Mais uma noite desperdiçada, mais três encontros totalmente fracassado em apenas um dia — Que novidade! —, mais uma noite totalmente sobre o controle da dona Elisa, e é claro, horas perdidas que eu poderia ter usado para dormir. Mas ao invés de está na minha cama, estou em algum lugar das ruas de Los Angeles, à mais das 23h tentando me lembrar onde estacionei minha moto e quase tomando a decisão de pegar um táxi — se essa rua totalmente deserta passasse algum. Esses encontros estava acabando totalmente comigo.
Que saco!
Teria que optar pelo plano B.
Enquanto caminhava pela calçada, peguei meu celular e liguei para a única pessoa que poderia está disponível naquele momento.
— Alô, Otávio?!
— No momento estou ocupado dormindo, então deixe seu recado e até amanhã.— A voz dele era de uma pessoa que tinha acabado de ser tirada de seu sonho.
Bem, eu não tinha outra opção. Odiava ficar perturbando as pessoas, principalmente a essa hora da noite. Mas fazer o quê? Não dizem que é para isso que servem os amigos, para ajudar quando se precisa.
— Otávio, pare de brincadeira. Preciso que você venha me buscar, estou perdido em algum lugar.
— Por que você não liga para a Mônica?! Sabe, eu não sou seu motorista.— ele parecia irritado e bocejava enquanto falava.— Em falar nisso, por que não liga para o motorista da sua mãe?!
Tinha motivos muito plausíveis e justificáveis para isso.
Se ligasse para Mônica essa hora, ela desligaria na minha cara ou prior, me mataria depois de me levar para meu apartamento.
Não queria sangue por todo meu apartamento.
Se ligasse para o motorista, ele contaria tudo para minha mãe. Então, ela passaria a noite me ligando por causa dos encontros e me mataria quando descobrisse como foram.
Eu não queria morrer.
Ou seja, essas duas opções estavam totalmente fora de questão. Já tinha problemas suficiente para lidar, que nem tinha sido eu as causar. Por isso só tinha sobrado esse loiro para vim me socorrer, eu sabia que era um saco sair da sua casa essa hora para vim me encontrar, mas não custava nada me fazer esse pequeno favor.
— Otávio dar para fazer isso só dessa vez? Juro que não vai te matar.
— Tudo bem, mas antes me fala como foi os seus encontros?.— ele já parecia está bem acordado.
Quando se tratava da minha vida amorosa todos estavam dispostos a conversar.
— Bem... foi... mais ou menos.
Mentira, foram completamente horríveis.
Encontro do café da manhã...
Minha mãe tinha marcado meu primeiro encontro a cegas do dia, em uma cafeteria as 8h. Como se eu tivesse com tanta vontade de levantar e sair com uma garota que nunca tinha visto na vida. Mas minha mãe me faria em pedacinhos se soubesse que eu não apareci, assim como fiz quando essa coisa de encontro às cegas começou, à 2 meses atrás. E depois de todo esse tempo sem nenhum resultado, não entendia como ela não tinha desistido ainda.
Quando cheguei a cafeteria meia hora atrasado, uma moça loira, baixa e de olhos pretos me olhava da cabeça aos pés com um sorriso, — com certeza minha candidata 1⁰ do dia, Vanessa. —, me aproximei e sentei do outro lado da mesa.
— Bom dia. Desculpe pelo atraso, mas tive um pequeno problema no caminho.— minha cama não queria me dizer adeus.
— Tudo bem, não se incomode com isso. Então me fala, o que você faz Victor?.— ela apoiou seu queixo nas suas mãos, me observando.
Ela sabia o que eu fazia. Que eu era presidente de uma empresa que trabalhava na elaboração de videogames de estratégia. Não apenas isso, mas ela também sabia muito bem quem era minha família e que tinha um grande futuro pela frente. Pelo menos era isso que saia nas revistas e sites de negócios.
Depois dessa pergunta sobre mim, a conversa se voltou totalmente para ela, ou seja, todas as suas qualidades e como ela seria uma ótima namorada para mim. E enquanto ela falava e falava, eu não parava de olhar para o relógio. Meu combinado com a dona Elisa era de ficar uma hora por encontro.
Então quando se passou exatamente isso.
— Bem, foi um encontro realmente ótimo, mas eu meio que já tenho que ir.— disse me levantando, mas ela segurou o meu braço, me impedindo.
— Esperar! Que tal marcamos um outro encontro? Aposto que você irá adorar.
— Desculpa, mas acho que essa não é uma boa ideia.
— Mas eu sou perfeita para você, olha só para mim.
