Olá! Eu me chamo Srta. Nesti e espero que gostem desta história. Enfim, espero que se divirtam lendo "Lara muda o destino" tanto quanto eu me divirto escrevendo! Beijos '3'
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O céu parecia que iria cair a qualquer momento. A chuva... Não, a tempestade que caía lá fora era barulhenta, mas por alguma razão o temporal fazia com que o ambiente dentro do café parecesse mais aconchegante.
Olhei para Sofia, viemos a esse café para comemorar que o seu livro estava sendo traduzido para o espanhol por uma editora da Argentina. Comi um pedaço da minha torta red velvet, um dos pratos mais populares deste lugar.
— Lorrane. — Sofia chamou. — Você leu meu livro?
— Desde o seu primeiro rascunho? — Respondi, com o orgulho perceptivo na minha voz. Eu era a pessoa que apoiou Sofia desde o começo, a vitória dela era minha também.
— Então, por favor me dê a sua opinião sobre o final. De novo. — Suspirei.
— Eu não sou nenhuma crítica profissional e eu já dei minha opinião sobre isso. — Eu odiei o final, na verdade, toda a história não fazia o meu tipo de leitura.
— Sabe... Todos os meus leitores gostaram do final, menos você.
— Seus leitores precisam de mais senso crítico. — Sofia sorriu.
— Com isso eu concordo. Você ficou tão irritada apenas porque a vilã foi injustiçada?
— Uma injustiça que custou a vida dela? Sim. Por que você simplesmente não fez com que ela tivesse envenenado mesmo a protagonista?
— Apenas não é algo que a Lara faria. Ela era uma nobre orgulhosa que queria humilhar a protagonista ferindo de todas as formas possíveis o orgulho dela, não a vida.
— Também não gosto do par romântico da protagonista. Um homem que trai a noiva? Com certeza ele vai fazer isso com a protagonista também.
— Bem... Não sei sobre isso. — Sofia sorria maliciosamente enquanto mordia seu croissant.
— Enfim, não vou dizer nada do que você já não sabe. Os únicos personagens que gosto são a protagonista e o irmão dela.
— Então acho que você vai ficar chateadissíma com a continuação. — Sofia falou dando risadinhas.
— Sofia... O que você vai fazer? — Olhei ameaçadoramente para ela que não ligou nem um pouco.
— Eu? Nada. Quem vai fazer é o príncipe Daniel. — Aquele protagonista ridículo! O que Sofia tem na cabeça!?
— Esse canalha vai fazer algo com os irmãos? — Falei um pouco alto, estava frustrada.
Sofia escreve maravilhosamente bem, ela conseguiu fazer com que eu lesse uma história na qual eu jamais leria e ainda fez com que eu gostasse! Embora eu odeie os personagens...
— Com o irmão... — Sofia passou a mão nos seus cabelos castanhos ondulados e me olhou esperando minha reação.
— Qual é... Você não pode simplesmente não fazer uma continuação? Ou melhor, não matar um dos únicos personagens que eu gosto? Continua nessa e eu abandono a história.
— E vai me dar hate na internet?
— Vou virar a sua maior hater.
Nós duas rimos, embora eu não estivesse brincando sobre abandonar a obra.
— Eu não acreditava que “A donzela de Rosário" fosse fazer tanto sucesso. — Sofia falou enquanto apoiava sua cabeça em meus ombros, era possível porque ela estava sentada ao meu lado.
— Pois eu sempre soube. — Eu estava sendo sincera.
— O quê? Não me diga que fez um pacto? Vendeu apenas a sua alma? — Brincou e olhou para a janela.
Eu olhei também, ficamos um pouco em silêncio observando o temporal lá fora. A época de chuva havia chegado com força na Bahia.
— Não está muito movimentado, embora essa seja a avenida Sete de Setembro. — Comentou Sofia.
— Está a maior chuva lá fora e você quer que esteja movimentada? Eu não estaria fora de casa também.
— Você está fora de casa.
— Eu e você só estamos aqui porquê a chuva chegou depois de entrarmos. — Olhei para Sofia que afirmou com a cabeça.
