18 de Abril de 2020 – 21h
Era um dia chuvoso, nublado, o vento estava frio e a temperatura tinha caído.
Harry apareceu de frente a base central do Império, os seguranças o anunciaram para o diretor, assim que permitiram sua entrada. Um dos seguranças o levou até a última sala do prédio, olhou para o seu superior que permitiu:
- Pode ir Tom.
O segurança assentiu, se retirou e o diretor pediu notando na péssima aparência do ex-agente:
- Sente-se Harry – o vendo se sentar perguntou – O que faz aqui?
- Imagino que já sabia Kevin\, eu quero retornar!
- Sim\, já imaginava\, seu retorno será feito e agora está assegurado por nós –
disse digitando em seu computador e emitiu o recontrato, pegou sua caneta de
seu bolso e lhe entregou.
Harry assinou as 11 páginas e aguardou o carimbo final o ouvindo perguntar:
- Do que precisa?
- De segurança e de um médico – respondeu olhando para o seu braço quebrado
enfaixado de forma improvisada por um pano velho.
- Claro\, vou pedir para Tom te levar para o ambulatório e vou deixar um quarto
preparado para quando retornar – avisou terminando de carimbar o contrato e lhe
entregou uma cópia.
Harry pegou com a mão esquerda e o viu chamar Tom pelo rádio:
- Tom leve o senhor Dilanie para o ambulatório e depois o traga de volta.
- Sim senhor – disse desligando o rádio.
- Pode ir direto ao estacionamento.
Ele levantou-se e perguntou desconfiado arrumando a cadeira:
- Você sabia da vingança Kevin?
- Não\, se soubesse tentaria ter impedido mesmo não sendo nosso assegurado –
respondeu sério, ficou tenso olhando para os olhos negros desconfiados de Harry
– Eu só soube quando você matou o primeiro homem...
- Entendo\, obrigado pelos reforços – disse se retirando mancando o seu pé direito
que estava machucado.
Harry teve todos os curativos necessários, tomou os medicamentos para aliviar a dor e retornou para base, foi direcionado a um quarto bem aquecido, tinha uma bandeja farta para seu jantar, comeu um pouco, tomou banho e depois adormeceu como pedra.
No dia seguinte o agente duplo Justin solicitou a presença de Harry em uma das salas pequenas de conversa, ele não demorou muito em aparecer e o cumprimentou o reconhecendo:
- Não mudou nada Justin.
- Você cortou o cabelo – comentou Justin sorrindo e virou-se para sua colega – Está é Lavínia Ramírez.
- Prazer – comentou um pouco incomodado pelo sorriso inocente da mulher.
- O diretor me disse que voltou e que precisa de um tempo para recuperar o braço\, então me delegou como seu superior e eu preciso de um favor\, já que não pode fazer muitos esforços... – comentou mostrando a papelada.
- Meu superior? – perguntou inconformado\, nunca teve um superior.
- Você quis voltar... Será tratado como um novato\, por assim dizer e isso não é definido\, é só para você não ficar parado – respondeu Justin mostrando o histórico de Lavínia.
- Agora contratam policiais? – perguntou com desprezo vendo a carreira da mulher de 24 anos.
- Ela não é uma simples policial... Lavínia sabe decifrar códigos\, tem ótimas pontarias e solucionou os mais perigosos casos durante os últimos anos...
- Sim... Estou vendo aqui... E o que quer que eu faça? – perguntou torcendo para não ter uma missão ao lado dela.
- Quero que a treine.
- Treiná-la? Acabou de dizer que ela tem ótima pontaria – perguntou ficando mais desapontado\, nunca teve um superior e muito menos precisou treinar alguém.
- Ela só sabe mexer com armas e cálculos... Precisamos de mais...
- Por que a quer aqui dentro Justin? – perguntou sério fechando o relatório.
- Não fui eu\, foi Kevin – respondeu levantando-se – Seja bonzinho e a treine\, de preferência agora!
- Tá... – disse o vendo sair.
- Sempre é tão arrogante? – perguntou Lavínia encarando Harry.
Harry não respondeu, pegou os relatórios e os guardou na gaveta de arquivos organizado pela ordem alfabética, abriu a porta e andou, sabia que ela o seguiria. Pelos corredores do prédio Harry tinha cada uma de suas lembranças de volta, eram pesadas, sujas, desonestas e maldosas. Respirou fundo e abriu a sala de tiros com sua digital, a sala estava vazia e ele disse sério a vendo entrar:
- Aqui temos 663 tipos de armas\, me mostre o que sabe fazer.
- Escolha uma arma – ela pediu odiando ser testada.
Harry pegou uma pistola e ela perguntou inconformada, em seu histórico estava claramente escrito que tinha uma ótima pontaria:
- Está brincando\, né?
