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Uma Velha Paixão

Prólogo

    Era apenas mais um dia de aula para alguns, mas pra mim, era mais um dia que eu poderia passar pelo menos alguns minutos observando Nathan, minha paixão, desde que sou amiga de sua irmã, ou seja, a 5 anos.

Eu sou platonicamente apaixonada por ele desde que estava na quinta série e ele, na sétima. Antes mesmo de eu saber que era possível Nathan ocupou meu coração.

 

   Sai de casa feliz, mesmo sendo apenas 6:30 da manhã. Meu caminho até a escola durou poucos minutos. Assim que cheguei, me sentei próxima ao portão, como sempre e fiquei esperando minha amiga, que às vezes chegava acompanhada de seu irmão.

   Eu estava tão contente por já estar no ensino médio e por finalmente poder ver Nathan todos os dias, também na escola, como no fundamental.

   Mantive meu olhar nas pessoas que entravam nada felizes para estudar. Até ver os cabelos castanhos e o semblante sério de Nathan, ao lado de Bianca. Eu não podia evitar, então o observei a cada passo até que o moreno estivesse perto o suficiente para notar.

Ele caminhou até seus amigos e vi Bianca parar em minha frente.

— Bom dia. — falou desanimada.

— Bom dia, Bia. — trouxe meu olhar para o seu rosto que parecia triste. — o que houve? — questiono preocupada, ela suspira e se senta ao meu lado.

— Nem sei como te contar. — disse em um tom baixo, enquanto passava os dedos no pingente de seu colar.

— Já vi que é sério.

— É e eu estou tão triste com isso, mas não posso fazer nada pra mudar. — ela lamentou.

— Do que você está falando? — indago curiosa e ao mesmo tempo, apreensiva.

— Vou ter que me mudar. — suspirou. Como assim? — A empresa que meu pai trabalha vai abrir uma filial em Florianópolis e eles mandaram meu pai pra comandar lá.

— Nossa... isso é... bom. — disse incerta.

— Sim, eu sei. Eu quero ficar feliz pelo meu pai, mas não quero ir embora. — Bianca diz e vejo a primeira lágrima descer em seu rosto, sendo seguida por outras.

— Nem eu. — me inclino em sua direção e a abraço. — Logo agora que a gente começou o ensino médio juntas. — meus olhos lacrimejam. — Quando você vai?

— Acho que daqui a um mês.

  Um mês era pouquíssimo tempo. Senti um nó na garganta e observei minha amiga que parecia desfrutar dos mesmos sentimentos que eu. Nós éramos melhores amigas, estávamos quase sempre na companhia uma da outra, como iriamos ficar tão longe assim? E Nathan? Como eu poderia ficar sem vê-lo?

— Certo. — sequei algumas lágrimas que insistiram em cair. — Então não podemos ficar nos lamentando, vamos aproveitar, até lá vamos fazer muitas coisas juntas. — sorrimos.

                            ◇ ◇ ◇

     1 mês havia se passado desde que Bianca me contou que ela e sua família iriam embora e hoje era o dia da mudança deles.

    Nesses últimos 30 dias, tentei a todo custo esquecer dos sentimentos que tinha por Nathan ou ao menos evitá-los, ocupando minha mente com outras coisas, mas era tão difícil. Eu sabia que se conseguisse essa complicada tarefa seria melhor, pois não sofreria tanto com sua partida. Mas pelo jeito teria que sofrer com esse sentimento para enfim deixá-lo desaparecer.

   A família Barone já estava com tudo pronto para ir para o aeroporto. Eu já havia chorado duas vezes e estava prestes a chorar mais uma.

— Isa, se você chorar, eu choro também. — Bianca falou com os olhos cheios de lágrimas e eu lhe abracei, caindo no choro novamente.

— Eu vou sentir tanto a sua falta. — falei com a voz falha para minha amiga e olhei para Nathan desejando guardar cada detalhe dele comigo. Eu queria tanto lhe dar um abraço de despedida, mas seria estranho, nós nunca sequer fomos amigos, então me contive.

— Eu também. Promete me ligar e mandar mensagem sempre que puder? — assenti. — Eu te amo! — seus braços me apertaram forte, quase me deixando sem ar.

— Eu também te amo, apesar de tudo. — brinquei e ela deu um leve riso.