E eu olhei... ela era realmente linda, nossa! Muito linda, isso não dava para negar. Mas não tinha nada em mim que queria repetir esse encontro, eu quase dormir quinze minutos depois do início da conversa. Foi tudo um saco.
Então me soltei de seus braços e lhe fiz prestar atenção em minhas palavras.
— Sinto muito, mas isso não vai dar certo, então até mais.
Nem esperei ela responder, apenas sair o mais rápido que pude. Nesses encontros eu aprendi uma coisa muito importante: Se a garota ou garoto continuar insistindo que vocês devem ficar juntos, saia o mais rápido possível e sem olhar para trás. E na maioria dos meus encontros, todas insistem em mim manter ao lado delas.
Encontro do almoço...
Eu acho que não tem nada para contar de diferente nesse encontro, aconteceu a mesma coisa de sempre. Fomos nos encontrar em um restaurante no centro e sentamos em uma mesa do lado da janela. A garota era morena, de olhos azuis e corpo bem definido — minha 2⁰ candidata do dia, Lívia —, muito linda, da cabeça aos pés. Todas as candidatas eram lindas. O que tornava as coisas muito chatas.
Sempre começamos com a mesma pergunta “o que você faz?” e depois pulávamos para a lista de porquês elas seriam maravilhosas para serem minhas namoradas. Eu sabia muito bem que minha mãe era responsável por isso. Ela mandava as garotas jogarem na minha cara todas as suas qualidades, para que eu de alguma forma aceitasse namora-las.
No fim, quando o tempo acabou, me levantei da mesa.
— Desculpa, mas está na hora de eu voltar a empresa.— E novamente meu braço foi segurando.
— Você não pode ir embora! Temos muito o que conversar e nosso encontro está indo muito bem.— o encontro estava indo totalmente o oposto de bem.
E era agora que eu falava minha deixar e saia correndo o mais rápido possível.
— Realmente me desculpe, mas não temos nada em comum. Então, é melhor terminarmos por aqui.
E quando ela percebeu, já tinha saído pelas portas de vidro do restaurante e já estava pegando minha moto.
Encontro do jantar...
Nem vou dizer como o encontro começou, porque não foi nada de incomum. Então vou pular para o fim, que foi a parte onde me dei mal.
Minha 3⁰ candidata do dia, era Olivia. Uma mulher de cabelos ruivos, com olhos castanhos e de corpo escultural, muito linda, como as outras. Como sempre esperei o tempo acabar, mas dessa vez não conseguir ser rápido o suficiente para ir embora em seguida, porque ela correu até a porta do restaurante e se colocou na frente, me impedindo de sair. E então a bagunça começou.
— Você se acha muito bom para qualquer garota não é?!!.— deu início a gritaria.
— Não é nada disso. Você é linda, mas não vamos dar certo. É apenas isso.— Eu tentava a calmar vendo que todos os clientes estavam olhando para nós.
— Olha aqui! Eu não perdi todo esse tempo aqui para nada, você não vai me fazer de idiota como as outras!!!
Onde estavam os seguranças desse restaurante nessas horas?
Acho que teria que me virar sozinho...
— Tudo bem. Olha, me espere um minuto que vou te levar para casa e no caminho a gente pode marcar outro encontro. Só me espere um minuto enquanto vou pagar a conta, tudo bem?
Sua expressão séria e descontrolada aos poucos começou a se esvair. Parece que tinha a deixado mais calma.
— Certo. Mas não vou sair daqui até que você volte.
— Está bem, só espere aqui.
Então aos poucos comecei a me distanciar dela e de sua loucura, indo pagar a contar como tinha dito. Mas tinha uma coisa que não sairia como eu tinha dito.
Eu não iria voltar.
Assim que paguei a conta, fui direto para o banheiro, sem que a maluca me visse. E para minha sorte e salvação tinha uma janela que dava para os fundos do restaurante. Era pequena, mas dava de pular. E foi exatamente o que fiz.
Dona Elisa, o que você me faz passar...
Após isso, fui direto para a rua. Mas tinha um outro problema, tinha estacionado minha moto um pouco longe do restaurante, por um motivo que não sabia, e para completar não conhecia esse bairro. Com certeza foi plano daquela ruiva.
Tempo atual...
E assim acabei perdido em uma rua totalmente deserta e desconhecida. Nem sabia se Otávio conseguiria me achar.
— Em outras palavras foi h0rrív3l, um desastre, algo que você nunca vai esquecer na vida.— Otávio não sabia o que tinha acontecido, mas ele me conhecia muito bem.