— Sim, esta comemoração devia ter acabado meia hora atrás. — Ela olhou no relógio. — Já são sete da noite.
— Que horas o café fecha mesmo? — Perguntei olhando novamente para a janela.
Estávamos bem próximas da porta e da janela, o que nos permitia uma boa vista da rua. Continuei olhando as gotas que atingiam violentamente o vidro das janelas.
Me assustei com um barulho de freio alto o suficiente para saber que um carro estava prestes a bater em algo, eu só notei que esse algo era o café quando vi dois faróis vindo em minha direção.
Não tive tempo de pensar, eu apenas pisquei tentando entender o que estava acontecendo enquanto ouvia vidros quebrando, pessoas gritando e o carro capotando encima de mim.
Tudo ficou escuro.
Acordei deitada em uma espécie de cela escura, com apenas um pequena janela com grades que é tão alta que não posso ver o ambiente lá fora. Sentei e percebi que estava deitada em uma cama feita de ferro que se prendia na parede.
Olhei para as grades grossas que me prendiam dentro da cela. Um guarda que usava armadura medieval estava parado do lado de fora.
— Ei. — Chamei, mas fui ignorada.
Olhei para minhas roupas e estava usando um vestido bufante que parecia ter saído dos filmes de princesa. Olhei minhas mãos e eram muito mais delicadas e esbeltas do que eu lembrava.
Aquelas eram as mãos de outra pessoa.
As jóias nos meus pulsos eram tão lindas quanto o vestido, mas eu estava suja. Peguei uma mecha do meu cabelo que era muito mais longo do que deveria.
Exclamei um barulho cortado quando vi que estava loira. Minha cabeça estava rodando. O que está acontecendo? O que houve comigo? A última coisa que me lembro é um carro voando diretamente para mim. O carro me atingiu? Não existe uma maneira de eu ter conseguido me esquivar daquilo. Eu morri? Estou no céu? Virei um anjo? Um sonho enquanto estou em coma?
— Ah... Não consigo entender. — Suspirei.
Olhei ao redor a procura de respostas, mas óbvio que não havia nada.
— Ei. — Chamei o guarda novamente. — Eu sou um anjo?
Perguntei, por alguma razão essa parecia a escolha certa.
— Anjo? Você é a pior bruxa que este império já teve. — O guarda respondeu.
Eu sou uma pessoa má? Eu estou presa no fim das contas.
— Qual foi o meu crime para ser chamada de bruxa? — Levantei e fui até as grades agarrando-as com as mãos tentando ver o rosto do guarda.
Ele me olhou e eu pude sentir o desprezo em seus olhos, um arrepio subiu em meu pescoço com a frieza daquele olhar. Ninguém nunca havia me olhado assim em nenhum momento da minha vida.
— Atormentar a jovem senhorita Bianca e chegar ao ponto de envenenar sua bebida por ciúmes... Me diga, existe outra coisa que você seja a não ser uma bruxa?
Uma lunática. Psicopata, talvez? Não tem como eu responder isso. Sou eu de quem você ta falando! Eu não fiz nada disso.
Chorei internamente, parece que vou sofrer as consequências no lugar do verdadeiro culpado...
Por que pensei na Lara? Bem, acho que estamos em uma situação parecida.
Olhei para minhas mãos. Me virei e voltei a sentar na cama de ferro. Como está Sofia? Ela está aqui? Nós duas morremos? Era para ter sido um dia especial. Por que isso tinha que acontecer?
Eu... Preciso sair daqui. Não quero passar o resto da minha vida - que quase perdi - presa neste lugar. Querer é diferente de poder, não tenho nada para me ajudar nesta situação.
— Sua graça, o que o trouxe aqui? — Ouvi o guarda falar, em um tom muito mais morno do que quando falou comigo.
“Sua graça”? Quem está aqui? Levantei e fui até as grades novamente e vi um homem alto de cabelos pretos de costas enquanto falava com o guarda que tinha corrido até ele igual a um cachorro.