— Meninas, temos que ir. — a mãe de Bianca avisou.

— Não ouse ocupar meu lugar de melhor amiga na sua vida. — alertou e nos afastamos.

    Bianca entrou no carro junto com sua família que logo partiu, levando minha melhor amiga e minha paixão platônica que agora se tornará muito mais platônica.

1.

...Isabella Beckhan ...

      Só Deus sabia o quanto eu estava esperando pelo final de semana. Muitas pessoas poderiam pensar que eu estava ansiosa para ir à alguma festa ou fazer algo super divertido, mas não. Eu apenas estava exausta da semana de trabalho que tive e queria dormir por todos os cantos do meu apartamento. E assim eu fiz durante boa parte do meu sábado, até meu celular começar a tocar insistentemente.

   Resmungo e estico meu braço para pegar o aparelho.

— Alô? — atendo sem ver quem era.

— Isaaaa! — reconheci a voz de Bianca em um tom empolgado.

— Bia! Que animação é essa? Ganhou na loteria?

— Não, mas você ganhou.

— Como assim? — pergunto confusa.

— O que está fazendo?

— Estava dormindo. — me sento no sofá e passo a mão no cabelo na tentativa de arrumar alguns fios.

— Acabo de melhorar seu dia. Cheguei a pouco no aeroporto. Então, se você me ama, poderia levantar sua bunda gorda do sofá e vim nos buscar aqui?

— Bianca do céu, como assim você está em São Paulo?! — digo surpresa. — Por que não me avisou que viria com antecedência?

— Queria te fazer uma surpresa batendo na sua porta, mas perdi seu endereço. — fala parecendo decepcionada.

— Que ótima amiga. — rio ao perceber que Bianca continua atrapalhada. — Vou tentar chegar em meia hora, ok?

— Tabom, estamos te esperando. Beijos.

    Assim que finalizei a ligação, corri para o quarto e coloquei um moletom por cima da blusa do meu pijama e vesti uma legging, calçando o primeiro tênis que vi pela frente. Peguei a chave do carro, meu celular e sai do meu apartamento.

    No meio do caminho até o aeroporto me lembrei de algo que Bia disse "Estamos te esperando". Como assim, estamos? Com quem ela estaria? Namorado? Não, ela me contaria se tivesse arranjado um. Seus pais odiavam viajar de avião, então era pouco provável.

Seria alguma amiga? Não...Por que ela viria com uma amiga me visitar? Quem poderia ser...ah, não, o Nathan? Não, não podia ser ele.

Eu não saberia nem como reagir caso o visse. Ta que aquele sentimento que eu sentia nem existe mais, mas seria a primeira vez que eu o veria sem sentir nada.

    Faltando poucos minutos para que eu chegasse no aeroporto, liguei para Bia e pedi que eles ficassem do lado de fora, para que fosse mais fácil de encontrá-los.

Mesmo depois de 6 anos sem vê-la foi questão de segundos para que eu reconhecesse a cabeleira castanha de Bianca no meio daquele monte de gente indo pra lá e pra cá.

Encostei o carro e desci, correndo para lhe abraçar.

— Que saudade! Jamais ouse ficar tanto tempo sem vir me ver. — falei, em meio a um abraço apertado.

— Digo o mesmo a você.

   Quando nos separamos, pude enfim confirmar minha suspeita. Era ele. Depois de anos ele havia mudado tanto e ao mesmo tempo não havia mudado nada. Continuava lindo, só que agora mais amadurecido, másculo.

— Oi, Isabella. — ele sorriu pra mim.

— Na...than, oi. — merda, caguejei.

Eu não sabia se deveria abraçá-lo, comprimentá-lo com um aperto de mão ou se só simplesmente dar-lhe um "oi" era suficiente. Ele também parecia um pouco em dúvida, mas mesmo assim se aproximou e me deu um sutil e breve abraço que me permitiu sentir seu perfume amadeirado.

— Você está ainda mais bonita pessoalmente! Não acha Nathan? — Bianca indagou ao irmão e eu morri de vergonha, e isso deve ter ficado claro no meu rosto.

— É...está sim. — o moreno diz após me olhar de cima a baixo.

— Obrigada! — agradeci ainda envergonhada. — Vamos pra casa?

