...Seria o suficiente? Será que ele conseguiria se livrar desse sentimento pela mulher? A preocupação irracional com Marise, fazia com que ele não pensasse em nenhuma outra mulher....
...—...
Os seus pés martelam a esteira de maneira ritmada e confortável. O som de
“Believer”, do Imagine Dragons, não é sua música preferida, mas é a música que acredita que ela escute. Engraçado e assim que quer esquecê-la?!: Ri ele.
Seu iPhone é abafado pelo sangue latejando nos seus ouvidos. O pulsar do seu coração o lembra de que está vivo. Não que precisa correr até não sentir mais suas pernas, porém ultimamente ele não se sentia bem, e nada melhor que fazer exercícios para dar conta disso.
Seu ritmo aumenta, a respiração começa a falhar e sua marcha ganha
velocidade. O suor escorre pelo seu peito nu enquanto olha para o relógio do
outro lado da academia e vê o ponteiro maior se mover lentamente no
mostrador. Mais dois minutos. Mantém o ritmo por mais dois minutos.
Quando, no entanto, o seu treino termina e a velocidade da máquina
começa a diminuir, suas pernas não acompanham, seu raciocínio, seu coração se acelera com a lembrança da mulher. Não querendo pensar mais nela ele decide continuar com os exercícios até desmaiar.
Aperta o botão para
aumentar o ritmo outra vez, seu ego relutante em não o deixar parar agora. Mais um quilômetro. Aumenta o volume e corre mais um pouco, inspirando
compassadamente pelo nariz e enxugando o suor que desce pela sua testa.
Olha para a tela da esteira e vê a distância percorrida: vinte e quatro
quilômetros. Pronto. Acredita que já foi o bastante. Para quem quase não exercita.
Soca o botão com o punho cerrado e deixa a máquina o conduzir de volta
a uma marcha lenta, enquanto arranca os fones dos ouvidos e seca o rosto úmido
com a camiseta que estava pendurada ao lado.
Seus pés caminham até a esteira parar e se segurar nas barras laterais,
deixando a cabeça pender enquanto recupera a respiração.
O sorriso triunfante dele logo se desfaz, aquele que mostra bem que sua missão não foi bem sucedida, o que dá vontade de arrancá-lo no peito a tapa.
Ele solta uma gargalhada baixinha e vai ao banheiro jogar uma água no corpo, e logo enrola uma toalha no seu quadril.
Seu telefone toca ele rejeita naquele momento, depois um sinal de notificação de mensagem e sua curiosidade aguça.
" Ainda não fez as pazes com a ideia, não é"
Ele enxuga seu rosto encharcado com a água que escorre dos cabelos molhados antes de atirar a toalha de volta ao cesto.
Ele resolve responder a mensagem.
" Não sei do que está falando!"
E ignora o celular no restante do dia precisa descansar para mais um plantão mais tarde.
Uma semana antes:
Ele procura através das pilhas e pilhas de parafernálias que estão espalhadas por todo o chão do seu quarto. Alguns resultados que levou para casa precisava estudar. Acabou dormindo mais do que gostaria.
— Eu vou chegar atrasado! — Em uma sexta-feira, depois de ser pontual durante toda a semana, ele iria chegar atrasado.
Ainda mais que ele morava mais lá no hospital do que em casa.
— Kate! — Ele grita freneticamente. Porém se lembrou que dispensou a mulher. Por se intrometer demais na vida dele.
— Onde estão aqueles exames? — Ele corre para a escada depois de trancar seu apartamento evitando o elevador. Iria procurar no hospital, com certeza estava por lá.
Ele se joga por cima do corrimão, logo que vê a porta de saída.
No hospital ao chegar logo na entrada ele ouve um som familiar. O som de ecos ecoando por todas as salas, o hospital estava lotado. Iria ser um plantão corrido.
