Aquela proposta pareceu não fazer sentido na cabeça de Izuku, como o garoto mais popular da sala poderia estar literalmente pedindo para ter um filho seu? Realmente não fazia sentido na sua cabeça, o mais óbvio e provável era que o bicolor encontrasse alguém melhor, não queria duvidar da sua capacidade ou estar se menosprezando, apenas via nos outros melhores opções que em si próprio.
Todoroki Shouto, um garoto da Elite, filho do agora atual Primeiro Ministro do Japão, poderia muito bem escolher alguém como Momo-san, uma alfa também elitizada, que realizou grandes feitos durante o curso. No entanto não era isso o que o preocupava, era verdade que ele era um ômega, em uma escola que refleti bem a sociedade com uma maioria esmagadora de betas ricos e principalmente alfas dominantes que eram o topo da hierarquia social.
Eu sou beta, você sabe. não era sua intenção mentir, porém a entrada de ômegas nessa universidade não era bem vista, além do mais, os ômegas aqui presentes eram educados apenas para o casamento que as suas respectivas famílias almejavam. Sinceramente, ao entrar aqui, Midoriya Izuku buscava por meio da bolsa escolar, algo que pudesse proporcionar para ele e a sua família uma vida melhor.
- Eu sei que você é um ômega, eu posso sentir o seu cheiro, ele pode ser fraco ou você talvez use algo para mascarar, mas ele ainda está aí. - a cara séria de sempre, naquele momento soava amedrontadora para o mais baixo.
Estavam em seu último ano de faculdade, na verdade a apenas alguns meses de concluir o curso de Ciências Políticas, por isso, tudo que menos queria era arrumar confusão para si, precisava desse diploma, este com certeza lhe abriria inúmeras porta no futuro, por isso, ainda que se tratasse de alguém tão popular na U.A. ele deveria se afastar, na verdade esse era um excelente motivo para fugir.
Izuku, assim como todos os jovens, conhecera seu segundo gênero antes de entrar para o ensino médio, embora nunca tenha apresentado um cio -o que levou a repetir OS seus exames posteriormente era de fato um ômega, sua baixa estatura o denunciava e para esconder o corpo curvilíneo, usava sempre roupas folgadas. Era grato aos céus por nunca ter tido o seu primeiro cio, pois sabia que depois do cio os ômegas eram incapazes de esconder o próprio cheiro, e embora haja medicamentos e aparelhos que ajudam com essa parte, tudo era excessivamente caro para alguém como ele.
Uma família monoparental, sua mãe, uma beta simples e baixinha, fez de tudo que pode para o criar sozinha após a morte de seu pai, tendo que aumentar a carga horária no hospital, deixando assim a responsabilidade dos afazeres domésticos sobre o filho.
Por mais que trabalhasse exaustivamente, nunca deixou que o filho se sentisse sozinho, ao contrário, fazia questão de acompanhar de perto a educação escolar, demostrando o quanto se importava com a cria, por isso mesmo nunca o permitia trabalhar para ajudá-la, na verdade, sentia se culpada por deixar tanta responsabilidade para uma criança pequena, talvez isso explicasse a crise de choro e os inúmeros pedidos de desculpa quando descobriu que o menino era um ômega; quem sabe imaginasse a difícil vida que o filhoteria.
- Não sei do que você está falando. - já estava se afastando a passos largos do local e daquela conversa problemática. Devia ter imaginado que aquilo era problema, pensava enquanto relembrava achar estranho o alfa ter ido ao seu trabalho e esperado o turno na livraria terminar para falar consigo. Porém, jamais imaginou que esse seria o assunto.
-Você precisa manter escondido que é um ômega na universidade? de fato o tom usado por Shouto não era ofensivo, mas Midoriya não pode deixar de pensar que aquilo era uma ameaça, parou instantaneamente.
- Isso é uma chantagem? - ainda congelado no lugar, não sabia se pela fala ou presença do outro, teve que fazer força para olhar de volta para o rapaz atrás de si.