— Bom, eu vou ficar em um hotel, por enquanto. Não quero incomodar. — Nathan explica e eu nego imediatamente.

— Claro que não, eu moro sozinha, tem espaço para vocês dois.

— Eu falei para ele que você não se importaria. — Bianca disse de uma forma entediada para o irmão.

— De forma alguma. — confirmo. — Não tem necessidade de você ficar em um hotel e gastar dinheiro.

— Viu? — Bianca da uma cutucada no ombro do irmão. — Agora podemos ir? Estou cansada da viagem.

— Vamos!

    Nathan acaba concordando em ficar no meu apartamento e seguimos para o carro, guardamos a bagagem e entramos.

   Durante o caminho eles vieram me contando o porquê da viagem e o que pretendiam. Disseram que até então vieram para fazer uma visita as pessoas que haviam "deixado" aqui em São Paulo e que caso encontrassem um lugar legal para morar ficariam por mais um tempo. Isso de certa forma me animou, seria ótimo ter minha melhor amiga por perto novamente.

2.

...Isabella Beckhan...

   Assim que chegamos no meu apartamento Bia e Nathan foram organizar suas coisas e eu fiquei na sala trocando mensagens com Mel, uma amiga.

— Finalmente acabei — Bianca disse se jogando do meu lado no sofá — Estou morta!

— Nem me fale, também estou.

— De que? — perguntou virando a cabeça para me olhar.

— Eu tenho trabalhado igual louca, esse final de semana está sendo o meu primeiro de folga em duas semanas.

Eu adorava meu emprego, mas estava sendo exaustivo no último mês, por conta do fim do ano.

— Podíamos fazer algo amanhã pra você relaxar. — ela sugere com um sorriso nos lábios. — O que acha?

— Eu com certeza passaria meu dia dormindo e vendo séries, mas já que você está aqui eu topo. — digo e Bianca bate palmas em comemoração.

— Então, o que tem de bom pra fazer em Sampa?

— Amiga, você vem perguntar pra mim? — dou risada. — Acabei de dizer que passaria meu dia dormindo amanhã. Não tenho muita vida social.

E era verdade, raramente eu saia para algum lugar que não fosse a casa dos meus pais, dos meus amigos ou ao shopping que era onde eu trabalhava.

— Esperava mais de você. — Bia diz balançando a cabeça negativamente e pega o celular, acredito que para pesquisar algo. Logo depois, Nathan entra na sala. — Nathan, me poupe de fazer uma pesquisa e me diga algum lugar legal para ir no Domingo, se você souber.

  Encaro o moreno somente de bermuda e com os cabelos molhados e quase me arrependo de ter dito para que ele ficasse aqui, seria uma tortura ficar vendo esse homem pra lá e pra cá desse jeito.

— Não faço ideia, quando a gente morava aqui eu não frequentava esse tipo de lugar. — ele responde e veste a camisa que estava pendurada em seu ombro, fazendo com que eu finalmente parasse de secar seu abdômen.

— Tá, ok. Então me ajudem a procurar ou perguntem pra alguém. — Bianca voltou a atenção para o celular e eu desvio o olhar de Nathan.

   Volto a conversar com Mel e pergunto se ela sabia de algum lugar, já que ela saia muito mais que eu. E não demora para a mesma me mandar o nome de um local.

— Olha, minha amiga me mandou um lugar. É meio que um bar/restaurante. Ela disse que hoje rola até musica ao vivo.

— Qual é o nome?

— Strike's.

— Meu amigo me mandou esse também. — Nathan diz e mostra o celular para a irmã. — Parece ser um lugar legal.

— Então vamos! — Bianca falou animada. Ué, cadê o cansaço de minutos atrás? — Chamem seus amigos e vamos hoje!

— Mas não era amanhã?

— Amanhã a gente descansa, assistindo séries e tudo que você quiser. — ela levanta e olha pra mim e Nathan. — Andem! Vão se arrumar.

   Sustentei meu olhar nela, até perceber que ela falava sério. Resmungo e me levanto seguindo para o quarto.

  Abri meu guarda roupa e não vi muitas opções do que vestir, mas depois de muito tempo acabei escolhendo um vestido preto e um salto pequeno da mesma cor. Fui tomar um banho rápido, antes mandando mensagem para Mel e Caíque os chamando para ir. Ambos eram meus amigos do ensino médio e Mel trabalhava comigo na livraria.