- Não!
Lavínia sempre odiou que duvidassem de sua capacidade, irritada pegou a pistola, foi em direção ao alvo, ficou distante, apontou e acertou o alvo no coração e a cabeça, entregou a pistola para Harry e ele comentou:
- Se você atirar no coração não precisa atirar na cabeça.
- Eu sei\, é só para te mostrar que não estou brincando.
- Então vamos ver o que você faz com isso – disse a entregando uma Gyrojet.
- Uma arma de madeira... – disse olhando para a relíquia.
Ela se concentrou, antes de atirar percebeu que o gatilho estava um pouco engajado e que precisaria de mais força do que estava acostumada para apertar e segurar a arma, tencionou os ombros, olhou para o alvo e atirou. Acertou o coração, mas não em cheio, Harry deu um sorrisinho de canto e perguntou irônico:
- Essa é a sua pontaria é perfeita?
- Eu não atiro com armas do século passado e ainda sim\, teria matado alguém –
disse convencida o entregando a arma.
- Se estivesse nervosa não conseguiria.
- Achei que eu tinha que ser fria e calculista e não nervosa – disse se lembrando
das conversas com Kevin.
- Não é porque solucionou oito crimes que vai solucionar os daqui.
- Eu sei da diferença.
- Eu acho que não sabe\, por isso continue atirando – mandou entregando o Revólver
Magnum Smith & Wesson.
Foram horas de treinos de tiro, os braços de Lavínia já estavam cansados e seu estomago roncava, ela o olhou séria e comentou:
- Eu já fiz prova de sobrevivência e não uma vez e sim duas\, então\, por favor\,
vamos parar por aqui, estou faminta.
- Pedido de arrego\, talvez não tenha isso em ação.
- Eu sei o que está tentando fazer\, já conheci muitas pessoas assim e até piores – disse olhando para a porta.
- Eu ainda não disse que vamos sair.
- Ok\, então escolha uma arma – pediu mordendo os lábios querendo não demonstrar que estava irritada.
- Guarde as armas no lugar! – ele mandou somente para deixá-la mais desconfortável.
Lavínia o obedeceu, virou-se para ele e ouviu mandar:
- Desista daqui!
Lavínia começou a rir, Harry abriu a porta e disse com um sorriso de canto:
- Não foi uma piada.
- Pareceu ser...
- E você está fedendo – comentou percebendo que ela estava suada.
Ela revirou os olhos e entrou no elevador, percebeu que ele se recusou ir junto, Lavínia foi para seu quarto,
por alguns instantes pensou que realmente estava fedendo, mas ao chegar em seu quarto, tirou a roupa, notou que não estava e pensou em voz alta:
- Idiota.
Horas depois, Harry encontrou Lavínia que estava no terraço lendo algum livro de romance, dava para notar
pela capa com um casal e a chamou:
- Vamos correr.
Ela não o escutou porque estava de fone de ouvidos, olhou para ele o vendo sério a encarando, tirou o fone e perguntou:
- Disse alguma coisa Harry?
- Te chamei para correr.
- Se você cair em cima do seu braço\, posso rir? – perguntou levantando-se.
- Achei que o arrogante fosse eu – comentou irônico.
- Me espere lá em baixo\, vou deixar essas coisas no meu quarto.
Alguns minutos depois, ela chegou, Harry pediu:
- Me dá seu pulso direito.
Ela o entregou, o viu colocar uma pulseira e apertar um botão, seu olhar rapidamente desviou do seu pulso para a sua camisa três/quartos que ele usava, reparou no papel filme em seu braço esquerdo e perguntou:
- Fez uma tatuagem?
Harry colocou seus fones de ouvido, não respondeu, saiu correndo na frente, ela prendeu seu cabelo, assoprou sua franja tentando manter-se calma e bem atrás correu, foram 3 voltas com o total de 1200 metros, quando Lavínia colocou as mãos nos joelhos, ele se aproximou, segurou seu pulso, pausou a pulseira que mediam sua pressão e batimentos cardíacos, ela deitou-se no chão, respirando fundo. Harry foi buscar água, se aproximou carregando duas garrafas d’água, ele jogou uma garrafa de água na direção de Lavínia que o encarava, antes que caísse no chão, ela pegou a garrafa. Harry abriu sua garrafa, começou a ficar distante e avisou:
- Por hoje é isso.
Durante dois meses e 20 dias, Harry a treinou cada vez mais pesado, no final de um dos treinos no sótão, os pés de Lavínia estavam doloridos, ela sentou-se no chão sujo, olhou para Harry e o convidou:
- Eu vou fazer 25 anos amanhã.
- Meus parabéns – a interrompeu.
