Narração: Leandra
Na estrada a caminho de Campinas, eu ia repassando tudo o que tinha acontecido na competição de hipismo, me custava a cair a ficha de que eu havia ganho a competição, ainda mais contando com a qualidade dos demais competidores, olhei para o monitor no painel e vi meu cavalo tranquilo no compartimento dele, Ventania, meu fiel escudeiro e parceiro, primeiro cavalo nascido no meu haras e que eu não vendo por dinheiro algum, ao meu lado Frederico, meu namorado, ia mexendo no celular até que o meu aparelho tocou, era martina, minha melhor amiga e irmã de alma. Sob o olhar de Frederico atendi a ligação.
— Fala Polaca!
A voz dela logo tomou conta dos alto-falantes
— Oi Preta! Falta muito para vocês chegarem?
— Daqui a algumas horas, não sei bem quantas.
— Não vejo a hora de você chegar, mas nada de correr na estrada viu?
— Até parece que tu não sabe que eu não sou de correr, ainda mais quando estou com o Ventania junto comigo. — Falei rindo
A risada dela ecoou.
— Saber eu sei, mas... deixa pra lá, você vai direto para o seu haras né?
Eu afirmei, trocamos mais algumas palavras e desliguei, nós sempre nos reuniamos no meu haras, eu, ela e mais alguns amigos, e isso normalmente era motivo de ciúme para o Frederico. E falando nele, poucos segundos depois que a ligação havia encerrado ele perguntou.
— Porque você está tão sorridente? Falar com essa daí lhe faz tão bem?
Eu segui olhando para o asfalto em silêncio, ele repetiu a pergunta e eu novamente fiquei em silêncio.
— Sua língua ficou em São Paulo foi? — Disse ele entre os dentes
O Ventania soltou um relincho estridente e eu dei uma risadinha.
— Quando que tu vais deixar de ser tão ciumento? Eu namoro contigo a tempo suficiente para que tu saibas que ela é uma irmã para mim e que sim ela me faz bem e que tu és o único homem no qual dorme na minha cama, então se tu tens alguma coisa contra a minha amizade com ela ou com qualquer outra pessoa, larga fora da minha vida.
Ele soltou uma bufada e eu voltei a falar.
— Tu sabes bem que ciúme para mim é falta de confiança no próprio taco, então tu pode parando com isso, pois eu jamais te trairia.
Ficamos em silêncio até que ele falou
— Eu confio no meu taco sim.
Estiquei a mão e peguei a dele. Nós namoramos a pouco mais de três anos e mesmo assim ele sempre acaba tendo algum motivo para ter alguma crise de ciúme, há quem diga que ele é obsessivo, eu posso estar errada mas não o vejo assim, embora ache o seu ciúme sim, um tanto exagerado, chegamos a brigar feio por causa de algumas dessas crises, mas nunca a ponto de estremecer o nosso relacionamento, tentando quebrar o clima estranho que ficou entre nós, puxei assunto sobre a competição.
— Eu queria ter ido melhor.
— Melhor? Você foi incrível! Cara, você ganhou a etapa.
— Mas eu estou em segundo lugar no ranking geral.
Ele estalou os lábios, continuamos falando sobre a competição até que tive um vislumbre do nome Guilherme na tela do celular, escantiei a ligação antes que o Frederico pudesse ver, não que eu não atendesse as ligações do Guilherme na frente dele, porém naquele momento eu nao estava disposta a vivenciar outro momento de ciúme do Frederico.
Narração: Leandra
Eu tamborilei os dedos no volante enquanto o asfalto ia passando, até que ele disse
— Você foi super bem, só se cobra demais.
— Eu, quero ganhar esse campeonato, eu sei que um mundial tá longe devido a patrocínios e tudo mais, mas eu quero ganhar.
Ele começou um discurso sobre o quanto eu havia sido boa naquela competição, o bom é que aquilo além de fazer o tempo da viagem passar mais rápido fez qualquer crise de ciúme ser esquecida (ou ao menos adiada).
Chegamos no haras, meus amigos vieram me receber, martina logo deu um pulo nos meus braços.
— Que saudade que eu estava!
Eu comecei a girar com ela e quando fiz ela aterrissar no chão, dei um beijo em sua testa e falei
— Queria tanto que tu tivesse ido comigo.
Ela deu de ombros, era complicado ela me acompanhar nessas competições a sua carreira na música estava engrenando e projetos estavam por vir e seria egoísmo demais da minha parte se eu a fizesse ir comigo. Fernando me deu uma chave de braço por trás e me roubando o chapéu falou.
— Achei que ia perder a minha funcionária.
Eu comecei a rir e ele logo me acompanhou, ele me soltou e fez um charme antes de me devolver o chapéu, assim que eu coloquei o acessório na cabeça novamente, vi que a Martina olhava para o lado tentando entender o que acontecia, assim que acompanhei o olhar dela me deparei com Frederico chutando a grama a ponto de arrancar tufos de grama e deixar belíssimos desníveis no gramado. O porque de tudo aquilo? Um ciúme completamente desnecessário já que Fernando era nada mais que um bom amigo. Envolvi o pescoço da Martina com o braço e falei
— Polaca! Como esses dias demoraram a passar.
