𝕯𝖎𝖆 𝖉𝖔 𝖘𝖊𝖖𝖚𝖊𝖘𝖙𝖗𝖔
- Por favor, me solte... - implorava enquanto era arrastada pelo chão de um local desconhecido.
Um pano estava cobrindo seus olhos e os de sua mãe.
Pela força, Tereza tinha certeza que era um homem. Ela estava com medo, mais ainda de que ele estivesse machucando sua mãe enquanto a puxava.
Sua mãe, Carolina, a todo tempo que era puxada pelo homem, que parecia ser bem forte, orava e pedia proteção.
Tereza se debatia tentando se soltar de suas mãos grandes.
- Me solta! - Gritou na esperança de se livrar da pegada do homem, porém foi uma tentativa falha.
- Cala a boca! Se eu ouvir mais um pio, seu irmão e sua mãe morrem! - A voz entrou nos ouvidos de Tereza causando arrepios, era masculina, como ela suspeitava.
Quando tentou se libertar novamente, tomou um tapa certeiro no rosto.
- Eu não quero matar ninguém, então faça o que eu falar! Se não fizer, vão os três para o saco.
Sendo assim, Tereza e Carolina precisaram se acalmar. Estavam a ouvir passos, ecoavam por todo o lugar.
Carolina tem quase certeza que estão em um galpão, por conta do acústico.
Parecia até um filme.
Tereza ouvia o choro baixo da mãe, seguido de orações pedindo socorro.
- Deus por favor, nos guarde e faça com que eles desistam disso. - Os passos cessaram e se ouviu outro barulho, que parecia de uma porta.
Essa era a nossa única saída!
Um 𝖉𝖎𝖆𝖘 𝖆𝖓𝖙𝖊𝖘...
- Mãe, estou indo à padaria, a senhora quer mais alguma coisa?- Tereza pergunta no andar debaixo.
- Não, minha querida. Pode ir.
E lá estava Tereza terminando de arrumar seus cabelos ruivos encaracolados. Ela era muito vaidosa, não sairia na rua sem os cabelos penteados. Sua roupa já estava um pouco velha, mas por incrível que pareça era a mais recente. A moça não se lembra da última vez que comprou algo para si mesma. Estava desempregada e a meses procurava algo. Fazia um bico aqui, um bico ali, para que conseguisse quitar a casa de sua mãe e para não faltar nada dentro dela.
Já a mãe de Tereza, Dona Carolina, como sofreu um acidente em seu serviço, não podia trabalhar durante alguns meses. Após cair da escada, enquanto limpava o ventilador da patroa, ela estava engessada desde o começo de Janeiro.
O irmão mais novo de Tereza, Yago, estudava no turno da noite, para que pudesse trabalhar em uma mercearia próxima a casa, e fazia alguns bicos que ninguém precisava saber. Depois que sua mãe sofreu a queda, ele precisava fazer algo, além de estudar. Não se sentia confortável em saber que sua irmã estava se desdobrando em 5 à 6 faxinas por semana, ganhando 80,00 em cada, para sustentar os 3.
E lá vai Tereza com seus cachos pela rua. Estava próxima a padaria, quando parou para falar com a amiga de sua mãe, Neusa.
- Oi tia Neusa! Como a senhora está?- Tereza pergunta-lhe dando um abraço.
- Ficando velha, mas estou ótima!- ela sorri após se desvencilhar do abraço de Tereza.- E sua mãe, minha querida? Como está?
- Está melhorando, logo estará vindo visitar a senhora e colocando as fofocas em dia.
- Amém! Assim espero!
- Estou indo, tia. Qualquer coisa é só ligar que venho correndo.
- Está bem, Tête. Mande um beijo para sua mãe e para o Yago.- Neusa manda um beijo e alerta.- Cuidado nessas ruas, está muito estranho ultimamente. Volte logo para casa .
- Só irei à padaria, logo estarei voltando.
Tereza segue o caminho da padaria. O tempo estava nublado e era capaz de chover ao anoitecer. Ao entrar na padaria, faz o pedido e aguarda os pães. Vai até o caixa e cumprimenta a Sra. Olga.