- Obrigada\, eu vou comemorar no bar Cabalística...
- Eu não vou mais a festas de crianças – a interrompeu novamente.
- Ok... Você que sabe\, mas vai ter karaokê – disse levantando-se se arrependendo de tentar ser legal com seu treinador.
Naquela mesma tarde, o diretor reuniu Justin, Harry e Finn que era o antigo parceiro de Harry, Kevin iniciou
com os relatórios de Lavínia na mão e perguntou:
- Então todos acham que ela está aprovada?
- Ela sabe decifrar códigos – disse Finn orgulhoso por ter conseguido avançar em suas investigações.
- Eu sempre disse que ela era boa – disse Justin olhando para Harry.
- E você Harry?
- Ela faz tudo que mando e faz muito bem\, mas de verdade não sinto confiança\, ela é nova\, escuta e lê coisas românticas\, parece que seus pés não estão no chão.
- Está falando assim por que já esteve sem seus pés no chão? – perguntou Kevin sério.
- É! E quando não estive eu simplesmente saí.
- Harry seus argumentos são péssimos e ela vai ficar sobre a supervisão de vocês três.
- Pode deixar chefe – disse Justin.
- E boa festa para vocês.
- Você não vai? – perguntou Finn desacreditado\, Kevin sempre amou uma festa.
- Hoje à noite\, a única coisa que vou ver\, é a apresentação de balé da minha filha – contou sorridente – E aliás\, já vou embora! Qualquer urgência\, só me chamar.
- Claro\, eu vou me arrumar – disse Justin levantando da cadeira.
- Você já está bom para dirigir Harry ou quer vir comigo? – perguntou Finn animado por ter o seu colega de volta.
- Eu não vou – respondeu olhando para os relatórios.
- Cara\, você me some por seis anos e agora não quer festejar\, vai ficar socado nesse prédio sozinho? – perguntou Justin pegando os relatórios – Sei que quer só pensar no trabalho\, mas o velho Harry sabe que precisa de alguns drinks e de boa música e já vou te avisando que Lavínia canta muito.
- Ficar sozinho também é legal – disse indo saindo logo atrás de Kevin.
- Se eu fosse você ia relaxar\, recuperou seu braço\, está sem medicamentos\, drinks também são como remédios – disse Kevin sem olhar para trás.
Harry ignorou e foi pelas escadas até chegar ao seu quarto, foi para o seu banho, deitado na banheira, teve
algumas boas lembranças, lembranças das quais queria esquecer. Tomou rapidamente seu banho, com a toalha enrolada na cintura, ligou seu rádio e jogou-se na cama. Sua mente não parava, o tempo todo, fechava os olhos e vinha o rosto claro, os olhos verdes e lábios rosados, a lembrança do perfume de flores e seu coração parecia que ia explodir. Fazia dois meses que não tinha tempo para pensar no que aconteceu e não era agora que queria pensar, pegou seu jeans, camisa preta e seu tênis, depois que se vestiu, sentou na cama, ainda indeciso, fechou os olhos por uma hora, queria adormecer, mas sua mente parecia um jogo de horror e decidiu...
Cabalística - 18 de junho de 2020 – 23h
O lugar cheirava a bebida e cigarros, a luz baixa trazia um ar de sensual e de luxo, Harry nostálgico reparou no lugar que frequentou por 10 anos. Olhou para seus colegas que estavam sentados e eles ao vê-lo gritaram seu nome, sem jeito, sentou entre Justin e Finn, chamou sua atenção a voz rouca que cantava Black Ice do AC/DC,
atento prestou atenção na conversa:
- Ei Justin – chamou Michael.
- Fala.
- E a gatinha é solteira? – perguntou olhando para Lavínia que descia do palco.
- Sim\, mas acho que ela é lésbica – respondeu rindo.
- Por que não tenta a sorte? – perguntou Finn que já estava ficando bêbado.
Quando a bebida de Harry chegou, era seu Bourbon preferido, mansamente Lavínia tirou o copo da mesa e perguntou:
- Como adivinhou treinador que eu estava com sede?
Ele não respondeu, apenas forçou um sorriso, levantou e respondeu:
- Ainda bem que aqui não falta Bourbon.
Lavínia sentou em seu lugar e perguntou:
- E aí rapazes qual de vocês é o próximo a subir no palco?
- Melhor não\, homens cantam muito mal – disse Finn rindo.
- Ainda sim pago para ver\, Michael um passarinho me contou que você queria me impressionar\, por que não tenta a sorte? – perguntou irônica\, ela tinha lido os lábios deles enquanto cantava.
- Melhor não – disse sem graça.
- Qual é? – perguntou Justin – Está com medinho?
- Não! Pode deixar boneca\, por que não escolhe a música?