Beatriz logo o vê entrando, ela olha para ele com uma expressão de cansaço. Mesmo assim não deixa de sorrir. Porém ele não retribui, na verdade ele nunca sorri. Ele simplesmente abana a mão indo se trocar.
'E se um dia eu o pegar sorrindo é uma expressão nova que verei' pensa Beatriz.
Ela revira os olhos, mas não de um jeito desdém, um jeito que nunca verá um sorriso naquele rostinho bonito daquele médico. E volta para a enfermeira com sua mistura de remédios.
O doutor pega seu cinto branco, coloca em volta da calça também branca, abotoa a calça e prende o cinto, pega o jaleco e joga por cima de sua roupa o ajeitando por último pega sua pasta com o laptop. Ele caminha determinado até sua sala.
Beatriz logo entra em sua sala com alguns medicamentos colocando em cima do balcão perto de uma maca.
— Você precisa arrumar mais essa sala. Está uma bagunça do ca##lho. — reclama ele.
Lamenta.
— E você arrumar uma namorada para melhorar esse mau humor. — diz ela, também provocativa. Não tinha medo dele. Aliás, já estava acostumada com seu mau humor. E tinha idade suficiente para saber que um jovem mau humorado assim era falta de um amor.
Sim, as habilidades de organização pessoal do doutor ali eram bastante chocantes.
Porém graças as enfermeiras do hospital que agiam como uma designer de interiores, que passa o dia
todo coordenando e organizando a sala dele quando o plantão não tá corrido. Sua sala era organizada.
Seus nervos estão em pedaços. Não sabia bem o porquê. Imagina que poderia ser o excesso de trabalho, horas e horas a fio naquele hospital, mas apesar do mau humor, ama sua profissão e faz com gosto sabe que está fazendo a coisa certa.
— Mas droga, eu estou com uma massa de nervos. Não seria nada mal dormir direito.
— Falando sozinho?! — perguntou um paciente.
— Vamos ver esse braço! — disse ele para disfarçar.
O resto dos primeiros minutos, silencioso, momento de reflexão do dia, até agora e,
provavelmente, o último. Ele estava esperando por este pequeno fragmento de tempo, implorando por ele, em meio ao caos ao seu redor.
Ele precisava desse momento, só consigo mesmo, absorvendo o enorme salto que deveria estar tomando, tentando reunir a si mesmo. O amor precisava chegar diante de seus olhos, porém ele não quer.
Ele sabe que esses momentos, provavelmente, serão preciosos, a partir deste dia em questão. O dia em que ele a ver tudo vai mudar.
— Você foi mais rápido ontem! — avisou a Beatriz. — precisa descansar mais doutor.
— A doença não descansa e principalmente a tragédia. — Beatriz deu de ombros.
Mas tarde quando estava tudo mais calmo, ele resolveu ir ao restaurante do hospital comer alguma coisa.
E quando ia se sentando.
— Teimoso filho da… — Bianca sua irmã chega correndo o abraçando.
— Olha a boca Bianca! — diz, mas sem retribuir o abraço.
— Vá se f##er — pragueja, porém logo ri.
— Você deveria tar descansado
bufando e virando o rosto para encarar seu irmão depois de um abraço que deu nele.
— Você prometeu a mim que iria na nossa despedida.
O Doutor continuou comendo indiferente olhando sua irmã.
— Não vai dizer que esqueceu que hoje a noite vamos na boate?! Poxa Lucas meu último dia na cidade. Depois para me ver só indo até frança.
— Não esqueci Bianca, eu vou. Mesmo odiando boate eu vou. — falou sério.
— Você veio aqui no hospital só para me lembrar? — perguntou ele. Ela pegou um pouco o refrigerante de coca dele e deu um gole antes de responder.
— Também, mas também para te ver. Vou sentir saudades. Você sabe que coca não e saudável né!? Anda se alimentando direito. Mamãe reclamou que você não aparece lá ah dias.
