Era uma vez um reino muito, muito distante do mundo humano. Ao contrário do que a maioria das pessoas acham, esta não é uma história para crianças, portanto certifique de que elas estejam dormindo e bem longe desta leitura antes de prosseguir.
O mundo dos seres místicos era diferente quando se tratava de casamento. O rei planejava se casar, contudo ele teria que fazer um exame, cujo ele teria que chamar dois ou apenas um de cada espécie para comparecer ao palácio obrigatoriamente. Nisso, todos teriam que participar dos duelos; um verdadeiro espetáculo para os seres que viviam tantos séculos e estavam com tédio.
Ao contrário dos humanos, os místicos não consideravam isso horripilante. Todos adoravam o jogo que envolvia a vida de outros. Para eles, mostrar vulnerabilidade demonstrava que você não estava mais apto a viver no mundo deles, assim sendo todas as batalhas travadas alí seriam uma oportunidade para mostrar sua força, então você conquistaria respeito em meio aos nobres consequentemente também o coração do rei Azhill.
Há muito tempo o mundo deles haviam sido governados separadamente, entretanto depois da guerra em que os vampiros venceram, Beron acabou se tornando o rei de todos os outros seres e assim persistia depois de mil anos, contudo os de elite que comandavam acima dele, queriam que ele se casasse, mas a futura rainha teria que ser forte. Fraqueza não era uma opção para qualquer um que habitava naquelas terras, por isso o torneio era tão importante. O respeito e os prestígios não vinha só de quem ganhará, mas para todos que tinham a mesma linhagem ou que fosse simplesmente da mesma espécie.
— Senhor, os convites já foram enviados por todo o reino — seu servo estava curvado, esperando que o rei desse mais uma de suas ordens.
— Sereias estão incluídas nisso?— perguntou, mesmo já sabendo da resposta.
— Elas fazem parte da Elite, senhor. A rainha das águas já confirmou sua presença.
— Tsc — a carraca em seu rosto se intensificou. — Portanto se certifique que os guardas estejam sempre de olho nela, inclusive quero que Illis seja seu servo e me conte todos os seus passos.
— Mas senhor, isso é contra as regras...
— Faça o que eu mando! — rosnou. — não se esqueça que eu as criei, então também as posso quebrar — seu servo suava frio.
— Estou indo fazer isso agora mesmo. — curvou-se novamente. — Com sua licença — se retirou as pressas.
Não era segredo para ninguém o fato do rei repudiar seres das águas desde a morte de sua mãe, quando foi morta de forma brutal por um deles na guerra. Ele estava preparado para tudo naquele ano, afinal, era guerra. Contudo, quando viu a cabeça de sua mãe sendo arrancada do corpo por um tridente, percebeu que de fato fora um tolo e que não estava nem de longe preparado para a ver morrer na sua frente sem poder fazer nada.
Cerrou os dentes, suas mãos se fechando em punho sob os braços do trono em que estava sentado.
Ele não podia fazer nada sobre a aberração que estaria em seu palácio daqui algumas horas. O fato de ela ser da Elite o preocupava, por algum motivo que não fosse o casamento, a estavam enviando e se de fato ele precisasse se casar com ela, ele faria seus anos viva serem execrável. Ou talvez ele nem tivesse esse trabalho todo, já que sereias sendo de elite ou não, são pateticamente fracas fora da água. Embora todas pudessem usar magia, raramente aparecia uma que soubesse realmente sobreviver.
Estava óbvio até demais que o peixinho no castelo seria estilhaçado, se não fosse pelo rei, que fosse por suas candidatas a esposa.
As montanhas que levavam ao castelo estavam lotadas, todos estavam ansiosos para conhecer as mulheres que lutariam pelo coração do rei Beron, assim como estavam ansiosos para começar às apostas. Seres de todas as espécies se encontravam no palácio, bebendo e comendo tranquilamente à medida que mais e mais convidados comparecia. O rei estava sentado em seu trono, não parecendo nem um pouco entusiasmado. Por mais que os jogos fossem divertidos e que adorava apostar, esse era um caso diferente.
Porque agora o envolvia diretamente.
Todas as mulheres se apresentaram de forma elegante, contudo ele apenas acenava com a cabeça, por mais que todas sejam uma beldade ele estava claramente entediado. A música soava alta pelo arredores, elfos dançavam tentando incentivar os outros a fazerem o mesmo, enquanto outros apenas aproveitava a comida.
