Numa manhã chuvosa acontecia o enterro de Charlie, meu pai. Nem sei como consegui me levantar da cama, e vir até este cemitério, triste e horripilante, mesmo depois de tudo que aconteceu, mas, apesar dos acontecimentos, não deixaria de comparecer, mesmo qual doloroso ia ser ao ver enterrando meu pai. Ainda me lembro daquela tragédia, e hoje me culpo por estar viva. Se não fosse por min, nada teria acontecido, nada.
Minha avó Rose me abraçava gentilmente, querendo que eu desse uma última olhada para o meu pai.
— Querida, você precisa se despedir do seu pai.-Rose me olhava com compaixão, ela sabia ser um erro não olhar e encarar a situação, pois passará numa situação semelhante. Perderá o seu homem, o meu avô Chavier e ela não tinha se despedido dele.
Olhava para minha avó, pequena, com cabelos curtos e grisalhos, me olhando com aqueles olhos cinzentos. Apesar de pequena ela tinha força, ela não chorou até agora sobre a morte do meu pai, mas sabia que ela se mantinha forte por minha causa. A culpa me invadiu, e então confirmava com a cabeça, e ela me soltava do abraço. Caminhando até o caixão grande de madeira, rodeados de flores e recados, e estando mais perto, conseguia ver o meu pai. Pálido, sem vida, mas arrumado. Olhava para o meu pai tão intensamente, desejando que ele voltasse a vida, e que isso era só uma pegadinha, mas sabia que não era, ainda mais ao ver que as flores tampavam as partes perdidas de Charlie. A culpa me invadiu novamente, era por minha causa que isso aconteceu, se não tivesse saído do carro e ajudado ele, meu pai estaria vivo agora. Me debruçava no corpo imóvel de Charlie, e chorava, minha mão apertava nas deles, frias e imóveis, fazendo me chorar mais ainda. Uma mão gentilmente apertou os meus ombros.
— Precisamos ir Mel.-Benjamin dizia, numa voz suave, tão suave que ninguém ouvia além mim.
Ele estava com os olhos avermelhados, todo arrumado em seu terno preto, os cabelos negros arrumados de lado. Os braços fortes de Benjamin me envolviam, num abraço apertado, sua mão alisava minhas costas enquanto ainda chorava, em seu peitoral duro. Alguns minutos se passaram, Ben me conduzia para saída, pois agora o meu pai ia ser enterrado.
— Eu tenho que ir Mel...
— Tudo bem. — Ben só deu um sorriso fraco com a minha resposta.
— Não tem muitos homens para levarem...-Interrompia ele.
— Tudo bem, pode ir.- Dizia fracamente, já sabia o que ele ia dizer, mas não queria ouvir, então com um aceno deixava ele ir.
4 homens, contando com Ben, levava o caixão do meu pai para o cemitério, caminhava com minha avó, estando próximas ao caixão, enquanto um pequeno grupo de pessoas seguiam atrás.
Ao chegar no cemitério, e a sepultura erguida do meu pai, todos paravam. Os 4 homens deixaram o caixão perto de um enorme buraco, e um padre próximo, começava a dizer versículos da bíblia e um pequeno, e curto discurso. Mas não estava prestando atenção no que ele dizia, só conseguia ficar imóvel ali, olhando para o caixão, agora fechado, do meu pai, pensando, será que se não tivesse tido aquela estúpida ideia, o que ele estaria fazendo hoje? Fazendo piadas como sempre fazia?
Lágrimas começaram novamente a brotar em meus olhos, não queria chorar, mas não conseguia contê-las. Chorando novamente nos braços de Rose, que me abraçava gentilmente, mas as suas mãos apertavam um pouco o meu braço, e eu sabia que ela queria chorar, mas ela estava segurando o choro.
— Mel, dê as suas últimas palavras. — Minha avó dizia suavemente. O padre já tinha parado de falar.
— Está bem…- Olhando para o caixão do meu pai, que estava sendo levantado. Tentava falar, mas a minha voz desapareceu naquele momento, uma mulher alta com cabelos curtos e loiros aparecia em frente ao caixão, e jogava algumas flores brancas. Logo ela se virava e olhava para min, ela não parecia ter sofrido, pois, estava com a maquiagem impecável, e não reconhecia ela, porém antes de observa-la mais, a mulher sumia entre o pequeno grupo. Deixando aquela mulher estranha de lado, me voltava para o meu pai, tinha tantas coisas que ainda queria lhe falar, mas só uma me veio à cabeça, e a mais importante das delas.