Não! um pouco afoito contestou de imediato - Eu apenas gostaria de entender, converse comigo, por favor. - a voz grave parecia sincera, e na verdade o esverdeado não tinha muitas opções; acendeu com um menear de cabeça. - Tem um café no fim da rua, podemos... - foi interrompido.- Não, melhor não, está é uma área estudantil, sempre podemos encontrar alguém da faculdade aqui.
- E o que sugere?
Vamos a minha casa. - era um risco, nunca havia levado um alfa a sua casa, sendo sincero,poderia contar nos dedos as pessoas que já haviam ido ali, mas seria pior ainda ser exposto caso sua conversa fosse em público.
- Mostre o caminho.
Desde que saiu de casa para estudar, morou um tempo no dormitório do campus, mas assim que encontrou um trabalho de meio tempo, preferiu procurar por algo dentro do seu orçamento e mudar-se, não era seguro dividir um quarto com um alfa ainda que este não soubesse que era um ômega.
O apartamento ficava em um complexo de dois andares, era um quarto de 1k em Tokyo, não era muito espaçoso, entretanto pelo menos possuía banheiro próprio e também uma varanda onde podia cultivar algumas plantas e estender a roupa.
Eram exatos 20 minutos da livraria até lá, escolherapelo preço e proximidade assim não precisava pegar uma condução, ou seja, menos um gasto, e até gostava do exercício, menos naquele dia, o silêncio era congelante, bem mais do que aquela noite de início de inverno, ambos permaneceram calados durante o trajeto, talvez perdidos em seus próprios pensamentos.
-Chegamos, me acompanhe. anunciou enquanto subia a escada lateral do prédio simples. - Sente-se onde quiser. - Todoroki obedeceu e após retirar os sapatos, sentou-se próximo ao kotatsu no meio do vão.- Desculpa, só tenho esse tipo de chá. lhe entregou uma caneca fumegante, com algo que podia ser considerado onde as folhas de alguma erva haviam sido lavadas, para alguém da classe do alfa, mesmo assim não faria desfeita e beberia todo o conteúdo.
- Vou ser sincero com você, Midoriya, eu quero que você tenha um filho meu. Vendo onde você mora, acredito que a minha proposta não será tão ruim assim, se aceitar ter um filhote saiba que a recompensa será extremamente grande. - aquilo era um grande absurdo, quem aquele filhinho de papai pensava que ele era; jamais aceitaria ter umfilho por dinheiro, e não seria a sua condição financeira que mudaria isso.
-Você só pode estar brincando! Você acha que eu teria um filho e entregaria por dinheiro? Isso com certeza tem que ser uma brincadeira de mau gosto. o baixinho estava perdendo a paciência, não era alguém que se irritava tão fácil, porém aquela história era absurda demais para si, sabia que era uma prática comum na alta sociedade principalmente entre os alfas que não conseguiam ter filhos tão facilmente, mas jamais imaginou que se veria envolvido em algo do tipo.
- Midoriya, você provavelmente sabe quem é o meu pai, ele com certeza me fará ter um filho assim que o nosso curso acabar, ele quer que eu o suceda em seu cargo, e provavelmente ele sabe que eu não tenho essa intenção, por isso me fará ter um herdeiro para seguir os seus passos. segurava firme a xícara em suas mãos enquanto olhava seriamente o outro a sua frente.
- E o que eu tenho a ver com isso? Quero saber exatamente porquê eu, tenho plena certeza de que milhares de ômegas da nossa faculdade estariam mais do que satisfeitos de te dar umfaculdade. Se o assunto era somente esse, espero que o considere encerrado; tudo que eu posso te pedir é que por favor não comente nada, não quero ter problemas, ainda mais agora que falta tão pouco para o final do curso. já estava se levantando e recolhendo as xícaras vazias depositando-as na pia, enquanto se dirigia para a porta da saída indicando que o outro deveria ir embora.
-Por favor, pense sobre o assunto, Midoriya, voltaremos a conversar em breve. - disse antes de passar pela porta.
-Não, não há mais nada a ser pensado. Tenha uma boa noite. - fechou a porta e enfim se permitiu respirar profundamente liberando o ar de seus pulmões e sentindo-se mais cansado do que deveria, só queria que aquele dia acabasse logo e se possível pedir aos céus que não tivesse mais problemas com esse assunto.