Me assustei e dei um passo para trás quando nossos olhos se cruzaram. Foi apenas alguns segundos, mas minhas pernas tremeram. Os olhos do homem eram vermelhos, não sou uma pessoa religiosa, mas eu não pude evitar de pensar que aquela pessoa era um demônio.
Com as pernas trêmulas me afastei novamente e deitei em posição fetal na cama de ferro. Comecei a chorar, o nervosismo por não saber o que estava acontecendo, não saber quem sou, não saber onde estava... Não saber de nada estava me matando.
Inferno, eu estava no inferno? Morri e fui condenada ao inferno? Tremi um pouco quando senti alguém me olhando.
Coragem, Lorrane.
Me levantei devagar e olhei para o demônio que me encarava.
— V- você — Eu gaguejei sem conseguir esconder a tremedeira na voz. — Você é um demônio?
Silêncio. O homem pareceu surpreso demais para falar e o guarda se engasgou com a própria saliva.
— Sua bruxa! Você está fazendo perguntas sem sentido novamente. — O guarda gritou. — Perdeu seus neurônios?
Me encolhi com os gritos, e pude apenas ouvir o demônio de olhos vermelhos repreender o guarda.
— Eu não vim aqui para brincar, Lara.
Meu corpo que estava tremendo, as lágrimas que caiam dos meus olhos, meus pensamentos acelerados, tudo parou.
Lara.
Esse cara me chamou de Lara?
Duvidei dos meus próprios ouvidos. Isso era possível? Eu realmente estou sonhando. Eu era Lara? Lara a vilã? A vilã que morre?
Que tipo de brincadeira é essa? Eu não podia acreditar. Olhei para o homem que me encarava, os cabelos pretos, os olhos vermelhos como rubi. É a aparência de Bernardo, o irmão mais velho da protagonista.
O que ele estava fazendo aqui? No livro ele visita Lara? Não lembro disso ser mencionado. Me aproximei de Bernardo, ainda o encarando atônita.
— Bernardo... — Balbuciei, lembrei de como o guarda o chamou mais cedo. — Sua graça?
Lara era filha de um marquês, ela não estava em posição de falar informalmente com Bernardo que era um duque.
Senti uma dor de cabeça começando. Eu não sei nada sobre esse mundo, nem como ele funciona. Tudo o que sei é apenas o que Sofia escreveu. Ela não é do tipo detalhista.
— Está fora de si? — Bernardo falou. — Por que parece tão confusa?
Eu estava confusa. Tudo neste lugar me confunde, até a aparência de Bernardo é estranha. Olhos vermelhos? Não podia ser uma cor normal?
Engoli em seco antes de falar.
— Sua graça, tenho algo para contar. — Falei insegura.
— Finalmente vai admitir que envenenou Bianca? — Percebi raiva em sua voz, o que me deixou ainda mais nervosa.
— Eu não fiz isso. — Apesar do medo, tentei soar firme. Estava falando a verdade, tanto como Lara como Lorrane. — Mas...
Fui interrompida por Bernardo.
— Apenas admita logo. Se não você, quem mais seria? Se você falar a verdade, posso interceder por você para que não seja condenada a morte.
Estremeci, morte. Morri uma vez, não quero ter essa experiência novamente tão cedo. Mas se eu admitir agora... Posso viver? Encarei os olhos de Bernardo.
Não. Não vou viver.
Ele não mente quando diz que vai interceder por mim, é algo que o Bernardo que eu conheço faria, mas o príncipe? Esse babaca não me deixaria viver.
Me decidi. Farei com que Bernardo encontre o verdadeiro culpado, ou melhor, a verdadeira culpada.
— Preciso da sua ajuda. — Falei agarrando os braços de Bernardo através das grades.
Ele se surpreendeu, mas logo ouvi uma risada debochada.
— Minha ajuda? Você fala sério?
— Sim. — Não me deixei abalar por seu deboche. É minha vida que está em risco.
Seu sorriso morreu e com um rosto sério ele tirou minhas mãos de seus braços.
— Não.
E ele saiu.