— Ela sabe que estou trabalhando. — Bianca revira os olhos.
— Ok senhor trabalho, agora já vou. Não esquece marquei com Marise as dez lá. — ela levantou da cadeira deu mais um gole na coca e deu um beijo no rosto do irmão.
— Você ouviu o doutor misterioso hoje vai para a balada. — disse uma mulher para a recepcionista.
— E, mas que adianta, ele não tem olhos para gente. — fez cara triste. E a outra suspirou, também se lamentando. Pois o doutor ali quando falava com elas era somente um cumprimento por educação.
Seus amigos mais antigos, amigos não, colegas, Lucas nunca os considerou amigos, pois ele era muito reservado, sistemático e misterioso. Bem eles viviam o convidando para as baladinhas as festas da faculdade, porém Lucas sempre rejeitava todas, e por fim esses colegas acabaram desistindo de convidá-lo mais vezes. Lucas quando saia era para um lugar mais reservado, calmo onde poderia escolher uma parceria por noite, com calma somente observando como um predador.
Lucas Lima Mendes, estava parado silenciosamente sentado em sua cadeira em frente a sua mesa, na penumbra das sombras de seu consultório, iluminado somente por um pequeno abajur em cima da mesa, que iluminava só suas mãos segurando os laudos de um paciente com pancreatite, dê logo coçou seus olhos com os dois dedos, o indicador e o dedão, a canseira chegou novamente. Há dois dias não dormia direito fazendo plantão, já que o médico que era seu parceiro ficou doente. Lucas riu com a possibilidade de um médico ficar doente, jogou os papéis na mesa, afastou a cadeira e se virou para a janela, levantou, abriu a janela para que um pouco da ventilação de fora entrasse, não gostava de ar condicionado, apoiou seus ombros na batente da grande janela, virado para a rua o corpo inteiro estava tenso e os olhos castanhos cansados, forçava a vista, varrendo a rua solitária pelo horário. Levantou o braço e a manga de seu jaleco, verificou as horas 3:20 da madrugada . Nenhuma emergência, mais de meia hora, resolveu descansar um pouco, na área mais tranquila do hospital. Fechou a janela pegou o seu celular em cima da mesa, o colocou no bolso de sua calça e pegou as chaves, abriu a porta e quando foi trancar.
- Lucas, homem! Ainda! - disse uma mulher, loira, magra e alta. Ela sabia que ele estava trabalhando, naquela noite, nas duas noites na verdade, e durante o dia de hoje, ele era muito bom no que fazia e sabia que amava seu trabalho, porém ela sabia que ele precisava descansar. Tinha mandado o ir descansar às quatro horas, atrás.
- Não te disse que dava conta de tudo sozinha. - ela sorriu, porém ele não retribui o sorriso da chefe.
Meire Cesar Alencar era diretora do hospital Casulo. Ele imaginava bem como ela dava conta, dando em cima dos pacientes ou mesmo seus colegas enfermeiros, tanto que ela nem soube do Senhor que chegou com a pancreatite inflamada. Sabia bem como como ela conseguiu esse cargo.
Lucas franziu a testa:
- Se me der licença, tenho que descansar um pouco! Irei embora como combinado, só às 8 horas da manhã. - ele coçou seu nariz e saiu caminhando, ela cruzou os braços e o observava caminhar, retirou um de seus braços e o levou um dedo da boca o mordendo a ponta, balançou o pé direito.
Lucas entrou na sala, respirou fundo, soltou o ar lentamente, deitou na maca retirou seu sapatos com os próprios pés, tirou o celular do bolso e verificou muitas mensagens, de sua mãe e irmã, ele não precisava ler sermões e outra de mulheres perguntando quando ele estaria livre ou quando que poderia ter outro encontro.
