Arthur Davis – Alguns meses antes
— O treinador pegou pesado com você hoje, Arthur — comentou Lucas, enquanto eu terminava de guardar minhas coisas para ir embora.
Ele estava certo. O treinador estendeu o treino por causa do meu atraso logo cedo. Dormi demais e cheguei depois da hora, então fui "castigado": passei a tarde na arquibancada, assistindo o resto do time jogar hóquei, sem poder entrar.
Ficar ali, parado, vendo o jogo sem participar, é uma tortura. Principalmente quando você é o melhor do time.
— Eu mereci. O treinador quer deixar claro pra todo mundo que não tolera atraso — respondi, jogando a mochila no ombro.
Lucas assentiu e veio atrás de mim até o estacionamento do colégio.
— Eu e os caras vamos a um restaurante... só tem mulher bonita. Vai colar?
Dei um sorriso torto, meio sem querer aceitar.
— Depois vamos pra casa do Willians. Vai ter festa, os pais dele viajaram.
— Não posso. Tenho que chegar cedo em casa... e não posso mais perder treino. — E, pra ser sincero, meus pais detestam quando eu durmo fora.
Mesmo assim, não demorou muito para eu mudar de ideia. Chegamos ao restaurante, um lugar não muito diferente dos que eu costumo frequentar. Entrei com os caras e sentamos numa mesa enorme, cheia de jogadores do time.
— Com licença, aqui estão os cardápios — disse uma garçonete com um uniforme bem chamativo.
— Arthur, aqui é o paraíso — Lucas sussurrou no meu ouvido enquanto a mulher distribuía os cardápios.
Foi então que ela chegou.
Cabelos cacheados, negros, olhos castanhos grandes, corpo curvilíneo... Ela se aproximou com uma bandeja cheia de cervejas.
— Quantos anos vocês têm? — perguntou, com firmeza, sem se incomodar com os olhares maliciosos dos outros.
— Eu respondo se você me disser seu nome — falei, usando meu charme, confiante.
Ela sorriu, colocando as mãos na cintura.
— Meu nome é Bia. E eu sei que sou mais velha que vocês.
Sorri também. Ela não aparentava ter mais que vinte anos.
— Temos entre 17 e 18 — respondi.
— Era o que eu imaginava. Sorte de vocês que aqui não ligam muito pra idade quando se trata de bebida.
Olhei pros caras, todos empolgados com a garçonete. Mas fui eu quem notou ela primeiro. E fui eu quem se interessou de verdade.
Eu nunca tinha sentido esse tipo de vontade de conhecer uma garota.
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Meus amigos pagaram a conta e foram embora. Eu fiquei. Esperei ela.
Sim, fiquei ali sentado por horas, observando enquanto ela passava várias vezes, fingindo que nem me via. Quando finalmente notei que o expediente dela havia acabado, ela parou na minha frente e me encarou, curiosa.
— Vai me levar pra onde?
Por que eu gostei tanto dessa ousadia?
A verdade é que sempre gostei de garotas com atitude, que não ficam esperando o homem dar o primeiro passo. Elas tomam o controle. São verdadeiras.
— Antes quero saber de onde você é. Você é diferente das outras. Gosto disso. E seu sotaque é... engraçado — comentei.
Ela segurou minha mão e me puxou para fora do restaurante.
— Sou brasileira. E isso é tudo que você precisa saber.
Misteriosa. Fiquei mais interessado ainda.
— Você tem o quê? 19 anos?
— Vish... — Ela parou ao lado do meu carro, franzindo a testa. — Você é rico, né? Além de mais novo, é rico. Caralho...
A última palavra saiu com um sotaque estranho. Fiquei sem entender.
— Não sou rico. Só tenho uma vida boa — disse, abrindo a porta do carro, torcendo pra ela entrar e não mudar de ideia.
— Tenho 22 anos. E só pra constar, tenho uma arma na bolsa e spray de pimenta no casaco.
Sorri. Mas ela me olhou sério. Ela estava falando sério mesmo.
Ela entrou. Entrei também.
— Estou curioso pra te conhecer melhor — confessei.
Ela sorriu. E isso me pegou. Eu, Arthur, dizendo essas coisas pra uma garota? Inédito.
Mas a Bia... ela me pegou de um jeito diferente.