  Quando enfim estava pronta, fui para a sala, vendo que Bianca e Nathan já estavam prontos.

— Que linda! — Bianca me elogiou e eu fiquei sem graça, pois seu comentário fez Nathan me olhar da cabeça aos pés para conferir.

— Obrigado. Você tambem está. — sorri. — Vamos? — perguntei pegando minhas chaves. — Vou pegar a Mel na casa dela, é caminho.

— Ok, vamos. — Bianca diz e Nathan apenas assente, se encaminhando para a porta com os olhos vidrados no celular.

   Descemos para a garagem e entramos no carro. Bianca foi para o banco de trás, então Nathan se sentou na frente.

   Dirigi o curto caminho até a casa de Mel, contando sobre como havia sido meus anos no ensino médio, após a partida dos irmãos. Enquanto Nathan, permanecia no celular, a conversa devia estar super entediante pra ele.

  Encosto o carro em frente a residência de Melissa, ao mesmo tempo em que ela sai de casa. Destravo a porta e Bianca abre para que ela entre.

— Oi, gente.

— Oi. — respondemos juntos. Eu coloco o endereço do bar no gps e volto a dirigir.

— Mel, essa é a Bianca e o Nathan, irmão dela. E Bianca, Nathan, essa é a Melissa. — os apresentei.

— Ah, o Nathan! — Mel exclamou, talvez lembrando que eu já havia dito ser apaixonada por ele. A olho pelo retrovisor a repreendendo e ela disfarça. — E a Bianca! Isa sempre me falou muito de vocês. É bom finalmente conhecê -los.

— O mesmo. — Bianca sorriu. — Vocês estudaram juntas?

— Sim, pouco tempo depois que você foi embora nós nos aproximamos. — expliquei.

— Ah, talvez lembre dela. — Bia diz pensativa. — Você era de outra turma, não era?

— Sim, mas depois me transferiram para a da Isa. — Bianca assente compreendendo.

  Nós engatamos uma conversa sobre assuntos aleatórios e vez ou outra Nathan falava algo. Não sei se ele estava se sentindo deslocado ou se simplesmente não queria falar.

— Mas então Mel, você namora? Não que eu seja lésbica. — Bianca explicou rapidamente e riu.

— Ah, eu to enrolada. — contou, mexendo nos cabelos.

— Que pena, queria tanto alguém para namorar com meu irmão, pra ver se ele para de encher o meu saco. — ela resmunga.

— Eu estou aqui, lembra? — Nathan pronuncia e se vira para olhar sua irmã.

— Melhor ainda, quem sabe assim você se toca. — minha amiga dá um sorriso falso.

— A Isa ta solteira, né? — Mel fala e eu arregalo os olhos.

— Chegamos! — desconverso, estacionando o carro e saio do mesmo ouvindo Mel rir.

    Não que eu não estivesse solteira, eu estava, a muito tempo por sinal, mas não queria estar sendo "jogada" para alguém, principalmente para o Nathan.

    Assim que entramos no estabelecimento pude ver Caíque em uma mesa com Paulo, meu vizinho. Estranhei mas seguimos até lá.

— Oi! — os comprimentei animada.

— Oi, meu amor. — Caíque falou e se levantou para me abraçar, como sempre fazia. Nós tinhamos uma relação muito carinhosa, mas nunca tivemos nada, ele é como um irmão pra mim.

Comprimentei Paulo e pude constatar que ele era o amigo de Nathan. Esse mundo é realmente pequeno.

    Nos sentamos e fizemos nossos pedidos.

— O que vocês vão fazer na virada do ano? Alguém já tem planos? — Caíque nos questiona.

— Não tenho, talvez passe em casa mesmo. — respondo e o resto do pessoal também nega.

— Estava pensando em ir para a praia, se vocês se animarem pra ir, tenho um lugar pra gente ficar. — Caíque nos olha esperando uma resposta.

— Cara, nem te conheço e já gostei de você, eu topo. — Bianca diz. — A Isa também vai, vai todo mundo. — ela decreta.

    Nossos pedidos chegam e ficamos nos organizando sobre quando iriamos e qual horário era melhor para sairmos. 

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