O que o jovem ômega não sabia, é que nem sempre temos o que desejamos.
CONTÍNUA..
Seria pedir demais um dia de paz naquela universidade; desde aquela conversa em seu apartamento já haviam se passado por volta de um mês que a existência do alfa o estava consumindo.
Sinceramente, Izuku imaginou que depois de tantas recusas e de literalmente o evitar na sua própria cara, Todoroki se daria por vencido. O esverdeado só faltava se esconder para não encontrá-lo, mas como faria isso se o bicolor sabia onde era o seu trabalho, compartilhava do mesmo curso que o seu e ainda tinha feito a pior burrice de mostrar onde era a sua casa, não que alguma vez tenha aparecido em sua porta, entretanto caso o ômega resolvesse realmente se esconder, tinha a impressão de que seria abordado no apartamento.
A pior parte, era que agora as pessoas passaram a notar a sua existência, antes não passava de um bolsista que era ignorado pela massa, embora ainda existisse algumas pessoas que o tratavam bem, e era bastante agradecido a falta de distinção que os professores faziam entre as classes financeiras ou de gêneros. Toda aquela atenção indesejada, estava lhe estressando demasiado, como se sua vida já não fosse bastantecorrida e complicada com o trabalho e o curso, agora tinha que lidar com os cochichos pelos corredores, o olhar dos curiosos e o alfa mais famoso do Campus.
E por falar em alfa, lá estava ele parado na saída do prédio. Não fazia ideia de como é que ele obtivera a todos os seus horários, já que ambos não compartilhavam as mesmas cadeiras naquele semestre. No entanto, ele parecia saber exatamente onde o ômega estaria.
- Espere por favor, Midoriya! - agarrou em seu braço antes que esse escapasse uma vez mais.
- Eu preciso ir para o trabalho agora, Todoroki kun, poderia por favor me soltar?
Então podemos falar quando você sair do trabalho? -Eu passo para te pegar.
-Por favor me solte, as pessoas estão nos olhando. - o jovem de olhos esmeraldas já estava ficando nervoso com o aglomerado de pessoas que os observavam.
-Não vou soltar até você dizer que falará comigo. sinceramente era muita pressão sobre si,já não estava pensando direito por isso concordou com um simples menear de cabeça. -Combinado, eu passo para te pegar às 18 horas.
Entrava na livraria exatamente as 1h da tarde,e por pouco não chegou atrasado. Era um trabalho
maravilhoso para alguém como Izuku. Amava livros,tinha uma grande sede de conhecimento, em seus anos de escola lera tanto que podia jurar conhecer todos os títulos da pequena biblioteca do seu colégio.
Sua sede de conhecimento o teria levado a um curso de letras ou história talvez, porém precisava de dinheiro imediato ao sair da faculdade, por isso escolherá Ciências Políticas, não que não gostasse do curso, na verdade todo conhecimento era válido, por isso mesmo o emprego era ideal, poderia prestar um concurso para a área de Administração Pública, ou se tudo desse certo, sairia com uma indicação da faculdade.
Às vezes a livraria Book's Home, encontrava se extremamente cheia, lotadas de estudantes universitários e alunos do colégio particular que também pertencia a sua universidade, mas nosmomentos de folga era maravilhoso aproveitar para ler algo do seu agrado, qualquer conteúdo aleatório que não fizesse parte da sua grade de estudos, principalmente se fosse literatura estrangeira, sua paixão.
Aquele era um dia felizmente calmo, o movimento na loja até havia sido intenso durante as três primeiras horas, mas agora no final da tarde tudo já havia se acalmado e ele podia aproveitar o novo livro de Dan Brown, Origem. Estava completamente mergulhado na leitura e não percebeu quando a sua colega se aproximou por trás de si.
-O gostoso já 'tá lá fora. - a garota de cabelo rosa era sua companheira de trabalho desde que havia iniciado ali, era uma senpai por assim dizer. Sempre animada, estava torcendo por Todoroki, talvez porque não havia sido informada da história completa, em sua concepção não entendia o porquê de seu pequeno amigo se negar a sair com um alfa tão "gostoso" como aquele.
