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Já fazem quatro meses desde que entrei na floresta sagrada. Depois que voltei para casa, meu pai entrou em contato com o castelo para relatar tudo o que aconteceu naquele dia.
Pouco tempo depois, fui levada até o castelo para uma verificação com a sacerdotisa do templo. Meu pai me deixou ali com aqueles estranhos por três dias, e durante esse tempo senti o peso do silêncio sagrado, o aroma de incenso misturado ao calor das velas, e a firmeza dos olhares que me estudavam como se eu fosse um enigma.
Então, após a análise, o veredicto foi anunciado:
“A princesa imperial consegue usar poderes sagrados diretamente da energia da deusa, assim como a magia da torre. O fato de, com poucos meses de vida, já ter firmado um contrato demonstra que ela terá um futuro brilhante. Porém, segundo o relato do grão-duque, ela já possui um contrato pendente com a protetora da floresta sagrada, algo que deveria ser permitido apenas aos que completam treze anos. O perigo, portanto, ronda a princesa imperial.”
Essas palavras pesaram como uma nuvem escura no ar. Fiquei sabendo naquele momento que eu era especial — diferente, e talvez, um risco para mim mesma.
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No dia anterior ao meu primeiro aniversário, fui levada ao templo para receber a bênção da deusa. Ao chegar, encontrei todos os sacerdotes me esperando, suas vestes brancas fluindo silenciosamente, enquanto o aroma doce e terroso do sândalo preenchia o ambiente.
Meu pai me pegou em seus braços com cuidado, sua voz baixa e carinhosa ao cochichar:
— Papai, estou com medo. E se essa deusa não me aceitar? E se ela me transformar em um monstro? — Minha voz saiu pequena e trêmula.
Ele apertou minha mão contra seu peito, num abraço firme.
— Como a deusa Theleopedia poderia rejeitar você, minha querida? Ela vai te aceitar, sem medo, eu prometo.
Assenti, tentando acreditar, mesmo com a pontada de dúvida que martelava no meu peito.
Dentro do templo, a sacerdotisa me pegou no colo e me colocou diante de uma banheira rasa, preenchida com águas límpidas que refletiam uma luz etérea, quase mágica. O cheiro da água tinha uma mistura de flor de lótus e mel, um perfume suave que acalmava até os nervos mais tensos.
Ela deitou meu corpo delicado ali, e, como se fosse encantamento, meus cabelos começaram a mudar, reluzindo um tom prateado que brilhava à luz tênue das velas, enquanto meus olhos assumiam o brilho intenso de joias ao sol.
Foi então que ouvi uma voz doce, calma e penetrante, que parecia vibrar dentro da minha mente.
“Minha criança nasceu com saúde. A partir de hoje, seu nome será Yerevorida, que na língua sagrada significa ‘a filha, criança abençoada pela Deusa’.”
A voz continuou, comunicando-se comigo por pensamentos que pareciam envolver minha alma em um abraço protetor.
“Criança, a partir de hoje você será a única que poderá ouvir minha voz até o dia da sua morte. Ninguém mais ouvirá minhas palavras, mas este será nosso segredo. Protegerei você de todos os males que possam te atingir... exceto daqueles contra quem você própria pediu a morte. Estarei ao seu lado quando precisar da minha assistência.”
Quando o ritual terminou, tudo voltou ao normal, com a única diferença de que meus olhos continuavam a brilhar como gemas iluminadas.
Voltamos para o grão-ducado, o peso da bênção ainda reverberando em mim.
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No dia seguinte...
Acordei sob a luz suave que entrava pela janela, sentindo o ar fresco da manhã acariciar minha pele ainda sonolenta. Era o meu aniversário.
As vozes ao redor enchiam o quarto — meus pais e Amel me felicitando com sorrisos calorosos e abraços apertados. Papai, com aquele olhar orgulhoso, disse que tinha um presente para mim. Minha curiosidade cresceu.
No jardim, enquanto tomávamos café, mamãe me entregou uma caixa delicada, embrulhada com um laço azul-claro.
Quando abri, dentro havia uma espécie de graveto seco, aparentemente sem graça.
— Esta é uma ferramenta mágica — explicou ela, sorrindo com nostalgia. — Quando eu tinha cinco anos, ganhei uma igual, mas nunca consegui fazer ela mudar de forma. Acabei desistindo da magia. Mas, como a sacerdotisa disse que você tem afinidade, não custa tentar.
Papai franziu as sobrancelhas.
— Querida, você testou isso com cinco anos? Nossa pequena tem só um... não é cedo demais?