Gritei por ele, mas ele não voltou.
O guarda me encarou sem dizer nada por um momento antes de voltar a seu lugar.
Suspirei. Perdi minha chance, vou morrer novamente. Existe um jeito de fugir? Deveria tentar usar minhas jóias para abrir um buraco ou cerrar essas grades grossas?
Deitei na cama e olhei para o teto. Lorrane sua azarada. Morreu, teve a chance de reencarnar e mesmo assim olha onde veio parar.
Reencarnar? Isso é uma reencarnação? Não, se fosse eu seria um bebê agora. Então, não é uma reencarnação e sim uma possessão? A minha alma possuiu o corpo da Lara? Tudo é tão sem sentido.
Passei o dia pensando em como sair dessa situação, mas nada adianta. Estou sem saída, ninguém acredita em mim.
Maldita seja aquela empregada! Judith sua fanática louca, como alguém se torna tão louco ao ponto de envenenar a pessoa que mais admira apenas para ferrar com outra? E para quê? Para que o casal que gosta fique junto? Que razão estúpida!
Agora olhe para mim, tudo culpa sua Judith! O que fez foi inútil, aqueles pombinhos já estavam juntos independente se a Lara ainda era a noiva do príncipe ou não. Aquele adúltero. Aquele lixo nunca deveria ter ficado com a Bianca. Nem com a Lara! Pobre injustiçada.
Não que a Lara fosse uma santa. Ela atormentou a Bianca várias vezes. Mas ela nem tinha o poder para isso, Bianca podia facilmente fazer a mesa virar. A irmã mais nova de um duque contra a mera filha de um marquês? É óbvio quem ganha essa disputa.
Ser filha de um marquês é bom, mas Lara não pode competir com a Bianca. E no fim, vou morrer assim como a verdadeira Lara.
Eu nem pude aproveitar ser rica, sou tão azarada que possuí o corpo quando a dona já está condenada.
Ao cair da noite, a única iluminação que entrava era a das velas do lado de fora onde os guardas ficavam. Era frio, o vestido de três metros de tecido não era o suficiente para me aquecer. Fiquei lembrando dos acontecimentos da história até pegar no sono.
Acordei com um guarda batendo nas grades com a espada dentro da bainha. Era o café da manhã. Notei que o guarda era diferente do de ontem.
Estava comendo a sopa branca quando lembrei de como ocorreu o julgamento de Lara. De acordo com o livro, Lara morreu um dia depois do julgamento. Ela passou cinco dias presas antes disso. Ela também não participou e nem teve direito a defesa.
Não era necessário porquê encontraram a prova no quarto da Lara. Um frasco de veneno, depois de uma avaliação provou que foi o mesmo veneno que Bianca bebeu.
Como o frasco foi parar no quarto de Lara? Judith escondeu lá dois dias antes do julgamento.
— Ei, me diga a quanto tempo estou aqui? — Perguntei sem um pingo de delicadeza.
Fui ignorada. Ótimo, ninguém quer responder a bruxa.
Preciso saber quanto tempo tenho. Se Bernardo ou qualquer outra pessoa aparecer, vou ter certeza de fazer essa pessoa encontrar o frasco no quarto de Judith.
Isso é claro, se ainda for a tempo. Sofia detalhou a parte em que Judith esconde o frasco no quarto de Lara, uma coisa que ela não costuma fazer. Só posso agradecer por esse acontecimento incomum.
Também preciso encontrar uma desculpa para acusar Judith, se eu apenas falasse não é óbvio que me veriam como uma cúmplice? Ou mais fácil, a mente por trás de tudo que manipulou a pobre empregada como uma marionete.
Suspirei. Pelo menos eu tenho tempo de sobra para pensar. A tarde passou e vi o guarda de antes chegando. Levantei e me aproximei das grades.
— Olá. — Falei e sorri para ele que não mudou nem um pouco a expressão. — A quanto tempo estou aqui?
Perguntei, pelo menos alguém vai me responder se eu continuar perguntando. Ele me olhou e tive a sensação que se eu pudesse ver seu rosto, suas sobrancelhas estariam se franzindo agora.
