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MARCAS DO DESTINO

MARCADOS PELO DOR CURADOS PELO AMOR

GABRIELLA

Ainda na adolescência, aos meus dezessete anos, começo a conhecer a vida adulta, cursando o segundo ano do ensino médio. Me chamo Gabriella, mais conhecida como Gaby, que era o jeitinho carinhoso como todos me chamavam. 

Me considero uma menina pacata, no entanto sempre de alto-astral com a família e os amigos, coisa que não estava acontecendo nos últimos dias. Principalmente após ouvir uma conversa de meu pai com a minha madrasta, Soraya, fiquei extremamente chateada por saber que estavam planejando mudar para um lugar distante. Não posso negar que foi um choque ouvir aquela conversa, a tristeza tomou conta de meus dias, não só pela mudança repentina, mas também pela separação dos meus amigos de infância. Passei por eles na sala feito um furacão indo chorar em meu quarto enquanto me questionava sozinha.

— Como queria ter conhecido você, mãezinha, eu tenho certeza de que minha vida seria bem diferente se você estivesse aqui comigo. — Sussurrava no momento em que ouvia os desatinos da louca. 

— Que droga, Ronaldo! Até quando vamos ficar aqui nesta pocilga? Eu já não aguento mais! Qualquer hora dessas, pego meus filhos e volto para onde nunca deveria ter saído. Já disse: Não sou obrigada a viver nesse lugar maldito, só porque sua filhinha cismou que não quer abandonar a mãezinha defunta! — falava Soraya, enquanto meu pai queimava os neurônios tentando arrumar uma solução para aquela situação em que estávamos vivendo. 

Meu pai é um bom homem, marido e pai carinhoso, porém, massacrado pelo destino, infelizmente por minha culpa perdeu o grande amor da sua vida, fora durante o meu nascimento, após passar seis anos sozinho, resolveu se casar na tentativa de ter uma companheira para ajudá-lo. Soraya era uma mulher amável, até se casar com papai e assumir o papel de nossa mãe, mas com o nascimento de João Pedro e Maria Cecília, ficou seca; totalmente diferente comigo e Marina, com Marina nem tanto, mas comigo, quase sempre era muito rude. Até entendia a decisão do meu pai de se mudar em busca de uma vida melhor para a família, porque, do contrário, além de continuarmos passando pendências financeiras, também perderia a mulher e, consequentemente, os filhos que tinha com ela.

— E agora o que vou fazer, mãezinha? — dizia angustiada em meio às lágrimas.

Afinal para mim não era nada fácil tudo aquilo, temia a dificuldade de entrosamento para fazer novos amigos, só para ajudar, após a notícia da mudança repentina os dias foram passando muito rápido. Tão depressa que logo chegou o temido momento da partida, mesmo contra a minha vontade, tive que me despedir de toda minha vida para encarar outra realidade, após aquela mudança radical, saindo de uma cidadezinha do interior para uma grande metrópole, parecia estar vivendo em um filme de terror. Horas depois, logo na chegada, estava me sentindo incomodada, pois com pouco tempo naquele lugar já havia muita informação para meu cérebro absorver, mesmo assim, seguia observando tudo e tirando minhas próprias conclusões. A caminho de meu novo quarto pensava:

— Que droga, o que viemos fazer aqui? Esse povo parece que é cego; gente estranha; ninguém fala com ninguém, até parecem zumbis.

MEU PRIMEIRO DIA DE AULA

Ouço a minha irmã batendo na porta.

— Gaby, está tudo bem? Amanhã bem cedo vou sair com a nova vizinha, ela é filha da Sra. Ofélia, a dona da casa, vai me levar para fazer sua matrícula no novo Colégio.

— Que droga, ainda tem mais essa!

Eu, completamente deslocada com toda essa mudança, caí para trás ao perceber que o que estava ruim, ainda podia ficar pior. No dia seguinte, Marina saiu bem cedo e após algumas horas voltou com a notícia de que eu estava matriculada e poderia ir à escola já na próxima aula, para o meu desespero, é lógico. O inevitável aconteceu, meu primeiro dia de aula chegou, logo ao amanhecer ouço Soraya batendo na porta do quarto esbravejando.

— Gabriella, Gabriella, quer fazer o favor de acordar?! Hoje você tem que sair mais cedo!

— Nossa, calma, Soraya, já vou, não precisa fazer esse escândalo todo.

— Precisa sim, já que você não sabe dar um passo na frente do nariz, não sabe nem como ir à esquina sozinha! Anda rápido que seu pai vai hoje com você e de lá vai para o serviço dele, vem logo que ele disse que não pode demorar, no novo trabalho os patrões são enjoados e não admitem atrasos dos funcionários. Estamos te esperando aqui na cozinha, vê se não fica enrolando. 

— Tá bom, tá bom! — respondo, ainda meio sonolenta.

Embarquei naquela correria e levantei-me em um pulo, afinal não sabia o que era pior, enfrentar o desafio de encarar a nova escola ou ficar ouvindo Soraya tão cedo cheia de seu mau-humor.

— Estou pronta, pai, vamos?

— Sim minha princesa, vamos.

Durante o percurso para escola, mil e uma coisas passavam pela minha cabeça sobre meu primeiro dia de aula.

