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O Garoto Na Sacada

Insônia, chá e assassinato?

"Ele era como um livro. Você não sabia o que se esperar, até ler as próximas páginas. Mas, confesso que isso era o que mais me deixava interessada. Todo o clímax, o mistério, os núcleos, tudo aquilo tornava excitante. Por isso eu me apaixonei." - Elana Simões

...O garoto na sacada...

A insônia havia tomado conta de mim, mesmo depois de duas dosagens de ansiolítico, eu não conseguia de alguma forma pregar os olhos. Tudo o que eu estava disposta a fazer, no final acabava não conseguindo, era inútil me sentir daquele jeito.

Eu precisava urgentemente mudar a minha rotina, pois estudar de madrugada e trabalhar durante o dia estava acabando com a minha saúde, tanto física quanto mental. Mas, depois de dias comuns e a mesmice de sempre, algo diferente aconteceu ao prédio da frente. Eu estava sentada na almofada que estava sobre o carpete do meu quarto, em uma mão segurava uma xícara de chá de ervas, enquanto a outra eu fazia redemoinhos na tentativa de adoçar. Era chá de erva cidreira, o preferido da vovó lá no Brasil. O sabor era leve, trazia tranquilidade e, possivelmente, o esperado sono.

Levei à boca até saborear o primeiro gole. O reflexo de uma luz sendo acesa refletiu à minha janela, achei que fosse farol de algum carro ou vigia com lanternas fazendo o serviço noturno ou até mesmo os vizinhos que pudesse estar chegando tarde de algum trabalho, apesar de quê: quem trabalha em pleno domingo às 3 da madrugada?

Fiquei curiosa e levantei, me colocando frente à janela, olhando como se nada estivesse acontecendo. Era o apartamento 507 do quarto andar do prédio à frente, a janela estava aberta. De repente, gritos eram espalhados por aquele cômodo, parecia socorro e logo, foi encerrado com o barulho de um disparado. Um único disparo.

Eu me assustei, mas mesmo assim continuei a encarar a cena. "Eu sou testemunha de um assassinato?" assustada, perguntei mentalmente a mim mesma. "Não, não Lana. Você não viu isso" tentei me convencer do contrário.

Eu não sabia como reagir, olhei para todo o meu quarto sem saber o que fazer e avistei meu celular que estava em cima da cama. Dei 3 passos até alcançá-lo, minhas mãos tremiam enquanto eu deslizava o dedo na tela tentando desbloqueá-lo.

Assim que desbloqueei, disquei 190.

A ligação foi atendida no terceiro "TUUM". "190, em que posso lhe ajudar?" um dos policiais atenderam do outro lado, eu travei ao começar as palavras. "Policial, eu.. eu..." tentei, dizer, mas não conseguia terminar. Mesmo momento, percebi que a luz do quarto havia sido apagada, ainda na linha eu dei 3 passos à frente e consegui ver o assassino. Ele estava encarando a minha janela.

Eu fiquei ainda mais apavorada, desliguei a ligação e baixei as minhas janelas, coloquei todos os trincos e por fim, fechei as minhas cortinas.

Me joguei na cama meio atordoada, estava difícil acreditar se aquilo foi real ou eu apenas estava alucinando após alta dosagem de ansiolítico.

"Não, não, não... Ele matou alguém" chorei enquanto lembrava da cena. Aquilo havia mexido comigo de uma forma esmagadora, meu coração acelerava de uma forma que não era a frequência normal, minhas mãos tremiam e eu sentia o suor frio percorrer pelo meu rosto.

Depois de algum tempo, consegui agarrar no sono, meu despertador tocou 3 horas depois, já eram 6 da manhã. Eu acordei achando que estava apenas passando por um pesadelo, foi o que imaginei antes de dormir: apenas um pesadelo, Lana.