Lara é realmente odiada. Eu também odiava ela. Sentei no chão apoiando minhas costas na grade.
— Sabe... Você pode me odiar e me xingar se quiser. — Mexi em minhas jóias enquanto falava. — Mas pode me responder?
— Ser ignorada é realmente o que você mais odeia, não é? — O guarda falou. — Você gosta de chamar atenção. Tão superficial, arrogante e vaidosa. Não liga para ninguém e não aceita a felicidade dos outros.
Oh? Está mesmo me xingando.
— Como pode me conhecer tão bem? — Provoquei, continue falando e me dê informações úteis.
— Você nunca vai ser feliz assim. Luxo, dinheiro, fama. Essas coisas não podem comprar o que é mais importante.
— E o que é tão importante?
— Amor.
Eu ri, não, eu gargalhei como uma verdadeira vilã.
— Amor? — Eu falei enquanto tentava respirar. — De onde tirou isso? Andou lendo muito romance?
Dinheiro compra tudo. Até o amor, talvez meus pensamentos fossem mais parecidos com os de uma vilã do que imaginei.
— Não acho que alguém como você entenderia. — O guarda sorriu com escárnio.
— A quanto tempo estou aqui? Se fico mais, posso até virar uma santa de tanto escutar seus discursos. — Zombei.
— Espero ansioso até a sua saída.
— Olha temos algo em comum. — Finalmente me virei para encarar o guarda. — Qual seu nome?
O guarda não esperava essa pergunta. Sua boca aberta não era nada discreta. Não pude deixar de dar uma risadinha, ele percebeu e logo voltou a seu rosto blasé.
— Não tenho que te dizer.
— Não, mas eu gostaria de saber. — Sorri amigável, e parece que o deixei desconfortável.
— Jorge. — Ouvi ele sussurrar. — Jorge Hioto.
Sorri, depois de tudo ele é tímido?
— Gostei de você, Jorge. — Falei. — Eu tenho mais uma pergunta.
Ele me encarou através do capacete da armadura que permitia ver apenas a sua boca.
— Quanto tempo falta até o julgamento? — Perguntei levantando.
Ele pensou um pouco.
— Quatro dias. — Deixei sair um "Ah" e olhei para baixo.
Não tenho muito tempo! Preciso pensar.
— Obrigada, Jorge.
Agradeci e saí para sentar na minha cama, preciso planejar como sair daqui.
Não havia como eu saber, mas Jorge quando me viu voltar para minha cama olhando para o chão, pensou que talvez Lara fosse realmente uma vítima. "Uma pessoa culpada poderia parecer tão triste?" Ele se sentiu um pouco compadecido com aquela cena.
Sentada na cama de ferro eu passava e repassava as coisas que eu poderia dizer para revelar o crime de Judith. Pensei em pedir para Jorge, mas ele me odeia.
De jeito nenhum acreditaria em mim, porém não custava tentar. Levantei a cabeça, as velas já estavam sendo acesas. Minha barriga roncou. Os prisioneiros daqui só tinham direito a uma refeição por dia, e era apenas uma sopa branca.
Estava prestes a chamar Jorge quando o ouvi falar.
— Sua graça! De novo aqui? — Jorge realmente parecia um cachorrinho.
Levantei e fui cumprimentar o duque Rosário, também conhecido como: Bernardo.
— Sua graça, a que devo a honra? — Bernardo me olhou e veio até mim.
— Está pronta para admitir? — Meu sorriso morreu.
— Admitir um crime que não cometi? — Respondi com a raiva subindo a minha cabeça.
— Seria mais fácil se você apenas admitisse.
Sorri, mas era um sorriso que premeditava uma tempestade. O estresse estava me consumindo, logo eu explodiria. Para ser exata, eu explodiria agora.
— Se você apenas me ouvisse eu não teria que admitir nada! Não teria que morrer de forma injusta, enquanto a verdadeira culpada está se divertindo e se preparando para me incriminar! — Bati nas grades querendo está batendo no rosto de Bernardo. — E ninguém acredita em mim porquê eu sou a bruxa malvada, a vilã dessa história ridícula.