- Bom dia, menina!
- Bom dia, Dona Olga!- dá o dinheiro e ela logo devolve o troco. - Obrigada.
Retorna ao balcão e lá recebe o pacote de pães.
Voltou rapidamente para casa, estava começando a chuviscar.
Ao chegar em casa, avisa sua mãe e coloca a mesa do café.
- O café está pronto, venham comer.
Somente sua mãe desce as escadas, lhe fazendo estranhar.
- A senhora viu Yago?- pergunta preocupada.
- Seu irmão saiu a pouco tempo, disse que iria para a mercearia mais cedo.
- Estranho...- Tereza começa a pensar, chega a conclusão que pode ter acontecido algo e seu irmão foi ajudar o dono.
- E então minha filha? Como estão as contas?
- Mãe, não quero falar sobre isso. Está bem complicado e gostaria de não pensar nisso por alguns instantes.
- Desculpe estar dando trabalho...
- Não é nada disso mãe! Se ao menos eu conseguisse um emprego fixo, estaríamos sem problemas, mas está horrível conseguir emprego.
Tereza apoia o cotovelo na mesa e afunda os dedos em seus cabelos ruivos, solta o ar forte. Estava realmente cansada de tudo aquilo, mas não deixaria a casa cair em suas cabeças.
- Espero que tudo melhore.
- É mãe, assim espero.

Horas antes...
Tereza não era uma garota inocente. Já curtiu muito a vida. Já transou com desconhecido, no banheiro de uma boate só para saber a sensação. Já bebeu tanto que depois vomitou até sangue. Tereza também aquela menina responsável que gostava dá idéia de dar a família mais conforto, mas nesses dias não estava sendo fácil.
Sabe quando a semana começa dando certo, até parece que nada consegue? A dica é aproveitar a boa fase, como se fosse sua comida preferida , Tereza aproveitava exatamente assim.
Cuidar da sua mente com pensamentos sempre positivos é o essencial.
Discou para sua mãe, se o seu dia estava maravilhoso, precisava espalhar essa sensação por aí!
- Mãe?
- Olá, minha filha...
- Consegui um dinheiro a mais para o carnaval, mas como não vamos sair para os blocos. Você gostaria de ir ao shopping?
- É claro, querida!- Tereza ouve um barulho de metal caindo.
- Está tudo bem mãe?
- Está sim, a muleta que Neusa me emprestou havia caído.
- Já que você aceitou sair, se arrume, quando chegar vou tomar um banho e me arrumar rápido.
- Tudo bem, não demore.
- Beijos..
- Beijos.
Assim que desliga, volta a limpar a casa da patroa com um pensamento.
"O que será que vou comprar?"
Assim que Tereza chegou em casa e terminou de se arrumar, chamaram um Uber.
- Está linda, minha princesa!
- Obrigada mamãe! A senhora também está!
Quando o carro para em frente a casa, Tereza abre a porta da frente para sua mãe e em sequência abre a de trás para se sentar no carro.
- Boa tarde..
Tereza toma um susto por não ser o motorista que estava na foto. Assim que ela tentou avisar Carolina, era tarde demais. O homem desconhecido havia trancado as portas e mandou as duas ficarem quietas, ou morreriam.
Os dedos do homem eram protegidos por uma luva negra, batia nervosamente no volante causando um barulho suave.
Seus olhos azuis, se fixaram no retrovisor e capturaram o reflexo de Tereza que estava sentada no banco de trás.
Não havia qualquer dúvida para elas que aquilo era um sequestro.
Tereza pega o seu celular, quando ele se distrai e tenta ligar para a polícia, mas tudo dá errado. Ela acidentalmente colocou no viva voz, e todos os que estavam no carro ouviram a ligação completando.
O rapaz pisou no freio bruscamente, fazendo a jovem quase parar na parte da frente. Tomou o celular dela, lhe ameaçando.
- Eu disse para não fazer gracinha!
Ele dá um tapa em seu rosto e sua mãe avança em cima dele. O homem rapidamente pega a sua arma debaixo do banco e aponta para as duas.
- Quietas ou mato vocês agora!
Agora sim estavam perdidas.