— Adeus… — Essas palavras fortes me atingiam, sabia que esse "Adeus", não era um "Até logo", sabia que ele não voltaria mais, nunca mais.
Meu pai agora estava já enterrado, o pequeno grupo se despedia, e iam embora, deixando minha avó e eu naquele cemitério, em frente a lápide de Charlie.
— Vou ver se o Sr.Black nos dará uma carona.-Minha avó dizia alguns minutos depois.
–Tudo bem, te espero aqui. -Olhava para ela, para ela ficar mais tranquila e fosse falar com o pai de Ben.
Estando agora só eu ali, naquele cemitério, esperando a volta da minha avó, ficava pensando em diversas formas do que eu poderia fazer para ter salvo o meu pai, até que uma voz feminina me interrompia.
–Mellany? - Dizia a voz feminina, estranhando por ela ter usado o meu nome e não o meu apelido, então me virava para ver quem era. E era a mulher estranha que vira mais cedo.
–Sim? -Perguntava, enquanto observava a mulher, e ninguém me veio a cabeça, não sei quem ela é.
–Sou Beatriz.- Ela dava uma pausa e vendo minha reação do qual continuava sem entender, ela continuava. - Beatriz d'Auvergne, sua mãe. -Ela mostrava os perfeitos dentes brancos num sorriso, com aqueles lábios chamativos.
–Não tenho mãe. - Dizia friamente. -Deve ter se confundi..-Ela me interrompia.
–A mãe tem um dom de reconhecer o filho, não importa o quanto ele tenha mudado. E como saberia o seu nome?- Ela se aproximava de mim.
– Por que está aqui? - Me distanciava dela ao ver que ela se aproximava.
– Porque só consegui falar com você agora querida..
–Oquê? Só agora?! Se passou 17 anos e você só conseguiu falar agora! - Explodia, não conseguia acreditar que aquela mulher estava falando sério.
–Mas...filha, Charlie e Rose não me deixavam ver você...-Antes que ela terminasse com aquela baboseira a interrompia.
–NÃO ME CHAME DE FILHA! Já deixei de ser sua filha quando me abandonou! Não só a mim! Mas a meu pai ! E nunca mais toque no nome deles!
– Mas Mellany, por favor dê a mim uma chance...estou aqui para me redimir, sei que eu errei, mas..
–BASTA!- Rose a interrompia. - Vá embora daqui Beatriz. — Minha avó dava um olhar frio para aquela mulher.-Vamos indo Mel.
Beatriz dava um olhar duro para a minha Vó, mas logo se virava e ia, deixando os "quicks" de seus sapatos a acompanharem.
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Estando em casa junto com minha avó, que se despedia do Sr.Black e Ben. Mas Benjamin ia atrás de mim para se despedir, porém Rose o impedia.
–Benjamin por favor, ela precisa de um tempo sozinha. - Parado ainda na porta me olhando, mas, virava de costas para ele e ia para o meu quarto.
–Esta bem Sra.Forks. - E com um aceno da cabeça ele ia.
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Deitada em minha cama, ainda com minha roupa do enterro. Pensava naquela mulher, que poderia ser minha mãe,mas..o quee ela queria de mim? E logo agora no enterro do meu pai? Uma batida na porta me interrompia os meus pensamentos.
–Mel se quiser conversar...- A voz era de Rose atrás da porta.
–Não..agora não vó, me dê algum tempo para processar.
–Está bem.
Novamente sozinha, perdidas em meus pensamentos, e sem perceber, acabava pegando num sono.
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Personagens:
...Mellany...
...Benjamin:...
...Beatriz:...
Se passaram um mês desde o enterro do meu pai e o encontro com Beatriz. Enfurnada em minha cama, ranzinza e cabisbaixa, não queria sair do meu quarto, nem ver ninguém ou conversar com alguém, ignorava as mensagens que Benjamin me mandava. Sei que ele só esta preocupado comigo e que deveria lhe responder, mas estava sem ânimo, não conseguia mais dormir a noite, os pesadelos daquela tragédia me perseguiam, e quando estava acordada me culpava todos os dias por estar ainda aqui viva, mas às vezes me pegava pensando no que aquela mulher, que diz ser minha mãe, veio fazer ali no enterro do meu pai e ainda teve a ousadia de vir falar comigo.
–Mel, você precisa se levantar dai da cama, esticar as pernas e comer um pouco. Estou preocupada com você.- Rose aparecia atrás da porta, querendo ver o meu estado.