O pouco reflexo do sol invadia todo o meu quarto, o dia havia amanhecido. Levantei-me rapidamente para olhar pela janela, lá embaixo estava estacionando 3 viaturas da polícia. Certamente, já estavam tentando apurar o ocorrido.

Eu saí em direção ao meu banho matinal: chuveiro quente, sabonetes aromáticos de camomila e alfazema, segundo às crenças da minha avó, ele afastava energias negativas. E tudo o que eu precisava era de boas energias. Após o banho, me arrumei e peguei as minhas chaves. O dia era de calor, fazia 28 graus em Nova Iorque. Com uma mudada na rotina, deixei para tomar meu café na lanchonete que eu trabalho e apenas por o meu uniforme lá. Peguei minhas chaves na mesa, coloquei na minha bolsa, a segurei firme e desci. O detetive Steve estava parado no centro da rua colhendo informações de alguns moradores, conforme eu caminhava, a maca com um corpo era deslocada de dentro do prédio. Minhas pernas ficaram trêmulas, um frio na barriga poderia me atormentava. Steve deu a mão do outro lado e eu parei.

— Bom dia senhorita Lana, mais um dia pro café? — Steve me saudou.

— Bom dia, senhor Steve. — Aconteceu alguma coisa?

Perguntei de forma genérica mesmo já sabendo do que se tratava, tentei atuar de melhor forma e naturalidade possível.

— Aconteceu um assassinato essa madrugada, trata-se de um caminheiro, ele morava bem ali, naquele apartamento. — Steve apontou. —Você viu alguma coisa? — Perguntou.

— Uau. Que ruim. Acho que já o vi algumas vezes, mas eu não o conhecia. Eu tive uma noite tranquila de sono, eu quase não consegui escutar meu despertador agora de manhã. Eu não vi nada, senhor. Sinto muito pelo acontecido. Expliquei, pedi licença e persegui o meu caminho.

"Ufa" foi literalmente o que eu disse depois de sair de lá. Por que alguém mataria um entregador de iogurte desnatado? Fiz a pergunta a mim mesma. O homem cujo nome não foi revelado, apenas a profissão, não parecia ser algum criminoso ou que pudesse estar envolvido. Pelo menos o que a aparência dizia ser.

Eu afirmei os passos até chegar no primeiro ponto de ônibus. Minhas mãos estavam frias, mesmo com o clima meio quente.

Minha cabeça doía por conta do estresse e o pouco sono, ainda mais por ainda não ter tomado o café. Fechei os olhos por um min enquanto massageava minha testa entre eles. Eu estava tão exausta.

Assim que o ônibus chegou eu dei graças à Deus, primeiro por não ter demorado e segundo por estar vazio, pelo menos eu não iria chegar atrasada.

Ao entrar no ônibus e iniciar o percurso, eu olhava pela janela do ônibus, encarando cada cenário da cidade que ficava para trás, eu estava pensativa e ao mesmo tempo curiosa. O episódio da madrugada era algo que não poderia jamais sair da minha boca. Isso poderia prejudicar o meu intercâmbio, logo eu que ralei duro para sair de São Paulo e vir tentar a vida aqui. Não queria desperdiçar a maior aquisição da minha vida aos 19 anos, não queria prejudicar jamais as minhas esperanças de ajudar a vovó e a mamãe.

Não demorou tanto para chegar pra mais um dia de expediente na Cibercafé, consegui chegar a tempo, o relógio marcava ainda 7:47, isso significava que eu teria mais 13 minutos, tudo como eu havia esperado. A Lily, minha amiga já estava presente, por morar apenas um quarteirão, ela estava sempre chegando 30 minutos antes, assim dava tempo de fazer uma pequena faxina, embora o ambiente fosse quase sempre limpo, mas não custava nada apenas completar.

O cheirinho do café da Lily tomava conta de todo o lugar, eu senti muito mesmo antes de pisar na porta de entrada de funcionários. — Hum... Hoje o seu café tá dos deuses. — Elogiei enquanto entrava porta adentro.

