, mas eu me inclinei e fiquei na mesma altura dela 

_Seja bem vinda Lílian, espero que você seja boazinha comigo e me dê biscoitos de chocolate, porque assim não vou precisar cortar as suas bonecas 

Depois ela saiu pulando e cantando a música da chapeuzinho. Ela ameaçou cortar minhas bonecas, é claro que naquela altura eu não tinha mais bonecas, ou melhor, as poucas que guardei estavam trancadas na minha casa, junto com todas as coisas que não tive coragem e força suficiente pra dar uma olhada 

Mas eu não disse nada porque aquela garotinha loira me assustou 

Entro na casa e vejo Sophie abraçando outras pessoas, ela percebeu que entrei e veio para o meu lado 

_Querida essa é minha filha Libby. Ela tem a sua idade; esse é meu filho James, ele tem 18 anos; esse é meu marido Jack, ele é o chef dos bombeiros da cidade. A Holly você já conhece e falta apenas Dylan 

Todos me cumprimentaram e me deram abraços me dizendo que eu era bem vinda. Eles eram estranhos, recebendo uma estranha como se aquela situação fosse normal, aquilo não era normal 

Libby ficou responsável por me mostrar onde seria o meu quarto, que era do lado do dela. Era bem diferente do meu, não era azul, era algum tom pastel. Havia uma cama grande e confortável, uma escrivaninha em um canto com um quadro de aviso na parede logo acima 

Um armário, bem menor do que eu tinha antes, mas serviria a final de contas, e Libby era tão fácil de gostar, que não me admirava o fato de estarmos conversando enquanto desfazemos as malas, se não contasse poderia parecer apenas aquela prima que chegou para as férias de verão, mas aquilo não eram férias, era a minha realidade l.

_Então tem outras pessoas na família?

_Bom, tem o tio Harry, ele é engraçado, tem a tia Grace que é a protetora e tem o tio Sam, que é o mais legal. E fora eles tem meu irmão Dylan que é o mais velho, ele está morando com um amigo. Ele é muito legal...

 

                    *****************

Não vimos a hora passar, já eram umas 16:00 horas quando finalmente terminamos de arrumar tudo. Libby estava muito feliz de ter alguém da idade dela em casa, e eu simplesmente queria minha casa de volta 

Sei  que naquele momento eu estava parecendo mal agradecida, mas era a verdade que não saía da minha mente, era a verdade que o meu coração queria de volta, era a verdade que jamais teria novamente 

_Meninas, o jantar está quase pronto. O Dylan acabou de chegar 

Sophie saiu do quarto com a mesma rapidez que entrou. 

Era tão estranho pensar no fato que alguns dias atrás eu não tinha ninguém além dos meus pais e agora eu tenho tias, tios, primas etc., mas não tenho mais meus pais. Parecia alguma lei idiota do universo que não me permitia ter os dois. 

_Vamos descer ou você quer tomar banho antes? 

_Acho que vou tomar banho. 

_OK, então você vai primeiro e eu vou depois. E nós descemos juntas 

Nós compartilhamos o mesmo banheiro. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro deixando a água cair pelo o meu corpo. Vesti um vestido azul que ia até os joelhos, arrumei meus cabelos e deixei secar naturalmente. 

Libby sai do banheiro e abre um sorriso extremamente animado e eu ainda não consegui entender por que tanta felicidade. 

Isso era surreal, eu estava esperando acordar com o barulho irritante do meu despertador, onde eu descobriria que tudo não passava de um sonho estranho.

_Vamos ? 

_Vamos. 

Descemos juntas quando chegamos na sala ouvi alguém tocando violão,  Holly estava deitada sobre o sofá olhando para alguém que estava de costas para a porta. Ela estava sorrindo e enquanto a pessoa começou a cantar, a mesma sensação do aeroporto se estabeleceu outra vez no meu estômago. Era uma voz tão linda que deixava qualquer pessoa em estado de choque, de paz interior, de repente percebi o quanto aquela voz me parecia familiar.

_Dylan, olha a nossa nova prima que vai me dar biscoitos de chocolate.

 

_Ah, então você ameaçou cortar as bonecas dela? 

Ela começou a rir, mas não prestei atenção no que ela disse depois. Porque aquela voz era extremamente familiar, mas de onde? Como era possível, se naquela cidade meus conhecidos se limitavam a pouco menos de 7 pessoas?

Ele põe o violão no sofá e se levanta.

Quando ele me vê, vejo a minha confusão estampada no seu rosto. Porém, ele supera o choque muito mais rápido que eu, porque abre um sorriso e fala o meu nome, nada mais. Nada além do meu nome 

_Lílian...

_Dylan...

_Vocês se conhecem? 

Libby ficou sem resposta, o que não foi intencional, mas  Dylan e eu estávamos perdidos no olhar um do outro. 

Ele sorriu novamente, estendendo a mão para que eu a apertasse. Quando peguei a sua mão, senti algo estranho, um arrepio que correu pelo o meu corpo. 

_Seja bem vinda à Domingos.

_Obrigado. 

Libby não entendeu nada, a verdade é que eu também não, só tinha consciência que... 

O Dylan do aeroporto era o mesmo Dylan da minha família!

Que droga...

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