Tentando fazer com que o corpo relaxasse, abandonou o celular no pequeno criado-mudo ao lado da maca. Mas não conseguia dormir, ao fato de tomar vários copos com cafés e energéticos e quando se viu, estava novamente na janela espiando o céu ao longe, os pequenos raios de sol nascentes no horizonte dando sinal de seu glamour.
A tranquilidade da cidade às vezes o assustava. Lucas sabia que quando estava calma demais o mau estava matutando para o próximo passo, ele não estava errado, logo de longe, escutou sirenes que a cada segundo o som era mais forte, até avistar se aproximando mais do que depressa, ele fechou a janela e foi para área de emergência.
Seu consultório ficava no quinquagésimo andar, ele pegou o elevador e desceu a recepção, onde os paramédicos já chegavam com corpo todo cheio de sangue, o transferiram para a maca.
- O que houve?- Lucas perguntou já ajudando a empurrar a maca.
- Acidente de carro pelo visto alcoolizado a polícia logo virá buscar o laudo.- Lucas assentiu .
Minutos depois de fazer o socorro e dar os remédios devidos, agora na sala de raio-x, verificou que pela sorte o homem teve somente duas costelas quebradas e o ombro deslocado fora os arranhões.
- Já retiraram o sangue para os exames?- Lucas perguntou assim que uma enfermeira entrou, uma mulher linda nos seus 48 anos negra, na estatura média.
Ela se virou para ele:
- Já sim, doutor!- diz enfaixando o dorso do homem dormindo, depois de uns tranquilizantes.
- Ótimo!- Lucas olhou o relógio no topo da parede, já eram quase 6 horas da manhã a porta foi aberta.
- Lucas como é teimoso! - Meire diz entrando.
- Poisé Meire, e onde estava a senhora que me liberou, mas não veio atender o paciente?!?- Lucas disse irritado, pensando que provavelmente estaria pegando um homem por aí.
- Ninguém me comunicou. - Disse com um sorriso presunçoso.- Fiquei sabendo somente agora. Vim te avisar que já arranjamos um médico para substituir o cargo do Dr Valadares.
Lucas agradeceu aos céus em silêncio, adorava trabalhar, cuidar dos pacientes, mas uma coisa era não ter horário para descansar.
- Então eu já vou indo, e se vemos amanhã. - Diz colocando as mãos no bolso do jaleco.
- Não, senhor, nada disso, pegue folga. Suzana ficará encarregada. E além disso o novo médico chegará a qualquer momento. Está tudo sobre controle agora.- Ela mexia suas mãos olhando suas unhas esmaltadas de cintilante. Balançando o pé esquerdo.
Ele assentiu com um leve balançar de cabeça, retirou a mão do bolso, pegou seu estetoscópio, colocou em seu pescoço e se retirou.
- Cintia você poderia me enviar por e-mail os resultados do exame quando sair...- disse parando na batente da porta, mas Meire o interrompeu.
- Nada disso! Quando digo folga, senhor Lucas, é folga .- Ela repousou a mão no ombro de Cintia. - Não o mande nada. - ela ri e assenti .
- Quero te ver só na quinta! - ele se retirou, foi ao seu consultório, guardou os seus equipamento médico na maleta, pegou as chaves e o celular verificando, ligação perdida de sua mãe. Resolveu ligar:
- Lucas, por Deus, meu filho! Vai morrer trabalhando.- Antes dele mesmo falar um oi, sua mãe já fala eufórica do outro lado da linha. Lucas somente ri.
- Mãe sou médico! Esse é meu trabalho.- destravou o carro e entrou no Onix plus, jogou sua maleta no banco do passageiro.
- E meu filho, mas se continuar desse jeito, não vai ter disposição de ajudar mais ninguém.- ele conectou o celular com o aparelho do carro.
- Mas mãe a senhora, não ligou somente por isso ligou?!- desconfiado, perguntou acionando o botão de partida e com a mão no volante, saindo do estacionamento, olhando os retrovisores, com ouvidos atentos em sua mãe.