-Não me assusta assim, e também não fale dessa forma. suspirou pesadamente lembrando se de que havia combinado de conversar novamente com outro.
- Não precisa ter ciúmes, Izuku-chan, eu não costumo pôr a mão em homem de amigo meu. Midoriya soltou novamente o ar antes de responder.
-Ele não é nada meu, apenas fico envergonhado quando você fala dessas coisas. - e realmente suas bochechas ameaçavam ganhar uma corzinha.
-Por isso que eu vivo dizendo para você perder esse cabaço, essa sua timidez se resolve com um bom pau no meio de suas pernas.
- Mi-Mina-chan! Olha onde estamos! olhava desesperado para os lados, enquanto sentia seu rosto esquentar.
- Não há ninguém aqui, nós já estamos quase fechando. Marcou um encontro com ele, foi? - se aproximou do esverdeado.
- Não é isso que você está pensando por mais que fosse sua amiga, ainda era uma garota, na verdade, qualquer pessoa perto demais o deixava constrangido. Levantou as mãos em frente do corpo e olhou para o lado com vergonha. - Nós sóvamos conversar e eu espero que seja a última vez.
Mina se afastou, não muito satisfeita com a resposta, porém sabia que seu amigo tinha problemas lidando com a situação e por mais que gostasse de provoca-lo, nunca passaria dos limites. Resignou-se; lhe restava apenas torcer para que o amigo perdesse a timidez e quem sabe a virgindade com o alfa lindo de doer que esperava encostado a grade de segurança da rua em frente da livraria.
- Pode ir se arrumar, eu fecho aqui.
- Ah, não precisa, ainda temos tempo, eu vou colocar esse livro no lugar e arrumar um pouco algumas prateleiras.
-Po-de-ir-se-ar-ru-mar-eu-fe-cho-a-aqui. silabou como uma ordem. A verdade era que ele queria que tivessem hora extra neste momento, não queria ter que falar com ele, entretanto era necessário, precisava que Todoroki o deixasse em paz.
-Ok. com um grande suspiro e expressão cabisbaixa foi em direção ao vestiário pegar seu casaco e sua bolsa, trocaria de roupa em casa. - Até amanhã. - se despediu próximo a porta.- Quero saber de todos os detalhes e qualquer coisa me liga. era afobada, mas era uma boa amiga, sabia que podia contar com essa "peça" se precisasse.
Agora era a hora da verdade. O olhar heterocromático encontrou o seu e só desviou desse olhar porque uma lufada de ar gelado lhe atingiu o rosto o fazendo tremer. O alfa vindo em sua direção era realmente estonteante, a roupa e cabelos agitados pelo vento o deixava como uma pintura, só faltava flocos de neve caindo para o deixar mais perfeito. Realmente entendia a quantidade de pessoas que se jogavam aos seus pés; ele era lindo, rico e um alfa de presença extremamente dominante, um lúpus por assim dizer. A vida realmente não era justa.
-Vamos a sua casa novamente? queria poder ir a um café, a noite estava fria e uma bebida quente seria bem-vinda, no entanto não ousaria se arriscar. Concordou apenas balançando a cabeça, já imaginando outra longa caminhada em silêncio até a sua residência.
- Espera um segundo. - o bicolor atravessou a rua deixando sem entender a sua atitude até queentrou na cafeteria que ficava em frente ao local de trabalho do esverdeado, saindo de lá alguns minutos depois com dois copos na mão. - Aqui, não sabia o que você gostava, por isso pedi um moccha.
-O-obrigado, eu gosto de coisas doces. sorriu meio sem jeito, ainda sem saber como lidar direito com a situação.
-Sabe, Midoriya, eu sei que já te perguntei isso antes, mas por que você não quer que as pessoas saibam que você é um ômega? o mais baixo olhou um pouco para a rua a sua frente antes de voltar sua atenção para a pessoa ao seu lado, ele já sabia do essencial, talvez se explicasse sua situação isso o fizesse desistir.