–Vó...não precisa se preocupar comigo, estou bem assim e eu como de vez em quando uma barrinha e você sabe que sou preguiçosa.- Estando agora sentada em minha cama, a olhava, dando um sorriso forçado, na tentativa de conforta-la, mas não funcionou.
-Mel, sei que não esta bem e não é só instinto de vó, você está horrível.- Rose ia em direção a minha janela, na qual estava fechada, e logo abria, deixando o Sol entrar em meu quarto.
– Ai Vó! Fecha logo isso! - O Sol que entrava na janela fazia meus olhos doerem, tentava impedir erguendo a minha mão em frente ao meu rosto . Fazia tempo desde que vira o Sol, na verdade, desde que vi alguma luz nesse mês.
– Mel, que cheiro é esse?! - Minha Vó tampava o nariz e fazia uma careta em minha direção.- Parece algum bicho morto...
–Não precisa exagerar!
–Mas então o que é? - Ela perguntava procurando alguma coisa, provavelmente de onde veio o cheiro.
–É que...bem Vó, você sabe, depressão faz isso.- Agora ela estava próxima à mim e arregalava os olhos, ela tinha descoberto onde o cheiro vinha.
–Mel! Faz quanto tempo que não toma algum banho descente? - Rose me avaliava agora. - E quando parou de arrumar o cabelo?! Parece uma bruxa!
–Ei!Não precisa esculachar.- Ela me dava um olhar de advertência. Sabia o que ela queria.
– Esta bem, vou tomar um banho e arrumar esse cabelo...-Ela ainda continuava a dar aquele olhar de advertência.- E comer, mas...só se você fazer aquele escondidinho de purê que tanto gosto!
–Era só pedir.- Ela dava um sorriso de alívio e ia caminhando para saída do meu quarto, até que ela parou em frente a porta.
– Ah...tinha me esquecido. Ben disse que viria hoje, você quer falar com ele ou…-Ela parava no final da frase, sabia o que ela quis dizer com o "ou". Sim, o mandar embora e voltar outra hora.
–Bem...é que ainda não me sinto bem totalmente. - Ela me dava um olhar triste.
–Você sabe que não pode ignorar ele para todo sempre.
–Sim eu sei.-Eu acho.- Mas, só me dê algum tempo.
–Está bem, mas vê se não enrole para tomar um banho.
–Ai, ai...tudo bem vó- Revirava os olhos.
–Mel!-Rose falava me repreendendo por ter revirado os olhos.
–Ok. Nada de revirar os olhos, mas tenho um banho me esperando.-Ela dava um sorriso de satisfeita e ia.
Voltava do banho, um pouco renovada e com os cabelos penteados. Rose tinha razão, estava parecendo uma bruxa, apesar que ainda continuava com minha pele pálida e cheio de olheiras. Sentava em minha cama limpa e arrumada agora, pela minha vó, e procurava pelo meu celular. Já que não vou vê-lo hoje, pelo menos tenho que avisar que ainda estou viva. Suspirava, pegando o meu celular no criado mudo e o ligava. E me espantava, tinha mais de 200 mensagens e 12 ligações! É, parece que vou passar o dia inteiro lendo. A maioria era do Ben, como esperado, e outras me surpreenderam, era de algumas colegas da escola deixando os pêsames. Nossa a notícia se espalhou rápido. Mas, tinha algumas que era de número desconhecido e não só sms como também ligações, e todas elas eram curtas.
"Preciso falar com você."; "Me perdoe.";"Aparece na janela." Será que poderia ser ela? Mas agora tinha certeza. "Mellany, sei que agora não conseguirá me perdoar, mas me dê uma chance de falar com você". É, era ela, Beatriz, a única que me chamava pelo nome, mas não sabia o que fazer, se a respondia ou simplesmente a ignorava. Mas...como ela conseguiu o meu número? Ouvia umas batidas na porta.
– Mel o escondidinho já está pronto. - Era a voz da minha vó, então, deixava o celular de lado e abria a porta.
–Já era hora. -Dava um sorriso para ela, disfarçando a minha inquietação com as mensagens e a deixava me conduzir para a cozinha.
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Estando em meu quarto, agora satisfeita, o que não poderia dizer para Rose, pois tinha deixado quase todo o escondidinho que ela fez. Mas não tinha vontade de comer, na verdade não tinha vontade de fazer nada, nem mesmo de viver. Pensava no acidente de carro que meu pai sofreu a todo instante e em que eu poderia ter salvo, pois eu estava lá.
