Anny Evans olhou para o interruptor de luz quando adentrou a cozinha de sua casa. Deveria ligá-lo ou não? Quantos quilowatts as lâmpadas fluorescentes consumiam? Como isso se traduziria em sua próxima conta de luz mensal?
Arriscou dar uma olhada para o calendário: catorze de dezembro. Cinco dias para que o leitor da caixa de eletricidade chegasse.
"Bom, paciência", pensou, desanimada. Os animais necessitavam de luz. Ela necessitava de luz.
De alguma maneira, teria que conseguir o dinheiro para pagar aquela despesa.
Por outro lado, talvez deixasse os cômodos escuros. Assim, quando o sr. Peter King
chegasse poderia quebrar uma perna.
Se quebrasse as duas seria ainda melhor.
"Como se isso fosse mesmo acontecer..." Talvez devesse reler a carta.
Anny olhou na direção da mesa de trabalho em sua pequena sala de espera da clínica veterinária, que ficava na mesma propriedade em que morava, acoplada à cozinha, onde a pusera cinco dias atrás, depois de lê-la.
Podia ver o acabamento do envelope caro de cor
bege com desenhos em relevo sobressaindo-se de entre a pilha de contas a pagar.
— Saiba de uma coisa, sr. Peter King, não vou lhe vender o que é meu. Eu disse isso para seus quarenta e sete advogados, meses atrás.
E começou a chorar, porque não tinha muita esperança. Se não vendesse a casa, não teria como saldar as dívidas em que vinha se afundando.
Eles vieram de todas as direções. Cachorros, gatos, cãezinhos e gatinhos recém-nascidos, implorando pela atenção de Anny, as orelhinhas todas em pé para os estranhos sons do choro vindos da jovem que os alimentava, banhava-os e cuidava de todas as suas necessidades.
Eram animais abandonados, velhos ou doentes que ninguém queria. Fora para isso que fizera faculdade de Veterinária?, perguntou-se Anny, aborrecida.
Ela até mesmo possuía uma placa pregada na árvore em frente ao imóvel que informava que
era Anny Evans, DMV, cuja sigla significava doutora em medicina veterinária.
Quando se mudou de volta para a casa da família, onde fora criada, após passar alguns anos morando sozinha e estudando em Minnesota, recebera onze pacientes internos no primeiro mês, e mais vinte e cinco apareceram no segundo.
Um senhor de idade os levara, alegando que recolhera os bichos sem donos na redondeza. Agora Anny possuía um total de trinta e seis animais em seu canil.
Era a veterinária do bairro. O que podia esperar? E por ser nova ali, todos assumiam que podiam apenas despejar animais indesejados em sua propriedade.
Afinal de contas, o que uma veterinária com apenas onze pacientes tinha para fazer?
Anny pensou sobre os empréstimos que obtivera para seus estudos, os impostos de sua casa e mais de três acres de terra que possuía, os animais, as despesas, a futilidade de tudo aquilo.
Por que lutava tanto para permanecer ali e continuar com um padrão que não tinha condições de manter?
Tudo bem. A propriedade era de sua família fazia mais de uma década, porém, vendê-la lhe proporcionaria uma boa quantia de dinheiro.
Poderia pagar todos os empréstimos que obtivera, ir trabalhar em uma clínica, alugar um apartamento em qualquer lugar e... recomeçar.
Por outro lado, o que aconteceria com seus animais se fizesse isso?
Ninguém queria, e ela já se afeiçoara bastante, e não tinha coragem de deixá-los para trás.
Gemeu alto sem poder evitar, e os cachorros e gatos fizeram um círculo em torno de seus pés, num gesto protetor.
— Cheguei! — uma voz feminina exclamou, assim que a porta dos fundos foi aberta.
— Gertie!
Caudas abanaram com vigor. Gertie sempre trazia ossos de frango e um tipo de planta muito apreciada pelos gatos.
Anny ficou olhando Gertie alimentá-los com imenso carinho, dando uma coisa diferente para cada um, e torceu o nariz, numa careta divertida.
— Acho que eles gostam mais de você do que de mim...
— Esses marotos gostam do que trago para eles — Gertie sorria. — Eu gostaria de uma xícara de chá, se você tiver. O tempo está gelado lá fora. É provável que comece a nevar antes que a noite caia.
— Claro, sente-se — Anny foi colocar a água para ferver, enquanto Gertie se acomodava à mesa da cozinha. — Onde você vai dormir hoje, Gertie?
— Na estação de trem com meus amigos, num local coberto. Não ter um teto para morar não me dá muita escolha, querida.
— Você é bem-vinda para ficar aqui — convidou Anny mais uma vez. — Já lhe disse que o beliche é seu, a qualquer momento que quiser. Até mesmo lhe preparo o café da manhã. A propósito, comeu alguma coisa hoje?
— Pão com manteiga. Mas não estou com fome no momento. Tenho algo para você. Chame isso de um presente antecipado de Natal. Eu não via a hora de chegar para lhe entregar.
Gertie levantou várias camadas de roupa na parte da saia, onde tinha costurado um bolso no último forro. De lá retirou um envelope grosso.
Continua...............
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Atualizado até capítulo 37
Comments
joana Almeida lima
Isso é obrigação da vigilância sanitária. Ninguém tinha que deixar esses animais na propriedade da veterinária e ela devia pedir ajuda aos órgãos públicos.
2024-03-13
8
Eliane Renata de Oliveira Oliveira
legal estou gostando.
2024-02-12
0
Fatima Cavalcante
tá bem interessante tô gostando
2023-10-13
6