— Ai, mãezinha, como serão as pessoas nessa escola? Será que vou conseguir falar com eles? Ou será que vão me ignorar? E se fizerem piadinhas comigo? Ai, meu Deus!

Insegura com o novo ritmo que minha vida estava tomando, temia o que ainda estava por vir, fui me aproximando da escola com lágrimas nos olhos, tudo que eu não queria era ficar nesse lugar, queria apenas minha velha vida de volta. Ao chegarmos, meu pai disse:

 — Filha, até aqui eu posso ir com você, agora é contigo.

— Tudo bem, pai, tchau — respondi cabisbaixa.

Ele me dá um breve beijo na testa e parte para o trabalho, me deixando na porta de entrada, olhava boquiaberta a imensidão daquele lugar, no momento em que fui atropelada por um rapazinho.

— Desculpa, moça, foi sem querer, você está bem, se machucou? — perguntou o garoto, no momento em que me ajudava a levantar do chão.

— Tudo bem! Não foi nada, eu estava distraída e não percebi que você vinha — falei, já saindo à procura da secretaria. Já ao entrar para pedir informações, uma amável senhora me atendeu, percebendo meu desconforto.

— Bom dia, minha querida, no que posso te ajudar?

— Bom dia, senhora, hoje é meu primeiro dia de aula aqui e não conheço nada neste lugar, será que pode me ajudar?

— Sim, meu anjo, como você se chama?

— Meu nome é Gabriella. — Acho que falei com a voz tão trêmula e baixa que ela quase não ouviu. 

— Calma, minha filha, não fique tão nervosa, vamos até minha sala para que eu possa olhar na sua matrícula, assim saberemos onde é sua sala. A senhorinha olhou minha pasta e logo disse. — Pronto, minha linda, já resolvemos seu problema, sua sala fica no bloco B1.

PRIMEIRO IMPACTO

— Mas onde fica isso? — perguntei sem fazer a mínima ideia do lugar onde ela se referia.

— Vou com você até lá, minha filha, o bloco B1 fica no segundo piso.

Enquanto subíamos, fiquei horrorizada com toda aquela bagunça, eu, que já estava nervosa, fiquei ainda mais ao me deparar com uma turma cheia de estranhos, entre eles, alguns casais que pareciam estar em qualquer lugar menos em um colégio.

— Credo, que lugar é esse? Isso não parece um lugar de estudar e sim de namorar, por onde olho tem alguém quase devorando alguém.

Entre os bagunceiros e os Don Juan, estava o garoto maluco que me atropelou acompanhado de duas moças, as quais certamente seriam suas conquistas. Eduardo é um rapazinho moreno claro com dezoito anos, também cursando o 2° ano do ensino médio, um dos garotos mais populares da escola, não queria nada com nada, só se importava com seus cabelos caídos sobre a testa, filho único, vindo de uma família bem-sucedida, mais conhecido como Edu pelos seus amigos, a vida para ele parecia uma farra eterna, um verdadeiro filhinho de papai. Fui passando por eles totalmente séria quando desviei meu olhar ao ouvir alguém falando.

— Aquela dali que é a ceguinha que você quase matou, Edu?

— É sim! — Eduardo respondeu, se virando e me encarando nos olhos. — Gostosinha ela, essa eu pego — falou Fabrício, e todos riram com as gracinhas dele, enquanto isso o babaca me acompanhava com os olhos até virar no corredor.

— Finalmente chegamos à sua sala, é aqui, minha querida, pode entrar.

Meio acanhada, agradeci à secretária e entrei, procurando o lugar mais reservado para me sentar, então tocou o sinal e a turma foi entrando na sala com grande euforia, uma bagunça sem igual que cessou com um tremendo berro da professora:

— Silêncio! Bom dia a todos, vamos começar.

Nesse momento entra o garoto com duas de suas amiguinhas cheias de risos.

— Não sem a gente, né, tia?

— Não se vocês chegarem na hora certa não é, Sr. Eduardo? Anda, entrem logo vocês três e vão para os seus lugares.

E assim se deu o início das aulas, com ele e seus amigos sendo o centro das atenções todo o tempo até o final, entediada, olhei para o relógio. ‘Graças a Deus, está chegando ao fim da aula, não aguento mais ficar aqui’. Respirei fundo no momento em que arrumava meu material para finalmente sair daquele hospício e ir embora.

FABRÍCIO

— Oi, novinha, e aí o que achou da nossa escola? Está gostando? — falou o mesmo garoto que fez aquela piadinha, já com as mãos sobre a minha mesa.

— Oi, lógico que sim, não é exatamente o que eu gostaria, mas está bom — respondi a ele, sem deixar transparecer nervosismo.

— Como é seu nome, gata? Espera aí, vamos fazer do jeito certo. Muito prazer, meu nome é Fabrício, e o seu?

Nesse momento o sinal toca para o meu alívio.

— Me chamo Gabriella, e estou louca para ir embora, me dá licença, por favor — falei, já me levantando e saindo, louca para chegar em casa. Infelizmente para o meu desespero, ao chegar do lado de fora, me dei conta que não sabia voltar sozinha. — Ai meu Deus, como vou fazer agora? Me ilumina, mãezinha, não sei como ir pra casa. — Sentei-me no meio-fio da calçada com as mãos sobre o rosto, totalmente sem direção.

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