- Olha, Todoroki-kun, talvez na sua lógica de alfa da elite, rico e desejado por todos, isso não faça sentido. esse comentário sincero fez o bicolor ri por dentro, embora sua aparência não demonstrasse. - Mas apesar de ser um ômega, não busco subir na vida com casamento rico ou um golpe do baú, eu venho de uma família humilde, somos só eu e a minha mãe, e por mais que o meu pai tenha nos deixado algo de dinheiro e a casaonde morávamos, a minha mãe teve que trabalhar duro para nos sustentar, foi graças a que me permitiu estudar sempre que pude entrar nesta universidade e pretendo retribuir tudo isso ao sair daqui e consegui um bom emprego.
- Imagino que saiba que ômegas não são bem pagos no mercado de trabalho, isso quando conseguem ingressar em boas empresas. suspirou cansado, não imaginava que teria Izuku falar que de coisas tão pessoais com alguém que mal conhecia.
- Sobre isso, acho que devo ter nascido com algum problema, apesar de que em nenhum dos meus exames tenha apontado nada de errado comigo, eu nunca passei por um período de cio. estava extremamente envergonhado em ter que confessar aquilo, afinal poucas pessoas sabiam sobre isso.
-NUNCA! falou um pouco alto o que fez o mais baixo se desesperar.
-T-To-Todoroki-kun! olhava para os lados aflito com medo de que alguém pudesse ter escutado sua conversa. Por sorte já estavamchegando no apartamento, subiu as escadas as pressas e abriu a porta para que os dois entrasse. - Sente-se, vou fazer um pouco de chocolate quente.
- Desculpa ter gritado na rua, não era minha intenção.
- Tudo bem, aqui. entregou a xícara. - Pelo menos agora você entende porquê não quero que outras pessoas saibam sobre isso, além de que, seguir até agora dessa forma e não creio que vá mudar no futuro, por isso não pretendo aceitar a sua proposta, não importa o tempo ou insistência que leve.
O bicolor permanecer calado, como se pensasse em algo, alguma forma de convencer o ômega à sua frente do contrário, precisava que ele aceitasse, só poderia ser ele.
-Então me ajude a encontrar alguém para isso, eu prometo que se chegar a conhecer alguém melhor do que você desistirei da ideia, no entanto, enquanto isso me conhecerá melhor e eu tentarei fazê-lo mudar de resolução, o que acha? - aquilo ainda parecia uma ideia estapafúrdia, porém era melhor que o tê-lo atrás de si todo o tempo.Suspirou resignado.
- Ok, mas me prometa que manterá uma certa distância na faculdade, não quero chamar mais atenção do que durante essas semanas.
-Temos um trato. se permitiu sorrir um pouco, ainda que não mostrasse os dentes, mas a cena não aparecera despercebida pelo esverdeado, que rapidamente divagou na beleza alheia ao mesmo tempo que pensava em como lidaria com essa nova situação.
- Temos um trato. - concordou por fim.
CONTINUA...
Não foi uma surpresa a presença constante do dicromático no seu local de trabalho, tão pouco fora uma surpresa encontrá-lo sempre observando na universidade; Todoroki mantinha um forte olhar sobre si e de certa forma esta atitude do alfa deixava Midoriya desconfortável.
Não chegava a ser algo irritante, mas o deixava desconcertado, saber que alguém o olhava tão intensamente e observava cada um dos seus movimentos era de certa forma embaraçoso e o pequeno ômega que odiava chamar atenção se sentia constrangido por esse tipo de atitude, principalmente percebendo que algumas pessoas começaram a notar a mudança de comportamento de Shouto.
A primeira pessoa a perceber que algo estava errado ou diferente fora Mina, por mais que estivesse feliz de ver o seu amigo aparentemente saindo com alguém, sentia que este o estava escondendo algo que não delicadamente forçá-lo a confessar. demorou a
-Você pretende me contar o que está acontecendo, Izuku-chan, ou prefere que eu vá lá fora e pergunte ao seu alfa gostoso do que se tratatodo esse lance? ok, talvez não tenha sido tão delicadamente, mas não era do perfil da alfa ser sútil.
