— ... dom ... DOM ... DOM!!! Acorda!!! Acorda !!!

A mente turva do paladino retorna e o ar é puxado com violência. O rosto de alívio e tristeza da xamã de guerra revelam que o último ataque de Zer-Banitsu foi terrível.

— Anahí ... você está bem?

Mesmo com o corpo dormente, o paladino se põe de pé. Seu escudo A Balança de Themis, absorveu grande parte do ataque letal da deusa e, como o nome sugere, é capaz de devolver qualquer tipo de ataque através da arma que o paladino segure para invocar um pilar de luz dos céus. Mas no último instante, outra pessoa saiu da aura de proteção para repelir a magia.

O mestre-artesão dos anões Orodris permaneceu de pé. Morto na posição do golpe desferido por seu martelo de guerra A Espada de Themis. Assim como o escudo, a arma fora uma de suas criações máximas que também tinha a habilidade de absorver e devolver ataques mágicos de todo o tipo e fazer um pilar telúrico irromper do solo em direção aos céus. Nem mesmo a deusa esperava um contragolpe vindo de direções opostas.

O paladino se aproxima do companheiro de longas jornadas e bebedeiras em tavernas e pega gentilmente o martelo de guerra.

— Tem mais alguém vivo?

Os olhos determinados e furiosos mantinham-se a frente, na direção dos escombros fumegantes onde caiu Zer-Banitsu com seu dragão-zumbi. A sorte era um luxo inexistente dentro daquela câmara e apenas os encantos de Anahí, a rainha do povo de Fann, e do centro dracônico do feiticeiro Erik O'Malley seriam capazes disso.

— Erik está vivo ... mas em estado de choque. Parece que o cetro só protegeu ele ... a elfa Bellum dos Dardos Relâmpagos está morta ...

— Entendo ... fiquem atrás de mim!!! Zer-Banitsu está se levantando!!!

Uma a um, os blocos gigantescos de rocha da pilha de escombros começam a flutuar e desaparecer. Uma figura majestosa e terrível ergue-se sobre um cadáver de dragão negro cujo vento fétido e causticante do bater das asas corrompeu todo o solo ao redor da aura divina do paladino.

— DEVO PARABENIZÁ-LOS, TOLOS GUERREIROS! NENHUM MORTAL ATÉ HOJE RESISTIU AO MEU VENTO DO MAL! NEM MESMO A MÃE DE TODAS AS ABERRAÇÕES, TIAMAT!

"Maldito anão! Não esperava que sua arma também fosse capaz de repelir meu poder! Foi graças ao seu raciocínio rápido que a habilidade de defesa e ataque foi duplicada. Pena que, para realizar tal intento, tenha abandonado o círculo do paladino."

"Infelizmente, ele não estava entre minhas preocupações. Aquela xamã das fadas e o feiticeiro medroso ainda estão vivos! O idiota nem sabe que o cetro em suas mãos é uma das Três Tábuas do Destino de Kingu! Hu, hu! Não importa. Eu só preciso que a xamã se afaste um pouquinho do paladino ... "

— NÃO É REALMENTE FRUSTRANTE, FADA XAMÂNICA? TODOS OS SEUS AMIGOS MORTOS OU SACRIFICANDO-SE POR VOCÊ? MAS NÃO PENSE QUE ESTOU SENDO SARCÁSTICA. DE MODO ALGUM! É UM ELOGIO! ISSO É O QUE SE ESPERA DE UMA RAINHA! DEIXE QUE OS LACAIOS E INÚTEIS MORRAM PRIMEIRO ENQUANTO ENTOA UMA ODE FÚNEBRE E ENCORAJADORA!!! HA, HA, HA!!!

— COMO OUSA, DEUSA VAGABUNDA!!! VENHA E ME ENFRENTE CARA A CARA!!!

— ANAHÍ!!! NÃO!!!

Tarde demais, dois passo para fora da aura de proteção do paladino foram suficientes. Um gesto rápido com os dedos no instante em que a xamã abre a boca para entoar um encanto. Um corte cirúrgico e espectral faz com que a língua de Anahí seja expelida. Seus urros de dor soam como música divina.