A culpa me acompanhava como se fosse minha sombra, estava lá sem eu perceber, em meus pensamentos, nos cantos da casa e até mesmo nas pessoas próximas que eu via. A noite eu ouvia os choros da minha avó, até que em uma dessas noites decidi ir até o quarto dela, querendo ajudá-la, não sabia como iria fazer, mas só queria ajuda-la de alguma forma, mas, só consegui ficar imóvel em frente a porta do quarto dela, ouvindo a chorar, no qual não demorou muito, e minha mão ainda na maçaneta, esperando um soluço, ou o que for para entrar no quarto dela, mas nada ouvia e então decidi voltar para o meu quarto, e desde daquela noite, nunca mais ouvi o choro de Rose.
O celular tocava no criado mudo, indicando que tinha chegado uma mensagem para mim, provavelmente é Ben, dando um suspiro, pegava o celular, até perceber que o número era desconhecido. Olhando para o meu celular, ainda na mão, decidindo se iria ler ou não. Sabia que era de Beatriz, e que poderia ser o mesmo lenga-lenga de sempre, "Me desculpe.." e coisas assim. Mas a minha curiosidade era mais forte e logo abria a mensagem.
"Mellany, sei que não mereço uma chance, mas me arrependo amargamente do que fiz, entendo se não quiser me perdoar, mas eu quero te conhecer, pelo menos um pouco. Se quiser conversar venha me encontrar no sábado, às 10h da manhã, no Miami Coffe– Atenciosamente Beatriz.''
É, isso não esperava, mas por que ela acha que iria ao seu encontro? Tudo bem ela estar certa no caso que não vou perdoa-la, mas a curiosidade me pega novamente. Por que ela só apareceu agora? E o que iria perder se fosse a esse encontro? Sinceramente não sei, mas essa mulher insiste em falar comigo, então decido ir a esse encontro.
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Dois dias se passaram, e hoje era o encontro com a Beatriz, estando arrumada, pois pelo que eu sabia o lugar era só de granfinos, ligava para Ben se poderia me dar uma carona. E no primeiro toque ele atendia.
–Mel?!- A sua voz era de surpresa e alívio.
–Sim, o mais viva que posso. Mas Ben preciso de um favor seu, poderia me dar uma carona até o Miami Coffe?
–Ah...claro, mas só uma carona? - Parecia animado, pensando que estava sendo convidado.
– Só uma carona, mais tarde nos vemos aqui. Minha vó está fazendo um bolo.
–Está bem, que horas que te pego?
– As 10 .
– Ok, já estou à caminho. - Com isso desligava o celular.
Saindo de casa, para esperar Ben nas escadas, encontrava a minha vó na sala fazendo tricor.
–Mel? - Dizia ela surpresa. Fazia tempo desde que me via levantar cedo da cama, na verdade, acho que ela nem lembra a última vez que me viu acordar cedo.-O que esta fazendo acordada a essa hora?
– Bom dia Vó. -Dava um sorrisinho sem graça, mas me aproximava dela e dava um beijo em sua testa.- Vou ir me encontrar com Ben. Tomarei meu café da manhã no Miami Coffe. - Me adiantava antes que ela perguntasse mais alguma coisa.
–Esta bem, vê se volta para o almoço querida.-O carro de Ben buzinava.
–Ok, até o almoço.
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Estava em frente a entrada do Miami Coffe, com o Ben ao meu lado.
– Então...você vai tomar um café sozinha? - Ben perguntava sem entender, franzindo as sobrancelhas negras dele.
– Não, vou me encontrar com uma pessoa. - Ele arqueava uma das sobrancelhas- E não, não vai ser com um garoto, é com uma mulher e ela quer me conhecer.
–Tudo bem, mas me liga assim que sair, tudo bem?
–Sim, tudo bem, não precisa ficar preocupado, é só uma mulher e não uma psicopata. -Ria para deixa-lo mais tranquilo. Mas até onde eu sabia, ela ser, eu não conhecia aquela mulher, só sabia que ela usava roupas de marcas.
–Mas ainda sim, me ligue.
Entrava no Miami Coffe, estando 30 minutos atrasada ao encontro, e um pouco nervosa, não sabia o que iria fazer se a visse. Uma mulher baixinha com um terno vermelho me abordou.
– Seja bem-vinda. -Ela dava um sorriso simpático e dava um dos cardápios a mim.
–Não..não precisa, estou procurando alguém.
–Claro. -Ela então se retirava.