-Mi-Mina-chan? Não sei do que você está falando. desviou o olhar na tentativa de desconversar, porém sabia que não obtivera sucesso já que a amiga não saiu do seu lugar. Resignou-se e respirando fundo antes de confessar o que a outra buscava. - Eu o estou ajudando, ele está procurando alguém parecido comigo que possa lhe dar um herdeiro.
-Parecido com você, ou você? - o arqueado sobrancelha demonstrava exatamente a da desconfiança de que aquilo que foi dito não era toda a verdade.
-Bom... na verdade, na verdade, ele me procurou no mês passado com essa proposta maluca, e no final depois da minha recusa, aceitei apenas ajudá-lo a achar alguém para o seu propósito. - só agora Izuku se dava conta de que já havia passado um mês sem muitos avanços e que na verdade ele próprio não tivera tempo de observar pessoas que poderiam agradar ao alfa. Porém como poderia achar alguém interessante para outrapessoa, se nunca havia achado alguém interessante para si próprio? Deu-se conta quão inexperiente era.
- E por que você não aceita? Se fosse eu, já teria me jogado nos braços daquele gostoso bicolor. sabia que a amiga estava brincando, mesmo assim não podia deixar de sentir certo desconforto com brincadeiras de cunho sexual e isso fora mostrado no realçar de suas sardas com as bochechas levemente rosadas.
-Mina, você mais do que ninguém me conhece, sabe dos meus planos e sabe que não pretendo me envolver com ninguém até tê-los concretizado. - a rosada iria responder algo, mas a expressão séria do baixinho dizia que nada que ela falasse o faria mudar de opinião. A conversa morreu ao ouvirem o sino da porta indicar a entrada de um cliente.
Embora a alfa sempre brincasse sobre como era atrativo o heterocromático, os seus gostos eram bem mais puxados para garotas e por isso mesmo se apressou até a porta ao ver uma garota de cabelos curtos castanhos adentrar local. Midoriya, que observava a rosada atender com uma simpatia anormal a cliente, teve sua atençãoroubada quando por algum motivo o bicolor entrou na loja caminhando diretamente em sua direção; aquela era uma atitude estranha tendo em vista que o outro sempre o esperava do lado de fora.
-Midoriya, eu precisarei desmarcar o nosso encontro de hoje.
-Não precisava vir até aqui para me avisar, bastava apenas mandar uma... - parou ao perceber que mesmo com o se passar daquelas quase cinco semanas não haviam trocado contatos. - Oh, me desculpe por isso, já deveria ter te passado pelo menos o meu e-mail. - com vergonha estendeu o celular para que o outro acrescentasse os seus dados.
-Eu agradeço por isso, e novamente peço desculpas, surgiu um imprevisto, mas falo com você em breve. - girou nos calcanhares e retirou-se do local, não dando a chance do esverdeado lhe contestar algo.
Por mais estranho que a situação parecesse, Midoriya não saberia dizer se era algo bom ou ruim, ficou preocupado com a cara que o outro havia posto, no entanto não eram tão próximos comopara se intrometer na vida alheia, o máximo que poderia fazer com a quantidade de problemas próprios que já tinha que resolver já estava fazendo pelo bicolor. Aguardaria um novo contato, mas por hoje aproveitaria para colocar as matérias em dia e adiantar alguns trabalhos da faculdade.
O jovem Todoroki se sentia mal, era uma pessoa de palavra e não gostava de desmarcar compromissos, ainda mais com o esverdeado que o estava ajudando tão amavelmente, entretanto era inevitável, quando Enji Todoroki chamava não haviam segundas opções; eram ordens. Por isso estava ali, com uma gravata desconfortável que já havia se acostumado, mas não deixava de ser incômoda.
Sempre eram as mesmas situações: roupas desagradáveis, para festas desagradáveis, com pessoas desagradáveis. Desde que seu irmão mais velho havia sumido/fugido, Shouto teve que arcar com as responsabilidades, embora sua irmã maisvelha também fosse alfa, na cabeça retrógrada de seu pai, por ser mulher, ela jamais poderia assumir como a próxima chefe da família, ainda que esta quisesse.