Anahí cai de joelhos. Uma redoma de sombras é conjurada pelo feiticeiro enquanto o paladino a abraça e aciona sua cura sagrada. O sangramento diminui, mas não pára por causa da área corrompida pelo dragão-zumbi.

— Erik! Prepare um portal de fuga o mais rápido que puder! Continuar a luta é suicídio! Vou ganhar o máximo de tempo!

— É INÚTIL. TODOS VOCÊS MORRERÃO.

O vento negro rodopia ao redor do dragão. Zer-Banitsu soltará mais uma vez seu ataque final. O paladino não consegue esconder seus espanto e lentamente começa a girar o corpo e a oferecê-lo como escudo uma última vez. A xamã segura com força descomunal seus braços, o olhar feroz e determinado seguiam velozmente seus dedos cobertos com sangue da boca. Uma xamã de guerra não entoa somente magias, também é poderosa na arte da feitiçaria de sangue. Ela escreve várias runas nos braços e armas do paladino, que responde com um largo sorriso.

— Desfaça o domo, Erik!

"É admirável a coragem dos mortais. Mesmo no fim ainda desejam lutar."

— MORRAM!!!

— ÉGIDE DO TRIUNFO!!!

A aura do paladino fulgura como um minúsculo ponto de luz na onda negra do vendaval. E como um milagre, ressurge ainda mais brilhante. O paladino baixa o martelo de guerra e duas colunas gigante de energia esmagam a Deusa e o dragão um contra outro como se atacados pelo martelo sobre a bigorna.

— O PORTAL, ERIK!!!

O feiticeiro usa o cetro dracônico para abrir o portal e o trio foge rapidamente daquele mundo.

— Bora, Endi! Acorda, cara! Finaliza logo esse programa e vamos pro píer pegar o catamarã das 15:00! Ainda tem as compras no mercado pra fazer, se liga!!!

"Ah ... era apenas um sonho ... tenho de parar de elaborar partidas de RPG até tarde da noite ... e de ouvir os causos malucos do meu vô, que vergonha!"

"Ainda bem que o chefe não me viu cochilar durante a depuração das linhas de códigos do nosso software bugado, que voltou do cliente mais uma vez. O relógio no canto da tela marca 14:35 e o expediente encerrou faz à 5 minutos."

*(looongo suspiro)*

— Já vou! Pega as minhas coisas no armário! Tô finalizando, é rápido.

"Por que eles nunca renovam esses PC? Que demora! Enquanto espero, aponto pro Ubi qual era o meu armário e mostro o número dele com três dedos."

"O Ubi é meu amigo de infância. Ele não gosta do nome que recebeu, Ubiratã. É nome de índio. Assim como o dos nossos amigos de escola Ayanori, ou Nori pros mais chegados e o Toriba, todos descendentes indígenas."

"A vó do Ubi tem uma banca de especiarias lá no Mercado Público e vamos lá comprar os ingredientes da paella que vou fazer antes dos demais chegarem lá em casa."

"Se existem tribos que fazem paella?!! Claro que não! A banca era do meu avô, que é de Valência ... e que se juntou com a vó do Ubi ... depois que a minha vó morreu e ... tsc ... uma hora eu conto essa novela."

"Marcarmos a saída no ponto eletrônico e corremos em direção à porta automática do pequeno prédio de dois andares, envidraçado e climatizado, onde fazemos estágio pra uma empresa de soluções em web sites (a.k.a. correção de bugs da plataforma que foi vendida para os clientes). Lá fora, fomos recebidos pelo mormaço típico de uma tarde de verão."

— Meu deeeeeus!!!! Que calor dos inferno!!!

"Meu amigo de cabelo tigelinha agora não achava tão chamoso usar uma franja melecada entrando nos olhos por causa do suor."

— Já falei pra arrancar fora essa franja de irmãzinha. Bora! Acelera aí ou vamos perder os tickets das 15:00.

— NÃO É FRANJA DE IRMÃZINHA!!! É meu amuleto divino da Graça!!! Não se esqueça, Mestre, de que foi graças à minha clériga de franja que saímos vitoriosos da luta contra a Rainha Dragonesa Asur!