— Não poderia ter dito com palavras melhores.— E não poderia mesmo, foi meus piores encontros desde que eles começaram. — Mas então vai vim me encontrar de alguma forma?! Posso te dar o endereço do restaurante, aí você roda a área para ver se me encontra.
— Tudo bem... tudo bem. Me fala onde fica isso.
Eu ia passar o endereço, mas de repente um barulho a frente chamou minha atenção, e sem saber direito comecei a caminhar em direção a ele e quando dei por mim ouvir uma voz feminina saindo de dentro de um beco.
— Victor, estou esperando! Victor, você está aí...?!
— Espera um pouco...— sem deixá-lo dizer mais nada, abaixei meu celular e fui em direção ao beco.
Victor, não vai se meter em problemas, isso pode ser muito problemático... Então não se...
Tarde demais para escutar a minha voz interior e a razão. Lá estava eu, dentro do beco, encarando três homens do tamanho de um pote, que pareciam está atrás de uma mulher que estava nas sombras e que não conseguia a ver direito.
Muito bem, faça alguma coisa Victor.
— Deixem a garota em paz ou vou chamar a polícia!.— sério que foi o melhor que pude dizer?
No mesmo instante os três homens, vieram na minha direção à passos lentos, me fazendo recuar um pouco.
Por que você não escutou sua voz interior?!
Fechei os olhos, já esperando minha morte, e que encontrassem meu cadáver no dia seguinte. Mas depois de dois minutos esperando, nada veio, e tudo que escutei foi o som de algo caindo.
Então aos poucos abrir meus olhos, e assim me deparei com os três caras inconsciente no chão.
— Não precisa chorar, eles vão dormir por um bom tempo.— Era a mesma voz feminina que tinha ouvido a pouco.
Tirei meus olhos dos três homens e me concentrei na garota que vinha em minha direção, segurando um pedaço de ferro nas mãos — isso explicava o desmaio dos caras. Ainda não conseguia a ver perfeitamente, mas a forma de seu corpo era totalmente visível.
Aos poucos começou a se aproximar, até que ficasse a poucos passos de mim e que eu pudesse finalmente a visualizar melhor.
Cabelo loiro, corpo esbelto e olhos verdes, ela era maravi...
— Obrigada por os distraí bebê chorão.— disse antes que pudesse concluir a minha análise.
— De... de.. de nada.— droga eu estava gaguejando?
Ela me chamou de quer?
— Você...— Ela ia dizer mais alguma coisa, mas então ouviu passos vindo da calçada.— Pode me emprestar sua boca?!
Eu tinha ouvido direto?
— Como?!
Ela nem me respondeu, apenas pegou no coladinho da minha camisa branca e me jogou conta a parede mais próxima, me beijando em seguida sem hesitar. Enquanto ela me beijava seus olhos estava na calçada, observando pelo menos mais 5 homens passando, sem olha para nós.
Mas enquanto ela fazia isso, eu olhava para seus olhos verdes, que tinham me hipnotizado desde de que tinha me jogado nessa parede, assim como o beijo.
Logo que ela percebeu que não tinha mais ninguém, se afastou de mim, se dirigindo para fora do beco, me deixando totalmente desorientado. Mas antes de ir definitivamente, parou e se virou para mim.
— Obrigada por sua ajudar.— ela sorriu, fechando seus olhos simultaneamente.— e aproposito. Meu nome é Angela.
E então ela se foi... sem que eu pudesse abrir a boca em resposta.
Ela parecia gentil, mas ao mesmo tempo assustadora...
Fiquei encarando a rua por um longo tempo, pensando de onde aquela mulher tinha surgido. Tão bonita e fascinante... E...
Eu ia continua naquela paralisia por mais algum tempo, se não tivesse ouvindo um barulho vindo do meu celular. O peguei novamente do meu bolso, me lembrando de Otávio.
— O que houve Victor?! Ouvir uns barulhos...
— Acabei de passar por um furacão...— disse ainda olhando em direção à rua.
Acho que ainda estava meio zonzo e perturbado com o que tinha acontecido.
— O quer?! Você por acaso bebeu?!
Revirei meus olhos castanhos.
— Esquece, apenas preste atenção para que possa vim me buscar...
— Victor!! Você por acaso sabe o que a Sofia vai fazer comigo se ela sonhar que eu estou em lugar como esse?!.— Otávio disse com espanto ao mandar parar o carro em frente a uma boate para homens.— Por que não chamou outra pessoa?! Por acaso quer me matar?
— Você sabe muito bem que os outros estão ocupados, e o Tom não sabe guardar segredo.