— Jamais! — retrucou mamãe. — Minha filha é um prodígio.
Segurei o graveto com mãos trêmulas, meio descrente, esperando nada acontecer. Para minha surpresa, ele se transformou primeiro em um cajado de mago, elegante e reluzente.
“Nem para virar uma espada? Ah, que decepção,” pensei, mas, no instante seguinte, o cajado mudou novamente, se transformando em uma espada longa e imponente.
Papai congelou, os olhos arregalados, mas com um sorriso que não conseguia esconder a felicidade.
— O cajado muda de forma para se adaptar ao mestre. Agora, uma pergunta, meu neném: por que uma espada e não uma boneca?
Olhei para ele, um pouco tímida, mas firme.
— Quero ser igual a você, papai. Quero derrotar toda essa escória que faz você ficar longe de casa tanto tempo.
Ele me puxou para um abraço apertado, o peito dele vibrando contra o meu.
— Você será ainda melhor, porque é minha filha. É dever dos filhos superar os feitos dos pais.
— Então, papai... tenho que ser mais bonita que a mamãe e mais forte que você... tudo ao mesmo tempo?
Eles riram, concordando com a cabeça.
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Amel me deu um presente também. Ao abrir, meus olhos se iluminaram.
Era uma cela para cavalo.
— Quando crescermos, vamos andar a cavalo e apostar corridas — ele disse, piscando para papai.
Papai sorriu, dizendo que meu presente especial estava chegando, e que só seria revelado na festa.
Depois do café, mamãe, Amel e eu fomos nos arrumar. Papai saiu para tratar de assuntos com o subcomandante.
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Na festa...
Quando chegou a hora, apresentei-me aos convidados com a postura que a nobreza exigia, mas logo soltei a mão de Amel para ir comer doces.
Acabei esbarrando em uma moça bonita, que se parecia muito comigo.
— Moça, você é da minha família? Você é muito bonita, posso lhe dar um beijo? — perguntei, sem medo.
Ela sorriu, me pegou no colo e sussurrou ao meu ouvido:
— Sou irmã do seu papai. Por isso somos parecidas, minha querida. Sabia que tenho dois filhos com a mesma idade que você?
Assenti, lembrando dos primos Lennen e Chris.
Ela mostrou-os dormindo. Agradeci e me despedi, voltando para o balanço com Amel.
Algumas crianças vieram me cumprimentar.
— Feliz aniversário, pequena duquesa.
— Minhas felicitações, princesa.
Mas a falsa cordialidade logo se tornou provocação.
— Minha mãe disse que você é um monstro, e que monstro anda com monstro, então vocês dois são monstros. Vamos embora, não quero ser uma aberração também.
Quase respondi com um palavrão, mas Amel me segurou, puxando-me para o silêncio.
De repente, um garoto um ano mais velho se aproximou e repreendeu os valentões:
— Aberração é cada um de vocês. Seus pais nunca ensinaram a vocês que a anfitriã da festa tem uma cachorra capaz de matar vocês com uma pata? Parabéns à princesa imperial, filha do grão-duque Cezar, pelo seu primeiro ano de vida, e minhas saudações ao herdeiro do marquesado, Amel Davelli.
Eles correram para os pais, nervosos.
Curiosa, perguntei:
— Qual seu nome, pequeno herói?
— Pequeno não, sou mais alto que você.
— Ok, ok. Seu nome?
— Mateo. Não te ajudei, só não suporto ver filhos de nobres sem noção.
— De qual casa nobre você é?
— Filho do general Caius.
— Ah, então seu pai é Caius, que legal.
— Sim, é incrível.
— Pena que perde para o meu.
— Claro, seu pai é o herói do campo de batalha, o próprio capeta.
Rimos juntos, e logo mamãe veio chamar Amel e eu.
Fomos para o salão principal onde meu presente final aguardava.
Papai estava no centro do salão, segurando-me nos braços. Corri até ele e pulei em seu colo.
Mamãe tapou meus olhos.
— Querida, se você souber o que trouxe, será seu.
Toquei, senti algo frio e liso. A Deusa parecia me guiar.
— Criança, é uma pedra mágica.
Sorri, já sabendo.
— Papai, papai, é uma pedra!
— Sim, aceitemos sem preconceitos.
— Ok, ok, me dê agora.
Os convidados ficaram imóveis, cheios de inveja, ao saber que recebi a Luna — uma pedra mágica que se adapta ao seu dono e armazena grandes quantidades de magia, até mesmo espíritos.
Assim que peguei, Luna brilhou e mudou de cor, de transparente para um vermelho escarlate marmorizado com azul royal.