Um banquete para todos os gostos.
Seu servo apareceu ao seu lado no trono, abaixou sua cabeça na altura da coroa e avisou:
— Ela chegou.
Em uma entrada épica, os ventos se chocaram com força pelo portão enorme de madeira fortificada do palácio, fazendo-a se abrir com um baque estrondoso, chamando a atenção para si. Uma criatura pequena, de cabelos longos e brancos adentrou o salão com um sorriso perverso nos lábios. Ela usava um vestido branco... vestido não, um pedaço de pano que não lhe cobria muita pele. Estava descalço, contudo tiras de ouro subia até sua panturrilha, assim como também havia algumas aos lados do quadril, mantendo o tecido firme no corpo.
— Exibida — uma da classe demoníaca sussurrou para a colega, que outra concordou prontamente.
— Com certeza, aposto que o rei não gosta desse tipo.
Ah, mas ele gostava.
Gostava ainda mais quando era dentro do seu quarto, contudo o que ele não suportava era saber de que linhagem ela pertencia. Havia uma flor no lugar do seu olho direito, enquanto o outro ostentava um cerúleo tão claro quanto o céu. Ela se aproximou do trono, fazendo uma longa reverência quando esteve próxima o suficiente.
— Meu rei, venho...
Ele a interrompeu fazendo um sinal com a mão, indicando para que parasse.
— Eu sei para o que veio.
— Na verdade, eu iria apenas me apresentar, meu senhor — O sorrisinho ainda estava alí, como se zombasse dele.
Só de olhar para ela seu estômago revirava de nojo.
— Galatéia, certo? Eu sei que você faz parte da Elite.
Os que estavam próximos e ouviam a conversa olharam espantados para a garota de cabelos brancos, enquanto sussuravam entre si, espalhando a notícia para o resto do salão. Galatéia olhou para eles sob o ombro, seu queixo erguido demostrando orgulho. É notório que desde a guerra, era muito raro ver os de poder extremo ao meio deles, muitos acreditavam que a maioria havia morrido, mas pelo visto uma das que participava do comitê dos seres estava em um torneio para ser esposa de Azhill. Chegava até ser piada o fato de que um dos senhores haviam tornado uma sereia em Elite.
— Pelo visto o senhor já pesquisou sobre mim, me sinto lisonjeada.
Ignorando seu comentário, mandou:
— Olhe para mim.
Galatéia endireitou sua postura e o olhou nos olhos.
— Pensei que as sereias de cabelos brancos haviam sido executadas, já que vocês só obtém essa cor de cabelo quando mata uma quantidade exuberante da própria espécie — Beron a olhava curioso.
Galatéia sorriu sarcástica, a música ficando ainda mais alta. Ela deu um passo à frente apenas para que a ouvisse, mas sem que ultrapassasse o limite permitido, ela se curvou um pouco para que apenas ele ouvisse.
— Você por acaso está zombando de mim, meu rei?
Sem se abalar, ele responde:
— Não, estou apenas curioso.
— Pois saiba que sua curiosidade me ofende — disparou, o rei mostrou um sorrisinho mínimo, demostrando o quanto não ligava para o que dizia. Ela arrumou sua postura, fitando-o nos olhos. — Eu sou a rainha do meu lar, não matei por prazer, matei porque foi necessário.
Azhill estalou a língua no céu da boca. Ele se lembrava de ter recusado de ser o rei das águas também, mas não imaginaria que mandariam alguém tão pequena para o comando. Era como se eles estivessem pedindo por uma guerra, já que a menor não parecia nenhum pouco o tipo de pessoa que venceria um combate físico.
Antes que o rei pudesse ponderar mais sobre o assunto, seu servo novamente se abaixou sob ele, avisando:
— A festa está acabando, senhor. Creio que ainda não tenha conversado com todas elas.
Azhill olhou para a multidão no palácio, com desgosto. Ele gostava de ser rei, contudo havia algumas obrigações que ele desprezava e uma delas era se comunicar com o seu povo, sendo que preferia ficar trancado em seu escritório, bebendo mesmo que não pudesse ficar bêbado. Ele se levantou do trono, fazendo Galatéia se sentir uma mosca prestes a ser esmagada, entretanto ele não se despediu, apenas passou direto por ela, como se a presença dela fosse insignificante.
Nenhum pouco incomodada, a mesma caminhou em direção as bebidas observando todos os convidados. Ela também estranhou quando um de seus senhores a mandou diretamente para cá, alguma coisa eles queriam, embora ela já tivesse em mente o que seria, porém preferia acreditar que estava errada.