— Ou seja, eu tenho que ir para o sacrifício por causa da sua ideia maluca, que nem sei como surgiu?!
Otávio podia continuar reclamando até não ter mais voz, mas iríamos seguir com o que tinha em mente. Eu tinha certeza que essa seria minha salvação.
Eu tive muito tempo para pensar nisso e um bom incentivo para acha-lo fantástico.
Três dias atrás...
Após meus três encontros loucos e Otávio finalmente conseguir me encontrar na rua e em seguida minha moto, já de madrugada. Vim direto para meu apartamento, sem me importar em olhar que horas eram ou se o mundo estava acabando. Apenas me joguei na cama e dormir como uma pedra, certamente não acordaria antes das 11h.
Pelo menos foi isso que eu achei.
Quando dei por mim, fui acordado pela campainha trocando sem parar um segundo. Até tentei ignorar e colocar o travesseiro na cabeça para abafar o som, mas quando a campainha parou e as batidas fortes na porta começaram, parecia que estavam tentando colocar meu apartamento abaixo.
Que saco! Saco, saco.
Com meus olhos ainda sonolentos, sair da cama. Sem me preocupar com a roupa, já que ainda estava vestido com a de ontem.
Fui na porta e assim que a abrir, me arrependi no mesmo instante de ter levantado da cama e não ter fingido que não estava mais um pouco.
— Acabei de ficar sabendo o que aconteceu nos seus encontros ontem!
Dona Elisa passou por mim como um tornado, acabando com tudo a sua frente. Ela estava furiosa. Dessa vez aquelas três se superaram de todas as outras. Não eram nem 7h da manhã e minha mãe já sabia de tudo.
— Mãe desculpa, mas a culpa é daquelas loucas. Principalmente daquela ruiva maluca.— me defendi indo até a cozinha, pegando um suco de laranja, enquanto ela me olhava da sala furiosa.
— Não estou falando disso Victor! Você já tem 28 anos, custa ter pelo menos uma namorada, qualquer uma!
— Eu já disse que tenho uma namorada. Você que não aceita.
— Você fala isso a um mês, mas nunca vi essa garota. Por isso, enquanto você não tiver uma namorada na minha frente, seus encontros as cegas vão continuar.— E sem dizer mais nada ela saiu do meu apartamento, batendo a porta forte antes de sair.
Pois é, não adiantava enganar minha mãe com essa história. Não ia colar mais, se é que um dia colou. Ela não era idiota. Se precisasse ela mandaria todas as mulheres do mundo ter um encontro comigo. Mas desistir, não era algo que estivesse no vocabulário de dona Elisa. Mas o lado bom, era que depois dessa, não teria nenhum encontro hoje, um dia de folga.
Assim que terminei meu suco, fui direto para o banheiro e tomei um banho quente para relaxar. Logo depois coloquei minha roupa do trabalho, ou seja, uma roupa bem formal. Estava de folga dos encontros, mas a empresa ainda estava me esperando. Isso era muito chato, mas não tinha jeito.
Então peguei as chaves do apartamento e de minha moto, e seguir para o elevador. Mas antes que pudesse entrar nele, avistei uma mulher loira de costas para mim, muito parecida com a garota de ontem.
Será...?
Deixei o elevador de lado e fui em direção à mulher sem pensar duas vezes, e antes que ela pudesse desaparecer da minha vista, peguei em seu ombro a fazendo se virar em minha direção. E para meu desapontamento, não era ela.
— Me desculpe, pensei que fosse outra pessoa.— a moça me olhou assustada e seguiu seu caminho, sem dizer uma palavra.
Essa moça nem chegava perto de ser a de ontem. De costas é claro me era família, mas quando olhei para seu rosto. Era completamente diferente, mas não era apenas pelo fato de terem olhos de cores e feições diferentes. Não. Era algo que eu não conseguia explicar. E isso era muito problemático.
Acorda Victor!! Está pensando demais!
Dei um pequeno suspiro e seguir novamente para o elevador, onde entrei e esperei chegar na recepção do prédio. Meus funcionários com certeza ficariam muito surpresos de me verem antes das 10h na empresa, normalmente quem chega bem cedo é meu pai. Para minha sorte ele é bem flexível e bom comigo, e não fica se metendo em minha vida. Minha mãe poderia aprender com ele.
E em falar em se meter em minha vida, meu celular começou a trocar. E pela hora deve ser algo muito importante.
Tirei meu celular do bolso e era o Otávio:
— Espero que não esteja querendo cobrar o favor de ontem...