— Me diz que isso não é uma cantada que você dá em todas.
— Claro que não. Eu nunca precisei flertar. Mas sim... é uma cantada — respondi, sincero.
Ela riu. A risada dela era leve, gostosa de ouvir.
— Interessante. Mas agora me diz... qual seu nome? Esqueci de perguntar. E não vai achando que eu saio com qualquer um, viu? Você é o primeiro que me passou confiança.
— Arthur Davis.
Ela me olhou pensativa.
— Já ouvi esse sobrenome por aí...
Preferi não comentar. Não queria estragar nada.
— E por que você aceitou vir comigo e não com os outros?
— Porque seria mais fácil te matar, se fosse o caso.
Língua afiada. Adorei. Bem do jeitinho que falam das brasileiras.
— Mas eu gostei de você. Da sua atenção sem malícia, ao contrário dos seus amigos. Mesmo sabendo que a gente vai acabar transando hoje...
— Posso só estar te levando pra curtir a noite. Não precisa ser sexo.
— Eu prefiro transar — disse, colocando a mão na minha coxa.
Ela estava me deixando louco.
— Não posso negar nada pra você, Bia.
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Na casa do Willians, nem cumprimentei ninguém. Subi com Bia de mãos dadas e entramos no primeiro quarto que achamos.
Me despi apressado, e ela fez o mesmo.
— Não tenho camisinha aqui.
Ela sorriu, já deitada na cama, me oferecendo a visão mais linda do mundo.
— Eu tomo anticoncepcional.
Não pensei duas vezes.
Fui direto, a língua primeiro, mas não precisei fazer muito. Ela já estava pronta. Me puxou pra cima, segurou meu rosto.
— Quero você dentro de mim, Arthur.
Beijei sua boca com desejo. E então aconteceu. Intenso. Quente. Animal.
Cada estocada, cada gemido, cada olhar... ela me deixava mais louco.
Quando eu ia sair pra gozar fora, ela me impediu.
— Goz* dentro de mim. Eu também tô quase lá.
E assim foi. Nós dois, no ápice. Inesquecível.
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Ficamos no quarto por muito tempo, nos entregando um ao outro, até meu celular tocar: minha mãe.
Nos vestimos rápido, mas trocando beijos e risadas.
— Te levo em casa — ofereci.
— Não, Arthur. Vou pegar um táxi.
Fiquei confuso.
— Não mistura as coisas. Eu gostei, mas não quero nada sério.
— Só quero te levar pra casa... — menti. Queria muito mais que isso.
— Arthur, não faz isso. Você é muito novo e... — Ela parou ao meu lado, na porta do motorista. — Boa noite, Arthur. Foi bom te conhecer.
E se afastou, sem esperar resposta.
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Depois disso, me tornei obcecado por Bia. Voltei ao restaurante várias vezes. Ela sempre mandava outra atendente me receber.
Tentei falar com ela, mas ela me evitava. Isso doía mais do que eu imaginava.
Então desisti. Tentei esquecer. Saí com outras meninas. Tran*sei com várias, querendo apagar o gosto que ela deixou em mim.
E quando finalmente achei que estava esquecendo...
...ela apareceu na porta da minha casa.
Arthur Davis – 9 meses depois
Era madrugada quando alguém começou a tocar a campainha. A luz ainda não tinha voltado desde a tempestade de ontem à noite. Ouvi a porta do quarto dos meus pais sendo aberta e seus passos apressados no corredor. Me levantei, mesmo com o corpo todo dolorido pelo último jogo — que foi no sábado. Hoje já é segunda-feira de madrugada... e alguém maluco tocando a campainha como se fosse meio-dia.
Desci as escadas meio grogue, e vi minha irmã "caçula", Layla, abrir a porta, olhando em volta.
Somos quadrigêmeos. Eu sou o mais velho por alguns minutos, depois vem o Carlos Luís e o clone dele, Pietro. Por último, a princesa da casa: Layla — que, infelizmente, já tem namorado. O insuportável do Liam.
— É um bebê! — gritou Layla, puxando uma cesta para dentro de casa. Meu pai fechou a porta depressa, pegando a cesta, enquanto minha mãe, Carla, corria para pegar o bebê do colo da minha irmã.