- Já disse para me impressionar – respondeu o encarando.
Michael levantou-se, demorou um bom tempo para escolher a música, Justin tirou o baralho do bolso e perguntou:
- Truco?
- Ei Harry vem jogar – chamou Finn o vendo beber sozinho no balcão do bar.
Mas ele recusou, depois de algumas partidas de truco, algumas brincadeiras com a cara de Michel que cantava muito mal. Lavínia logo voltou para o palco e cantou Like a Virgin da Madonna, a bebida já havia subido tanto, que cantou sentada, ficar em pé era arriscado tropeçar, parou de cantar na metade de música, entregou o microfone para uma mulher loira que a olhava cantar e pediu:
- Me dê esse presente de aniversário e cante para mim.
A mulher também não estava sóbria e continuou a cantar, Lavínia tinha ido ao banheiro, na volta, sentou ao lado de Harry e pediu:
- Duas tequilas.
Harry a olhou e deu um sorriso perguntando:
- Parou de cantar?
- Estou sem condições\, esqueci a letra – respondeu rindo.
- Pode ir lá com seus amigos\, estou bem aqui – disse vendo o garçom colocar as
duas doses no balcão.
Quando Lavínia ia pegar sua dose e dizer alguma coisa, Harry a interrompeu:
- Antes você me deve uma bebida.
E ele virou as duas doses de tequila e a relembrou:
- Bom você roubou meu Bourbon.
- Engraçadinho... – disse olhando para o garçom – Leva uma rodada de tequila para a mesa.
Ela o puxou, ele não ia segui-la, mas quando a viu desequilibrar do salto a segurou firme e a levou até a mesa, Michael reparou no jeito que em que Lavínia se jogava nos braços de Harry e comentou:
- Eu vou embora.
- Nem amanheceu ainda – disse Lavínia senta do ao seu lado – E eu pedi tequila.
- Depois da tequila eu vou – avisou disfarçando sua frustração.
Depois de uma rodada de tequila, a maioria de seus colegas acompanharam Michael, ficou somente Finn, Justin e Harry que continuaram bebendo. Justin para fechar sua conta pediu uma garrafa de vinho e disse:
- Esse é meu presente.
- Obrigada... O meu preferido – agradeceu o abraçando.
- Ei! Lavínia? Você é lésbica mesmo? – perguntou Finn que tentava terminar de beber seu whisky.
- Claro\, inclusive eu gostaria do número da sua irmã – respondeu irônica sentando
na mesa.
- Ei cara\, vamos embora – chamou Justin percebendo que Finn estava bêbado demais.
- Tá... – disse acenando para Harry e Lavínia.
Justin deu um beijo no rosto de Lavínia e desejou:
- Feliz aniversário mocinha.
Harry ainda um pouco tonto, olhou para a garrafa de vinho e perguntou:
- Vai beber sozinha?
- Na verdade aceito sua companhia – respondeu tímida.
- Me espere que vou ao banheiro – avisou se levantando.
Ela percebeu que ele cambaleava um pouco, Harry no banheiro lavou seu rosto, sacodiu a cabeça, estralou suas costas e depois saiu. Olhou para Lavínia que estava de costas, sabia que estava bêbado, por um fio de consciência sabia que não deveria ficar sozinho com uma mulher, foi até o garçom e perguntou querendo sair pelos fundos:
- Será que posso passar por aqui\, não quero ela me veja ir embora.
- Devo dizer algo a ela.
- Só a distraia para que não me veja – pediu.
O garçom levou um pedaço de bolo de cereja com uma velinha e foi até sua mesa desejando:
- Feliz aniversário senhorita.
- Obrigada – disse percebendo que era somente um pedaço e olhou em direção a porta dos fundos que ficava perto do balcão de bebidas\, foi quando o viu sair rapidamente do bar sem se despedir e ela perguntou – Só um pedaço?
O garçom ficou sem jeito e perguntou:
- Não está sozinha?
- Parece que sim – respondeu olhando para o bolo – Pode me trazer um refrigerante?
- Sim e fecho a conta?
- Por favor.
Ali ela ficou em silencio, comeu seu bolo, bebeu seu refrigerante, pagou a conta, foi em direção a saída e pediu ao manobrista:
- Traga meu carro.
- Claro.
Ela olhou para o outro lado da rua e lá estava Harry encostado no poste vomitando, ela voltou rapidamente para o bar e comprou uma água, pediu para o manobrista aguardar, atravessou a rua e perguntou:
- Está tudo bem treinador?
- Acho que estou perdendo meu fígado – brincou.
- Te trouxe água – ela disse o entregando a garrafa.
Harry pegou a garrafa, bebeu um gole e vomitou mais um pouco, depois bebeu mais um pouco, jogou água em suas mãos e o restante jogou em sua nuca, olhou para ela e avisou:
- Acho que não consigo dirigir a moto.