Tereza se encolhe no banco detrás, como sua mãe na frente.
- Colocarei um saco de pano na cabeça das duas e quero que estiquem os braços, sem fazer nenhuma gracinha!
Ele coloca o saco de qualquer jeito, Tereza e sua mãe esticam os braços, sentem que estão sendo presos com uma corda áspera.
Não poderiam se mexer muito, o homem fez de propósito para que elas não tentassem escapar ou suas peles ficariam em carne viva.
- Fiquem caladas!- ele pausa.- Se abrirem a boca e tentarem se comunicar...
- O que está ganhando com isso?- A moça não aguentou e perguntou.
- Cala a boca, isso não é da sua conta! Se abrir mais uma vez, colocarei fita na boca das duas.
Estavam alguns minutos no carro, que pareciam horas. Ele havia ligado o ar-condicionado, mas Tereza estava tão nervosa, que não parava de suar.
- Está chegando? Estou apertada...
- Cala a boca!- ele berra freando o carro bruscamente.- Faça aí mesmo!
- Eu não irei fugir! Minha mãe ficará dentro do carro, não a deixarei sozinha.
- Tudo bem, vamos parar mais a frente.
Os 5 minutos pareciam uma eternidade. Tereza realmente estava apertada para ir ao banheiro, não poderia segurar por muito tempo. Quando o carro para, ela agradece a Deus mentalmente.
Ela sai do carro, com o rosto tampado ainda pelo pano, arrastada. Ele retira o pano de seu rosto e lhe dá três minutos para fazer xixi.
Tereza consegue depois de muita luta tirar sua calcinha, graças a Deus ela estava de vestido, mas isso parecia ruim também. E se por acaso ele quisesse abusar dela?
Ela termina de fazer suas necessidades, no meio do mato. Olha para trás, lá estava o homem encostado em seu carro, de costas falando no celular. Não conseguia ver sua mãe, o vidro do automóvel era tão escuro quanto a noite. Tereza levanta sua calcinha e logo é puxada novamente para o carro.
- Preciso ir ao banheiro também...
- Vocês estão de sacanagem comigo, suas vagabundas!- ele bate em Carolina.
- Não bate na minha mãe, verme!- Tereza, que está sem o saco, bate com os braços amarrados em sua face.
- Cala a boca, sua puta!- o homem lhe bate também.- Ninguém vai sair dessa porra!
Ele coloca algo em um pano, pressiona no nariz de Tereza, que apaga e logo em seguida no de sua mãe.
Estavam a uma semana no Galpão. Eles levavam sempre comida e água para as mulheres, três vezes ao dia.
O galpão era meio úmido, parecia ser próximo de algum Rio ou Cachoeira, elas não sabiam exatamente.
A maior parte do tempo elas ficavam com o saco cobrindo seus rostos. Elas mal se viam e tinham medo de tentar qualquer tipo de comunicação.
- Eu estou tentando entender o que fizemos para acontecer tudo isso...
- Deus, minha filha! Se isso está acontecendo é porque tinha que acontecer.
Tereza todas as noites chorava. Como ela sabia que era noite?
Pedia para ir ao banheiro, lá havia uma janela. Ela sabia quando estava de dia pela luminosidade e pelo calor que fazia no lugar.
Estava preocupada com Igor, algumas perguntas rodeavam em sua cabeça.
Será que seu irmão estava metido em algo errado? Será que fizeram algo com ele? Como será que ele estava? Eram perguntas que Tereza não sabia a resposta e talvez não as teria.
- Preciso ir ao banheiro - falou alto, sua voz ecoou por todo galpão.
Escutam o ranger da porta e aguardam o barulho dos passos.
Puxam Tereza grosseiramente e a levam ao banheiro. Ela olha pela janela e vê que já está de manhã. Hoje seria o sétimo dia delas em cativeiro.
Ela termina e abre a porta. O rapaz coloca o saco novamente e a conduz para seu lugar.
Minutos depois as mulheres escutam uma briga próximo ao local e entram em alerta.
Um homem vai até Tereza e lhe arrasta até um carro luxuoso, que estava parado em frente ao Galpão. O motorista abre a porta para que ela possa entrar e o homem desconhecido que lhe joga lá dentro, logo se senta ao seu lado, tirando sua venda.