Observava o lugar, agradável e luxuoso. Várias mesas enfileiradas próximas a janelas, que dava para vista a um jardim, o piso de uma madeira escura, as mesas de vidro, as luzes amarelas com lâmpadas redondas e grandes, dando um visual mais aconchegante, mais a frente via escadas, onde parecia um lugar mais reservado, com poltronas bejes e marrons. E logo avistava, os cabelos curtos e loiros, com a pele impecável como a maquiagem , suave agora, usando um vestido de gola alta branca, sem mangas e bem cortado, e os olhos verdes me observavam, surpresos, que pareciam brilhar conforme ia em sua direção.
– Que surpresa agradável Mel! - Ela dizia com animação, mostrando os dentes perfeitos e brancos num sorriso.
– Não fique assim tão animada. - Cortava a sua animação. - Quero saber por que está aqui.
–Ora querida não precisa se apressar tanto.- Ela estendia a mão em frente a uma cadeira.- Sente-se, eu presumo que ainda não comeu.
Sentava com uma certa relutância, mas por fim, sentava e ainda esperava por uma resposta.
– Estou ainda esperando por uma resposta, depois eu como. -Dava um olhar afiado para ela.
– Ai, ai querida... - Ela dava um suspiro dramático. - Eu já te disse, só quero conhecer a minha filha.
– Não acredito em você. Por que apareceu só agora?
– Porque...-Ela parecia pensativa agora, mas logo a sua expressão mudou, os olhos pareciam encher de lágrimas, e a boca tremia. Me pegando de surpresa.- Mellany, eu passei por muitos problemas. - Ela olhava para mim, ainda com os olhos cheio d'água.- Os meus pais não me deixaram ter você, eles eram ricos e não queriam a sua filha de 16 anos tivesse um bebê e estragar a imagem deles como uns bons pais, então queriam que eu abortasse você querida. Para os ricos o status e a imagem deles é a coisa que eles mais zelam. Mas eu queria ter você querida, e então eu menti para eles dizendo que iria viajar pelo mundo. Mas eu fiquei na casa de teu pai, e por fim tive você. Mas eu não poderia guardar esse segredo por muito tempo, e agradeci a Deus por seus avós morarem em um lugar tão distante da cidade grande e seu pai ter sacrificado a faculdade para voltar a fazenda. E meu pai era um homem muito ambicioso e maldoso, e tive medo que se um dia ele soubesse de você a matasse. - Lágrimas escorriam em seu rosto. - Então eu voltei para casa e fiz um acordo com meu pai, que eu nunca mais veria você e a imagem dele estaria intacta, e eu gerenciaria a sua empresa, mas ele nunca, se quer encostaria em um fio de cabelo seu.
Não sabia o que dizer, não sabia se acreditava nela ou não, vim aqui só me deixou ainda mais confusa. Mas ela não tinha respondido o porque que ela estava aqui.
– Então..por quê esta aqui sendo que o acordo era não me ver?
–Meu pai faleceu a um ano atrás. E não sabia se você queria me conhecer, mas até que soube do acidente que aconteceu, eu vim imediatamente, estava preocupada se você tinha ido..-Sabia que ela falava do acidente que meu pai sofreu.- E que nunca tive a chance de te conhecer. De conhecer a minha própria filha..- Ela pegava a minha mão, e a cariciava gentilmente. - E olha só. -Ela sorria.- Você está aqui, viva, e falando comigo.- Ela tirava a sua mão rápido o bastante. - Mas continuo preocupada.
–Com oquê? - Estranhava ainda o contato que ela teve comigo.
– Com sua avó. Ela já está numa idade avançada, e ela precisa de um descanso. Eu te convidei aqui mais para te fazer uma proposta. Eu quero que você more comigo pelo menos um ano, e então você estará livre de mim se quiser, e ainda pagarei a sua faculdade, sei que Rose não tem o dinheiro suficiente para pagar.
– Não sei...ainda é muita coisa para processar...- Ela me interrompia.
– Não precisa me dar a resposta agora, eu espero. Mas tem que se decidir daqui a dois meses , pois é quando as suas aulas voltam. -Ela sorria com expectativa.
– Esta bem..
–Bem, agora que tal um cafezinho?