- Eu sei\, amanhã você pega\, agora vamos para o meu carro – disse pegando o seu braço e o passando em seu ombro.
Ela avisou o manobrista que no dia seguinte pegariam a moto, colocou Harry dentro do carro, entrou no carro, colocou o cinto, olhou para o lado e o viu dormir, delicada colocou cinto de segurança em Harry e foi para o seu apartamento que ficava há uma rua antes do bar, estacionou o carro na garagem, sacudiu Harry o chamando:
- Acorde bela adormecida.
- Não estou dormindo – ele disse soltando os cintos.
- Ah sim... – disse destravando as portas.
Harry quando saiu do carro, olhou ao redor e perguntou:
- Você me sequestrou?
- Sim e agora vou te levar para o meu sótão de torturas – respondeu rindo o guiando até o elevador.
- Tem sótão em prédios residenciais?
- Você bêbedo é bem esquisito – respondeu apertando o nº 12.
Ao chegar no andar, ela abriu seu apartamento e pediu:
- Não repare na bagunça.
- Eu não consigo abrir os olhos direito quem dirá ver bagunça – disse entrando.
- Tire os sapatos! – ela ordenou tirando seu salto.
- Por quê?
- Costume de família – respondeu trancando a porta.
- Sua família mora aqui? – ele perguntou tirando os sapatos.
- Não... – respondeu pegando seus calçados os colocando na sapateira que fica na lavanderia.
Voltou para o corredor e perguntou:
- Quer alguma coisa?
- Sua pergunta é difícil – respondeu sorrindo encontrando seus olhos castanhos.
- Isso foi ironia?
- Não sei também – respondeu a vendo soltar os longos cabelos.
- Olha pode dormir na minha cama\, mas\, por favor\, não vomite lá – brincou – Também pode tomar banho.
- E você onde vai dormir?
- Eu tenho insônia quando bebo – respondeu pensando em lhe oferecer mais água.
- Sabe que você fica linda com essa saia – respondeu olhando para suas pernas.
- É melhor você tomar banho – disse o puxando pela camisa.
- Peguei pesado? – ele perguntou a vendo abrir a porta do banheiro que é depois da sala.
- Não\, mas vai se arrepender de ter dito isso quando ficar sã.
Ela entrou no banheiro, ligou o chuveiro, tirou uma toalha do balcão e disse se retirando:
- Divirta-se.
Fazia muitos anos que Harry não bebia daquele jeito, sua consciência parecia que oscilava, ora pensava que deveria ir embora, ora não sabia o que estava fazendo. Demorou quase uma hora no banheiro, quando ele saiu com a toalha enrolada na cintura, foi até a sala, olhou para a mesa onde estava Lavínia com uma taça de sorvete e ela ofereceu olhando para sua tatuagem de dragão no peito e no braço esquerdo a tatuagem de
espinhos:
- Sorvete?
- Acho melhor evitar de comer e eu acho que escovei meus dentes com sua escova\, pensei que estava sozinho – respondeu confuso.
- É meio obvio que a escova era minha\, mas tudo bem – disse se levantando\, tocou em seu braço – Por que não vai dormir?
- Onde fica o quarto?
Ela o levou para a única porta que ficava depois do banheiro, abriu e disse:
- Tem cobertor no guarda-roupa\, quer que eu pegue sua roupa?
- Por que não tira sua roupa também? – ele perguntou a puxando pelos braços.
Lavínia corou, mas não podia negar que o desejava, Harry a jogou na cama, deitou sobre seu corpo, a beijou e iniciaram uma ardente noite de amor, a adrenalina era tanta que Lavínia não tirou totalmente sua roupa. Depois que tiveram muito prazer, Harry foi o primeiro a adormecer e ela em seguida em seus braços.
Pela manhã a dor de cabeça de Harry o acordou, ele olhou para o teto, não reconheceu o lugar, quando olhou para seus braços rapidamente, pensou que fosse uma prostituta e que era um quarto de motel, mas ao respirar fundo se lembrou de beijar Lavínia, com seu braço dormente esquerdo, segurou uma mecha do cabelo e reconheceu os cabelos castanhos claros, fechou bem seus olhos, sua respiração ficou rápida, internamente estava entrando em desespero, arrependimento e não sabia se a acordava ou não. Logo ela acordou, seu sono sempre foi leve a respiração profunda de Harry a despertou, ela coçou seus olhos, bocejou, se espreguiçou, acariciou seu peitoral e desejou:
- Bom dia.
Harry não respondeu, ficou estático e a escutou perguntar:
- Está com fome?
- Não – respondeu rapidamente\, era aquele tom de voz frio que ela estava acostumada.