— E hoje é por conta da casa. — Lily completou e com um sorriso no rosto enquanto fazia as mesas.

Lily Thomas Elisabeth: O que eu mais adorava na Lily era o bom humor dela em plena manhã de um longo dia de trabalho, parecia que ela tinha mesmo imenso prazer em estar ali, mesmo a rotina cheia, ela sempre se mantinha de sorriso largo no rosto, isso a moldava como uma pessoa incrível e amiga, afinal, era o que ela era.

Deixei minha bolsa no armário dos funcionários enquanto colocava o uniforme do café. Separei alguns biscoitos que havia levado na bolsa, coloquei um café expresso na minha caneca preferida. Tinha que jogar contra o tempo, o café abria em alguns minutos.

— Acho que você tem um pretendente. Empolgada, Lily disse do outro lado.

— Pretendente? Eu? Nunca. — Ironizei sem ao menos perguntar de quem se tratava, achei que fosse um dos garotos da universidade do bairro, às vezes eles matavam aulas para ficar no ciber jogando e tomando algo.

"Ele te deixou um bilhete", Lily completou.

Fiz cara de surpresa, apesar de alguns garotos diretamente pedir meu contato ou até mesmo me convidar para sair. Mas, um bilhete? Era algo inédito. Fiquei curiosa.

O bilhete estava no balcão ao lado de umas das bandejas que foi usada, ao lado de um copo de milk-shake de maracujá. Quem toma milk-shake de maracujá logo de manhã?

O cartão verde estava lá, não hesitei antes de abri-lo.

— Leia em voz alta, quero saber quais palavras o admirador escreveu. Hm... Afinal, ele era um gato. — Lily brincou.

Eu peguei o cartão para ler, preparei a garganta, havia poucas linhas.

"Te vi ont..." li até começar a gaguejar, minhas pernas ficaram tremulas e as mãos não tão diferentes. Meus dedos não conseguiram segurar a caneca que logo foi soltada ao chão.

Um aperto em meu peito em seguida de uma vista escura chegou sem pressa, eu me segurei depressa e me sentei em um dos bancos que tinha ao lado.

A Lily correu em minha direção assustada.

O que aconteceu, Lana? — Lily me perguntou enquanto tentava entender.

— Quem... Quem te entregou isso? — Perguntei preocupada. E como, como ele sabia que eu trabalhava ali?

— O bilhete? Ele não disse o nome, apenas pediu para que o entregasse, disse que era uma surpresa. — Mas o que tá escrito, por que você tá dessa forma?

Lily pegou o bilhete da minha mão. Também se assustou com o que estava escrito: "Sinto muito pelo que viu ontem na sacada, agora temos um segredo em comum"

Seria uma ameaça? Eu fiquei assustada.

Investigação

Depois de ter passado mal eu acordei no quarto de acomodação do café, especialmente para esse tipo de eventos. Eu tinha desmaiado, o bilhete me causou um impacto muito grande e a Lily era preocupada comigo sem saber do que se. Lily era a minha amiga há um ano, a gente sempre falava de tudo, seria conveniente falar com ela sobre? Eu questionava um todo o tempo.

O caminhar da Lily para lá e para cá também mostrava alguém aflita.

Eu me sentia bem melhor, não podia deixá-la atender sozinha, me levantei da cama e fui até os balcões do café.

— Eu estou melhor, só tenho que fazer uma pergunta. — Falei para Lily enquanto amarrava o meu avental na cintura.

Lily me olhou de cima a baixo. — UAU, sua cara tá péssima. — Falou.

Claro que a minha cara estava péssima. Pouco tempo sem dormir, cansado e ainda assustado, será que alguém teria um semblante melhor para apresentar? Eu apostoia que não.

— Lily, quem entregou o bilhete? — Perguntei temendo a resposta.

— Bom, era um moço alto, bonito, porém não tão vaidoso. Ele tinha uma tatuagem no pescoço com como siglas V.K.M.