— Se acalme, senhorita Lara. — Bernardo falou surpreso, eu apenas chutei as grades da cela como resposta.
— “Se acalme", "Se acalme”. Eu não quero me acalmar! Como posso estar calma? Vou morrer daqui a cinco dias e não tem nada que eu possa fazer! — Atravessei minhas mãos nas aberturas das grades agarrando o colarinho de Bernardo o puxando para baixo, assim nivelando o nosso olhar. — Você, sua graça, não deveria ser alguém justo? Não quer que a pessoa que envenenou sua irmã pague? Se quer isso, então me ajude.
— Você sabe quem envenenou minha irmã? — Ele perguntou tirando minhas mãos e voltando a sua postura normal.
— Sim.
— Como?
Porque eu li. Era o que gostaria de poder responder, mas Bernardo veria como uma mentira. Ele acharia que enlouqueci de vez.
Suspirei tentando me acalmar.
— É apenas uma suspeita. — Falei. — Mas acredito que eu estou certa.
— Suspeita? É apenas a sua intuição? Achismo?
— Não é minha intuição. Você a conhece, certo? Judith.
Seus olhos se abriram.
— Judith? Isso é loucura. Ela nunca faria isso.
— Faria sim. — Não só faria, como ela fez. — As pessoas fazem loucuras para eliminar outras. Também fazem loucuras por fanatismo.
— Isso... — O interrompi.
— Judith tem as duas coisas, ela me odeia e me quer morta, além de que também é uma fanática pela sua irmã e o relacionamento dela com meu ex-noivo.
— É uma acusação séria. Você tem certeza? — Ri amarga.
É sério? Todo mundo me acusou sem nenhum peso na consciência, mas quando é Judith a reação é diferente?
— Eu acredito que sou a pessoa que mais sabe o quão séria essa acusação pode ser.
Bernardo suspirou.
— Talvez devêssemos ao menos checar o que a bruxa diz. — Bernardo e eu nos viramos para olhar Jorge que parecia tímido enquanto mexia as mãos.
Ele está me ajudando? Embora ainda me chame de bruxa.
— Não custa checar, certo? — Falei e dei um pequeno sorriso para Jorge.
— Tudo bem, vou dar uma olhada em Judith. — Bernardo se pronunciou.
— Faça isso direito. É minha vida que está em risco. — Falei e Bernardo foi embora.
Se passou um momento até eu ouvir Jorge falar.
— O que disse é verdade mesmo? — Jorge se aproximou de mim.
— Sim... E obrigada por me ajudar mais cedo. — Agradeci lhe dando um sorriso.
— Não precisa me agradecer. — Ele sorriu um pouco para mim pela primeira vez. — Acho que até as bruxas podem sofrer uma injustiça as vezes.
Era bom que pelo menos alguém estava começando a ficar do meu lado, mas é muito cedo para comemorar qualquer coisa. Judith vai esconder o frasco de veneno no meu quarto depois de amanhã.
Bernardo precisa encontrar esse frasco a tempo.
É horrível não poder fazer nada e só esperar. Quando eu sair daqui, devo manter distância de todo mundo.
Vamos evitar problemas.
Talvez eu me mude para o campo? Devo largar a vida social... Ou apenas fazer o que eu quiser? Talvez eu consiga melhorar a imagem de Lara.
Sim, antes de ir para o campo preciso melhorar a minha imagem para que acusações como essa não volte a acontecer e se acontecer, eu não ficar em tanta desvantagem.
Pedir desculpas para a Bianca seria um bom começo. Sim, é isso que vou fazer.
Vou escrever uma carta de desculpas e então sumir do mapa! É um ótimo plano.
Com um plano traçado fui dormir e acordei com o guarda do turno matinal passando a espada dentro da bainha nas grades. Era um despertador horrível.
Enquanto comia a sopa branca, repassei meu plano na minha cabeça. Escrever uma carta de desculpa e ir embora.