— Porque sempre me coloco em situações arriscadas? — resmungou.
Apesar de ser forte, sabia que não deveria subestimar suas oponentes. Ela varreu o salão enorme com os olhos, tentando absorver o máximo de informação, porém era como se estivesse em um local qualquer com pessoas superficiais. Elas não demonstravam ser uma ameaça agora, estavam ocupadas demais bebendo vinho e conversando uma com as outras.
Galatéia se sentiu melancólica, apesar do seu título, estava mais do que claro que ninguém alí iria respeita-lá como tal e agora estava por conta própria, não conhecia ninguém e sabia que eles estariam certo em não se aproximar dela. No final ou ela provava ser útil e conseqüentemente dava a glória para o seu povo, ou morreria. Mesmo se não morresse agora, sabia que um dos seus senhores faria questão de matá-lá e ainda faria isto com um sorriso enorme no rosto.
A festa de apresentação estava quase no fim, embora ainda houvesse muitas pessoas no salão de dança e outras comendo, à medida que o rei se aproximava e entrava em um assunto caloroso com cada um e assim se seguia para o próximo e o próximo, até que só restava a sereia bastarda. Ele queria muito ignorar o fato de que ela existia, contudo ele tinha suas obrigações a cumprir e curiosidades para serem supridas, e infelizmente ela tinha as respostas para as suas perguntas e se não tivesse, pelo menos tentaria obter algo útil.
Desde que havia chegado, ela estava com um apetite enorme. Se debruçou sob a mesa atrás do cacho de uvas, quando finalmente o obteve, a mesma inclinou a cabeça para trás, abrindo bem os lábios botando um grande punhado de uvas na boca.
— Hmm... icho é muto bom — mencionou para o soldado que estava do seu lado, de boca cheia, apontando com o indicador para as uvas que restaram em sua outra mão.
O homem revirou os olhos, dando as costas para ela.
Um duende de pele azulada passou por ela dançando animadamente, com suas mãozinhas para o alto enquanto um cálice era erguido por uma delas. O rei observou Galatéia olhar para o pequeno de forma tediosa, vendo-a tomar o cálice dele e levar o conteúdo aos lábios junto com as uvas que sobraram. Ela soltou um gemidinho satisfeito, enquanto o duende olhava para ela com os olhos lacrimejando.
— Você é má! — gritou com ela, que apenas deu de ombros. Ele saiu carrancudo, andando a passos firmes até seus amigos pequenos.
Beron se aproximou dela, suas mãos nas costas, com uma expressão inexpressiva. Ela olhou para ele, que ao contrário das outras mulheres que haviam alí, não tinha nenhum pingo de malícia, apenas tédio e indiferença.
— Você quer um pouco? Pelo menos nisso esses idiotas são bons de verdade — Ela não esperou a resposta dele, olhou para o cálice em sua mão e riu amargurada, sendo assim bebeu um longo gole.
— Por que diz isso? — ele se posicionou ao lado dela, então se permitiu olhar para a pintura que estava pendurada em sua parede, um homem estava sob uma mulher nua, parecia que ele estava a mordendo, mas não tinha como saber, seu rosto estava enterrado no pescoço dela e poderia ser facilmente confundido com apenas um gesto de carinho pela forma que ele fechava os olhos.
— Eles estavam na guerra, todos esses ineptos nojentos poderiam ter ajudado muitas pessoas, mas escolheram se esconder como covardes de- — Ela respirou fundo, controlando-se. — Se não fosse pelos meus familiares eu estaria morta. — ela fez uma careta. — Ainda bem que a vida desses seres anojosos não dependem de mim, pois eu teria deixado todos morrerem, os deuses sabem o quanto eu sou boa em guardar rancor.
— E se não fosse pelo seu povo a guerra não teria dado início — percorreu os olhos pela pintura, notando que a mulher debruçada na cama expressava dor em seu rosto, então a ideia de carinho foi totalmente descartada.
— Teria de qualquer jeito, eles só ajudaram a acelerar o caso.
Azhill travou o maxilar, ele odiava essa conversa e odiava ainda mais como ela dizia aquilo.
— Ah, não fique bravo comigo, eu sei o que eles te tomaram — sua expressão facial estava enrugada.
— Havia me esquecido que sereias não se disponibilizam de sentimentos.
Galatéia sorriu, sarcástica.