— Não é nada disso.— ele me interrompeu, parecendo um pouco nervoso.— Sabe a onde sua mãe está agora? E sobre o quer ela está falando?
Já vi tudo! As pessoas hoje não perderam tempo para me ferrar, já não bastava aquelas três, agora minha mãe está madrugando.
— Fala de uma vez Otávio!
— Tá bom, tá bom! Ela está na minha casa, falando com a minha mãe no escritório, acabei de passar por lá e ouvir algo muito interessante.— Ele fez uma pausa, se eu não tivesse enganado, ele ainda estava em casa andando pelos cômodos com medo que Sônia o visse.— Parece que ela vai selecionar cinco garotas para você escolher como sua namorada. Sem objeções, você vai ter que escolher ou ela escolhe.
A minha mãe só podia está de brincadeira comigo né?! Ela já estava passando dos limites, em nossa relação de mãe e filho.
Que coisa chata!
— Por quer isso agora?! Não pode ser fácil assim aceitar que estou bem sozinho?.— questionei saindo do elevador, raramente levantava a voz, mas essa já estava demais.
— Calma! Ainda nem te dei a razão para isso. Sua ex namorada, Lídia, vai chegar daqui a uma semana e sua mãe quer garantir que você não volte para ela.
Não pude esconder uma certa surpresa. E acho que meio que perdi um pouco o fôlego ao ouvir o nome dela. Lídia. Minha primeira e última namorada. Eu realmente era louco por ela, um apaixonado. Até que um dia ela resolveu voltar para o Canadá, a oito anos atrás, me deixando com um anel de noivado na mão. Ela seguiu sua carreira de modelo e eu continuei aqui, com minha vida. Talvez minha mãe tenha um pouco de razão em se preocupar, já que não sei mais o que sinto por ela.
A dona Elisa nunca gostou de Lídia, às duas nem se falavam e ambas faziam questão de demonstrar que não se davam nada bem. Eu acho que minha mãe até fez uma comemoração em seu interior quando soube que a gente tinha terminado, já que não podia dar uma grande festa, em compaixão ao meu estado deprimente.
— Então, o que você vai fazer agora?!.— fui tirado de meus pensamentos por Otávio.— Agora, ou você namora por bem ou por mal, e a segunda opção parece muito dolorosa.
Que saco!
Se eu não arrumasse uma namorada, minha mãe com certeza arrumaria, e tinha chance de ser uma daquelas loucas de ontem. Já que Lídia estava envolvida, então ela deveria está desesperada por uma namorada para mim.
Teria que pensar rápido, tinha cinco dias para apresentar uma namorada para minha mãe e para minha ex. Deve ter algo que eu pudesse fazer.
E tinha...
A moça do meu prédio, a que a poucos minutos tinha assustado, tinha acabado de passar por mim, de mãos dadas com um homem, com certeza seu namorado. Talvez essa tenha isso a ideia mais maluca que já tive, mas minhas opções estavam meio nulas.
— Eu acho que já consegui uma namorada...— disse ao loiro calmamente sem perceber.
Dia atual...
Sem prestar mais atenção nas queixas de Otávio, coloquei um cigarro na boca e desci do carro, sendo imediatamente seguindo pelo loiro. Fazia muito tempo que não vinha em uma boate, principalmente onde os clientes era apenas homens. A boate não ficava tão longe da rua onde estava a dois dias atrás, era um lugar muito grande, com luzes de néon para todos os lados e um estacionamento lotado. Com certeza um lugar muito frequentado. Na entrada havia duas filas, uma para entrar e a outra não tinha ideia para o que era, mas ambas davam a volta na esquina.
Como um cliente novo e presidente da empresa Clop, não tive nenhum problema de entrar. Por dentro o lugar era mais ou menos como tinha imaginado; luzes vermelhas, muitas bebidas, mesas ocupadas e um enorme palco onde várias garotas dançavam de langeri, assim como as garçonetes e as acompanhantes que estavam sentadas com alguns homens nas mesas. Não tinha feito nem cinco minutos que estava ali, e mais de três mulheres já haviam me parado, para ter uma noite inesquecível com elas. Apesar de ser uma ótima tentação, estava ali por outros motivos mais urgentes.
Fui até o balcão onde uma garota atendia todos os clientes, junto de Otávio, que andava de cabeça baixa, parecendo não querer olhar para nada na boate.
— O que os rapazes irão querer? Precisam de alguma companhia feminina? Temos...
— Eu não quero nada! Vim aqui forçado.— Otávio interrompeu a moça, sem olha-la nos olhos.— Meu amigo aqui que deseja algo.