Fiz cara de desentendida, apesar de ter realmente não entendido nada. Única coisa que eu sabia era que havia um assassino naquela sacada e ele me viu e ainda teve a ousadia de enviar o mim um bilhete com essa letra ridícula?

V.K.M. Quem com um pingo de sanidade mental tatuaria essas siglas no pescoço? E o que significava essas siglas? Eu queria saber, eu precisava saber. Eu não estava tão prestativo nos serviços, parei 2 minutos para fazer uma busca no google, mas nenhuma reposta foi encontrada.

E foi então que lembrei das câmeras de segurança. Liguei pra Isabella para ela assumir meu lugar enquanto checava as imagens, Isabella era uma garçonete substituta que morava em cima do cibercafé. Fui ao escritório às pressas tentar tirar essa história a limpo, com a descrição das imagens + a pessoa que eu vi, assim eu poderia levar à delegacia e acionar o detetive Steve. Toda linha de tempo da câmera de segurança era ativa, a Lily falou que o homem chegou logo depois dela, mas, olhando nas imagens, ele não apareceu. O que eu notei também foi que os números 07:34:56 até 07:35:22 foram removidos das imagens, foi um salto de tempo.

Quanto mais eu tentar investigar o ocorrido, mais estranho ficava. Como seria possível isso? Como imagens sumir assim do nada? Voltei novamente ao café, os garotos da faculdade de muitas vezes estavam por lá para acessar a internet, talvez possa me explicar algo que eu precisava para entender. Já de longe vi o Hudson, ele era estranho e claro que iria achar que estava dando em cima dele. O que uma garota brasileira estudante de idiomas iria querer saber acerca de câmeras de segurança própria do serviço? valendo lembrar em quantas vezes tive que inventar uma desculpa para ele quando resolver me dar uma cantada e me convidar para sair.

Coloquei um sorriso no rosto, fiz o melhor café do lugar e desfilei até a mesa do meliante. Talvez assim possa conseguir algum tipo de ajuda.

— Está tão concentrado nesse seu laptop, achei que precisasse de um café quente e fresco enquanto descansasse como suas vistas. — falei enquan colocava a xicara de café na mesa. Hudson Riu.

— Se para sobre a banda-larga, já foi debitado no meu saldo, pode até conferir. — Se explicou.

Aff, ele insiste em jogar na minha cara o meu equívoco do primeiro mês no café. Os costumamos cobrar o acesso à internet dos garotos da faculdade, mas no dia eu equivocadamente cobrei duas vezes ele, estavam aprendendo como funcionava.

Puxei a cadeira ficando de frente para ele, elogiei aquele velho casaco de sempre que ele vestia, cinza com vermelho, número 79 estampado no peito, se ele fosse da turma de esporte eu diria que era o capitão de algum tempo, especificamente basquete, ele tinha perfil de jogador de cesta.

— Não, hoje é pela minha conta. — Falei enquanto piscava para ele. Mas, gostaria de fazer uma pergunta. Pode me ajudar? — Perguntei.

— Claro, ao seu dispor. Porém você precisa reorganizar a sua agenda e marcar um dia esses para a gente sair. — Ele falou.

Que inconveniente e cheio de intenções, aff. Revirei os olhos, porém rindo, assim não ficava tão antipático. Hudson tinha todo o perfil de garoto que eu gostava: Alto, magro, olhos claros e mulato, tinha todo o calor do Brasil, se vestia perfeitamente bem e alternativo, mas parecia mulherengo, então eu já me retirava de campo.

Mas sem delongas e partir para o que interessava, pulei o flerte e fui para a parte em que precisava.

— É possível mexer alguém nas imagens de uma câmera de vigilância sem ter acesso ao escritório? — Perguntei de forma direta para evitar perguntas.

— Depende. A câmera tá conectada em alguma rede wifi? ele me perguntou.