A professora Fuyumi, era uma alfa gentil dona de uma rede de cursos pré-vestibular e de formação técnica para todos os gêneros, com toda certeza ela seria uma ótima líder política como seu pai queria, fora que a mais velha socializaria bem mais em uma festa como essa.
-Por que a cara emburrada? lida estava acompanhado de Yaoyorozo Momo, ambos sempre frequentavam os mesmos encontros que o bicolor e isso era seu único alívio no meio dessas reuniões.
-Hoje eu havia marcado com o Midoriya. - assoprou o ar de seus pulmões.
Os olharam para ele e se entreolharam, talvez se perguntando quem deveria falar a verdade que o heterocromático não parecia enxergar. Tenya sempre prático e sincero, fez menção de abrir a boca, mas foi interrompido por Momo que foi mais rápida:amigos
- Por que toda essa obsessão com o ômega?É certo que ele parece ser um bom rapaz, entretanto isso não é justificativa. Acaso o mesmo não lhe disse que não deseja aceitar esse acordo? - lida não entendia onde a garota buscava chegar, então
apenas observou.
-Não estou obcecado, apenas sinto que se devo ter um filho, ele é a melhor escolha para isso. - novamente os amigos se entreolharam.
- Você está se ouvindo, meu caro amigo? dessa vez o alfa de óculos falara, já havia entendido onde a garota buscava chegar; era necessário que o próprio Todoroki se desse conta.
-O que mais posso fazer? suspirou pesadamente e retirou as mãos dos bolsos da calça. Meu pai jamais desistiria da ideia de um casamento arranjado a menos que eu lhe prometesse que teria um filhote, um sucessor a "altura da família Todoroki". - desenhou aspas com os dedos.
- E você pretende entregar seu filho para que viva a mesma vida que você? Não me admira que esse rapaz não queira tal proposta e olha que esse ômega nem sabe de seu passado. Bem, já orespeito e muito, somente por ter tido a coragem de dizer não ao príncipe Todoroki-sama. - Momo riu da cara que o meio-ruivo fez com a menção do apelido ridículo que o jovem ganhara na universidade. Que belos amigos eu tenho, queria ver o que fariam se estivessem na minha pele.
- Somos ótimos amigos, por isso tentamos te abrir os olhos para que possa perceber o que está deixando passar nessa situação toda. - o alfa mais alto falou.
-O que querem dizer com... não pode continuar a interrogação, logo foram abordados por alfas velhos ostentando seus troféus/esposas.
Era comum a união entre alfas como forma de negócio ou demonstração de poder, bem como era comum usarem ômegas como barrigas de aluguel ou simplesmente como amantes. Quando estes engravidavam seriam "generosamente" recompensados, caso nascessem alfas, claro, uma cria ômega se não fosse abortada, seria vendida ou abandonada.
Sentia vontade de ir embora,sua mente pousava sobre uma cabeleira verde enquanto ouvia os outros divagando sobre assuntos que não eram de seu interesse; pensava o que o outro poderia estar fazendo, imaginava ele sentado no chão naquele pequeno apartamento rodeado de livros, quase sorriu com a ideia, ficara surpreso em como aquele lugar tão pequeno poderia ser mais acolhedor e aconchegante que toda a sua casa. Talvez fosse o cheiro do ômega impregnado em todo o ambiente aliás, não sabia como as pessoas não notavam aquele cheiro de menta com chocolate - era como um calmante para sua mente cansada.
Agradeceu a quem quer que seja que comanda o universo, por finalmente estar em casa, só queria subir para seu quarto e retirar aquela roupa, talvez mandar alguma mensagem de desculpas novamente, porém foi bloqueado pela imponente voz de seu pai atrás de si:
- Como anda o assunto do meu neto? - o alfa mais velho perguntou em tom seco. - Se o problema é encontrar um ômega, posso muito bem comprar um para você.
Teve que respirar fundo antes de responder,não podia ser desrespeitoso, havia sentido na pele o que acontecia com aqueles que enfrentavam o lúpus Todoroki Enji.