- Bem, filho me preocupo por ti, mas realmente não é só isso, seu pai marcou uma reunião para hoje à noite, na casa dele com você e sua irmã.- Lucas franziu o seu rosto, a notícia o pegou desprevenido, havia anos que não falava com seu pai, depois da briga por ele não querer se envolver nos negócios da família, foi a gota d'água para ele, nisso ele aproveitou e jogou umas verdades na cara do pai.
Um homem presunçoso , frio e calculista, abandonou a família quando o Lucas tivera 12 anos e sua irmã Bianca 10. Sua mãe ficou arrasada. Foram anos de terapia, todo cuidado que ela teve, foi graça os filhos, que tinham um amor eterno por ela.
A paixão de ser médico, surgiu dos cuidados, a querer ajudar as pessoas não só fisicamente, mas emocionante também, para tratar o que um acidente pode provocar, seus traumas.
Marise Almeida Silva estava trabalhando naquela noite atendendo as mesas, seria sua última mesa, servida como garçonete.
Olhava atenta o relógio da parede que marcava a meia-noite e 21, seu plantão já havia acabado, porém ela não podia fechar até que o último cliente se retirasse, ansiosa esperando que o casal, pagasse logo a comanda que acabara de entregar a eles, era o último dia dela ali, seus sonhos a partir de amanhã iriam tornar realidade. Depois de muita tentativa ela conseguiu uma bolsa do curso de culinária gastronomia no melhor restaurante gastronômico de toda a região da França em Monte Ferrante na cidade de Clermont Ferrand, uma cidade pequena, porém muito rica nas sua história gastronômica, onde grandes chefes deram início às suas carreiras.
Nunca foi privada de seus sonhos, apoiada pelo pai José Augusto, que queria somente a felicidade da filha. Perdeu a esposa três meses depois que a filha nasceu, seu mundo desmoronou, mas graças a filha que precisava dele, não deixou que um buraco do chão o puxasse para o abismo sem fim, seguiu firme em criar sua filha sozinho, a dificuldade financeira o fez privar de muitas regalias, contudo o amor e a dedicação nunca faltaram, sua filha sempre esteve em primeiro lugar e logo que descobriu que o sonho dela era ser uma chefe de cozinha renomeada, depois abrir o seu próprio restaurante,o velho José Augusto com 58 anos, loiro, com os olhos castanhos claros, não deixou que seus fios brancos o impedisse de ajudar a filha.
Marise sorriu ao ver o casal se levantando abraçados e logo correu para a porta, e trancou observando se o casal já havia entrado no carro, foi a mesa retirou a grana, fechou o caixa, voltou a mesa e levou as louças para a cozinha, onde o cozinheiro e auxiliar já terminava o serviço.
—Hoje terminamos mais cedo. Se já quiser ir. —O cozinheiro e dono se virou para Marise.
Marise sorriu.
—Você tem muito para comemorar — o cozinheiro sorriu para ela, que já retirava o avental pela cabeça.
— Eu estou esperando Bianca. Ela ficou de me buscar para me levar para casa.— diz caminhando até o seu armário.
— Hoje a noite promete, tem certeza que não quer ir com agente. — avisou Marise ao se virar para auxiliar de cozinha, lavando as mãos.
—Não sinto muito! Eu ainda tenho que estudar muito para uma prova, que nem sei se estou preparada. —largou as louças já guardadas e foi abraçar Marise. — Já vou te parabenizar de novo, e te desejar que essa nova jornada seja sempre como sempre desejou. —Marise retribuiu o abraço.
Ela sabe bem como foi difícil conseguir essa bolsa e juntar o dinheiro para alugar um bom apartamento e comprar as passagens, sem a ajuda do pai, ela nem se que saberia se conseguiria, só de pensar em deixar seu velho sozinho seu coração doía, mas ela sabia que quando se tem sonhos tem o sacrifício.