Eu não queria o forçar a vim, mas não tinha mais ninguém para me acompanhar. Ou melhor, em quem pudesse confiar. Uma verdadeira chatice.
— Nós.— Franzir a frase olhando para Otávio, após tirar o cigarro da boca para deixar a fumaça sair.— Queremos um encontro particular com a sua dançarina Angela.
— Olha, vou logo avisando, se está aqui pela aposta, ela acabou de jogar uma garrafa de bebida em um cara a poucos minutos.— ela disse com tranquilidade ao beber um copo de uísque.
Engoli em seco.
Quando a conheci naquele dia imaginei que ela teria roubado algo ou pertencia alguma gangue da máfia. Mas pensando bem, os caras daquela noite pareciam seguranças, já que estavam de terno e pareciam muito profissionais. Com certeza ela tinha feito algo com o patrão deles, e não quero nem imaginar o que teria sido.
Olhei ao meu redor novamente e vir um homem alto, com um pano na cabeça, sentado em um lugar distante, com certeza a pessoa que levou a garrafada. E ele não parecia nada bem.
— Desculpa, mas você falou aposta? Que aposta está falando?.— disse me virando novamente para a atendente.
— Você não viu a fila enorme lá fora? Todos aqueles homens estão lá pela aposta de 100 mil. Quem consegui levar Angela Miller para a cama, ganha.
Nossa! 100 mil, era uma grana bem alta. Isso explicava a fila e o desespero de todos aqueles homens para entrar aqui dentro. Nunca tinha ouvido falar em uma aposta desse tipo, em nenhuma boate que tinha frequentado.
— Victor, parece que você vai ganhar 100 mil hoje.— o loiro cutucou meu ombro sorrindo.
Eu iria lhe dar um empurrão e tirar aquele sorriso malicioso do seu rosto, mas a atendente se manifestou mais rápido. Lhe dando minha total atenção.
— Eu não contaria com isso loirinho. Aquela garota está aqui a 1 ano e nenhum homem conseguiu nem trocar em seu dedinho. Todos que entram naquela sala lá encima ou saem sangrando ou inconsciente. Ela é a estrela desse lugar.
Conseguia muito bem imaginar isso. Essa boate deveria ganhar muito dinheiro por noite graças a essa aposta, só para ter 1h com Angela precisava se pagar 5 mil. Imagina quanto eles ganham por noite, levando em conta a fila enorme que tem lá fora? Ainda mais, quem não queria ganhar 100 mil e ainda uma noite com a garota mais difícil e desejada dessa boate?!
Só que parecia muito arriscado. “Sangrando ou inconsciente”, não parecia um slogan muito atrativo.
Victor desista dessa ideia, isso cheira a muito problema e você odeia problemas, lembra isso é muito problema...
— Não importa, vamos querer mesmo assim.— afirmei, ignorando totalmente minha voz interior.
— Como desejarem...
A moça pediu que a seguíssemos e assim fizemos. Otávio ainda um pouco hesitante, mas foi. Subimos uma escada, que levava até o terceiro andar do prédio — ganham tanto dinheiro, podiam colocar pelo menos um elevador! — e por fim paramos em um corredor que havia apenas uma porta, a moça iria abrir, mas então ouvimos um barulho alto e que me fez junto de Otávio recuar dois passos.
Será que alguém estava sendo assassinado?
De repente a porta é aberta, mas não pela moça. Mas sim, por um homem que trazia seu amigo apoiado em seu ombro. Ambos pareciam assustados e aterrorizados.
Talvez eu devesse desistir, acho que enfrentar minha mãe e Lídia não seja tão ruim assim....
— Podem entrar.— a moça segurou a porta para que pudéssemos passar, mas antes de sair.— Boa sorte! E se precisarem de cuidados médicos, termos uma maleta de primeiros socorros lá embaixo.
Então ela fechou a porta e encarei o loiro que parecia pálido, e que com certeza não estava diferente dele.
Que problemático...
Observei toda a sala, notando todo o ambiente luxuoso. Um palco no centro, com uma barra. Um bar, com uma estante com diferentes tipos de bebidas. Um globo no teto, que reflita todas as luzes coloridas do ambiente. Um sofá gigante que dava de frente ao palco e uma garrafa de uísque, bem ao lado. Realmente muito chamativo e confortável, um verdadeiro oásis para um homem solteiro ou não. Agora só estava faltando a estrela principal.