Eu falei que sim, todas as câmeras e eletrodomésticos, com exceção à geladeira era conectada com a rede wifi.

— Então sim, o indivíduo sim excluir ou mexer em todas as configurações e armazenamento de segurança.

"Cretino"

— Eu? Hudson perguntou.

— Não, não. Só pensei em voz alta, me desculpa. Te devo um sorvete na próxima semana. — Avisei. Sai da cadeira e fui falar com a Lily.

Ignorei todo o serviço que a Lily estava fazendo para perguntar se o cretino teve acesso à rede wifi.

— Lily, a pessoa que ele entregou o bilhete pediu a senha do roteador ou algo do tipo? — Perguntei.

— Ainda sobre isso? Lily Retruca. Não, ele disse que estava sem dinheiro em espécie e o celular estava sem carga, então usou o meu celular para entrar na conta do banco e fazer uma transferência. Mas eu chequei o saldo, o pagamento chegou corretamente assim que ele devolveu meu telefone. Mas por quê? — Lily me pergunta.

Se houve uma transferência, então poderia haver um nome. Foi o que eu pensei. Quem sabe assim eu não poderia tentar descobrir de quem se trata. Porém, checando o extrato do dia aparecia apenas o valor destinado, mas não o remetente. Todo aquele assunto estava me dando dor de cabeça, eu estava estava cansado de pontas soltas e sem resolução. Se eu fosse um detetive, certamente eu estava perdido nisso.

Um delinquente

Depois de muitas tentativas sem sorte, pensei em compartilhar com a Lily o que estava acontecendo, assim pelo menos duas cabeças poderiam pensar melhor do que uma. Eu resolvi deixar um pouco a investigação de lado e tentar concluir minhas tarefas, o tempo passou rápido e faltava pouco tempo para eu ir pra faculdade. Era um pouco mais das 17:50, já estávamos recolhendo nossas coisas para finalizar o nosso expediente, à noite os rapazes cuidavam do café.

A Lily e eu estudávamos na mesma universidade, a NYU. Eu entrei sendo bolsista, a família da Lily não é rica, mas sempre tiverem como manter os custos dela por lá.

A gente caminhava pela calçada como de costume depois do final do serviço, eu andava de cabeça baixa contando os ladrilhos da calçada.

— Você tá meio tensa, o que tá acontecendo que você não tá falando, amiga? — Lily me perguntou enquanto olhava para mim, eu conseguia ver empatia em seus olhos. Sei que saberia entender.

— Eu prometo que à noite, depois da faculdade eu vou lhe contar tudo. Mas tudo mesmo. — PROMETO. Terminei dando a ela meu dedo mindinho como voto de confiança. Ela entrelaçou com o dedo dela ao meu.

— Eu sei disso. Só quero você bem. — Finalizou me dando um abraço.

Trilhamos mais 5 minutos lado a lado, mas a Lily morava perto, não precisava pegar a condução, enquanto eu tinha um ponto de ônibus me esperando.

Eu estava altamente exausta, o que mais queria era ir à faculdade e depois um boa noite de sono de qualidade, era o que eu precisava.

Assim que o meu ônibus chegou, me acomodei naquela poltrona. Ela era confortável, confortável o bastante. Eu sentia meus pensamentos acelerado, era uma série de assuntos vindo ao mesmo tempo, mal eu conseguia focar apenas em um, aquilo me deixava tão mal. O pouco tempo que fechava os olhos, mesmo uma fração de segundos, eu sentia minhas pálpebras pesadas e cansadas, embora não estivesse 100% adormecida, o som do disparo tomava conta da minha mente, eu me assustava.