Ela sentou na cama, virou-se para olhá-lo, o viu massagear o braço e perguntou:
- Está tudo bem?
Ao notar que ela não estava com nada por baixo da sua mini blusa mandou:
- Veste algo!
Ela pegou o lençol que estava em baixo do travesseiro, o enrolou na cintura e perguntou:
- Eu posso fazer alguma coisa?
Harry estava começando a se irritar com as perguntas, levantou-se da cama, com o cobertor enrolado na cintura saiu do quarto e foi para o banheiro onde lembrou-se que deixou suas roupas. Enquanto isso Lavínia pegou seu roupão vermelho no guarda-roupa, o vestiu e foi para a cozinha se lembrando de cada detalhe da madrugada. Começou a preparar o café, separou os remédios de dor de cabeça, ele arrumado apareceu na cozinha e perguntou:
- Cadê a chave da moto?
- Está ali – ela respondeu apontando para o chaveiro.
Ele pegou, olhou para os comprimidos e perguntou:
- São para dor de cabeça.
- São... – respondeu baixinho.
Harry notou que a chave do apartamento estava na porta de entrada, ele a olhou percebendo que estava frustrada:
- Me desculpa Lavínia\, mas foi só uma noite\, isso não pode acontecer de novo.
- Claro Harry\, não precisa se explicar\, além do mais ontem você ia embora sem se despedir.
Ele ficou em silêncio, a viu desligar o fogo, virou-se de costas, destrancou a porta e foi embora segurando seus sapatos.
De noite, Lavínia voltou para concessionária trocando mensagens com Justin, ele a esperou em sua sala e
perguntou ao vê-la entrar:
- O que queria me perguntar?
- Eu sei que talvez não vai me contar\, mas quem exatamente é Harry?
- Por que essa pergunta? – ele perguntou desconfiado.
- Curiosidade apenas... – mentiu Lavínia.
- Curiosidade? Tem algo que queira me contar? – ele perguntou se debruçando na
mesa.
- Não! Eu só o acho misterioso demais.
- Ele é assim\, ninguém sabe dele – mentiu percebendo a tensão de Lavínia.
- Não tem relatórios?
- Ele cresceu aqui\, sua família sempre esteve aqui e ele é último da família Dilanie.
- Ah...
- Tem certeza que não quer me contar nada?
- Tenho – ela respondeu se retirando.
Claro que Justin não ia deixar isso abatido, encontrou Harry treinando com o saco de pancadas, ele segurou o saco e perguntou:
- Podemos conversar um pouco?
- Tá – ele respondeu tirando as luvas de boxes.
Os dois sentaram sobre o colchonete e Justin contou:
- Lavínia me procurou perguntando quem você realmente era.
- E o que respondeu?
- Nada\, eu contei só que é último de sua família e que cresceu aqui...
- Não contou sobre Amy?
- Se depender de mim\, ela nunca saberá\, muito menos do tempo que ficou fora...
- Ótimo\, prefiro que seja assim.
- Mas você sabe o motivo dessa pergunta? – perguntou Justin curioso.
- Acho que é porque a deixei sozinha no bar.
- Por quê?
- Eu não sei\, estava bêbado demais – respondeu percebendo que ela não tinha contado nada a ele e quis manter assim.
- Acha que ela gosta de você?
- Acho que ela realmente lésbica – respondeu levantando-se cansado da conversa.
Na noite seguinte, Kevin convocou Harry e Lavínia e contou mostrando as fotos e mapas:
- Os agentes do Cruciatus foram vistos entregando na mansão do governador um pacote e um pendrive\, o governador foi viajar para a Capital\, deixou sua família e claro que os seguranças... Quero que vocês vasculhem a mansão.
- Não acha que ele pode ter levado o pacote e o pendrive junto? – perguntou Lavínia olhando para o pendrive preto.
- Sim\, mas pode ter alguma pista\, algo do tipo\, só quero que verifiquem e também estou te dando a sua primeira missão.
- Sabe dirigir moto? – perguntou Harry sem olhá-la.
- Sim.
- Então vamos.
- Espere! Como vamos entrar na mansão?
- Te conto no caminho – avisou Harry deixando a porta aberta a esperando segui-lo.
Harry parou na sala de equipamentos, separou algumas roupas e mandou:
- Vista isso.
- Está bem...
- E não esqueça o colete por baixo – mandou a vendo ir em direção ao vestuário com a sacola na mão.
Demorou um pouco para ela voltar e ele já estava com todos os acessórios no corpo. Harry a olhou com reprovação, separou algumas armas e foi colocando nos cintos de Lavínia, ela somente se preocupou em guardar munição em seus bolsos internos e escolher dois revolveres. Parou de olhar suas armas quando o sentiu colocar uma faca no seu cinto da perna o ouvindo perguntar:
- Nunca se perguntou o que acontece quando acabam as balas?