- Por que está fazendo isso? E minha mãe?
- Cale a boca!- ele fala calmamente, mas Tereza percebeu que o homem estava bem estressado. - Ela ficará bem.
Ela se cala e olha pela janela a paisagem. Pessoas sorriam por onde ela passava, a cidade estava bem movimentada por causa do Carnaval.
- Lúcio...
- Sim, senhor.- o motorista responde, olhando para o homem pelo retrovisor interno.
- Mudança de planos, vamos para Grande Ilha.
Tereza vê o motorista mudar de rota. Ela se perguntava a todo momento onde ficava esse lugar? Será que a ilha era particular? Como iria fugir?
Ela volta a olhar pela janela inquieta, sacudindo seus pés. Isso era uma pequena mania que tinha.
- Pare com isso!- ele a força a parar colocando a mão em sua perna.
- Desculpe..- falou tão baixo, que o homem não ouviu.
Tereza o fitou mexendo no celular e ficou encarando por alguns segundos.
- Sou bonito?- ele pergunta dando um sorriso, sem tirar os olhos da tela do aparelho.
- Humm... É.
Nesse exato momento a moça se deu conta do que havia falado e arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma. Se perguntava do por que ter respondido aquela pergunta de forma positiva para o homem, que havia sequestrado ela e sua mãe e sabe lá Deus o que aconteceu com seu Irmão.
- Estou aqui por causa do meu irmão?- Tereza resolve quebrar o silêncio.
- Está.- o homem diz ríspido e logo se cala.
Ele não parava de mexer no aparelho e a moça estava ficando estressada com isso. Ela estava tentando dialogar com ele, mas pelo jeito o homem não estava nenhum pouco afim de dirigir a palavra a ela.
- Seu irmão fez uma burrada das grandes e preciso proteger você.
- O que ele fez?
O carro ficou silencioso após a pergunta. A moça observa que estão em uma rodovia. Estavam passando por um shopping e avistou o letreiro "MC Donald's".
- Estou com fome.
- Logo estaremos no nosso destino e você poderá comer o que quiser.
Assim se passaram vinte minutos e nada da Grande Ilha chegar. Tereza estava muito impaciente e com fome.
- Você só fica nesse celular mesmo?
- Fique quieta, já estamos chegando.
- Disse isso a quase quarenta minutos. Estou com fome.
Ele bufa alto, olha para o retrovisor e faz um pequeno sinal ao motorista que já entendeu o recado.
Eles logo param em um posto. Havia uma loja de conveniência e uma loja que vendia pães de queijo, caldo, pão na chapa entre outras coisas.
- Não faça nenhuma gracinha.
Ele levanta o terno mostrando sua arma. Tereza estava com menos medo, estava mais confiante para fugir agora, mas antes com certeza iria comer.
Eles se sentam em uma mesa, uma senhora vai até ela para atendê-los.
- Boa noite, aqui está o cardápio.
O homem olha meticulosamente, logo pede pães de queijo e um Mate. Já Tereza, pede dois pães na chapa e um refrigerante.
Não demora muito para o pedido sair. Os dois comem calmamente e a moça fica vermelha por sentir que está sendo vigiada.
- Qual seu nome?- ela tenta puxar assunto.
- Essa é a cor natural de seus cabelos?
- Não, por quê?
- Então lembre de comprar tinta antes de chegarmos ao destino.
Tereza ficou se perguntando do por que comprar a tinta. Será que lá era realmente uma Ilha particular e deserta?
- Posso ir ao banheiro?
- Pode, mas não tente escapar.
- Ok.
Ela se levanta e vai até a senhora que está no caixa.
- Poderia me dizer onde é o banheiro?
A atendente aponta a direção e lhe dá a chave. Tereza queria apressar os passos, mas se fizesse isso e ele estivesse olhando, com certeza saberia o que ela está tentando fazer.
Ela entra no banheiro e tranca a porta. Procura nas cabines uma janela que pudesse pular e a sorte estava a seu favor.
Era a hora de fugir.
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