Se passara duas semanas desde a proposta de Beatriz, e desde as revelações que me fizera. Não tive coragem em dizer ainda para minha avó sobre Beatriz, tinha um pouco de medo de como ela agiria se eu falasse dela. Rose não mostrou muito o que sentia por aquela mulher. E também eu penso que minha avó não saiba da história da minha suposta mãe e é muito difícil ainda em ver ela como minha mãe, ou acreditar naquela história toda. Afundada em minha cama, novamente. Ficava pensando, em tudo que aconteceu em tão pouco tempo e era muito difícil para processar tudo ainda, pois nossa, meu pai morreu em um terrível acidente que eu poderia ter evitado, minha mãe aparecerá depois de 17 anos e ainda me veio com uma bela história, que meu pai abandonou a faculdade por minha causa e que já desejavam minha morte antes mesmo de eu nascer, e ainda eram os meus avós!
– Por que isso tinha que acontecer comigo, por quê Deus, por quê? - Gritava em meu quarto para mim mesma. Como se uma voz do além iria me dizer o por quê.
– Não fique assim querida...- Praticamente dava um pulo em minha cama, surpresa com a voz, que vinha de trás da porta, e que logo minha avó aparecera, com um semblante triste.
–Oh...vó…- Relaxava agora, sabendo que a voz era da minha vó e não do além. - Você me assustou, mas o que está fazendo aqui? -Voltava a sentar na cama.
– Vim te trazer um pedaço de bolo...você ainda não desceu para comer, então fiquei preocupada. -Minha avó se aproximava, deixando um prato de bolo de chocolate no criado-mudo. Tinha me esquecido de comer, tenho tantas coisas para pensar.
– Obrigada vó...-Pegava o prato, e comia o bolo, com grande satisfação. Ah! Que bolo delicioso!
– Mel queria falar sobre Beatriz, aquela mulher que apareceu no cemitério. - Ficava em estado de choque. O quê? O bolo parecia entalar em minha garganta, fazendo me engasgar. Rose imediatamente veio ao meu socorro, batendo em minhas costas.
O bolo já desentalado, deixando Rose mais tranquila, mas não a mim, ela tinha me pego de surpresa e isso só me deixava em pânico, não esperava a minha avó falar de Beatriz. Rose sentava ao meu lado, pegando a minha mão, e fazia carinhos nela, como que se tivesse querendo me acalmar, mas que surtiu efeito ao contrário, só conseguiu me deixar com mais pânico.
– Querida, eu sei que deve estar estranhando eu vim falar aqui sobre aquela mulher...mas...eu penso que você deva saber a verdade. - Ela me olhava com cautela, querendo ver alguma hesitação em mim. E por fim falava.
– Aquela mulher estava falando a verdade sobre ser sua mãe. Ainda não entendo muito o por que dela ter te deixado, como a seu pai também, ela não explicou muita coisa para mim, mas sei que foi por motivo nobre. Então Mel...- Ela acariciava a minha bochecha carinhosamente, querendo que eu a olhasse.
– Não a odeie, o ódio faz coisas horríveis conosco. - Ela dizia firme, com o olhar de alerta. Mas me surpreendia e a surpreendia quando começava a chorar.
Ela me abraçava enquanto fazia carinhos em minhas costas, me consolando.
–Oh...Mel, não chore, eu sei, você deve estar confusa agora com a revelação, mas...eu precisava contar.-Olhava para minha avó, que parecia que iria chorar comigo, mas sei que estava se segurando, como sempre fizera desde a morte de meu pai. Não aguentava mais esse sofrimento todo, preciso dizer sobre a proposta.
–Vó. Obrigada, por tudo, mas, preciso lhe dizer uma coisa.-Falava insegura, limpando as minhas lágrimas de alívio.
–Sim querida..-Rose falava num tom baixo e solene, ainda parecia me consolar. Eu amo ela e precisava fazer isso.
– Eu sabia que Beatriz era a minha mãe, eu me encontrei com ela a duas semanas atrás.- Parava com cautela, para a minha avó entender com calma. Sabendo que ela estava surpresa, não demorava para prosseguir.- Calma, ela só quis dizer toda a verdade.
–Ah..mas, por quê não me disse antes?
–Estava com medo da sua reação.-Ela ria, mas logo olhava para mim, acariciando o meu rosto.
–Oh querida, parece que somos duas, eu também estava preocupada quando revelasse a verdade. Mas olha só, parece que você já sabia. - Ela sorria e me abraçava, como se fosse para conforta-la também de toda insegurança que ela teve.
–Vó, tem mais uma coisa também..-O pânico me dominava novamente, mas preciso falar para ela.
–O quê querida? - Ela continuava com o abraço.
–Ela quer me conhecer mais, se aproximar mais de mim.
–Ah, mas isso é bom, não? -Ela me olhava, ainda me confortando com a ideia.