Logo que Ana, a auxiliar se afastou, Roberto o cozinheiro a abraçou também e desejou boa sorte, logo a porta do fundo foi aberta e Bianca entrou, não parecia muito animada, enquanto falava com Marise, mas cedo antes da reunião de seu pai. Algo ruim deve ter acontecido, Marise sentia pela amiga.
—Está pronta para irmos? —todos olharam para Bianca que estava desanimada, não era o feitio dela já que ela sempre chegava animada e contagiando alegria.
—Olá, para você também! —Roberto cumprimentou, chamando atenção de Bianca, que deu uma risada forçada.
—A reunião foi tão ruim assim? —Marise pegou sua bolsa a colocando no ombro e foi abraçar a amiga.
Bianca não quis responder na frente dos dois e direcionou a saída até onde seu carro estava e dando boa noite aos dois que ficaram para trás se entre olhando.
—Você não vai me dizer? —Marise soltou do braço de Bianca, indo em direção ao lado do passageiro, porém parou e ficou observando Bianca.
—E que não queria estragar a noite. —Bianca destravou o carro, abriu a porta e Marise a imitou logo depois entrando.
—Bianca pela sua cara, sei que não está bem. Você precisa me contar, coloca para fora. —Marise se sentou virando o corpo na direção de Bianca.
Bianca suspirou fundo:
—Meu pai cortou minhas verbas, na verdade cortou até os meus cartões de crédito. E para piorar cancelou meu voo, e quer que eu assuma a empresa.
Marise arregalou os olhos com surpresa. Como o pai dela poderia fazer isso esse é o sonho de Bianca também desde pequena e foi assim que as duas se conheceram no cursinho de fast-food que foi lançado por um restaurante para colocar mais pessoas no mercado em suas novas filiais, queriam abrir em outras cidades.
Bianca já teria conseguido a vaga, mas não foi, por esperar Marise, ela ofereceu até dinheiro emprestado, para que as duas fossem juntas, e assim que as duas abriram o restaurante de sociedade, Marise pagaria aos poucos, mas ela não aceitou. E agora agora ela iria sem amiga, o choque foi grande.
—Seu pai não pode fazer isso!—diz, ajeitando a bolsa no colo.
—Não só pode, como fez. —Bianca se virou para ela.—Meu irmão Lucas tentou intervir em nossa briga, porém meu pai não deu o braço a torcer.
—Então não temos o que comemorar! —Marise entrou em desespero porém soube disfarçar, Bianca já se mostrava nervosismo demais para que Marise surtar se.
—Como não!?? —Bianca segurou a mão da amiga.
—Bi não peça para que eu vá sem você, você já poderia estar lá há dois anos, se não fosse por mim.
—Marise eu sei como é importante esse sonho para ti, você não pode deixar de ir é uma oportunidade única, uma bolsa. Se você negar, não terá segunda chance.
—Mas….
—Nada, amiga meu irmão prometeu me ajudar. Vou confiar nele, logo que você perceber estarei chegando lá, para irmos as baladinhas. —Bianca deu um sorriso sincero que foi contagiado, que Marise acabou sorrindo e a abraçando.
—Você me promete? —E estendeu o dedinho mindinho, como elas tinham costume de fazer.
—Palavra de escoteiro. —Bianca fez o mesmo.
—Que escoteira Bianca! — as duas caíram na gargalhada.
—Vamos seu pai já deve estar preocupado. —Bianca falou melancolia, levando as chaves e as girando, colocando as mãos no volante, não era inveja mas ela gostaria de ter tido um pai como o de Marise.
—Vamos, mas sem balada! Não quero mais ir. —Bianca a olhou rápido e depois voltou a olhar para a rua.
—Isso não, você não vai deixar de ter a despedida. E sua última noite. —Marise mexeu a boca entortando.
—Não vou ter motivo de comemoração.