Me sentei no sofá, ainda com o cigarro na boca, abrindo e fechando a tapa do isqueiro, enquanto Otávio se mantinha em pé visivelmente incomodado com a demora e o lugar. Eu também já estava ficando impaciente e prestes a ir embora, quando o palco se iluminou com um holofote e então a silhueta de uma mulher apareceu e aos poucos que as luzes iam diminuindo, sua aparecia ia ficando mais visível. Seus cabelos loiros pesos em um rabos de cavalo, sua pele levemente bronzeada e aqueles olhos verdes... E principalmente aquela roupa...
Victor, acorda! Você veio aqui por outro motivo.
Balancei minha cabeça, me trazendo de volta a terra. A música já tinha começado a trocar e ela já estava se preparando para dançar.
— Espere um pouco, eu não quero que você dance, quero apenas conversar com você.— A música então parou, mas de qualquer forma ela começou a dançar.
— Me desculpa, mas eu não estou aqui para conversar, mas sim, para dançar senhor.— ela continuou, indo até a barra.
Assim não dava para me concentrar, principalmente ela usando aquela langeri preta de renda, que apertava bem sua cintura fina, ondulava seus seios fartos e deixava seu corpo mais atraente.
— Meu Deus!!!.— Otávio exclamou alto, ao ver Angela subindo na barra.— Eu vou ficar aqui no bar, olhando para a parede! Se a Sofia descobrir que vim aqui, quero pelo menos dizer que não vi nada que não devia.
E assim ele fez, colocou um copo de vodca e o bebeu de uma vez, deixando seus olhos azuis completamente direcionado a parede. Não entendia esse medo todo que sentia da Sofia, que parecia um anjo. Nunca a vir levantar a voz ou irritada, mas sempre calma e gentil, acho que ela nunca mataria nem uma mosca.
Isso parece realmente muito problemático...
Muito bem, respirei fundo e tentei olhar o menos possível para ela, ou não conseguiria abrir a boca.
— Muito bem, então apenas me ouça, meu nome é...
— Victor Clop, eu sei.— ela me interrompeu, fazendo sumo squat.— Muitos empresários falam seu nome por aqui, você deveria ficar de olho nas suas costas quando andar na rua.
Já estava perdendo totalmente o meu fôlego, fora que meu raciocínio estava muito fora do normal. Não dava para me concentrar vendo ela dançando daquele jeito e fazendo aqueles movimentos na barra.
Então, eu acho que meio que dei uma surtada.
— Quero que seja a minha namorada Angela!!
No mesmo instante que essas palavras saíram da minha boca, ouvir Otávio se engasgando com sua bebida e tossindo em seguida. Angela parou de dançar no mesmo segundo sem poder mover seu corpo em qualquer direção. Acho que a tinha paralisado com meu pedido.
Que saco! Isso tinha saindo muito diferente do meu plano original.
— O quer??!!
E agora era eu que estava paralisado.
— Deixa que eu explico.— Otávio disse ainda olhando para a parede e de costas para nós.— Ele quer que você o namore por 2 meses, que finjam ser um casal apaixonado para as pessoas, família e a ex dele. A mãe dele está querendo o ver comprometido, então para não ter que ir mais aos encontros a cegas, ele está te pedindo isso. Sabe, ele morre de medo da dona Elisa.
Ele falava como se também não morresse de medo de Sônia. Nós sabíamos muito bem que ele tremia só de saber que sua mãe iria visita-lo ou que ela sabia que ele tinha feito algo errado.
Angela tirou os olhos de Otávio e se virou para mim, dando uma risada atrás da outra. Ela estava rindo como uma louca.
— O que foi?.— perguntei já incomodado.
— Desculpa.— limpou uma lágrima que estava escorrendo de seus olhos, enquanto ria.— Isso realmente é muito engraçado e tentador, mas eu não estou afim de fazer isso, tenho certeza que você pode arrumar outra garota.
— Eu posso, na verdade tem uma fila de garotas querendo ser minha namorada e esse é o problema. Se eu pedir isso a elas, quando terminar os dois meses, não vão querer sair do meu pé.
— Isso é verdade, ele não está só se grabando.— o loiro disse ainda no bar.
Parecia que ele realmente tinha uma pavor de Sofia. Talvez até maior do que sentia por Sônia. Vai entender.
— Eu entendi, mas eu não tenho nenhum motivo para aceitar isso.
— Claro que tem, eu te ajudei a três dias atrás naquele beco, lembra?.— assim que falei isso, ela se aproximou um pouco me olhando de baixo para cima.
Sério que ela não estava me reconhecendo?! Tinha passado todos esses dias sonhando com esses olhos verdes. O que era um saco! Muito problemático.
