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Um Destino... O Amor! "Amores Improváveis"

1

Prólogo

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze

que soa ou como o címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e

conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar

montes, se não tiver amor, nada serei.

E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada

disso me aproveitará.

I Coríntios, 13

***

Durante aquela madrugada turbulenta, a jovem, herdeira de uma das maiores fazendas de gados do interior do Paraná, estava desolada no corredor da maternidade Senhora das Dores. Izabelle, — como se chamava — tinha passado por um dos piores dias de sua vida.  Acabara de perder sua amiga, Maria Eduarda, decorrente de um parto sofrido. Cinco anos de amizade estavam indo embora da maneira mais dolorosa. Era triste ver a dor estampada nos olhos da jovem fazendeira ao se lembrar do que teve que prometer horas antes para a companheira moribunda.

— Me promete... promete que vai cuidar da Nandinha?

— Eu prometo, eu... prometo que vou cuidar dela, mas juntamente com você. Vou ter meus filhos e eles brincarão todos juntos no riacho, enquanto nós duas tomamos banho de sol.

— Eu gostaria muito que isso pudesse ser verdade, amiga, mas sei o que me espera. Eu sou muito grata pelo que fez por mim todos esses anos, mas...

Emocionada, Izabelle tampou os lábios da amiga.

— Vamos fazer aquela viagem à Europa que eu te falei. Vou te levar a Torre Eiffel. Lembra que você disse que queria conhecer Paris? Então, iremos ainda este ano, basta esperar a Nandinha ganhar mais uns quilinhos para marcar a viagem.

— Me promete, amiga. Eu não tenho muito tempo. Prometa que irá cuidar da minha menina e que irá amá-la com todo o amor e proteção que não poderei dar.

— Eu prometo. Mas, por favor, não fecha os olhos. Por favor! A Nandinha precisa de você...

***

Izabelle foi despertada de seus pensamentos tristes pelo médico, um velho conhecido. Há alguns meses, ela vinha se tratando de uma doença grave em um hospital onde ele era plantonista.

— Iza, sinto muito pelo ocorrido. Fizemos de tudo, mas não conseguimos conter a hemorragia. — O homem parecia cansado depois de longas cinco horas de cirurgia, tentando salvar a vida da jovem paciente.

— Eu sei doutor, e agradeço por tudo o que fizeram, porém é muito doloroso perder alguém que amamos.

— Como vai ficar a situação da menina?

— Vou cuidar dela. — Izabelle não hesitou. — Fiz uma promessa e pretendo cumpri-la. A Nandinha será cuidada com amor, proteção e conforto.

ANOS MAIS TARDE...

Giovane e Maria Fernanda entraram correndo na sede da fazenda.

Giovane era filho único do esposo de Izabelle, que também era o administrador do local. Ambos foram criados por ela com amor incondicional. Izabelle nunca conseguiu engravidar por causa da doença grave que lhe atingiu o útero. Conformouse em cuidar de sua menina e de seu enteado. O jovem de dezoito anos nutria um amor platônico por Maria Fernanda desde a infância. Ela, apesar das constantes brigas, também não desgrudava nenhum minuto do amigo com quem fora criada. Quando não estavam estudando, — porque a madrinha era muito rígida nesse assunto — passavam os dias correndo juntos nos campos da fazenda.

— Venham aqui os dois — a madrinha os chamou assim que os avistou na entrada do quarto. — Minha doença está muito avançada, Nandinha. Sua mãe me confiou a sua segurança e sinto que não posso mais fazer isso. Estou fraca, mal consigo levantar dessa cama... Entenda que tudo o que eu faço, é para o seu bem. — Os olhos da garota estavam cheios de lágrimas.

— Madrinha... você vai ficar bem. Os médicos se enganam e os exames podem ser trocados, não é Giovane? — Olhou de soslaio para o amigo ao seu lado.

Giovane sabia que a mulher que o criou estava certa e isso lhe doía, mas queria acalmar o coração de Maria Fernanda, por isso, havia contado algumas coisas que ouvira falar nos noticiários, só para lhe dar um pouco de esperança.

— Nandinha, você vai fazer dezoito anos, mas sei que ainda é uma menina, passou a vida toda aqui na fazenda. Preocupo-me com sua estabilidade quando eu não estiver mais aqui. Uma mulher sozinha, ainda mais ingênua e despreparada como você, não vai saber gerir a herança que te deixarei. Então, decidi algumas coisas e preciso que você esteja de acordo — sussurrou, não se sabe se pela voz fraca ou se pela decisão que havia tomado sem consultar a opinião da afilhada.