— Ah...como poderia esquecer... meses e meses de noites de planejamento do final da campanha que criei pra ocorrer uma batalha épica... heróica... pra tudo acabar em uma única rodada onde você e sua clériga ... TIVERAM DOIS ACERTOS CRÍTICOS NOS DADOS PARA ATAQUES DIVINOS!!!

— Ué...? Não tenho culpa se tive sorte na rolagem! E eu só evoquei As Trometas de Jericó.

— Só?!! O chamado summonou quatro arcanjos elementais que sopraram as trombetas ao mesmo tempo!!! Como se não bastasse o poder de anular qualquer tipo de escudo - arcano, demoníaco ou draconiano - em caso de acerto crítico, o encantamento dá um bônus de rolar mais um dado crítico pra chamar A Centelha Final!!!

— Foi sorte aquele crítico no segundo dado! Não precisa ficar triste só por termos finalizado sua campanha! E você leu e releu a ficha de habilidades da minha clériga! Nem vem!!!

"Minha garrafa de água mineral não foi suficiente pra espantar o calor e a raiva por ter subestimado, mais uma vez, a esperteza do meu grupo de RPG em explorar brechas na lista de magias. PRAGA!!! DOIS ACERTOS CRÍTICOS BEM SUCEDIDOS FEITOS POR UMA CLÉRIGA?!! ... desgraça ... por mais que eu revise todas as fichas, os ordinários sempre acham um jeito de chegar ao fim da campanha com personagens apelões! "

(*suspiro*)

"Preciso me acalmar e pensar em uma nova estratégia! Talvez aquela réplica de grimório do mago Zosimus Gráinne que recebi pelo correio tenha alguma utilidade. Faz tempo que a Nori tá me aporrinhando por uma campanha com batalhas mágicas ... mas como ainda não tive tempo pra checar o conteúdo ... e conhecendo muito bem a pessoa que enviou o livro, fico na dúvida se devo usá-lo..."

— Essa cara de preocupação é por causa da sua irmã que vem hoje de viagem?

— Hã?!!

— Sua irmã, a Cendi. Não é hoje que ela vai levar uma amiga que conheceu durante as férias na Irlanda pra sua casa?

— Kweeeee... esqueci que o dia de desembarque daquela ogra era hoje!!!

— Que isso, cara! Eu vi as fotos da Cendi no PictoGram! E de imouto kawaii , agora ela tá super gostosa, err, super fitness!

— Imouto kawaii?!! Todo mundo fala isso quando a conhece pela primeira vez, mas basta aquela fanática por trilhas, montanhismo e lutas marciais impor o ritmo dela pra fugirem gritando. Foi assim que os últimos namorados dela se despediram de nós.

— Hehehe... verdade. Ela parece uma máquina de stamina ilimitada e ... não ter muita para paciência pra quem tem pouco fôlego.

— Já esqueceu da vez que nosso amigo Toriba, que é apaixonado por ela, teve a brilhante idéia de fazermos uma campanha ao ar livre? Só pra ela participar da aventura Os Últimos Elfos?

— Meus pés e virilhas doem só de lembrar das trilhas e subidas íngremes que tivemos de passar. E ela ainda se declarou fã de elfos por serem espíritos livres da natureza!!! Três dias no mato e tivemos de implorar pra voltar ... RENEGO MINHAS ORIGENS E NÃO QUERO VOLTAR A SER MAMAKO!!! NUNCA MAIS!!!

— Aquilo foi barbada! Eu é que sempre acabo matriculado em alguma academia e espancado sem dó pra lembrar os velhos tempo que nosso pai nos treinava pra guerra na selva!

— Seu pai é instrutor militar lá no Amazonas né? Que dureza ... e parece que a Cendi puxou esse lado selvagem dele.

"O catamarã que saía do píer de Guaíba em direção ao centro de Porto Alegre deslizava com suavidade enquanto embalava nossas terríveis lembranças daquela campanha desastrosa."

— O que vamos fazer? Cancelamos o início da nova campanha que você preparou?