–Sim, é, mas...ela quer que eu venha morar com ela, por um ano.- O rosto de Rose mudava de semblante, como se fosse uma mistura de choque, confusão e por fim medo.
–Mel, isso já não posso permitir.-Ela falava num tom de voz duro, como dissesse para mim que a conversa encerrasse por ali.
–Mas...ela vai ainda pagar a minha faculdade Vó, eu sei que não temos dinheiro.
–Nada de mais. Eu volto a trabalhar e tenho alguns investimentos.
–Vó não vou deixar você trabalhar, não é grande coisa vó. Eu estarei aqui todo final de semana, prometo a você! Mas não posso deixar que eu seja um fardo para você vó..não posso fazer isso! Fora que você já sabia que meu sonho era ir para a cidade grande. -Rose parecia querer chorar, mas as lágrimas caíam contra a sua vontade. Ficava imóvel, as lágrimas de Rose me pegava de surpresa.
–Mel, não posso perder você, eu já perdi meu filho, não aguentaria mais outra perda Mel. Não posso deixar você ir. -Com isso ela se levantava e andava para direção a porta, mas antes de fechá-la ela parava e parecia limpar agora as suas lágrimas.
– Não se esqueça de comer seu bolo querida. - E com isso ela ia embora, me deixando confusa.
Estando imóvel em minha cama, não sabendo o que fazer, e menos ainda em que pensar. Ainda chocada com tudo que aconteceu a poucos minutos atrás. Eu estava pronta para tudo, mas não ver minha vó chorar, nunca tinha visto minha avó chorar. Foi algo inesperado.
Sentada em minha cama, ainda olhando para a porta que Rose tinha passado. Esperando que ela a abrisse e dissesse que esta tudo bem, que eu estava simplesmente em um terrível sonho. Instintamente belisco o meu braço, e a dor que sinto diz que é tudo real. Eu deveria estar com ela agora, confortando ela, dizendo que ficarei ao lado dela e que ela nem precisaria trabalhar eu trabalharia e sustentaria nós duas. Mas sei que isso não é possível, nossas condições financeiras não são boas, eu estava fazendo curso e ainda terminando os meus estudos, e sem bolsa para nenhuma faculdade e além das outras despesas que existiam. Estava planejando tudo, sem eu estar aqui, tudo ficaria melhor, as despesas diminuiriam e nada ficaria nas costas da minha avó, trabalharia para pagar os restos das despesas e ainda conseguiria continuar em meu curso, pois sei que Beatriz não iria querer que eu parasse o meu curso, pois pelo que parece, ela se interessa pelos meus estudos. Decido no final, que um bom e longo banho me faria bem.
...****************...
Ao sair do banho, com forças renovadas, decido ir falar com minha avó, não posso fugir desse assunto. Deixando de lado meus cabelos ainda úmidos pelo banho, desço as escadas indo para a sala de estar, onde minha avó se acomodava em sua poltrona grande e bege, enquanto parecia perdida em seus pensamentos.
–Vó..? -Digo baixinho, para não assusta-la, enquanto ia me aproximando mais dela.
–Sim..?
–Quero conversar com você.-Digo, enquanto me sentava no sofá que ficava em frente a sua poltrona.
–Mel, já sei o que quer conversar, mas a resposta ainda continua sendo não. -Dizia ela depois de um longo suspiro, enquanto ela me olhava, com os olhos tristes e ainda úmidos pelas suas lágrimas.
–Esta bem..- Desistia, após ver aqueles olhos tristes, meu coração se apertava. Me levantava na poltrona, e me ajoelhava em sua frente, abraçando a sua cintura.
–Vó, só quero o melhor para você, e achei que indo embora tudo ficaria melhor.- Rose agora acariciava os meus cabelos.
–Mel, como acha que seria melhor se você fosse?
–Eu sei que nós não estamos bem financeiramente. E eu não deixo você chorar e sei que isso esta fazendo mal a senhora. E comigo fora tudo ia ser diferente.
–Como iria ser diferente querida? - Ela dizia suavemente, continuando a acariciar os meus cabelos.
– Você finalmente tiraria o seu descanso e não precisaria se preocupar com mais nada. Eu pagaria suas contas e continuaria fazendo o meu curso. E não precisaria se preocupar com a faculdade. Vó, você merece o seu descanso, merece se recuperar de toda tristeza e de todos os problemas. Sei que não está sendo fácil para você, sei que não quer vender esta casa e se mudar por uma pequena. Você morou aqui por quase toda..-Parava, Rose chorava e não sabia o por que direito chorava, mas agora eu sei que posso conforta-la.