— Claro, o bebê chorão.— Agora era Otávio que estava rindo, ótimo.— Que eu me lembre foi eu que derrubou aqueles caras, você apenas me emprestou sua boca. E tenho certeza que você gostou do beijo.
Eu acho que meio que corei com isso. Porque eu realmente tinha adorado o beijo, mas ela nunca teria a confirmação disso, apenas uma suposição.
— Mas eu te ajudei e fui lá para te socorrer.
Tenho a impressão que ela não precisava de ninguém para socorre-la, levando em conta o que a atendente havia dito. Fora a lembrança daqueles gigantes inconscientes no chão do beco.
— Como for! Eu não estou interessada nisso, já tenho meus próprios problemas para resolver.— Ela desceu do palco e com certeza já estava disposta a ir embora, mas eu não tinha terminado.
— E se eu pagar sua dívida com essa boate?
— O que você quer dizer com isso?!.— parou de imediato. Parece que tinha atingindo o ponto certo.
— Antes de vim aqui, conversei com o prioritário e fiquei sabendo que você está aqui por causa de uma dívida de três anos. Se não fosse essa dívida, você não estaria aqui, certo?.— estava usando meu tom profissional e parecia está dando certo, já que ela tinha ficado calada.— Eu sei muito bem que você não gosta de dançar aqui e muito menos de ser um objeto de aposta. Eu pago sua dívida e você namora comigo por dois meses, o que me diz problemática?!
Eu tinha feito uma pequena investigação sobre ela. Ainda mais quando eu tive que encontra-la, então com um nome que ela já tinha me dado e a ajuda das câmeras de segurança da rua naquela noite. Foi simples achar o local do seu trabalho e em seguida só tive uma pequena conversa com o proprietário da boate.
Ela continuou parada, estava claramente pensando. Essa era minha única carta na mesa e precisava funcionar, principalmente quando já tinha pagado a dívida dela e um dinheiro a mais, já que o prioritário poderia ganhar muito mais se ela continuasse a dançar aqui. Essa minha jogada tinha que ser certeira, sem erros. Eu podia está mostrando uma postura calma e controlada, mas também estava soando frio. Se ela recusasse minha proposta, teria perdido a viagem e muito dinheiro.
Ela se virou para mim, com uma expressão séria e aos poucos veio em minha direção, me fazendo recuar alguns passos — Droga! Por que estava tão nervoso?!. A loira aproximou seu rosto do meu, me fazendo conseguia sentir sua respiração bastando contra meu rosto. E antes que pudesse piscar o olho, ela pegou meu cigarro da boca e jogou em algum lugar da sala.
— Você realmente é muito inteligente Clop. Apenas dois meses certo?!.— Eu assentir, sentindo minha respiração parar.— Tudo bem, mas eu tenho uma condição para aceitar isso?
— Qual?
— Que você nem pense em se apaixonar por mim. Como você disse, sou problemática.
Logo minha respiração retornou ao normal e meu corpo voltou a me obedecer. Acho que finalmente algo estava indo como eu tinha planejado. Aquelas palavras estavam me garantindo que depois desses dois meses , Angela não tentaria me chantagear ou ficar correndo atrás de mim como as outras.
Perfeito, ela não queria compromisso e muito menos eu.
— Pode deixar. Isso não vai acontecer.
Eu fiquei encarando seus olhos e elas os meus. Então vi sua mão levantar em minha direção e eu fiz o mesmo, firmando nosso acordo, com um aperto de mão.
— Fico muito feliz por vocês, novo casal. Mas será que você pode colocar alguma roupa?.— Otávio pareceu do nada, atrás da Angela.— E podemos ir embora? Tenho 6 ligações pedidas da Sofia e não posso atender aqui dentro.
Ele mostrou a tela do celular para a gente apavorado. E Angela começou a sorri no mesmo instante, ela parecia entender o desespero do loiro, então foi até um canto da sala, onde tinha um roupão e o colocou.
— Não se preocupe loirinho, vou trocar de roupa e nos encontramos lá fora.— ela disse se dirigindo a uma porta, com certeza seu camarim.
— Mas...
— Nada de “mas” Victor! Conseguiu sua namorada, agora vamos embora, antes que eu perca minha noiva.— ele me puxou pelo braço, me lavando para fora da sala.
Que saco!
Isso era mais uma prova que relacionamentos não são para mim. Nem consigo me imaginar sentindo tanto medo e desespero por causa de uma mulher, se um dia fosse namorar novamente de verdade, teria que ser com alguém calma e tranquila. Eu não gosto de problemas e vejo que Otávio estava em um, neste momento.
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