—Como não? Por mim vai! Nossa última noite juntas. Talvez até meu irmão vá, não acredito muito, porém. —Marise corou de se lembrar de Lucas, não o via muitas vezes, contudo quando o via na casa de Bianca, estava saindo, ou concentrado em alguma coisa, em seu celular ou notebook, mal trocavam comprimento, porém Marise sentia algo por ele, que nem mesmo Bianca sabia.
—Mas não vamos ficar muito tempo, OK! —Pronunciou passando a mão na cabeça ao sentir uma fincada.
—Ah Marise, você só vai sair às 7 horas da noite. —Bianca viu o rosto sério de Marise e assentiu então. —Tudo bem.
Uma hora mais tarde, depois de Marise tomar um banho, enquanto Bianca provava uma porção de batata gratinada, que José Augusto preparou, elas se despediram dele, e as duas foram à boate Crystal Delírio.
Ao entrarem, elas foram surpreendidas pela música alta que tocava 50 cent com Eminem_You Don't Know_ com uma batida ao vivo do DJ e as luzes piscantes, as duas gritaram e foram direto para pista e começaram a pular e dançar com movimentos aleatórios. Meia hora depois as duas ofegantes diminuíram o ritmo.
—Vou buscar uns drinks para nós. O que vai querer? —Bianca gritava no ouvido de Marise para que entendesse.
—Não precisa, eu pago, vou contigo. —Marise já procurava a localização do bar.
—Larga de ser chata, fica aí eu já volto. —Bianca se afasta.
— Água então, quero água com gás, não vou beber nada com álcool. —Ela gritou para que Bianca ouvisse.
Marise sentia uma leve dor de cabeça imaginou que se bebendo álcool, só pioraria, não comentou com ninguém porque não havia motivo.
Bianca se virou de costas e saiu pela multidão até o balcão de bebidas.
No lado de fora, Lucas descia do carro, guardou o celular e a chave controle no bolso da frente da sua calça, ajeitou a gola de sua camisa, caminhando escutou o som alto, ele suspirou não gostava de ir em boates, porém prometeu a irmã depois da briga que tiveram com pai, mais justo deixar a irmã feliz.
Ainda não acreditava que seu pai era tão frio e sem coração, ele tinha conhecimento de que seu pai não se importava com a família,e o pai se mostrou pior do que imaginava e a raiva consumia e aquela barulheira só aumentava sua irritação. Ele conseguiu dormir um pouco à tarde, porém ainda não havia recuperado totalmente o sono depois de dois plantões direto. Já na pista, procurava por sua irmã ,sem nem mesmo pedir licença, pensou que seria perda de tempo, já que ninguém o ouviria mesmo. Quando trombou com alguém e minutos depois pisou no pé.
—Sinto muito por isso! Eu… —Sua voz vacilou quando ele se virou e viu o rosto dela, olhos tão azuis não podiam ser naturais.
—Tudo bem! — Ela dizia colocando uma mecha de Deus cabelos atrás da orelha.
—Ah você... Lucas! —Bianca correu e abraçou o irmão entregando a água para Marise, ficou feliz por ele ter aceitado o convite. —Vejo que já encontrou com a felizarda que vai para a França. Você se lembra dela né Marise.?! —Lucas ficou admirado com a beleza da loira a sua frente e quando sua irmã disse " Marise " se lembrou da amiga da irmã, porém nunca tinha reparado nela. Ou melhor quando ele a buscou na memória, Marise ainda era adolescente. E agora ali em sua frente uma linda mulher.
Marise se corou e somente estendeu as mãos, nervosa, nem a fez sentir a pisada nos pés.
—Me lembro sim! —Lucas retribuiu o aperto de mão. —Sim, me lembro sim! —Lucas mentiu, bem na verdade era meia mentira ele lembrava dela, afinal a irmã vivia falando de Marise. Ele só não se lembrava quando foi que ela cresceu . Da sua linda nova feição.