— Mas deu para curtir?
— Bah, que nada, era do caminhão pra pista de treino e da pista pro caminhão, nada mais.
— Que pena.
— É mas essa é a vida que eu escolhi para mim, não é?
Ela deu um sorriso e eu dei um beijo no topo da sua cabeça, desci o Ventania do caminhão e junto com a Martina o levei para o pasto, iamos rindo e falando besteira até que ela falou.
— Preta, me responda uma coisa com sinceridade, sinceridade. — Disse ela enfatizando a segunda palavra sinceridade.
— Manda. — Falei enquanto abria a porteira.
— O seu namoro com o Frederico, tá indo bem?
— Está sim, por quê?
— Tem certeza?
— Tenho e se tu estás me perguntando isso por causa do que ele acabou de fazer na grama, pode deixar que irei me resolver com ele depois.
Ela me encarou e soltou um suspiro.
— Polaca, não precisa te preocupar com nada.
— Eu sei Preta, mas mesmo assim eu me preocupo, ele parecia enraivecido.
Acariciando o rosto dela falei
— Eu sei lidar com ele e com o ciúme dele.
— Mas aquilo não era um ciúme normal, ninguém chuta a grama daquela forma por causa de um ciúme qualquer.
O nervosismo tomava conta da voz dela.
Narração: Leandra
Tirei o cabresto do Ventania e falei enquanto ele entrava no pasto.
— Eu entendo todo o seu medo, mas é como eu já falei, eu me entendo com ele depois, só não irei fazer isso agora porque estou exausta de dirigir.
Assim que o Ventania se viu livre do cabresto ele galopou pelo pasto e logo em seguida se aproximou de mim, acariciando o meu rosto com o focinho.
— Bom descanso meu guri.
— Bom descanso para você também. – Relinchou ele.
Sim eu entendo os relinchos do meu cavalo, podem me chamar de doida, mas nós conversamos e muito, vocês ainda vão me ver tomando esporros e trocando conselhos com ele, mas isso deixemos para mais adiante. Com o Ventania solto no Potreiro joguei os apetrechos dele em volta do pescoço e passei o braço sobre os ombros da Polaca, ela me puxou para perto pelas costelas e eu sorri. Quando voltamos para a casa Guilherme havia chegado com a namorada.
— Leandra!!
— Fala guri!!
Ele me abraçou apertado, me deu um verdadeiro quebra costela que só ele sabe me dar.
— Como é que foi lá?
— Perdi.
Ele me afastou e me encarou profundamente.
— Tu estás mentindo.
Eu ri alto e falei
— Eu me esqueço não consigo mentir pra ti, é óbvio que ganhei.
— Opa!! Então isso pede um bom churrasco e cerveja. – Disse ele passando o braço sobre os meus ombros e me fazendo girar junto com ele.
— Churrasco? Oba! Mas eu asso.
— Nós assamos! — corrigiu ele.
Pietra a namorada dele, que nunca foi com a minha cara, torceu o nariz.
— Pi! Vem cá!
Ela se aproximou me analisando de cima a baixo.
— Pi, essa é a Leandra, vocês já se conhecem eu acho.
— Já. — Respondeu ela tentando disfarçar o nojo
— Oi, tudo bem contigo?
— Tudo.
“Não precisa ter ciúme! Não quero roubar o teu namorado" — pensei olhando nos olhos dela.
— Amor, eu vou retocar a maquiagem, ok? .
— Ok. — respondeu ele
Ela beijou ele de uma maneira que me encheu de borboletas no estomago e com o perfeito intuito de demonstrar que ele era namorado dela.
— Bem vamos cuidar da churrasqueira?
— Vamos.
— Tu tá sujo de batom.
— Ah, desculpa. – Disse ele sem jeito
— Não que nada.
Ele limpou o batom com a manga da camiseta.
— Ainda bem que a tua camiseta é escura, senão ia ficar uma bela mancha de batom.
Ele riu.
— Enquanto tu acendes o fogo eu tempero as carnes. – Falei tirando os pacotes de carne do freezer
— Beleza, mas tu vai ter que me contar como foi lá.
Enquanto conversávamos organizando as carnes o Frederico passou carregando as bebidas e nos olhando firmemente.
— Acho que tem alguém com ciúme. — Brincou Guilherme.
— Hihi, normal, ciúme ficou a Pietra quando viu a gente conversando.
— Desculpa o jeito dela, ela age meio estranha quando eu estou perto de alguma mulher.
Ainda mais se essa mulher sou eu. - Pensei.
— Que nada, só espero não dar motivo pra vocês brigarem, não quero ser o pivô da separação de ninguém, muito menos do meu melhor amigo.
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