Eu dei graças a Deus quando o ônibus estacionou no meu ponto de descida, até então era somente mais 5 minutos caminhando até chegar em casa. Talvez devido ao luto, alguns estabelecimentos do bairro não abriram, é de costume ficar 24hs assim, não importa quem seja que faleceu. Era um ato de empatia. As crianças não estavam na calçada, estava silenciosa. Quem era aquele homem? Por que foi morto? Eu me perguntava. Olhei para cima naquele prédio, meu coração apertou. Por que eu não fiz nada? Por que eu não adiantei o trabalho do detetive Steve? Eu sabia as respostas, eu me via alguém impotente pra lidar com isso.

Lamentei, não havia mais o que fazer. Subi as escadas do meu prédio. O elevador havia quebrado e a única forma de chegar até lá era subindo cada degrau.

Talvez, aquele teria sido o meu pior dia da vida. Pelo menos até ali na escada. Mas se eu disser que o pior estava por vir?

Quando abri a porta do meu quarto, o cheiro do perfume diferente invadiu as minhas narinas, pensei ser efeito da dor de cabeça e o cansaço, mas não era. Em cima da minha cama tinha uma criatura sentada usando meu notebook enquanto comia uma maçã. Eu me assustei, não pensei duas vezes antes de ir tentar quebrar a cara dele com a minha bolsa, e foi justamente o que eu fiz. Entrei porta adentro gritando enquanto batia com a minha bolsa na criatura. — Saia daqui, o que você tá fazendo em minha casa. — Gritei, enquanto batia com a minha bolsa nas costas dele.

Eu pude perceber o desespero no nos olhos do delinquente, que se agachou entre a minha cama e minha mesa na tentativa de proteger a cabeça.

Mas, me assustei quando notei a tatuagem no pescoço, foi a mesma que a Lily descreveu. Perdi as forças das pernas naquele momento, depois tudo começou a perder o sentido ao meu redor, minha boca ficou seca, meus olhos pesados, foi um desmaio.

Passou alguma coisa como 3 minutos até eu retornar à realidade, acordei com o vento de um livro sendo abanado em meu rosto.

— Você desmaiou. — A voz calma, grossa e serena sussurrou próximo a mim.

Eu me espantei novamente pra variar. — Quem é você? O que tá fazendo na minha casa? Perguntei enquanto me levantava e corria para o outro lado para pegar o abajur como objeto de defesa. Segurei o abajur firme enquanto calculava a forma mais ágil de sair dali. Pensei em sair pela porta, mas eu estava com medo do delinquente estar armado, pensei também em atirar o abajur nele enquanto me trancava no banheiro, mas seria sem sucesso. Como iria pedir ajuda?

Mas uma luz surgiu naquela escuridão, naquele momento caótico. Avisei que minha amiga e eu temos um código secreto, que se eu não avisasse em 20 min que cheguei em casa, ela acionaria a polícia.

— Você pode ficar calma, garota? — O delinquente pediu do outro lado enquanto erguia as duas mãos em minha direção.

CALMAAA? como ele queria que eu ficasse calma com tudo que estava acontecendo, jamais eu ficaria.

— NÃO! Eu não vou ficar calma, e você pode sair AGORA da minha casa. — Me exaltei enquanto ameaçava jogar o abajur na cara dele.

O delinquente tentou novamente conversar, a cada palavra ele dava um passo à frente, embora eu estivesse com medo, eu pude calcular essa rota dele.

— Se você der mais um passo para frente eu vou atirar isso na sua cabeça e vai ser dois homicídios na porra desse bairro, eu estou lhe avisando. — Falei de forma agressiva, algo que nunca era de se notar em mim, não correspondia com a minha personalidade.

— Mais um homicídio? Por que mais um homicídio? Do que tá falando? — O delinquente fez essas perguntas enquanto fazia uma cara de desentendido.

— Abaixa esse abajur, vamos conversar, por favor! — Pediu.

Eu queria saber o que estava acontecendo, então eu não poderia bater com aquilo na cabeça dele, senão ficaria sem respostas. Coloquei o abajur do lado, falei para ele ficar 5 metros distante de mim e começar a falar, eu exigi.

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