É muito simples e está muito fácil. Isso não vai ser o suficiente para melhorar minha imagem. Tem mais um problema, enquanto Bianca e Daniel forem um casal, qualquer problema no mundinho de arco-íris deles serei eu a primeira suspeita.
Acho que esse é o carma por ser uma vilã.
Preciso que esses dois terminem. Bom, pelo menos não vou ficar com peso na consciência. Daniel não é bom para Bianca mesmo. Ele é o típico personagem literário sarcástico e de caráter duvidoso que as pessoas amam.
Um passado trágico e uma bela aparência, tudo o que faz as pessoas se apaixonarem, mas vamos ser sinceros, na vida real ele é o tipo de pessoa que precisa de terapia e não um romance.
Sorri. Parece que Lara será uma vilã até o fim.
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Nesse meio tempo, enquanto Lara traça seus planos futuros, Bernardo estava no quarto de Judith abrindo a última gaveta da mesa de cabeceira, ele não se importou com o fato de precisar de uma chave para abrir.
Ele simplesmente pegou um grampo que encontrou jogado pelo quarto e o usou como substituto da chave. Era uma habilidade que ele aprendeu com Bianca, que gostava de invadir lugares proibidos no Palácio de Rosário quando criança.
Dentro da gaveta havia várias coisas estranhas. Bernardo franziu a testa e pegou uma caixa florida. Quando a abriu se deparou com várias fotografias de Bianca.
Eram fotos do seu dia a dia e pareciam ter sido tiradas sem o seu consentimento. Algumas em que Bianca estava com o príncipe Daniel havia sido desenhado corações vermelhos.
Bernardo fechou a caixa com um sentimento estranho. Ele pegou outra caixinha, uma menor desta vez. A caixa de vidro tinha vários fios pequenos de cabelos pretos. Na tampa tinha escrito: "Franja da senhorita Bianca"
Ele olhou dentro da gaveta ainda com a caixa de vidro na mão, lá restavam duas coisas. Uma mexa grande de cabelos pretos, que não restavam dúvidas que eram de Bianca. Bernardo lembrou que Judith é quem corta o cabelo de sua irmã.
A última coisa era um frasco de um líquido roxo suspeito. O frasco era elegante e facilmente se passaria por um perfume se não fosse pelo roxo púrpura que era o líquido dentro.
Veneno. Pensou Bernardo.
Bernardo sorriu.
— Parece que a intuição de Lara estava certa. — Ele falou guardando tudo e saiu levando apenas o frasco e a caixa de fotografias.
Bernardo deixou o palácio e foi direto para a masmorra real, onde Lara estava presa. Ele chegou lá no fim da tarde, o horário que ele já costumava ir.
Entrando no calabouço, o cavaleiro Jorge veio o cumprimentar como sempre. Jorge era um bom garoto, era habilidoso com a espada, subiria de cargo dentro dos cavaleiros rapidamente, mas como era um novato, estava fazendo o trabalho de um guarda.
Bernardo o achava parecido com um filhote de cachorro.
Dentro da cela estava Lara que já o olhava com expectativa. Seus olhos azuis oblíquos eram como os de um gato pronto para atacar.
Bom, na verdade, a maioria das pessoas comparam com olhos de raposa. Porém, Bernardo pensou que era mais próximo a um gato arisco.
Ele se aproximou dela e esperou que ela falasse primeiro.
— Você encontrou algo? — Ela perguntou apertando as grades grosas da cela com as duas mãos.
Bernardo pensou que Lara realmente não combinava com esta prisão. Ela tinha uma aparência bela que pertencia a salões de bales e lugares luxuosos.
Apesar de que, com certeza, seu rosto exalava um ar de antipatia que tornava difícil se aproximar, mas isso é apenas como um verdadeiro nobre deve parecer.
E mesmo assim, ele entendia porque Jorge e as outras pessoas a chamavam de bruxa, toda a sua presença fazia com que pensassem que ela está fazendo planos malignos sendo amigável enquanto afia a faca em suas costas.
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