- Não... – respondeu colocando sua jaqueta de couro.
Os dois pegaram mais algumas ferramentas e foram para a garagem, ele ligou a moto e avisou:
- Vamos em um só veículo para não chamar atenção.
- Está bem... – aceitou pegando o capacete de sua mão.
Lavínia ao subir na moto, segurou em sua cintura e Harry disparou em direção a um dos bairros mais nobres de Los Angeles, ao chegar próximo a mansão, começou a andar devagar, já havia avistado os dois seguranças, tirou do seu bolso sua Zarabatana e quando passou pelos dois assoprou os dardos, tão rápido
que foi difícil até mesmo para Lavínia acompanhar, ele estacionou a moto na calçada da frente, sem dizer uma palavra ela o seguiu, o viu lançar um dardo na câmera da frente e ela perguntou o vendo checar os bolsos dos seguranças que estavam desmaiados:
- Zarabatana\, jura?
- Sim – respondeu pegando a chave do portão automático.
Ele abriu o portão, ela entrou na frente com o revolver na mão, mas não havia ninguém atrás dos portões, Harry passou em sua frente e a ouviu perguntar:
- Matou os seguranças?
- Não... São soníferos nos dardos – respondeu a guiando para trás da mansão.
Harry abriu o painel de disjuntores, tirou um alicate do cinto e cortou dois fios, as luzes de toda a mansão se
apagou e ele disse sério:
- Vamos\, essa é a nossa chance.
Lavínia tocou em uma janela e sussurrou avisando:
- Está aberta.
- Vamos por ela então – disse a vendo abrir o vidro sem fazer barulho.
Os dois entraram, ficaram atrás do sofá, ele entregou uma lanterna para Lavínia e sussurrou em seu ouvido:
- A mansão é muito grande\, vamos nos dividir\, você procura a sala de monitoramento pela esquerda e eu pela direita\, ok?
Lavínia assentiu, foi a primeira a sair detrás do sofá, não escutava nada na mansão, com a luz baixa da lanterna subiu as escadas e foi para a esquerda, Harry foi logo em seguida.
Andando pelo segundo andar, em um dos cômodos saiu Yasmine que estava enrolada em um lençol apontando uma pistola, Harry deu uma leve risada e comentou:
- Que bela recepção.
Ela deu o primeiro disparo, mas ele desviou, Lavínia escutou o tiro do outro lado e correu em direção ao som pensando em Harry. O agente deu uma rasteira em Yasmine, ela caiu largando a arma, o lençol soltou e seus seios ficaram amostra, Harry pegou seus dois braços, sentou em suas costas a mantendo de bruços, foi quando o
jardineiro, seu amante, apareceu apontando uma arma mandando:
- Larga ela ou estouro seus miolos cara.
- Que coisa feia para uma senhora casada – debochou Harry vendo o homem de cueca.
Mansamente estava Lavínia atrás, bateu com o cano do seu revolver na nuca do jardineiro, Harry espetou um dos seus dardos em Yasmine e desejou:
- Tenha bons sonhos mocreia.
- Rápido Harry – mandou Lavínia arrastando Harry.
Harry entendeu, havia seguranças se aproximando, ele pegou Yasmine no colo e arrastou o jardineiro, os colocou deitado na cama e os cobriu com o lençol, correu até Lavínia e a guiou para dentro do cômodo de onde Yasmine havia saído:
- Ela estava nos esperando.
Ele trancou a porta, Lavínia olhou ao redor e percebeu que era a sala de monitoramento, já estava acostumada a fazer isso na delegacia, apagou as filmagens de uma hora e desligou as câmeras dizendo:
- Sem pistas...
- Eu vou pegar as filmagens do dia anterior\, quero saber se conseguimos algo sobre o pendrive...
- Sim – ela disse fuçando dentro das gavetas e achou um notebook vermelho\, o ligou e percebeu que tinha senha.
- O que vai fazer? – perguntou Harry conectando em dos computadores seu disquete para gravar os vídeos.
- Vou hackear este notebook – respondeu plugando meu HD.
Jogou um vírus através do seu celular, conseguiu localizar a senha do notebook e começou a copiar todos os arquivos, Harry se aproximou comentando:
- Até que você é espertinha... Depois apague todos dados do notebook\, vamos acabar com a vida desse merda.
- Sim senhor.
Enquanto estavam silêncio, ouviram bater na porta e uma dócil voz infantil perguntar:
- Mamãe você está aí?
- Sua mãe está no quarto – disse sua babá que já imaginava que havia gente dentro da sala – Vem comigo que vou te colocar na cama.