— Seja o que for eu aceito, madrinha. A senhora sempre sabe o que é o melhor para mim. — Chorosa, ela observava a situação da mulher que a amou e cuidou como se fosse uma filha.

— Sente aqui, minha linda. — A senhora deu dois tapinhas ao seu lado no colchão. — Eu tomei uma decisão que vai garantir a sua estabilidade e segurança. — Parou um pouco para recuperar o fôlego. Estava tão cansada, que poucas palavras já a enfraqueciam. — Você irá se casar com o filho do meu primo Olavo.

Paralisada, a menina fitou sua protetora com o olhar confuso e lágrimas de desespero começaram a brotar de seus olhos.

— Madrinha, eu não posso fazer isso. — Enxugou os olhos. — Ainda sou muito nova. Eu... não posso me casar agora.

— Minha pequena, entenda que eu só quero o melhor para você. Você e o Giovane são meus herdeiros. O Eduardo é um menino de ouro. Aos vinte e três anos já é um engenheiro civil, e eu soube por meu primo que ele tem muitos planos.

Quero deixar com ele uma parte da minha herança, para que o ajude na realização de seus sonhos. Também quero te deixar dentro da minha família e com meu sobrenome. Você irá se casar, mas permanecerá comigo até eu partir deste mundo. Só quero garantir que fique bem.

Giovane não conseguiu mais conter as palavras.

— Eu e o pai cuidaremos dela, prometo minha mãe. Ela não precisa casar. — Uma das mãos da madrinha acariciou o rosto do jovem.

— Eu sei disso, meu querido, mas logo você se casará. Terá sua própria vida. E seu pai é um homem jovem, pode refazer a vida. Penso na Nandinha tendo que ficar sozinha no mundo. Eduardo e meu primo chegarão segunda, e logo após o casamento, eles retornarão para a sua cidade e você ficará comigo. Estou adiantando o casamento, pois minha saúde está frágil e não quero deixá-la sozinha antes do tempo. Quando ele chegar, explicarei o acordo de casamento.

***

2

— Pensa pelo lado maravilhoso da vida de casado, Edu... acabou aquela vida de noitada, mulheres avulsas, casadas ou viúvas, velhas ou novas. Acabou tudo! Você é um cara de sorte, meu amigo.

Sergio, o melhor amigo de Eduardo, passou todo o percurso da viagem de carro, da capital até a fazenda, tentando fazer o amigo desistir da ideia do casamento.

— Negócios, Sergio. Estou fazendo um investimento alto e necessário. Terei minha empresa antes do previsto.

— Cara, é casamento! Pensa bem. E se essa mulher te colocar em um cabresto e você virar um desses pais de família? Cara, isso não combina com você, Edu. Abre o olho meu irmão, e cai fora disso!

— Milhões, Sergio. — Olavo, o pai de Eduardo, que estava no banco de trás da caminhonete, pronunciou-se.

Olavo estava com os olhos vidrados na tela do notebook. O advogado não parava um só minuto de trabalhar. Aquela influência havia alimentado no filho a sede desenfreada pelo sucesso e realização pessoal.

— Você sempre teve as melhores estratégias, irmão, mas com isso, você corre o risco de se apaixonar e ficar de quatro, feito um cachorrinho, por uma única mulher. Ainda dá tempo, Edu.

Eduardo que estava ao volante, sorriu sarcasticamente.

— Nunca me apaixonei por nenhuma mulher experiente, capaz de me dar o que preciso. Acha que vou fazer isso por uma menina caipira, que cheira a leite e inocência? Nada muda meu amigo. Só vou assinar um bendito contrato, nada mais que isso. Ele me garante milhões, mas não me pede fidelidade — falou ao observar a entrada luxuosa da fazenda.

A caminhonete buzinou na porta da sede. Maria Fernanda, que estava por perto, num misto de temor e curiosidade, correu arrastando Giovane para casa. Entraram na sala e avistaram os visitantes.

— Venha cá, Nandinha. Venha conhecer o Eduardo — convidou Izabelle, sentada no sofá da sala.

Maria Fernanda parou no canto do aposento. Giovane segurava uma de suas mãos com toda força. Seu coração doía. Se ao menos ele enfrentasse tudo e todos, mas não queria passar por cima de uma decisão de sua mãe de criação. Ainda por cima, teria que declarar o seu amor a Maria Fernanda e ela poderia rejeitá-lo ou entender tudo errado e se afastar por completo.