- Não há com o quê se preocupar, pai. - quase cuspiu a última palavra. - Na verdade eu já encontrei alguém e ele...
-Um ômega masculino? Você é gay por essa não passaria por alto, poderia evitar acaso? mostrar, porém era tão lúpus quanto seu pai e as vezes seu lobo não podia ser controlado.
-Isso importa, pai? Desde que seja um bom ômega é o que interessa. Tenho certeza que o Shouto fez uma boa escolha. - Fuyumi interviu antes que algo mais grave acontecesse.
- Assim espero, faça o contrato corretamente, não quero ter que me encarregar de futuras dores de cabeça. subiu a escada deixando para trás seu filho de punhos fechados com os nós dos dedos quase brancos pela força aplicada.
-Tenha calma, Shouto, você sabe que não deve bater de frente com ele. - relaxou o corpo ao sentir o toque gentil de sua irmã. - Me desculpa ter falado assim. parou de olhar para os degrausvazios e finalmente se virou para a mais velha.
-Não se preocupe com isso, sei que estava apenas tentando ajudar. - realmente a alfa era tão carinhosa quanto sua mãe, uma gentileza pouco vista na sociedade elitista.
- Como é ele? indagação da alfa não entendeu de primeira a O rapaz, onde o conheceu? Como ele é? - a animação alheia até que retirou um pouco do cansaço de seu corpo, mas ainda precisava se trocar.
-Vamos subir! - se direcionou ao próprio quarto sendo seguido pela albina. Fechou a porta e enquanto retirava a gravata e abria alguns botões sentou na cama ao lado da irmã. - Ele é da mesma faculdade...
- Um ômega rico? Como fez para ele aceitar? Se ele não precisa de dinheiro... Ele está apaixonado? Shouto isso vai dar problema, o papai jamais deixará você casar com um ômega. Fuyumi era calma, na maioria das vezes, mas quando desatava a falar chegava a ser engraçado.
-Primeiro: ele é um bolsista teve que a mão para não ser interrompido levantar novamente. Segundo: ele não aceitou; ainda.- vendo que seu irmão iria continuar a explicação resolveu ficar definitivamente calada. - É estranho, por mais que ele pareça ter problemas financeiros, não quis nem mesmo ouvir quando eu comecei a falar sobre valores. No final, tudo que consegui foi uma "pseudo-ajuda", por minha parte, para encontrar outro ômega.
-Não sei bem o que te falar, mas é interessante saber que ainda existem pessoas assim.
- Oh, sim, ele é baixinho, tem o cabelo verde bagunçado como se não houvesse maneira de arrumá-lo, é muito inteligente, um dos melhores alunos, trabalha em uma livraria e mora sozinho em um pequeno apartamento, mas não se engane, o lugar é bastante aconchegante, mesmo eu sendo um lúpus em momento nenhum se sentiu intimidado ou pelo menos não aparentou, pelo contrário, foi bastante claro ao dizer que se negava a entregar um filhote por dinheiro, não conversamos muito, porém sempre que nos falamos posso ver quão esforçado ele é, de fato é interessante.
Um pequeno sorriso cruzou seus lábios, seriaquase imperceptível para alguém que não o conhecesse, entretanto aquilo chamou a atenção de sua irmã, era certo que quando o outro se sentia à vontade conversava mais livremente sobre os assuntos, no entanto nunca o ouviu falar daquela forma nem mesmo de seus amigos.
-Shouto... Você por acaso... não está... - a sobrancelha arqueada do outro já indicava não entender nada da situação, por isso resolveu não se intrometer. Não é nada, descanse bem, ah, qualquer hora gostaria de conhecer o rapaz, qual é mesmo o nome dele?
- Midoriya Izuku.
- Hum, ok, boa noite. - fechou a porta e sorriu, pelo visto seu irmão ainda não tinha percebido; começou a se preocupar, por mais que estivesse feliz pelo mais novo, não deixava de ser preocupante o que seu pai poderei fazer caso descobrisse aquilo. Tentaria ajudar se preciso fosse, porém, por enquanto veria como tudo se desenrolaria.
CONTINUA...
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