- Está escuro\, estou com medo.
- Não fique... Eu estou bem aqui.
Harry quando percebeu que elas estavam longe mandou:
- Ande logo com isso.
- Acabei – ela disse guardando seu HD de volta em seu bolso interno da jaqueta.
Harry destrancou a porta, não havia ninguém no corredor, ligou sua lanterna, segurou a mão de Lavínia e a guiou de volta para fora, voltaram para a moto e seguiram em direção ao prédio.
Os dois chegaram a 00h no prédio, Justin os recebeu no elevador perguntando:
- Acharam alguma coisa?
- Talvez\, eu vou descobrir – respondeu Lavínia com um sorriso confiante.
- Kevin ainda está aqui? – perguntou Harry percebendo que Justin os seguiam.
- Não.
Justin os deixou sozinhos, Harry caminhando depressa contou:
- Nós temos ótimos computadores no laboratório e eu vou lá para ver os vídeos que salvei\, quer ir lá também\, para ver se acha algo no que salvou em seu HD?
- Claro – respondeu tirando a jaqueta.
Os dois foram para o laboratório, ela sentou em uma das mesas com computadores, plugou seu HD, enquanto Harry sentou na mesa do lado e colocou seu disquete, Lavínia checou que havia 5000
pastas e contou:
- Todas as pastas têm senhas.
- Vai conseguir abrir? – perguntou Harry indo para o seu lado com a cadeira de rodinhas.
- São 5000 pastas\, vai demorar um tempão.
- Divide comigo – pediu entregando um pendrive.
- Sabe fazer isso?
- Se eu não soubesse não ia pedir para dividir – respondeu sério.
- Você é bastante gentil com as palavras Harry – ela disse conectando seu pendrive.
Em alguns minutos terminou de passar os documentos para o pendrive e lhe entregou, os dois passaram horas ali, até que Harry não escutou mais o barulho dos teclados, olhou para o lado e a viu deitada sobre a mesa, tocou em seu braço a chamando:
- Acho melhor você ir dormir.
- Foi mal\, eu preciso de descanso – ela disse se espreguiçando.
Ela salvou o que conseguiu no HD, depois o ejetou do computador e Harry disse:
- Pode deixar que eu desligo o computador.
- Sim... – ela disse se levantando – Boa noite Harry.
E claramente ele não desejou o mesmo.
No dia seguinte, Lavínia com seu laptop na mão foi ao encontro de Justin que a esperava na sala de arquivos, ela abriu o laptop na sua frente e perguntou:
- O que isso significa?
Justin ficou em silêncio vendo sua ficha em um dos arquivos e ele disse em um tom sereno:
- Sou um agente duplo Lavínia\, como está escrito meu nome fictício Sargento Vaz\, foi um dos planos que eu estava envolvido.
- Mas a data para isso está daqui dois meses.
- É esperado\, eu vou estar nas reuniões como Sargento.
- Por que os agentes do Cruciatus estão juntos?
- Quantas perguntas Lavínia\, eu vou descobrir isso no dia da reunião – respondeu sério.
- Que plano era esse que estava envolvido?
- Era uma ação governamental para emancipação de segurança em alguns pontos do Estado – respondeu querendo se esquivar.
Lavínia não pareceu satisfeita com suas respostas, mas estava atrasada para ir até a sala do diretor, pegou seu laptop e subiu. Kevin estava se despedindo de Harry quando ela chegou:
- Oi.
- Atrasada\, mas me diga o que conseguiu – ele pediu fechando a porta.
Lavínia quando se aproximou da mesa olhou o relatório:
Harry Dilanie
Data de nascimento 20/08/1985
Saída: 03/01/2014
Retorno: 18/03/2020
Ela queria ler mais coisas, mas o diretor fechou o relatório dizendo:
- Isto que fez é muito feio.
- Desculpa, habito de policial – disse sentando-se.
Lavínia abriu seu laptop e contou:
- Eu consegui abrir algumas pastas\, duas são de fotos e vídeos pessoais\, nada de interessante\, mas os outros se tratam de planos e de ações que já ocorreram e essa pasta – disse clicando – Tem vários contratos com policiais\, delegados e militares.
- Com uma agenda – disse Kevin clicando – O próximo contrato será fechado em uma cadeia abandonada\, aliás todos os contratos são feitos lá... – reparou vendo o mesmo local escrito nos outros arquivos – Chame Harry\, vou enviá-los para lá.
Lavínia o encontrou na sala de boxe treinando com Finn, por poucos segundos reparou o quanto ele era atraente, constrangida por seus próprios pensamentos o chamou:
- Harry!
Ele se afastou de Finn, olhou para ela e escutou o aviso:
- Kevin está te chamando.
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