Logo, se transformou em um colar delicado que repousava em meu pescoço.
A festa continuou alegre.
Amel me chamou para dançar, mas no caminho, uma garota bloqueou meu passo:
— Bebês devem babar, não andar.
Caí em cima de Amel.
Minha babá e meus pais correram ao nosso encontro, e, apressados, notaram que nossos narizes sangravam.
Cochichos começaram:
— Que ultraje, um bebê querendo andar!
— Que vergonha!
Senti uma fúria crescer dentro de mim.
Olhei para Amel e dei uma piscadela.
Choramos juntos, fazendo queixas que chamaram atenção.
— Papai, aquela menina nos fez cair.
— Tia, ela e outras crianças nos chamaram de monstro e aberração.
O ar ao redor de mamãe e papai ficou denso, carregado de uma aura quase assassina.
Mamãe pegou Amel, papai me segurou, e ambos ficaram firmes.
— Quem insultar meus filhos deve se apresentar imediatamente, ou farei com que seus últimos descendentes sejam comida para Amarok.
Nesse instante, Amarok apareceu, seu pelo negro como a noite, mudando de tonalidade conforme seu humor.
A festa virou um tribunal silencioso.
Então, anunciaram a chegada do imperador Raphael, da imperatriz Thalia Verônica e dos príncipes imperiais.
Meu tio percebeu a atmosfera tensa.
— Parece que alguém entrou em território inimigo. Hahaha, continuem.
Papai me pediu para identificar os culpados.
— Papai, aquele grupinho ali... menos os gêmeos.
— Tia, aquele menino atrás da mesa nos chamou de monstro.
Ele apontou os nomes:
— Areline, filha do visconde Davis; Regis, filho do conde Monteus; Jenna, Tamira e Kilir, filhos do conde Luis Kratos.
Então papai ordenou que os pais das crianças se apresentassem.
Eles se ajoelharam, suplicando perdão.
— Perdoem-nos, são apenas crianças — disse a condessa.
Eu pulei no chão, agarrei seu rosto e com um brilho mortal na aura, declarei:
— Ouvi dizer que foi você quem espalhou essas mentiras sobre mim e Amel.
O imperador se levantou, segurou Amel e a mim no colo, e decretou:
— Que a justiça seja feita.
Sorri, um sorriso frio, olhando para Amel.
— Tio, creio que a justiça que Rili propuser será justa.
Meu tio riu, entregando-me o cetro de sentença, o Centro de Decisão.
— Hoje serei generosa com esses patifes. Amarok, venha aqui, meu neném.
Amarok avançou, seu pelo negro se eriçando.
— Mamãe, posso ordenar que Amarok os castigue?
— Faça o que quiser, meu bem.
— Amarok, castigue-os, mas só as crianças, não os pais. Dois de cada um.
O lobo rasgou as roupas dos pequenos com ferocidade e proferiu a sentença de sangue: uma maldição que traria dor e morte àqueles que desobedecessem.
Depois que Amarok se afastou, a festa continuou.
Mais tarde, o imperador e a imperatriz me chamaram.
— Ária, seu presente está lá fora.
Abriram um portal, e de dentro dele surgiu um potro magnífico, um cavalo imperial, raça que só aceita um dono.
Agradeci, e a festa seguiu até tarde.
Amel, Lennen, Chris, Asher, Thomas e eu capotamos quase ao mesmo tempo.
Enquanto dormíamos, os adultos discutiam sobre nosso futuro.
— Ária é incrível. Já tem o cajado, o contrato, a aura assassina, e é muito inteligente.
— Se Amel continuar assim, será tão promissor quanto a mãe.
— Acho que ele merece um animal guardião também.
— O que me preocupa são as conversas dos nobres sobre os herdeiros e a próxima geração.
— Viram quando ela segurou o cajado e proferiu sentença como uma rainha? Fiquei com medo da aura negra dela.
— Essa aura é raríssima e faz seus portadores serem respeitados — disse uma voz. — Vocês decidiram o que fazer?
— Até ontem, não. Mas hoje cedo ela disse que quer superar a mim e à mãe. Vai para a academia se quiser.
— Não vou me opor, como mãe.
— Então, brindemos à próxima geração, a geração sagrada.
— Como todos dizem: a geração infernal vai superar todas as dificuldades.
Riram. O dia terminou em felicidade e esperança.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Marcia Ramalho Mecias
amo esses anjinhos
2023-07-08
0
só mais um e já durmo 😅
comecei a ler hoje é já estou amando
2021-05-01
6
nine
comecei agora mas, gostei bastante, quero mais
2021-04-21
7