Sentava no braço da poltrona, e abraçava Rose, a consolando de toda tristeza e estresse que ela acabara de passar.
–Agora é minha vez de cuidar da senhora..- Dizia baixinho e beijava o topo de sua cabeça. Agora Rose parava de chorar e me olhava, como se estivesse mais aliviada, que tinha tirado o peso que estava em seus ombros.
– Oh...querida, obrigada.-Ela dizia enquanto abria um sorriso. - Mas ainda temos que pensar nisso, tudo bem? - Sorria para ela.
–Tudo bem!- Dizia animada, sei que consegui convencer a minha avó, mas ela ainda estava hesitante com a ideia. E por fim ficamos mais um tempo abraçadas.
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Uma semana se passou desde a conversa que Rose e eu tivemos sobre a proposta. E parecia que a cada a dia ela se convencia e se conformava com a ideia. Pois no nosso último jantar, ela disse que seria bom se aproximar da Beatriz; E até disse como era diferente lá fora, lá na cidade grande. Até eu fiquei animada em conhecer. Estando em meu quarto, e finalmente, sorrindo, me permitindo a sonhar um pouco. Em como seria legal conhecer a cidade grande, eu sonhava em viajar e conhecer todos os países possíveis, e que agora poderia ser realizado o meu sonho.
O celular tocava no criado-mudo, me despertando de meus devaneios. Era Ben. Pegava o celular hesitante. Não sabia se atendia ou não, mas logo, logo, precisava conversar com ele.
–Mel?-Rose falava atrás da porta.
–Sim?- Outra hora.Penso quando desligo o celular.
–Bem..queria falar com você. Acho que precisa da resposta.- Ela aparecia e logo se sentava em minha cama, olhando para mim.
–É..-Falava, tentando conter a animação.
– Bem, a resposta é sim.
–Sério? Sério mesmo vó? - Falava com uma certa surpresa. Não acreditando no que tinha acabado de ouvir.
–É. Mas vamos precisa nos organizar aqui. Pois eu vou cobrar todo final de semana você me visitar. E ainda mais, quero que pelo menos me ligue uma vez por semana. Não estou pedindo muita coisa, mas..- Eu abraçava ela antes que ela terminasse a frase.
–Obrigada Vó! Não se preocupe, agora poderá descansar. Eu cuidarei de você. Você merece. - Eu sorria e olhava para o rosto dela que sorria também.
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Faltava apenas dois dias para ir para casa de Beatriz, olhava para as minhas malas já prontas. Deixando só algumas roupas no armário, pois sabia que voltaria aqui nos finais de semana. Mas ainda sabia que faltava, faltava falar com Ben. Andava de um lado e para o outro em meu quarto, não sabendo como iria fazer. Não podia simplesmente ir na casa dele e falar "Tchau Ben! Vou me mudar da aqui a dois dias! E aquela pessoa que quis me encontrar no Star Coffe era a minha mãe! Que máximo não?'' Suspirava com esse pensamento bizarro e sem coração. Decido finalmente ir e falar com Rose para saber o que eu poderia fazer, quando o celular toca, e vejo o rosto de Ben na tela do meu celular. É agora ou nunca! Pego o meu celular e atendo a chamada de Ben.
–Até que fim!-Dizia Ben que parecia animado.
–Oi para você também.- Dizia, estando nervosa. Precisava dizer a ele.
–Mel, eu sei que tem me evitado todo esse tempo, mas, eu queria você de volta, queria falar com você, confortar você, chorar com você, mas com você me evitando não tem como.
–E-eu sei, mas Ben...-Ele me interrompia.
–Mel, sei que você sabe que eu gosto de você, não escondo isso de ninguém e hoje, desde a muito tempo, tomei coragem para te ligar e finalmente te convidar para sair. Mas não como amigos. Sei que isso é repentino, mas...Mel, quer sair comigo?
Ficava muda no telefone. Surpresa com aquele convite inesperado, sei que era errado o que iria fazer, mas eu precisava dizer para ele.
–Sim..-Dizia baixinho, eu precisava fazer daquele encontro como a nossa despedida. Um suspiro de alívio escutava na linha.
–Legal!-Dava para ver como ele estava animado e ao mesmo tempo incrédulo.-Então, pode ser amanhã a trade?
–Claro!
–Ok! Te pego a manhã as 4. Até!- Ele desligava antes mesmo de me despedir dele.
É....amanhã vai ser um longo dia.
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