Fiquei ali, parado, vendo a cena em câmera lenta, só pensando: quem foi o idiota que deixou um bebê tão frágil na porta da nossa casa, em plena tempestade?
— Quem seria capaz de deixar um recém-nascido na nossa porta?! — minha mãe dizia, entre lágrimas e raiva.
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Como eu fui capaz de ser tão irresponsável a ponto de engravidar uma garota?
— Quero que me explique essa carta e esse bebê, Arthur — meu pai falou, com uma mão na cintura e a outra passando no cabelo. Eu conheço esse gesto. Ele está no limite.
Minhas mãos tremiam ao reler a carta.
> "Arthur,
Primeiro, me perdoa por não ter te contado sobre a gravidez. Sei que você teria sido homem o bastante para assumir nossa irresponsabilidade. Mas eu só queria um tempo para pensar na minha vida e no que faria com essa criança. Pensei em abort* várias vezes, mas toda vez que parava na porta de uma clínica, você aparecia nos meus pensamentos. Então, decidi seguir com a gravidez.
Infelizmente, eu não posso cuidar dessa criança. Minha situação é horrível e não quero que ela passe pelas mesmas coisas que eu passei. Não dei um nome, nem deixei nada que a ligue a mim. Só quero que você cuide dela e esqueça que eu existo.
Espero que essa menina nunca saiba quem eu sou. Não quero atrapalhar a vida de vocês.
Bjs,
— Bia"
Bia. A garçonete do restaurante que eu e os caras fomos uma vez. Eu a levei para a casa de um amigo, ficamos juntos naquela noite. Fiz as contas. Tudo batia com os detalhes que ela deixou na carta.
— Porra, Arthur... — Carlos disse, largando o corpo no sofá, sem reação.
— O que tá acontecendo? — Pietro apareceu, com uma toalha nas mãos. Entregou à mamãe, que segurava o bebê no colo.
— Somos tios — disse Layla, coçando os olhos.
— O Carlos é o pai? — Pietro perguntou, mas Carlos foi rápido em negar.
— Eu sempre fui responsável. Nunca transo sem camisinha. Quem vacilou foi o Arthur.
Fechei os olhos. Isso ainda parecia um pesadelo. Estava esperando acordar e perceber que tudo não passava de um susto.
— Esse bebê está com fome — disse minha mãe, sem olhar pra ninguém. — Layla, Pietro, peguem o carro e comprem tudo pra preparar o leite dela. Alexandre, você vai ter uma conversa séria com o Arthur. Se eu olhar pra esse menino por mais um segundo, entrego a criança pro Carlos e mato o Arthur.
Minha mãe nunca falou comigo desse jeito. Mas, sinceramente? Eu mereci.
Layla e Pietro saíram. Alguns minutos depois, a luz voltou. Mamãe subiu com a bebê e Carlos foi com ela.
— Você engravidou uma garota? — meu pai perguntou, tentando não gritar.
— Ela tem 22 anos... — disse, achando que isso ia aliviar a bronca, mas só piorou tudo.
— Você transa com mulher mais velha e ainda engravida uma delas? — Dei um passo para trás, porque eu sabia que ele estava prestes a voar no meu pescoço.
A verdade é que eu sempre fui o filho "correto". Nunca dei trabalho. Sempre foi o Carlos quem fazia merda. Ver meus pais decepcionados comigo... doía. Me dava vontade de sumir.
— Foi só uma vez. Com a mãe do bebê... — disse, baixo. Meu pai sentou na poltrona e olhou para o chão.
— Eu sei. Mas agora, Arthur, você é pai de uma recém-nascida — suspirou. Concordei com a cabeça. — Sua vida de farra termina aqui. Chega de treino antes e depois das aulas. Agora você vai trabalhar comigo, na minha empresa, no turno da tarde. Vai sustentar sua filha e ser um pai presente.
Engoli em seco. O peso da responsabilidade me engoliu por dentro.
— Foi um erro grave, mas você vai consertá-lo sendo pai. E vai morar aqui até atingir a maioridade. Depois, vai encontrar uma casa pra você e sua filha. Eu, sua mãe e seus irmãos vamos ajudar, mas a responsabilidade é sua. E espero que você pense duas vezes antes de fazer qualquer coisa que possa prejudicar o futuro da sua filha.
Ele se levantou e subiu as escadas sem olhar pra trás.