Eduardo desceu os olhos pelo corpo de Maria Fernanda, e fez sua análise por completo. Era esguia, tinha muita pose e nariz empinado demais para ser uma caipira em vestidos tão infantis e normais. Talvez o conforto proporcionado pela madrinha tivesse dado aquele ar de grandeza. Em poucos segundos, desvendou o que seus olhos visualizavam, mas pegou-se curioso por mais. A jovem era linda, entretanto transparecia inocência, algo que ele não tinha paciência de lidar.

— Você ainda é muita menina. — Ele sorriu amigável. Mesmo em sua impaciência, precisava ser convincente.

Maria Fernanda sentou ao lado da madrinha e não o olhou. Giovane contraiu a mandíbula, com ódio.

— Não, não vou permitir isso! Isso é uma loucura, minha mãe! — gritou Giovane.

— Giovane! — Izabelle interferiu. — Largue de ciúmes, meu filho, sua irmã está noiva e o Eduardo cuidará bem dela.

— Não! Eu cuidarei da Nandinha. Ela não precisa de um desconhecido!

Eduardo mirou seu concorrente com calma, em seguida curvou o lábio em um sorriso desafiador.

— Não se preocupe, "cunhado". Cuidarei da sua irmã com carinho.

Giovane fechou o punho, sentindo vontade de esmurrar o rosto do homem à sua frente, mas ao ver sua mãe moribunda, respirou fundo e saiu da sala, batendo a porta com toda força. Maria Fernanda deixou uma lágrima escapar, sentindo-se indefesa.

— Por que está chorando? — Eduardo perguntou e estendeu a mão para enxugar seu rosto. Ela se esquivou.

— O Edu é um homem muito família, ele é tão dedicado ao lar, que algumas pessoas duvidam de sua masculinidade — Sergio falou, olhando para Izabelle.

Eduardo apenas fechou os olhos e idealizou socar o rosto do amigo quando estivessem sozinhos.

— Você é um bom menino. Sei que vai cuidar de minha menina e serão muito felizes juntos.

— Está com a via do contrato aí, Izabelle? — Olavo tinha pressa que o filho firmasse o acordo para receber os milhões descritos no contrato. Logo Eduardo construiria a empresa que tanto visava ter.

— Sim, está tudo aqui. — Izabelle pegou uma pasta que estava na mesa do centro. — Como havíamos combinado, o casamento será amanhã à tarde.

Maria Fernanda começou a fungar o nariz em um choro descompensado e Eduardo levantou uma das mãos e acariciou uma mecha de seus cabelos longos. Ele sentiu a maciez entre os dedos e repetiu o mesmo gesto repetidas vezes. Sergio que estava sentado mais à frente estreitou os olhos.

— Vou cuidar de você, prometo. — Eduardo olhou para Izabelle e sorriu.

Era muito dinheiro envolvido, contudo o que mais lhe importava era que o casamento garantiria sua empresa de engenharia antes do previsto. Ter alguém preso a ele não seria um problema. Apesar de a garota assustada a sua frente ter os cabelos mais perfeitos que já tinha visto e o rosto semelhante ao de uma boneca de porcelana, isso não lhe garantia fidelidade. Ele sempre havia sido de todas que o servissem.

— O contrato já foi redigido. Não poderá haver divórcio no prazo de dez anos. Caso haja, minha menina será beneficiada com os bens em seu valor total. — Olhou para Eduardo — No seu caso, os milhões para a construção da empresa de engenharia não seriam recebidos. Se a empresa já estiver de pé, não importa, tudo irá para a Nandinha. Mesmo assim, o nome dela ainda constará nos documentos de sócios da empresa. Então, a empresa ficará cinquenta por cento no nome dela e a outra metade em seu nome. Acredito muito que o amor no coração dos dois será revelado e meu propósito de proteção será alcançado sem necessitar da cláusula que fala sobre a quebra do contrato.

— Estou disposto, minha tia. — Eduardo estava inspecionando o corpo da jovem.

— A Nandinha só poderá mexer no dinheiro depois dos dezoito anos, até lá você, Eduardo, ficará na obrigação de trazer conforto a minha menina, do seu próprio bolso. Meus outros bens serão do Giovane e a fazenda do meu esposo. Eu quero que prometa que irá cuidar de minha menina, Eduardo.

— Seremos muito felizes, minha tia. — Eduardo fixou o olhar nos lábios carnudos de Maria Fernanda, depois seguiu para os olhos azuis, que estavam amedrontados.

Em um rompante, Maria Fernanda levantou e abandonou a sala.