" O Ubi olhava distraidamente pela janela e sacudia a gola da camisa pra espantar o calor persistente. Mas já sabia a resposta."

— Acha mesmo que nosso "Paladino do Amor" vai aceitar a ideia?

— O Toriba? He... duvido! Não importa quantos foras ele tenha levado, quando a Cendi vem, o nosso Campeão das Donzelas brota de alguma câmara secreta ou "desperta" de seu sono milenar por algum chamado do destino.

(*suspiro*)

— Provavelmente ele já tá no hall do prédio e falando sem parar da minha irmã pra Ayanori.

— Hehehe, depois ele não sabe porque sempre morre incinerado pela nossa piromante ... acidentalmente. O cara é muito tapado.

— ... melhor eu ligar pra portaria e autorizar a entrada daqueles dois. Assim, eles se distraem organizando as fichas, os dados e ... ugh!!!

— Que foi?

— Tem 18 chamadas perdidas daquela ogra ... ela já desembarcou no aeroporto!!!

"Mostrei ao Ubi a tela do meu smartphone com várias ligações em sequência da Cendi... e um gif do meme do caixão..."

— Hehehe, prepara o velório!!!

— AAAH EU VÔ TORAAA AQUELE LESO DO ENDI!!!

Praguejou a jovem - de longos cabelos escuros e rebeldes preso num rabo de cavalo, corpo atlético e aspecto selvagem - depois de escutar pela décima oitava vez a mensagem de caixa postal de seu irmão.

Do lado de fora do aeroporto, Cendi chamava a atenção dos passageiros e motoristas de táxi com sua calca tática cor areia, camisa militar verde oliva e cinto de náilon cheio de porta-objetos, de onde sacou uma garrafa squeeze.

* (Ela sorve furiosamente a água enquanto calcula no mapa digital a distância e o tempo até o apartamento de seu avô paterno.) *

— Égua ... o aeromóvel vai até a estação do trensurb e dali sigo até à estação Mercado! Que sorte! É próximo do apartamento!

Depois de dois anos, Cendi retorna à cidade de Porto Alegre e inspira profundamente o ar fresco. O corpo precisava de uma boa espreguiçada.

— Dezoito horas de voo de Dublin! Gostaria de correr até lá ... mas acho que a Letiih não vai aguentar dois passos nesse calor ... não com aquela roupa ... oxi ... que garota fulera ...

Cendi retorna e apressa o passo em direção ao saguão de espera. Seu instinto de vergonha alheia estava em alerta máximo.

Diante da esteira de malas, uma garota de 1,60 de altura vestia um estranho casaco longo de veludo negro e corte impecável que acompanhava a silhueta esguia de seu corpo até a altura dos joelhos. Estes cobertos por uma calça justíssima que terminavam em coturnos de cano alto e solado de 10cm.

Os cabelos platinados, olhos com lentes de contatos vermelhos e batom rubi conferiam-lhe o clássico visual gótico diabólico de um cenário de dark fantasy.

O pé direito batia nervoso contra o piso enquanto seus dedos tamborilavam sobre os braços cruzados. Estava prestes a soltar um palavrão, mas foi interrompida pela voz de espanto de uma criança.

— OLHA MÃE!!! UMA DAQUELAS QUEPÓPPI QUE TU GOSTA!!!

— ... ?!!!

O rosto gira energicamente para o casal. Seus olhos encontram os da mulher que, apesar de se preocupar com o filho, fazia questão de medí-la da cabeça aos pés com o canto do olho. O pai, fingindo que não tinha nada a ver com os dois, colocou o smartphone na orelha.

— Que modos são esses, filho? E não é K-POP o que a moça veste. No máximo, ela está fantasiada de Mordomo Negro pra algum evento. Ou deve estar esperando as amigas gazettes virem buscá-la ... - o meio sorriso da mulher foi a gota d'água.

— ORRAAA!!!! COMO VOCÊ SABE SOBRE MORDOMOS NEGROS E GAZETTES??! SUA MITSUKANO FEDIDA!!!