— Por que eu teria empatia por um vampiro que claramente sente repulsa em está falando comigo?
Ele ergueu os lábios em uma tentativa frívola de um sorriso, deixando transparecer que ela estava mais do que certa.
— Não é como se você fizesse algo para mudar isso.
Os olhos dela brilharam.
— Ah, é? — se aproximou dele. — Então o que eu teria que fazer? — seus lábios se ergueram em um sorriso sedutor, mas quando ela levantou a palma da sua mão para tocar o seu peito, o mesmo se encolheu como se ela o tivesse acertado com um feitiço. — Pelos deuses! — gargalhou. — Você realmente tem medo de mim!
De forma sutil, ele aperta a própria garganta, não querendo demostrar desconforto. Depois da explosão de risos da garota, que agora lacrimejava com ato, ela parou, suspirando.
— Desculpa, eu não devia ter rido — o minúsculo sorriso que ainda se erguia nos seus lábios dizia que ela não sentia nada. — Você não foi o único que teve perdas, afinal de contas. — sua voz soou amarga, bebendo o conteúdo do recipiente de ouro que estava em sua mão para que ele não notasse sua expressão de contrição.
— Falar sobre isso e ouvir você se lamúriar não vai me fazer criar empatia por você. — sua postura ficou rígida, voltando seu olhar para o quadro.
Galatéia o observou por um tempo. Ele é, sem dúvidas, uma criatura de beleza extraordinária, porém a tristeza e a comiseração que ele deixava transparecer em intervalos pequenos parecia sugar toda a sua força.
Ela também voltou o olhar para o quadro.
— Nada me surpreende vindo de um vampiro monogâmico — apertou a mão no cálice, levando-o para a boca, saboreando o que restará do vinho lentamente. — Enfim, se você gosta de culpar todos pelos erros de um o problema não é meu.
— Disse a que odeia duendes por não terem ajudado na guerra. O que eles poderiam fazer? Lhes roubar enquanto todos estavam lutando?
Galatéia sorriu como se tivesse sido pega fazendo travessuras.
— Mas todos que estavam lá ainda estão vivos, ao contrário de quem matou sua mãe. Eles poderiam ter dado um jeito de serem úteis, eu fiz o meu trabalho.
Embora seu coração só existisse no peito por puro enfeite, Beron sentiu como se houvesse sido esfaqueado várias vezes, porém continuou com sua expressão neutra, não deixando transparecer nada. Ela estava indo para um território perigoso, mas não se importava, se ele quisesse a cabeça dela que entrasse na fila. Entretanto, ele apenas mudou de assunto, como se não tivessem tocado no tópico anterior:
— Me diga, Galatéia; O que significa essa flor no seu olho?
— Não é da sua conta.
Ele se calou por um tempo, decidindo que já conversaram por tempo suficiente, porém se lembrou que ainda não havia feito a pergunta que tanto rodava em sua mente.
— Por que te enviaram?
Galatéia impediu de que o cálice chegasse a boca.
— Nada que também seja da sua conta.
— Mas é importante que eu saiba — revela, ríspido.
— Acredite, meu rei — chegou perto dele, vendo-o lutar para não se encolher novamente. — Você não tem nada a ver com isto. Saiba que se trata apenas de ter que provar algo, e não, não tenho o mínimo interesse em ser sua esposa. — confessou, retornando sua postura normal, colocando o cálice na mesa, atrás de si.
Beron a encarava estarrecido, então sua postura mudou para desconcertado, não sabendo como reagir.
— O que precisa provar? — indagou, baixo.
— Para um ser que não me suporta você é bem curioso, hein? — riu. — Vivo a mil anos e a única coisa que eu sei é que sou um experimento falho.
— Experimento falho? — confusão estava estampada em seus olhos claros.
— Não quero falar sobre isso — decide, por fim.
Beron assentiu, refletindo por um longo tempo. De repente, ele se vira e acena com a cabeça para um dos soldados, se aproximaram pronto para atender suas ordens.
— Leve-a para seu quarto — ordenou. Azhill virou-se para ela, engolindo em seco. As palavras queimavam sua garganta. —Deveria está preocupada em buscar uma forma de provar a eles que ainda é útil. Se fez isso uma vez na guerra, pode fazer de novo.
Afastou-se sem ouvir o que ela teria para dizer, levantando a mão para os outros subordinados, ordenando que dê um fim a festa.
— Que conselho lixo. — resmunga, deixando ser conduzida.
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