Fiquei ali, parado, tentando respirar.
Eu tenho uma filha.
Eu sou pai... de um bebê.
Arthur Davis, 17 anos.
Arthur Davis
Subo as escadas com as pernas trêmulas. Estou prestes a conhecer minha filha. Minha primogênita. Nunca passou pela minha cabeça ser pai — achava que só pensaria nisso lá pelos trinta. Mas esse bebê apareceu na minha vida e, sinceramente? Eu seria louco de não assumir meu papel como pai.
E mais: ainda quero fazer a mãe da minha filha mudar de ideia.
Acredito que a Bia ficou com medo. Talvez tenha achado que eu não assumiria, ou que deixaria as duas na mão. Nem se eu quisesse — meus pais jamais deixariam isso acontecer. Por isso, amanhã, depois de resolver os documentos da minha filha, eu vou até ela. Quero convencê-la a se casar comigo e criarmos nossa filha juntos.
Não vou fingir que não gosto da ideia. Porque, cara, eu ainda sinto algo por aquela mulher. Nenhuma garota conseguiu tirá-la da minha cabeça. Talvez isso seja o destino tentando dizer que nós dois ainda temos uma chance. Que ainda temos uma história pra viver.
Entro no quarto dos meus pais. Eles estavam lá, com minha filha. Carlos segurava um sorriso enquanto olhava para a sobrinha, mas ficou sério assim que me viu. Layla e Pietro tinham saído para comprar as coisas do bebê. Da... Lily. Sim, eu ainda não sabia como chamá-la, mas queria decidir isso junto com a Bia. Mesmo assim, eu sentia que já sabia seu nome.
— Estou chateada com você, Arthur — disse minha mãe, com as mãos na cintura e um olhar sério.
— Carla, ainda é madrugada... agora não é hora de puxar a orelha de ninguém — disse meu pai, sorrindo enquanto embalava minha filha nos braços. — Agora é hora de pensar nessa bebê. Depois você faz o que quiser com o nosso filho.
— Posso segurar ela? — Carlos perguntou, sério.
— Eu ainda nem peguei ela no colo — falei, e meu irmão revirou os olhos.
Meu pai me pediu para sentar na cama. Quando fiz isso, ele me entregou minha filha.
E foi como se o mundo tivesse parado.
Nunca senti nada parecido. Segurar um ser tão pequeno, tão frágil... que vai precisar de mim mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo... me deixou em pedaços. Eu a olhei e senti vontade de chorar. Mas era raiva. Raiva de mim. Raiva da Bia.
Como ela teve coragem de fazer isso com a nossa filha?
Como conseguiu olhar para esse rostinho e ainda assim deixá-la pra trás?
Olhei de novo para a bebê. Para Lily. Sim, esse era o nome. Um nome que minha mãe sonhava dar à outra filha que nunca teve. Agora, era o nome da minha.
E tudo nela dependia de mim: o futuro, a educação, o cuidado, o amor.
A segurei mais perto do meu peito e, em silêncio, fiz uma promessa.
> “Você sempre vai estar em primeiro lugar. Tudo que eu fizer, vai ser por você.”
— Já sabe o nome que vai colocar? — minha mãe perguntou, se sentando ao meu lado, encantada com a neta.
Sorri, ainda olhando para ela.
— Lily. Vai se chamar Lily Brown Davis.
Minha mãe ficou com os olhos marejados. Sorriu e me abraçou de lado, como se dissesse: você está fazendo a coisa certa.
Não contei a eles que ainda tenho esperanças de me casar com a Bia. De construir uma família com ela. Por enquanto, o nome da Lily será esse. Um nome forte. Bonito. E que já carrega amor.
— Ela combina com Allyson — disse Carlos, fazendo bico.
— Eu também acho — papai falou, sorrindo mais ainda.
— Por que não coloca Lily Allyson? — sugeriu mamãe, me olhando com ternura.
— Eu acho uma boa ideia — completou Carlos, vitorioso com a sugestão.
Sorri. Talvez fosse mesmo uma boa ideia.
Mas, no fundo, o que mais importava pra mim era que eles não viraram as costas pra mim. Mesmo decepcionados. Mesmo com raiva. Eles estavam ali.
E é por isso que, apesar de tudo...
Eu amo minha família.
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