Bianca pegou pelo braço do irmão e o outro de Marise e os direcionou, gritando:
—Vamos para a área vip! Aqui está muito lotado. —Caminharam sendo arrastados por ela.
Ao iniciar a subida na escada, seu irmão ria da atitude da irmã, e Marise não sabia como agir e se sentia tola, contudo não tinha como controlar suas emoções. Fazia tanto tempo que não o via. Que achou que poderia ter perdido seus sentimentos. Mas estava enganada, já que seu coração batia no peito sem intervalos.
Bianca desgrudou dos braços de ambos e subiu a escada, dançando, Lucas ofereceu que Marise fosse na frente a mesma sorriu e subiu e ao chegar lá sentiu a dor no pé e resolveu sentar.
Lucas percebeu que a amiga da irmã se sentou e foi fazer-lhe companhia. Marise passou a mão no pé por cima do scarpin mesmo, Lucas percebeu e sentiu-se mal.
—Desculpa por isso! —Marise o olhou e sorriu de lado.
—Tudo bem, acidentes acontecem. —Continuou com o sorriso e se alegrou por conseguir falar com ele sem gaguejar ou falar alguma idiotice.
Uma mulher se aproximou de Lucas puxando conversa com ele, e o mesmo dialogava com a mulher por educação, afinal era uma conhecida. Marise ficou sem graça e nesse momento sua dor de cabeça aumentou um pouquinho, resolveu ir chamar Bianca para ir embora, ela odiava estragar o momento de felicidade da amiga, porém a dor estava incomodando.
—Bi se não importa eu gostaria de ir! —Marise notou que a amiga nem a escutou devido estar trocando olhar com o rapaz que acabara de subir as escadas, então decidiu não interromper, chegando em casa mandaria notícias através de mensagens.
Ela se virou para Lucas, porém notou que o mesmo estava ocupado conversando, o ciúmes que sentiu a fez sentir mais péssima ainda, então foi embora sem se despedir. Pediria um carro pelo aplicativo descendo a escada, já com celular em mãos, quando já ia digitar, Lucas se levantou, se despediu da moça e a alcançou, colocando a mão em seu ombro.
—Já, vai? —Marise se virou para trás e não evitou sorrir.
— E que eu estou cansada, e amanhã tenho … quer dizer, ainda hoje tenho que preparar muita coisa antes de ir embora. —Ele se aproximou para escutá-la, deixando-a envergonhada.
—Venha, vamos nos despedir de Bianca. Eu te levo. —Marise queria gritar de felicidade, suas estranhas dançaram em seu interior, seu coração palpitava tamanha felicidade, a alegria foi tanta que por um momento esqueceu da sua dor de cabeça e do pé.
Bianca já estava aos beijos com rapaz, Lucas não se culpou em nenhum momento de interromper;
—Com licença! —Lucas fala afastando o moço dos braços de Bianca. Que o recebe com cara feia, porém não disse nada.
—Estamos indo, vou levar Marise. Você não quer ir? —Bianca ficou feliz por Lucas oferecer a levar Marise, já que ela tinha planos para a noite.
—Não mano, pode ir tranquilo! —Ela se afastou do irmão e deu abraço na amiga. —Estarei em sua casa ao meio-dia. Peça para o tio fazer o bife à parmegiana que tanto adoro. —Marise sorriu, afastando de Bianca, seguindo Lucas, que olha para trás e Bianca já estava aos beijos novamente com o rapaz.
Lucas ao se aproximar, quase colocando suas mãos nos ombros dela, para levar até onde seu carro estava, sentia seu calor com a intensidade, mas ele não a tocou, e Marise tentou se concentrar na tarefa de caminhar.
Ele pegou o controle em seu bolso e destrancou o carro e abrindo a porta para que Marise entrasse, que a mesma se sente a rainha, já que ninguém nunca tinha feito isso ainda para ela. O agradeceu e ele caminhava na direção da porta do motorista.
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