O saguão reverberou com a última frase, os poucos passageiros e transeuntes pararam de imediato o que faziam.

— IIIIIIIIIIIIHHHHH!!!!!

A mulher se afasta apressadamente de cabeça baixa, arrastando seu filho e com o marido tentando acalmá-la.

— MÃE ... O QUIÉ MISSUCANO?

— Calma, amor ... essa molecada de agora não tem modos. Mas ... o que é mitsu ...

— QUÉ MORRÊ, FDP?!! - esbravejou a mulher antes de sumir entre os esporádicos curiosos que haviam parado para ver a cena.

— ... uuuhhh ... foi por pouco! Quase que aquela piranha ferra o meu disfarce!!!

*(olha rapidamente para os lados)*

— Grrrrrr!!! Que ódio!!! Que ódio!!! Chamou minhas vestes de Magister da Luz Negra de Hekátē de cosplay de mordomo! E de gazette!!! Vadia ... eu gosto é de Dir en Gray ... e Buck-Tick ... e da Coréia só do A Doom ... tá ... também gosto de The Gaz ...

* (o smartphone vibra em seu bolso, uma notificação pisca, ela desliza o dedão sobre a tela e lê a mensagem) *

— AI!!! NÃO É POSSÍVEL!!! UM CLIPE DE MÚSICA NOVA DO the GazettE?!!! Iiiiihhhh!!!

* (PAF!!!) *

— AIÊÊÊ!!!

— Para de dar piti sozinha, lesa! E bem no meio do aeroporto!!! Que vergonha!!!

— Oooooohhh, hiyaaa Cendiiii!!! W-what's craic ... eu ... aaah ... stay here ... t-too mucho time ...

— Parou!!! Pode desligar esse tradutor bugado!!! Ambas sabemos que, de gringa, tu só tem o nome e sobrenome, Letiih.

— N-n-no underrstand you! E-eu serr the Grrand Magister of... The Black Light of Hekátē!!!

Ela finaliza o discurso sacando uma lanterna tática de luz negra que faz seus olhos arregalados, sobrancelhas arqueadas, e lábios brilharem em neon de forma macabra.

— PÁRA COM ISSO, SUA DOIDA!!!

* (Cendi cobre a boca e rapidamente começa a sussurrar) *

— A gente não vai pra uma festa rave!!! E porque tá usando a minha lantena?!! Dá ela aqui!!!

— ISSO ... UGH ... NÃO É ... SOLTAAAA ... UMA LANTERNA!!! É UM CETRO ... NNNGHH ... PRA ABRIR UM PORTAL PRO MUNDO OBSCURO ... IIIAAARGH!!!

— LAETITIA FAND O'MALLEY!!!

— IIIIIIIAAAAAAAHHH!!! VOCÊ USOU UM SIGILO PROIBIDO!!! E ME EXPÔS À ESQUIZOFRENIA FRACTAL MUNDANA ... COMO PÔDE ... NÃO ME DIGA QUE ... VOCÊ PERTENCE A ORDEM INTERPLANAR DO KAOS ... HÃÃÃ?!!

Letiih ergue a cabeça do chão e vê Cendi balançar diante de seus olhos um pequeno caderno com uma foto sua ... era o passaporte que tinha entregado para sua amiga ... para evitar o contato visual com a moça do check-in ... e evitar ser reconhecida por algum mago inimigo ...

— Uuuuuhhh ...

* (soluços) *

— Quando nos encontramos em Kilmacduagh, eu disse que te ajudaria, não disse? Mesmo tendo contado uma história maluca sobre um livro perigoso que deu por engano ao seu amigo, eu não duvidei da tua sinceridade. Vi o quanto estava desesperada.

— Cendiiiii ...

— BORA, SUA LESA!!! JÁ PASSEI VERGONHA DEMAIS!!! O MEU IRMÃO JÁ DEVE TÁ EM CASA!!! MAS ANTES VO ARRANCA ESSA MAQUIAGEM FULERA!!! VEM!!!

— NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO ...

Cendi segue em direção ao banheiro do aeroporto, arrastando Letiih pela gola do casaco sem maiores dificuldades.