— Nandinha! — A madrinha tentou gritar, mas não conseguiu.

— Deixa, minha tia. Vou conversar com ela.

— Me preocupo, pois ela ainda é muito nova e ingênua, mas sinto-me fraca e não sou mais capaz de oferecer a proteção e o cuidado que ela precisa. Você é da minha família, é inteligente, esforçado, dedicado aos estudos... por isso sua parte na minha herança veio com a mais linda condição, a condição de aprender a amá-la.

— Sou grato pela confiança, tia. Vou conversar com ela. Nós daremos certo. Com a sua licença. — Eduardo beijou a mão da mulher e seguiu o rastro de Maria Fernanda. Precisava garantir que seu mais novo negócio gerasse a rentabilidade desejada.

Encontrou-a sentada em uma cerca de madeira, com o olhar distante. Seus cabelos estavam em toda parte, seguindo a corrente de vento que estava um pouco forte naquela manhã.

3

  

Quando seu pai lhe falou sobre o acordo com sua prima distante, ele recusou. Ele amaldiçoava a ideia de um dia estar preso a uma única mulher. Muito menos com uma menina de dezessete anos. Mas, depois de uma longa noite analisando suas perspectivas de futuro, chegou à conclusão de que a proposta era tentadora, afinal, além de milhões de reais em sua conta de um dia para outro, seu projeto de futuro se realizaria mais cedo. E só o que ele teria de fazer era aguentar ficar casado durante alguns anos. Sua irmã Luísa reprovou a ideia, mas não falou nada sobre o assunto, não concordava que o irmão casasse por dinheiro, mas também não interferiu na história, pois sabia que ele era irredutível em seus objetivos.

A família de Eduardo não era pobre. Muito longe disso, pois possuía uma qualidade de vida razoável. Seu pai era dono de uma empresa conceituada de advocacia que estava crescendo ao prestar consultorias a multinacionais. Sua mãe era uma dondoca que veio da lama, mas que amava esbanjar dinheiro e arrogância.

Pensativo, Eduardo passou os olhos pelas pernas esguias de Maria Fernanda. No final das contas, a menina era bela, não tinha como negar. Nada que se assimilasse às mulheres com quem ele estava acostumado, mas apesar de muito nova e franzina, Maria Fernanda tinha uma beleza selvagem e pura ao mesmo tempo.

Ele se aproximou lentamente por trás e sentiu uma vontade enorme de enfiar os dedos nos cabelos da jovem outra vez, para sentir a maciez dos fios. E foi o que fez, assustando-a.

Maria Fernanda deu um pulo do outro lado da cerca.

— Passe para o lado de cá. Precisamos conversar. — Tentou moldar o tom de voz. Maria Fernanda abraçou os próprios braços e olhou para os lados, traçando sua rota de fuga. — Estou encarando isso como um acordo, nada mais que isso. Quando estiver em minha casa terá algumas regras, mas nada que interfira seu bem-estar — continuou.

Maria Fernanda estava muito assustada e isso se refletia em seus olhos. Não conseguiu pronunciar uma palavra sequer. Então, tomou uma lufada de ar e correu o mais rápido que pôde em direção à sede da fazenda, onde se jogou em sua cama, com o rosto banhado em lágrimas de desespero por medo do desconhecido. 

Eduardo estava jogado em uma cadeira em frente ao altar improvisado. Parecia despreocupado, como se aquele dia fosse outro qualquer. Olavo estava satisfeito e ainda sem acreditar na sorte grande do filho, por entrar em um negócio sem dinheiro algum e ganhar uma rentabilidade tão rápida. Para Olavo, tudo aquilo não passava de negócios. Eduardo não pensava diferente, afinal ele seria o beneficiado.

O pai ainda não se conformava em ter ficado apenas com cinco por cento dos bens de seus pais de criação, enquanto Henrique, o pai de Izabelle, tinha herdado noventa e cinco por cento. Sentia agora o gosto da vitória e o cheiro fresco de dinheiro merecido, o que ele mais amava.

Eduardo ficou de pé, frente ao juiz, assim que viu a menina entrando na sala. Estava linda com os cabelos soltos e um simples véu de renda italiana sobre a cabeça. O vestido branco e modesto tinha o comprimento até os joelhos, e em suas mãos, estava depositada uma tulipa branca.

À medida que ela se aproximava dele, seu olhar se tornava mais triste, e quando finalmente ficou cara a cara com ele, deixou que algumas lágrimas escorressem pelo canto dos olhos.

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